Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
(Organizador)
TERRA
Políticas Públicas e Cidadania
2019
© Giovanni Seabra (Org.), 2019.
Coordenação de Editoração: Laciene Karoline Santos de França
Arte Gráfica e Editoração: Claudia Neu, Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva e
Loester Figueirôa de França Filho.
Arte da capa: Claudia Neu
Contatos:
www.aconferenciadaterra.com
ambiental.gs@gmail.com
Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19.614.993.0001/10
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Rua das Orquídeas, 399, Residencial Cidade Jardim, Ituiutaba,
MG.
Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos
ISBN: 978-85-68066-81-2
Giovanni Seabra
Sumário
RIO DO SAL: DA MONTANTE À JUSANTE MEU CORAÇÃO BATE POR TI ................ 1464
RESUMO
As praias do Forte, do Meio e Ponta Negra integram o complexo de praias urbanas da cidade do
Natal (RN). Objetivou-se investigar a ocorrência do ouriço-do-mar Echinometra lucunter
(Echinoidea, Echinometridae) nos arrecife intertidais dessas praias e seu potencial como ferramenta
de ação para a promoção de ensino interdisciplinar de Zoologia e Educação Ambiental (EA),
enfatizando a sensibilização jurídico ambiental. Propõe-se que, através de visitas de campo
monitoradas por pessoas habilitadas, a observação dessa espécie seja utilizada para a divulgação de
conteúdos de EA, Zoologia e princípios do Direito do Ambiente dispostos no art. 225 da
Constituição Federal de 1988 conforme diretrizes da Convenção da Biodiversidade e da Política
Nacional da Biodiversidade.
Palavras-chave: entremarés, letramento jurídico, legislação ambiental, curriculum de Biologia
ABSTRACT
The beaches of Forte, Meio and Ponta Negra are part of the complex of urban beaches of the city of
Natal (RN). The objective was to investigate the occurrence of Echinometra lucunter (Echinoidea,
Echinometridae) in the intertidal zone of these beaches and its potential as an action-tool for the
promotion of the interdisciplinary teaching of Zoology and Environmental Education, emphasizing
legal awareness of environmental issues. It is proposed that, through field visits monitored by
qualified persons, the observation of this species be used for the dissemination of contents, in
Zoology and the directives of Environmental Law set forth in article 225 of the Brazilian Federal
Constitution of 1988 in accordance with the guidelines of the Convention on Biodiversity and the
Brazilian National Biodiversity Policy.
Keywords: intertidal zone, invertebrates, legal literacy, environmental law, Biology curriculum
INTRODUÇÃO
quanto aos princípios e normas que regem o acesso à biodiversidade no Brasil. Esse estudo segue
Coelho et al. (2007), que propuseram o uso de “ferramentas de ação", isto é, temáticas extraídas da
observação da natureza e contextualizadas numa perspectiva conservacionista.
METODOLOGIA
Os locais pesquisados foram os arrecifes intertidais nas praias do Forte, Meio e Ponta Negra,
classificadas como praias urbanas da cidade do Natal (RN) (NATAL, 2011). Nos arrecifes,
denominados recifes de Natal, encontramos depressões que durante a maré baixa continuam cheias
de água do mar, formando as poças de maré (OLIVEIRA, 1971). Essas praias estão localizadas na
zona urbana da cidade do Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, situam-se em uma zona de
predominância do tipo climático As’, isto é “clima tropical quente e úmido” segundo a classificação
de Koeppen (NATAL, 2011).
O presente estudo propõe protocolo que envolve observação, identificação e registro de
campo, alinhado com proposta de educação para a sustentabilidade e em conformidade com o
disposto na Instrução Normativa nº03/2014-ICMBio, no que tange às atividades didáticas que
prescindem de autorização expressa por não envolver captura ou coleta de material biológico.
A metodologia de pesquisa constou de visitas em campo onde foi observada a ocorrência do
ouriço-do-mar Echinometra lucunter nos arrecifes, bem como na compilação de registros a partir da
literatura e de material depositado na Coleção de Invertebrados do Departamento de Botânica e
Zoologia (UFRN). As observações em campo foram realizadas em junho/julho de 2016 e janeiro de
2017. Informações sobre a biologia e identificação dos espécimes de equinodermos observados em
campo foram baseadas em consulta a literatura especializada (GONDIM et al. 2011; VARELA-
FREIRE, 1997; HADEL, 201; HARRIS; STEPHEN, 2015; BYRNE; OHARA, 2017).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que concerne à saúde pública, espécimes de E. lucunter (como outros ouriços do mar)
podem causar acidentes que envolvem a penetração dos espinhos na pele que causam lesões
dolorosas e podem levar a eventuais inflamações (HSU 2012); como evidência corroborativa,
Sciani et al. (2013) isolaram, em espécimes de E. lucunter, o peptídeo equinometrina que apresenta
ação pró-inflamatória. Contudo, apesar de existirem espécies de ouriços do mar consideradas
venenosas para a espécie humana, e.g. Toxopneustes pileolus e Diadema spp. (ver HALSTEAD,
1978, BYRNE; O´HARA, 2017a), E. lucunter não está arrolado entre elas (HADEL, 2012).
Da Silva e Araújo-de-Almeida (2013) verificaram a percepção do público quanto à presença
de equinodermos no ambiente costeiro e Araújo-de Almeida et al. (2010) enfatizam a
biodiversidade das poças de maré e seu potencial para a EA, possibilitando ao educador informar o
público alvo sobre a variedade da biota e de suas relações ecológicas. Outro aspecto a ser abordado
são as consequências das atividades antropogênicas exemplificadas pela construção de diques,
pisoteio, captura de espécimes silvestres, erosão, presença de efluentes de esgoto, acúmulo de lixo e
manipulação dos animais in loco. Tais colocações tem o potencial de ensejar discussões a respeito
dos princípios constitucionais que regem o Direito do Ambiente, mormente, o princípio jurídico da
precaução e prevenção (disposto no art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988) e o princípio bioético de não-maleficência, que implicam na prevenção de danos aos
componentes da biota e suas funções ecológicas (Santos, 2011). Em respeito a esses princípios,
ressalta-se que as atividades de campo deverão: a) envolver apenas a observação dos espécimes em
seus habitats, b) reposição das rochas que foram eventualmente manipuladas para a observação de
espécimes crípticos, evitando-se danos à assembleia de organismos que lá habitam. Os espécimes
silvestres podem ser observados in situ, fotografados e filmados para apresentações em sala de aula,
em anuência ao art. 10º da Instrução Normativa nº03 de 01.09.2014 do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade.
Conforme recomendado por Araújo-de-Almeida et al (2011) e Santos (2011) para aulas de
campo em Zoologia, além de se coadunar com princípios bioéticos e com legislação vigente que
disciplina o acesso a biodiversidade para fins didáticos (ARAÚJO-DE-ALMEIDA et al 2017), a
observação da diversidade de equinodermos na região de entremarés seguindo o protocolo proposto
no presente trabalho poderá suscitar discussões sobre o impedimento taxonômico e à necessidade de
formação especialistas e fomento às atividades de Taxonomia e Sistemática Zoológica. Justifica-se
tal medida considerando-se que a descrição de novos táxons e entendimento dos padrões
filogenéticos aos quais pertencem trazem muitas consequências para o conhecimento da
biodiversidade, sua importância na manutenção dos ecossistemas e suas eventuais aplicações nas
atividades humanas (WILSON, 1987; AMORIM, 2008). No caso dos equinodermos, tais aplicações
potenciais são vastas nos campos da ciências da saúde, toxicologia, farmacologia e química de
produtos naturais (por exemplo, como substâncias antifouling para proteger cascos de embarcações)
(KELLY, 2005; PETZELT, 2005; MATRANGA, 2005; FERRARI et al., 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O educador poderá planejar as visitas às praias, as quais são acessíveis por transporte
público e privado, consultando as tábuas de maré publicadas no site da Marinha do Brasil
(https://www.marinha.mil.br/chm/tabuas-de-mare), selecionando-se a localidade “Porto de Natal” e
a data e horário desejados. Dada a sua localização na área urbana da cidade do Natal, as praias
citadas são de acessíveis por transporte público ou particular. Verificou-se que é possível observar
exemplares de E. lucunter em seu habitat nas baixa-mares com cotas inferiores a 0.2 m. Sugere-se
que o instrutor deverá utilizar lupa manual e/ou dispositivo fotográfico para melhor observação e
registro dos espécimes em campo.
Seguindo a recomendação de Berchel et al. (2012), no que diz respeito à educação ambiental
em ambiente marinho, os autores reiteram a relevância das visitas aos arrecifes como opções para a
divulgação de conteúdos de EA e Zoologia através de preleções tendo por público-alvo discentes
de ensino fundamental, médio e superior. De acordo com Santos e Araújo-de-Almeida (2015),
recomenda-se que, antes da visita em campo, o instrutor informe sobre medidas de segurança como
uso de calçados antiderrapantes, manter distância de locais com alto hidrodinamismo e proteção
contra a insolação.
O responsável pela visita poderá fomentar o letramento jurídico e ministrar conteúdos
pertinentes aos princípios jurídicos que norteiam o Direito do Ambiente no Brasil, entre eles os
princípios da precaução, prevenção e educação ambiental, conforme o disposto no art. 225
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
APPELTANS, W. et al. The magnitude of global marine species diversity. Current Biology 22,
2189–2202. 2012.
ARAÚJO-DE-ALMEIDA, E.; GONDIM, R.O.; SANTOS, R.L.; SILVA, T.S.; COELHO, M.S.;
SANTOS, T.O.B. A interação do ensino de Zoologia com a Educação Ambiental. . In: Araújo-de-
Almeida, E. Ensino de Zoologia: Ensaios Metadisciplinares. 3 ed. João Pessoa:EDUFPB. p.209-
225. 2011.
BRUSCA, R.; BRUSCA, G.J. 2007. Invertebrados. 2 ed Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan. 2017.
BYRNE, M.; O´HARA, T. Ecology and behavior . In: BYRNE, M.; O´HARA, T. (eds).
Australian echinoderms: biology, ecology and evolution. Melbourne: CSIRO Publishing. 2017a.
p.37-73.
BYRNE, M.; O´HARA, T. Management: fisheries, ferals and conservation. BYRNE, M.;
O´HARA, T. (eds). Australian echinoderms: biology, ecology and evolution. Melbourne: CSIRO
Publishing. 2017b. p.95-130.
EBERT, A. Sea urchins. In: DENNY, M.W.; GAINES, S.D. Encyclopedia of tidepools and rocky
shores. Berkeley: University of California Press. p.510-513. 2007.
FERRARIO, C.; LEGGIO, L.; LEONE, R. ; DI BENEDETTO, C.; LUCA GUIDETTI, L.;
COCCE, V.; ASCAGNI, M. A , BONASORO, F., LA PORTA, M.D.C.; CARNEVALI, C..
SUGNI. M. Marine-derived collagen biomaterials from echinoderm connective tissues. Marine
Environmental Research v.128. 2017.
GHILARDI-LOPES, N.; HADEL, V.F.; BERCHEZ, F. (eds) Guia para a educação ambiental em
costões rochosos. Porto Alegre: Artmed. 2012. p.161-168.
HADEL, V.F. Equinodermes. In: In: GHILARDI-LOPES, N.; HADEL, V.F.; BERCHEZ, F. (eds)
Guia para a educação ambiental em costões rochosos. Porto Alegre: Artmed. 2012. p.135-145.
HALSTEAD, B.W. Poisonous and venomous marine animals of the world. 2 ed. Princeton: The
Darwin Press. 1978.
HARRIS, L.G.; EDDY, S.D. Sea urchin ecology and biology. In: BROWN, N.; EDDY, S.D.
Echinoderm aquaculture. Hoboken: Wiley Blackwell. 2015. p.3-24.
HOPP, S.; HERDING, B. The boreholes of the sea urchin of the genus Echinometra
(Echinodermata: Echinoidea: Echinometridae) as a microhabitat in tropical South America.
Marine Ecology 13 (1-3): 181-186. 1995.
HORA, N.; JESUS, M.C.F.F.; NAZARÉ. M.R.S. Biodiversidade e conservação: um olhar sobre a
formação dos licenciandos de Biologia. Revista Brasileira de Educação Ambiental, v.10, p.56-
74. 2015.
HSU, M.M.S. 2012. Acidentes com invertebrados marinhos. In: GHILARDI-LOPES, N.; HADEL,
V.F.; BERCHEZ, F. (eds) Guia para a educação ambiental em costões rochosos. Porto Alegre:
Artmed. 2012. p.169-175.
KELLY, M.S.. Echinoderms: their culture and bioactive compounds. Prog Mol Subcell Biol.
39:139-65. 2005.
LAWRENCE, J.M. the edible sea urchins. In: LAWRENCE, J.M. (ed). Edible sea urchins: biology
and ecology. Amsterdam: Elsevier. 2006.
MCNAMARA, K.K.; PAWSON, D.L.; MIKELLY, A.D.; BYRNE, M. Class Echinoidea. In:
BYRNE, M.; O´HARA, T. (eds). Australian echinoderms: biology, ecology and evolution.
Melbourne: CSIRO Publishing. 2017. P.350-445.
PURCELL, S. Managing sea cucumber fisheries with an ecosystem approach. In: Lovatelli A,
Vasconcellos, M.; Yimin, Y. (eds). FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper No. 520.
Rome: FAO. 2010. 157 p.
PURCELL, S.W. Value, market preferences and trade of beche-de-mer from pacific island sea
cucumbers. PLoS ONE 9(4): e95075. 2014.
SANTOS, R.; FLAMMANG, P. Morphometry and mechanical design of tube foot stems in sea
urchins: a comparative study. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, n.315,
p.211-223. 2005.
SANTOS, R.L. Direito ambiental, conservação da biodiversidade e ensino de Zoologia. In: Araújo-
de-Almeida, E. Ensino de Zoologia: Ensaios Metadisciplinares. 3 ed. João Pessoa: EDUFPB.
p.209-225. 2011.
SCHWERDTNER-MANEZ, K.; FERSE S.C.A. The history of Makassan trepang fishing and trade.
PLoS ONE v.5, n.6, 2010.
novel mast cell degranulating peptide from the coelomic liquid of Echinometra lucunter sea
urchin. Peptides. 2014. doi: 10.1016/j.peptides.2013.07.031.
SOUZA, I.M.M.; MENDES, L.F.; ROCHA, L.M.; GRIMALDI, G.G. A vida marinha no llitoral
sul potiguar. 1 ed Parnamirim: Terceirize Editora. 2016.
WHITMER, A. I. Education and outreach. In: DENNY, M.W.; GAINES, S.D. Encyclopedia of
tidepools and rocky shores. Berkeley: University of California Press. p.205-206. 2007.
WILSON, E.O. The little things that run the world (the importance and conservation of
invertebrates). Conservation Biology, v.1, n.4 pp. 344-346. 1987.