Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
1) Examinador:
_______________________________________
2) Orientador:
________________________________________
Dedico este trabalho à Daiane,
minha jovem esposa, que tem
acompanhado estes anos de estudo,
dando todo o apoio para que me
mantivesse firme.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 11
1. A MÚSICA COLONIAL.............................................................................. 13
1.1 A Música dos Jesuítas................................................................................ 13
1.2 A Música Dentro e Fora da Igreja............................................................... 18
1.3 A Música Profana na Colônia..................................................................... 22
2. O GRUPO DE MOGI DAS CRUZES.......................................................... 27
2.1 O Achado de Mogi...................................................................................... 27
2.2 Caráter Documental do Grupo de Mogi das Cruzes................................... 28
2.3 Origem e Datação....................................................................................... 30
2.4 Autoria ou Uso............................................................................................ 31
2.5 Personagens do Grupo de Mogi das Cruzes.............................................. 34
2.5.1 Faustino do Prado Xavier........................................................................... 34
2.5.2 Ângelo do Prado Xavier.............................................................................. 35
2.5.3 Timóteo Leme do Prado............................................................................. 35
2.6 As Obras Musicais...................................................................................... 36
2.7 A Cantiga de Mogi...................................................................................... 39
3. PRÁTICA DE MÚSICA NA MOGI COLONIAL.......................................... 42
3.1 Aspectos Sociais e Econômicos da Mogi Colonial..................................... 42
3.2 A Música nas Vilas..................................................................................... 44
3.3 Música na Mogi Colonial............................................................................. 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 56
FONTES PRIMÁRIAS......................................................................................... 57
REFERÊNCIAS................................................................................................... 58
ANEXOS.............................................................................................................. 60
11
INTRODUÇÃO
1. A MÚSICA COLONIAL
música dos jesuítas fazia jus a esta religiosidade musical, mas no sentido da obra
de catequese e dentro do contexto histórico, como instrumento de colonização.
A companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola e criada
oficialmente em 1540, tinha como objetivo levar a palavra de Cristo aos pagãos.
Com a área de atuação dos jesuítas se estendendo a outros continentes, o padre
jesuíta Manoel da Nóbrega chegou ao Brasil em 1549 junto com a armada de
Tomé de Souza dando início a missão em terras brasílicas. Além do objetivo
principal, os jesuítas se dedicaram na educação da população dos novos centros
urbanos e na formação de colégios e seminários onde estabeleceram uma
primeira rede de ensino no Brasil.
Em sua atuação musical, os jesuítas perceberam o quão eficaz era a
música no possível convencimento e atração dos indígenas para as práticas da
igreja. E assim os jesuítas se ocuparam com o ensino de música tanto em língua
portuguesa como na própria língua dos índios. E isto tinha uma razão:
A antiga prática de cantar e dançar dos índios nos seus rituais cotidianos
foi utilizada para induzir, de maneira atenuada, aos novos e diferentes
símbolos religiosos trazidos pelos jesuítas. Dessa forma foi possível
enraizar no passado indígena a nova experiência proposta para o grupo.
(POLASTRE, 2008, p. 20).
O resultado disto foi que longe de existir algum tipo de intercâmbio nas
relações musicais entre indígenas e jesuítas, o que predominou foi uma
superposição de culturas, com a elevação de uma suposta cultura civilizatória
sobre a cultura indígena.
Segundo nos conta José Ramos Tinhorão, além de se fazer estas
pequenas canções nas línguas indígenas, os jesuítas também foram substituindo
os instrumentos dos índios. O que era usado até então deu lugar a instrumentos
trazidos pelos jesuítas e que modificou totalmente a estrutura natural da música
15
dos índios. Dessa forma ficou mais fácil a imposição de uma música diferente,
mais atrativa, ao que os índios estavam acostumados a cantar. Não são poucos
os relatos de padres dando conta da destreza de índios em ajuda na liturgia da
missa. Sobre este fato Tinhorão destaca:
1
Este conceito é defendido por Tinhorão, supondo justamente a substituição da música indígena
pela música cristã. (TINHORÃO, José Ramos. A deculturação da música indígena brasileira.
Revista brasileira de Cultura, Rio de Janeiro, n.13, jul/set 1972, p.9-25). Um outro conceito seria a
“aculturação”, onde em vez da substituição, se propõe a transformação da cultura de um grupo
social, através da assimilação de elementos culturais de outro grupo social.
16
para os jesuítas fora do trabalho da catequese, seja por recreação ou pela própria
prática de música.
Um bom exemplo disso pode ser visto em São Paulo. Na igreja do
Colégio de São Paulo, Marcos Holler identifica através de documentos do Arquivo
Nacional basicamente “um órgão pequeno de três com todos os seus canudos de
estanho, em bom uso”. Por outro lado, o mesmo autor mostra que em inventário
da capela da Aldeia de Embu em São Paulo, realizado em 02 de dezembro de
1759, a cópia do Arquivo Público do Estado de São Paulo mostra os seguintes
itens:
Um órgão pequeno;
Um manicórdio;
Um baixão;
Duas harpas,
Uma caixa com vários papéis de solfa,
Duas rabecas novas com sacos de baeta vermelha, e suas caixas;
Uma rabeca com seu saco de linhagem;
Um rabecão novo com sua caixa;
[...];
Três bancos no coro; dois de espaldar, e um pequeno do órgão;
Uma caixa, em que estão nove saiotes e outros enfeites das danças dos
carjós. (Inv. Emb, 1759, f. 8 Apud HOLLER, 2005, p.63)
Apareceu o padre Domingos Gomes Albernaz e por ele foi dito que não
é a serviço de Deus nem sem o ornato do culto divino que Manuel Pais
de Linhares exercitasse o ofício de mestre de capela por quanto não era
útil nem capaz servir o dito cargo por nele ser muito serviço não tendo
discípulos nem músicos para se celebrarem os ofícios divinos como é
uso e costume em todos os mestres de capela (Atas da Câmara de São
Paulo - v.5, p.372-373 Apud POLASTRE, 2008, p.32).
Pagava-se pensão-trinta mil réis por ano-ao Bispo para ser mestre da
capela só cobrando a licença. Na linguagem do tempo: "estancar" a
música, única forma econômico-social de sobreviver profissionalmente e
apresentar um bom serviço de música na Matriz (DUPRAT, 1975, p.18).
3
Batuque se tornou uma expressão genérica portuguesa para qualquer tipo de dança de origem
africana com acompanhamento percussivo.
24
citadas nesse trabalho e serviam para prover uma pessoa em determinado cargo.
De modo mais abrangente, todo o mundo católico estava sujeito aos concílios
gerais (como o famoso Concílio de Trento), enquanto que os concílios provinciais
e as constituições eram aplicadas a bispados e arcebispados.
Esta diferença entre a proibição dos costumes dos negros nos
ambientes urbanos e sua permissão nos engenhos tem um aspecto interessante
se confrontado os motivos deste último. De modo a manter um bom rendimento
no trabalho, foi aconselhado que os negros tivessem em certos dias, algumas
horas de folga para cantar e dançar segundo seus costumes. É o que vemos na
recomendação do padre jesuíta João Antônio Andreoni, que sob o pseudônimo de
André João Antonil publica em 1711 o livro Cultura e Opulência no Brasil:
5
A reportagem referida é a seguinte: CAMARGO, Oswaldo de. A redescoberta do barroco. Jornal
da Tarde, São Paulo, 03 mar. 1990.
29
parecer meramente indicativa. Ou seja, Grupo de Mogi das Cruzes parece indicar
a reunião de papéis de música que foram encontrados na dita cidade. Ao estudar
um pouco mais sobre o assunto, percebe-se que a definição de grupo tem
implicações não só musicológicas, mas também implicações arquivísticas,
recorrendo ao caráter documental dos manuscritos.
A discussão sobre isso vem de encontro à diferença que existe entre
manuscrito musical e composição musical. Conforme mostrou Paulo Castagna, o
manuscrito musical é um documento, que ao servir de suporte físico à música não
possui necessariamente uma única obra e nem música de um único autor. Por
exemplo: um documento de determinada obra, se extraviado e sobrar apenas
uma parte não se constituirá ainda assim um documento? Segundo o autor, nesse
caso o documento pode ser entendido como “qualquer manuscrito, musical ou
não, que perdeu seu significado funcional e assumiu um significado histórico.” E
completa:
6
Em verdade, em 1984 quando escreveu o primeiro texto sobre o Grupo de Mogi das Cruzes,
Régis Duprat aludiu a cerca de 40 folhas de papel contendo seis diferentes peças religiosas e uma
profana. Sete composições, portanto. DUPRAT, Régis. Antecipando a história da música no Brasil.
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n 20, p.25-28, 1984. Com novas
investigações Paulo Castagna chegou ao número que foi referido no texto acima. CASTAGNA,
Paulo. Uma análise codicológica do Grupo de Mogi das Cruzes. IV ENCONTRO DE
MUSICOLOGIA HISTÓRICA, Juiz de Fora, 21-23 de julho de 2000. Anais. Juiz de Fora: Centro
Cultural Pró-Música; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2002. p.21-71. A sugestão é
que se analisem os textos dos dois autores para uma melhor compreensão deste assunto.
31
7
DUPRAT, Régis. (org.) Música Sacra Paulista. São Paulo: Arte & Ciência; Marília: Editora
Empresa Unimar, 1999. 308p. Foram incluídas nessa publicação mais três obras contidas no
Grupo de Mogi das Cruzes: Non in die festo (Bradados da Paixão de Domingo de Ramos), p.8- 16;
Domine audivi (Primeiro e segundo Tractos de Sexta-feira Santa), p.17-21; Regina cæli lætare
(Antífona de Nossa Senhora do Tempo Pascal), p.22-24.
34
... sua meta era o sacerdócio. Nem bem passaram cinco anos, obteve o
grau de presbítero (ordens menores) e assumiu a função de Vigário
Coadjutor da igreja matriz de Mogi. Desse modo, não pôde acumular a
35
dos médios para o tenor e o bassus (baixo), com maior flexibilidade para o
bassus;
11. Extensão (registro ou âmbito) reduzida das partes vocais (geralmente, de uma
quinta a uma oitava), à exceção do bassus;
12. Movimento das vozes normalmente por graus conjuntos;
13. Harmonia simples;
14. À exceção das obras ou seções polifônicas, inexistência de passagens a solo,
duo ou trio (a Cantiga Matais de incêndios é exceção);
15. Ocorrência esporádica de quintas ou oitavas paralelas;
16. Sujeição total ao ritmo do texto latino;
17. Estilo predominantemente silábico;
18. Repetições de texto muito raras;
19. Música de preocupação exclusivamente religiosa, sem a exploração de efeitos
dramáticos ou teatrais;
20. Base estética filiada às obras tecnicamente mais simples do estilo romano
contra-reformista, comum na Península Ibérica no séc. XVII;
21. Utilização de três procedimentos musicais básicos:
a) o fabordão
b) a homofonia modal
c) a polifonia
GMC 7 [C-Un - f.25] - “Rabeca.” Sem indicação de copistas, sem local, sem data: vl
[ANÔNIMO] - Kyrie, eleison [Ladainha (de Nossa Senhora? de Todos os Santos para
a Bênção da Água Batismal do Sábado Santo?)]
GMC 8 [C-1 - f.26] - “Tiple a duo”. Sem indicação de copistas, sem local, sem data: S[1]
[C-2 - f.27] - “Tiple 2.º a4”. Sem indicação de copistas, sem local, sem data: S2
[C-3 - f.28] - “Altus a Duo”. Sem indicação de copistas, sem local, sem data: A
[C-4 - f.29] - “Tenor a 4”. Sem indicação de copistas, sem local, sem data: T
Matais de Incêndios
Paulo Castagna informa que a onomatopéia Ay! Lê, lê pode ter origem
em fórmulas lingüísticas africanas assimiladas na Península Ibérica no sec. XVII.
Destaca também que,
exportações. Mas, ainda nos primeiros anos do século XIX esta prosperidade
seria ameaçada, provocando mais uma estagnação econômica na Vila de
Sant‟Anna de Mogi das Cruzes.
Empreender uma pesquisa sobre uma vila antiga como Mogi das
Cruzes requer no mínimo a consciência de um trabalho um pouco árduo. Ao
pesquisar música e em tempos tão recuados como o século XVIII, a empreitada
estreita ainda mais.
Primeiro porque pesquisar a música em Mogi incorre em trilhar
caminhos poucos explorados, necessitando ir a fontes primárias e dispor dos
dados já conhecidos. Depois, porque pelo próprio objetivo do trabalho, que á
encontrar registros da prática de música na vila contextualizando com as
partituras do Grupo de Mogi das Cruzes, implica no trato com fontes de escrita
difícil para um leigo. Mas o envolvimento com os documentos acabou por fornecer
uma pequena e gradual prática que se revelaram bem norteadoras no decorrer da
pesquisa. Vejamos os resultados:
Além de saber que o já citado Faustino do Prado Xavier tinha recebido
a provisão de mestre-de-capela em 1729, o historiador Jaelson Trindade já
informara que aquele tinha sucedido um tal de Tomé Pimenta de Abreu que tinha
ficado cerca de dez anos no cargo. (TRINDADE, 1984, p. 16) Portanto, recuava
pelo menos até 1719 o registro da prática de música em Mogi. A documentação
veio confirmar e melhorar essa informação.
46
mesmo valor do ano seguinte. Neste ano, 1724, é registrado também o mesmo
valor para a festa de São Sebastião.
Como foi dito, as festas reais (vide 1º capítulo) eram realizadas ou não
segundo as condições da vila. Considerado isto, parece ter sido um ano bom o de
1725, já que pelo menos três das quatro festas reais foram realizadas neste ano.
Especialmente bom também para o mestre-de-capela Tomé Pimenta de Abreu,
que continua aparecendo na prática de música em Mogi e com um rendimento
melhor que em outros anos:
Por dinheiro que pagou a Thome Pimenta da muzica, será e insenço
como consta de seu recibo 9$280.
Por dinheiro que pagou a Thome Pimenta a muzica da festa de Corpo de
Deus 8$000.
Por dinheiro que recebeu mais Thome Pimenta da muzica, será e
insenço da festa de Visitação de Santa Izabel 8$000.
Por dinheiro que pagou ao Thome Pimenta para será e muzica da festa
do Anjo Custodio 8$000. (AHHIG, Registro de Recibos, 1725, Cx. 07 p.
28).
Para a mesma festa e apenas um dia depois, este outro recibo mostra o
coadjutor Francisco Mendes de Couto em condições semelhantes ao padre Pedro
da Fonseca:
Recebi do Procurador Actual da camara desta villa de Mogy das Cruzes
Bento de Araújo mil e seiscentos reis a saber novecentos e sessenta reis
de cantar a epistola... 31 de mayo de 1750. Coadjutor Francisco Mendes
de Couto. (AHHIG, Livro de Receita e Despesa, 1750, Cx. 19 p. 147-
148).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES PRIMÁRIAS
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Jurandyr Ferraz de. Santa Ana das Cruzes de Mogi. Mogi das cruzes:
UMC. 1978.
2000. Anais. Juiz de Fora: Centro Cultural Pró-Música; Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 2002. p.21-71.
DUPRAT, Régis. Garimpo musical. São Paulo: Novas Metas LTDA. 1985. 181 p.
(Coleção ensaios, v. 8)
ANEXOS