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03/02/2019 A História do Deus Mitra | Teoria da Conspiração

A História do Deus Mitra


deldebbio | 29 de setembro de 2017

Este estudo buscará enfocar o tema Mitra em cinco partes: a) as origens antigas do Deus; b) o culto e a liturgia do
mitraísmo; c) a derrota frente ao cristianismo; d) resquícios mitraícos e sua influência sobre a maçonaria e e) como
seria um mundo moderno mitraíco à guisa de conclusão. Utilizamos, para este trabalho, enciclopédias e diversos
textos da Internet, principalmente o texto de Jean-Louis dB no “La parole circule”.
I – As Origens Antigas do Deus Mitra.
Existe muita controvérsia sobre a etimologia de Mitra. Na Índia védica, Mitra significava ‘amigo’, no persa avéstico era
traduzido como ‘contrato’. Esta última definição é a que prevalece nos nossos dias, sendo pois Mitra a personificação
do contrato. Segundo os etimologistas, Mit(h)tra é composto de um sufixo instrumental – “tra” – que significa
instrumento de trabalho e de um prefixo “mi” que é encontrado em todas as línguas indo-européias sob diferentes
raízes. “Mei” pode significar ainda “lugar, encontro”. Em sânscrito “mitram” significa “amigo”. Mitra significando, pois,
‘contrato’ e ‘amigo’ não se opõem realmente, visto que não existe amizade sem um engajamento mútuo. Não se fala
em ‘pacto de amizade’? Mitra se encontra sob diferentes ortografias: Mihr, Meher, Meitros, etc.
Os trabalhos clássicos de Mircea Eliade e principalmente os de Georges Dumézil sobre a Índia védica demonstram
uma estrutura fundamental da sociedade e da ideologia das diferentes sociedades indo-européias. A sociedade é
dividida em três classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores que correspondem a uma ideologia religiosa
trifuncional: a função da soberania mágica, da sacrificadora e da jurídica (Varuna-Mitra, Rômulo-Júpiter e Odin); a
função dos deuses da força guerreira (Indra, o etrusco Lucumão-Marte e Thor) e, finalmente, a das divindades da
fecundidade e da prosperidade econômica (os gêmeos Nâsatya ou os Asvins, Tatius [e os sabinos]-Quirino e Freyr).
Encontra-se o Deus Mitra no Panteão Védico da Índia desde 1380 a. C. Este Proto-Mitra estaria associado a Varuna
e forma uma dualidade antitética e complementar. Mitra seria a face jurídico-sacerdotal, conciliadora, luminosa,
próxima da terra e dos homens enquanto Varuna seria o aspecto mágico violento, terrível e tenebroso. Mitra torna-se,
pois, a garantia do compromisso, a força deliberante, enquanto Varuna o respeito ao bom direito pela força atuante. A
antítese Mitra-Varuna encontra-se também em Roma com a oposição dos dois primeiros reis: Rómulo (Varuna-
Júpiter), semi-deus violento e Tatius (ou Numa-Mitra), ponderado e sábio, instituidor das questões sagradas e das
leis, ligado igualmente aos deuses da fertilidade e do solo. Mitra é o Deus soberano sob seu aspecto racional, claro,
regrado, calmo, benevolente, sacerdotal. Seu papel é secundário quando esta isolado de Varuna, mas compartilha
com este todos os atributos da soberania. O Sol é seu olho, nada lhe escapa. A conclusão de um acordo se fará
através de um sacrifício ao Deus Mitra, mas um sacrifício incruento, pelo menos no início, pois, mais tarde, terminará
por aceitar sacrifícios sangrentos. Esta evolução é metaforizada pelo papel de Mitra na história dos Deuses, pois
terminará por ser associado à morte do Deus Soma. Na origem, Mitra recusa-se a participar da morte ritual, sendo
amigo de todos, pois prestará sua ajuda para, no final, ser um ator ativo na morte ritual.
O Mitra avéstico, encontrado na religião iraniana, é o Mitra mais conhecido e divulgado e precede o monoteísmo
zoroastriano. A influência da antiga religião iraniana para a formação religiosa do Ocidente é bastante significativa: o
tempo linear, a articulação dos diversos sistemas dualistas – sejam cósmicos, éticos ou religiosos -, o mito do

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Salvador; a elaboração de uma escatologia ‘otimista’ que proclama o triunfo do Bem sobre o Mal; a salvação
universal; a doutrina da ressurreição dos corpos; certos mitos gnósticos; a mitologia dos Magos etc.
Na religião dos aquemênidas, a oposição entre Aúra-Masda (o Bem) e os daêvas (o Mal) sempre foi presente, já que
na Índia védica aconteceu o contrário: no conflito entre os devas e os asura, aqueles foram vencedores, pois
tornaram-se os verdadeiros deuses, ao triunfarem sobre as divindades mais arcaicas – os asura – que nos textos
védicos são considerados figuras ‘demoníacas’. Processo similar, ainda que com sinal trocado, aconteceu no Irã: os
antigos deuses, os daêvas, foram demonizados (ai, dos perdedores!). Eliade argumenta que “pode-se determinar em
que sentido se efetuou essa transformação: foram sobretudo os deuses de função guerreira – Indra, Saurva, Vayu –
que se tornaram daêvas. Nenhum dos deuses asura foi ‘demonizado’. Aquele que, no Irã, correspondia ao grande
asura proto-indiano, Varuna, torna-se Aúra-Masda”.
Aqui, a antítese Varuna-Mitra é substituída pelo duo Mitra-Aúra sendo que a função continua a mesma. Mitra é um
deus da luz, da aurora, guardião que socorre as criaturas, onisciente e vitorioso. Aúra, tornando-se progressivamente
Aúra-Masda, transforma, também, a significação de Mitra, metamorfoseando-o paulatinamente num deus guerreiro.
Mitra continua deus do contrato e do acordo e assegura uma ligação entre os diferentes níveis da sociedade da qual
é garantidor da ordem, representada pelo gado e a fecundidade. Interessante notar que aquela trilogia de Dumézil –
sacerdote, guerreiro e agricultor – começa a ser baralhada. Este Mitra avéstico, mais do que o védico, beneficiará os
sacrifícios, notadamente os do Touro. Seu papel de deus guerreiro, contudo, crescerá à medida que Aúra-Masda
fortifica e torna dominante o seu lugar no Panteão dos Deuses. Tal ‘evolução’ é lógica, pois como deus garantidor da
ordem, sempre estará ao serviço do respeito da lei e do contrato para aqueles que o reverenciam. Com o tempo
metamorfoseia-se num deus violento e cruel. É um deus solar com mil olhos e orelhas e, como vimos, um deus da
fertilidade dos campos e dos rebanhos. Atua, como Hermes, no papel de psicopompo, ou seja, condutor das almas
dos mortos, pois como senhor dos Céus conduz as almas até o Paraíso.
Mitra foi adorados por quase todos os soberanos persas: Ciro o reverenciava; sob Dario houve um breve eclipse, pois
este, segundo alguns especialistas, era partidário de Zoroastro; e reaparece com Artaxerxes. Na cerimonial da
realeza persa, o dia de Mitrakana era o único dia em que o rei persa tinha o direito de embriagar-se, numa clara
analogia com a morte védica.
Mitra retorna ao primeiro plano como deus do sol, dos juramentos e dos contratos, sob a influência dos Magos. Estes
foram uma classe de sacerdotes dos antigos medas com um papel sacrificial importante e que entre os gregos
antigos gozavam de uma reputação de serem depositários de uma sabedoria esotérica. No Panteão dos Deuses
avésticos, Mitra seria filho de Anihata ou Anahita, a gênia feminina do fogo, uma espécie de Virgem Imaculada, Mãe
de Deus. É a única figura feminina associada a Mitra, pois este permanecerá celibatário por toda a vida, exigindo de
seus admiradores a prática do controle de si, a renúncia e a resistência a toda forma de sensualidade. Vale salientar
que o maior Mithraeum (templo) construído em Kangavar na Pérsia Ocidental era dedicado a esta deusa. Segundo
reza o Mihr Yasht, o extenso hino em honra a Mitra da saga religiosa persa, a história de Mitra é a seguinte: após ter
sido promovido ao panteão dos Grandes Deuses, Aúra-Masda mandou construir-lhe uma mansão no cimo do Monte
Hara, ou seja, no mundo espiritual, além da abóbada celeste. Postou-se aí como o protetor de todas as criaturas e
não era adorado como todos os outros deuses menores com preces rotineiras. Aúra Masda consagrou Haoma como
sacerdote de Mitra que o adorava e lhe oferecia sacrifícios. Aúra Masda cria e prescreve o rito próprio ao culto de
Mitra no paraíso. Mitra, assim, retorna à terra para o combate contra os daêvas sem, contudo, conseguir vencê-los.
Somente quando Mitra se une a Aúra Masda o destino dos daêvas será selado. Mitra será, a partir daí, adorado como
a luz que ilumina todo o mundo.
No tocante aos babilônios, estes incorporarão o Deus Mitra no seu Panteão e, em troca, introduzirão, na religião
persa, seu culto solar, tendo a astrologia como um dos seus pontos mais fortes. Convém salientar que a cultura
judaica sofrerá uma influência marcante do dualismo zoroastriano a partir do cativeiro em 597 a.C. No judaísmo
primordial, Iavé era concebido como o único criador do Mundo e do Universo, ou seja a totalidade absoluta do real,
contendo inclusive o mal. O dualismo Iavé – HaShatan advém de uma crise espiritual que se seguiu ao cativeiro
babilônico, personificando aspectos negativos da vida, sob a forma de Satã, que se tornará progressivamente
também eterno. Satã seria, então, o fruto de uma cissão da imagem arcaica de Iavé combinado com as doutrinas
dualistas iranianas. Esta tradição impactará fortemente o cristianismo nascente.
O Mitra irano-helenístico tem a sua gênese com as conquistas de Alexandre e a queda do império persa durante o
ano de 330 a. C., pois Alexandre e 10.000 de seus soldados macedônios se casam com mulheres persas e mais,
dentro do ritual persa. Sabe-se que alguns destes macedônios e seus filhos, iniciados pelas mães persas,
introduziram o culto de Mitra na Macedônia e na Grécia. É deveras conhecido que a adoração deste Deus Mitra,
advindo do inimigo persa, nunca obteve uma grande popularidade na Grécia, apesar de continuar a manter a
influência junto à aristocracia meda e iraniana. Tanto assim que o nome Mitrídate (dado a Mitra) é encontrado em
diversos reis partos, do Bósforo e do Ponto Euxino. A arqueologia tem descoberto diversos templos – Mitreas – na
Armênia. Apesar da pouca influência junto ao povo grego, a religião iraniana entrou num vasto movimento sincrético
junto à cultura helênica. Mitra era adorado em todo o império de Alexandre e os Magos continuavam a ser os
sacerdotes sacrificadores. O culto repousava sobre uma cronologia escatológica de 7.000 anos, cada milênio sendo
governado por um planeta. Daí advém a série dos 7 planetas, dos 7 metais, das 7 cores etc. Durante os 6 primeiros
milênios, Deus e o Espírito do Mal combatem pela supremacia e, quando o Mal parecia vitorioso, Deus enviou o Deus
solar Mitra (Apolo, Hélio) que domina o sétimo milênio. No fim deste período setenal, a potência dos planetas cessa e
um incêndio universal recobre o mundo.
Curioso nesta época é a biografia do rei Mitrídate VI Eupator, rei do Ponto, anterior ao nascimento de Cristo. Seu
nascimento foi anunciado por um cometa, um raio caiu sobre o recém-nascido, deixando-lhe uma cicatriz. A
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educação deste rei é uma longa série de provas iniciáticas. É visto durante sua coroação como uma encarnação de
Mitra. A biografia real é muito próxima do Natal cristão. Ele será o último rei de uma longa lista de grandes reis
Mitridates. Conquistou quase toda a Ásia Menor por volta de 88 a. C., mas foi derrotado pelos romanos em 66.
Provavelmente aliou-se aos piratas Cilicianos dos quais falaremos a seguir. Foi, também, o primeiro monarca a
praticar a imunização contra os venenos, a qual, segundo o Aurélio, se adquire por meio da repetida absorção de
pequenas doses deles, gradualmente aumentadas, daí o nome mitridatismo.
A grande popularidade e o apelo do mitraísmo como uma forma refinada e final do paganismo pré-cristão foi discutida
pelo historiador grego Heródoto, pelo biógrafo, também grego, Plutarco, pelo filósofo neoplatônico Porfírio, pelo
herético gnóstico Orígenes e por São Jerônimo, um dos pais da Igreja.
O contato com o mundo helênico desenvolvia-se essencialmente a partir de Comageno na Ásia Menor. Daí surgem
os primeiros testemunhos sobre Mitra, como um Deus dos Mistérios no primeiro século a. C., curiosamente, no seio
dos piratas Cilicianos em luta contra os romanos. É dentro deste contexto de resistência e luta que Mitra pode tornar-
se um Deus iniciático. Plutarco diz que celebravam em segredo ‘os mistérios de Mitra’. Sua capital era Tarso, onde
nasceu S. Paulo, e Perseu era o seu Deus fundador. O símbolo da cidade era o combate do Leão com o Touro.
Paralelamente a isto, os Magos medas se fixaram na Ásia Menor e na Mesopotâmia, infiltrando-se cultural e
religiosamente no mundo helênico, principalmente, como vimos, na aristocracia. Cita-se que o rei Tiridate quando
veio a Roma para ser coroado rei da Armênia por Nero, dirigiu-se ao imperador chamando-o por Mitra (Deus Sol).
O Mitra romano faz sua ‘rentrée’ no Império através dos Mistérios. O termo “mistério” possui um sentido muito
preciso. Os mistérios gregos, e depois romanos, foram numerosos: Dionísio, Elêusis, Cibele, Átis e Deméter. Podem
ser ainda citados os de Ísis, Sarápis, Sabázios, Júpiter Doliqueno etc. Uma certa bruma enigmática envolvia todos
estas cerimônias dos mistérios, mas o comum entre eles, era o aspecto ‘solar’, apesar de todos esconderem sua
identidade essencial. Desnecessário dizer que, por serem os mistérios, secretos e ocultos, poucos documentos
escritos chegaram até nossos dias. O pouco que se sabe sobre eles advém da patrística cristã que, na ânsia de
combater o mitraísmo, terminou por nos legar uma série de descrições sobre o mesmo. Alguns autores gauleses
chegam a afirmar que assim como a maçonaria foi a religião clandestina da IIIª República Francesa, o mitraísmo
sustentava subterraneamente a ideologia da Roma Imperial.
A inoculação do veneno mitraíco no seio do Império, segundo Plutarco (Vita Pompeu), foi o transplante, feito por
Pompeu em 67 a. C., de 20.000 prisioneiros Cilicianos (uma província na costa sul oriental da Ásia Menor) que
praticavam os “ritos secretos” de Mitra. Daí, a epidemia mitraíca se alastrou por todo o mundo romano, reforçada
ainda pelos múltiplos contatos das tropas de ocupação romana com as outras culturas mitraícas, tendo atingido o seu
zênite no século III, quando começou a travar uma luta de vida e morte com o cristianismo. Tanto assim que do
século II ao IV da nossa era, os Mithrae (ou Mithraeum no singular) – templos dedicados ao culto do deus –
chegaram a ser mais de 40 em Roma. Um dos maiores templos construídos podem ser encontrados hoje nos
subterrâneos da Igreja de São Clemente, perto do Coliseu. Esta adoração não se restringia somente à capital do
Império, mas principalmente às cidades portuárias da atual Itália: Óstia, Antium, no mar Tirreno; Aquiléia, no Adriático,
Siracusa, Catânia, Palermo etc. Paralelamente, a propagação se dá na Áustria, na Germânia, nas províncias
danubianas, na Polônia, na Hungria e Ucrânia e num movimento de volta, nas províncias da Trácia e da Dalmácia,
num retorno à Grécia e a Macedônia. No terceiro século, encontram-se traços mitraícos na Criméia, no Eufrates, no
Egito e sobretudo no Maghreb. Curioso é que a Espanha e Portugal sofreram pouquíssima influência. A Gália
oriental, renana e belga, pagou o seu tributo, assim como também a Aquitânia. Encontram-se vestígios na região
parisiense, como também em Boulogne sur Mer. Na Inglaterra, a concentração se dá em Londres e na região norte,
ao longo do muro de Adriano, até Canterbury. Locais de adoração mitraíca foram encontrados também, na Bretanha,
na Romênia, na Alemanha, na Bulgária, na Turquia, na Pérsia, na Armênia, na Síria, em Israel etc. No final do século
III, Mitra era adorado da Escócia à Índia, chegando até a oeste da China, onde era conhecido como Amigo, nome que
indica uma filiação védica.
Mitra passa a ser representado como um general militar. É o Amigo do homem durante a sua vida e seu protetor
contra o mal após a sua morte. Mitra não é só propagado pelos militares romanos como também pelos funcionários,
comerciantes, artistas, meio jurídico e financeiro e, principalmente nos círculos do conhecimento. Ao contrário da
Grécia, penetra nos meios mais modestos e populares. Por mais de trezentos anos, os romanos adorarão Mitra.
Em meados do segundo século, seu culto atinge a cúpula militar. Os neófitos começaram a congregar-se sob os
Flávios, espalhando-se o culto na época dos Antoninos e Severos. Os próprios Imperadores se fizeram iniciar nos
mistérios, havendo suspeitas de que Nero tenha sido um deles. Contudo, é Cômodo (185-192) que parece ter sido o
primeiro a se converter ao culto, seguido por Sétimo Severo. Caracala (211-217) encoraja o culto do Deus solar sob a
forma de Sol invictus. O culto foi reintroduzido por Aureliano (270-275). O apoio oficial virá, entretanto, no reinado de
Diocleciano em 307. Apesar destas emanações, não parece que Mitra tenha recebido uma preponderância imperial
na corte dos Césares pagãos. Deve-se notar, ainda, que do mesmo modo que o cristianismo, sua influência não foi
estendida ao meio rural. Alguns autores sugerem que isto se deveu à exclusão das mulheres nas funções litúrgicas.
II – Representações Litúrgicas e Ritualísticas do Deus Mitra
Mitra é um Deus de forma humana. É representado sob a forma de um jovem montado num touro e, com uma das
mãos, empunha uma adaga para o degolar. Alguns afrescos, encontrados na parte mais central do Mithraeum
(templo subterrâneo de adoração), representam Mitra com a cabeça voltada para o alto ou para o lado, significando
desgosto com o que está fazendo. Sincreticamente, encontram-se ainda imagens de Teseu matando o Minotauro ou
Perseu chacinando a Górgona ou, ainda, Hércules esfolando o Touro. Mitra está vestido em trajes orientais e muitas
vezes circundado por dois meninos ou pastores que podem simbolizar o levante e o ocaso, o Outono ou a Primavera,
as marés – montante e vazante – e ainda, a vida e a morte. A cena possivelmente se passa numa gruta. Um corvo,
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mensageiro do sol, está quase sempre na borda do rochedo. Vê-se ainda um cão se aproximando para beber o
sangue da vítima, uma serpente enroscada dentro de uma pequena cratera e ao redor de um recipiente, um leão
ameaçador, espigas de trigo sobre o rabo do touro e um escorpião que pica os testículos do animal morto.
A figura do touro tem sido exaltada através do mundo antigo pela sua força e vigor. Os mitos gregos falavam sobre o
Minotauro, um monstro metade-homem metade-touro que vivia no Labirinto nos subterrâneos da ilha de Creta e que
exigia um sacrifício anual de seis mancebos e seis donzelas antes de ter sido morto por Teseu. Peças de arte minóica
representavam ágeis acrobatas saltando bravamente sobre o dorso de touros. O altar, em frente ao Templo de
Salomão em Jerusalém, era adornado com chifres de touros que acreditavam ser portadores de poderes mágicos. O
touro era também um dos quatro tetramorfos, ou seja um dos símbolos animais associados com os quatro
evangelhos. A mística deste poderoso animal ainda sobrevive atualmente nas touradas da Espanha e do México, no
rodeio dos ‘cowboys’ dos EEUU e agora, também, no Brasil.
Os estudos clássicos do belga Franz Cumont (1913) que provaram ser os mistérios mitraícos derivados das antigas
religiões iranianas explica parcialmente como a cena da morte do Touro – conhecida como tauroctonia – inexiste na
mitologia iraniana com a figura de Mitra. Cumont responde que teria encontrado textos que apresentavam o matador
do touro como Ahriman, ou seja a força cósmica do mal na religião iraniana.
Somente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Mitraícos (1971) levantaram-se novas hipóteses
para explicar esta incongruência. A iconografia tauroctônica seria, na verdade, um mapa astronômico! Tais hipóteses,
segundo os estudos de David Ulansey, baseiam-se em dois fatos: i) cada figura, na tauroctonia padrão, teria um
paralelo com um grupo de constelações ao longo de uma faixa contínua no céu: o boi tem um paralelo com a
constelação do Touro, o cachorro com o Cão Menor, a serpente com a Hidra, o corvo com o Corvus e o escorpião
com Scorpio; ii) a iconografia mitraíca, em geral, é permeada por imagens astronômicas explícitas: o zodíaco, os
planetas, o sol, a lua e as estrelas são permanentemente encontrados na arte mitraíca.
A pesquisa de Ulansey sobre cosmologia antiga, principalmente a astronomia greco-romana, focaliza o seu caráter
“geocêntrico” no tempo dos mistérios mitraícos, no qual a terra era fixa e imóvel no centro do universo e tudo girava à
sua volta. Nesta cosmologia, o universo era imaginado como estando contido numa grande esfera no qual as estrelas
eram fixadas em várias constelações. Hoje sabemos que a terra tem um movimento de rotação sobre o seu eixo cada
dia, mas na antigüidade acreditava-se que, uma vez por dia a grande esfera das estrelas fazia a sua rotação sobre a
terra, oscilando num eixo que corria da abóboda do polo norte para o do sul. No seu giro, a esfera cósmica carregava
o sol, explicando assim a oscilação do mesmo sobre a terra.
Além deste movimento, os antigos atribuíam um segundo movimento mais vagaroso. Enquanto hoje sabemos que a
terra gira ao redor do sol durante o ano, na antigüidade acreditava-se que, durante o ano, o sol – que estava bem
mais próximo do que as outras estrelas – viajava sobre a terra, traçando um grande círculo no céu tendo como fundo
as outras constelações. Este círculo, traçado pelo sol durante o ano, era conhecido como o zodíaco, uma palavra
significando ‘figuras vivas’, pois o sol passeava, durante o ano, sobre doze diferentes constelações que
representavam diversas figuras de animais e formas humanas. Visto que os antigos acreditavam na existência real de
uma grande esfera de estrelas, suas várias partes – tais como os eixos e os pólos – jogavam um papel crucial na
cosmologia de seu tempo. Particularmente, um importante atributo da esfera das estrelas era muito mais bem
conhecido do que hoje: o equador, denominado na época de equador celeste. Assim como o equador terrestre é
definido como um círculo ao redor da terra eqüidistante dos pólos, também o equador celeste era entendido como um
círculo ao redor da esfera das estrelas eqüidistante dos pólos desta mesma esfera. O círculo do equador celeste era
visto como tendo uma importância especial por causa dos dois pontos em que ele cruzava com o círculo do zodíaco:
estes dois pontos eram os equinócios, ou seja, o local onde o sol, no seu movimento através do zodíaco, cortava-o no
primeiro dia da primavera e no primeiro dia do outono. Assim, o equador celeste era responsável pela definição das
estações e, por esta razão, tinha uma significação concretíssima ao lado seu significado astronômico mais abstrato.
Um outro fato sobre este equador celeste é decisivo: como não estava fixo, possuía um movimento lento alcunhado
de “precessão dos equinócios”. Este movimento, sabemos hoje, é causado por uma oscilação na rotação da terra
sobre seu eixo. Como resultante desta leve oscilação, o equador celeste parece mudar sua posição no curso de
milhares de anos. Este movimento é conhecido como a precessão dos equinócios por que o seu efeito observável
mais facilmente é uma mudança na posição dos equinócios ou seja, os locais onde, como vimos acima, o equador
celeste cruza o zodíaco. Desta maneira, esta precessão resulta num movimento vagaroso para trás ao longo do
zodíaco, passando sobre uma constelação do zodíaco a cada 2.160 anos e percorrendo todo o zodíaco a cada
25.920 anos. Hoje, por exemplo, o equinócio da primavera está no final da constelação de Peixes, mas, em algumas
dezenas de anos, estará entrando em Aquário – já se fala muito, atualmente, na Era de Aquário. A grosso modo, o
equinócio da primavera estava em Touro entre 4.000 a 2.000 a.C. mais ou menos; em Áries de 2000 a.C. até o
nascimento de Cristo, ou seja nos tempos greco-romanos; a Era de Peixes – o cristianismo –, da gênese do mesmo
até a nossa mudança de milênio e de 2000 e poucos em diante, a tão decantada Era de Aquário.
Ulansey descobriu que, neste fenômeno da precessão dos equinócios, estaria a chave para desvendar o segredo do
simbolismo astronômico da tauroctonia mitraíca. Para as constelações desenhadas nas tauroctonias mais comuns
havia uma coisa constante: todos eles estavam posicionados no equador celeste como na época imediatamente
precedente à Era de Áries dos tempos greco-romanos. Durante esta idade anterior, que podemos chamar de Era de
Touro (como vimos durou mais ou menos de 4.000 a 2.000 a.C.), no equador celeste da época estavam Taurus
(Touro, o equinócio da primavera), Canis Minor (o Cão), Hydra (a serpente), Corvus (o Corvo) e Scorpio (o Escorpião
que estava no extremo oposto do Touro, ou seja, o equinócio do Outono). A coincidência é impressionante, todos
estas constelações estão representadas nas tauroctonias.

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Em muitas ilustrações tauroctônicas, a cabeça de Mitra é nimbada de estrelas. Assim, a morte do Touro
representaria, no zodíaco, o fim da Era de Touro e o começo da Era de Aries no equinócio da primavera e Mitra, o
deus Todo-Poderoso, que poderia reger e mudar todo o sistema cósmico. Nos escritos do filósofo neoplatônico
Porfírio, encontra-se a alusão de que a caverna, onde se posiciona o Mithraeum e está desenhada a tauroctonia, na
sua parte mais recôndita, seria, na verdade, uma ‘imagem do cosmos’.
Como curiosidade, Freud e Jung tiveram uma divergência básica sobre a interpretação psicanalítica do morte do
touro, sendo um dos pontos básicos de divergência e conflito entre ambos, resultando, posteriormente, em separação
definitiva.
Mitra, Deus solar, também é representado com a cabeça de um Leão quando é saudado com o título de Sol invictus.
São os afrescos, encontrados em Mênfis, com as coxas peludas, patas de caprino e a cabeça radiada. Mitra
Leoncéfalo, portando as chaves, é outra imagem lapidar, pois fora das cenas tauroctônicas, ele é representado em
momentos de refeição ou de iniciação.
No tocante ao culto e à liturgia, estes se faziam no interior do Mithraeum e na presença dos fiéis. A liturgia constava
de ofícios e orações; manducação de pão e sumpção de água e vinho, acompanhadas de fórmulas sagradas; danças
de luzes e fórmulas de êxtase; orações ao nascer do Sol, ao meio-dia e ao ocaso. As festas realizavam-se no sétimo
mês do ano, mas todos os meses se festejava uma semana inteira, sendo cada dia destinado a um planeta.
Comemorava-se, de modo especial, o dia natalício do deus (Natalis Invicti), a 25 de dezembro. Os ofícios dos
templos faziam-se à luz de velas, com toques de sinos e com hinos, cujo teor não se conhece, porque se perderam.
O Mithreum típico era uma pequena câmara retangular subterrânea (25x10m) com um teto arqueado. Um corredor
dividia o templo ao meio, com bancos de pedra dos dois lados de 80 cm de altura no qual os membros do culto
podiam descansar durante suas reuniões. Um mithraeum podia comportar de 20 a 30 pessoas. No fundo do templo,
no final do corredor, havia sempre uma representação – normalmente um relevo entalhado e algumas vezes uma
escultura ou pintura – do ícone central do mitraísmo: a tauroctonia ou a cena da morte do touro, conforme descrito
acima. Outras partes do templo eram decoradas com várias cenas e figuras. Deveria ser implantado perto de uma
fonte ou curso d’água ou, na falta destes, de um poço. Havia centenas, talvez milhares, de templos mitraícos no
Império Romano.
Os adeptos de Mitra não se contentavam com um misticismo contemplativo. O seu culto encorajava a ação e um
grande rigor moral. Para os soldados, a resistência ao mal e às ações imorais representavam uma vitória tão
importante quanto as militares.
Reuniam-se, em pequenos grupos, unidos e solidários pelo ritual iniciático. Partilhavam o banquete sacramental com
os deuses e finalizavam com uma aliança entre o sol e Mitra. O repasto, sobre os despojos de um touro, era seguido
de um sacrifício, muitas vezes de um touro, ou de animais simbolizando o touro: cabras, javalis e/ou galináceos.
Consagrava-se o pão e a água, bebia-se o vinho que simbolizava o sangue do touro e comia-se a carne. O processo
da iniciação mitraíca requeria a subida simbólica de uma escada cerimonial com sete degraus, cada um feito de um
metal diferente para simbolizar os sete corpos celestiais. Simbolicamente galgando esta escada cerimonial através de
sucessivas iniciações, o neófito podia atravessar os sete níveis do céu. Os sete graus do mitraísmo eram: Corax
(Corvo), Nymphus ( Noivo), Miles (Soldado), Leo (Leão), Peres (Persa), Heliodromus (Corrida do Sol) e Pater (Pai);
cada grau era protegido por um planeta (na cosmologia da época): Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, a Lua, o Sol e
Saturno. Cada dignitário apresentava a vestimenta e a máscara correspondente ao seu grau. Como todo rito mitraíco
a estrutura hierárquica era setenária. Os adeptos tinham a sua divisão de papéis: o chefe (pater), o papel de Mitra, o
heliodromo (sol), o corvo apresentavam as carnes e as bebidas aos convivas dentro de uma ordem hierárquica. A
carne era assada sobre os altares dentro da concepção do sacrifício do mundo greco-romano.
Os rituais iniciáticos constavam da admissão dos fiéis por “inductio”. Antes de serem admitidos, os candidatos eram
interrogados, sondados, informados num local distinto do templo. Em seguida, eram submetidos a uma série de
provas, nus e com os olhos vendados, marchavam às apalpadelas diante de um mistagogo para finalizar se
ajoelhando diante de um personagem que portava uma tocha diante de seus olhos. A seguir, com as mãos atadas às
costas, colocavam um joelho no chão ao mesmo tempo que um sacerdote cingia-lhes a cabeça com uma coroa. No
final, prostravam-se como mortos. Tudo isto faz parte da tipologia iniciática das sociedades secretas em geral: olhos
vendados, resistência física, morte simbólica, etc.
Reprova-se, nos adeptos de Mitra, a propensão aos sacrifícios humanos. Tal suposição advém de se ter encontrado,
nos diversos Mithrae, restos de esqueletos humanos.
Apesar de todos os estudos antigos e modernos, conhece-se mal a “teodicéia” mitraíca. Sabe-se, contudo, que os
“mistérios” da Antigüidade revelam um mito ou uma história santa que legitima a liturgia. É uma certa explicação do
Mundo e da passagem do homem sobre o mesmo que dá toda a força aos “mistérios”, sejam eles de Mitra, de
Elêusis, em suma de quase todos. A religião de Mitra se independentizou de suas origens orientais, agindo como um
imã que atraiu diversos aportes: gregos, babilônicos, romanos etc. Finalizou como um Deus adaptado ao Império
Romano, explicando assim o seu sucesso. Uma das grandes ironias da história é o fato de que os romanos
terminaram por adorar um deus de um de seus maiores inimigos políticos: os persas. O historiador romano Quintius
Rufus assinala no seu livro História de Alexandre que antes de ir batalhar contra os “países anti-mitraícos” de Roma,
os soldados persas oravam a Mitra pela vitória. Sem embargo, tendo as duas civilizações inimigas estado em contato
de conflito aberto ou latente por mais de mil anos, os adoradores de Mitra migraram dos persas, através do frígios da
Turquia, até os romanos.

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Numa análise simbólica final, o culto de Mitra revela uma história do Mundo. Saturno (ou Cronos, representando o
Tempo) reinava soberano sobre o Mundo, quando entregou a Júpiter o raio, uma arma letal que serviu para derrotar
os gigantes e gênios do mal. Alguns autores hipotetizam que este gênio do mal poderia ser o Oceano que cobria a
Terra.
Mitra, Deus petrógeno, não descende aqui do Céu, pois surge miraculosamente de uma rocha com um barrete
asiático, tendo em uma das mãos uma tocha luminosa e na outra, a adaga. Pastores assistem e ajudam este
nascimento. Mitra, em seguida, é encontrado junto de uma árvore ceifando o trigo. Depois é visto atirando com um
arco sobre uma parede rochosa onde jorra uma fonte que sacia os pastores. Alguns autores concluem que as forças
do mal (Oceano?) tentaram aniquilar os humanos pela fome e pela sede e que Mitra, salvador dos homens e Deus
protetor, interveio para os alimentar e saciar sua sede, não só dos homens como dos rebanhos. Nota-se, também,
que o papel “justiceiro” das tradições asiáticas não desapareceu, pois Mitra vem em socorro do Mundo para fazer
respeitar a Lei Divina.
Começa, agora, a perseguição ao Touro. O touro está em conjunção com a lua, seus dois chifres formam o crescente.
O touro contem os elementos vivos (o esperma do touro purificado pelo raio da lua produzirá os espécimens animais).
Mitra tem a missão de subtrair estas forças vivas das tentações maléficas. O touro se refugia numa construção mas
dois pastores ateiam fogo ao local. Mitra alcança o animal, agarra os seus cornos e consegue cavalgá-lo. Depois,
prende as patas traseiras do animal, arrasta-o até a gruta onde um corvo, mensageiro do Sol, impõe-lhe a tarefa de
matar o animal insubmisso. A morte do touro atrai uma serpente e um cachorro que se apressam em sugar o sangue
que jorra da ferida enquanto um escorpião (algumas vezes um caranguejo ou um ‘câncer’) fisga os testículos da
vítima para aspirar sua força vivificante.
Cumont afirma que espigas de trigo saem da ferida, juntamente com o sangue que escorre da calda do touro. Do
corpo da vítima moribunda nascem as ervas e as plantas salutares… De sua medula espinal germina o trigo que dá o
pão, de seu sangue, a vinha que produz a beberagem sagrada dos mistérios.
É após a morte do touro que um conflito se abate entre Hélio e Mitra. O Sol, ajoelhado diante da tauroctonia, perde
sua prerrogativa de astro soberano. Mitra torna-se o verdadeiro Sol Invictus que vem salvar a criação. O Sol
reconhece a preeminência de Mitra pois se faz iniciar no grau de Soldado (Miles).
III – O Cristianismo Triunfante
O fim do mitraísmo coincide com o seu zênite no século III d.C. e vem acompanhado da entronização do cristianismo
como religião do Império Romano. Como vimos, o mitraísmo sofria o passivo de praticar uma liturgia elitista em
pequenas sociedades secretas na qual as mulheres eram excluídas. Não se propunha ser uma reli-gião de massa,
aberto a todos, como o cristianismo. Era uma religião otimista e Mitra teve o grande defeito de não ter morrido para
salvar o mundo.
Como os persas eram inimigos hereditários do Império Romano, os cristãos fizeram de tudo para ligar o mitraísmo a
uma religião “inimiga”, persa por excelência, pois os romanos não deveriam adorar um deus importado do adversário.
Apesar de tudo parece que Constantino manifestou uma certa simpatia pelo mitraísmo, principalmente na sua versão
de “Sol invictus”. Quando este primeiro imperador cristão colocou todas as religiões pagãs na clandestinidade,
poupou os mitraístas pois estes possuíam muita influência junto aos militares que eram o cimento do Império. O
‘punctus saliens’ no qual os cristãos atacavam os mitraístas era a sua propensão aos sacrifício animais. Quando
estes sacrifícios foram interditados, bloqueou-se um dos fundamentos vitais do culto mitraíco.
O combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagão pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C.) ao
afirmar que esta religião utilizava indevidamente o batismo e a consagração do pão e do vinho. Dizia, ainda, que o
mitraísmo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristãos com o intuito de levá-los para
o inferno. Não obstante, o mitraísmo sobreviveu até o século Vº em remotas regiões dos Alpes entre as tribos dos
Anauni e conseguiu sobreviver no Oriente Próximo até os dias de hoje.
No curto reinado do imperador Juliano, sobrinho de Constantino, Gibbon afirma que se assistiu a um retorno
temporário ao mitraísmo, tendo este Imperador se reconhecido até mesmo como adepto e chegando a construir um
Mithraeum nos calabouços de seu palácio em Constantinopla. Seguiu-se um período de tolerância quando, sob o
reinado de Teodósio (375-395), o cristianismo tornou-se religião de Estado e o paganismo foi definitivamente
interditado. O mitraísmo sobreviveu em Roma até 394 sendo que a Basílica de São Pedro foi construída sobre o local
do último culto mitraíco: o Phrygianum. A partir daí, o cristianismo construiu, boa parte de seus templos, acima de
cavernas que continham Mithrae, seja em Roma seja nas províncias do Império. A catedral de Canterbury e a de São
Paulo em Londres, o mosteiro do Monte Saint-Michel e algumas catedrais em Paris estão construídas sobre antigos
Mithrae em ruínas.
Os pontos comuns entre o cristianismo e o mitraísmo são inúmeros. O nascimento de Cristo é anunciado por uma
estrela assim como o de Mitridate Eupator. Ambos são nascidos de uma Virgem Imaculada que toma o nome de Mãe
de Deus. A caverna, a gruta são os locais de nascimentos tanto de Cristo quanto de Mitra. A presença de pastores e
de seu rebanho também estão presentes em ambos os nascimentos. A gruta de Belém é prenhe de luz e Mitra é um
deus solar. Além do mais, o ouro, símbolo do Sol, tem uma importância crucial na liturgia cristã. Deus é Amor mas
também Luz. O nascimento dos dois deuses foi a 25 de dezembro, solstício de Verão no Hemisfério Norte. Sabe-se
que Cristo não teria nascido no dia 25 e que, somente com o fim do mitraísmo, a Igreja Cristã, “cristianizou” o dia
como a festa do Natal. Tanto Cristo como Mitra eram castos e celibatários. Todas as duas religiões são fundadas
sobre um sacrifício salvador do Mundo, mas com a morte de Cristo, o cristianismo tira a sua vantagem e sua
superioridade. A morte do Touro encontra um símile na luta de São Jorge com o dragão. A vontade de neutralizar as
potências do mal, a guerra entre as duas potências e a vitória do Bem. A consagração do pão e do vinho estão
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presentes entre os cristãos e os iniciados de Mitra. No grau de Soldado (Miles), o iniciado é marcado com uma cruz
de ferro em brasa sobre a fronte. A imortalidade da alma e a ressurreição final. As igrejas antigas possuem criptas
subterrâneas que evocam os templos mitraícos. A fraternidade e o espírito democrático das primeiras comunidades
cristãs se assemelham muito ao mitraísmo. A fonte jorrando da rocha, a utilização de sinos, os livros e as velas, a
água santa e a comunhão, a santificação do Domingo (fora da tradição judaica do Sábado), a insistência numa
conduta moral, o sacrifício ritual, a angeologia, a teologia da luz, dualidade deus-diabo, o fim do mundo e o
apocalipse são também comuns em ambas as religiões.
Outro símile interessante seria entre Mitra e Papai Noel. Vestimentas vermelhas e barrete frígio são comuns a ambos
como também as velas incrustadas em árvores (de Natal) nas cerimônias natalinas.
IV – Sobrevivência Mitraíca e sua Influência na Maçonaria
Encontram-se traços mitraícos nas diversas gnoses e principalmente nas heresias dualistas cristãs. O esoterismo do
gnosticismo cristão foi muito influenciado pelas religiões egípcias e iranianas. Os segredos, revelados aos “Perfeitos”,
referiam-se aos mistérios da ascensão e descida de Cristo através dos Sete Céus habitados pelos anjos. Autores
modernos chegam a afirmar que o gnosticismo é um fenômeno pré-cristão de origem iraniana que poluiu o
cristianismo nascente. A influência dos cultos iranianos e especificamente mitraícos sobre a gnose de Mani são
insofismáveis. Desde o século III d. C., o segredo mitraíco força as portas da barca de São Pedro. A pressão deste
dualismo maniqueísta percorre toda a Idade Média. O bogomilismo da Europa Oriental inicia a sua trajetória a partir
do século X colocando Satã no lugar de Deus, infligindo um poder considerável sobre as heresias Cátaras e
Albigenses no alvorecer do século XII na Europa Ocidental. Estas heresias gnósticas cristãs professavam a asserção
de que Deus não teria criado o Mundo, estando este sob o domínio de Satã – assimilado ao demiurgo Yahvista. O
verdadeiro Deus estaria tão distante da Terra onde se dão estes embates entre o Bem e o Mal. Apesar disto teria
enviado Cristo para salvar os homens ao mostrar-lhes o método da libertação.
Outra difusão de um mitraísmo mitigado estaria entre os Cavaleiros do Templo, pois estes sofreram a influência dos
maniqueus. No culto a Baphomet, também conhecido como o filho de Mitra, havia um ícone representado por um
Touro ornado com uma chama entre seus cornos…
O culto de Mitra enquanto sociedade iniciática tem certas semelhanças com a maçonaria propriamente dita. A
fraternidade entre os membros, a exigência de uma conduta moral, a vontade de defender, de maneira ativa e não
contemplativa, o bem e a virtude são, ao mesmo tempo, padrões maçônicos e mitraícos. A defesa da ordem política e
social, o culto exclusivamente masculino são também pontos comuns. Ritualisticamente encontram-se os seguintes
traços: a mania pelo número 7, a existência de graus iniciáticos, as velas, os altares, a Luz, as palavras de passe, etc.
O templo maçônico pode ser visto como uma gruta mitraíca ou se não se quiser ir muito longe o símile poderá ser
feito com a câmara de reflexões; o teto estrelado do templo tem profunda semelhança com os mitraícos. Os
templários, a tradição judaica e cristã foram os grandes transmissores de símbolos mitraícos. Os dois São Joães – de
Inverno e de Verão – tem profunda vinculação com os dois pastores da tauroctonia. O sacrifício ritual fundador de
Hiram está muito próximo do sacrifício ritual do Touro. O corvo no acampamento militar, encontrado nos altos graus
do escocesismo, é uma prova cabal da influência mitraíca.
Outro símile estaria no mais baixo grau de iniciação – o grau de Corvo (Corax) – simbolizava a morte do novo
membro, o qual deveria renascer como um novo homem. Isto representava a fim de sua vida como um não-crente (ou
descrente) e cancelava pretéritas alianças de outras crenças inaceitáveis. Curioso salientar que o título de Corax
(Corvo) originou-se com o costume zoroástrico de expor os mortos em elevações funerárias para ser comido pelas
aves de rapina. Este costume continua, até os dias de hoje, sendo praticado pelos Parsis da Índia, descendentes dos
persas seguidores de Zaratustra.
O simbolismo sexual, encontrado em diversos rituais maçônicos, poder ter um paralelo com o touro, pois este era
uma óbvia representação da masculinidade pela natureza de seu tamanho, de sua força e de seu vigor sexual. Ao
mesmo tempo, o touro simbolizava as forças lunares em virtude de seus cornos e as forças telúricas em virtude de ter
as quatro patas assentadas no solo. O sacrifício do touro simboliza a penetração do princípio feminino pelo
masculino, a vitória da natureza espiritual sobre a animalidade, tendo um paralelo com as imagens simbólicas de
Marduk destruindo Tiamat, Gilgamesh aniquilando Huwawa (grafia de Eliade), São Miguel dominando Satã, São
Jorge vencendo o dragão, o Centurião lancetando Cristo e, por que não nos referirmos a um ícone moderno:
Sigourney Weaver lutando contra o Alien?
Finalmente, o mitraísmo era, concomitantemente, um culto dos mistérios e uma sociedade secreta. Tal como os ritos
de Deméter, Orfeu e Dionísio, os rituais mitraícos admitiam candidatos em cerimônias secretas cujo significado era do
conhecimento somente do iniciando. Como todos os outros ritos de iniciação institucionalizados do passado e do
presente, este culto dos mistérios permitia aos iniciados ser controlado e posto sob o comando de seus líderes. Ao
ser iniciado, o neófito tinha que provar sua coragem e devoção nadando através de rio caudaloso, escalando um
rochedo íngreme ou pulando através das chamas com suas mãos atadas e os olhos vendados. Ao iniciado era
também ensinado o segredo das palavras de passe mitraícas que eram usadas para identificação mútua como
também era auto-repetida freqüentemente como um mantra pessoal.
V – Como seria um Mundo Mitraíco à Guisa de Conclusão
O legado mitraíco resulta em comportamentos usados ainda hoje em dia, tal como o apertar as mãos e o uso da
coroa pelo monarca. Os adoradores de Mitra foram os primeiros no Ocidente a pregar a doutrina do direito divino dos
reis. Foi a adoração do sol, combinada com o dualismo teológico de Zaratrusta, que disseminou as idéias sobre as
quais o Rei-Sol Luis XIV (1638-1715) na França e outros soberanos deificados na Europa mantiveram o seu
absolutismo monárquico.

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Alguns estudiosos afirmam que, durante o IIº e o IIIº século d.C., nunca a Europa esteve tão perto de adotar uma
religião indo-ariana quando Diocleciano, oficialmente, reconheceu Mitra como o protetor do Império Romano, nem
mesmo durante as invasões muçulmanas.
Especulações teóricas anglo-saxãs hipotetizam que se um golpe de estado, dado pelos centuriões adoradores de
Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer o cristianismo como a religião oficial do Império, o mitraísmo
poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assistência teológica da heresia maniquéia e
seus epígonos, assumindo “ipso facto” que os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido
simultaneamente anulados e, talvez, com um número crescente de crucificações. Esta ausência do cristianismo,
devido à continuação do mitraísmo no Ocidente, teria obstado o crescimento do Islã no século VII e a violência das
Cruzadas necessariamente não teria ocorrido. Assumindo, ainda, que o Islã não teria, assim, conquistado
religiosamente a Pérsia, a adoração de Mitra poderia ter continuado no panteão de Zaratrusta. Como conseqüência, o
mitraísmo poderia ter penetrado com mais força nos panteões da Índia e da China e, possivelmente, teria aportado
nos países do Extremo-Oriente.
Continuando com a especulação saxã que resultou na “lenda negra” da dominação espanhola no Novo Mundo,
Colombo realizou os seus descobrimentos em pleno período da Inquisição, fenômeno este representativo da
culminância de mais de mil anos de uma das maiores religiões monoteístas semítica – o cristianismo. Se o mitraísmo
tivesse sobrevivido o milênio até o ano de 1492, os povos indígenas das Américas poderiam ter sido expostos à
adoração de Mitra no lugar dos missionários católicos. Imaginaríamos, assim, o Taurobolium – ritual de regeneração
ou sacrifício do touro, no qual o sangue do animal era derramado sobre o iniciado – sendo sido transposto e
sincretizado com o ritual da caça do búfalo dos índios das planícies do Oeste americano e a cerimônia do sacrifício
dos maias, incas e astecas, e provavelmente, estes impérios não teriam sido aniquilados pelos brutais conquistadores
europeus em nome do Rei e de Cristo.
Autor: Ven. Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO

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