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T V, consciência e indústria cultural - 347

que não há espaço entre elas para que qualquer reflexão possa
tomar ar e perceber que o seu mundo não é o mundo. " o teatro
a reflexão se vê muito limitada pela diversão da vista e do ouvi-
do" - a intuição de Goethe sõmenteencõüffaria seu o jeto num
\
20 sistema total, no qual o teatro de há muito é um museu de espi-
ritualização, mas que submete incansàvelmente os seus consumi-
dores ao tratamento com cinema, rádio e televisão, revistas ilus-
Televisão, consciência tradas e, sobretudo nos EUA-;- historietas em quadrinhos. É sõmen-
te no conjunto de todos os procedimentos mutuamente afinados
e indústria cultural* e contudo divergentes quanto à técnica e ao efeito q e se forma
o clima da indústria cultural. Daí a dificuldade que o sociólogo
Theodor W. ADORNO encontra para dizer what television does to people. Isto porque,
por mais que as avançadas técnicas da pesquisa social empírica
isolem os "Iatôres" específicos da televisão, êsses fatôres mesmos
recebem a sua fôrça da totalidade do sistema. É mais fácil cons-
trangerem-se as pessoas ao inevitável do que a se modificarem, É
de se supor que a televisão faz delas mais uma vez aquilo que de
Os aspectos soc~aIs, técnicos e artísticos da televisão não po- qualquer forma já são, só que ainda mais do que já o são. Isso
dem ser tratados Isoladamente. São amplamente interdepen- corresponderia à tendência global, de base econômica, da socie-
de~tes: po.r exemplo, a qualidade artística depende da conside- dade contemporânea, no sentido de não mais ir além de si pró-
raçao ImbIdo~a. ~ela ,:nassa do público, que só a inocência impo- pria em suas formas de consciência, mas sim de reforçar tenaz-
tente se permmrra nao levar em conta; o efeito social da estru- mente o status quo e, sempre que êle pareça ameaçado, recons-
tura técnica, a~sim .c?mo da própria novidade do in~ento, que truí-lo. A tensão sob a qual as pessoas vivem cresceu a tal ponto
seguramente fOI decisiva na sua fase inicial, na América do Nor- que elas não a suportariam se as realizações adaptativas que uma
te; mas êsses mesmos efe~t<?s também dependem das mensagens vez conseguiram não lhes fôssem exibidas e não se repetissem
abertas ou, o~ultas .transmItIdas ao espectador pelas produções de nelas sempre de nôvo. Freud ensinou que a repressão dos im-
~. O propno meio de comunicação, contudo, insere-se no âm- pulsos jamais tem, êxito total nem definitivo, e_que por isso a
bito ~o e:quema. abrangen~e da indústria cultural e, enquanto energia psíquica inconsciente do indivíduo é incansavelmente des-
I combm.açao de filme e rádio, leva adiante a tendência daquela,
no sent~cIíode cer~a.: e capt~rar a consciência do público por todos
perdiçada para manter no inconsciente aquilo que não deve asso-
mar ao consciente. Êsse trabalho de Sísifo da economia psíquica
o~ lados. ~~elevIsao permIte aproximar-se da meta, que é ter de individual parece estar hoje "socializado", tomado a seu cargo
novo a totalidade do mundo sensível em uma imagem que al- pelas instituições da indústria cultural, para benefício das ins-
can a....!.o?os os ~rgãos,. o sonho sem sonho; ao mesmo tempo, tituições e dos poderosos interêsses que lhe estão por detrás.
permIte introduzir furtivamente na duplicata do mundo aquilo Para isso contribui a televisão, tal como é. Quanto mais com-
q~e se considera adequado ao real. Preenche-se a lacuna que pleto o mundo como aparência, tanto mais inescrutável a aparên-
ainda restava para a ~xistên~ia pri,,:ada antes. da indústria cul- cia como ideologia.
• tural, enquanto esta ainda nao dominava a dimensão do visível
~ nova técnica diverge do filme no sentido de que, à se-
em todos os seus pontos. Assim como mal podemoS- dar um passo meUiança do rádio, atende ao consumidor a domicílio.}As ima-
for~ do, pe.ríodo de trabalho sem tropeçar em uma manifestação gens visuais são muito menores do que aquelas no cinema. Essa
da indústria cultural, os seus veículos se articulam de tal forma pequenez é lamentada pelo público americano: procura-se au-
mentar a tela, mas parece ser questionável se a ilusão do tamanho
(') T. W. ADORNO, "Prolog zum Fernsehen", in Eillgrifte _ Neun Kritische
Modelle, Frankfurt am Maín, Suhrkamp Verlag, 1963, p. 69-80. Tradução de Ga-
natural possa ser alcançada em residências privadas mobiliadas,
briel Cohn. Reproduzido com permissão da editôra. tal como o é no cinema. Talvez se possam projetar as imagens
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nas paredes. Significativo, em todo caso, é que se sinta essa ne- f' sentido da diminuição da distância entre o produto e o especia-
cessidade. Por enquanto, o formato miniatura das pessoas na tela I, dor, no sentido literal e figurado. Ela, por ()UTro lado, "é tra-
seria apto a impedir a habitual identificação e heroificação. çâd.a econômicamente. Aquilo que a indústria cultural fornece
Aquêles que ali falam com voz humana são anões. Dificilmente recomenda-se, quando menos, através da sua função de reclame
são tomados a sério no mesmo sentido que as figuras de filme. \ enquanto mercadoria, enquanto arte para o consumidor; prova-
Fazer abstração da magnitude real do fenômeno, percebê-lo não velmente em proporção 'direta à extensão em que ela é imposta
mais natural mas esteticamente, requer precisamente aquela ca- ao consumidor pela centralização e estandardízação, O consumi-
pacidade de sublimação que não se pode pressupor no público da • dor é tratado como aquilo para o que tende por si próprio, ali
indústria cultural e que é debilitado por esta mesma. Os ho- seja, não a experimentar a imagem como algo em si, ao qual deve
menzinhos e mulherzinhas que se obtêm a domicílio tornam-se atenção, concentração, esfôrço e compreensão, mas sim como um
joguêtes para a percepção inconsciente. Algo disso poderá recrear ') favor que lhe é concedido e que lhe é dado avaliar em têrmos de
o espectador: êle os sente como propriedade, da qual pode dis- que lhe agrade o suficiente. O que de há muito aconteceu à
por e em relação à qual se sente superior. Nesse ponto há uma 6 sinfonia, que o escriturário fatigado, sorvendo a sua sopa em
ligação entre a televisão e as historietas em quadrinhos (fllrmies), mangas de camisa, tolera desatentamente, ocorre agora também
aquelas séries de imagenzinhas de aventura semicaricaturais, que com as imagens. Elas devem dar brilho ao seu cotidiano cinzento,
Ireqüentemente apresentam as mesmas figuras de episódio a epi- e se 1 e assemelharem no essencial: de sorte que são antecipada-
sódio durante anos a fio. Também no que diz respeito ao COI1- ( mente inúteis. O que Iôsse diferente seria insuportável, porque
teúdo há um parentesco entre muitas novelas de televisão e os recordaria aquilo que lhe é vedado. Tudo se apresenta como se
funnies. Em contraposição, porém, a êstes, que não aspiram ao lhe pertencesse, porque êle próprio não se pertence. Êle nem
realismo, na TV a relação equívoca entre as vozes reproduzidas de mesmo precisa deslocar-se para ir ao cinema, e aquilo que não
modo até certo ponto natural e as figuras reduzidas permanece lhe custa dinheiro nos EUA nem esfôrço em lugar algum, êle tanto
inconfundível. Mas tais relações equívocas são próprias a todos mais subestimará. O mundo ameaçadoramente frio se lhe achega
03 produtos da indústria cultural, e recordam a ilusão da vida confiadamente, como se lhe fôsse íntimo: êle se despreza nêle.
duplícada. Já se observou, ocasionalmente, que o filme sonoro falta de distância, esta paródia à fraternidade e solidariedade,
também é mudo, e que a contradição reside no confronto entre seguramente ajudou o nôvo meio de comunicação a alcançar
as imagens bidimensionais e a voz real. Tais contradições au- uma popularidade indescritível. A televisão comercial evita tudo
mentam nitidamente em número, à medida que a indústria que possa lembrar, por mais remotamente que seja, as origens da
cultural absorve mais elementos da realidade sensível. A analogia ob~a e arte no culto e sua celebração reservada a motivos espe-
com os Estados totalitários, em arnbas as versões, se impõe: quan-, ciai . !Argumentando que a televisão em ambiente escuro é de-
to mais os elementos divergentes são integrados sob a vontade sa acÍãvel, deixam-se acesas as luzes à noite e não se fecham as
ditatorial, mais a desintegração avança, e tanto mais se esfacela persianas de diaJa situação deve afastar-se o mínimo da normal.
aquilo que não se vincula por si próprio mas apenas é somado É inconcebível que a experiência da coisa mesma se mantenha
a partir do exterior. O mundo sem lacunas de imagens torna-se independente disso. A fronteira entre a realidade e a imagem
quebradiço. Na superfície, o público pouco se deixa perturbar. tO!.TIa~e atenuada par<LLO rn Ciência. A imagem é tomada como
Inconscientemente, êle saberá disso. Crescerá a suspeita de que u~eaI0ade, como um acessório da casa, que se
a realidade à qual se serve não é aquela que pretende ser. Apena~, adquiriu junto com o aparelho, cuja posse, além do mais, au-
isso não conduzirá desde logo à resistência, mas a amar-se, r i- ..•...
menta o prestígio com as crianças. Dificilmente será ir longe
lhando os dentes e com tanto maior fanatismo, o inevitável que _ demais dizer que, reciprocamente, a realidade é olhada através
Intimamente se odeia. d?s óculos da TV, que o sentido furtivamente imprimidOãõ coti-
Observações como essa, sôbre o papel das dimensões absol~- diano volte a refletir-se nêle.
tas dos objetos da televisão, são inseparáveis da situação esp Cl: A televisão comercial faz retroceder a consciência, mas não
fica de TV, aquela de cinema doméstico. Também ela fortalecera pela deterioração do conteúdo das emissões em confronto com o
lima tendência da indústria cultural como um todo: aquela no filme e o rádio. É verdade que se ouve com freqüência em
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Hollywood a afirmação, sustentada por gente de cinema, de que levisão do que já o são em todo o mundo, atualmente. É ver-
os programas de TV contribuíram para baixar ainda mais o nível dade que as sombras vistas na tela de TV falam, mas o ~s...,u~~
cin~matogr~fic~. ~as nesse ponto p.arece que os setores mais ~ é talvez ainda mais redundante do que no filme: sim les
antigos da mdustna cultural, dos qua1s alguns estão sensivelmen- a~~ó:io das image~s, sem exprimir uma inte?~ão, s.::-rr: e~pírito,
te ameaçados pela concorrência, usam a televisão como bode ex- r: mas simplé ~c areClme~ dos gestos, comentano das indicações
p~atório. A leit~r~ dos manuscritos d~ algumas peças de TV, derivadas da imagem ...
amda. que sem ?uvlda pouco representatIvas da produção global, A natureza das reações dos espectadores à televisão contem-
per.mne c?nclmr que o material não presta menos do que o porânea somente se poderia tornar explícita através de pesquisas
script de filme, o qu~l entrementes se congelou em normas rígidas; em profundidade. Visto que o material especula sôbre o incons-
e tende a prestar mais do que as tão apreciadas rádio-novelas, êsses ciente, o questionário direto seria inútil. Efeitos pré- ou incons-
romances ~amiliares acústicos feitos em sé~ie, em que sempre uma CIentes subtraem-se à manifestação verbal imediata dos entrevis-
bondosa figura ma.rernal ou um esclarecido senhor maduro aju- tados. Estes exprimirão, seja racionalizações, seja frases abstratas
do tipo "a televisão me diverte". O que efetivamente se passa
d~m a, turb~len~a Juve~tude a superar suas dificuldades.
dISSO, e elucidativa a afirmação de que a televisão leva à deterio-
Apesar
r nêles somente poderia ser pesquisado circunstanciadamente
tôda a sua complexidade; eventualmente, pelo uso de imagens
e em
ração e não à melhora, de modo semelhante ao que ocorreu na
época da ~escober.ta do reg~stro sonoro, quando a qualidade esté- mudas de TV como testes projetivos e o subseqüente exame das
~lca e !oClal do filme se VIU rebaixada com a introdução dessa associações for~uladas pelas pe~soas es~udadas. Um conhecimen-
movaçao, sem que hoje se possa reintroduzir o filme mudo, ou to pleno provavelmente só sena acessível através de numerosos
eliminar a televisão. O responsável por isso, contudo, é o como ~ estudos individuais de espectadores habituais de TV, nos quadros
e não o quê. Aqu~la "proximidade" fatal da televisão, que tam- e uma orientação psicanalítica. (Primeiro haveria de examinar
b~m é causa do efeito supostamente comunitário do aparelho, em er.n que medida as. reações são específicas e até que ponto o há-
torno do qual os membros da família e os amigos, que de outra bito da televisão Simplesmente serve à necessidade de se "matar"
forma não saberiam o que dizer uns aos outros, se reúnem em /\ o tempo livr~ destituído ~e s:,ntido.[Er.n to~o o caso, pode-se en-
mu~i~mo, não só satisfaz um desejo diante do qual nada de :.q c: carar um mero de comumcaçao que atmge mcontados milhões e
esplntu~l se pode manter que não se transforme em propriedade, 'f4J~ que freqüer:temente supera qualquer outro interêsse, sobretudo
como ainda obscurece a distância real entre as pessoas e entre as I
/'l,., n.o caso. d~ Jove.ns e crian~as, c~mo ur.na espécie. de voz do espí-
pessoas e as coisas. Ela se torna o sucedâneo de uma imediacão nto. obJetIvo, amda que este nao mars resulte espontâneamente
social que é vedada aos homens. Eles confundem aquilo que é do JO~o de Iôrças da sociedade mas seja planejado em moldes in-
t?talmente mediatizado e ilusoriamente planejado com a solida- dust:lais. ~l, a ind~stria ainda tem que introduzir, em certa
nedade, pela qual anseiam. Isso reforça a formação retroativa: m~dlda, os seus consumidores em seus cálculos, quanto mais não
a situação estultifica também quando o conteúdo do que se vê seja para levar a mercadoria' dos patrocin-adores - sponsors - d (J
não é mais tolo do ~e aquilo que habitualmente se serve aos cada programa ao homem certo. No entanto, concepções como c..,
y consumidores forçados A circunstância de que êsses se entregam aquela de que a cultura de massa que culmina na televisão seja r----7-?
à mais cômoda e barata televisão do que ao cinema, e mais do a manifestação autêntica do inconsciente coletivo distorcem, peiaj-g 7"
escolha da ênfase, o q~e pretendem exprimir. É verdade que a ~ (
I que ao rádio, porque além do acústico ela lhe fornece o ótico,
contribui para a perversão
desde logo regressão.
da formação.
E nela a difusão ampliada
A mania ávida é
de produtos
c~ltura de massa se apóia em esquemas do consciente e do incons-
CIente, que ela com razão vê como difundidos entre os consumi- -7 :.>--:
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visuais tem precisamente uma participação decisiva. Ainda que
. a audição, sem dúvida, seja mais "arcaica" em muitos pontos do
dores. t~se reservatório compõe-se desde logo dos impulsos da .....r<,~
massa, sejam êles reprimidos ou simplesmente insatisfeitos, ao en-':)
contro dos quais as mercadorias culturais vão mediata ou ime- _ " ct
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que o sentido da visão, que se gi.s.t:alUe como alerta para o mun-
do das coisas, a linguagem das imagens, que dispensa a mediação
diatamente; com mais freqüência, de modo mediato, eventual- :.,..s ~
conceitual, é contudo mais primitiva do que as palavras. Mas as mente da forma claramente apontada pelo psicólogo americano s:
pessoas ainda são mais desacostumadas à palavra através da te- G. Legman, pela qual o sexo é substituído pela apresentação da •.
4

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crueza e violência dessexuadas. Na televisão isso pode ser apon- 7 sQ, daquilo a que o andamento do mundo reduziu os
tado mesmo na farsa aparentemente mais inofensiva. Em virtude homens. Tanto mais convincentemente ela pode apontar que a
dessas e de outras derivações, contudo, a vontade daqueles que culpa não cabe ao assassino, mas ao morto: que ela ajude a trazer
dispõem dos meios dissolve-se nessa linguagem-imagem(*) à qual à luz aquilo que de qualquer forma está no homem.
apraz apresentar-se como sendo aquela dos que a recebem. 1\a ) Ao invés de dar ao inconsciente a honra de elevá-l o ao cons-
medida em que nesses é despertado e representado em imagens ciente e com isso simultânearnente atender ao seu Ímpeto e sa-
aquilo que nêles dormitava ao nível pré-conceitual, é-lhes tam- tisfazer à sua fôrça destruidora, a indústria cultural, tendo à
bém demonstrado como êles devem comportar-se. Enquanto as frente a televisão, reduz os homens ainda mais a formas de com-
imagens querem trazer à tona aquelas outras, imersas no es- portamento inconscientes do que aquelas suscitadas pelas condi-
pectador, e que se lhe assemelham, as figuras feéricas e-fugict-ras ções de uma existência, que ameaça com sofrimentos aquêle que
do filme e a teteviSao aproximam-se da escrita. Elas são absor- descobre os seus segredos, e promete prêmios àquele que a idola-
vidas, não contempladas. A vista é levada pela fita como se esta tra. A rigidez não é dissolvida, mas sim reforçada. Os vocábulos
fôsse a sentença, e no suave solavanco da mudança de cenas vi- ( da linguagem-imagem são estereótipos. Êles são definidos em têr-
ra-se a página. Enquanto figura, a linguagem-~magem é meio de mos de necessidades tecnológicas, como a de produzir quantidades
uma regressão, em que o produtor e o consumidor se encontram; assustadoras de material no prazo mais curto possível, ou aquela
enquanto escrita ela põe as imagens arcaicas à disposição dos de dar a conhecer sem rebuços aos espectadores os nomes e tipos
modernos. Encantos desencantados, as imagens não transmitem das personagens dramáticas de sketches que no mais das vêzes du-
qualquer segrêdo, mas são modelos de um comportamento, que ram apenas um quarto ou meia hora. Quanto à crítica, respon-
corresponde tanto à gravitação do sistema total quanto à von- de-se-lhe que desde sempre a arte tem operado com estereótipos.
tade dos controladores. O intrincado dêsse contexto, que suscita Mas é radical a diferença entre os padrões calculados em têrmos
a ilusão de que o espírito do senhor seja o da época, reside con- consumada mente psicológicos e aquêles desajeitados e inábeis;
tudo nisso, de que também aquelas manipulações que ajustam? entre aquêles concebidos para modelar o homem conforme a pro-
público às exigências de um comportamento adaptado às condi- dução em massa e aquêles que reevocarn entidades objetivas do
ções dadas podem invocar momentos da vida consciente e incons- espírito da alegoria. Sobretudo, tipos tão altamente estilizados
ciente dos consumidores e atribuir-lhes a culpa, com uma razão como os da commedia dell'arte estavam tão afastados da existência
aparente. Isso porque a censura e o aprendizado de um com- cotidiana do público, que a ninguém ocorreria ajustar o seu
portamento conformista, tal como se manifestam mesmo nos gestos próprio comportamento conforme aquêle dos clowns mascarados.
mais casuais do programa de televisão, não contam apenas com Em contra posição a isso, os estereótipos da televisão assemelham-
pessoas nas quais tais coisas já foram marteladas através dos es- se exteriormente, até na voz e no dialeto, a Fulano e Sicrano, en-
quemas consagrados da cultura de massa, que datam dos inícios quanto êles não só propagam refrães como o de que todos os
da novela inglêsa, no final do século XVII: também as formas de estrangeiros são suspeitos ou de que o êxito é o máximo que se
reação acionadas já se haviam impôs to à história recen.te e ha- pode esperar da vida, como dão a entender, pela simples ma-
viam sido incorporadas como uma segunda natureza, muito antes neira de agir de seus heróis, que êsses refrões são santificados e
de serem exercitadas com manobras ideológicas. A inclústria cul- estabelecidos de uma vez para sempre, antes contudo quc se ex-
tural sorri: torna-te aquilo que és; e a sua mentira consiste pre- traia a moral, que por vêzes exprime até mesmo o oposto. Que a
cisamente na confirmação e consolidação repetitivas do simples arte trate do protesto do inconsciente degradado pela civilização
não deve servir de pretexto para a exploração do inconsciente
(.)
na parte
A interpretação da cultura
não publicada , escrita
de massa como "escrita hieroglífica"
em 1943, do capítulo sôbre a "Indústria
encontra-se
Cultural" ... em favor de um aviltamento civilizatório ainda mais consumado.
da obra D'ialetctik: der Auiklãrung
forma totalmente independente,
de Max HORKHEIMER e Theoclor
o mesmo conceito
W. ADORNO. De
é usado no artigo "First Contn-
se é que a arte se propõe permitir que suceda ao inconsciente e
bution to the Psycho-Analysis anel Aesthetics of Mot ion Pictures", ele Angelo ao pré-individual aquilo que lhe é de direi to, então se requ~r
MONTINI e Giulio PIETI<ANERA (in Psychoanalytic
sível entrar aqui nas diferenças
Review,
entre as duas formulações.
abril, 1945). Não é. pos-
Os autores Italianos
r para isso o maior esfôrço da consciência e da individual ização: se
êsse esfôrço não é desempenhado e em v Z E ISSO se anui ao in-
também contrastam a posição da cultura de massa em relação ao inconsciente da
arte autônoma, mas não elevam a contraposíção ao plano da teoria. consciente, na medida em que êle é reproduzido mecânicamente,
354 - Enfoques e problemas de análise

então o inconsciente se reduz à mera ideologia para alvos cons-


cientes, por mais tolos que êstes se possam revelar ao final. A
circunstância de que, numa fase na qual a diferenci~ção e~
dividualização estéticas foram elevadas com tal fôrça libertadora
-como na obra literária de Proust, essa individualização seja re-
voga da em favor de um coletivismo Ietíchizado, alçado à condição 21
e fim em si, e posta a serviço de um punhado de aproveitadores,
implica sancionar a barbárie.
intelectuais
Há quarenta anos, encontram-se
em número suficiente para tornarem-se porta-vozes A informação visual e sua açao -
dêsses poucos, seja por masoquismo, seja por interêsse material,
I ou por ambos. A êles há que dizer que o socialmente eficaz e o sôbre o homem *
\ socialmente correto não coincidem, e que atualmente um não
Lpassa do oposto do outro. '.'A nossa p~r~ic~p~~ão nas coisas pú- Cilbert COHEN-SÉATe Pierre FOUGEYROLLAS
blicas geralmente não é mais do que .hllstel,a .: a sentenç~ d~
Goethe aplica-se também àqueles servIços públicos que as InStI-
tuições da indústria cultural alegam desempenhar.
Não é possível prever o que virá a ser da televisão; aquilo
As profundas transformações de nossa existência social, a
que ela é hoje não depende do inv~nto, nem. mesmo das formas
desordem das adaptações individuais que caracterizam a no~sa
particulares da sua utilização con:erCIal, ma~ SI~ do todo n~ qual
época, poderiam não ser somente os sinais de uma evolução muito
está inserida, A retórica a respeito da realização de fantasias de
brusca, tal como se costuma admitir. As múltiplas mudanças
contos de fadas através da técnica moderna só deixa de sê-lo quan-
ocorridas nos diversos níveis da condição humana poderiam con-
do lhe acrescentamos a sabedoria dos contos de fada, de que a
duzir amanhã a uma variação radical e global de algum aspecto
realização dos desejos raramente redunda para o bem de gue~
importante dessa condição, e merecer o nome de mutação, em
r- exprimiu o desejo. Formular desejos ~orretos é a .art,e ~als d i-
todo o sentido da palavra.
fícil de tôdas e somos desabituados a ISSOdesde a infância, Tal
'\. Tudo ocorre, entretanto, como se a crise que atravessamos
L--como o marido a quem a fada permite três desejos ~Isa dois dêles
não tivesse chegado ao estado agudo em que se impõe o alarm~.
para pôr, e depois tirar, ur~a salsicha ;ô?re o nanz da mulh~r,
, Nada impede, ainda, que o talent~ literário se. entregue às bri-
assim aquêle a quem o gênio do dOmml? da nat~reza. penmte
'.<, ver as coisas distantes só enxerga o habitual, enriquecido p~la
lhantes especulações que o caracten~am, para disfarçar, num ~e-
ríodo de angústia, o aturdimento social. O que ocorrena, todavia,
mentira de que se trata do diferente, pela qual isso lhe é impin-
se comprovássemos um dia que se havia operado uma transfor-
gido enquanto falso sentido do. seu ~oti?iano. O seu sonl:o de
mação irreversível, que, sem disso se dar conta, o homem, por
onipotência se realiza como ImpotenCIa t,ot~l. Até hoje as
assim dizer, tivesse se convertido em outro?
utopias só se realizam para escorraçar o ~tOpICO dos homens .e
Como a mutação em curso compromete o próp~io. homem, e
para comprometê-los ainda mais com o existente e com.a fatali-
como isto põe desde logo o problema de s~u equilíbrio normal,
dade. Para que a televisão mantenha a promessa que ainda l.he
já não se trata somente de dar um comovido olhar de Haml~t
adere ao nome, é preciso que ela se e!!!ancipe de. tudõ aqu.llo ) sôbre uma civilização moribunda. Já não basta f~zer malabans-
com que contradiz o próprio princípio do. prometIdo, e trai a mos com as idéias. Tornou-se urgente fazer as COIsas avançarem
idéia da sorte grande no bazar da sorte miúda. graças a uma refletida tomada de consciência e, se fôr necessário,
interferir no processo mediante o qual se transforma o homem
con tem porâneo,
(') Gilbert COHEN-SÉAT e Pierrc FOUCEYROLLAS, "Int roduct ion", in L~action
sur l'homme: cinéma et télévision, Paris, Iô Éditions Denoél, 1961. Tradução de
Amélia Cohn. Reproduzido com permissão da Editôra.

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