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Franciely Oliani Pietro

Educação e Sexualidade
Sumário
CAPÍTULO 1 – O que precisamos compreender conceitualmente sobre sexo, sexualidade
e as diferentes identidades de gênero?..............................................................................05

Introdução ....................................................................................................................05

1.1 Sexo versus Sexualidade ............................................................................................05

1.1.1 Sexo...............................................................................................................07

1.1.2 Sexualidade.....................................................................................................08

1.2 Gênero e orientação sexual........................................................................................09

1.2.1 Gênero...........................................................................................................10

1.2.2 Brinquedo de menino versus brinquedo de menina...............................................11

1.2.3 Orientação sexual............................................................................................12

1.3 Identidades de Gênero..............................................................................................13

1.3.1 Homossexualidade e sua terminologia................................................................14

1.4 Aproximações entre Gênero, Sexualidade e Educação...................................................14

1.4.1 Por que trabalhar sexualidade nas escolas?.........................................................18

1.4.2 Tenho um(a) alun(a) homossexual ou transexual, e agora?....................................18

1.4.3 Os pais não aceitam o colega homossexual na turma do seu filho.


E agora, educador?..................................................................................................18

1.4.4 Sou educador e não aceito trabalhar sobre esse assunto......................................18

Síntese...........................................................................................................................21

Referências Bibliográficas.................................................................................................22

03
Capítulo 1
O que precisamos compreender
conceitualmente sobre sexo, sexualidade
e as diferentes identidades de gênero?

Introdução
Você já deve ter ouvido falar ou mesmo ter lido algo sobre sexualidade, gênero, orientação
sexual ou até mesmo identidade de gênero? Caso sua resposta for não, fique tranquilo, nesse
capítulo iremos sanar algumas de suas dúvidas. Se sua resposta for sim,o ajudaremos a ter mais
conhecimento teórico sobre a temática.

Embora sejam temas bastante divulgados ainda envolvem muitos mitos, tabus e receio. Isso se
deve porque muitas vezes o termo sexualidade é entendido como sinônimo de sexo e práticas
sexuais. Neste capítulo, você verá que o conceito de sexualidade é bem mais amplo e abrangente
que engloba inúmeros fatores e dificilmente se encaixa em uma única definição.

Para prosseguir com a leitura é necessário estar aberto para o assunto que será trabalhado, des-
prender-se de alguns conceitos rígidos que carregamos desde nossa infância e/ou adolescência.

Falar sobre sexo, sexualidade e identidades de gênero, requer estudo contínuo do contexto so-
cial, das mudanças tecnológicas e do vai e vem de informações. É preciso ser reflexivo à cerca
de como podemos contribuir e trocar experiências frente a esses assuntos.

Você sabe a diferença de sexo e sexualidade? Você já se perguntou o que o gênero tem haver
com o sentimento de pertencimento na sociedade? Como trabalhar identidade de gênero e
orientação sexual em casa e na escola? Sim, é preciso falar e será sobre isso que você refletirá
nesse capítulo. Diante desse desafio, damos início ao seu estudo, preparado? Este capítulo se
propõe a diferenciar sexualidade e identidade de gênero, analisar a atuação da escola e de seus
agentes como construtor e colaborador na busca desse conhecimento, além de reconhecer os
impactos e a importância desses na atuação das situações cotidianas no processo educativo.

Bom estudo!

1.1 Sexo versus Sexualidade


Falar, ouvir, pensar e discutir acerca da sexualidade atualmente pode parecer comum, algo natural.
Mas será que sempre foi assim? Provavelmente não. A difusão da temática e seus diversos aspectos
assumem atualmente centralidade social, tanto para pesquisadores renomados como para redes so-
ciais. Mas essa sexualidade percorre uma história, que pode ser compreendida como um processo.

É claro que, antes do significado atual, já se viviam os prazeres das paixões, desejo, amor e
sexo, mas esses relacionavam ao corpo propriamente dito, como carne. Na Antiguidade Grega,
a sexualidade tinha como principal objetivo a reprodução, prazer, e também tinha como caracte-
rística a manutenção da ordem social, e só mais tarde, é que a prática sexual passou a ter grande
interferência da Igreja.
05
Educação e Sexualidade

Com a crescente prática do cristianismo foi que se deu início aos tabus e crenças que ainda hoje
são disseminados nas sociedades ocidentais e que perpassaram gerações, ou seja, as práticas
sexuais deveriam ter fins apenas reprodutivos, as mulheres deveriam ter um certo pudor, as rela-
ções sexuais com o mesmo sexo eram vistas como subversivas e não aceitas pelas regras impos-
tas pelas igrejas na época. Foi então, na metade do século XIX, que a medicina, como ciência do
culto ao corpo, se apropria do assunto e delineia seus contornos. Passava então a sexualidade a
ser objeto em primeira instância do Estado, da medicina, em seus estudos e da religião para ins-
truir. Ainda no século XIX surge com maior preocupação o controle da população, com medidas
para garantir a vida e produtividade da sociedade na época (CARDOSO; LAZZAROTTO, 2005).

Nos dias de hoje, embora a sexualidade continue sujeita às regras sociais, ela é vista com mais
naturalidade, e é mais discutida em diversos âmbitos, sendo associada a uma prática presente
na sociedade humana. A maneira com que o indivíduo processa essa vivência sexual é que vai
constituir a sua identidade sexual, contribuindo ou não para uma liberdade.

Por anos algumas comunidades rotulavam as mulheres apenas como meras reprodutoras, sendo,
por muitas vezes, lhe negado o prazer. Por vezes ela era a única responsável pelos cuidados da
sua gestação e pela saúde do bebê, algumas pessoas de gerações anteriores como nossos avós,
bisavós, já chegaram a culpabilizar as mulheres pelo sexo do bebê ou em caso de nascer com
alguma síndrome. Perante a sociedade, a mulher teve um fardo muito pesado para carregar sozi-
nha e graças aos movimentos feministas na década de 1970, foram conseguindo alguns direitos
e ganhando voz, passando de meras espectadoras da própria vida sexual à agente mais presente
nas próprias decisões. Claro que muito ainda precisa ser feito, mas esses movimentos trouxeram
grandes revoluções nessa parte(DIEHL; VIEIRA, 2013).

Toneli (2004) destaca a importância da Conferência Internacional de População e Desenvolvi-


mento, na ascensão das mulheres no controle de suas vidas e também do reconhecimento das
identidades de gênero, erotismo, prazer e reprodução.

Passa a ser pensado questões como regulação da família, reprodução e práticas sexuais. Já no fi-
nal do século surge à sexologia, nova disciplina em que médicos, filósofos e pensadores inventam
classificações de sujeitos e práticas sexuais para determinar o que é normal, adequado ou não.

Figura1– Os novos conceitos abrangendo a sexualidade deu abertura para novos significados à família.
Fonte: Macrovector, Shutterstock.

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Os homens, como figuras de poder da época, tiveram importantes efeitos para a verdade nesta
temática, julgando sujeitos e suas práticas através dessas “verdades”. Vale aqui ressaltar que a
medicina, Estado e religião eram formados por homens, embora muito tenha se mudado, algu-
mas “verdades” perduraram, ou quem sabe, perduram ainda até os dias de hoje. Partindo para o
quesito prático e conceitual, a seguir, serão apresentadas as definições de sexo e sexualidade,
assim como a inserção desses assuntos no campo da educação.

1.1.1 Sexo
De acordo com o Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (2017, s. p.) o significado
da palavra sexo é:

1-Conjunto de caracteres, estruturais e funcionais, segundo os quais um animal é classificado


como macho ou fêmea; 2- Conjunto de características anatomofisiológicas que distinguem o
homem e a mulher: Sexo masculino; sexo feminino; 3- Caráter ou estrutura das plantas ou de
seus órgãos de reprodução, que as diferencia em masculinas e femininas; 4- Instinto genésico,
atração sexual ou sua manifestação na vida e na conduta: Ele exala sexo; 5- Conjunto de
qualidades físicas que despertam o apetite sexual; 6 -Os órgãos sexuais externos do homem e
da mulher; genitália.

VOCÊ SABIA?
Sexo está relacionado à reprodução, já a sexualidade faz parte do ser humano, rela-
cionando-se à intimidade, à afetividade, ao carinho, à forma de se expressar, e pode
manifestar-se em todas as fases da vida dos indivíduos, independente de sua classe
social, cor, raça, se tem ou não alguma deficiência, a sexualidade está diretamente
ligada a fatores genéticos e culturais (FARIAS,2015).

O excesso de informação oferecida pela mídia acaba gerando uma desinformação ou um aglome-
rado de informações precipitadas e/ou errôneas. Trabalhar esse tema em diversos contextos como
casa, escola e comunidade, se faz necessário devido ao crescente número de adolescentes grávidas,
da falta de proteção nas relações e principalmente às doenças sexualmente transmissíveis (SANTOS;
NOGUEIRA, 2009; CERQUEIRA-SANTOS et al.,2010; BENINCASA; REZENDE; CONIARIAC, 2008).

Os assuntos discutidos até então já quebraram muitos tabus, preconceitos e estigmas e nos últi-
mos anos, e começaram a fazer parte dos assuntos que possivelmente são tratados nas relações,
familiares, escolares ou sociais. Por mais que possa parecer que em alguns ambientes são pouco
discutidos, já se pode considerar um ganho para as novas gerações.

Figura 2–Geneticamente sexo é explicado como sendo masculino e feminino.


Fonte: Drpixel, Shutterstock.
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Educação e Sexualidade

Considerando em seu sentido mais amplo, a palavra sexo está vinculada à questão genital em
que é determinado biologicamente, é aquilo com que a pessoa nasce, pênis (macho) ou vagina
(fêmea), ou pelas características cromossômicas (genética).

1.1.2 Sexualidade
Por outro lado, sexualidade é um termo mais abrangente que engloba inúmeros fatores, e que
por este motivo é tão difícil e delicado encontrar uma única definição que seja considerada abso-
luta. Então para que você se aproxime de um conceito, pode atribuir que a sexualidade envolve
três aspectos que se inter-relacionam: biológico, psicológico e o social.

Segundo Chauí (1984, p. 7) a sexualidade:

[...] Não se reduz aos órgãos genitais (ainda que estes possam ser privilegiados na sexualidade
adulta) porque qualquer região do corpo é susceptível de prazer sexual, desde que tenha sido
investida de erotismo na vida de alguém, e porque a satisfação sexual pode ser alcançada sem
a união genital[...] Ela é polimorfa, polivalente, ultrapassa a necessidade fisiológica e tem a ver
com a simbolização do desejo.

Para a Organização Mundial da Saúde (2001) é a sexualidade que nos move a irem busca do
amor, carinho, contato íntimo, a buscar sentimentos, é por ela e para ela que nos movemos, que
acariciamos e somos acariciados. Os nossos sentimentos, pensamentos, interações sociais são
baseadas na nossa busca pelo prazer.

Entendendo a fragilidade do termo e da total descrição, em 2002 a Organização Mundial da


Saúde fez uma ampla pesquisa a diversos técnicos no sentido de obter definições para as pala-
vras “sexo, sexualidade, saúde sexual e direitos sexuais”.

Basicamente o termo sexualidade pode ser definido, como apresentado por Amaral (2007), se-
gundo os critérios da Organização Mundial da Saúde, como:

Um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrange o sexo, as identidades
e os papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A
sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos, nas fantasias, nos desejos,
na opinião, nas atitudes, nos valores, nos comportamentos, nas práticas, nos papéis e nos
relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões, nem todas são
sempre experimentadas ou expressadas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores
biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, cultural, éticos, legais, históricos,
religiosos e espirituais (AMARAL, 2007, p.5).

Para Louro (2000), a sexualidade é mais que questão pessoal, ela é social e política, ela é cons-
truída ao longo da vida de todos os sujeitos.

A sexualidade refere-se a um conjunto de comportamentos complexos que envolvem a busca


da satisfação pessoal, indo além dos aspectos biológicos e genitais (ALBUQUERQUE, 2011).
Segundo Maia e Aranha (2005) a sexualidade é uma amplitude das condutas humanas que vai
além da sua genitalidade não devendo então, ser entendida como sinônimo de relação sexual,
orgasmo ou órgãos sexuais, sua dimensão é ampla e cultural abrangendo diversos aspectos entre
eles o amor, relacionamentos afetivos e sexuais, sensualidade, erotismo, prazer, expressão da
identidade e papéis sexuais.

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VOCÊ QUER VER?
O filme Kinsey, vamos falar sobra sexo (2004) dirigido por Bill Condon, aborda uma
série de questionamentos sobre a sexualidade humana, procura trabalhar com questões
relacionadas às manifestações individuais da sexualidade. Desmistifica o sexo como
sendo apenas para procriar, indo além, procura relatar a sexualidade como algo natural
do indivíduo e que faz parte do desenvolvimento do mesmo. A temática com a qual o
filme trabalha vai servir para que o aluno consiga compreender o que foi lido nesse ma-
terial e que o mesmo consiga refletir e propor discussões produtivas em seu cotidiano.

Compreendendo toda a importância do termo e sabendo como é amplo e que esta temática se
encontra em todos os sentidos na vida e de forma que cada um experimenta de um jeito, se faz
necessário cada vez mais, trabalhar a sexualidade além dos estigmas presentes na sociedade e
geradores de tantos conflitos, de forma dinâmica e em amplo espectro.

VOCÊ QUER LER?


Você sabia que existem muitos preconceitos quanto à sexualidade de pessoas que
possuem alguma deficiência? Você como futuro educador já pensou sobre isso? É da
natureza humana o desejo sexual, a busca por carinhos e afetos, e as pessoas com
deficiência não estão fora desses desejos. Para isso precisamos estar preparados, e o
livro Sexualidade e Deficiência, escrito por Maia (2006),está aí para nos orientar.

Segundo Maia e Ribeiro (2010), a sexualidade faz parte de todos os indivíduos independente de ter
ou não alguma deficiência. Muitas vezes a família percebe os adolescentes com deficiência como
incapazes, inseguros, indefesos e por vezes assexuados (BRUNS, 2000; MAIA; RIBEIRO,2010).

É necessário considerar que a pessoa com algum tipo de deficiência tem a necessidade e o di-
reito de manter uma vida sexual (MACEDO; TERRASSI,2009). Entretanto, ainda há muita desin-
formação e desconforto em falar sobre o assunto, prevalecendo a falta de diálogo entre pais e
filhos. Como visto até aqui, muitos são os esforços para conversar sobre sexualidade, tanto entre
famílias quanto na escola. Contudo, é necessário abordar as temáticas em torno da sexualidade
humana, por exemplo, falar sobre orientação sexual e gênero, apesar de haver certa dificuldade
de inserir esses temas no ambiente escolar. Aprofundaremos esses assuntos no tópico a seguir.

1.2 Gênero e orientação sexual


As correntes teóricas nos mostraram diferentes formas de enxergar o humano. De forma não mais
segregada, a concepção do ser humano, se torna objeto de pesquisa e a cada vez é necessário
considerar o autoconhecimento e sua essência.

Neste contexto de valorização humana, surgem questões de gênero e orientação sexual sendo
atreladas a identidade cultural e condição humana. No início do século XX, junto de alguns movi-
mentos de liberdade sexual, as mulheres também passaram a reivindicar direitos sobre o próprio
corpo e manifestar opiniões (OLIVEIRA; CASSAB, 2014).

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Educação e Sexualidade

É neste contexto que surgem novas nomenclaturas para antigas maneiras de se “amar”:

• homossexualidade;
• bissexualidade;
• heterossexualidade.

Alguns movimentos surgiram com o intuito de buscar a aceitação dos indivíduos que não eram
heterossexuais. Pensando que a religião por anos interferiu na maneira que devíamos pensar
agir, o que era ou não preconceito ou até mesmo o que era normal e “anormal”, esses novos
movimentos vem a calhar para tentar quebrar esses paradigmas há tanto tempo impregnado em
nossa sociedade.

O gênero e orientação sexual são termos que devem ser entendidos em sua singularidade e
complexidade, considerando a formação (biopsicossocial) de cada ser humano. Veja a seguir, de
forma mais detalhada, o que os envolvem e no que divergem.

1.2.1 Gênero
Gênero é determinado culturalmente como as características ditas socialmente aceitas entre o
“masculino” e o “feminino”, como anatomia, maneira de vestir-se, falar, gesticular, comporta-
mentos e atitudes. Essas diferenças de forma binária (masculino ou feminino) são características
designadas pela cultura, o que envolve o momento presente, classe dominante, modelo econô-
mico vigente, relação histórica.

Neste tópico em específico, ainda será tratado um pouco do que é determinado como o mascu-
lino versus feminino. Para Pádua (2013, p.155-156):

A importância do conceito de gênero para a compreensão da complexidade da ida social tem


sido cada vez mais reconhecida. Entendemos que categorias clássicas como classe social,
idade, status e outras podem ser enriquecidas com a perspectiva de gênero.

Com muitas reflexões e mudanças nos papeis sociais, essa relação de gênero vista de forma bi-
nária tem sido questionada. Essa tem sido a possibilidade para um novo cenário, como mudança
de rótulos “mulher sexo frágil”, “homem não chora”, “mulher precisa ser dona de casa”, “homem
é o único responsável por prover a família” e reconhecimento de outras identidades de gêneros.
Retomaremos esse conceito e discussão de identidade de gênero nos próximos tópicos

Características “SOCIALMENTE ACEITAS” para cada Gênero

FEMININO MASCULINO
Rosa é de menina Azul é de menino
Sentar de pernas fechadas/ cruzadas Sentar de pernas abertas
Brincar de casinha e boneca Não pode brincar com boneca
Festas de princesas Festas de super heróis
Andar “como menina” Correr, se sujar.
Pedagoga Engenheiro
Menina não joga futebol Menino não limpa a casa

Quadro 1 – Características de meninos e meninas de acordo com as “regras sociais”.


Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

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1.2.2 Brinquedo de menino versus brinquedo de menina
No trabalho com crianças, muitas vezes nos deparamos com proibições de adultos quanto aos
brinquedos e forma de brincar. É importante aqui ressaltar brinquedos infantis estão relacionados
com aprendizado, novas experiências de contato com seu corpo e os outros; ou ainda estímulo
para o contato com o outro, com a socialização, comunicação, habilidade de fazer amigos, de
colaborar entre muitas outras.

Quando a criança tem a oportunidade de interagir com diversos brinquedos, elas adquirem
aptidões específicas e muito importantes para o desenvolvimento como coordenação motora,
reflexos mais rápidos, visão lateral entre outras.

De acordo com a brincadeira, podem exercitar atividades, como controle das emoções, auto-
conhecimento, iniciativa, responsabilidade, confiança além de experimentar os papéis adultos,
uma vez que é na brincadeira que ela imita o comportamento adulto que muitas vezes presencia
como o papel de pai, papel de mãe, papel de professor, papel de chefe entre outros que chama-
rem a atenção da criança ou que for mais significativo naquele momento. Importante saber que
o fato de garotos brincarem de casinha, e garotas brincarem de carrinho não será determinante
na orientação sexual da criança.

A criança, a partir dos 3 anos de idade, constrói pouco a pouco em seus relacionamentos
noções do conceito de masculino e feminino. Essa diferenciação de gênero ainda está ausente
antes dessa idade sendo, na maioria das vezes, conduzido pelo comportamento de adulto, como
escolha de cores de roupa (exemplo: azul ou rosa), escolhas de brinquedos (exemplo: carrinhos
e bolas para meninos e bonecas e casinhas para meninas), desta forma, assim como objetos,
alguns dos comportamentos “de homem” e “de mulher” também são aprendidos pelas crianças.

Figura 3 –Interação entre meninos e meninas nas brincadeiras são de fundamental importância para a formação
da identidade de ambos.
Fonte: FamVeld, Shutterstock.

A sexualidade se manifesta na infância, adolescência, vida adulta e na terceira idade. E se ela


acontece em todos os âmbitos e fases da vida, abordá-la no contexto educacional somente na
adolescência reflete uma visão pedagógica limitada, caracterizando a crença de que a sexuali-
dade só é possível a partir da capacidade reprodutiva e desenvolvimento/ iniciação sexual.

11
Educação e Sexualidade

Neste sentido a escola estará sempre um passo atrás por considerar limitada a capacidade das
crianças e jovens e não acreditar na mudança de comportamento com as informações que po-
deriam oferecer.

VOCÊ QUER VER?


Um filme que ilustra bem o comportamento de homens e mulheres bem estereotipa-
dos é Se eu fosse você, um filme brasileiro dirigido por Daniel Filho e protagonizado
por Glória Pires e Toni Ramos. Em um briga rotineira, algo inexplicável acontece e
eles trocam de corpos. Durante todo o filme é possível ver ele com comportamentos
femininos e ela com comportamentos masculinos (comportamentos bem característicos
socialmente). O filme é uma comédia, com história que transcende a realidade, con-
tudo o que é possível aproveitar é o fato de que o gênero define o comportamento do
indivíduo (segundo as normas da sociedade).

É preciso quebrar as crenças arraigadas na sociedade em relação a comportamentos e normas que


são impostas como corretas a meninos e meninas. Vivemos em pleno século XXI e essas crenças
devem ficar no passado, e para que isso aconteça é preciso entender que tudo é possível a todos.
Nada deve ser colocado como exclusivamente para o sexo masculino ou para o sexo feminino.

1.2.3 Orientação sexual


A partir do final da década de 1990, no Brasil observou-se uma mudança de terminologia âmbito
educacional, sendo estabelecida a mudança não só no contexto escolar como também nos Pa-
râmetros Curriculares Nacionais (PCN). Trata-se da substituição da expressão Educação Sexual
para Orientação Sexual (BRASIL,1997).

É importante ainda estar atento a todas as mudanças de termos, versões que estejam ao par das
questões políticas, sociais e econômica do país.

Como notificado no documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entregue no dia
06 de Abril de 2017 ao Conselho Nacional de Educação (CNE), o Ministério da Educação (MEC)
retirou trechos que diziam especificamente que os estudantes teriam que respeitar a orientação
sexual dos demais alunos. No documento algumas modificações foram feitas e atualizadas de
acordo com as novas identidades de gênero e conforme a demanda social.

Orientação sexual pode ser definida como o gênero ao qual uma pessoa se sente atraída fisica-
mente e afetivamente (ABGLT,2010). A seguir, temos as categorias de gênero mais aceitas pela
sociedade contemporânea.

• Homossexuais: trata-se da atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo gênero/sexo.

• Lésbicas: são mulheres que se interessam afetivamente e sexualmente por mulheres.

• Gays: são homens que se interessam afetivamente e sexualmente por outros homens.

• Heterossexuais: trata-se da atração afetiva e sexual por pessoas de gênero/sexo oposto.

• Bissexuais: trata-se da atração afetiva e sexual por qualquer pessoa de gênero: “homens”
ou “mulheres”.

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• Assexuais: neste caso o indivíduo não se sente atraído fisicamente/sexualmente por
nenhum gênero.

• Pansexuais: trata-se da atração afetiva e sexual que independe de gênero e sexo.

Lembrando que cada ser humano é reflexo de um processo de construção histórica, social, cul-
tural, psicológico, religioso e econômico, e criar estereótipos para como cada orientação sexual
“deve ser ou parecer” estaria deixando de considerar todo o processo vivido por esse indivíduo.

VOCÊ QUER LER?


Em 05/05/2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável no Bra-
sil, entre casais do mesmo sexo como entidade familiar, permitindo com que tenham
os mesmos direitos que envolvem uma união estável entre indivíduos do sexo oposto.
Você pode ler esse documento no endereço: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNo-
ticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931>.

Um bom professor precisa estar atualizado com as novidades e com os temas no qual trabalha
e para isso ele precisa ir a fontes confiáveis, no caso do assunto trabalhado nesse capítulo, é
importante procurar as leis que regem e protegem a todos os indivíduos, independente de cor,
raça, classe social e identidade de gênero.

1.3 Identidades de Gênero


Identidade de Gênero é basicamente entendida com o gênero no qual a pessoa se identifica,
como o indivíduo se enxerga, por exemplo, como homem, mulher, ambos ou nenhum. Alguns
termos que vêm sendo utilizados são:

• Cisgênero: a pessoa se identifica com o mesmo gênero que lhe foi dado quando nasceu.

• Transexual e/ou transgênero: a pessoa se identifica com um gênero diferente do que


lhe foi dado ao nascer.

IDENTIDADE DE GÊNERO ORIENTAÇÃO SEXUAL SEXO BIOLÓGICO

Indica o gênero pelo qual você


A maneira como você se enxerga,
sente atração, para qual lado a Refere-se à genitália
o gênero com o qual se identifica
sua sexualidade está orientada, com a qual você nas-
como seu). Está na maneira como
de maneira bem simplista seria ceu: pênis (macho)
a pessoa se entende e interpreta ao
por quem você se apaixonaria, ou vagina(fêmea), e
se olhar no espelho, pode-se dizer
com quem o seu coração se também aos cromos-
que seria a identificação com que o
identifica (homossexual, bisse- somos e gônadas.
cérebro entende que a pessoa seja.
xual ou heterossexual).

Quadro2 – Principais características de identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico.


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Educação e Sexualidade

1.3.1 Homossexualidade e sua terminologia


Ainda se tratando de termos e nomenclaturas, quando surgiu homossexualidade e o sujeito, no
final do século XIX, é possível que já houvesse relações amorosas e sexuais entre sujeitos do
mesmo sexo, antes mesmo que fosse designada uma nomenclatura.

Então, no século XIX, a relação entre iguais do mesmo sexo passa a ser considerada como uma
prática que se desvia do conceito de “normalidade”.

Outro adendo observado a respeito da nomenclatura está na confusão entre o nome homosse-
xualidade e homossexualismo. A terminação “ismo” faz referência a tipos específicos de doença,
o qual foi utilizado pelo discurso medico para identificar o sujeito homossexual. Nesse sentido,
de acordo com Jimena Furlani (2007, p. 153):

Em 1869, o médico húngaro Karoly Maria Benkert inventa a palavra homossexualismo, no


contexto do discurso da medicina ocidental, para caracterizar uma forma de comportamento
“desviante” e “perversa” entre pessoas do mesmo sexo; portanto, o sujeito homossexual passa
a existir, na história humana, apenas a partir do século XIX.

O discurso médico reforçou a ideia para a população da época de que este comportamento
de fato era considerado uma doença e que deveria ser tratado. No entanto, como explicitado
por Furlani (2007), a homossexualidade, ou a atração por pessoas do mesmo sexo não é um
doença, com isso o termo homossexualismo caiu no dia 17 de maio de 1990, saindo dos livros
sobre distúrbios mentais. Em tempos não muito remotos, ainda no contexto atual vemos discursos
impregnados de preconceitos em que se propõe a cura da homossexualidade.

VOCÊ SABIA?
No Brasil, a sigla LGBTT corresponde a todas as pessoas lésbicas (L), gays (G), bissexu-
ais (B), travestis (T) e transexuais (T). Em relação a siglas e nomenclatura as ordenações
podem ser diferentes, de acordo com critérios próprios, como por exemplo: GLBT, GLTB,
LGTTB, LGBT. Mas, todas elas referem-se às mesmas causas e pessoas. Vale ressaltar
que quando na sigla aparece apenas um T é por que esta se refere a transgêneros, de
modo geral. Para saber mais, acesse a matéria publicada no portal G1, disponível no
endereço: <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL593295-5598,00-MOVIMEN
TO+GLBT+DECIDE+MUDAR+PARA+LGBT.html>.

Segundo Bruns (2000) as instituições políticas e religiosas acabam tendo como um de seus pa-
peis principais educar o modo como lidamos com a nossa sexualidade e com a do outro, sendo
responsáveis pela formação de nossa identidade e, assim, serem estabelecedoras de regras.

1.4 Aproximações entre Gênero,


Sexualidade e Educação
O que é ser mulher? O que significa o feminino? O que é ser homem? O que significa o mascu-
lino? E, principalmente, como trabalhar isso tudo na escola?

No livro Sexualidade começa na infância, organizado por Silva (2010), há um capítulo que retra-
ta a maneira como os pais veem o trabalho de orientação sexual nas escolas, como muitos têm
medo, preconceito, e consideram tabu falar sobre isso. É um falso pensamento de que se não

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falar sobre esse assunto, não se despertará a curiosidade dos filhos em transar, gostar de alguém
do sexo oposto ou do mesmo sexo.

A partir de agora, como futuro educador, você deverá estar empenhado e disposto a estudar e
também a discutir essa nova aprendizagem com seus colegas de sala, na sua futura escola e,
logo, com futuros alunos. Como qualquer outra temática, essa merece muita atenção e cuidado
com a forma que será trabalhada.

Para ser possível trabalhar sobre essas diversas temáticas no ambiente escolar, é preciso que a pró-
pria escola, como participante ativa no desenvolvimento e formação de cidadãos com boa índole e
caráter, seja a primeira a se mostrar apta para discutir e trabalhar sobre os mais diversos assuntos.

Como já evidenciado por Madureira e Branco(2005) as experiências humanas devem ocorrer em


contextos culturais estruturados, para isso ela deve ir além das crenças e dos valores já existentes
em determinadas sociedades.

Conforme demonstra a figura a seguir, o indivíduo tem suas identidades e orientações formadas
pela família e pela escola e assim formam-se bons cidadãos, que ao se unirem formarão novos
indivíduos, novas famílias, novas orientações, e assim sucessivamente, sendo um ciclo, que para
se manter precisa sempre estar em movimento.

FAMÍLIA

INDIVÍDUO RESPONSABILIDADE ESCOLA

CIDADÃO

Figura 5 –A formação do cidadão é responsabilidade de todas as instituições.


Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

A primeira instituição com que o indivíduo tem contato é a sua família, que será responsável pela
sua educação, pela sua formação ética e pela sua identidade. Após esse contato o indivíduo
passa a se inserir na sociedade, que é representada também pela escola.

As instituições de ensino têm como objetivo estimular a prática crítica, de cidadania e seres for-
madores de opinião; tem o papel social de propor sempre um espaço de discussão para diversos
temas, entre eles a sexualidade, entendendo que são diversos os caminhos que influenciam a
sexualidade humana, fugindo do senso comum e respostas prontas, uma vez que todo indivíduo
provém de um contexto diferente.

Neste espaço, quando a instituição de ensino se coloca de portas abertas a conversar sobre a
temática de forma dinâmica, os indivíduos sentem-se assegurados, por encontrar um ambiente/
espaço para aprender e debater preconceitos.

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Educação e Sexualidade

Como ressalta Demo (2005) citado por Madureira e Branco (2015, p. 580):

Focalizar os preconceitos e as práticas discriminatórias em relação à diversidade sexual e de


gênero no espaço escolar é uma forma de denunciar, por um lado, os processos de exclusão
presentes em nossa sociedade. Por outro lado, é uma forma de indicar a existência de outras
possibilidades de lidar com a diversidade humana, em sintonia com a construção de éticas
multiculturais e com a construção de uma cultura democrática em diferentes espaços da vida
social, incluindo o espaço escolar.

RESPEITO
DIVERSIDADE INCLUSÃO

ÉTICA ESCOLA FORMADORA

EDUCAÇÃO SOCIEDADE

RESPONSABILIDADE

Figura 6 –A escola é um elo para a formação da identidade


Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

É possível dizer que mais do que um espaço para formação de opinião, a escola neste quesito ofe-
rece um espaço para escuta e debates sociais muitas vezes vivenciados na realidade de cada um.

Quando o assunto é desigualdade social, parte do que se entende por esse termo se da pela
diversidade. Historicamente já temos visto lutas entre: escravos e donos de engenho, burgueses
e proletariado, mulheres e sua luta social para reconhecimento social, homossexuais e transgê-
neros na busca por um espaço sem preconceito.

Aprofundando no sentindo desse estudo, quando se fala em gênero, podem-se elencar duas
possibilidade mais comumente aceitas: feminino e masculino. No entanto, nenhuma dessas pos-
sibilidades traduz os papéis sociais desempenhados por homens ou mulheres na sociedade. E
indo ainda mais fundo nesta questão, qual o papel social atual que pode ser dito feminino? Qual
o papel social do homem?

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), do 6o ao 9o ano, a orientação


sexual no contexto escolar deve ser realizada de forma interdisciplinar, de modo a contemplar os
seguintes eixos norteadores: (a) corpo: matriz da sexualidade; (b) relações de gênero; e (c) pre-
venção das doenças sexualmente transmissíveis/Aids. Os papéis sociais e gêneros se entrelaçam,
não sendo possível distingui-los. Recorrer a esta temática, discutir questões de gênero, diferenças
de papéis sociais, falar sobre afetividade e prazer ajuda na construção de saber dos jovens, além
de legitimar seus direitos.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica é necessário incluir a


demanda gênero e sexualidade nas diversas disciplinas propostas no currículo escolar. O que é
desafiador é proporcionar uma formação continuada de qualidade para os docentes.

Para essa formação seria necessária a realização de grupo de estudos, orientações pedagógicas,
cursos, apostilas e principalmente profissionais capacitados para colaborar com essa formação
e professores dispostos a aprender.

16 Laureate- International Universities


Os docentes da educação básica estão saturados de tantos cursos e formações que falam “mais
do mesmo”, eles vivem sobrecarregados de aulas para preparar, conteúdo para passar, reuniões,
cadernetas, e ainda a escola aparece cada vez mais com cursos e mais cursos que por vezes se
tornam cansativos aos educadores. É importante o Estado mudar essa visão e começar a oferecer
cursos de qualidades. Como relatado por Junckes (2013) o professor é mediador de todo o pro-
cesso pedagógico, e é ele quem transmite novas informações e conhecimentos para os alunos,
tornando-os mais reflexivos.

TABU ESCOLA SEXUALIDADE

Figura 7–Escola é lugar de falar sobre sexualidade, sim.


Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

No ambiente escolar, para trabalhar com sexualidade, o tabu precisa ficar para trás e ser desmis-
tificado para que, assim, possa ter uma inclusão de todos. Como foi pontuado no início do ca-
pítulo, os comportamentos em relação à sexualidade foi modificado de geração para geração, e
sofreu várias mudanças, e uma delas é a importância em discutir sobre isso no ambiente escolar.

Essa inserção é de grande valia para o processo de ensino e aprendizagem, e também, para
contribuir para a formação de cidadãos mais críticos e reflexivos frente às novas demandas que
vem surgindo na sociedade.

Ao utilizarmos o termo canalização cultural destacamos o papel ativo das pessoas concretas nos
processos de significação em relação ao mundo social em que estão inseridas e em relação a si
mesmas (MADUREIRA; BRANCO, 2005).

Nesse sentido, as instituições de ensino, com o objetivo de estimular a prática crítica, de cidada-
nia e seres formadores de opinião, têm o papel social de propor sempre um espaço de discussão
para o tema sexualidade, entendendo que são diversos os caminhos que influenciam a sexuali-
dade humana, fugindo do senso comum e respostas prontas, uma vez que todo indivíduo provém
de um contexto diferente, sendo a generalização mera ingenuidade.

Neste espaço, quando a instituição de ensino se coloca de portas abertas a conversar sobre a
temática de forma dinâmica, os indivíduos sentem-se assegurados, por encontrar um ambiente/
espaço para aprender e debater preconceitos.

VOCÊ SABIA?
A Garota Dinamarquesa (2015) rendeu o Oscar ao ator Eddie Redmayne por interpretar
Einar, um jovem pintor que, ao longo do filme, se transforma em Lili Elbe. Inicialmente,
vestia-se de mulher para servir de modelo à sua esposa, Gerda, que também era pin-
tora, e aos poucos passou a assumir a identidade de Lili, frequentando as festas dos
anos 1920. A história inspirada na vida real do casal de pintores Einar e Gerda aborda
as dúvidas quanto à orientação sexual, ao casamento e revela os passos seguintes,
como por exemplo, Einar/Lili se tornar a primeira pessoa a se submeter à cirurgia de
mudança de sexo.

17
Educação e Sexualidade

A partir de todos os conceitos discutidos e da amplitude que a temática se apresenta, é possível con-
cluir que a sexualidade não se reduz a genitálias, impulsos, hormônios, ato sexual, genes, instintos.

Ela está sendo construída socialmente, historicamente, culturalmente e psicologicamente, e nós


como agentes transformadores e formadores de opiniões temos ligação e relação direta com
todas essas transformações.

Entender que este é um processo, e que a conscientização muitas vezes perpassa nosso ambiente
de sala de aula, nossos lares, nosso trabalho, nos faz pensar sobre qual é o legado que estamos
deixando para as gerações futuras.

1.4.1 Por que trabalhar sexualidade nas escolas?


Muitos questionamentos ainda são feitos sobre a hora em que se deve conversar sobre sexua-
lidade, gênero, orientação sexual, entre outras temáticas que ainda geram receios para alguns
professores e até mesmo para os pais. O que precisa ser enfatizado é que, querendo ou não falar
sobre isso com os filhos/alunos, eles vão querer saber. Dessa maneira, ou conversamos e refle-
timos de maneira sadia e orientando, ou eles vão buscar respostas na internet ou com amigos.

Devemos conversar sempre que nós, como profissionais, sentimos a necessidade de incluir essa
temática em nossa grade curricular, dividindo com os assuntos propostos na ementa. Ignorar
não vai diminuir a curiosidade das crianças e dos jovens, então a melhor e mais sábia maneira
de lidar com assuntos vistos como “polêmicos e tabus” é e sempre será a conversa, trocando
experiências, e sanando as dúvidas.

1.4.2 Tenho um(a) alun(a) homossexual ou transexual, e agora?


Devemos procurar sempre respeitar ao próximo, independentemente de sua cor, raça, credo, se-
xualidade. Caso nunca tenha conhecido nenhum homossexual ou transexual, que tal começar a
estudar sobreo assunto e a interagir com os/as diferenças? Que tal chamar esse aluno para uma
conversa? No caso de um transexual, procure saber sobre com que nome ele se identifica e até
mesmo convidá-lo a dividir a sua história com você e com a turma. Não saber como chamá-lo
ou até mesmo como lhe dar frente a alguns preconceitos arraigados em você é algo natural, já
que muitas coisas mudaram e evoluíram com o tempo.

1.4.3 Os pais não aceitam o colega homossexual na turma do seu filho.


E agora, educador?
Que tal uma palestra com profissionais da área aberta para todos da escola: pais, professores,
funcionários, alunos? Mostrar a partir das leis que a discriminação é crime passível de cadeia,
em casos de pais muito extremos, é uma saída muito útil. Procure trazer para a escola pais cola-
boradores, que ajudem nessas situações.

1.4.4 Sou educador e não aceito trabalhar sobre esse assunto


Por favor, leia novamente esse material, assista aos filmes indicados e troque experiências. Nunca
é tarde para começar a rever seus conceitos e mudar. O caso a seguir nos faz refletir.

18 Laureate- International Universities


Caso
O jovem Lucas Salvattore utilizou a sua página pessoal do Facebook para denunciar um ato bár-
baro de violência homofóbica. O estudante de 18 anos foi espancado por cinco jovens na porta
da sua escola, em São José dos Campos (SP).

“Primeiramente obrigado DEUS! Na segunda, na saída da Escola Pef Lourdes Maria de Camargo,
fui agredido por cinco garotos homofóbicos. Um deles estudava na minha sala. Desde o primeiro
dia de aula eu já tinha virado ‘chacotinha’ dele na sala. Comuniquei a direção da escola e como
o ‘problema era por eu ser gay’, a diretora me mudou de sala”, diz trecho do relato de Lucas. A
publicação viralizou no Facebook, alcançando mais de 6 mil compartilhamentos, 26 mil curtidas
e motivando centenas de manifestações de apoio.

No texto, Lucas conta que já tinha avisado à diretoria da escola que vinha sofrendo agressões
verbais de um dos alunos. Ao ser informada do problema, a direção teria trocado Lucas de tur-
ma. Mesmo com a transferência de turma, porém, o bullying continuou. Lucas afirma que o anti-
go colega de classe e mais quatro colegas o atacaram saindo da escola, com o primeiro dizendo
que ia matá-lo. De acordo com a Secretaria de Educação de São Paulo, a escola suspendeu os
cinco alunos acusados de espancar Lucas. Além disso, o caso foi registrado na Polícia Civil do
estado, e a escola se pôs à disposição para ajudar nas investigações (PRAGMATISMO POLÍTICO,
2016). Disponível no endereço: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/03/o-relato-
-chocante-de-um-estudante-vitima-de-violencia-homofobica.html>.

Figura 9 – É na escola que vamos desmistificar os preconceitos trazidos de casa.


Fonte: woaiss, Shutterstock.

As relações de sexualidade estão em todos os ambientes, em nosso cotidiano e é intrínseca ao


desenvolvimento e suas relações.

Como professores, agora já temos consciência que o debate sobre a sexualidade deve ser inicia-
da no contexto escolar. Desde infância, é possível e necessário trabalhar essas questões, voltadas
prioritariamente para as relações de descoberta do corpo, conhecimento de suas funções, limi-
tes, prazer e respeito com seu corpo.

19
Educação e Sexualidade

Mas antes mesmo de pensar na sexualidade e suas manifestações, convido primeiramente você
caro leitor a fazer uma reflexão a cerca desta temática. De se rebuscar um pouco de como foi no
passado esse tema, ou exatamente como foi a ausência/abertura para discutir esse assunto com
pais, professores e colegas.

E se agora, tentando acessar todas as suas possíveis memórias e ainda assim não encontrou ne-
nhuma tão marcante a respeito de algum ensinamento de sexualidade, fique tranquilo! Algumas
famílias e/ou escolas não deram essa abertura para que pudesse dialogar abertamente sobre
esse assunto.

Muito se deve ao contexto social em que vivíamos. Os pais muitas vezes não sabiam ao certo
como abordar a temática, não tinha acesso fácil à informação sobre sexualidade e essa ainda
era muito reprimida.

Esse retrospecto pessoal a respeito das questões que envolvem sexualidade é importante para en-
tendermos um pouco mais das nossas referências sobre o assunto, uma vez que no trabalho com
crianças o conhecimento a respeito do que ensinamos perpassam nossas experiências pessoais.

E para isso, teremos consciência do ponto de partida do nosso pensamento para entendermos
a sexualidade e o porquê de pensarmos assim.

VOCÊ O CONHECE?
Tim Cook, CEO da Apple, é homossexual assumido, solteiro e atuante pela causa
LGBT. Ele comanda uma das empresas mais populares da atualidade, que tem um fa-
turamento anual equivalente a R$ 812 bilhões.

A partir das informações apresentadas neste estudo sobre os caminhos da sexualidade e as mu-
danças ao longo do tempo, é possível perceber a importância da escola para trabalhar essas
temáticas. As instituições de ensino são fundamentais para essa introdução, contribuindo para
formar cidadãos que respeitem as diferenças e combatam os preconceitos.

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Síntese Síntese
Com o desafio de falarmos tão abertamente sobre essa temática, damos início para entendermos
melhor os significados e a diferença de cada termo, assim como a relação entre eles e a impor-
tância de trabalhar esse assunto nas escolas.

Portanto, neste capítulo, você adquiriu conhecimentos para:

• discutir os conceitos de sexualidade, gênero, identidade de gênero;

• analisar a situação da escola frente a esses novos significados e terminologias;

• discutir com novos profissionais sobre a necessidade em se falar sobre sexualidade;

• conhecer a demanda da escola e como orientar os alunos;

• identificar possíveis casos de bullying na escola;

• esclarecer os pais e alunos sobre a importância da inclusão, independentemente da


orientação sexual;

• trocar experiências com outros profissionais para agregar conhecimento;

• pensar em estratégias de organizar sobre a temática no ambiente escolar.

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