Sei sulla pagina 1di 255

,

~o'C;
cf -<O
'(. \:.~<
\

A RELACÃO ESTADO-IGREJA E A POLÍTICA


EDUCACIONAL BRASILEIRA NOS ANOS 1937-1955

FULVIA GIGLIO BARBOSA

I
i

I
A RELAÇÃO ESTADO/IGREJA E A POLITICA
EDUCACIONAL BRASILEIRA NOS ANOS 1937-1955

FULVIA GIGLIO BARBOSA

ORIENTADOR: DR
- -
JOSE SILVERIO BAIA HORTA

Dissertação submetida como requisito


parcial para a ~btenção do grau de
Mestre em Educação.

Fundação Getulio Vargas


Instituto de Estudos Avançados em Educação
Departamento de Filosofia da Educação
1992
A Ca~olina, minha ne~a, com
e~pe~ança de dia~ melho~e~.
AGRAVECIMENTOS

A meu~ pai~ (in memo~ianl pelo legado de amo~ ao


t~abalho.

A Ma~eelo e Rob~on que apo~ta~am em m~m.

A Flávia po~ não pe~miti~ que eu de~anima~~e e


pelo auxZlio valio~o no~ 6iehamento~.

A Jo~ê Silvê~io Baia Ho~ta eUja o~ientação ~egu­

~a to~nou po~~Zvel e~ta di~~e~tação.

Ao~ p~o6e~~o~e~ do IESAE pela ~enovaçao da ale-


g~ia da de~eobe~ta.

A F~anei~eo pela ~evi~ão do t~abalho.

A I~mã Ma~ia de Lou~de~ e biblioteeã~io~ do Cen-


t~o João XXIII pela eon6iança em mim depo~itada.

Ao p~o6e~~o~ Vanilo Lima pela aeolhida.

Ao~ 6uneionã~io~ do IESAE pelo apoio in~titueio­

nal eompetente e amigo.

Ao~ que t~abalham no~ a~quivo~ do CPVOC pela boa


vontade e inte~e~~e em auxilia~.

IV
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo básico analisar

a relação Estado/Igreja na política educacional brasilei-

ra no período de 1937 a 1955.

Além da bibliografia própria, foram consultados

os Arquivos Gustavo Capanema e Getúlio Vargas, jornais e

-
revistas da epoca.

A primeira parte da dissertação situa a Igreja

no contexto histórico brasileiro e a segunda parte discu-

te a relação Estado/lgrej a e o sistema educacional do país.

Procuramos, também, caracterizar a escola como

instituição social.

V
L'objectif principal de ce travail est analyser la

relation entre l'~tat et l'~glise dans la politique éduca-

tionnelle au Brésil pendant la période de 1937 ã 1955.

On a consulté de la bibliographie, des Archives

Gustavo Capanema e Getúlio Vargas, des journeaux et des ma-

gazines.

La premiere partie du travail étude le rôle de

l'~glise dans le contexte historique brésilien. À la deuxieme

partie, sont examinés la relation entre l'~tat et l'~glise

et le systeme educationnel du pays.

Nous avons été, aussi, l'intention decaractériser

l'école comme une partie de la structure social.

VII
SUMÁRIO

Pago

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . 1

I PARTE: A PRESENÇA DA IGREJA NO CONTEXTO HISTCiRICO BRA


SILEIRO: DO ESTADO NOVO À SEGUNDA ERA VARGAS

1. A Igrej a e os fatos que antecederam o golpe de 1937 9

2. A Igreja e o Estado Novo •• ..•.•••..••.••••. .•.•. 20

2.1 A implantação da ditadura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.2 A ação da Igreja 31

3. . - ..
A redemocrat1zaçao do pa1s •.••.•.....•..••...•.•• 48

3.1 O governo Dutra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.2 A segunda Era Vargas............................. 60

3.3 A ação da Igreja: de 1945 a 1955 ................ 74

11 PARTE: O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: A RELAÇÃO


ESTADO/IGREJA

1. Educação e Sociedade: considerações gerais....... 119

2. A educação brasileira no período de 1930 a 1945.. 134

2.1 A Escola Nova................................... 134

2.2 A educação sob o enfoque católico................ 138


2.3 A centralização racional da educação •....•.•.••• 145

2.3.1 O ensino super10r . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

2.3.2 O ensino medio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166

VIII
Pago

2.3.3 Os ensinos primário e normal................. 185

2.3.4 Sintese da administração Capanema ...•••••.•.. 193

3. A redemocratização do pais e a educação . ...... . 197

4. O significado da escola como instituição social 214

CONCLUSÃO ••••••.•••••••••..•••.•••••••.•••••••••••• 232

BIBLIOGRAFIA ....................................... 236

ANEXO

IX
INTRODUÇÃO

Ao estudar a Educação Brasileira e o papel nela


desempenhado pela Igreja Católica, no espaço de tempo que
vai do Estado Novo (1937-1945) até a primeira metade da dé
cada de 50, tive a intenção de rever o conhecimento que se
tem deste período, do que ele possa ter significado,em ter
mos abrangentes, para a compreensao do panorama atual da
educação no país.

O ponto de partida e, algumas vezes, tema recor-


rente do trabalho foi a Revolução de 1930 porque, encarada
como a culminãncia das crises que vinham abalando a Repfi -
blica Velha desde a decada anterior, assinalou as rupturas
polIticas e econBmicas necessirias is exig~nciasdo conte!
to interno; rupturas estas que, vale acrescentar, tiveram
na Depressão EconBmica Mundial a sua precondição externa.

Nesse momento - rico de contradições próprias das


épocas de transição histórica - se inseriu a educação cuja
configuração foi determinada pela disputa dos agentes nela
interessados: Estado, Igreja e sociedade. Como afirma AI-
da Bezerra,

"a educaçio i um componen~e conjun~u4al. A~


~ua~ i~~i~~çõe~ ~e moldam e p40duzem o ~i
po de educaçio que c044e~ponde ao jogo de
604ça~ do momen~o" 1

Em outras palavras, a educação é marcada pelo contexto po-


lItico, econBmico e social em que se desenvolve.

A educação se inscreveu, então, num contexto em


que o Estado nacional, capitalista e burguês passou à cres
2

cente centralização de poderes que lhe permitiriam traçar


as opções políticas e econômicas que levariam ao desenvol-
vimento do capitalismo e, também, à delimitação do alcance
e amplitude dos canais de representação da sociedade civil.

A educação, embora a tenda aos interesses das Clas-


ses detentoras do poder, está sujeita, também, às possibi-
lidades de maior ou menor intervenção política das classes
trabalhadoras envolvidas pelo conjunto de estratégias que
são criadas com o objetivo de desenvolver o capital. As-
sim, a educação e

"eomo uma 6aea de dol~ gume~. que, ao me~mo


~empo que e~epa~a a 6o~ça de ~~abalho pa~a
a ~eallzaçao do eapl~al, eleva o valo~ de~­
~a 6o~ça de ~~abalho - o que pe~ml~e pe~ee­
be~ melho~ o lado po~l~lvo da expan~ão da~
opo~~unldade~ edueaelonal~".2

Essa vinculação do projeto educacional ao projeto dedesen


volvimento só iria se esboçar, em termos concretos, em mea
dos da década de 50 no Programa de Metas do governo Jusce-
lino Kubitschek que atribuía à educação a tarefa de forma-
ção de quadros técnicos necessários ao êxito do próprio Programa.

A Igreja Católica, diante de um Estado centrali-


zador, iria "lutar" para garantir a influência que exercia
junto à sociedade, principalmente, através das institui-
ções de ensino com um projeto próprio de educação. A rede
mocratização do país trouxe poucas modificações às escolas
confessionais, pois os católicos retomaram monoliticamente
os mesmos argumentos educacionais do início de 1930. So-
3

mente em meados dos anos 50 a visão educacional católica


principiou a mudar com a predominância da tendência "huma-
nística" moderna. Essa tendência, que na época foi marca-
da pelo inpulso ganho pela c~rrente do sociologismo, até
certo ponto, forçou a renovação das escolas católicas, sem
que estas abrissem mão de seus objetivos religiosos.!

Para o levantamento de dados optei pela pesquisa


bibliográfica e documental.

o plano de trabalho foi estruturado em duas par-


tes que se interligam.

Na primeira parte, utilizando um artifício mera-


mente didático, procurei situar a atuação da Igreja face ao
contexto político e econômico do país na época já referi-
da. Com isso pretendi traçar um esboço histórico que mo~

trasse as razões, bem como a evolução, da relação Estado-


4
Igreja.

Na segunda parte procurei delinear as transform~

çoes vividas pela sociedade brasileira em virtude das mu-


danças políticas e econômicas do país. Nesse conjunto, pre
tendi sintetizar historicamente a consciência educacional
brasileira, do ponto de vista leigo ·e do ponto de vista ca
tólico, partindo do Manifesto dos Pioneiros da Escola No -
va, continuando com o pensamento educacional do Estado No-
vo e terminando com a Reforma Clemente Mariani e os deba -
tes iniciais em torno do projeto de Lei de Diretrizes e Ba
ses da Educação Nacional.
4

o procedimento utilizado, tanto na primeira como


na segunda parte do trabalho, foi o de buscar um paralelo
entre as atuações de dois poderes: o do Estado e o da Igr~

ja, sem deixar de lado o comportamento da sociedade.

Optei por essa forma de conduzir a pesquisa por-


que tive a intenção de demonstrar que entre os dois pode -
res houve uma relação de pacto;5 re l aç ão esta que, na maio-
ria das vezes, não foi claramente explicitada. Esse pacto,
que resultou da confluência de interesses importantes en-
tre os dois pactuários, fez com que cada um pudesse garan-
tir seu espaço próprio de atuação. g oportuno acrescentar
que essa relação nem sempre foi tranquila e a Igreja, dian
te de determinadas circunstâncias, teve que "brigar" para
não perder o espaço conquistado.
5

NOTAS

lBEZERRA, AÍda. As atividades em educação popular. in


BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). A que~tão da educa -
çao popula~. São Paulo, Brasi1iense, 1986, p. 25.

2 pA IVA, Vani1da. Estado e educação popular: reco10cando o


problema. in BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). A que~­
tão pol1tica da educação popula~. São Paulo, Brasi1i-
ense, 1986, p. 83.

3 SAVIANI, Dermeva1. Tendências e correntes da educação


brasileira in MENDES, Durmeva1 Trigueiro (coord.). F~
lo~o6ia da educação b~a~ilei~a. Rio de Janeiro, Civi-
lização Brasileira, 1987, p. 57.

~Sobre a relação Estado/Igreja, consultei os autores abai


xo relacionados, cujas obras estão especificadas nas no
tas e na bibliografia geral:
Ralph Della Cava; Irmã Maria Regina do Santo Rosario, O.
C.D. (Laurita Pessoa Raja Gabaglia); Margaret Todaro
Wi1liams; Thomas Bruneauj Mareio Moreira Alves; Cândido
Mendes; Howard J. Wiarda, Scott Mainwaring e Roberto Ro-
mano.

SA palavra pacto foi usada por Simon Schwartzman in A po-


lítica da igreja e a educação: o sentido de um pacto.
Revi~ta Religião e Sociedade, 13/1, Rio de Janeiro, Pe -
trópolis, Editora Vozes, março de 1986.
I PARTE
A PRESENÇA DA IGREJA NO CONTEXTO HISTORICO BRASILEIRO:
DO ESTADO NOVO ASEGUNDA ERA VARGAS
A chamada Questão Religiosa, colocando em jogo as
relevantes questões de soberania e controle, Roma x Estado
Brasileiro, resultou no rompimento, em 1890, entre a Igre-
ja e o Estado. Essa ruptura, incorporada -
a Constituição
republicana de 1891, fez com que a Igreja deixasse de ser
oficial e, como conseqüência, a religião católica perdeu o
privilégio de ser a única reconhecida em todo território na
cional.

Se por um lado houve a perda de privilégios, por


outro, a Igreja deixou de ser, apenas, mais um dependente
do governo uma vez que a jurisdição do Vaticano, no Brasil,
era muito limitada. Embora a separação legal entre Igreja
e Estado não tivesse sido bem aceita por parte da hierar -
quia romana, esse desmembramento libertou a instituição de
uma relação de subserviência ao Estado. O clero do Bra-
sil, em sua grande maioria apoiou a República e, ao acei -
tar a separação entre Igreja e Estado, a hierarquia brasi-
leira evitou, muito sabiamente, o anticlericalismo. Afi-
nal, a religião vivida pelo povo em nada se alterava.

Nas três primeiras décadas da República como ob-


serva Riolando Azzi:

"a IglLeja Cat;ôlic.a mant;eve uma a:ti:tude de


lLe:tic.ênc.ia em lLelacão ao podelL polZ:tic.0 L lLe
jeit;ando quelL a~ idêia~ l.ibelLai4,6avolLãvei~
ao E4:tado leigo, quelL a4 idêia~ p04i:tivi4 -
:ta4 pOIL 4eILem c.on4idelLada~ oILiunda4 de uma
4ei:ta lLeUgio4a". 1

A Igreja dedicou-se, então, a realizar reformas internas


8

que, ao mesmo tempo, ajudavam a melhorar sua imagem e a


consolidar sua posição perante a sociedade.

Foi a partir da d;cada de 20, por temer o avanço


das id;ias socialistas, que a Igreja passou a prestar seu
apoio espiritual e ideológico ao fortalecimento do Estado
numa linha que se manteve assumidamente conservadora no que
dizia respeito a tudo que pudesse significar questão so-
cial, isto;, a tudo que fosse explicitação material de con
flitos sociais.

Foi a partir dos anos 50 que,

"c.omeça.Jr.a.m a. ~uJr.g-i..Jr., den.tJr.o da. IgJr.eja. c.a..tõ-


l-i..c.a., gJr.upo~ de le-i..go~, pa.dJr.e.~. e a..té me~mo
b-i..~po~ que pa.~~a.Jr.a.m a. pJr.opugna.Jr. uma. a..t-i...tude
6a.voJr.ãvel a. Jr.e6oJr.ma.~ ~oc.-i..a.-i..~, ev-i...ta.ndo a.~­
~-i..m que o~ ~oc.-i..a.l-i..~.ta.~ e c.omun-i..~.ta.~ pude~­
~em Jr.e-i..v-i..nd-i..c.a.Jr. pa.Jr.a. ~-i.. e~~a. ba.nde-i..Jr.a.". 2

Mesmo mantendo a sua proposta básica de atuação,


em virtude das transformações, em diferentes níveis, sofri
das pelo país ao longo do período, de 1937 a 1955, a Igre-
j a foi "modulando sua voz" ã medida que novas situações iam
surgindo. Pareceu-me, por isso, mais fácil avaliar o de-
sempenho da instituição eclesiástica católica no decorrer
de três momentos da História brasileira: os anos que ante-
cederam o golpe de 37, o Estado Novo e a redemocratização
do país at; o 2 9 governo constitucional de Getúlio Vargas.
Essa periodização, como não poderia deixar de ser, nao -
e
rígida e os frutos que a Igreja conseguiu colher foram,mu!
tas vezes, semeados em períodos anteriores.

Somente no primeiro momento dessa parte do traba


lho, os anos que antecederam 6 golpe de 37, procurei exami
9

nar a atuação da Igreja concomitantemente com o contexto


histórico. Nos dois momentos seguintes, por constituírem
o período que é o núcleo do trabalho, optei por apresentar,
de cada um deles, um breve resumo dos acontecimentos histó
ricos, especialmente sob o enfoque político e econômico,s~

guido da respectiva atuação da Igreja.

1. A Igreja e os fatos que antecederam o Estado Novo

A tensão política, econômica e social por que


passou o país nos anos 20 culminou na Revolução de 1930

que trouxe, além de um Estado fundado sobre forças de pe -


que no equilíbrio, a emergência das camadas populares no c~

nário político. Foi desse equilíbrio precário que nasceu


a possibilidade de desenvolvimento da força pessoal do che
fe do Estado, guindado à posição de árbitro.

A crise da economia capitalista mundial se refle


~

tia no paIS e, no início de 1931, a diminuição da exporta-


çao do café brasileiro, com a conseqüente queda de preços,
fez com que muitas fazendas fechassem ou reduzissem em mui
to suas atividades. As medidas adotadas pelo recém-criado
Conselho Nacional do Café (CNC) , com o objetivo de valori-
zar o produto, levaram à queima de alguns milhões de sacas,
proibição de plantio e redução de salários nas fazendas.
Como decorrência, verificou-se uma grande migração do cam-
po para a cidade.

Nos grandes centros, também como conseqüência da


depressão, muitas indústrias eram levadas à falência -
ou a
10

redução da jornada de trabalho. Se o numero de desempreg~

dos já era grande, ficava agora bem maior com a massa pop~

lacional que se deslocava do campo.

Em meio a tão graves dificuldades por que passa-


va o país, os "tenentes", desejosos de imprimir o seu man-
do e suas idéias renovadoras, buscavam atuar politicamente.

A revolução paulista de 1932 conseguiu afastar


as autoridades que, atendendo às pressões dos "tenentes",
Getúlio Vargas nomeara. Os líderes da Revolução Constitu-
cionalista esperavam conseguir adesão de outros estados cujos
interventores, no entanto, se colocaram ao lado do governo
federal que, com tropas comandadas por Goes Monteiro, em
três meses liquidou com a resistência paulista.

Uma vez consolidado no poder, Vargas desenvolveu


os trabalhos para uma nova Constituição e a lS de novembro
de 1933 foi instalada a Assembléia Nacional Constituinte
com uma inovação fortemente inspirada no corporativismo i-
taliano e introduzida por exigência dos "tenentes": a re -
presentação classista. Tal inovação tinha por objetivo r~

duzir o peso das máquinas pOlíticas das oligarquias na es-


colha dos deputados. O que a idéia de representação clas-
sista rendeu, de fato, foi ter dado a Vargas, que fora con
firmado como Presidente da República, a margem que ele pr~

cisava para equilibrar o peso das duas bancadas mais for -


tes: a de São Paulo e a de Minas.

Igreja e Estado são irredutíveis mas essa irredu


tibilidade não implica, necessariamente, num total isola -
,
mento reclproco. Apoiado nesse fato, D. Leme conduziu sua
11

atuação no sentido de buscar o apoio do Estado, mesmo de


forma oficiosa, para a implementação de um novo modelo de
Igreja adaptado aos ·desafios e is mudanças por que passava
a sociedade brasileira. Para conseguir tal apoio,era pre-
ciso mostrar ao governo o quanto uma religião instituciona
1izada como a católica, era importante para a sua gestão
junto i sociedade.

Esse novo modelo de influência da Igreja,que Bru


neau chamou de neocristandade, e que era "resultante da re
1ação de autonomia muito mais íntima com o Estado", permi-
tiu que a Igreja no Brasil continuasse "a combater protes-
tantes, socialistas, modernistas e outros inimigos europeus,
mas agora os princípios organizacionais eram muito mais re
3
levantes para a situação brasileira".

A prática da neocristandade possibilitou i Igre-


ja conseguir o que considerava interesses dos quais não p~

dia abrir mao: a influência católica sobre o sistema educa


ciona1, a moralidade católica, o anticomunismo e o antipr~

testantismo. Foi através desse modelo de influência que a


Igreja, sem perder seu caráter conservador, revita1izou,de
forma marcante, sua presença na sociedade brasileira. D.
Leme, cuja visão da Igreja e da política se aproximava do
Vaticano, teve seus esforços apoiados pelo papado, especi-
almente Pio XI (1929-1939).

Quando D. Leme voltava da Europa onde fora rece-


ber sua investidura cardinalícia, em meados de 1930, o pafs
estava convulsionado por uma séria crise política resu1ta~

te dos vícios acumulados pela República Oligárquica.


12

o assassinato do Governador da Paraíba, João Pe~


soa, embora ocorrido por motivos pessoais, foi habilmente
explorado pelos adversários do Catete de maneira a lançar
o povo contra o governo federal e, mais especificamente, con
tra o Presidente da República, apontado como o responsável
pela situação que se agravara com o problema sucessório.
Diante da gravidade de uma guerra civil, os Generais Tarso
Fragoso, Mena Barreto e o Almirante Isaías de Noronha opt!
ram por apressar o desfecho e levar o presidente a renun -
ciar, se preciso fosse pela imposição de armas.

D. Leme, como nos conta sua biógrafa, Irmã Maria


Regina do Santo Rosário, ficou convicto que o seu dever,c~

mo prelado, era aqui a bem da Paz e

np~ocu~ado po~um amigo, jovem o6icial, que


lhe comunica~a,da pa~~e do~ gene~ai~,o p~o
je~o de golpe, e lhe di~~e~a a~ e~pe~anca~
nele depo~i~ad~ pelo~ che6e~ mili~a~e~ no
~en~do de ob~e~ do Gove~no a acei~acão de
aco~do. O Ca~deal 6o~a ~axa~ivo:pode~ia ~~a
balha~ e~eon~aneamen~e (grifo da autora) pe
la paz, nao pode~ia jamai~ liga~-~e a um mõ
vimen~o ~evolucionã~io 6o~~e ele qual 6o~~
~en.1t

Diante da ameaça de bombardeio ao palácio, oCa!


dea1, para salvar a vida do presidente e de seus auxilia -
res, fez um acordo com os chefes militares e conseguiu con-
vencer Washington Luís a, sem resistir, deixar o palácio
em sua companhia. Getúlio Vargas, a quem não interessava
um desgaste desnecessário, ficou muito grato a D. Leme.Tal
vez tenha sido essa gratidão o ponto inicial de um amisto-
so relacionamento pessoal que duraria até a morte do Car-
deal.
13

Essa nova fase da história republicana vai ser


marcada, entre outros aspectos, pela reciprocidade de inte
resses do Estado e da Igreja. Ambos precisavam consolidar
~ garantir a permanência de suas posições numa sociedade
em que a p~quena burguesia e o proletariado em crescimento
poderiam tender para a radicalização política. As trans-
formações que se anunciavam com o fim da República Velha se
apresentavam à Igreja como o momento
., . ..
propIcIo para Imprl-
mir moldes mais cristãos à vida nacional.

Sem deixar passar a oportunidade do momento, no


ano de 1931, na capital darepública,inàllgurQu~sea estitua
do Cristo Redentor e D. Leme promoveu homenagens solenes a
Nossa Senhora da Conceição Aparecida, declarada por Pio XI,
em 16 de julho de 1930, a Padroeira Oficial do Brasil. liA
mobilização em massa dos católicos na capital da República,
num momento tão crítico, significou uma demonstração de fOE
ça moral perante as autoridades".5 A Igreja estava tão se
gura de sua importância junto ao povo que, pela voz do Car
deal Leme, podia desafiar: "ou o Estado reconhece o Deus do
povo ou o povo não reconheceri o Estado".6

A inauguração do Cristo do Corcovado, que reuniu


expressiva parcela da população, as mais altas autoridades
civis e membros da hierarquia católica, serviu para uma no
tivel demonstração de força moral perante os poderes públi
cos que se constituíam. "Esta liturgia não foi de modo aI
gum apolÍtica, como bem sabia Getúlio e como mais tarde veio
a reconhecer implicitamente".7
14

Realmente, nao poderia ter sido escolhido momen-


to mais propício para a inauguração da estátua e as homena
gens públicas ã Virgem Maria.

"O paZ.6 Jte.6 az.ia-.6 e. mal do abalo te.JtJÜve.l· pJto


vocado pe.la Re.volução de. 30. Ge.Jtme..6 da d.i.6~
côJtd.ia polZt.ica cult.ivavam-no. SUJtdo.6 pe.Jt.i-
gO.6 o ame.açavam. A 6.i.6.ionom.ia da Re.públ.ica
Nova - como .6e. .int.itulaJta o Jte.g.ime. .in.6tauJta
do pe.la Re.volução - man~nha-.6e. e.n.igmãt.ica~
numa época e.m que. a .idé.ia eomun.i.6ta 6e.Jtme.n-
tava no.6 paZ.6e..6 da Ame.Jt.iea. Nao .6e. pocUa. pJte.
ve.Jt o que. o FutuJto Jte..6e.Jtvava ao BJta.6.il. Ve
qualque.Jt modo, have.Jt.ia uma Jte.novação noS mol-
de..6 olIt.ico.6 e. te. .i.6tat.ivO.6 e.m ue. a 1 Jte.-

Como se pode ver, havia por parte da Igreja a ne


cessidade urgente de garantir posições antes que outras fo.!.
ças o fizessem, e por parte do Estado não interessava con-
trariar os sentimentos da população considerada, em sua
maioria, católica. Vivia-se um período de euforia re1igi~
sa e a Igreja, acentuadamente, se propunha a conquistar es
piritua1 e moralmente a sociedade.

Em maio de 1933, os católicos deveriam influir


nas eleições para, através dos candidatos eleitos, atuar
na Constituinte. Foi essa necessidade de influência que
fez com que a Igreja criasse os chamados grupos de intere~

se que, sem qualquer vinculação pOlítico-partidária. pode-


riam atuar junto ã comunidade católica, inclusive po1itica
mente.

Por influência da Santa sé - merecedora da mais


completa obediência por parte de D. Leme - que testemunha-
ra o que o fascismo havia feito com os partidos políticos
italianos e por conhecer a incerteza pOlítica que o país!
15

travessava, o Cardeal vetou a formação de um Partido Cató-


lico argumentando com aqueles que o procuravam com tal ob-
j etivo:

"Não houve - nem há - no BJLa.6-i.l paJr..t-i.do que


ex-pJL06e.6.60 comba.ta a IgJLeja. Em .todo.6 0.6
paJL.t-i.do.6 podem 0.6 ca.tôl-i.co.6 m-i.l-i..taJL,como de
6a.to m-i.l-i..tam. FOJLmado o PaJL.t-i.do, 0.6 a.tua-i..6
m-i.l-i..tan.te.6 ca.tôl-i.co.6 da.6 ou.tJLa.6 agJLem-i.açõe.6
paJL.t-i.dâJL-i.a.6 não .6eJL-i.am dela.6 expul.6o.6? 0.6
paJL.t-i.do.6 d-i.zem: 'Quem não e.6.tá cono.6CO deve
.6eJL .tJLa.tado como -i.n-i.m-i.go'''.9

A solução para que os católicos pudessem atuar


de forma indireta e, ao mesmo tempo, eficaz foi encontra -
da, em 1932, com a formação da Liga Eleitoral Católica(LEC).

Concebida como uma instituição suprapartidária,a


LEC deveria instruir, congregar e alistar o eleitorado ca-
tólico e, também, garantir aos candidatos dos vários parti
dos a sua aprovação pela Igreja e, em conseqüência, o voto
dos fiéis. O Artigo 1 9 dos Estatutos da LEC, redigido pe-
10 próprio D. Leme, definia bem seu caráter: "Pertencem -
a

Liga Eleitoral Católica todos aqueles que lhe adotarem o

programa".lO

O programa católico, que só exigia compromisso


dos candidatos em relação a três reivindicações considera-
das fundamentais pela Igreja - indissolubilidade do casa -
mento, ensino religioso facultativo nas escolas públicas e
a assistência eclesiástica facultativa às Forças Armadas-,
foi bem recebido pela maioria dos filiados às diferentes a
gremiações políticas porque não implicava em qualquer sub-
missão confessional ou partidária.

Alceu de Amoroso Lima, em junho de 1958, assim


16

se pronunciaria:

"A Liga e~a a conc~etizaçio do no~~o p~oje­


to de nio 6unda~ um Pa~tido Catõlico, como
algun~ de~ ej avam, ma~ ao me~mo tempo nio ~
za~mo~ o~ b~aço~ como haviam 6eito o~ catô=
lico~ em 1891, quando de~ca~tado~ da Mona~­
quia (o~ ~e~tau~ado~e~) e cêtico~ quanto ã
República incipiente, ent~egavam ao~ po~iti
vi~ta~, ~alvo ~a~a~ exceçõe~, a de6e~a do~
~eu~ mai~ legltimo~ inte~e~~e~ no Pa~lamen­
to ( ... ) Todo o no~~o p~opõ~ito ao elabo~a~
o e~tatuto da LEC e~a p~eci~amente,como p~o
videncialmente o via o Ca~deal Leme, encon~
t~a~ o meio te~mo ju~to ent~e o Pa~tido e a
omi~~io". I i

Aceita em todas as dioceses, a LEC conduziu à As


sembléia Constituinte, através do pleito de maio de 1933,
um grande número de candidatos favoráveis aos anseios cató
licos. Estava. garantida a influência da Igreja.

A Constituição de 1934 anulou o que a de 1891 a-


presentava como obstáculos à ação da Igreja e assegurou os
três pontos fundamentais das reivindicações católicas como
se pode ver nos Artigos Constitucionais que se seguem:

"A~t. 144 - A 6aml1ia, con~titulda pe-


lo ca~amento indi~~olúvel, e~tã ~ob a p~ote
ção e~pecial do E~tado. -
A~t. 153 - O en~ino ~eligio~o ~e~ã de
6~eqüência 6acultativa e mini~t~ado de aeo~
do com o~ p~inclpio~ da con6i~~io ~eligio~a
do aluno mani6e~tada pelo~ pai~ ou ~e~pon~ã
vei~ e con~titui~ã mate~ia do~ ho~ã~io~ na~
e~cola~ pública~ p~imã~ia~, ~ecund~ia~,p~o
6i~~ionai~ e no~mai~. -
A~t. 113-6 - Semp~e que ~olicitada, ~e
~ã pe~mitida a a~~i~tência ~eligio~a na~ ex
pediçõe~ milita~e~, no~ ho~pitai~, na~ penZ
tenciã~ia~ e em out~o~ e~tabeleeimento~ o6I
ciai~, ~em ônu~ pa~a o~ co6~e~ público~,nem
con~t~angimento ou coaçio do~ a~~i~tido~.
Na~ expediçõe~ milita~e~ a a~~i~tência ~eli
gio~a ~õ pode~ã ~e~ exe~cida po~ ~ace~dote~
b~a~ilei~o~ nato~".12
17

Irmã Maria do Rosário acrescenta que todos os


dispositivos da Ordem Econômica e Social (Título IV)naCons
tituição de 1934 "corresponderam a sugestões do programa de
organização social elaborado pela LEC e que se resumia nu-
ma reação contra o 'individualismo' que pautara a legisla-
ção anterior".13 Em síntese, na Constituição de 1934, "o
Estado capitulou parte de sua soberania delegando-a a uma
agência da sociedade civil - a Igreja - especializada em
seu controle ideológico"l- embora, constitucionalmente,fo~

se mantida a separação Igreja-Estado.

O poder eclesiástico e o poder civil têm, cada


um, seus limites próprios e perfeitamente determinados por
sua natureza e objetivos específicos. Embora cada um de-
les se movimente em sua própria esfera, há ocasiões em que
uma dada, questão. a títulos diferentes, seja submetida, s!
multaneamente, à jurisdição, de um e de outro. Daí a im -
portância da união harmônica entre as duas forças ou auto-
ridades. Os dois poderes - Estado e Igreja - sao, segun -
do Amoroso Lima, perfei tamen te harmonizáveis: "Nas coisas ci
vis, soberania do Estado; nas coisas sagradas, soberania da
Igreja; nas coisas mistas. subordinação da matéria à forma,
do corpo à alma, segundo a reta razão".lS

Os acontecimentos externos -~propaganda fascista


italiana, a ascenção de Hitler e as crises por que passava
o governo republicano espanhol - criaram condições para a
organização da Ação Integralista Brasileira (AIB). Esse
novo partido, de orientação fascistizante, combatia a demo
18

cracia liberal, o imperialismo e, principalmente, o comu-


nismo. A Ação Integra1ista pregava, também, uma forma de
governo que conseguisse unificar a nação a partir de um Es
tado forte.

Basicamente por sua oposição ao comunismo, os in


tegralistas contaram com a simpatia de alguns católicos en
tre os quais estava Alceu de Amoroso Lima que,referindo-se
a artigos que escrevera em 1932, na revista "A OJtdem", as-
sim se pronunciaria em 1958, justificando sua simpatia pa-
ra com a AIB:
"Nele~ aJt~igo~ an~eJtioJte~1 me colocava
(no~
em· 4i~uação
de ~impa~ia paJta com o novo paJt
~ido, que me paJtecia me4mo o único, com Õ
PaJt~ido Comuni~~a, a ~eJt uma ba~e de6inida
e coeJten~e de pJtincZpio~, ~obJte~udo na ~ua
mZ~~ica do Che6e e o 'na~uJtali~mo' la~en~e
em ~ua e~~Jtu~uJta, e ~ em a mZnima i~enção de
peJt~enceJt a04 ~eu~ quadJto~ paJt~idãJtio~, con
~ideJtava en~Jte~an~o o paJt~ido poJt ~ua~ ex~
plZci~a~ pJtoclamaçõe~ de 6idelidade ao~ pJtin
cZpio~ ca~õlico~ e pOJt ~ua po~ição ~an~o an
~i-individuali~~a como an~i-~ociali~~a - cõ
mo peJt6eLfamen~e digno de JtecebeJt em ~eu ~eiõ
04 moco~ a pJtocuJta de uma polZ~ica mili~an­
~e" . 1 ~

A Ação Integralista esperava que a LEC


"a Jtecomenda~4 e de modo paJt~iculaJt ao ~ eu
elei~oJtado, como 4e 6o~~e o paJt~ido o6icial
da IgJteja. Quando, ao invê~ di~~o, ~e viu e
quipaJtada a04 demai~ paJt~ido~, numa 4impleJ
e puJta_'a~Jtovacão', enviou um enêJtgico pJto-
~ e.-6 ~ o a L{. 9 a " . 1 1

A ameaça integralista e o fascismo que evoluia na


Europa levaram alguns homens de esquerda a se juntarem nu-
ma frente única - a AI iança Nacional Libertadora (ANL) - cuj o
objetivo principal era o combate ao imperialismo, ao fas -
cismo e ao latifúndio. Em 1935, sob a inspiração da ANL,
foi deflagrada a Intentona Comunista, facilmente debelada
19

pelas forças fiéis ao governo. Vargas, que pretendia se


perpetuar no poder, obteve do Parlamento que fosse declara
do, por trinta dias, o "estado de sítio"...\. alegação de
uma suposta ameaça comunista iria fazer com que esse disp~

sitivo se renovasse repetidamente até novembro de 1937.

Algumas observações sobre o Integralismo se fa -


zem necessárias para que se compreenda o sentido de seu a-
parecimento no panorama pOlítico brasileiro. No momento
em que o mundo vivenciava o declínio da democracia liberal,
Plínio Salgado, principal ideólogo do integralismo e que
passara a se interessar por pOlítica a partir de 1930, vis
lumbrava para o país uma solução que não fosse a fascista
ou a socialista. Esse desejo de uma "saída" nova, brasi -
leira, começou a ganhar corpo com a fundação, em meados de
1931, do jornal "A Ra.zão" - passo importante para a forma-
ção da Ação Integralista Brasileira.

Apesar de buscar algo novo, a influência do fas-


cismo italiano na AIB foi bastante considerável através das
dimensões ideológicas básicas que a nortearam: o naciona -
lismo (no caso, anticosmopolita), o anticomunismo, o anti-
liberalismo, o espiritualismo, a necessidade de um Estado
forte. Além disso, houve a adesão a valores associados ao
comportamento fascista: a exaltação dos valores autoritá -
rios; a ética da amizade; a fidelidade ao chefe; a disci
plina intelectual e corporal.

O lema adotado pelo integralismo "Deus, Pátria e


Família" tinha múltiplas funções: alimentava o catolicismo
dos militantes, explicava o moralismo com que criticavam a
20

democracia liberal e sustentava a atitude anticomunista.Va


le lembrar que o comunismo (ou marxismo, ou socialismo, ou
bolchevismo, eram termos sinônimos) por ser materialista era
18
ateu, internacionalista e destruidor da famflia.

Em 1937, a AIB lançou sua plataforma como parti-


do polftico. Até então, o integralismo fora útil a Vargas
porque, sob a bandeira do combate ao comunismo, a classe
média, onde se concentrava o maior número de militantes in
tegralistas, funcionava como um dique repressor dos movi -
mentos operários. Como se ve o vazio ideológico criticado
por Plfnio Salgado era inexistente no governo provisório que
se instalara após a Revolução de 1930.

2. A Igreja e o Estado Novo

2.1 O Golpe de 37 e a implantação da ditadura

A 10 de novembro de 1937, com o apoio das Forças


Armadas, foi dado o Golpe. Câmara e Senado foram fechados
e Vargas, nesse mesmo dia, apresentou aos seus ministros
a nova Constituição. O Estado Novo, estruturado a partir
da Constituição fascista de autoria de Francisco Campos,foi
um projeto de responsabilidade de Getúlio Vargas, dos mili
tares e de grupos burocráticos, que contou, desde o início
com o aval da Igreja Católica. Francisco Campos foi o au-
tor da doutrina do Estado Novo que, basicamente, se carac-
teriza por se opor ã identificação da democracia com o Es-
tado liberal sob a justificativa de que se o liberalismo
fosse bom, dele não nasceria sua antftese: o marxismo.
21

Não cabe nesse trabalho um aprofundamento quanto


à participação das Forças Armadas na construção da ditadu-
ra; julgo importante, no entanto, algumas considerações,
principalmente, sobre o Exército que emergira da Revolução
de 30 como uma organização fragmentada.

"A divi~io inte~na (do Ex~~eitoJ e~a ag~ava


da pelo eon6lito exte~no, que vinha de lon~
ga data, ent~e milita~e~ e Ude.~anç.a~ úv~,
e~peeialmente a~ do~ g~ande.~ e~tado~. ( ... J
Em meio a e~~e. jo~o de 6o~ç.a~ ge~ta~-~e-ia
um p~oee~~o hegemonieo po~ p~te. de um ~e -
to~ do Ex~~eito, que i~ia ao~ poueo~ elimi-
nando p~opo~ta~ alte~nativa~, at~ eon~oli -
da~-~e eom o golpe de. 37".19

o Golp~ de 37 representou, portanto, para o Exé!


cito a oportunidade para se constituir um órgão essencial-
mente pOlítico. A partir daí, os oficiais superiores pas-
saram a justificar o totalitarismo como solução para as cri:.
ses que, em sua opinião, pudessem significar alguma ameaça
à estabilidade nacional. São de Goes Monteiro, a propósi-
to do problema da defesa nacional, externa e interna, as
declarações:

"( ••• J A pol1.tiea do Ex.~~eito ~ a p~ep~a -


ç.ão pa~a a gueua, e. e~ta p~ep~aç.io inte -
~e~~a e envolve todM a~ mani6e.~taç.õe~ e a-
tividade~ da vida naeional, no campo mate.-
~ial - no que ~e. ~e6e~e i eeonomia, i p~odu
ç.ão e ao~ ~eeu~~o~ de. toda natu~e.za - e. no
campo_mo~al, ~ob~e~udo no ~ue. conee.~ne i e-
ducaç.ao do povo e a 6o~maç.ao de. uma mentali
dade. que. ~ob~eponha a tudo o~ inte.~e~~e~ di
Pâ.t~ia".

"Ne.~ta~ eondiç.õe.~, a~ 6o~ç.a~ milita~e~ têm


de. ~e.~, natu~almente, 6o~ç.a~ eon~t~uto~a~,a
poiando gove.~no~ 6o~te.~, eapaze~ de movimen
ta~ e d~ nova e~t~utu~a i exi~têneia naeio
nal, po~que ~Õ eom a 6o~ç.a é que. ~e. pode COM
t1 u4, vi~to que eom 6~aqueza ~ Õ ~ e eo~:tJr.oem
lag~imM" .2 o
22

As Forças Armadas, fortalecidas pela moderniza -


çao de seus equipamentos militares e de seus programas de
treinamento, passaram a se envolver, efetiva e eficazmen -
te, nas atividades políticas.

"A c4iaçio do Con6elho de Segu4ança Nacio -


nal, cong4egando o pode4 Execu~ivo e a6 F04
ça6 A4mada6, que a66umi4ia um papel c4ucial
n06 p40ce6606 de ~omada de deci6io, 60i a
exp4e66io mai6 óbvia de que o concei~o de
6egu4ança nacional ~inha 6e ampliado pa4a
~ambém inclui4 c4e6cimen~0 econômico. E em
pouco ~empo e66a idéia 6e ~04na4ia um dado
'na~u4al' na poa~ica b4a6ilei4a".21

Ainda sobre a participação das Forças Armadas na


ditadura, a observação de Octávio Ianni, além de muito pe!
tinente, explica como se vem conduzindo a pOlítica govern~
~

mental brasileira já que, com muita freqüência, o paIs


tem vivido situações críticas:

"O pode4 polZ~ico e o pode4 mili~a4 6io ~eo


4icamen~e au~ônom06. Em ve4dade, mui~a6 ve-
ze6 apa4ecem independen~e6, POi6 6io gove4-
nad06 p04 val04e6 e n04ma6 di6~in~06.Na p4ã
~ca, en~4e~an~0, 6io dimen6õe6 de um me6mõ
pode4. Em 6i~uaçõe6 de n04malidade 6ão au~ô
nom06 e ea4ecem a~ua4 independen~emen~e,com
4elação a naçio, i6 cla66e6 e a06 g4up06 60
ciai6. Ma6 na6 6i~uaçõe6 c4Z~ica6, conju ~
gam-6e e con6undem-6e".2~

O Estado Novo, ao qual se juntavam as Forças Ar-


madas e a Igreja, manipulando intensamente recursos simbó-
licos e introduzindo direitos trabalhistas, representaria
a imagem de uma autoridade paternal, a única capaz de ass~

gurar a paz, promover a prosperidade e garantir a naciona-


lidade. Nesse contexto,

"( ... ) o povo 6e 6az p4e6en~e ma6 como alia


d06ubal~e4no e 6e4vindo a06 p40PÓ6i~06 do~
g4up06 em bU6ca de hegemonia ou de pa4~ici-
23

paç.ã.o no po deJr... E.6.6 e pJr..o c.e.6.6 o .6 o bJr..eviveJr..ã ao


E.6tado Novo e vai c.on.6tituiJr.. a ba.6e de todo
o pJr..oc.e.6.6o polZtic.o--6oc.ial de 1946 a 1964".23

o Estado Novo foi uma saída. nao partidária. pa-


ra o impasse político pós-Revolução de 30. Isso explica a
não existência de um partido único que caracterizava os re
gimes totalitários da época. O decreto de 2 de dezembro de
1937 que extinguiu os partidos não era taxativo quanto ao
futuro político. Vargas. como pOlítico astuto que era.co~
..
tumava analisar e. as vezes. amenizar as propostas dos ide
ólogos do regime e o decreto citado foi um exemplo dessa
prática. Os partidos pOlíticos ficavam proibidos de se or
ganizarem como tal. enquanto a lei eleitoral não fosse pr~

mulgada. mas podiam continuar a "existir como sociedade ci


vil para fins culturais. beneficientes ou desportivos".

Os pronunciamentos de Vargas, cuj os principais CO!!!


ponentes ideológicos seriam repisados centenas de vezes
no período que vai de 1937 a 1945, constituem-se, a meu ver,
nas melhores fontes para a caracterização da ditadura que
se implantava.

Na noite do próprio dia 10 de novembro de 1937,


foi lida no Palácio Guanabara e irradiada por todo o
.
paIs
a proclamação de Vargas justificando a necessidade de um
regime autoritário como a única forma de fazer vingar um
projeto modernizante que não poderia se efetivar se conti-
nuasse a existir

"o peJr..igo da.6 60Jr..maç.õe.6 pa.Jr..tidã.Jr..ia.6 .6i-6tema


t i c.am ente ag Jr..e.6.6 i v a.6.
( ••• ) a C.OY1..6 dê-nc.ia." da"i:
nO-6-6a.6 Jr..e.6pon-6abilidade.6 indic.ava, impeJr..ati
vamente, o deveJr.. de Jr..e.6tauJr..aJr.. a autolÍ.idade.-
24

nae~onal, pondo te~mo a e~~a eond~ção anôma


da da no~~a ex~~têne~a pollt~ea que pode~~ã
eonduz~~-no~ ã de~integ~ação, eomo ~e~ulta­
do 6~nal do~ ehoque~ de tendêne~a~ ineone~­
l~~vei~ e do p~edomZnio da o~dem loeal".2~

A 31 de dezembro de 1937, Vargas discursava: "o


Estado é a naçao, e deve prescindir, por isso, dos interme
diarios pOlíticos, para manter contactos estreitos com o
povo e consultar as suas aspirações".25

Sob a inspiração dos modelos fascistas europeus,


houve a tentativa de se dar ao Estado

"um ~ent~do mZt~eo,peuonaUzado não ~Ô no


que ~edenomina E~tado Naeional, ou Nação,
ma~ também em ~eu~ expoente~ e ehe6e~. Em
momento nenhum o mito atinge o ~piee do~ ~e
gime~ 6a~ei~ta~, ma~ eonteúdo e 6o~ma ~e de
l~nea~am dent~o do me~mo e~pZ~ito e inten ~
çãO".26

g bastante expressivo o discurso de 1 9 de maio de


1938, que Vargas dirigiu aos trabalhadores de S. Paulo:

"O E~tado nao eonheee di~eito~ de i~divZ­


duo~ eo nt~a a eolet~vidade. O~ -ÚÍl:ÜvZduo~ não
tem d~~e~to~, têm deve~e~. O~ di~eito~ pe~­
teneem ã
eolet~vidade! O E~tado, ~ob~epon -
do-~ e ã luta de inte~e~~ e~, ga~ante ~ Õ o~ di
~e~to~ da eolet~vidade e 6az eump~i~ o~ de~
ve~e~ pa~a eom ela. O E~tado não que~, não
~eeonheee a luta de ela~~e~. A~ le~~ t~aba­
lhi~tM ~ao lei~ de eeonomia ~oc.~al". 27

o regime explicitava a sua concepção de sociedade e a sua


maneira própria de pensar a questão social. A ordem social
seria mantida pelo Estado, não importando a que preço.

As condições externas - a Primeira Guerra,a Gran


de Depressão e a Segunda Guerra levaram o país ao nacio-
na1ismo econômico como opção diante da escassez de recur -
sos disponíveis internacionalmente. Disso resultou a im -
25

plantação, pelo Estado, do setor industrial de bens de pr~

dução e a sustentação desse novo modelo econômico foi a le


gislação sindical e trabalhista. Duas razões explicam es-
se tipo de sustentação.

"Po~ um lado, po~que ao 4ub4titui~ o me~ca­


do como 60~mado~ do p~eço da 60~ça de t~aba
lho, o E4tado evitava a p044ibilidade de um
con6~onto di~eto ent~e o capital e o t~aba­
lho. A 6ixação do 4alã~io mXnimo em 1940 é
um exemplo di4tO. Po~ out~o, po~que ao 6i-
xa~ e4te 4alã~io mXnimo em nXvei4 ~ealmente
biolõgic04 [acrescento que não foram compu-
tadas despesas com educação e saúde], a le-
gi4lação t~abalhi4ta ~eduzia, ao máximo p04
4Xvel, 04 ga4t04 d04 emp~e4á~i04 com a 60~
lha de pagamento". 28

A acumulação capitalista baseou-se, também, na


recriação das relações de produção não capitalista. O ca-
pital privado industrial era contemplado mas a estrutura a
grária continuava intocada no que tange às formas de pro -
priedade e ao tipo de organização da força de trabalho de
vigência tradicional. ~ importante registrar que houve,c~

mo decorrência da industrialização, uma certa expansao da


estrutura agrária na medida em que novos mercados foram a-
bertos e havia o fornecimento de produtos manufaturados p~

ra a area rural.

O Estado Novo nao deve ser entendido como resul-


tado de um movimento golpista de elites pOlítico-militares
contra elites pOlítico-econômicas. O sentido foi a homog~
neização pOlítica das classes dominantes, relativizando a

importância do eixo agrário-exportador para submetê-lo -


as
realizações do capital industrial, e a submissão das clas-
ses subalternas através de um rígido controle que se exer-
26

cia, inclusive, através de uma bem montada propaganda ideo


lógica "para as incluir numa 'nação' que conhece a propri~

dade privada mas nega a diferenciação por classe".29

Para legitimar o regime perante a opinião públi-


ca, uma necessidade comum aos totalitarismos, foi criado,
em dezembro de 1938, o Departamento de Imprensa e Propaga~

da (DIP). Esse órgão oficial centralizava e coordenava to


da a propaganda do governo e dos ministérios, submetia -
a

censura todos os órgãos de comunicação e atividades cultu-


rais, organizava o programa radiofônico oficial "Hora do Bra
sil" e controlava a entrada no país de publicações que nao
interessassem ao regime. O DIP se apropriava da cultura
popular, era seu controlador.

Para manter a "legitimidade" perante a população,


além do DIP, o Estado usou da mais violenta repressão diri
gida, ao nível nacional, por Filinto Müller, chefe da PolÍ
cia,.que marcou com extraordinário rigor e sadismo o trata
mento que o regime dispensava aos que considerava como seus
inimigos. Todos que se opusessem ao governo - indivíduos,
grupos ou partidos foram, no mínimo, colocados no ostra-
cismo político.

Getúlio Vargas e a elite burocrática que o secun


dava expressavam a vontade nacional organizada. Afrontei
ra que o liberalismo colocava entre a sociedade civil e o
Estado deixava de existir.

Ideologicamente, o regime se apoiava no naciona-


lismo, em atitudes anti-liberais e na ação muito bem plan~

jada e executada de persuasão do Estado através da palavra


27

da Igreja Católica e do controle da cultura popular.

A entrada do país na Guerra, ao lado dos aliados,


marcou o início do declínio do governo estadonovista.

o fracasso do acordo de Munique levou Estados U


nidos e Alemanha a buscarem a dinamização de suas respec-
tivas áreas de influência.

A convite do presidente Roosevelt, Oswaldo Ara -


nha, Ministro das Relações Exteriores, foi aos Estados Unl
dos. Antes da viagem, respondendo a um questionário pro -
posto pelo padre Morris Sheeky, assistente do reitor da Uni
versidade Católica de Washington, que foi transmitido ra -
diofonicamente para os Estados Unidos, o Ministro valoriz~

va, apesar da ambigüidade de suas palavras, o sentido da de


mocracia:

"0 BlLa.6.il 60.i e .6elLá .6emplLe um pa.l.6 democ.lLã.


t.ic.o pOlLque o e.6pllL.ito da dem oC.IL a c..i a e.6ta.
enlLa.izado na c.on.6c..iênc..ia do.6 blLa.6.ile.ilLo.6.Ve
mOc.lLac..ia não é, apena..6, uma 6olLma. de govelL~
no ou de govelLna.lL. Em .6ua e.6.6ênc..ia ela .6e a
6.ilLma no d.ilLe.ito do .ind.ivlduo de v.ivelL .6e~
gundo a.6 plLôplL.ia.6 le.i.6 da. v.ida., que .6ão ln-
t.ima.6 e e.6p.ilL.itua.i.6".30

Mais tarde, no discurso proferido no Clube Nacio


nal de Imprensa, em Washington, referindo-se ao nazismo,O~

waldo Aranha dizia:

"Uma glLande ameaça. pende .6oblLe a. human.idade


c..iv.il.izada, plL.inc..ipa.lmente a 6olLça. dela que
a.inda. .6e apega ã.6 tlLad.içõe.6 c.1L.i.6tã.6. O anta
gon.i.6mo de lLaça.6 e c.la.6.6e.6 ameaça lançá-lã
no c.ao.6 de e.6têlLe.i.6 luta.6 6ILatlL.ic..ida.6 li • 31

De volta ao Brasil, o Ministro afirmava:

liA AmêlL.ic.a plLem.ida. pela EUlLopa e pela ~.6.ia,


28

eomeça a eomp~eende~ a neee~~idade de ini


eia~ uma ação que pela eolabo~ação de todo~
o~ ~eu~ povo~, a ~e~gua~de da~ pe~tu~baçõe~
mundiai~, e~iando nova~ ~egu~ança~ e nova~
b~e~ p~a a paz. ( ... ) O B~a~~l e~tã v~ven
do uma ho~a eo~ajo~a ~ob a ehe6~a de um ho~
mem de eo~agem, ~em mãeula~ e ~em medo" 32

Estava preparado o terreno para a aproximação com


os Estados Unidos e, em conseqüência, a participação do Bra
sil na Guerra, contra os países do Eixo. Esse fato ense-
jou mudanças, principalmente pOlíticas e econômicas ,no país.

Se liA convicção de que era possível reorientar o


sistema econômico brasileiro, não chegou a estruturar-se
suficientemente, como movimento político" 33,a Guerra criou
limitações à economia brasileira para que ela se conduzis-
se na linha de um capitalismo nacional.

Em última análise, a entrada do Brasil na Guerra


significou uma associação e subordinação às diretrizes dos
Estados Unidos o que implicou na aceitação das conseqüên-
cias implícitas nesse tipo de colaboração subordinada.

"Pa~a i~~ o, a~ 6o~ça~ eeonom-<.e~


e polZti -
ea~ ge~ada~ e mantida~ pel~ ~elaçõe~
do tf
po impe~~ali~ta logo ~e movimenta~am.Em eon
~eqüêneia, o~gan~zou-~e e de~envolveu-~e um
mov~mento eont~~io ã ~dêia de indu~t~~al~­
za~ e emaneipa~ eeonom~eamente o paZ~. Em
~Inte~e, o p~ojeto de eapital~~mo naé~onal
não ~ Õ 6o~ POUc.o elabo~ado "olitic.amente,ma~
jã. ~u~g~u num c.ontexto h~~tõ~ieo dombídd.o pe-
la ~ede6~nição da hegemonia pollt~c.a( m~li­
ta~ e euUu~al do~ E~tado~ Unido~". 3

A posição assumida pelo país na Guerra, ao lado


das nações democráticas contra as ditaduras na~;fascistas,

fez com que se criassem novas condições internas para o d~

bate político e o próprio Vargas iria perceber que era ne-


cessário buscar caminhos para a redemocratização das ins~i
29

tuiçã ~-::: --:::01 í t icas bras i1e iras.

Em outubro de 1943, um grupo de profissionais 1!


berai.._~ Minas enviou um manifesto ao presidente em que
=
se pc __ -=--=-Jonavam:

"Que~emo~ alguma coi~a al~m da~ 6~anquia~


6undamentai~ do di~eito de voto e do 'habeM
-co~pu~'. No~~a~ a~pi~açõe~ 6undam-~e no e~
tabelecimento de g~antia~ con~titucionai~~
( ... ) Que~emo~ e~paço ~ealmente abe~to pa~a
o~ mo çá~, o~iundo~ de todo~ o~ ho~zontu ~ o
ciai~, a 6im de que a Nação ~e en~iqueça de
homen~ expe~imentado~ e e6iciente~, inclu~i
ve homen~ püblico~, dent~e o~ quai~ venham
a ~u~gi~ no contlnuo concu~~o da~ ativida -
de~ polltica~, o~ 6adado~ a gove~nã.-la. (... )
Que~emo~ libe~dade de pen~amento, ~ob~etudo
do pen~ amento pollüco". 35

o governo precisava movimentar seus próprios re-


curs~~ ~~líticos para se contrapor às forças internas que
se m~~~~stavam. principalmente nos grandes e médios cen-
tros :::~::.anos.

Manter a ditadura e lutar contra o nazlfascismo


era -~ =ontradição que seria explorada pelas forças polí-
tica; na=ionais. Os sacrifícios impostos à população pela
"ecomoniii de guerra", o sentido político e humano do envio
da F-B ã Itália e a progressiva derrota das "nações do Ei-
xo" :'evaram essa contradição a níveis intoleráveis.

Diante dos fatos. Vargas reagiu mobilizando. in-


clus~Ye~ as massas urbanas em favor da "Constituinte com
Getú:'io'· e procurou conduzir o processo de redemocratiza -
çao. Permitiu que os partidos pOlíticos se reestruturas
sem o Decreto de 02/12/37 deixara uma "brecha" para que
tal acontecesse - e. além do PCB continuara a agir na c1an
31

saria a ocupar um cargo decisivo, que sempre estivera sob


a responsabilidade do Exército.

A 29 de outubro de 1945, como resultado das arti


culações dos altos escalões militares, Dutra levou ao pre-
sidente um ultimato: retirar a nomeação de Benjamim ou ser
deposto.

Vargas, talvez por nao acreditar que Goes Montei


ro levasse a cabo o ultimato, manteve a nomeação. O Gene -
ral Osvaldo Cordeiro de Farias foi encarregado de levar ao
presidente a informação de que ele estava deposto.

O primeiro governo Vargas deixou marcas na polí-


tica brasileira. Sua personalidade iria dominar o cenário
politico nacional nos anos que se seguiram.

A era democrática que se inaugurava precisava de


uma nova estrutura legal uma Constituição que substitui~

se a de Francisco Campos e o aparecimento e fortalecimen


to de partidos políticos capazes de garantir o pluralismo
democrático. O retorno à democracia poderia oferecer as
oportunidades de explicitação de conflitos que a ditadura
sufocara.

2.2 Ação da Igreja

Por acreditar que um regime forte seria o melhor


para o país, e para os seus propósitos, a Igreja Católica
deu o seu aval ao golpe de 1937.

Ao contrário da anterior, a Constituição do Esta


32

do Novo nao se deteve em questões de importância para a I-


greja. O Art. 133 é um exemplo disso, pois no que tange
ao ensino religioso, apresenta um discurso diferente daqu~

le usado em 1934:

"O en4ino neligio4o podenia 4en contemplado


como matênia de CUn40 ond~nãnio da4 e4cola4
... não podenã, ponêm, con4tituin o objeto
de obn~gaçao d04 me4tne4 ou pnOóe44one4,nem
de óneQüência compul4õnia pon pante d04 alu
n04" . 31 -

Apesar de não ter sido particularmente favoreci-


da pela Constituição de Francisco Campos, a Igreja se apr~

ximou, ou melhor, manteve sua aproximação com Vargas e es-


se fato tem lhe custado algumas críticas contundentes por
se tratar, agora, de um governo ditatorial. g oportunole~

brar que, se a Igreja tinha como missão cristianizar a so-


ciedade da maneira mais completa possível, era vital que
procurasse conquistar espaços dentro das principais insti-
tuições. O envolvimento de líderes católicos na pOlítica
se deu com o objetivo de, através de uma aliança com o Es-
tado, garantir maiores e melhores condições para influen -
ciar a sociedade.

Vargas, por sua vez, percebia o quanto era signi


ficativo ter a Igreja como aliada e, embora a hierarquia
nunca o houvesse apoiado oficialmente, a maioria dos bis-
pos, padres e leigos militantes avalizavam o governo. Mon-
senhor Paulo Camargo, citado por Bruneau, resumiu bem a re
lação Estado-Igreja que se estabeleceu após 1930 e perdu -
rou durante o Estado Novo: "A Igrej a passou a ser considera
da a instituição que trabalha no campo social, para objeti
33

vos idênticos ao Estado,isto e,para o bem comum da naciona


lidade".38

A orientação da Igreja e de Vargas coincidiam em


alguns pontos principais: na ênfase atribuída à manutenção
da ordem social, no combate ao comunismo e, em parte,no re
púdio ao liberalismo.

A hierarquia brasileira, há que se considerar,


também, estava perfeitamente coerente com o pensamento de
Roma no que dizia respeito ã relação Igreja-Estado:
"Veu4 dividiu ent~e doi4 pode~e4 o gove~no
do gêne~o humano, o eele4iã4tieo e o eivil
um pa~a p~ove~ ã4 eoi4a4 divina4 e out~o ã4
humana4: amb04 4up~em04 eada um na 4ua e46e
~a; amb04 têm eon6in4 dete~minad04, que lha
limitam, ê ma~ead04 pela p~õp~ia natu~eza e
6im p~õximo de eada um~ de modo que ehega a
de4e~eve~-4e eomo que uma e46e~a dent~o da
qual 4 e exe~ee, eom exelu4ivo di~eito,a aç.ã.o
de eada um. Ma4 eomo a e4te4 doi4 pod~u e4
tã.o 4 uj eit04 04 me4m04 4 üdit04 , podendo dM-4 e.
que a me4ma matê~ia, embo~a 40b a4peeto4 di
ve~404, pe~tenç.a ã eompetêneia e juizo de Cã
da um dele4, Veu4 p~ovidentZ44imo, de quem
amb04 dimanam, deve te~ ma~eado a eada um
d04 4eu4 eaminho4. 04 pode~e4 que éxi4tem
4ao ~egulado4 po~ Veu4".39

Getúlio Vargas, um agnóstico confesso, exercendo


um governo "de facto", manteve com o Cardeal Leme um rela-
cionamento de amizade e respeito mútuos que durou até 1942,
ano em que o prelado faleceu. Quem melhor explicou essa r~

lação entre um ditador e um alto membro da hierarquia cat~

lica e, ao mesmo tempo, mostrou o peso da autoridade em que


se baseia o argumento da fé, foi Irmã Maria do Rosário:

"A mi44ã.o divina ob~iga 04 homen4 da Ig~eja


a uma tole~âneia muito maio~ que a exigida
d04 6ilh04 do 4êeulo - me4mo d04 eatõlieo4
agindo individualmente. E44a maio~ adaptab~
34

l~dade, que pode ehoean eento~ mel~ndne~,


e-lhe ~mpo~ta
pela ~ua penpetua eond~ção de
e~tnange~no ~obne a Tenna. O~ homen~ do mun
do ennam a~ eo~~a~ do Tempo eomo 6~n~ em
~~; a Igneja u~a-a~ em 6unção da Etenn~da­
de" 40

Mais adiante, ainda sobre a relação Igreja-Esta-


do, Irmã Maria do Rosário, com termos próprios de uma reli
giosa, desvelou a autoridade da hierarquia e a força, ine-
rente aos membros da Igrej a, da obediência inquestionável a
um poder depositado num ser que conserva todas as potenci~

lidades humanas.

"O tenneno em que ~e dão o~ eontae:to~ , d~plomã.


t~eo~' entne a Igneja e Ce~an e tenneno mo~
ved~ço, a que não ~e e~tende a a~~~~têne~a
~n6alZvel (grifo da autora) pnometida i 1-
aneLa pon ~eu Viv~no Furidadon. Muita eo~~a
e ~deixada ã~ inieia:tiva~ e ao~ ne6lexo~
pe~~oai~ e e~te~ podem ~ugenin ~oluçõe~ que
não ~ejam ou não paneçam ~en a~ melhone~.V~
zemo~: que não paneçam a~ melhone~, ponque
muita~ atitude~ do poden hienã.nquieo, ne~~e
domZnio, ~ e no~ e~ elaneeeniam eabalmente ~ e
pude~~emo~ penetJtM na e~6ena do '~eYLti..do pno
6i~~ional' neee~~aniamente Jte~guandada do
públieo pOJt iualquen ehe6e Jte~pon~ável e
eom mai~ Jtazao, pOJt um ehe6e e~piJti:tual".~l

A Igreja justificava o governo autoritário desde


que "conditio sine qua non" , sua liberdade fosse respeita-
da. ~ bom ver como Roberto Romano do ponto de vista só -
cio-político analisa essa relação:

"Po~~uidona da Jtevelação da ondem L a Igneja


o6e.Jteee ao E~tado, não ~em eondiç.oe~, uma 60Jt
midável máquina bunoeJtátiea de eontnole do~­
dominado~. t ba~:tante eonJte:ta a ne6enêneia
webeJtiana ã ~ua polZtiea eomo empJte~a de do
me~tieaç.ão da~ eon~eiêneia~ em pJtoveito da
bUJtocnacia laica. Ma~ pana i~to ~eJtia pJteci
~o que ~eu en~ino 6o~~e acatado, pelo meno~
6oJtmalmente, pelo~ dominante~. Sua palavJta
deveJtia de~e~penhaJt o papel de nOJtma deei~i
va na~ nelaç.oe~ entne a~ pMte~ ~ ociai~". It"2"
35

A LEC que representara a atuação pública da Igr~

ja por ocasião das eleições para a Assembléia Con~tituinte

de 33, agora, num Estado ditatorial teve seu sentido pri -


meiro modificado e embora tenha continuado sua atuaçãoe1el
tora1 nos anos 40 e 50, o fez com vigor bastante enfraque-
cido.

Em 1935, sob a orientação de D. Leme, surgiu a A


çao Católica Brasileira (ACB) que, a exemplo da LEC, era
um grupo de interesse semelhante ã sua correspondente na
Igreja Italiana. A estratégia de optar por grupos de in-
teresse permitia que D. Leme agisse sem relações que res -
tringissem sua autonomia: a Igreja do Brasil estaria 1iga-
da a Roma e, ao mesmo tempo, poderia cooperar com o Estado
sem perder seu espaço próprio.

A idéia da Ação Católica foi lançada por Pio XI


na Encíclica "Urbi Arcano Dei", em 1922, e tinha como ca -
racterÍstica essencial o fato de ser "uma extensão do braço
da hierarquia eclesiástica". Garantiria "a participação de
leigos organizados no apostolado hierárquico
.
da Igreja, fo
-
ra e acima dos partidos, para o estabelecimento do reino
universal de Jesus Cristo".~3

Os traços essenciais da ACB, destacados por D.


Leme, eram, através de uma primorosa formação das consciên
cias, a valorização humana e cristã e a participação do a-
postolado leigo que deveria unir seus esforços individuais
sob a subordinação ã autoridade eclesiástica.

A direção da ACB foi entregue por D. Leme a AI -


ceu de Amoroso Lima, intelectual de cultura inconteste. A
36

hierarquia, para desenvolver os movimentos leigos, dava prio-


ridade aos intelectuais. "Fundamentalmente, esta priorid~

de era a expressa0 de necessidades prementes, devidas à fr~

gil implantação da Igreja no país e à insuficiente forma -


ção do clero".1t1t

A Igreja também tinha sua explicação por priori-


zar os intelectuais no comando dos apostolados leigos:

"Se 60~ in~elec~ual,nio 4ac~i6ica~i a um


cil cha~la~a~i4mo 04 do~e4 ~ecebid04 do Al-

~o. I~ã ao 6undo d04 p~oblema4 con~~ibuindo
com 4eu4 e4~udo~ p~a a ~oluçio angu4~ian~e
da4 que4~õe~ con~empo~â.nea4. ( ... ) T~aba­
lhando po~ Veu~, um do~ 4eU4 p~imei~04 obje
~ivo~ 4e~ã: a compe~incia".1t5 -

Frei Sebastião Tauzin escrevia que o Papa,em car


ta a D. Leme,

"chamou a a~ençio p~a a 60~mação da~ eli -


~e4. ' An~e4 de ~udo V04 ~ecomendamo~ amáio~
40lici~ude po~~1vel na 60~mação d04 que de-
~ejem comba~e~ na~ 6ilei~a4 da Ação Ca~õli­
ca: a 60~maçã.o ~eligio~a, mo~al e 40cial in
di~pen4ivel a04 que qui~e~em exe~ci~a~ com
ixi~o o ap04~olado no meio da ~ociedade mo-
de~na. E ju~~amen~e devido a e~~a ab~olu~a
exigência de 60~maçio, não 4e deve começa~
com vi4~04a~ a~lome~açõe4á ma~ lanxando mio
de ~u 04 ue em ade4~~a 04 na ~eo~~a e na
~a~-<..ca ~ e~ao o e~men~o e.van illco ue
evan a~ e ~~an~ o~ma~ ~o a a ma4~a .
no~~o o je -<..vo eve 4e~, po~ an~o, um ~~a
balho p~06undo, que i~~adie ~ob~e a C~i~~an
dade como o 6e~men~0 ~ob~e a ma~4a".1t6 (grI
fos do autor). -

A AC surgiu no Brasil quando o sistema eleitoral


neutralizou as oligarquias aliadas da Igreja e excluiu os
trabalhadores, cuja força e oposição ao Estado burguês se
fazia sentir desde o fim da Primeira Guerra. A colabora -
çao que a hierarquia eclesiástica solicitava aos leigos se
dirigia aos segmentos médios da sociedade que possuíam al-
-7
.)1

gum poder político. Isso equivale a dizer que os recursos


que a Igreja recebia do Estado, dependiam dos cidadãos, is
to é leigos que votavam.

"t c. ompILe. e. n.6 Zv e..e. , e. ntã.o, que a ve.lLdad eÁJta. mi.6


.6ã.o do.6 .e.e.~gO.6 - o .6e.tOIL c.atõ.e.~c.o daque..e.e~
e..6tlLato.6 mêd~o.6 - e.lLa a de. .6elLv~1L ã. ~n.6t~ -
tu~ç.ã.o da I glLe.j a. PalLa tanto a fúe.ILaf!.q~a ' ~n
ventou' o 'apo.6to.e.ado .e.e.~go', atlLavê.6 do~
qua~.6 0.6 nã.o-c..e.êlL~go.6 pode.lL~am pa.ILt~c.~palL de.
um '.6 ac.elLdõ c.~o do mundo'. ( .•• J 0.6 .e.UgO.6 c.a
tõ.e.~C.O.6 pe.lLmane.c.~am .6ubme.t~do.6 ao e.p~.6c.opa~
do".47

o papel fundamental da ACB foi o de apoiar a hie


rarquia, no sentido estrito, isto é, só o clericato a pos-
sui, nas suas intervenções na vida do pais, tanto polÍti -
cas como sociais, em defesa de seus pontos de vista ou de
seus privilégios. Nada mais oportuno para a consolidação
de uma mentalidade que fizesse da Igreja uma força viva,
presente e, sobretudo, vigilante na sociedade brasileira.

A ACB teria que esperar até o início dos anos 60


para dar seus frutos porque o conceito tradicional de lai-
cato se modificou. Houve uma nova compreensão da relação
entre fé e política. -
Foi a epoca em que alguns bispos pr~

gressistas, entre eles D. Helder Cimara, passaram a traba-


lhar com a ACB encorajados pela Concílio Vaticano 11, res-
ponsável por uma eclesiologia que deu maior ânfase ã mis-
sao social da Igreja. "Os cristãos, clero ou leigos, divi
dem um mesmo apelo e mesma responsabilidade".48

Como o âmbito da ACB era muito grande, o fato de


ter sido organizada segundo normas fixadas pelo episcopa -
do, facilitava a coordenação de outras associações e obras
38

católicas que, de maneiras diferentes, se ocupavam do apo~

tolado leigo, também sob a dependência dos bispos.

Os Estatutos da Açio Católica Brasileira permi-


tem uma melhor compreensao desse grupo de interesse.

"TItulo I - Va. Na.tuJteza. e do.6 Fin.6


AJtt. 5q § lq A ACB e.6tâ .6ob imedia.ta.
dependêneia. da. HieJta.Jtquia. e exeJtee .6ua..6 a.t~
vida.de.6 60Jta. e a.eima. de toda. e qua.lqueJt OJt-
ga.niza.çio ou in6luêneia. de polItiea. pa.Jttid~
Jtia..
§ 2Q Ainda. que in.6eJtito.6 na. ACB,em Jt~
gJta. ge~a.l, nio devem pa.Jttieipa.Jt da..6 diJteto-
Jtia..6 o~ ea.t6lieo.6 que na. vida. do.6 pa.Jttido.6
polltieo.6, na. .6ua. pJtopa.ga.nda. eimpJten.6a., e-
xe~ça.m 6unç~e.6 em que pO.6.6a.m in6luiJt ou da.Jt
a.pa.Jtêneia. de in6luiJtem na..6 deei.6~e.6 da. AC.
§ 3q Individua.lmente, nio eomo JtepJte -
.6enta.nte.6 da. AC, podem 0.6 .6eu.6 membJto.6 ói-
lia.Jt-.6e a. qua.lqueJt pa.Jttido polltieo, que,na.
da. eontendo em .6eu.6 pJtogJta.ma..6 e a.tivida.de~
d e e o ntJt Mi o ã..6 l ei.6 de Ve U.6 e d e .6 u a. I 9 Jt e -
ja., dê, a.inda. a. neee.6.6âJtia. ga.Jta.ntia. de Jte.6-
peitâ-la..
§ 4q Coletiva.mente, a. ACB de6endeJtâ
0.6 pJtineZpio.6 e diJteito.6 de Veu.6 e da. IgJte-
ja., no teJtJteno polltieo, a.tJta.vê.6 da. LEC e
.6eu.6 6Jtgio.6 e.6peeia.liza.do.6".49

Um dos pontos básicos para a realizaçio da refo~

ma interna a que se propunha a Igreja, era a importância


que deveria ser dada ao aspecto doutrinário da fé católica.

Essa preocupação com a doutrina foi um dos móveis


para a celebração do Primeiro Concílio Plenário Brasileiro,
em 1939. A D. Leme coube realizá-lo participando como le-
gado "a latere". O Concílio teve um grande significado p~

ra a Igreja do Brasil que, a partir dele, passou a agir co


mo um corpo nacional, embora dentro dos limites fixados por
. Roma.
39

A prova de que o Vaticano apoiava a orientação


que D. Leme dava ã Igreja no Brasil, residia no fato de
tê-lo feito legado "a latere" significando que nele estava
a presença sensível do Papa: o presidente do Concílio nao
era apenas o primeiro entre seus pares, mas tinha autorida
de própria. O Concílio Plenário unificou e tornou conheci
das e de fácil aplicação para todo o país, leis canônicas,
até então, praticamente inobservadas.

O governo também aplaudia o Concílio e, por oca-


sião do banquete oferecido no Palácio Itamarati, a 10 de
julho de 1939, Vargas saudava os bispos brasileiros:

"Ape.6 alL. de .6 epaJtado.6 0.6 c.ampo.6 de atuaçã.o do


podeJt polltico e do podeJt e.6piJtituai, nunc.a
entJte e~e.6 houve c.hoque.6 de maiolL. impolL.tân-
c.ia, lL.e~peitam-.6e e auxiiiam-.6e. O E.6tado,
deixando ã IglL.eja ampla iibeJtdade de plL.ega-
ção, a.6.6eguJta-ihe ambiente plL.opZc.io a expan
dilL.-.6e e a amplialL. o .6eu domlnio peia.6 al~
ma.6. ( .•. ) Acabai.6, .6 enholL.e.6, de VO.6 lL.eunilL.
em c.onc.llio plenãlL.io, o plL.imeilL.o c.eieblL.ado
em no.6~ o paI.6, ( .•• ) velL.i6ic.a.6te.6 a.6 nec.e.6-
.6idade~ lL.eail da IglL.eja blL.a.6iieilL.a e ac.elL. -
ta.6te.6 o que c.onvinha paIL.a mai.6 6olL.taie c.elL.
o .6eu apo.6tolado e melholL. lL.ealizalL. a .6ua ai
ta e .6 aglL.ada mi.6.6 ão" • 5 o

O Concílio, além de mais uma vez aprovar a ACB,


que fora oficialmente criada em 1935, estabeleceu um con -
junto de prioridades pastorais que deveriam ser trabalha -
das. O protestantismo e o espiritismo constituiam-se em
temas a serem tratados com urgência.

"A.6 ata~ e doc.u.mento.6 c.onc.iiialL.e~, elabolL.a-


do.6 .6ob a olLientação de teõlogo~ e c.anoni.6-
ta.6 do Vatic.ano, c.on.6tituem, em glL.ande palL.-
te uma lL.eedição do Catec.i.6mo Romano, ou .6e-
ja, do e.6pllLito do Conc.llio TlL.identino".51
40

Os membros do Secretariado em Defesa da Fé, org~


nizado nesse período e tendo à frente o arcebispo de Por-
to Alegre, D. Vicente Scherer, acreditavam que a causa do
progresso do protestantismo e do espiritismo residia na i~

norância da população quanto à doutrina católica.

A ênfase no caráter doutrinário reforçava o cara


ter apologético da atuação da Igreja, dependente diretamen
te da Santa sé.
"fILa a palL:ti..1L da õ:ti..c.a lLomana, de 6a:to, que
a hi..elLalLqui..a ec.le~i..ã~:tic.a anali~ava o~ ou-
:tILO~ c.lLedo~ e c.lLença~ a:tuan:te~ ou emelLgen-
:te~ na ~ o c.i..edad e blLa~ileilLa". 5 2

Era a fé se contrapondo à cultura.

A sociedade era vista pela Igreja de forma muito


especial. A maioria dos católicos, à época, acreditava que
a salvação seria alcançada com o elevar-se acima do mundo,
ao invés de nele atuar. A missão de sacerdote era
"~elL :todo de Veu~ e da~ alma~ num mundo ~o­
c.ialmen:te di..volLc.iado de Veu~ e inimigo da~
alma~, vivelL em' c.on:tac.:to c.on:tZnuo c.om o mun
do ~ em ~ elL do mundo, ~ em ~ e dei..xalL c.on:ta.giaJi
pOIL ~ua~ mãxima~ ~edu:tolLa~" 53

Essa visão iria mudar e a Igreja passaria a atuar de for-


ma mais concreta no que diz respeito à questão social.

Contrapor a doutrina católica ao espiritismo e


ao umbandismo era bastante difícil porque essas crenças se
camuflavam, e se camuflam até hoje, no sincretismo religi~

SOe Fazia parte da cultura religiosa assistir a missa e


frequentar sessões espíritas ou acender velas aos orixás.

D. Leme, ainda Arcebispo Metropolitano de Olin -


da, na carta pastoral saudando os seus diocesanos, em 1916,
41

se referia ao espiritismo como um mal que seria curado com


o ensino da doutrina.

"Ma..6 o Povo, e.mboJta. c.om :ta.n:to a.JtdoJt a.c.Jte.d..i..-


:ta. e.m Ve.U.6, não Jte.6ie.:te. ne..6:ta..6 c.o..i...6a..6. Ete.
vê e. ouve. c.o..i...6a..6 ..i..n.6ôt..i..:ta..6. V..i..ze.m-the..6 que.
.6ão 0.6 'e..6pIJt..i..:to.6'. E o Povo the..6 pJte..6:ta. 6ê.
t que. the. 6a.t:ta.m 0.6 e..6c.ta.Jte.c...i..me.n:to.6 da. ..i..n.6-
:tJtução Jte.t..i..g..i..0.6a.".5~

o combate movido pela Igreja ao espiritismo e aos


cultos afro-brasileiros parece-me ter sido mais a contrap~

sição da cultura romanizada ã cultura popular brasileira,


pois

"o pode.Jt Jte.t..i..g..i..0.60 de. uma. ..i..n.6:t..i..:tu..i..ção de.pe.n


de. de. .6ua. c.a.pa.c...i..da.de. de. Jte.pJte..6e.n:ta.Jt uma. c.o~
mun..i..da.de. (e.xpJte..6.6a.Jt-.6e. e.m .6e.u nome.l. ( ••• I
na..6 ..i..gJte.ja..6 c.Jt..i...6:tã.6 e. pJt..i..nc...i..pa.tme.n:te. na. IgJte.
ja. C~ôi..i..c.a. Roma.na., e..6:te. pode.Jt ê mu..i..:to gJta.n
de.. ( ••• 1 Já o pode.Jt de. c.a.da. Te.JtJte...i..Jto ê pe.~
que.no, po..i...6 ne.nhum de.te..6 :têm o monopôt..i..o da.
c.omun..i..da.de. umba.nd..i...6:ta.".55
o mesmo raciocínio pode ser aplicado a respeito do poder
de cada Centro, pois nenhum deles tem o monop6lio da comu-
nidade espírita.

D. Agnelo Rossi, quando padre e membro do Secre-


tariado Nacional da Defesa da Fê, destacou-se na investida
contra o protestantismo. Num dos muitos artigos que escr~

veu, intitulado "O pJto:te..6ta.nt..i...6mo no mome.nto a.tua.t bJtM..i.. -


te...i..Jto", fez uma distinção entre o protestantismo de ori-
tem alemã e o de origem americana e foi sobre este, princi
palmente que dirigiu sua condenação porque: "Proselitistas
atacam ostensivamente a Igreja Cat6lica como se pode ler no
'Me.n.6a.ge...i..Jto Lu:te.Jta.no,,,.56 Mais adiante, D. Agnelo enume -
rou condenando alguns planos e trabalhos dos protestantes
no Brasil - preocupação em fundar escolas superiores,integ
42

sificação pelo rádio do evangelismo, etc. - que, me parece,

revelavam mais a preocupação com a concorrência pelos fiéis

que qualquer outra coisa. Terminou o artigo propondo medi

das urgentes e eficientes para a oposição católica ao pro-

testantismo. A primeira dessas medidas, por exemplo, era

"apo-i.-o o 6i c.-i.-al e. de. c.-i.--6 i voa0 Se. C.IL e.;tdJÚado Na


c.ional de. Ve.6e.-6a da Fe, e.-6;tabe.le.c.e.ndo -6e.de.~
6iliai-6 na-6 V-i.-oc.e.-6e.-6 do BlLa-6-i.-~. O Se.c.ILe.;ta -
lLiado Nac.ional da Ve.6e.-6a da Fe. plLomove. a CItU.
zada da-6 OlLa~õe.-6 e. Sac.lLi61c.io-6 pe.la c.onve.lL~
-6ão dO-6 in6ié-i.--6, e.-6;tuda 0-6 e.1L1L0-6 lLe.ligio-6o-6
e. 0-6 me;todo-6, plano-6 de. di6u-6ão dO-6 Inimi -
go~ da IglLe.ja no BlLa-6-i.-l, in60ILmando a Hie. -
lLalLqu-i.-a, o Cle.lLo e. 0-6 Fiei-6". 5 7

o protestantismo não conseguiu se implantar jun-


-
to as massas populares, fez-se representar em poucos tem-

plos freqüentados pela classe média, o "público alvo" da

Igreja Católica, nas grandes cidades e nos grupos étnicos

do sul do país em virtude da maior incidência de imigran -

tes oriundos de países europeus onde a Reforma Protestante

teve maior influência. O protestantismo de massa, as sei-

tas pentecostais, só começou a se desenvolver a partir do

fim da Segunda Guerra.

Em termos ideológicos, embora por motivos dife -


rentes, a Igreja e o Estado se uniram, principalmente, no

combate ao comunismo. Em outubro de 1937, o episcopado bra

si1eiro dirigia ao clero e aos fiéis uma carta pastoral in


titulada "O Comuni-6mo A;te.u" onde destacava que a finalida-
de do comunismo é

"e.liminalL Ve.U-6 da vida humana e. c.on-6;tlLuilL o


6u;tu1L0 -6ohlLe. o a;t e.l-6m o • ( ••. ) Pode.i-6, agolLa,
ilLmão-6 e. 6ilho-6 mui;to amado-6 c.omplLe.e.nde.1L e.m
;toda -6ua pIL06unda e. opolL;tuna ve.lLdade.,a glLa-
43

vZ~~~ma adve~~ênc~a do San~o Pad~e P~o XI:


'O p~~me~~o pe~~go, o ma~o~ e o ma~~ ge~at,
ê, ~em düv~da, o comun~~mo ~ob ~oda~ M ~UM
6o~ma~ e em ~odo~ o~ g~au~, po~que ete tudo
ameaça'''. 58

o comunismo era execrado pela Igreja por ser ateu.


A simplicidade do discurso era proposital, pois o objetivo
era atingir, também, os fiéis cujo nível intelectual esta-
va muito longe de ser homogêneo. Todo o "rebanho" precis~

va ser conduzido ao redil, onde estaria em segurança.

o deputado católico Luís Sucupira, usando os ter


mos comunismo e socialismo, abordou, a questão sob outro
enfoque e principiou, concordando com Pio XI, que o impor-
tante

"e~a 6aze~ ve~ ao~ ~oc~al~~ta~ que ~ua~ ~e­


ctamaçõe~, no que ~êm eta~ de ju~~o,
encon-
~~am apo~o mu~~o ma~o~ no~ p~~nclp~o~ da 6ê
ca~õl~ca e uma 6o~ça de ~ea~zação ma~~ e6~
c~en~e na ca~~dade c~~~tã. ( ... , a miMão de
C~~~~o v~~ava, an~e~ do ma~~, a da~ ao~ ho-
men~ uma ~et~g~ão nova cuja v~~~ude co~~~g~
~~a ~n~en~~vetmen~e a~ ~niqüidade~ ~oc~a~~:
r•.• ) Reatmen~e o comuni~mo ~e~ia um ~eg~me
~deat de p~op~~edade, ma~ ~ua impo~~ib~t~da
de ê man~6e~~a, peto meno~ tomando o ~e~mõ
na ~ua ~ign~6icação ab~otu~a. ( ... ) o C~~~­
~iani~mo, ~em nega~ a~ van~agen~ de uma v~­
da em comum, ~econhece, po~ ou~~o tado, que
a p~op~~edade indiv~duat e um di~eito do ho
mem, do quat ete pode u~a~, ~ubo~dinando-o~
po~ém, ao bem vi~at, ao bem ~ociat e ao bem
mo~al".59

A distinção entre Cristianismo e Socialismo resi


dia, segundo Sucupira, no "modus operandi", enquanto o pri
meiro recomenda o auxílio mútuo e a colaboração das clas -
ses para resolver a questão social, o segundo prega a luta
de classes. O discurso do deputado, bem mais consistente,
demonstrava a preocupação de um intelectual católico com a
44

questão social.

Do ponto de vista católico, a base do sistema c~

munista era o ateísmo e o conhecimento da doutrina garantl


ria o afastamento desse inimigo.

Depois da Segunda Guerra, a Igreja vai investir,


nao mais contra o comunismo mas contra o marxismo. Márcio
Moreira Alves observa muito bem que

"4e a4 te4e4 6il0456ica4 40b~e o mate~iali4


mo nao tiv~~m 4ido adotada4 pel04 ma~xi4 ~
ta4. o Vaticano 6ica~ia emba~açado pa~a con
dena~ o modelo econômico e 40cial p~Op04~
to pel04 40ciali4ta4".60

A Igreja percebia os problemas sociais de uma


forma moralista e ignorava as causas estruturais. Na EncÍ
clica Quadragesimo Anno, Pio XI expressava o pensamento da
Santa sê:

"vem04 nio pOUC04 d04 N04404 6iLh04 ( ... )de


4e~ta~ d04 a~~aiai4 da Ig~eja e pa44a~M 6I
lei~a4 do 40ciali4mo; un4 04tentando abe~ta
mente o nome e p~06e44ando a4 dout~ina4 40~
ciali4ta4; out~04, indi6 e~ente4 ou talvez 60~
çad04, ent~ando em a440ciaçõe4 que te5~ica
ou p~aticamente p~06e44am o 40cia.li4mo".
Mais adiante, o povo encontrava a resposta para sua inqui~

tação:

( ... ) pa~ece-n04 ouvi~ a ~e4p04ta com que


muit04 4e e4cu4am: a I~~eja e tod04 04 que
4e lhe p~oclamam obedie~cia 6avo~ecem 04 ~i
C04, de4p~ezam 04 ope~ã.~i04, e nio têm de-="
le4 o mZnimo cuidado; po~ i440 ê que 4e vi-
~am na nece44idade de 4e in4c~eve~ no 40cia
li4mo pMa 4 alvagua~da~ 4 eU4 inte~e44 e4" . 6T

Tendo como referência o corporativismo fáscista


da Carta Del Lavoro, de Mussolini, Pio XI aprovava as cor-
poraçoes porque
45

"I.> ã.o c.o ril.>tituZdal.> pe.lol.> /te.p/te.1.> e. ntant e. I.> doI.>


I.>indic.atol.> doI.> ope./tã/tiol.> e. doI.> pat/tõe.1.> pe./t-
te.nc.e.nte.1.> ã me.l.>ma a/tte. e. p/toóil.>l.>ão, e., c.omo
ve./tdade.i/tol.> e. p/tôp/tiol.> ô/tgã.ol.> e. inl.>titui-
çõe.1.> do El.>tado, di/tige.m e. c.oo/tde.nam OI.> I.>in-
dic.atol.> nal.> c.oil.>al.> de. inte./te.I.>I.>e. c.omum.
t p/toibida a g/te.ve.; I.>e. aI.> paltte.1.> não
pode.m c.he.ga/t a um ac.o/tdo, inte./tvêm o Magil.>-
t/tado.
Bal.>ta /te.óle.ti/t um POUc.o paJta ve.Jt' eu, van
tage.nl.> de.l.>ta o/tganizaçã.o, e.mbo/ta I.>uma/tiame.n
te. indic.ada: a pac.Zóic.a eolabo/tação deu, eti6
I.> e. I.> , /te.p/te.l.>l.>ão daI.> o/tganizaçõe.1.> e. violên ~
c.ial.> I.> o c.ialil.> tal.> , a ação de. uma magil.>t/tatu-
/ta e.1.> p e. c.ial" • 6 2

Os sindicatos dos operários e dos patrões, teori


camente, impediriam os abusos do capitalismo liberal e, a-
través da pacífica colaboração entre as classes, patronais
e operárias, deteriam o avanço das organizações socialis -
tas. A proibição da greve garantiria a ordem social neces
sâria ao desenvolvimento.

Pio XI, no entanto, criticava o controle do Esta


do, implícito na fórmula fascista:

" ( •.• ) não Óalta q ue.m /t e. c. e.i e. que. o E6tado I.> e.


I.>ubl.>titua a liv/te.1.> atividadel.> , e.m ve.z de. I.>e.
limita/t ã ne.c.e.l.>l.>ã/tia e. I.>uóic.ie.nte. al.>l.>il.>tên-
c.ia e. auxZlio; que. a nova o/tganização I.>indi
c.al e. eo/t~o/tativa te.m c.a/tãte./t e.xc.el.>l.>ivame.n~
te. bu/toc./tátic.o e. polZtic.o, o que., não obl.> -
tante. aI.> vantag e.nl.> 9 e./tail.> apo ntadal.> , pode. I.>e.!t
vi/t a pa/ttic.ula/te.1.> inte.ntol.> polZticol.> mai~
que ã p/te.pa/tacão e. inZcio de. uma o/tde.m 1.>0 -
úal melho/t". ~ 3

A posição da Igreja quanto ao liberalismo era ba~

tante ambígua. Rejeitava-o em teoria mas admitia tatica -


mente algumas de suas instituições e a defesa da estrutura
ção liberal dos sindicatos não era acompanhada de compro -
misso com o regime político do liberalismo: a democrocia li
beral.
46

Às preocupaçoes do papa quanto ao controle do E~


tado sobre as organizações sindicais, o episcopado brasi -

leiro respondeu com a organização da classe operária, obj~

to de uma ação imediata por parte dos párocos e dos católi.

cos esclarecidos. Os Círculos Operários constituiriam

"a ba~e de~~a o~~anizaçio no ~eu a6pee~0 de


a~~i~têneia eeonomieo-~oeial do~ t~abalhado
~e~ de toda~ a~ eatego~ia~ e de toda~ a~ o~
~igen~, de~de que aeeitem a mo~al e~iiti;
não atentem eont~a a 6amZlia, ~e~peitem a~
no~~a~ lei~ e bu~~uem ~ua~ ~eivindieaçõe~
dent~o da o~dem". -

A Legislação Trabalhista do Estado Novo levou

muitos católicos, que a ele se opunham no campo pOlítico,a

apoiá-lo no campo social. Um deles foi Alceu de Amoroso

Lima.

O Manjfesto do Episcopado Brasileiro sobre a A-

çao Social, em 1946, convocava todos os católicos para uma

obra de assistência social que

"embo~a nio ~eja a ~oluçio da que~tio, eon~


titui um elemento de de!>a6ogo de mi.i.hMU de.
e~iatu~a~ que de out~a 6o~ma nio eneont~a -
~iam out~a manei~a de ~eaju!>tamento nem ou-
t~o~ meio!> imediato~ pa~a atende~ ã~ neee!>-
!>idade6 u~gente~ de !>ua vida, na de6e6a da
~aúde, da edueaçio~ da alimentaçio, da mo~a
dia e da higiene". 5

A Igreja "despolitizava" os problemas sociais pr~

tendendo solucioná-los ou, pelo menos, mitigá-los com a pr!


tica da caridade. Era a caridade cristã que completava o
serviço social tornando-o uma obra de justiça e de paz. Na

ação das obras sociais, o Estado tinha a garantia para o

desempenho tranqüilo de suas funções políticas.


47

"A atuação d-i.lteta da I gltej a, no c.ampo .6 o c.-i.al


.6e jU.6t-i.6-i.c.a poltque a .6oc.-i.edade deve c.onc.e-
delt ao homem c.ond-i.çõe.6 de v-i.da que lhe pelt-
m-i.tam Iteal-i.zalt, de modo pleno, 0.6 .6eu.6 de.6-
t-i.no.6 ~lt-i.mo.6. E c.omo e.6te.6 lteplte.6entam o
domZn-i.o e.6pec.Z6-i.c.o da Iglteja, nada do que
c.on.6t-i.tu.-i. ou pltepalta palta ela (a. .6 oc.-i.e.dade);
pode .óelt e.ótltanho ã.ó 6unçõe.ó da Iglteja. E.ó-
ta pltomove, po-i..ó, a oltgan-i.zação de -i.n.ót-i.tu-i.
çõe.ó e mov-i.mento.ó que tenham pOIt 6-i.m a ele~
vação do nZvel .óoc.-i.a.l, a pltevenção e a c.ulta
do.ó male.ó .óoc.-i.a-i..ó".65

o ativismo católico, através dos Círculos Operá-


rios, junto aos sindicatos dos trabalhadores, mereceu esp~

cial apoio de Vargas, igualmente comprometido na vigilân -


cia contra a infiltração comunista. Os Círculos Operários
que prosperaram durante a ditadura, começaram a declinar
apos a queda de Vargas.

Por ocasião da entrada do Brasil na Segunda Guer


ra, a Igreja estreitou sua aproximação com o Estado. O E-
piscopado, através de uma circular coletiva, apoiava a me-
dida e aconselhava: "Antes de tudo diSciplina e obediên -
cia ao Chefe do governo a quem a Providência confiou, nes-
ta hora de tão pesada responsabilidade, os destinos do Brasil". 67

Em 1944 foi criado o Serviço de Assistência Reli


giosa das Forças Armadas, em guerra, e vinte e seis padres
e dois pastores foram com a FEB para o "front" europeu.

Se a participação do país na guerra contra o na-


zi-fascismo tornava precária a situação interna do governo,
a Igreja, internamente, sofria a influência, cada vez maior,
sobre suas elites de Jacques Maritain e Bernanos que leva-
ria ao surgimento de pressoes em favor dos direitos huma-
nos, de uma política democrática e de uma visão liberal do
48

mundo.

o Cardeal Leme havia falecido em 1942 e seu subs


tituto, D. Jaime de Barros Câmara não possuía os dons ne -
cessários para a aglutinação do episcopado nacional.

Os intelectuais católicos se dispersaram: parte


engrossou as fileiras mais liberais da UDN e outros, a mi-
noria, passaram a apoiar a formação do PDC. A hierarquia
não apoiou o partido católico que surgia e continuou fiel
à fórmula da LEC que, sem inovação alguma, manteve o mesmo
programa que adotava em 1933.

No Manifesto ao Episcopado Brasileiro, D. Jaime


de Barros Câmara deixou bem claro que a posição da Igreja
continuaria a ser a de uma força atuante, preservando um
espaço próprio diante do Estado. A guerra chegara ao fim
e D. Jaime principiou o Manifesto com as palavras:

"Regozijemo-n04 no Senho~, ma4 nio c~uzem04


04 b~aç04" (e prosseguiu:) "( ... ) a ativida
de da Ig~eja, 4emp~e indi4pen4ãvel ã4 alma~
e ã4 naçõe4, nio pode e4ta~ 4ujeita a04 vai
-ven4 da polltica de pa~tido~. A polltica
divide, a ~eligiio une".68

3. A Redemocratização do País

3.1 O Governo Dutra

O início do ano de 1945 assinalou grandes mudan-


ças para o Brasil: iniciava-se um processo de redemocrati-
zação e a pOlítica externa caminhava para um progressivo!
linhamento com a posição norte-americana.

A aproximação com os Estados Unidos se produzira


49

em meio a intensas negociações nas quais o governo brasi -


leiro procurou garantir benefícios de natureza .-
economlca,
política e militar como a instalação da usina siderúrgica
de Volta Redonda e o reequipamento das Forças Armadas. Ter
minada a guerra, o Brasil perdia a importância que gozara
na relação com o governo norte-americano e a estabilidade
do governo Vargas deixou de ser politicamente importante
para os planos norte-americanos em relação ao continente.
Os EUA desenvolviam uma política contrária ao nacionalismo
econômico e ao dirigismo estatal.

A Conferência de Paz em Paris, em 1946, reforçou


a participação do Brasil no contexto internacional e a e-
leição, no ano seguinte, de Osvaldo Aranha para a presidên
cia da Assembléia Geral das Nações Unidas, ampliou a pre -
sença do país na ONU.

A atuação hábil de Osvaldo Aranha permitiu à de-


legação brasileira uma certa independência em relação a al
gumas instâncias da ação da ONU. "Esta orientação produziu,
entretanto, alguns atritos com a disposição estrita da Se-

,cretaria de Estado de 'seguir os Estados Unidos a qualquer


preço'''.69

Em 1947, o Itamarati, através de seu chefe Raul


Fernandes, um udenista militante, percebia a política in -
ternacional dentro de uma perspectiva extremamente conser-
vadora, anticomunista e anti-soviética. Isso contrastava
com Osvaldo Aranha que, embora fosse basicamente a favor
dos Estados Unidos, percebia, de um lado, o crescimento do
poder soviético e, de outro, a atuação norte-americana que
50

buscava conseguir poder hegemônico internacional. Dessas

observações ele concluía

"que o BJta.6Le. deveJt,{.a c.oloc.aJt-.6e ao lado do.6


EUA, ma.6 deveJt,{.a, ao me.6mo tempo, e.6taJt pie
namente c.on.6c.,{.ente da.6 d,{,.6puta.6 ,{.nteJtnac.,{.o~
na.-i.6, c.a.6 o c.o ntJtâ.Jt,{.o e.6 taJt,{.a atuando c.omo um
c.ego".70

Em 29 de outubro de 1945 Getúlio foi derrubado

por um golpe puramente pOlítico e José Linhares, presiden-

te do Supremo Tribunal Federal, foi indicado, por civis e

militares, para governar o país até as eleições presiden -

ciais de 02 de dezembro de 1945. :s importante salientar que

as oposições a Vargas eram feitas pelas elites econômicas e

oligarquias regionais que haviam sido alijadas do poder.A~

sim, a redemocratização foi feita por segmentos da socied~

de que não tinham interesse em permitir a participação efe

tiva das massas populares no processo político.

José Linhares extinguiu o Tribunal de Segurança

Nacional e revogou a data das eleições para governadores

- anteriormente marcadas para 06 de maio de 1946 - de ma -

neira a serem realizadas juntamente com as eleições para

Presidente da República, Conselho Federal e Câmara dos De-


putados.

Vargas, mesmo afastado do poder, era uma força

política representativa e seu apoio foi decisivo para a vi


tória do candidato do PSD, General Eurico Gaspar Dutra. Os
velhos mecanismos políticos e burocraticos pouco haviam mu
dado. Como as eleições foram feitas dentro de um contexto

internacional em que a democracia derrotou o na~jfascismo

tendo a União Soviética como aliada, a presença do PCB no


SI

pleito foi garantida. Com o início da guerra fria, a si -


tuação iria mudar e os tão "odiados", ou temidos, comunis-
tas, pOlíticos ou nao, voltariam a ser implacavelmente pe~

seguidos.

Uma nova Constituição se fazia necessária e a


maioria dos constituintes se orientou pela linha traçada
pela UDN que se caracterizava, em nome de princípios libe-
rais, pela necessidade de apelo ao capital estrangeiro.

"O~ ~eda~o~e~ da Con~~i~uiçio de 1946 6o~am


6o~~emen~e in6luenciado~ pela~ idêia~ do neo
libe~ali~mo econômico, do qual o E~~ado No~
vo havia ~e de~viado. Como o 6im do E~~ado
Novo coincidia com o 6im da gue~~a, o~ advo
gado~ e poll~ico~ an~i-Va~~a~ e~~avam ~en ~
~ando ~ejei~a~ a in~e~vençao e~~a~al que ha
via ~ido iden~i6icada com amba~ a~ coi~a~~
{ ... l A ~e~po~~a do novo gove~no ã in6lação
o~iunda da gue~~a 60i ab~i~ o pa14 ã impo~­
~ação de ben4 manu6a~u~ad04 no ex~e~io~. I~
~o pa~ecia ainda mai~ lógico, em vi4~a da~
g~ande4 ~e~e~va4 de divi4a4 acumulada~ du -
~an~e a gue~~a".71

Uma pOlítica facilitadora de importação, segundo o Ministé


rio da Fazenda, impediria a elevação de preços.

o liberalismo legitimado pela Constituição possl


bilitaria a livre associação entre grupos econômicos nacio
nais e estrangeiros. A pOlítica nacionalista foi abandon~

da e isso interessava especialmente aos EUA que, tendo po-


sição hegemônica no comércio mundial, poderiam redefinir as
condições de dependência já que a nova situação do país
(liberalismo e democracia representativa) tirava do gover-
no a participação ativa que tivera durante a guerra.

o governo Truman deu um novo rumo à pOlítica eco


nômica norte-americana em relação à América Latina. Ao in-
52

vés da concessao de empréstimos, de um governo a outro, p~

ra o financiamento de grandes projetos, era mais proveito-


so para a economia latino-americana se os EUA fizessem in-
vestimentos em setores mais produtivos como o de matérias-
primas.

Em relação ao Brasil havia interesse nas areias


monazíticas, urânio e manganes. Vale lembrar que a guerra
fria era um impedimento ã continuação das relações comer -
ciais que os EUA haviam mantido com a União Soviética, for
necedora de urânio e manganes.

Em resumo. as relações econômicas interamerica -


nas seriam de trocas entre os países periféricos da Améri-
ca Latina, primário-exportadores, e os EUA, industrializa-
do, o que resultou para os primeiros numa situação de de-
pendência em relação ao capitalismo norte-americano.

Ao poder público brasileiro cabia. apenas, zelar


pelo bom desempenho da economia atendendo aos interesses i
mediatos da empresa privada. A legislação sindical e tra-
balhista, que caracterizara o Estado Novo, nao foi altera-
da pela Constituição de 46. Essa manutenção

"~e~ul~ava de uma manob~a do~ eZ~eulo~ di~i


gen~e~ a 6im de, ~ob ~egime libe~al, man~ei
inal~e~ado o eomp~omi~~o en~~e a~ el~~e~ e
eli~e~ dominan~e~ e o e~~eneial do ~i~~ema
de dominação ~ob~e a~ ela~~e~ ~ubalte~na~,
eon6i~mando o pe~6il antidemoe~ãtieo do ea-
pi~ali~mo b~a~ilei~o".72

Com outros instrumentos e outros conteúdos ideo-


lógicos - "o compromisso fundamental com a livre iniciati-
va e contra a modalidade anterior de intervencionismo esta
tal,,73 o poder público tomou decisões, diante dos proble -
53

mas da economia brasileira, que caracterizaram a pOlítica

cambial, o plano SALTE, a missão Abbink e a política sala-

rial.

A ausência de restrições às importações estran -

geiras, a possibilidade de adquirir livremente divisas no

mercado e a taxa cambial não atualizada, levou o país, no

período de 1946-1947, a consumir enorme parte das divisas

acumuladas durante a guerra. A Superintendência da Moeda

e do Crédito (SUMOC) não foi ativada para evitar a saída

de divisas e o grande poder aquisitivo de alguns permitia

a importação de artigos de luxo sem outra significação que

a de alimentar o seu bem-estar.

"A e~~e item de de~pe~a~ no exte~io~ i p~e­


c.i~ o ac.~e~ c.enta~ ou.t~o da me~ma natMeza qu.e
~ão 0-6 ga~to-6 de viagem e tu.~i~mo. ( ... J A-6
de~pe~a-6 no exte~io~, tanto c.om impo~taçõe~
c.omo c.om viagen~ (qu.e envolviam ge~almente
u.ma g~ande impo~tação di~6a~çada de me~c.ado
~ia~ t~azida-6 c.omo bagagem e qu.e não 6igu. ~
~am na~ e~tatl~tic.a~ 06ic.iai~ nem pagam di-
~eito~ al6andegã~io~J 60i no pô~-gu.e~~a 60~
temente e~timu.lada pelo de~nlvel de p~eçor
inte~no-6 e exte~no~".74

Em 23 de fevereiro de 1948 foi estabelecido o sis

tema de licença prévia para as importações que significou


um rigoroso controle sobre as mesmas e resultou em peque -
nos saldos nos anos de 1948 e 1949.

o Plano SALTE, proposto em maio de 47, consistiu


num plano qüinqüenal abrangendo apenas investimentos públi
cos em quatro setores sociais: saúde, alimentação, trans -

porte e energia. O Plano SALTE, após um ano, começou a s~

frer dificuldades financeiras e foi praticamente abandona-

do em 51. Ressalte-se que o Plano foi concebido por um g~


54

verno que, por suas diretrizes liberais, priorizava o de


sempenho de tarefas supletivas e desde o início houve a
preocupaçao em marcar os limites necessários para que o Es
tado tivesse condições de atuar:

"Onde, em vi~tude da natu~eza do~ emp~eendi


mento~, a ação di~eta do E~tado ~e to~na~
imp~aticãvel ou inconveniente, a coope~ação
pa~ticula~ ~e~ã chamada a t~aze~ o ~eu con-
cu~~o e todo~ o~ meio~, p~ivilêgio~ e 6aci-
lidade~ do ~e~viço publico lhe ~e~ão 6acul-
tado~".75

Em 1948 foi constituída a Comissão Mista Brasi -


leiro-Americana. ou Missão Abbink, cujo objetivo básico era
~

restabelecer a cooperação econômica entre os dois palses.


As delegações chefiadas por Otávio Gouveia de Bulhões e
John Abbink deveriam detectar os principais pontos de es -
trangulamento da economia brasileira.

O Relatório Abbink, publicado em julho de 49. b~

sicamente. transmitia a preocupaçao em propiciar a livre


entrada e saída do capital estrangeiro no país.

Os resultados da Missão Abbink não agradaram aos


empresários industriais e. também, aos militares.

"Segundo a ob~e~vação do embaixado~ b~itini


co no Rio de Janei~o, o~ p~imei~o~ temiam õ
a6luxo de capitai~ e~t~angei~o~,enquanto o~
ultimo~ e~tavam dema~iado me~gulhado~ no na
cionali~mo pa~a aceita~ a nece~~idade do ca
pital e do 'know-how' e~t~angei~o".76

A industrialização, durante o governo Dutra. foi


apenas a continuação de um processo que estava em curso.
foi mais uma decorrência de solicitações vindas do exte-
rior. Não houve a deliberação de uma política que promo -
vesse o desenvolvimento industrial do país.
ss

Os interesses da empresa privada, na prática, s~

mados ã ideologia liberal resultaram numa lamentável atua-


ção do governo em relação ao mercado da força de trabalho.
Apesar da crescente inflação, o salário mínimo, em nível
nacional, não sofreu qualquer elevação. Houve, é verdade,
"iniciativas isoladas de empresários, sob a reivindicação
direta dos operários, bem como de bancários e outros assa-
lariados da classe média".77 Enquanto o custo de vida su-
bia, os salários permaneciam estacionados acentuando o pr~

cesso de acumulação do setor privado.

A redemocratização permitira que as massas urba-


nas, num amplo debate pOlítico, passassem a interferir nos
resultados das eleiç5es. O PCB, por sua penetração entre
o proletariado industrial e entre alguns setores médios da
sociedade, principalmente intelectuais e estudantes, cons~

guiu a mobilização necessária para debater os problemas na


cionais.

"O Pa~tido Comuni~ta e~tava 6acilmente en-


cont~ando te~~eno 6ê~til pa~a a~ ~ua~ ativi
dade~. O~ p~eço~ ~ubi~am ~apidamente e o~
comuni~ta~ ~ e in6iU~avam com ~uce~~ o na li
de~ança de muito~ ~indicato~. Con~eguindo U
ma impo~tante votação na~ eleiçõe~ de 1945~
o pa~tido pa~ecia te~ a~~egu~ada uma ba~e
de ma~~~. A~ eleiçõe~ e~taduai~ e ~uplemen
ta~e~ pa~a o Cong~e~~o, em janei~o de 47,con
6i~ma~am e~~a ~upo~içã.o". 78 -

Em 1947 o registro do PCB foi cancelado e o Bra-


sil rompeu relações diplomáticas com a URSS. O pretexto p!
ra o rompimento foi o artigo inserido na Gazeta Literária
de Moscou, considerado ultrajante ao Presidente e às For-
ças Armadas do Brasil.
56

"E de noto~iedade unive~4al que a imp~en4a


40viética e4tâ ~igo~o4amente cont~olada pe-
lo gove~no cuja ~e.6pon4abilidade a44~m, ..6e
liga vi~tualmente a tudo quanto .6e_ ~mp~~me
no paI4. Em con.6eqüência, o Mini.6te~io da.6
Relaçõe4 Exte~io~e4 dete~minou ao embaixa
do~ b~a4ilei~0 naquela capital que ap~~4en­
ta4.6e ao Mini.6tê~io Soviético d04 Negocio.6
E.6t~angei~o.6 uma nota p~ote.6tando cont~a o
ag~avo e exigindo .6ati.66ação com a decla~a­
ção de que e.6ta.6 e~am indeclinâvei.6 pana que
pude44em continua~ a.6 ~elaçõe.6 diplomâtica.6,
pelo men04 co~~eta, ent~e 0.6 doi.6 paI.6e.6.
E.6.6a nota 60i devolvida .6 em ~UpO.6ta 40b
o 6al40 p~etexto de e4ta~ ~edigida em te~ -
mo.6 inami.6to.604.
Viante de.6te.6 6ato.6, o gove~no b~a4i -
lei~o decidiu inte~~ompe~ a.6 ~elaçõe.6 com a
União Sovi'ética".79

A propósito do "affaire" Brasil-URSS,

"em 9 de outub~o, o chancele~ Raul Fe~nan -


de.6 di.6.6 e a um diplomata ame~icano no Rio
que '0 B~a.6"{'l tem tudo a ganha~ e nada a p~
de~ com o ~ompimento de ~elaçõe.6'. Pa~a O.6~
valdo A~anha, o a.64unto 60i conduzido com
'0 p~opõ.6ito delibe~ado de ~ompe~ e não de
obte~ explicaçõe.6'". 8 o

Como saldo da guerra, a Europa perdera a condi -


çao de centro hegemônico do mundo e as duas superpotências
em ascensao, Estados Unidos e União Soviética, passaramaa~
minar o eixo das relações internacionais. A imposição de~

sa bipolaridade deu origem ao que se denominou "guerra fria",


principal fenômeno do pós-guerra. O Brasil precisava op -
tar por um dos lados e o fez em direção aos Estados Unidos
porque, além dos compromissos econômicos assumidos, havia
o medo da revolução social, compreendida como manifestação
da influência soviética.

A participação Ímpar do Brasil, considerando-se


a América Latina, ao lado dos EUA na segunda guerra, garag
57

tiu uma relação de colaboração militar entre os dois paí -


ses através do "Inter-American Military Cooperation Pro-
gram". Foram estabelecidos, sob a liderança do General Goes
Monteiro, Ministro da Guerra desde agosto de 1945, progra-
mas que desenvolveram mudanças na organização, treinamento
e equipamento, principalmente no Exército. Em 1946 foi cri
ado o Estado Maior das Forças Armadas e foram traçadas as
diretrizes para a criação da Escola Superior de Guerra, se
gundo o modelo do "National War College" dos Estados Unidos.

Com a redemocratização do país, os militares se


dividiram ideologicamente em duas facções: uma, concorde
com os Estados Unidos, sustentava a importância de condu -
zir o desenvolvimento do país segundo os modelos sócio-eco
nômicos liberais; outra, talvez buscando uma neutralidade
que seria bem aceita pela União Soviética, defendia o de-
senvolvimento do país segundo modelos estatizantes ou diri
gistas.

Os oficiais brasileiros, a exemplo do que sucede


ra a muitas outras instituições militares no mundo, tive-
ram que enfrentar os problemas que a guerra fria ocasionou.
Até então a oficialidade brasileira mantivera-se numa con-
fortável posição de solidariedade com o mundo ocidental.

A facção nacionalista dos oficiais brasileiros,~

ra de opinião que o marxismo não conseguiria conquistar no~

so povo que tinha no individualismo uma de suas caracterís


ticas e, por isso se opunham ao rompimento com a União So-
viética.
58

"Su..6te.Yltavam qu.e. o 8/ta.6.Lt de.ve./tÁ..a adota/t u.-


ma polZtÁ..ca Yle.u.t/talÁ...6ta qu.e. pode./tÁ..a ob/tÁ..ga/t
0.6 E.6tado.6 UYlÁ..do.6 a avalÁ..a/t maÁ...6 ju.dÁ..cÁ..o.6a-
me.Ylte. .6u.a atÁ..tu.de. em /te.lação ao 8/ta.6Á..l e. 6a
zê-lo.6 aceÁ..ta/t o p/tÁ..YlcZpÁ..o da Ylão-Á..Ylte./t~e. ~
/têYlcÁ..a YlO.6 Yle.g5cÁ..o.6 Á..Ylte./tYlO.6 do pal.6".8

A facção liberal do Exército sustentava a teoria


que a segunda guerra tinha sido urna luta contra urna ideolo
gia totalitária e a guerra fria, em sua essência, signifi-
cava a necessidade que o munda ocidental tinha de liquidar,
ou pelo menos, diminuir, a influência de um outro totalita
rismo: o marxista. Deveríamos, corno o fizera o mundo ~ci-

dental, nos ligar aos Estados Unidos e aceitar suas missões


de repressão contra o comunismo. Essa tese era sustentada
pela Escola Superior de Guerra chefiada pelo General Osval
do Cordeiro de Farias.

Nas eleições do Clube Militar, em 1950, saiu vi-


toriosa a chapa nacionalista (e neutralista), encabeçada
pelo General Newton Estilac Leal e o General da Reserva Hor
ta Barbosa, defendendo um programa de reivindicações pro -
fissionais que encontrou terreno propício num contexto ec~

nômico nacional em que os soldos e pensões militares tam -


bém eram afetados pela inflação.

A coincidência da vitória da chapa nacionalista


com a campanha eleitoral para a presidência da república ~

ra um trunfo para os populistas que pleiteavam a volta de


Vargas ao poder.

o pronunciamento, publicado pela imprensa, do Mi


nistro da Guerra, Canrobert Pereira da Costa, em nome da
alta hierarquia militar e em seu próprio, contra a candida
59

tura Vargas foi aproveitado por Estilac Leal para "se lan-
çar numa crítica acerbada contra a entrada de capitais es-
trangeiros no Brasil e contra o emprego e a fabricação de
bombas atômicas pelo paÍs".82

Quando os EUA, sob a proteção da ONU, enviou tro


pas à Coréia, o governo Dutra apoiou a intervenção america
na comunicando

"que ele e~tava p~epa~ado a a~~umi~, dent~o


do~ limite~ do~ meio~ ã ~ua di~po~ição, a~
~e~pon~abilidade~ evoeada~ pelo a~tigo 49 da
Ca~ta".83

O pronunciamento do governo era coerente com a orientação


dada à política externa do país.

A decisão do governo brasileiro provocou intenso


debate através da imprensa que se dividira: havia os simp!
tizantes à atitude americana, os que eram simplesmente "ag
ti-yankees" e os que consideravam a guerra da Coréia como
uma guerra civil na qual não cabia a intervenção da ONU.

A repercussão nos meios militares foi muito grag


de. A direção do Clube Militar demonstrava claramente seu
ponto de vista neutralista e anti-americano enquanto a ti-
bieza do governo sobre o assunto levava o General Canrobert
"até a desmentir os 'rumores' sobre a 'eventualidade' de
expedição de tropas brasileiras para a Coréia".8~ Essas
duas interpretações antagônicas, a imprecisão dos objeti -
vos da ONU e a falta de definição do presidente Dutra~ em
fim de mandato, fizeram com que os projetos oficiais de en
vio de tropas à Coréia se tornassem mais duvidosas ainda.

Em novembro de 50 tudo indicava que as forças a-


60

mericanas estavam prestes a liquidar o que sobrava da re -


sistência norte-coreana e isso. por tabela, contribuiu pa-
ra reforçar a oposição "liberal" ao Clube Militar. A for-

ça era demonstrada pelos Estados Unidos.

O Clube Militar, além de atacado pelos princi-


pais jornais do país, sofria um enorme desgaste interno mo
tivado, principalmente. pelos artigos polêmicos publicados
por sua revista que acabou sendo suspensa em dezembro de 50.

A política exterior pretendida pelos oficiais n~

cionalistas foi esvaziada quando Vargas. já eleito presi -


dente, aceitou. por iniciativa do Secretário de Estado am~

ricano. Dean Acheson. participar da reunião de todos os Mi


nistros dos Assuntos Estrangeiros latino-americano com o
objetivo de estudar a questão coreana.

No período de 1946 a 1951 o poder Executivo fora


inoperante, voltaram as antigas querelas regionais e as
forças partidárias recém-constituídas se tornavam marcan -
tes mais pelos entrechoques que por uma efetiva atuação p~

lítíca. "Liberal na forma. herdeiro do autoritarismo carac


terístico dos anos 30 no conteúdo, eis possivelmente uma
descrição sumária do governo Dutra".85

3.2 A segunda Era Vargas

A "democracia liberal" que se estruturou com a


Constituição de 1946 não con~acom o crescimento da popu-
lação urbana, especialmente nas grandes cidades, dentro da
qual o operariado adquiria um peso pOlítico cada vez maior.
61

o PSD, um dos grandes partidos políticos,foicon~

tituido no bojo do Estado Novo e, por isso mesmo, de cima


para baixo. A UDN, que se originou na luta conta a ditadu
ra, perdeu seu possível conteúdo popular ao compati1har da
Carta de 46 e estabelecer, durante os trabalhos da Consti-
tuinte, aliança declarada com o PSD.

o aumento do eleitorado urbano e operário possi-


bilitou a canalização de votos para o PTB, partido de ten-
dência reformista-popu1ista engrossado por alguns candida-
tos comunistas que não podiam concorrer às eleições por 1e
genda própria.

Num quadro em que os grandes partidos políticos


haviam perdido a capacidade de polarização e faltavam pes-
soas capazes de reunir condições hegemônicas para assumir
o poder, Vargas era o único político com penetração nacio-
nal e a 03 de outubro de 1950 foi eleito Presidente da Re-
pública com 48,7% de votos.

A UDN tentou contestar o pleito invocando a Con~

tituição que, segundo sua interpretação, exigia do candida


to vencedor a maioria absoluta de votos e, através da im-
prensa, especialmente representada pelo j ornaI "O E.6:tado de
s. Paulo" e pelo jornalista Carlos Lacerda, especulava com
a possibilidade da posse de Vargas significar um retorno
à política di tatorial do Estado Novo. No impasse criado p~
la UDN, Getúlio não contou com o apoio irrestrito dos mili
tares mas os generais Goes Monteiro, Zenóbio da Costa, Es-
tilac Leal e Eurico Dutra reagiram às insinuações udenis -
tas e garantiram a posse do presidente (31 de janeiro de
62

1951) .

o fato de Getúlio ter escolhido para os Ministé-


rios militares homens que, além de merecerem sua confiança
pessoal, gozarem de respeitabilidade dentro das Forças Ar-
madas e serem "nacionalistas", como o General Esti1ac Leal,
Ministro da Guerra, valeu-lhe o repúdio de parte da hiera!
quia militar. Cordeiro de Farias que fora derrotado por
Esti1ac Leal na eleição para presidência do Clube Militar,
por exemplo, seria um opositor ferrenho ao governo cujapo-
sição nacionalista era por ele identificada com os postula
dos comunistas que defendiam o antiimperia1ismo - no caso
brasileiro, o antiimperia1ismo americano.

A escolha dos ministros civis espelhou as alian-


ças feitas na campanha eleitoral. O Ministério do Trabalho,
por exemplo, foi entregue a Danton Coe1ho,um líder do PTB,
.., - .
com o lntulto estrateglco de garantir ao partido o contro-
le dos sindicatos operários. O proletariado urbano se mo-
bilizara em torno do PTB e a condição de clandestinidade de
Luís Carlos Prestes facilitou o ressurgimento de Vargas c~
mo líder popular. Daí, o popu1ismo trabalhista de Vargas,
em breve tempo, ter se transformado no principal elemento
da ideologia petebista. Adernar de Barros, do PSP, govern~

dor de S. Paulo e grande carreado r de votos para Vargas fói


ouvido por ocasião da escolha do novo presidente do Banco
do Brasil e do Ministro da Fazenda, ambos de vital impor -
tância para a política econômica do país.

Getúlio tentou de todas as maneiras, como já o


fizera antes, conseguir que seus adversários pOlíticos se
63

alinhassem com o governo. O apoio político da UDN era im-


portante em virtude de sua considerável penetração na clas
se média urbana, de crescente importância eleitoral. Essa
busca do apoio udenista resul tou na opos ição ao governo por
parte de alguns líderes do PTB que se acentuou com a renun -
cia de Danton Coelho, o único ministro do partido. O PSD,
por sua vez, passou a fazer restrições a Vargas porque, c~
..
so a UDN integrasse o governo, teria seu prestlglo ameaça-
.

do. Finalmente, as tentativas de trazer os udenistas ao


,
aprisco governamental rUlram em 1952.

Embora, em termos de votos, Getúlio pudesse con-


tar com o PSD e com o PTB,

lia. a.ma.JtguJta. do .6entimento a.ntigetuli.6ta. eJta.


um elemento peçonhento na. a.tmo.66eJta. polZti-
ca. pOJt~ue podeJtia. 6a.cilmente .6e tJta.n.660Jtma.Jt
em e.6pecie de pen.6a.mento a.ntidemocJtâ..ü.co que
que ha.via. contJtibuZdo paJta. mina.Jt a. democJta.-
cia. bJta..6ileiJta. na. déca.da. de 30. ( ••• ) Ao.6
olho.6 de.6.6e.6 ex-ca.mpeõe.6 da. JtedemocJta.tiza. -
ção (0.6 con.6titucionali.6ta..6 libeJta.i.6},o pJtõ
pJtio 6ato da. eleição de Va.Jtga..6 .6igni6Lca.vã
que a. democJta.cia. no BJta.6il não e.6ta.va. 6unci
ona.ndo". 86 -

A segunda Era Vargas começara sem contar com o


apoio unânime de políticos e de militares e, ainda, os an-
tigetu1istas iriam mover durante todo o período governameg
tal uma acirrada oposição que, somada a outros fatores,cu!
minaria com o suicídio do presidente em 1954.

A pOlítica econômica do governo Dutra tivera por


objetivo garantir o funcionamento e o lucro do setor priv~

do nacional e estrangeiro. Ao assumir o governo, Vargas


teve que enfrentar o comprometimento que havia em termos
ideológicos e práticos, com o antiintervencionismo estatal
64

e a internacionalização da economia brasileira.

o crescimento dos setores industrial e terciário,


com o conseqüente crescimento dos grandes centros urbanos,
fez com que a sociedade se diferenciasse. Eram a burgue -
sia industrial, o proletariado e a classe média que mais
interesse tinham em relação a temas como desenvolvimento e
nacionalismo, por exemplo. Por outro lado, a burguesia i~

dustria1 se diferenciara internamente pequena burguesia


industrial, grande burguesia industrial nacional e grande
burguesia industrial internacional - e cada grupo tinha sua
posição própria em relação ã atuação do poder público na
economia.

~ preciso lembrar que durante o governo Dutra as


relações políticas, econômicas e militares com os Estados
Unidos haviam se aprofundado. A conflagração aberta entre
os EUA e o satélite comunista da Coréia do Norte - a Guer-
ra da Coréia, 1950-1951 -, teve efeito imediato sobre o E-
xército brasileiro.

"E.6-tava a-i..nda be.m v-i..vo o .6e.n-t-i..me.n-to de. le.al


dade. -i..de.olõg-i..ca e. pe..6.6oal ~e..6ul-tante. da e..6 7
t~e.-i..-ta colabo~ação e.nt~e. 0.6 m-i..l-i..-t~e..6 ame.~-i..
cano.6 e b~a.6-i..le.-i..~o.6. Como con.6e.qüênc-i..a a
que..6-tão do nac-i..onal-i...6mo ( ••• ).6ub-i..tame.n-te a.6
.6 um-i..u um .6-i..g n-i..6-i..c.ado poUt-i..co mu,Uo maÁ...o~". 8 T

o governo norte-americano exigia que os acordos militares


fossem ratificados mas a idéia do envio de tropas brasi1ei
ras para lutar na Coréia, foi recusada por Vargas. Essa
recusa ajudou os nacionalistas na sua argumentação ideoló-
tica contra uma guerra alimentada pelo imperialismo ameri-
cano.
65

Se os EUA tinham interesse na revitalização eco-


nômica dos países da Europa Ocidental, virtuais -parceiros
do sistema capitalista, em relação ã América Latina o pro-
jeto econômico norte-americano se traduzia em garantir as
estruturas primário-exportadoras e um espaço para os inves
timentos do seu capital privado. Nesse contexto, em virtu
de da ideologia que justificava a bipolaridade Leste- Oeste,
as manifestações nacionalistas na América Latina eram vis-
tas como fruto da penetração comunista e como tal eram tra
tadas. Para evitar que o nacionalismo latino-americano ex
trapolasse os respect i vos âmbi tos regionais, as relações mi
litares interamericanas se intensificaram em 1951 quando

"04 EUA Re4cebe4am a nece44idade de utili -


za4 a Ame4ica Latina como in4t4umento de le
gitimação, em nZvel domê4tico e inte4nacio~
nal, de 4ua pa4ticipação na Gue44a da Co-
4eia".88

A política externa de Vargas foi orientada por


um padrão de relacionamento com os Estados Unidos diferen-
te daquele que estivera em vigor durante o governo Dutra.
Dois aspectos dessa política deveriam ser implementados: seu
cunho nacionalista e a busca de uma maior cooperação econ~

mica do governo norte-americano. Em 1950 foi acordada a


organização da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o
Desenvolvimento Econômico.

Das bases do governo brasileiro para a negocia -


çao da Comissão Mista de 11 de janeiro de 1951.1 julgo impor
tante destacar o trecho que segue porque, a meu ver, d~

fine bem o novo padrão de relacionamento com o governo ame


ricano, proposto por Vargas.
66

"A boa vontade do aove~no b~a6ilei~0 de co~


t~ibui~ com a6 mate~ia6 p~ima6 nacionai6 pa
~a a economia de eme~gência d06 EUA,deve e~
cont~a~ 6ua cont~apa~tida na boa vontade do
gove~no no~te-ame~icano de concede~ p~io~i­
dade6 de ab~ica ão e c~êdit06 bancã~i06 (Ex
po~t g Im~o~te an e o nte~nat~n ankl
a te~mo mêdio e longo, pa~a a imediata exe-
cução de um p~og~ama ~acional de indu6t~ia­
lização e de ob~a6 pública6, ao qual 6e~ão
con6ag~ad06 06 p~incipai6 e660~ç06 da admi-
ni6t~ação b~a6ilei~a. O gove~no b~a6ilei~0
tem, igualmente, nece66idade de que não 6e
kmponham ~e6t~içõe6 a~ti6iciai6 ao nZvel a-
tual d06 p~eç06 d06 p~odut06 b~a6ilei~06 de
expo~tação, e6pecialmente o ca6ê.
Nenhum 6inanciamento e6t~angei~o pode~â 6e~
vi~ ao de6envolvimento inten6ivo do n0660
paZ6, 6e não di6pu6e~m06 de capitai6 domê6-
tico6 capaze6 de apoia~ e ab60~ve~ o auxZ -
lia vindo do exte~io~".89

Vargas precisava enfrentar, tamb~m, os pontos de


estrangulamento da economia nacional - inflação, necessida
de de importar máquinas e equipamentos, a insuficiência da
energia e dos transportes, etc. - que exigiam rápida solu-
ça0 e diante dos quais as várias correntes de opinião pú -
b1ica defendiam algumas estrat~gias políticas a serem ado-
tadas. "Diante da situação econômico-social com a qual se
deparava b governo, o poder público foi levado a engajar-se
de novo e mais amplamente no sistema econômico". 90

o fato do Estado assumir papéis decisivos na con


dução da economia, notadamente no que dizia respeito à ener
gia, significava um rompimento com as diretrizes liberais e
o Congresso e a opinião pública deveriam ser levados em cog
ta. Por isso, na Mensagem ao Congresso Nacional, em 1952,
Getúlio Vargas justificava:

"E66a inte~venção do E6tado no domZnio eco-


nômico, 6emp~e que p066Zvel plâ6tica e nao
67

Jt1.g-<'da, -<.mpõe.-.6e. c.omo um de.ve.Jt ao govVtno:to


da.6 a.6 ve.ze..6 que. ê ne.c.e..6.6ãJt-<.o .6UpJt-<.Jt a.6 ne.~
c.e..6.6-<'dade..6 da -<.n-<.c.-<.a:tlva pJt-<.vada ou ac.au:te.-
laJt 0.6 .6Upe.Jt-<'oJte..6 -<.n:te.Jte..6.6e.6 da Nação, que.Jt
c.on:tJta a voJtac.-<'dade. e.go1..6:ta do.6 ape.:t-<.:te..6 -<.~
d-<.v-<'dua-<..6, que.Jt c.on:tJta a açªo pJte.da:tõJt-<.a d~
.6a.6 60Jtça.6 de. Jtap-<.na, que. nao c.onhe.c.e.m ban-
de.-<.Jta nem c.ul:tuam ou:tJta Jte.l-<.g-<.ão que nao .6e.
ja a do lUc.JtO".91

Os recursos externos e internos precisavam ser


gerenciados e canalizados de maneira a implementar o desen
volvimento econômico. Com esse fim, em 1952, Vargas enviou
ao Congresso o projeto de criação do Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico (BNDE) que deveria ser o mediador
entre o Estado, responsável pela captação interna, o empr~

sariado nacional e o financiamento estrangeiro.

A eleição do presidente norte-americano Eisenhower


significou uma retração da pOlítica de colaboração econôml
ca e de entendimento entre os dois países. A pOlítica ec~

nômica de Vargas, de cunho nacionalista - a regulamentação


da remessa de lucros dos investimentos estrangeiros e a i~

dústria petrolífera sob a forma de monopólio estatal - de~

sagradava, pOlítica e ideologicamente, aos Estados Unidos.

A substituição de João Neves da Fontoura por Os-


valdo Aranha no Ministério das Relações Exteriores (1953)
não conseguiu mudar o rumo das relações econômicas Brasil-
Estados Unidos. As discussões se restringiram ao preço do
café e ao pagamento, de nossa parte, dos atrasados comer -
ciais.

A despeito dos resultados das negociações com o


governo norte-americano, a economia brasileira se dinamiza
va. A criação do BNDE e da Petrobrás colaboravam para que
68

uma estrutura industrial fosse montada. Vargas optara pe-


-
la solução nacionalista enfatizando que so as empresas pu-
blicas poderiam se constituir em instrumentos básicos da
pOlítica de investimentos.

"O momen~o hih~~~ico nio lhe 60~necia condi


çõeh de manejo de um Pode~ Execu~ivo vigo~o
h o, e en~io h ua ideologia do nacio naLWmo h e
conve~~eu num ideâ~io maih ~eh~~i~o. ( ... I
A ideologia do nacionalihmo, p~econizado po~
Ge~úlio, ve~~ia apenah de~e~minadah di~e~~i
zeh da polZ~ica econômica, capaz de halva ~
gua~da~ Oh inte~ehh eh 6undamentaih da naçã.o,
neh h e h e~o~" . 92

o anteprojeto enviado ao Congresso para a cria -


çao da Petrobrás, sob a forma de empresa de economia mis -
ta, produziu alianças partidárias inusitadas. A UDN, apr~

veitando a mobilização nacionalista da sociedade em torno


da questão do petróleo e com a intenção de desgastar o go-
verno Vargas, passou a defender o monopólio estatal que cu!
minou na criação da Petrobrás (1953). ~ que, para os Est~
dos Unidos, Vargas estimulava a onda nacionalista da socie
dade brasileira e, sob a ótica norte-americana, isso equi-
valia a, pelo menos, tolerar a influência comunista.

"Em junho de 53, o gove~no ame~icano to~nou


cla40 o dehejo de acaba~ com a Comihhio Mih
ta. ( ... 1 A polZ~ica pe~~olZ6e~a "de Va~gaJ
~o~na~am ainda maih d~amã~icah a~ ati~ude~
dive~~a~ do B~a~il e do~ Ehtado~ Unido~ com
~elaçã.o ao de~envolvimen~o econômico". 93

Em relação ã área de energia elétrica, Vargas pr~

poria, em 1954, a exemplo do que fizera em relação ao pe -


tróleo, a criação da Eletrobrás, empresa estatal que duran
te o seu governo nao saiu do papel.

~ importante salientar que a lei que criou a Pe-


69

trobrás nao nacionalizou a comercialização dos derivados


do petróleo e, por isso, nao atingiu interesses estrangei-
ros que lhe eram anteriores. ~ nesse sentido

"que. a. c.Jtia.ç.ão da. Pe.tJtobJtã..6 60i um a.to na.c.~


ona.li.6ta. a.mblguo, e. não a.pe.na..6 pa.Jtc.ia.l. E.6-
ta.be.le.c.e.u o monopólio e..6ta.ta.l de. pe..6qui.6a.,
Jte.6ino e. tJta.n.6poJtte. do pe.tJtôleo e. deJtiva.do.6
ma..6 não inte.Jt6e.uu na. c.ome.Jtc.ia.liza.ç.ão". 9It

Até 1953 Getúlio conseguiu manter uma política que


satisfizesse os dois grupos que reivindicavam tipos dife -
rentes de desenvolvimento econômico: um autônomo e preser-
vador das riquezas nacionais e outro associado ao capital
estrangeiro. Essa política não seria mantida por muito tem
po.

o último aumento do salário mínimo fora concedi-


do em 1951 e o aumento do custo de vida afetava os operá -
rios e a classe média, principalmente. No início de 1953
as greves se multiplicavam por todo o país.

Na tentativa de garantir a continuidade de sua


política, Vargas resolveu reformular seu Ministério dedi -
cando especial atenção às pastas da Fazenda e do Trabalho.
Para a primeira foi chamado Osvaldo Aranha e para a segun-
da João Gou1art, político petebista com fácil trânsito nas
áreas sindicais. João Gou1art, no entanto, não era confi~

vel aos olhos das classes dominantes e de certos· setores mi


litares, principalmente os oficiais da chamada "Cruzada De
mocrática". Através da imprensa CCarlos Lacerda, os Mes-
quita e Assis Chateaubriand) a UDN promoveu uma ácirrada
campanha contra Jango a quem era atribuída a responsabili-
dade pelas greves do segundo semestre de 53.
70

o jornal "ULtima. HoJta.", fundado por Samuel Weiner,


em 1951, graças a empréstimo conseguido junto ao Banco do
Brasil, ficou sendo uma das bases jornalisticas de Vargas.
Esse empréstimo foi taxado de negociata e acabou numa co -
missão de inquérito no Congresso e no pedido da UDN para
que Weiner fosse expulso do pais. Denúncias de negociatas
com o dinheiro público eram feitas contra o presidente do
Banco do Brasil, Ricardo Jafet, membro de um forte grupo em
presarial paulista e um dos financiadores da campanha elei
toral de Vargas. Esses "escândalos", como eram chamados na
...
epoca tais fatos, desgastavam progressivamente a imagem do
presidente.

Era impossivel a Getúlio manter razoáveis rela -


çoes pOliticas, ao mesmo tempo, com os grupos de centro-di
reita e os de esquerda. Como observou Octavio Ianni,

"a potZ:tic.a. de. ma.44a.4 e. um de..6dobJtame.n:to do.6


ac.on:te.c.ime.n:to.6 potZ:tic.o.6 ~ue. c.onduiiJta.m a.
Jtup:tuJta4 paJtc.iai4 e.n:tJte. a. 40c.ie.dade. uJtbano-
indu4:tJtia.t e. a. .6oc.ie.dade. :tJta.dic.iona.t jun:ta-
me.n:te. c.om 04 4i4:te.ma.6 potZ:tiC.04 e. e.c.onômi -
C.04 e.x:te.Jtno4. ( ••• ) E44a4 :te.n4Õe..6 4e. agJta. -
va.m c.om ode.4e.nJtotaJt da. pot1:tic.a de. ma.64a.4
e. do pJto~Jtama. de. indu4:tJtiatiza.ção, be.m c.omo
de. c.Jtia.çao de. nova4 c.ondi~õe.4 in4:ti:tu&onai4
paltaodue.nvolvime.n:to e.c.onomic.o inde.pe.nde.n -
:te.. ( ••• ) O c.onnJton:to e.n:tJte. 04 vã.Jtio.6 pJto j e.
:tO.6 de. de.4e.nvotvime.n:to e. de. oJtganização dõ
pode.Jt :toJtna-4e. c.Jtuc.ia.t. Em 1954 e :to:ta.t o an
:tagoni4mo e.n:tJte. 04 que. de.4e.ja.va.m o de.4e.nv07
vime.n:to in:te.Jtnac.io natiz ado ( ou a.6 4 o c.ia.do c.om
oJtganizaçõe..6 e.x:te.Jtna4) e. 04 que. pJte.:te.nde.m a
c.e.te.JtaJt o de.4e.nvotvime.n:to e.c.onômic.o inde.pe.n
de.n:te.".95 -

Além das contradições entre os dois tipos de de


senvolvimento econômico, o conflito se estebelecia no ama-
go da participação política das massas operárias e da dis-
71

posição da burguesia em nao ceder diante de suas reivindi-


caçoes. A suposição de que seria proposto, no início de
1954, um aumento de 100% para o salário mínimo desencadeou
um feroz ataque por parte dos empresários acusando GetGlio,
inclusive, de estar preparando um novo golpe para conti-
nuar no poder.

o descontentamento chegou aos quartéis; os ofi-


ciais se sentiam prejudicados com os baixos soldos e irri-
tados com a falta de equipamentos militares mais modernos
e, também, com a aproximação do governo com os sindicatos,
muitos dirigidos por lideranças comunistas.

Um manifesto assinado por oitenta e um oficiais


foi entregue ao Ministro da Guerra, General Espírito Santo
Cardoso expressando o descontentamento dos militares com a
situação. O "Memorial dos Cor~néis", como ficou conhecido
o manifesto de 08 de fevereiro de 54, além do relato deta-
lhado das dificuldades materiais sofridas pelo Exército, a
crescentava:

"O clima de negocia~a~, de~6alque~ e malve~­


~ação da~ ve~ba~ que in6elizmen~e vem,no~ úl
~imo~ ~empo~, envolvendo o pal~ e a~é me~mo
o Exê~ci~o, e~~ã, po~ ou~~o lado, a éxigi~
~õlida~ ba~~ei~a~ que lhe~ de~enham o ~~an~­
bo~damen~o den~~o da~ cla~~e~ a~mada~. ( ... )
Pe~igo~a~ ~õ pode~ão ~e~ hoje, po~~an~o, no~
meio~ mili~a~e~, a~ ~epe~cu~~õe~ que jã. ~e
p~e~~en~em e anunciam, de lei~ ou deci~u go
ve~namen~ai~ que, bene6iciando ce~~a~ cla~ 7
~e~ ou g~upo~, aca~~e~a~ão p~onunciado aumen
~o do cu~~o jã. in~upo~~ã.vel de ~oda~ a~ u~i7
lidade~" . 96

Esse documento era uma importante advertência para Var~as.

pois os oficiais. a maioria dos quais não havia, pela sua


juventude, participado de movimentos antigetulistas anterio
72

res, representavam e expressavam o descontentamento da elas

se média.

o General Espírito Santo Cardoso foi demitido do


Ministério da Guerra, assumindo a pasta o General Zenóbio
da Costa, conhecido por sua posição anticomunista.

A proposta de 100% de aumento para o salário mí-


nimo apresentada por Jango, provocou protestos gerais e Ge
túlio, tentando remediar a situação, substituiu o seu mi-
nistro do trabalho por Hugo de Farias.

Em abril, João Neves da Fontoura, ex-chance ler de


Getúlio, numa entrevista ã imprensa, afirmou que Vargas e~

taria propenso a firmar, juntamente com o presidente arge~

tino, Juan Perón e o governo chileno um pacto antinorte-a-


mericano -"o Pacto ABC" - que não chegou a se concretizar.

Enquanto a UDN tentava, em vao, conseguir do Co~

gresso o "i·mpeachment" do presidente, Getúlio, no discurso


proferido no Dia 1 9 de Maio, além de elogiar o seu ex-mi -
nistro do trabalho, anunciava o aumento de 100% para o sa-
lário mínimo e apelava dramaticamente pelo apoio da classe
operária.

A partir desses últimos acontecimentos, as coi -


sas se precipitaram e Getúlio não conseguiu, mesmo contan-
do com o apoio da classe operária - sem grande capacidade
de organização - enfrentar seus inimigos.

A morte do major Rubens Vaz repercutiu enormemen


te e os militares começaram a cogitar da deposição, ã for-
ça, do presidente.
73

Na madrugada do dia 24 de agosto, Getúlio, pera~

te seu Minist~rio reunido, concordou em licenciar-se docar


go. Zenóbio da Costa transmitiu a decisão presidencial aos
oficiais rebelados que não a aceitaram; exigiam a renúncia
de Vargas. A posição dos militares foi entregue por Zenó-
bio a Getúlio às oi to horas da manhã do dia 24 de agosto de
1954. O presidente retirou-se para seus aposentos e suici
dou-se deixando a famosa "Caltta-Te~tamerr.to".

O suicídio de Vargas provocou protestos, tumul -


tos de rua e uma tal histeria popular que os antigetulis -
tas não puderam saborear a vitória. Tudo levava a crer que
a superaçao das divergências políticas ainda demoraria.

O vice-presidente Café Filho assumiu imediatamen


te a presidência. Era um político conservador, que havia
rompido com o presidente na crise de agosto, e seu gabine-
te foi constituído por uma maioria de pOlíticos e milita -
res antigetulistas.

"Ca6~ Filho elta adepto da 'legalidade'. Ve~


de·a po~~e ele 6ez velt que corr.~ideltava ~eu
goveltrr.o como um Itegime irr.teltirr.o que tirr.ha a
Ite~porr.~abilidade pltimoltdial de corr.tirr.ualt a
e~tabilizacão ecorr.ômica e plte~idilt ã elei -
Cão de ~eu ~uce~~olt corr.~tituciorr.al".97

Em 1956, sob a proteção do Ex~rcito, tomou posse


o presidente eleito Juscelino Kubitschek de Oliveira que,
atrav~s da execução do seu Programa de Metas, promoveu uma
significativa transformação na economia brasileira: o de-
senvolvimento industrial, especialmente, foi acelerado e o
setor privado nacional e estrangeiro foram impulsionados a
investir.
74

o que distinguiria as políticas econômicas dos pr~

sidentes Vargas (1951-1954) e Juscelino (1956-1960), seria


basicamente, a transição de uma política que objetivava a
construção de um capi talismo nacional para uma política cujo
fim último era promover o desenvolvimento mesmo que depen-
dente ou associado.

3.3 A açao da Igreja: de 1945 a 1954

Se, como diz Ralph Della Cava, "foi o proftíndo v~

zio pOlítico gerado pela Revolução de 30 que transformou a


Igreja numa força social absolutamente indispensável ao pr~

cesso político"98, o Estado Novo preencheu esse vazio e li


mitou as pretensões hegemônicas da Igreja. Era ao Estado
que competia a política social, especialmente focalizada nas
camadas menos favorecidas da cidade e do campo cujo contro
le era exercido pelas oligarquias.

"Re~tava i Ig~eja apena~ a in6luineia di~e­


ta ~ob~e o apa~ato e~tatal. Cumulada de eon
ee~~õe~ e bene6Ieio~, inibe ~ua ação na ~o~
eiedade ~e~e~vando-~e p~ineipalmente ao t~a
balho t~adieional de eonve~~ão da~ elite~ e
i eon~e~vação ~itual do en~aizado ~~tema de
e~ença~ popula~e~ 60~mado e e~i~talizado no
tempo de uma ~ o eiedade agJtâJr..ia. e pa.tJúaJié.al". 99

A redemocratização em 1945, com o pluralismo pa~

tidário e a modernização crescente do país, encontrou uma. I


greja que não havia estabelecido relações orgânicas com os
segmentos mais pobres da população, urbana e rural. A soci,
edade brasileira se transformara sem que houvesse uma cor -
respondente mudança por parte da Igreja. Esse vazio permi-
tiu o crescimento do pentecostalismo, do espiritismo e da
75

penetração das idéias socialistas, ao qual se somava uma se -


ria crise de vocações. O catolicismo estava seriamente a-
meaçado de se ver isolado como um culto das elites.

Em j unho de 45 por ocas ião do fim da guerra o Car


deal D. Jaime de Barros Câmara lançou um "Ma.n-i.6e..6to a.o E-
p-i..6c.opado BlLa.6Le.e.úw" em que, entre outras coisas, dizia:

"O plLobte.ma. pot1.t-i.c.o te.m c.onc.e.ntlLa.do ne..6te..6
ütt-i.mo.6 te.mpo.6, a no.6.6a. a.te.n~ão e. 0.6 no.6.6O.6
c.u-i.da.do.6. TILa.ta-.6e. não .6Ô de. e.te.ge.1L 0.6 que.
hão de. lLe.ge.1L 0.6 de..6t-i.no.6 de..6.6a. na.~ão ,ma..6 a..{.!!:,
da, ao que. c.on.6ta., de e.ta.bolLa.1L .6ua e..6tlLutu-
lLa olLgân-i.c.a, c.onc.lLe.t-i.zada numa. Con.6t-i.tu-i.~ão
que. .6e.ja a 6ÔlLmuta. da.6 .6ua.6 te.gIt-i.ma..6 a..6p-i.-
lLa~õe..6 e. o 6undame.nto de. toda. .6ua. olLde.na.~ão
jUIL1.d-i.c.a ( ••• I. A IglLe.ja c.on.6e.lLva-.6e. 60ILa e.
ac.-i.ma. da.6 c.omee.t-i.~õe..6 palLt-i.dâlL-i.a.6 (palLa me.-
tholL ate.nde.1L a un-i.ve.lL.6al-i.da.de. e. e..6p-i.lL-i.tUa.t-i.
dade. de. .6ua m-i..6.6ão) ( ••• 1 a. a.t-i.v-i.dade. da I~
glLe.ia., .6e.mplLe. -i.nd-i.4pen.6âve.t i.6 atma.6e. i4
na~0e.4, não pode. e..6ta.1L .6uje.-i.ta. ao.6 va-i.-ve.n.6
da pot1.t-i.c.a de. palLt-i.do4 ( ••• 1 Con6-i.amo.6 que.
a4 d-i.6e.ILe.nte..6 aglLe.m-i.a~õe..6 pa.ILt-i.dâlL-i.a.6, c.on-
c.olLde.m e.m ac.a.talL a t-i.be.lLdade. da. IglLe.ja. e. a.6
1Le.-i.v-i.nd-i.c.a~õe..6 da n0.64a. c.on.6c.-i.ênc.-i.a lLe.t-i.g-i.o
.6a, que. .6ão a.6 da qua.6e. totat-i.dade. da. popu~
ta~ão".lOO

Cabe lembrar que das manifestações públicas da I


greja, as que continuavam a ganhar mais repercussão eram
as do Cardeal do Rio de Janeiro que muitas vezes falou por
si e pelo episcopado brasileiro.

A LEC ressurgia em 1945, mas sem a força que lhe


imprimira D. Leme. Os tempos eram outros, a sociedade se
transformara e a LEC mantinha, basicamente, as mesmas rei-
vindicações de 1934 acrescidas de alguns itens meio fluí -
dos como: "Legislação do trabalho inspirada nos princípios
de justiça social"; "Preservação da liberdade individual,
em face do bem comum, como base da autonomia pessoal e fa-
76

miliar". Esses itens foram extraídos do decálogo de rei -


vindicações que constituiam o programa mínimo da LEC, para
a época, apresentados por Armando Dias de Azevedo, na Re-
v~~ta Voze~.lOl Em 1950 a LEC sofreria definitivo abalo
com a candidatura de Café Filho à Vice-Presidência da RepQ
blica, uma vez que o condenara por ter sido favorável,quag
do deputado federal, ao divórcio.

o presidente Dutra fora eleito e a Constituição


de 46, norteada pelos princípios liberais, legitimou a re-
democratização. O Padre Geraldo Fernandes analisando a p~

sição ocupada pela religião nas Constituições Republicanas,


principiou afirmando que:

"( ... ) a Ig~eja Cat;l~ca, num paZ~ cat;l~co


não ~e ajoelha pa~a ped~~ p~~v~lég~o~, ela
tem d~~e~to de ex~g~~ l~be~dade de ação e
todo~ o~ me~o~ nece~~â~~o~ pa~a con~egu~~ o
~eu 6~m".

Mais adiante, criticando a Constituição de 37, depois de


reconhecer a necessidade de um Estado forte para enfrentar
o comunismo, acrescenta:

"( ... ) não comp~eendemo~ ê como um homem te


nha ~~~cado de No~~a Ca~ta Magna tudo aqu~7
lo que ~ep~e~entava o ~e~ultado de 50 ano~
de luta~ e an~e~o~ do~ catõl~co~, de~~e~ ca
tõl~co~ que con~t~tu~~am e con~t~tuem a únI
ca ba~~e~~a cont~a o comun~~mo ant~-b~a~~ -
le~~o" .

A respeito da Constituição de 18 de setembro de 1946, ob-


servou:

"a~ ~ei..v~nd~caçõe~ cat;l~cM, ~nd~~etamente,


6avo~ece~am também a toda~ a~ ~e~ta~ não-ca
tõl~ca~, po~~ não ~e concedem, em ge~al,p~I
v~lêg~o~ ou l~be~dade~ ao~ catõl~co~ ma~ ã
toda~ a~ con6~~~õe~ ~el~g~o~a~. ( ... ) ape -
~a~ da tenac~dade com que o~ ~ep~e~entante~
77

eomuni~ta~ luta~am pa~a ~up~imi~ da no~~a


Con~tituição toda a idéia ~eligio~a, o~ PO!
tulado~ da LEC, ap~e~entado~ em 1934, 6o~am
eo n6i~mado~ " .
Após a comparação entre os artigos das duas Constituições
que diziam respeito mais diretamente à Igreja, o articuli~
ta conclui pela melhoria relativa que a de 46 apresentava,
inclusive em termos de redação, em relação à de 1934 e, nu
ma nota, concluiu:
"E~~a lei eon~titueional é nova e vem ae~e~
eenta~ o nüme~o de imunidade~ eele~iã~tieaJ
~eeonheeida~ pela Con~tituição. O~ eolégio~
eatôlieo~, ~eminã~io~, ete., goza~ão também
da i~ enção de impo~to~. Não ~ e eoneede. ~en
ção de taxa~".102
No artigo do Pe. Geraldo Fernandes nota-se pouca
humildade da Igreja Católica em fase triunfalista ou apol~

gética (a Igreja Católica não se curva, tem direito de exi


tir) e a preocupaçao com a possível perda da hegemonia (co~

cessa0 de privilégios ou liberdades a todas as confissões


religiosas, isso num país católico). O comentário sobre a
Constituição de 37 deixa claro que nao houve por parte do
Estado Novo, em termos oficiais, qualquer preocupação qua~

to ã hegemonia católica. Oficiosamente, no entanto, o Es-


tado se valeu da Igreja - e ela buscou a aproximação com o
governo - para a produção, ou reprodução, de valores sociais
que interessavam a ambos.

Constitucionalmente, a posição da Igreja Católi


ca estava assegurada e ela iria continuar a colaborar com
o poder público, segundo uma linha conservadora no que di-
zia respeito ã mudança social até os anos 50, época em que a
expressão "A Revolução Brasileira" passou a ser freqüenteme~

te usada para caracterizar as transformações por que pass~


78

vam todos os setores da sociedade.

A questão catolicismo x comunismo era antiga e,


após a Segunda Guerra, iria ser reforçada já que o Brasil
combatera ao lado das democracias liberais. A chamada gue!
ra fria, que resultou do conflito mundial, justificaria p~

liticamente esse antagonismo já que o país se alinhara aos


Estados Unidos.

C. A. Barbosa de Oliveira, referindo-se a Togli~

ti, político italiano, um dos fundadores do PCI, que defe~


deu um caminho especificamente italiano pelo comunismo, es
crevia em 1945:

"P~etende e~te eomuni~ta - dizendo-~e ~e~ -


peitado~ do 4entimento eatõ~ieo, t~adieio -
nal na maio~ia do povo italiano - log~a~ u-
ma ade~ão da Ig~eja, em p~oveito do~ inte -
~e44e4 40viitie04".

Avaliando as conseqüências do rompimento da criatura com


seu Divino Criador, prosseguia o articulista:

"( ... ) eabe-n04 adve~ti~ o~ ineauto~ nao ~a


~04 levad04 pel~ inteleeluali4mo de b~ilhi
e6 ême~o ( ... ) que o valo~ da p.e~4 onaLidade
humana e da ve~dadei~a o~dem do unive~40,du
pla moçã.o ineompat1.vel eom o P4 eudo ideal de.
igualdade e 6~ate~nidade, i intei~amente u-
topieo longe do Sobe~ano Senho~".

Muito sintomaticamente, o artigo transcreve uma declaração


de um grupo de prelados norte-americanos:

"Cada dia 4e to~na mai~ evidente o 6ato de


que, no mundo pol1.tieo de amanhã, dua4 eon-
eepçõe4 de vida - amba4 60~te4 e medula~men
te antagôniea4 - vão dividi~ 04 eomp~omi~ ~
~o~ de lealdade ent~e 04 homen~ e a~ naçÕe4.
E~ta4 eoneepçõe~ 4ã.O a ve~dadei~a demoe~a -
eia e o totalita~i4mo ma~xi4ta. A demoe~a -
ei~ tem eomo aliee~ee o ~e~peito ã dignida-
79

de da pe~~oa, com o~ ~eu~ di~eito~ inviolã-


vei~ imanado~ de Veu~".103

Um dos responsiveis pelo 'intelectualismo de bri -


lho efêmero" era Alceu de Amoroso Lima que havia publicado
no Viá.~io de são Paulo, de 13 de junho de 1945, o artigo "Di.?
tinguir".

Amoroso Lima principiara o artigo dizendo:

"O cont~a4te Vemoc~acia-Comuni~mo vai ~e~ o


g~ande p~o blema da paz, como a de6~onta.ção Ve
moc~acia-Fa~ci~mo 60i o g~ande p~oblema dã
gue~~a e da Ante-Gue~~a. Vevemo4,po~tanto,ca
da vez mai4 de6ini~ a no~~a p04i~ão de catô~
lico4 e de homen4 de boa vontade em 6ace de4
4e novo dilema. ( ... ) Vemoc~acia C~i4tã pa~ã
nÔ4 e democ~acia comuni4ta pa~a quem qui~e~
4 e~ c.omuni4-ta".

Alceu propunha a conciliação de princípios e negava a vali-


da de do combate ao comunismo porque "seria um saudosismo fas
cista ou hitlerista, e trabalharia mais em favor do comunis
mo que ele próprio ( ... ) não é posição humana e, muito menos,
cristã negar a colaboração".

No artigo publicado no jornal T~ibuna da Imp~en4a,

de 10 de novembro de 1951, sob o título "A Ig~eja e o Comu-


ni~mo", Amoroso Lima dizia:

"A dou-t~ina 40cial ca-tôlica não i nem 4ocia-


li4-ta nem capi-tali4-ta. t ba~eada obje-tivamen
-te na lei na-tu~al da~ coi4a~ e na na.tWLeza. dõ
homem. 04 doi~ p~imei~o~ ~ ão ba~ eado~ numa vi
4ão 4ubje-tiva da~ coi~a~e do~ homen4. Pa~~
-tem ambo~ do pon-to de vi~-ta e de 4ua p~dje ~
~ão ~ob~e a ~ealidade. ( ... ) A dou-t~ina 40-
cial da Ig~eja 4e b~eia na ~ealidade ~ coi
4a~ ( ... ) 4e ap~oxima do~ que p~ocu~am o que
chamam de u.ma economia cien-t26ica".

De certa forma, sob motivação diferente, Amoroso


Lima adiantara, nos dois artigos citados, a percepção que a
80

Igreja teria mais tarde, quanto ã esterilidade das discus-


sões ao nível dos sistemas uma vez que estes se referem a
meras abstrações. Na década de 70, Pe. Fernandos Bastos de

Ávila diria:
"Queb~amo~lança~ inve~tindo eont~a moinho~
de vento, ~em
no~ da~ eonta de que lutamo~
po~ mito~, quando e~itieamo~ ou. de6 endemo~ o
eapitali~mo b~a~ilei~o. Aeendemo~ ineindio~
de paixõe~ e~tê~ei~ quando no~ ~e6e~imo~ ao
~oeiali~mo eomo ao ~i~tema adequado ao B~a
~il, ã Alemanha ou ã~ Repúbliea~ A6~ieana~
( ... ), e~emo~ que a mi~~ão e~Itiea da Ig~e­
ja ~e exe~ee de modo pe~manente, ao nZvel
do~ modelo~ e ao n1vel do~ p~oee~~o~.Vo~ mo
delo~, ~egundo o~ quai~ ~e p~etende eon6ig~
~a~ a~ e~t~u.tu.~a~ ~oeiai~. Vo~ p~oee~~o~,~e
gundo o~ ~uai~ ~e p~etende eon~egui~ a im ~
plementaçao do~ modelo~".104

o cancelamento do registro do PCB, em 1947, e a


cassaçao dos deputados eleitos pelo partido não arrefece -
ram os temores da hierarquia eclesiástica brasileira. Dois
anos depois, os comunistas eram vistos como mais perigosos
ainda por se infiltrarem em algumas "instituições, aparen-
temente inócuas, porém mais do que tendenciosas, na prepa-
ração do domínio comunista". Da enumeração dessas insti-
tuições destaquei os Congressos pró-paz por me parecerem
bastante expressivos do pensamento de D. Jaime:

"O~ Cong~e4~0~ p~;-paz, eom alieiamento ~u­


ee~~ivp de vã~io~ ~eto~e~ de n04~a vida ~o­
eial. ( ... ) A moeidade inexpe~iente e a~do­
~o~a ê pa~a ele~ exeelente eampo de ação.A~
~ebanham-no~ dent~e toda~ a~ eondiçôe~ e d.cii
mai4 dive~~~ atividade~ ~ee~eativa~, e~eo­
la~e~, teat~ai~, e~po~tiva~, eomo, po~ exem
plo elube~ hu.milde~ de ~apaze~ do~ bai~~o~~
onde ele~ exe~eitam o 6utebol e o voleibol.
Pe~~oa~ in6luente~, inteleetuai~, polZtieo~,
e~e~ito~e~, a~ti~ta~, o~ganizam eong~e~~o~
de tema~ apaixonante~ que te~minem eom a in
te~v~nção do~ Pod~~e~ Públieo~, o~ quai~~
po~ -<.~~o me~mo, ~ao ao dupltezo po
apontado~
pula~, eom evidente de~p~e~tZgio pa~a a Au~
81

to~idade legitimamente con~tituZda".105

A guerra fria fez com que o comunismo fosse um i


nimigo de presença marcante fora e dentro do país, expIo -
rando a sociedade que era ~ considerada, do ponto de vista
católico, "anarquizada" por falta de normas que regessem a
própria organização da economia. A hierarquia eclesiisti-

ca não conseguia perceber a luta de classes como um proce~

so comum numa sociedade que se desenvolvia dividida em clas-


ses. Por isso, a hostilidade ao comunismo se revestia de
crítica moralista da própria situação que era seu "caldo de
cultura". A carta pastoral "Não T~an~igDl" é um bom exem-
pIo:

"Bem ~a.bemo~ que, ~e o comuni~mo eyt>co~ am


biente p~a ~ua ne6anda p~oli6e~ação, toda~
via não lhe cabe exclu~ivamente a ~e~pon~a­
bilidade da ~ituação atual. Out'JLa.,6 c.a.u6M têm
~ido jã. denunciada~ em no~~a~ pa~to~ai~ an-
te~io~e~. Não é mi~te~ ago~a ~epeti~ quanto
cont~ibuem, pa~a o gene~alizado e~pZ~ito de
~evolta, a~ inju~tiça~ e venalidade~, o ego
Z~mo e a de~en6~eada bu~ca. de ~iqueza,o a~
ba.6taJr.dame.ntD de ca~ã.te~ de ce~to~ che6 e~, a
joga.tina. e imo~alidade, a. decadência na edu
cação 6a.milia~ e colegial, o de~ca~o pela~
cau~a~ p~blica~, a~ ~~aude~ e o cambio ne-
g~o, I plLoh dolo~ I ate em ~ac~i~tia~. ( ... )
Sim, não t~an~igi~ com o~ comuni~ta~, poi~
quem tal 6ize~ to~na~~~e-ã. c~mplice de 6utu
~a~ de~glLaça.6 em no~~a e~tlLemecida Pãvúa".!"'06

g bem verdade que os Papas, desde Leão XIII,viâm


com alguma desconfiança o capitalismo e, coerentemente, a
hierarquia brasileira, segundo a boa tradição romana, cri-
ticavam de forma indireta o capitalismo sem se dirigirem ã
própria natureza do sistema. O que a Igreja criticava era
o direito sem limites ã propriedade privada; o pior do ca-
pitalismo nao estava na desigualdade da distribuição dos
82

frutos da economia. Exemplo da posição da Igreja, quanto


ao capitalismo, era "Exame. de. Con-6c.iênc.ia", Sétima Carta Pas
toral de D. Jaime:

"Ve.pa~amo-6 ~ c.e.~to c.om de.-6igualdade.-6 c.hocan


te.-6 na vida e.conômic.a: de. um lado o e.-6banja
me.nto, de. out~o a mi-6~~ia; I ... I la-6tima ~
ve.lme.nte. ~ de.-6me.dida a ganânc.ia que. mane.ja
o c.apital, como, po~ e.xe.mplo, no p~oble.ma de.
habitação )?Ma a-6 c.la-6 -6 e.-6 m~dia e. pob~e. I ... I
Tudo i-6-6o ~ de.te.-6táve.l. Ma-6 a ~~ande. c.ai~e.,
a ve.~dade.i~a a ue. e.x lica to a-6 a-6 o~,
e. a e.-6p~~~tua Se.ja a out~~na o
vange.lho a o~ie.ntado~a de. vO-6~a-6 açõe.-6,- e.-6-
-6a palav~a de. -6abe.do~ia divina que. e.n-6ina
0-6 ~icO-6 a -6e. te.~e.m mai-6 como admini-6t~ado­
~e.-6 de. -6e.U-6 be.n-6, do que. como p~op~ie.tá~io-6
ab-6 oluto.6. I ... I Ei-6 po~q ue. v 0-6 c.o nc.itam 0.6 ,
6ilho-6 nO.6-6O-6 muito amado.6, a não pe~de.~de..6
a vi.6ão -6ob~e.natu~al de. VO-6.6a e.xi.6tênúa nu
.6e. mundo, me..6mo nadando e.m opulênc.ia. I07
(os grifos são meus).
Sob a ótica da Igreja, por motivos diferentes,tan-
to o capitalismo liberal como o comunismo, colocavam a re-
ligião em perigo, mas as críticas ao primeiro e o combate
ao segundo eram norteados por uma pOlítica própria daÍ,tal
vez, a dificuldade em definir o que a hierarquia eclesiás-
tica entendia por "justiça social".

À expansão do PCB após a guerra, segundo a Igre-


ja, correspondia a decadência da cultura católica e dos va
lores tradicionais. Torriava-se perceptível a neces~idade

da instituição se implantar mais firmemente na sociedade.


A resposta da Igreja iria seguir duas direções diferentes:
a dos tradicionistas que prefiriam a repressao ao comunis-
mo e manutenção do "status quo" da sociedade, e a da fra-
ção do clero mais favorável i doutrina social da Igreja.
Esses últimos não hostilizavam tanto os comunistas porque
concordavam, não com a sua ideologia, mas com a percepçao
83

de que havia necessidade de maior mudança social.

o Pe. Luís do Amaral.Mousinho foi um dos repre -


sentantes dessa parte do clero mais "progressista", levan-
do-se em conta a época. No artigo "P~op~~edade P~~vada e
JU.6t~ç.a Soc.~al", discute a questão da justiça social den -
tro do sistema capitalista considerando que muitas verda -
des foram inseridas no programa econômico-social comunis -
ta. Sem se desviar dos ensinamentos pontifícios (Leão XIII
e, principalmente, Pio XI e Pio XII), Pe. Mousinho formu -
lou os Postulados da Justiça Social:

"A jU.6tiç.a .6oc.~al ex~ge .6eja 6ac.~l~tado e


P~Opo~c.~onado o ac.e.6.6o, a todo.6 0.6 homen.6 de
toda.6 a.6 c.la.6.6e.6, ã pO.6.6e da p~op~~eda.de pa~
t~c.~la~ ou p~~vada e aou.6O da me.6ma. Ex~g~
e.6ta jU.6t~ç.a que, .6endo o t~abalho o me~o
hojeno~mal de ac.e.6.6Q ã p~op~~edade,e.6te tIu:l
balho não 6alte a nenhum homem vãl~do - em
c.a.6 o 6o~tu~to de de.6 emp~eg o, o ·t~aba.thado~
deve .6 e~ ec.onom~c.amente a.6.6~.6t~do. Que o c.~~
tê~~o de ~emune~aç.ão do t~abalhado~ não .6e~
ja apena.6 o .6eu valo~ ec.onôm~c.o, ma.6 tambêm
e p~~nc.~palmente a .6 ua d~g n~dade humana... (. •• )
Como c.o~olã~~o, ac.on.6elha a jU.6~ç.a .6oc.~al
que o atual ~eg~me de .6 ala~~ato .6 ej a ao.6 pou
C.O.6 t~an.660~mado ou tempe~ado pelo c.ont~ato
da .6oc.~edade, de mane~~a tal que o ~ pw
letã~~o pO.6.6a to~na~-.6e pequeno ~nte~e.6.6adõ
não .6omente no.6 luc.~o.6 ma.6 tambêm,.6alva~ a.6
P~oRo~ç.õe.6. na p~õp~~a ge~ênc.~a e na pO.6.6e
ju~Zd~c.a da me.6ma".108

Um outro artigo do Pe. Mousinho, intitulado "A


Ig~eja e o Co~po~at~v~.6mo", confirma, a meu ver, a existên
cia de um pensar mais avançado de parte do clero católico
em termos de doutrina social:

"( ..• ) a.6.6~m c.omo a IgJr..eja ~epdta a luta de


c.la.6.6 e.6, . a.6.6~m tambêm ~ep~ova 0.6 6a:to~ de.6
.6a luta: o Cap~tal~.6mo c.omo 6~lo.606~a eat~o
nal e o Ma~x~.6mo c.omo 6~lo.606~a p~oleta~,[a.
84

Ta.nto o m-ito do ouJto c.omo o da. Jtevofuçã.o -6ã.o


do-i-6 a.bu-6o-6, a.mbo-6 c.Jt-im-ino-6o-6, da. l-ibeJtda.de
huma.na. I ... ) Sem oJtdem e d-i-6c.-ipt-ina. c.oJtpo -
Jta.t-iva. que -iJtma.ne e JtepJt-ima. 0-6 exc.e-6-6O-6 queJt
do Ca.p-ita.l, queJt do TJta.ba.tho, 6-ic.a.Jtã nO-6-6a.
ec.onom-ia. ã meJtc.ê da.-6 c.Jt-i-6e-6 da. -in6Jta. e -6U-
peJt-pJtodução, ã meJtc.ê da. ga.nânc.-ia. e da. c.on-
c.oJtJtênc.-ia. de-6en6Jtea.da.,6,ã meJtc.ê dO-6 tuba.Jtõe-6
eda.-6 Jtevotta.-6 da.-6 ma.-6-6a.-6, -6em de6e-6a., 06e-
Jt e c. end o b a.-6 e p-6 -i c.o lô 9 -i c. a. pa.Jta. a. a.c.ú:ta.ção do
c.omun-i-6mo -inteJtna.c.-iona.l".109 (os grifos são
do autor).

Esse dualismo do modo de pensar católico gerou


uma crise decorrente "do colapso que durou uma década (de
1942 a 1952), da liderança da Igreja em termos de seus qu~

dros e organizações". 110 ~ preciso levar em conta que no


final da década de 40 a sociedade brasileira começara a se
modernizar e D. Jaime não possuia as características pes-
soais necessárias para aglutinar e articular a hierarquia,
os intelectuais católicos e a sociedade como um todo.

A crise de vocações que crescera no final dos a-


nos 40 e início dos anos 50 era outro problema sério que a
Igreja teria qúe enfrentar na qualidade de instituição ba-
sicamente clerical. Era, e ainda é, através do sacerdócio
que se abria

"uma. va.-6ta. ga.ma. de pa.pe-i-6 -in-6t-ituc.-iona.-i-6 -<.m


poJtta.nte-6, ta.-i-6 c.omo: lZdeJt do c.ulto, -6Zmbõ
lo do podeJt e da. -in61üênc.~a. da. IgJteja., o a.~
gen:te bUJtoc.Jtã.:t~c.o, ~n-:eeJtmed~ãJt~o enfte a. c.l~
en:tela. e a. a.u:toJt~da.de, ~deõlogo Jtec.Jtuta.doi
de pJto-6~l~:to-6 ••• Ã ma.nutenção do·-6a.c.eJtdõc.~o
e éJtuc.~a.l pa.Jta. a. -6obJtev~vênc.~a. n~eJtãJtqú~c.a.
da. pJtõpJt~a. IgJteja., e e a.tJta.ve-6 da., 'voc.a.-
çõe-6' que ela. -6e Jta.ba.-6tec.e de podeJte-6 e Jte-
c.Jt uta. n o v 0-6 " • 1 1 1

No início da República, além dos padres estran -


geiros, principalmente italianos e alemães, vindos com a
imigração maciça, os sacerdotes brasileiros eram poucos e,
85

de um modo geral, provenientes de uma determinada camada so


cial. Eram filhos das famílias mais abastadas da socieda-
de urbana e das famílias representantes da aristocracia r~
ral porque a formação de um pad~e demandava um custo alto,
pois os cursos nos seminarios eram bastante caros.

A modernização da sociedade fez com que os jo-


vens fossem atraídos para uma variedade bem maior de opções
em termos ocupacionais e alguns filhos das tradicionais o-
ligarquias rurais sentiam-se "vocacionados" em outras dire
çoes que nao o sacerdócio.

Após a guerra, em coerência com a ligação cada


vez maior do país aos Estados Unidos, principiaram a che-
gar os padres americanos que a guerra havia retirado das
missões na Ásia e aos quais se somaram os seminaristas me-
xicanos "treinados" em massa no Texas e os missionarios es
pecialmente preparados para a América Latina. Esses reli-
giosos americanos que vieram à América Latina iriam se con
centrar especialmente no Brasil, Porto Rico e Cuba,onde h~

via maior concentração do protestantismo de massas.

Em 1946, a vinda consideravel de religiosos ame-


ricanos vieram também mulheres - ao Brasil era uma tenta
tiva de solucionar o problema gerado pela falta de sacerdo
teso ~ oportuno lembrar que o aumento do número de reli -
giosos católicos significava engrossar as fileiras capazes
de enfrentar, além do pentecosta1ismo, o protestantismo, o
umbandismo e a infiltração comunista que tendiam a um cres
cimento cada vez maior na medida em que a industrialização
atraía para as cidades o homem do campo. Esse homem egre~
86

so do meio rural seria, via de regra, mais um operário que


pelas próprias condições geradas pela migração - dificuld!
de de adaptação, necessidades materiais e carências afeti-
vas - era um alvo fácil para os diferentes proselitismos.

Os Círculos Operários Católicos que haviam sido


apoiados por Vargas como um recurso para manter a força o-
perária dentro dos limites definidos pelo Estado Novo, de-
pois da guerra nao conseguiram acompanhar a rapidez das mu
danças sociais.

"O Mov..i.mento OpeJt.ã.Jt...i.o Ca.tôl..i.c.o c.ont..i.nua.va. a.


ma.Jt.Jt.a.do a. uma. ..i.deolog..i.a. 60Jt.a. de moda. e .umã
oJt.ga.n..i.za.ção que 6Jt.a.c.a.~~ou em a.da.pta.Jt.-~e a.
uma. ~oc...i.eda.de ma...i.~ d..i.nâm..i.c.a., c.omplexa. e oJt...i.
enta.da. pa.Jt.a. o de~envolv..i.mento e 60..i. ..i.nc.a.pa.z
de c.ompet..i.Jt. c.om a.~ nova.~ ex..i.gênc...i.a.~ e a. no-
va. m..i.l..i.tânc...i.a. da. c.la.~~e tJt.a.ba.lha.doJt.a. bJt.a.~..i.­
le..i.Jt.a.. Qu.a.ndo uma. tenta.t..i.va. de Jt.e60Jt.ma. 60..i.
6..i.na.lmente u~a.da. pelo~ CZJt.c.ulo~, 60..i. a.fena.~
pa.Jt.c...i.a.l e c.hegou ta.lvez ta.Jt.de dema...i.~". 12

A Igreja Católica, que não estabelecera uma inte


raçao efetiva entre a hierarquia, os intelectuais e as mas
sas populares, necessitava criar condições para opor resi~

tência às ideologias rivais que se infiltravam, principal-


mente, no operariado urbano.

o crescimento excepcional do pentecostismo,da u~

banda e do espiritismo coincidiu com as migrações internas


e com a urbanização, decorrentes do processo de industria-
lização.

Emílio Willens, em "FolloweJt.~ 06 the New. Fa...i.t h " ,


citado por Márcio Moreira Alves, detectou nas três princi-
pais funções dessas "religiões de massa" a causa do seu su
cesso: a de curar, a de reconstruir a comunidade que cada
87

indivíduo perde ao migrar para as cidades e a de subverter


simbolicamente a estrutura tradicional do poder.

"E~~a~ ~eita~ 'eoloeam' a t&niea ~ob~e a i-


gualdade ~oeial, negando a~~im a t~adieio -
nal e~t~utu~a de ela~~e. E~eolhem uma teo-
logia ~ue pode p~e~eindi~ do monopólio da
~alvaçao da Ig~eja Católiea e da hie~a~quia
~aee~dotal que ~ eon~ide~ada, eom ou ~em ~a
zão, eomo um pila~ da ~oeiedade t~adieio
nal" . 11 3

Também apoiado em Willens, Ralph Della Cava é da


mesma opinião quanto aos fatores que levaram ao crescimen-
to do pentecostalismo no Brasil e observou que esse proce~

so de conversão, "entre migrantes nordestinos analfabetos e


pobres, ocorre 'espontaneamente', sem ajuda (e sem impedi-
mento) de patrões, burocratas ou intelectuais".114

A possibilidade oferecida aos fiéis de se coloca


rem em contacto ~essoal com o Espírito Santo de onde par-
tem, unicamente, as decisões, faz com que se separem do co
mum dos mortais. Constituem grupos nacionais, extremamen-
te fechados, cujo autoritarismo dos líderes e aceito pelo
próprio tipo de adesão que é exigido aos fiéis.

Era natural que a Igreja Católica se afligisse


com o rápido desenvolvimento do pentecostalismo que

"~e devia, ent~e out~o~, a e~te~ 6ato~e~:ao


e~plAito e~~eneialmente p~o~eliti~ta (pa~a
não dize~ logo 6anati~mo); ao ea~ite~
ilumi
ni~ta da ~eita; a p~open~ão do povo ~ eoI
~a~ ext~ao~dinã~ia~ e mi~te~o~a~, mixime
quando mani6e~tada~ ~en~ivelmente; ã 6~ieza
do eulto p~ote~tante; a igno~âneia ~eligio­
~a me~mo ent~e muito~ e~ente~; ã p~itiea di
zimi~ta,_bem gene~alizada ent~e o~ penteeoJ
ti~ta~; a 6aeilidade de o~dena~ p~to~e~ e
88

d.iJt.ig ente~ do c.u.tto J ~ em e~tudo.6 teo.tãg.ic.o~;


ã paJtte at.iva que a~ mu.theJte~ tomam no mov.i
mento. ( .•. 1 Não há dúv.ida, o pentec.o~ta.t.i~
mo, paJta u~aJt de uma c.ompaJta~ão 6am.i.t.iaJt ã
c.eJtto~ me.io~ evangê.t.ic.o~ do paZ.6, ê 't.iJt.iJt.i
c.a ' Que medJta, .in6e.t.izmente, em nO.6.6a teJt~
Jta" . rIS

Talvez porque nao houvesse, ainda, por parte dos


religiosos a preocupaçao com estudos de Sociologia, a Igr~

ja deixava de lado as causas sociais que contribuiram para


a expansao das chamadas "religião de massa".

o espiritismo e os cultos afro-brasileiros tam -


bém cresceram mas não se constituiram, para o catolicismo
brasileiro, em ameaças tão fortes quanto o pentecostismo.
Os seguidores de Alan Kardec, de um modo geral, não consi-
deravam a sua pratica religiosa contraditória ao catolicis
mo. A umbanda, com influências do kardecismo, de certa fo!
ma compartilhava das concepções éticas cristãs. O umban -
dismo tinha que se adaptar a ·uma sociedade mais aberta a in
fluências européias e, por conseguinte, se distanciava de
identidades culturais com a África.

Parece-me que a preocupaçao de Frei Boaventura


Floppenburg quanto ao crescimento do espiritismo era vali-
da - de 75.149, em 1940, no Distrito Federal, o n 9 de espi
ritas crescera, pelo censo de 1950, para 123.775 - mas nao
encontrei uma consistência maior quanto às suas causas e,
principalmente, quanto à maneira de deter racionalmente es
se desenvolvimento no qual ele via mais uma ameaça à Igre-
ja Católica enquanto instituição, que uma ameaça à doutri-
na cristã.
89

Dos exemplos colhidos ao acaso é ele quem o


diz - por Frei Boaventura, no Diário Oficial de agosto de
1951, destaquei um que julgo suficiente para justificar nos
so pensamento a respeito do assunto:

"Cong~egaçio E~pl~i~a Ma~ia do~ Anjo~. Tem


po~ 6im: o melho~amento mo~al do~ no~~o~ a!
~oc.i..ado~ pelo e~tudo teó~ico e expe~imental,
p~opagando po~ toda~ a~ 6o~m~ e meio~ po~­
~lvei~ a Vout~ina E~pl~ita, vi~ando alcan-
ça~ o pe~6eito conhecimento da Vout~ina e
na p~ãtica do Bem e da Ca~idade, ~egundo a
mo~al c~i~ti contida no Evangelho de Je~u~,
o C~i~to de Veu~".

Páginas depois, o "cruzado" contra o espiritismo, mostran-


do como este se apresentava, o que não passava,segundo ele,
de "uma desleal propaganda" diz:

"( ... )o~ e~pl~ita~ ~e ap~e~entam como cató


lico~ c~i~tio~. O E~pi~iti~mo nio é ~eli~
e
gião; é apena~ uma ciência que e~tuda o mun
do do~ e~pl~ito~ e a natu~eza do~ 6enômenoh
mediúnico~. ( ... ) o católico, pa~a ~e~ e~pl
~i~a nã.o p~eci~a deixa~ de ~~ catõUCO".1l6 -

Peter H. Frey e Gary Nigel Howe sintetizaram num


quadro as diferenças mais salientes entre a umbanda e o
pentecostismo que justificam, creio, a minha posição quan-
to ao maior ou menor grau de ameaças que essas seitas fa-
zem ao catolicismo como religião institucionalizada.
90

Umbanda Pentecostalismo

· entidades espirituais múl- divindade única;


tiplas; · sistema de crenças unifi
· sistema de crenças ecléti- cado;
co; · organizações maiores e
estruturadas;
· pequenos grupos aut5nomos
e fluídos; . federações fortes;
· federações fracas; · universo percebido como
sendo "racional" e gove!.
· uni verso ~ercebido como sen nado por regras.
do arbitrário e manipulá:
velo 117

Ralph Della Cava observou que

"o e~e6eimen~0 6u~u~0 de~6e~ e~ed06 al~e~na


~ivo~ pa~eee a~~egu~ado, a longo p~azo, po~
doi~ pode~o~o~ eomp~omi~~o~ in~~i~ueionai~:
a ob~igação eon~~i~ueional do E~~ado b~a6i­
lei~o de 6aze~ vigo~a~ a ~ole~âneia ~eligio
~a e a p~ome~~a p~ê-eoneilia~ da Santa sê de
p~omove~ a eau~a do eeumeni~mo".118

Márcio Moreiri Alves acrescentou uma nova ameaça i Igreja


Católica, a partir dos anos 50:

"a ~ee(Lla~ização de uma nova eli~e 6a6eina-


da pela ~eenoe~aeia. E6~a~ eli~e~ ~eenoe~ã­
~iea6 ~êm apena6 indi6e~ença po~ e~ença~ ~e
ligio~a6 que ~ão e~~~anha6 a06 valo~e~ que
eon~ide~am 6undamen~ai6: o p~agma~i~mo e a
~aeionalidade".119

Ao final da década de 40, a Igreja Católica no


Brasil sentiu que nao podia continuar a repetir as fórmu -
las já gastas tanto na doutrina como na prática pastoral.
Urgia pensar-se a si mesma em termos de sua especificidade,
pois o repetir das verdades emanadas do Vaticano de Pio XII
apenas trazia para a instituição .católica uma estagnação
que não condizia com a dinâmica da sociedade que se moder-
91

nizava. ~ preciso lembrar que a posição da Igreja era com


patível com a indiferença do governo Dutra em relação aos
problemas sociais que fermentavam, principalmente, entre as

camadas mais pobres.

À preocupação do governo com a preservaçao da mo

ral familiar, por exemplo, correspondia candidamente o ap~

lo dos bispos de São Paulo ao Presidente da República:

"Julgamo~ do no~~o deve~ leva~ a V. Exeia.a


no~~a men~agem d~ aplau~o pela~ mani6e~ta -
ç.õe~ pat~iótiea~ da ~o.Lida~iedade de. V.Exúa.
eom a eon~eiê.neia eatõUea b~a~ilei~a. ( ... I
Fazendo intei~a ju~tiç.a ã pe~ene vigilâ.neia
do no~~o gove~no, ap~e~entamo~ igualmente um
~e~peito~o apelo pa~a uma de6e~a mai~ gene-
~alizada, adequada e u~gente, eont~a a~ a-
meaç.a~ que pa.i~am ~ob~e o paZ~. Cone~eti­
zam-~e tai~ ameaç.a~, também, na eampanha do
einema imoAal e eo~~upto~, da ~.!l.4CÜo6~ã.o eo~­
~uptõ~a e di~~olvente e da·imp~en~a ou lite
~atu~a di~~olv~nte e demolido~a, que ~ola ~
pam di~eta ou indi~etamente o~ 6undamento~
ba~ila~e~ da 6amZlia b~a~ilei~a, pat~imônio
m~ximo da naeionalidade".120

Talvez por falta de liderança como a de D. Leme,

"eada bi~po 'vivia i~oladQ em ~ua dioee~e,


mai~ ou 'meno~ de~ligado do que ~e pa.6~ava na
de ~eu vizinho, e ge~almente ~em eondiç.õe~
de ~abe~ do~ p~oblema~ e ~umo~ que ma.eavam
a Ig~eja no B~a~il".121

Além disso, a ACB havia caído em profundo marasmo.

Em termos eleitorais, em 1950, a atuação da Igr~

ja através da LEC se enfraquecera por vários motivos entre


os quais estavam a própria mudança da sociedade brasileira
e a formação do Partido Democrata Cristão (PDC) , em 1948.
A Igreja, no entanto, não se omitiu e na mensagem de 22 de
junho de 1950, tornou público o que consideram ser o dever
eleitoral do c~t61ico e, entre outras coisas, recomendava:
92

"Vada a g~ande impo~tancia que a lei eleito


~al con6e~e ã legenda pa~tidâ~ia cump~e que
o eleito~ examine o p~og~ama do pa~tido. t
mi~te~ que o pa~tido não continha, em ~eu
p~og~ama, p~incZpio~ cont~â~io~ ã~ t~adici~
nai~ ~eivindicaç.õ e.6 da LEC (a men~ ag em M ~e
peteJ ( .•. J t da maio~ impo~tancia que e~~e
conceito (o da p~op~iedade p~ivada com 6un-
ç.ão ~ocialJ não ~064a de60~maç.;e.6 de modo a
6avo~ece~ aç.ão inva.6o~a e ab~o~vente do E~­
tado na vida econômica, con~oante ce~ta dou
t~ina ~ociali.6ta". 122

A mensagem termina lembrando que em matéria de


ensino, assistência, etc., a ação do Estado é supletiva e
lembrando, também, a validade da existência de sindicatos
livres e autônomos.

Como acontecera nos países europeus de tradição


católica, foi criado no Brasil, em 1945, o PDC que entre
nós não chegou a se const i tui r, como na Europa, "num dos in~

trumentos de importância estratégica para organizar a von-


tade política da sociedade civil católica".123 O PDC brasi
leiro surgiu ligado ao clero e foi presidido nos primeiros
anos por Monsenhor Arruda Câmara. Ralph Della Cava acre~

centa que a parte do clero ligada ao partido não era a mais


"vinculada às políticas a nível local e estadual".121t

Nas cidades, principalmente entre os jovens in -


fluenciados pela temática do "maritarismo" a respeito de
progresso, catolicismo e democracia, o PDC conseguiu ~onsi

deráveis adesões. O eleitorado urbano ansiava

"po~uma ~elativa di6e~enciaç.ão ideológica,


e po~ alguma 6lexibilidade, na opo~iç.ão ge-
~al ao~ g~ande.6 ~a~tido.6 ~adicionai.6 e mo-
nopolizado~e.6 clâ.6.6ico.6 do jogo pol1tico na
cional. ~e.6.6a linha, que co~~e.6ponde, po~ e
xemplo, a do ~ec~utamento da maio~ia do.6 .6e.ü6
candidato.6, no.6 pleito~ de 50 e 54, domina-
~ia uma p~egaç.ão mo~ali.6ta e de legitimaç.ão
93

da~ po~içce~ de me~a hone~tidade e pu~eza


de p~opo~~to - a~ veze~ me~amente ind~eati
va~ da ma~ ~nalZdade de dete~mZnada~ ela~-
175

As eleições municipais de 1948 demonstraram a


procedência da observação de Cândido Mendes quanto ã pou-
ca possibilidade de penetração do PDC, a epoca. Num Qua-
dro transcrito por Luís W. Vianna fica evidenciada a pou-
ca penetração do partido e essa pouca penetração concen -
126
trada no rico Estado de São Pau10.

o PDC nao contou com o apoio generalizado entre


o episcopado nacional por diferentes razões, entre as quais
estavam: o receio de terem suas posições comprometidas, a
convicção de que a Igreja devia manter-se neutra em re1a-
çao ã política partidária, a necessidade de evitar a div!
sao ideológica entre os semi-progressistas (pró- Maritain a
quem o partido era assoc~ado) e os seus contrários. Amai
oria dos bispos era conservadora e preferia manter-se fiel
à estratégia da LEC, na época das eleições, e à sua táti-
ca de trabalho pessoal junto aos políticos para resolver
os problemas que surgissem.

A modificação na conduta política da Igreja vi-


ria de parte da hierarquia preocupada com a eficácia da
instituição num país que se modernizava e, por conseqüên-
cia, os católicos, mobilizados pela expansão do capitali~
mo industrial, se politizavam e, em certo grau, se torna--
vam reivindicativos sendo disputados por correntes ideoló
gicas de caráter profano ou religioso. Nessa ala da hie-
rarquia católica destacou-se a figura de D. He1der Câmara
94

que em 47 fora nomeado ass istente nac ional da ACB e em 195 O


tornara-se bispo auxiliar do Rio de Janeiro.

D. Helder nasceu no Nordeste brasileiro, em feve


reiro de 1909, e veio morar no Rio em 1936. Aqui, na capi
"
tal do paIS, o padre Helder teve a percepçao do que era o
Brasil ao entrar em contacto com a maneira sub-humana em
que sobreviviam os migrantes nordestinos e de outras áreas
subdesenvolvidas da região central do país. Esses migran-
tes viviam amontoados em favelas, muitos sem trabalho, fa-
zendo parte de uma engrenagem social injusta. o Rio era
todo o país, com seus contrastes, conflitos latentes, mis6
ria e progresso.

Em 1970, Alceu de Amoroso Lima daria seu testemu


nho emocionado, mas nem por isso menos válido, sobre a peE
sonalidade impar desse prelado.

"V. HeLde~, a~cebi~po de·OLinda e Reci6e,no


entanto, go~ta de ~e~ con~ide~ado ~impLe~ -
mente como um pad~e. ELe é ante~ de quaL-
que~ out~a coi~a, um homem de Veu~, do C~i~
~o, da Ig~eja. Um homem do Pob~e também, cõ
mo S. F~anci~co de A~~i~. -
Ma~ um S. F~anci~co do mundo mode~no,da e~a
tecnoLógica e do~ p~obLema~ mai~ e6e~ve~cen
te~ de~te ~ éculo XX. A vocação .6ace~do:ta.L áo
Pad~e HeLde~ câma~a é in~epa~ãveL de ~ua vo
caçio ~ociaL. E a~ dua~ da ~ua p~óp~ia con=
dição humana. I ... I E.6ta con6ial1ça na P~ovi
dência é o ~entimento de ~eu deve~ de~~ e
de p~ticipa~ do~ e~ 6o~ç'o~ humano~, ~ua~ do
~e~ e aLeg~ia~. ( ... I .6 eu~ útlmigo~ não com
p~eendem ou ~ão que~em comp~eende~ a apa~en
te cont~adiçao ent~e a mai~ pu~a e~pi~itua~
Lidade e a mai~ conc~eta da~ mal1ei~a~ de a
gi~".127

Ainda sobre D. Helder,

"é di6ZciL avaLia~ a e~tatu~a de homem em


vida, ma~ não ~e~ta duvida que,V. HeLde~ 6az
95

pa~ eom Ge:túl~o, eomo lZde~ eon~umado. Ao


lado de A~eove~de e Leme, pe~6e~:to~ h~e~a~­
ea~ e~:tã en:t~e o~ ma~o~e~ llde~e~ ~el~g~o-
~o~
,
no .o
B~a~~~
d o~ u~
- 0:t ~mo~
. eem ano~
". 12 8

A estrutura da ACB precisava ser revista e com


tal propósito se reuniu em 1950, no Rio de Janeiro, o Con-
gresso Nacional da AC. Esse importante setor do laicato

precisava ser dinamizado, precisava de novos programas que,


menos teóricos, representassem a compreensão

"en:t~e o eonhee~men:to do que ~eja a AC e a


p~ã:t~ea da v~da, o ':te~~a.-:te~~a' de quem lu
:ta eã em ba~xo no ã~duo eampo do apo~:tolado
eo:t~d~ano".129

Diante das conjunturas do país, a ACB deveria visar

"ma~o~ ~en~o e e6~eiinei4 p~ã:tiea, maio~ u-


niio de e~6o~ço~ e pon:to~ de vi~:ta~ e maio~
ap~ovei:tamento da~ 6o~ça.~ ea:tõliea~ ex~~:ten
:te~ na nação in:tei~a. ( ... ) ~e~ia de de~e ~
ja1 um ~õ p~og~ama., enea~ado e adap:tado de
modo di6e~en:te, o~ganizado em :tQ~no de um
me~mo obje:tivo, po~ :todo~ o~ ~e:to~e~ de uma
me~ma o~ganizaçio. A~~im pode~ia.m da~ ã LOC
e ã lOC uma me~ma di~~çio no~ e~:tudo~ e a:ti
vidade~ :tendo eada uma a~ adap:taçõe~ neee~7
~ ã~ia.~ " . 1 3 o

A mesma proposta seria válida para as demais organizações


-
ligadas a AC.

Era importante convocar os leigos para atuarem


como cristãos nos meios onde trabalhavam, estudavam, viviam,
numa verdadeira estratégia de reconquista. Era fundamen -
tal mobilizar os católicos organizando suas ações de forma
a atingir todos os setores da sociedade. Os militares ca-
tólicos, recrutados no seu próprio meio social e subordin~
dos ã hierarquia, atuariam dentro e de dentro desse meio.
96

~ oportuno lembrar que o padrão de política mais

comum era o populismo que, grosso modo, pode ser conceitua

do como o sistema em que uma figura demagógica estabelece

relação direta com as massas populares, sem a mediação de

ideologia e cuja força consiste em prometer pão em troca de

votos. ~esse sistema, a Igreja não tinha grandes chances.

Ao mesmo tempo que se preocupava com a reformul~

çao de seus projetos e m~todos pastorais em relação ao ca-

tolicismo urbano, a Igreja não podia perder de vista as mas

sas rurais, onde as condições de manter a hegemonia ideoló

gica eram bem maiores.

Em 194~ o PCB voltara à ilegalidade e as manife~

tações de massa, bem como as reivindicações sindicais, pa~

saram a ser violentamente reprimidas. Essa repressão ati~

giu as organizações camponesas e, entre elas, as Ligas Ca~

ponesas no Nordeste que ssurgiram em 1950 com vigor reno

vado. Francisco Ju1ião, um dos líderes dessas Ligas, era

um dos comunistas que a ilegalidade do partido colocara na

clandestinidade. Outra forma de organização e de consciên

cia de classe era a sindicalização rural e, "no início dos

anos 50, o PCB retoma mais intensamente a questão, tentan-

do aglutinar os sindicatos rurais em um orgànismo único


(ULTAB)". 1 3 1

No documento intitulado "Ca.Jtta. de Al..óoJt.ia. do Ca.m


poni6", Francisco Ju1ião deixaria claro, em 1961, o quanto
era grave politicamente a existência das Ligas Camponesas
no Nordeste. ~ uma carta escrita de Recife e dirigida aos

camponeses do Brasil apontando-lhes os caminhos Que deve-


97

riam seguir em busca da liberdade:

"( ..• ) Vigo e. /te.pi.to a. união ê. a. mãe. da. li


be./tda.de.. são mui.to.6 0.6 c.a.minho.6 po/t onde. po
de./tM via.j a./t c.om 0.6 te.U.6 i/tmão.6. ( •.• ) E.6-=-
.6e..6 c.a.minho.6 .6ão: a. de.moc./ta.c.ia. pa./ta. o c.a.m-
ponê..6 (a. Liga.); o .6indic.a.to pa./ta. o c.a.mpo -
nê..6; a. c.oope./ta.tiva. pa./ta. o c.a.mponê..6;uma. le.i
jU.6ta. e. huma.na. pa./ta. o c.a.mponê..6; e. o voto
pa./ta. o a.na.l6a.be.to".132

Está explicado porque uma boa parte dos pronu~

ciamentos episcopais, a partir de 1950, passaram a tratar


de problemas sociais. ~ bem verdade que, com algumas ex-
ceçoes, como verificou Márcio Moreira Alves,

"0.6 p/tonunc.ia.me.nto.6 da. hie./ta./tquia. c.a.t5lic.a.


a. /te..6pe.ito de. p/toble.ma..6 .6oc.ia.i.6 .6ão c.onc.o-
mita.nte..6 ou pO.6te./tio/te..6 a. p/toje.tO.6 e. pItO -
nunc.ia.me.nto.6 gove./tna.me.nta.i.6. E.6.ta. c.on.6ta.ta.
'ção 6a.z e.nt/te.ve./t, ta.nto qua.nto a..6 dota.çõe.~
o/tça.me.ntâ/tia..6, a. liga.ção la.te.nte. e.n.t/te. a. I
g/te.ja. e. a..6 c.la..6.6e..6 politic.a.me.nte. domina.n-=-
t e..6 no Pa.I.6 " . 1 3 3

o governo Dutra havia tomado· algumas iniciati -


vas reformistas~como a Lei Agrária de Afrânio de Carvalho,
que não- vingaram. Em 1 9 de maio de 1954, Vargas reforça-
va em seu disc~rso aos trabalhadores que

"um do.6 a..6 p e. c.tO.6 ma.i.6 ma.Jtc.a.n.te..6 do me.u a.-


_tua.l Go~e./tno ê. o .6e.u c.uida.do e.m be.ne.óic.ia./t
o t/ta.ba.lha.do/t /tu/ta.l e. c.once.de./t-lhe. a..6 ga.-
/ta.n.tia..6 que. a. le.gi.6la.ção jã. a..6.6 e.gu/ta. a.o .tJta.
ba.lha.do/t u/tba.no".13-

Ao trabalhador rural seriam estendidos os benefícios da

"ga./ta.n.tia. de. e..6ta.bilida.de., Ca./tte.i/ta. do T/ta.


, ba.lha.do/t Ru/ta.l, limi.ta.ção da. j o/tna.da. de. :titã
ba.lho, p/tote.ção ã mulhe./t e. a.o me.no/t e. 6i ~
lia.ção a.o In.6tituto de. Apo.6e.nta.do/tia. e. Pe.n
.65e..6 do.6 Indu.6t/tiâ/tio.6".135 -

Essas propostas governamentais se tornariam o embrião do


futuro "Estatuto do Trabalhador Rural".
98

De qualquer forma, a transformação que se inicia


va na Igreja no Brasil era muito importante. Pela primei-
ra vez o social e o religioso eram vinculados.

o primeiro prelado a se manifestar sobre a condi


çao do homem do campo foi D. Inocêncio Engelke, bispo da ci
dade mineira de Campanha, em sua pastoral de 10 de setem -
bro de 1950. intitulada ""Cono~c.o, ~em nõ~ ou c.ontJLa. nõ~ ~e
6a.JLi a. JLe6oJLma. JLUJLa.l". Referindo-se is conclusões a que
os trabalhos chegaram durante a Primeira Semana Ruralista,
D. Inocêncio dizia que a ACB esperava que ali (em Campanha)
se iniciasse o movimento de Ação Católica Rural:

"Ji peJLdemo~ o~ tJLa.ba.lha.doJLe~ da.~ éida.de~.


Não c.ometa.mo~ a. louc.uJLa.de peJLdeJL, ta.mbém,
o opeJLa.JLia.do JLUJLa.l. OJLa., é ~a.bido que a. ~i­
tua.~ão do tJLa.ba.lha.doJL JLUJLa.l é, em JLegJLa., in
6JLa.-huma.na. entJLe nõ~. MeJLec.em o nome de c.a.~
.6a. 0.6 c.a.~ebJLe~ em que mOJLa.m? t a.limentoa.c.o
mida. de que di~põem? Pode-~e c.ha.ma.JL de JLOU~
pa..6 o~ tJLa.po~ c.om que ~e ve~tem? Pode-~e c.ha.
ma.JL de vida. a. ~itua.~ão em q~e vegeta.m, ~em
~a.ü.de, ~em a.n~eio~, .6em vi~ão, ~em idêia..6?
( ••• ) Hoje, e~tJLa.da.~ ~e JLa.~ga.m leva.ndo a.o
JLec.e.6.6O do pa.Z~ a. loc.omotiva., o~ a.utomõvei~,
e ~obJLetudo o~ c.a.minhõe~. Hi ponto.6 do a.lto
~eJLtão que pula.JLa.m do ~éc.ulo XVI pa.JLa. o ~é­
c.ulo XX c.om a. a.beJLtuJLa. de c.a.mpo~ de a.via.~ão
( ••• ) O jOJLna.l, o c.inema. e o JLidio e~tão in
60JLma.ndo, no me~mo dia. e pOJL veze.6 na. me~mã
hOJLa., o que ~e pa.~~a. no pa.Z~ e no"mundo. Em
bJLeve ~eJLã a. hOJLa. da. televi.6ão. Na.da. ma.i~
explic.ável, poi~, que a. JLec.eptivida.de pa.JLa.
a..6 idéia.~ ma.i~ a.JLJLoia.da.~ e JLevoluc.ionãJLia.~.
E o~ a.gita.doJLe~ e~ta.o c.hega.ndo a.o c.ampo. ( ••• )
Longe de nõ~, pa.tJLõe~ CJLi~tã.o~, 6a.zeJL ju~ti
~a. movido~ pelo medo. Antec.ipa.i-vo~ ã JLevo~
lu~ã.o. Fa.zei pOJL e~pZJLito c.JLi.6tão o que VO.6
indic.a.m a.~ diJLetJLize~ da. IgJLeja.. 136

A Pastoral de D. Inocêncio, apesar de ressaltar


a precariedade material do trabalho rural, dirigia-se prin
cipalmente aos patrões quando chamava a atenção para o fa-
99

to do meio rural nao estar mais tão isolado do meio urbano


e, por isso, e pela natural insatisfação gerada pela misé-
ria, mais receptÍve1 às idéias dos "agitadores" que esta -
vam chegando ao campo.

A Igreja demorou um pouco a ver de forma realis-


ta que a sua hegemonia no campo estava sob séria ameaça e
teimava em afirmar, numa espécie de ruralismo idílico, as
vantagens da vida rural sobre a vida urbana. A Pastoral so
bre o Problema Rural, resultante da Semana Rural que, em
1951, congregou em Natal as três dioceses norte-riogranden
ses (Natal, Mossorô e Caiacô), era um exemplo dessa "a1ie-
nação":

/lO homem da. c..ída.de conta. c.om di..ó.i.c.u.lda.du .6U


pe~i..o~e.6 ã.6 do homem do ca.mpo. A uni..da.de e~
c.onômi..ca. na. c.i..da.de é o i..ndi..v1duo, a.o pa..6.60
que no ca.mpo é a. óa.m1li..a.. ( ••• ) Na. o~~ po
l1.ti..c.a., a.i..nda. é melho~ a. .6i..tua.çã.o do homem
~u~a.l .6ob~e .6eu.6 i..~mã.o.6 da. ci..da.de. A e.6ta.bi..
li..da.de eol1.ti..ca. da.quele é i..nveja.velmente .6U
pe~i..o~ a. do u~ba.nó. A.6 i..dêi..a..6 ~evoluci..onã ~
~i..a..6 no a.mbi..ente ci..ta.di..no não .6ã.o .6omente
ma.i...6 a.bunda.nte.6 como ma.i...6 a.c.ei..ta..6, a.o pa..6.60
que ~a.~ei..a.m no ca.mpo, onde o povo é ma.i...6 con
.6e~va.do~ e de.6conói..a.do com a..6 novida.de.6 ou~
.6a.da..6. ( ••• ) Como .6ucede na. vi..da. e co nômi.. c. a.
e na. vi..da. pol1.ti..ca., ta.mbém na. vi..da. domé.6ti..-
c.a. ~u~a.l o pa.i.. é ve~da.dei..~o cent~o de g~a.vi..
da.de de i..nüme~a..6 exi...6tênci..a..6, tendo que .6e
movi..menta.~ em óunçã.o da. h~môni..c.a. ma.~c.ha. pto
g~e.6.6i..va. de tod0.6/1.137. -

~ interessante observar que os bispos do Rio Gran


de do Norte chamam a sua Pastoral de "digna irmã da cé1e -
bre carta de D. Inocêncio Engelke, Bispo de Campanha,,138 ,
quando este também tece comparações entre o homem do campo
e o da cidade. A comparação, é verdade, existiu em ambas
mas era de natureza completamente diferente. Enquanto os
bispos que se reuniram em Natal optaram por uma posição sim
100

pática às oligarquias rurais, o que equivale a dizer uma

posição favorável à manutenção do "status quo", D. Inocên


cio dizia:

»ao pa~~o que o ~~abalhado4 da~ cidade~ ji


~e vê ampa~o po~ lei~ que lhe ga~an~em uma
4emune~ação adequada e p4o~egem a~ ~ua~ 6a
diaa~ e e~604ço~, o ~~abalhado4 ~u~al, num
pa~~ onde 70% da população vive da~ nob~e~
a~ividade~ do cul~ivo da ~e4~a, não po~~ui
nenhuma ga4an~ia pa4~ o ~eu 6u~u~o e o de
~ eu~ 6ilho~, ao me~mo ~empo que a~ ~u~ con
diçõe~ p4e~en~~ da vida indicam um pad4ãõ
mui~a~ veze~ in6~a-humano».139

o quadro bucólico da vida campestre pintado pe-

los Bispos do Rio Grande do Norte, no entanto, não conse-

guia esconder a preocupaçao da hierarquia católica. D. Jo

sé Delgado, bispo de Caxias e recém nomeado arcebispo do

Maranhão, comentando a Pastoral sobre o Problema Rural de

clarava ao jornal T~ibuna da Imp~en~a, de 6/11/1951 que

»e~~a ~i~uação, longe de de~pe4~a~ a no~~a


vigilâ.ncia, exige o ~eu de~dob4amen~o,a 6im
de p~e~e4va~mo~ o homem do in~e~io~ do~ ma
le~ ue a~~olam a ~ociedade e come am a i~
~ua~ p4~me~~a~ con~equen~ gr~

Essas conseqüências eram as agitações que encontravam te!

reno fértil em virtude do "padrão infra-humano" em que vi


viam os trabalhadores rurais.

Ainda com a preocupaçao de deter as "idéias no-


vas e revolucionárias" que avançavam no meio rural,a que~

tão da reforma agrária foi tratada no Encontro dos Arce -

bispos, Bispos e Prelados do Vale do S. Francisco e das


Circunscrições Eclesiásticas situadas no raio de ação da

Hidrelétrica de Paulo Afonso, reunidos em Aracaju, de 25

a.aUOTECA
. . . .Ac:AO GUOUO ........
101

a 28 de agosto de 1952.

"Vize~ que, mal ~ealizada, ela (a ~e6o~ma a


g~â~ia) ê pe~igo~a, ê uma ~azão a mai~ pa~a
que a examinem, a ap~o 6undem quant:o~ t:êm ~ en
~o de ~e~pon~abilidade ne~t:e paZ~. -
Lemb~a~ que no B~a~il, a que~t:ão ê comple -
xZ~~ima, ê apena~ p~ova~ que u~ge e~t:udá-la.
( ... ) enquant:o ê t:empo, enquant:o ~e~t:a ~e~e
~idade e o~ agit:ado~e~, int:e~e~~ado~ no ca~
~o, não chegam com ~ua~ ~ocha~ incendiá-
~ia~ " . 140

Acrescente-se que os clérigos reunidos em Araca-


ju transcreveram, no documento que elaboraram, as palavras
de D. Inocêncio quanto à miséria em que vivia o trabalha -
dor rural e aquelas quanto ao temor que a Igreja tinha de
perdê-lo.

Esses encontros episcopais .de caráter regional ti


veram importantes significações: foram etapas importantes
no sentido de maior organização dos esforços pastorais, os
problemas sócio-econômicos foram abordados como fundamen -
tais para a ação pastoral e a Igreja se reafirmava dispos-
ta a colaborar com o Estado.

o documento "A Ig~eja e a Amazônia", uma declar~

çao assinada pelos Arcebispos, Bispos e Prelados da Amazô-


nia reunidos em Manaus, de 2 a 6 de julho de 1952, afir-
mou a intenção de cooperação com o Estado:

"( .•. ) o gove~no ~abe que a~ ma~~a~ ~eligio


~a~, agindo po~ e~pZ~it:o de 6ê e po~ apo~t:õ
lado, ~ão, em Mat:e~nidade~ e Po~t:o~ de Pue~
~icult:u~a, ga~ant:ia de o~dem, e6iciência e
economia; a 6o~ça mo~al da Ig~eja pod~ con
~egui~ um pouco daquilo que ~e~ia ~emp~e le
t:~a mo~t:a ~e ~Õ o~ t:~âmit:e~ o6ieiai~ 6o~~em
~eguido~". 141
102

o documento prossegue mostrando a importância da Igreja na

região:

"Até ob~e.JlvadolLe.~ não c.a..tõlic.o~ pode.m 6a c.il


me.nte. ve.lLi6ic.alL o quanto de.ve.m o~ blLa~ile.i~
ILO~ de.~ta~ palLage.n~ ã ação 6olLmadolLa_e. c.ivi
lizadolLa do ClLi~tiani~mo. ( .•. ) A Açao Cato
lic.a E~tudantil no~ ajudalLã a c.lLialL o ~i~:te
ma e.~c.olalL que. a bUlLoc.lLac.ia o6ic.ial nã.o c.on
~e.guiu 6aze.1L ~ulLgilL. ( ... ) Va Ação Catõlic.ã
Ope.lLâJLia e.~pe.lLamo~ a ulLge.nte. 6olLmaçã.0 de. lX
de.ILe.~ ope.lLãlLio~ que. no~ livlLe. do ~~abolL de
ve.1L a ~utulLa ma~~a tlLabalhi~ta da Amazônia
e.ntlLe.gue. a de.magogo~ e. e.xplolLadolLe.~". 142

A Conferênc ia Nac ional dos Bispos do Brasil (CNBB)


que trouxe a cooperação, a união, o planejamento e a comu-
nicação entre os bispos, foi uma das primeiras a ser cria-
da entre as conferências episcopais do mundo inteiro.

"A plLime.ilLa ve.z que. ~ulLgiu a idéia de. c.lLia-


ção de. um õlLgão c.oolLde.nadolL da~ atividade.~
do~ bi~po~ blLa~ile.ilLo~ 60i e.m 1947, num Con
glLe~40 em Mina~ GelLai~ da Áção Catõlic.a, do
qual elLa plLe.~idente o SIL. Jo~é Vie.ilLa Coe. -
lho, e. a~~i~te.nte. ge.lLal o bi~po-auxilialL do
Rio de. Jane.ilLo, V. He.lde.1L CimalLa". 143

A CNBB surgiu da experiência da ACB e as duas e-


voluiram paralelamente at~ o intcio dos anos 60 quando a
organização leiga tomou caminhos diferentes e perdeu,de um
modo geral, o apoio do episcopado.

São de D. Helder os apontamentos sobre o nasci-


mento da CNBB:

"O N~nc.io Apo~tõlic.o V. CalLlo~ ChialLlo, de.~


de. 1949, ac.ompanh~uo ~onho de. um ôlLgão que
lLe.uni~4e o~ nume.lLo~o~ Bi4pO~ do BlLa~il, te.n
tando ajudã-R...o~· a e.n61Le.ntalL 04 pMble.mM ~ e.m~
pILe. mai~ c.~mple.xo~, da vida de. hoje.. ( .•• )
Come.çalLam a ~omblLdda ACB e. c.om o apoio di-
lLe.to do Núnc.io, e.nc.ontlLo~ de. PILe.lado~ e. Bi~
po~ - da Amazônia, do S. FlLanc.i~c.o, do NOIL~
de.~,;te. . .• AplLove.itando o ConglLu~o Mundial de.
103

Le~go~, em Roma, em 1950, de~envolvemo~ em


equ~ee o~ 18 tema~ p~ev~~to~, chegando ~em­
p~e a me~ma conclu~ao: 'Ma~ nada d~~~o ~e~i
v~ivel ~em uma Con6e~inc~a~ Nac~onal do~ B~!
po~ do B~a~~.e.. ( ... ) pude conve~~a~ p~~vada
e longamente, com o 6utu~o Santo Pad~e (V.
Helde~ ~e ~e6e~a a Mon~. Mont~n~, ajudante do
Núnc~o e 6utu~o Papa Paulo VI) ... Ele e~ta­
va conv~cto da nece~~~dade da Con6e~ênc{.a do~
B~~po~. ( ... ) Ve~xe~ em mio~ dele um ante -
p~ojeto de E~tatuto~ da 6utu~a CNBB. Um ano
depo~~, a Con6e~inc~a nio e~tava c~~ada. T~
ve oca~~io de volta~ a Roma e de ve~ Mon~~
Mont~n~ a ~egunda vez. Apa~eceu-me d~zendo:
'E~tou em dZv~da com o B~a~~l. Em meno~ de
do~~ me~e~ a Con6e~inc~a e~ta~i c~~ada». E,
~ealmente, ela ~u~g~u, em outub~o de 1952».1~~

Além dos fins administrativos, a CNBB tinha tam-


bém objetivos pOlíticos e ideológicos. A proposta de neo-
cristandade da Igreja deixava de ter sentido quando os bi~

pos do Nordeste denunciavam a miséria da população rural e


discutiam, sob a ótica católica, é claro, quanto à utiliza
ção da propriedade privada - no caso, o latifúndio e a
necessidade de uma reforma agrária. O comunismo continua-
va a ser um inimigo mas combatê-lo não se reduzia mais a
uma açao anticomunista insensível à necessidade de mudan -
ças sociais.

Segundo Bruneau,

»junto com a con~ c~inc~a da ~nju~t~ç.a vúo a


comp~een~io de que o homem ê compo~to de co~
po e alma e que, po~tanto, a Ig~eia deve ~e
~nte~e~~a~ pela o~dem tempo~al»l~ ,

o que vai conduzÍ-la à adoção de um novo modelo, o de pré-


influência. A Igreja principiava a evoluir na sua trajetQ
ria: da Comissão Nacional de Defesa da Fé à Opção pelos Po
b~es.

A posição da CNBB nao significava, apesar do im-


104

portante papel pOlítico de porta-voz da hierarquia, que ho~

vesse unanimidade da Igreja no tocante às mudanças sociaiso


Para Ralph Della Cava, "a criação da CNBB perpetuou [e,pr.2.
vavelmente, intensificou] a divisão da hierarquia brasilei
ra"ol'+6

Do ponto de vista de Bruneau,

"a CNBB 60..i. a ba.6e. paJta a nova aboJtdage.m da


..i.n61uêne..i.a da IgJte.ja (00.) 60..i. a oJtgan..i.za -
~ão que. oeupou um lugaJt ee.ntJtal na IgJte.ja e.
na Jte.la~ão de.la eom a .6oe..i.e.dade. (000) Ela
6alava e.m nome. da IgJte.ja, Jte.al..i.zava e.neon -
tJtO.6 e. eon6e.Jtêne..i.a.6, e.m?Jte..6tava .6e.u apo..i.o a
gJtupO.6 e. mov..i.me.nto.6" 1 '+
o

Essa posição central ocupada pela CNBB dentro da


Igreja iria mudar a partir de 1964 quando

"0.6 .6e.eJte.tâJt..i.o.6 nae..i.ona..i..6 60Jr.am .6ub.6t..i.tu1. -


do.6 poJt uma eom..i..6.6ão de. .6e.u.6 b..i..6po.6,eada um
Jte..6pon.6âve.l pe.la apl..i.ea~ão de. uma ruul..i.nha.6
de. tJtabalho pJte.v..i..6ta.6 pe.lo PPC (Plano Pa.6to
Jtal de. Conjunto")ol'+8

Uma das grandes vantagens da criação da CNBB foi


a meu ver, ter propiciado condições para que a Igreja bra-
sileira não permanecesse mais intrincheirada, fora das mu-
danças pelas quais passava o país, e pudesse "aproveitar" os
ares renovadores do Concílio Vaticano 11.

"Em .6uma, a CNBB pôde. Jte.oJt..i.e.ntaJt a IgJc:e.ja bM


.6ilÚM po~ue. lhe. 60..i. dada ee.Jtta Ube.Jtdade. ne..6.6a-
.6..i.tua~ão pJte.-Jte.vofuúonâJt..i.a, e. poJtque. a Santa sê.
e. o E.6tado bJta.6..i.le...i.Jto a apo..i.avam" 1'+9
o

A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) foi


fundada em 1954 e tinha por missão coordenar o trabalho das
ordens religiosas no país.
105

"A~ 6unç5e~ o~iginai~ da CRB 6o~am, com e-


6eito, a~ de ajuda~ a~ o~den~ e cong~ega­
ç5e~ a obte~ do~ vã~io~ mini~tê~io~, a~ ve~
ba~ concedida~ pelo gove~no e a comp~a~ me~
cado~ia~ po~ atacado pa~a ~ e~em vendidaJ., ao~
~eu~ memb~o~ com de~conto".l50
Com o tempo, o CRB acumulou tantas atribuições que "seu o~

ganograma tornou-se semelhante ao de uma grande empresa. 151

Por volta de 1955, havia na Igreja Católica vi-


soes diferenciadas a propósito das mudanças sociais: a dos
t~adicionalistas, que continuavam a endossar a estrat~gia

da neo-cristandade; a dos modernizadores conservadores,ain


da hierárquicos nas práticas da Igreja, se preocupavam com
o maior desenvolvimento de organizações leigas e . meios
eficazes de atingir o povo; e a dos reformistas que priori
152
zavam a mudança social como um fim em Si.

Ao se aproximar o fim da d~cada de 50,


"no 6inal do Ponti6icado de Pio XII (1958),
a Ig~eja Catõlica ap~e~en~ava aquela t~an -
quilidade que p~ecede a~ tempe~tade~. O~ mo
vimento~ inquietante~ do põ~-gue~~a tinham
~ido ~ilenciado~, at~avê~ da condenação da
Nova Teo.logia, do e-nvio de Teilha~â. pa~a a
China, evitando que ~eu~ e~c~ito~ 6o~~em pu
blicado~, do ence~~amento da expe~iê~ do~
Pad~e~ Ope~ã~io~, no enquad~amento d~ de
limite~ aceitãvei~da ~enovação lit~~gica e
da ação do leigo".l53
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

lAZZI, Riolando. Presença da igreja católica na sociedade


brasileira. Cade~no~ do ISER, n 9 13, Tempo e Presen-
ça Editora, p. 2.
2
__________ . op. cit., p. 3.
3BRUNEAU, Thomas C. Ca~olici~mo b~a~ilei~o em época de
t~an~ição. São Paulo, Edições Loyola, 1974, p. 91.

~ROSÃRIO, Irmã Maria do. O Ca~deal V. Leme. Rio de Janei-


ro, José Olímpio. 1962. pp. 216-226.
sIdem, p. 228.
6 Ibi dem, p. 289.
7DELLA CAVA, Ralph. Igreja e estado no Brasil do século
XX. E~tudo~ CEBRAP, 12, abril/maio/junho, 1975. Edito
ra Brasileira de Ci~ncias Ltda., p. 15.
8ROSÃRIO, Irmã Maria, op. cit., p. 227.
9 Idem, p. 310.
lOIbidem, p. 311.
llLIMA, Alceu de Amoroso. Notas para a história do centro
D. Vital. "A O~dem", vaI. LIX, n 9 6, junho de 1958.
pp. 43-44 (BN).
12ALMEIDA, Fernando H. Mendes (org.). Con~tituiçõe~ do B~a
~il. São Paulo, Edições Saraiva, 1954.pags. 311 e 315.

13ROSÃRIO, Irmã Maria, op. cit., p. 320.


l~VIANNA, Luiz Werneck. Libe~ali~mo e ~indicali~mo no B~a­
~il. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989. p. 157.
ISLIMA, Alceu Amoroso. PolZ~ica. Rio de Janeiro, Schmidt,
1935. p. 143.
16
- - - - - - . op. cit., p. 61.
17ROSÃRIO, Irmã Maria, op. cit., p. 316.
18CHAU!, Mari1ena e FRANCO, Ma. Silvia C. Ideologia e mob~
lização popula~. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985. p.76.
107

19CARVALHO, José Murilo de. Forças Armadas e políticas, 1930


-1945, in A ~evolução de 30, ~eminã~io inte~naeional.
Coleção Temas Brasileiros, vol. 54, Editora Universi-
dade de Brasília, pags. 110 e 11.
2o MON TEIRO. Gal. Pedro Aurélio de Goes. A ~evolução de 30
e a 6inalidade poLZtiea do exê.~eito .. Rio de Janeiro,
Andersen Editores, pags. 163 e 156/57.
21 REI S, Elisa P. O estado nacional como ideologia: o _caso
brasileiro. in E~tudo~ H,ütõ~ieo~ nq 2, São Paulo. Vér
tice. 1988.
22IANNI, Octavio. O eolap~o do populi~mo no B~a~il. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1988. p. 119.
23BEOZZO, José Oscar. A igreja entre a revolução de 30. o
estado novo e a redemocratização, in HGCB, Tomo 111,
4 9 vol., são Paulo, Difel. 1986, p. 293.
2"VARGAS, Getúlio Dornelles. A nova polltiea do BJLa~il.Rio
de Janeiro, José Olímpio, vol. 5.
25Idem.
26CARONE, Edgar. O e~tado novo 11937-1945). Rio de Janeiro
-são P~ulo, 1976, p. 166.
27VARGAS, Getúlio Dornelles, op. cito
28MENDONÇA. Sônia Regina de. E~tado e eeonomia no Blta~il:
opçoe~ de de~envolvimento. Rio de Janeiro.Graal.1986.
p. 28.
29VIANNA, Luiz Werneck, op. cito p. 213.
30Jornal "O E~tado de S. Paulo" de 10/01/39 (BN)
31Idem, de 17/02/39 (BN)
32Ibidem, de 24/03/39 (BN)
33IANNI, Octavio. E~tado e planejamento eeonômieo no Blta -
~il. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,1986.p.8l.

3ltldem, pags. 81-82.


35Transcrição de Octávio Ianni in E~tado e planejamento e-
eonômieo no BJLa~it, p. 86.
108

36IANNI, Octavio, op. cit., p. 87.


37ALMEIDA, Fernando H. Mendes, op. cit., p. 475.
38BRUNEAU, Thomas B., op. cito p. 85.
39Enelel~ea V~v~na Ill~u4 Mag~4t~~, série Documentos Ponti
fÍcios, Petrópolis, Vozes, 1974.
4o ROS ÁRIO, Irmã Maria, op. cit., p. 370.
41 Idem, p. 33l.

42ROMANO, Roberto. B~a4~l: ~g~eja eont~a e4tado. São Paulo,


Paidós, 1979,p. 146.
43Pio XI. Enelel~ea "U~b~ A~eano Ve~" citada por Ralph Del
la Cava in op. cito
44ALVES, Mareio Moreira. L'egl~~e et la pol~t~que au B~e -
~~l. Les ~ditions du CERF, Paris, 1974, p. 30.

45TAUZIN, Frei Sebastião. Ação católica em profundidade in


"A O~dem", novembro de 1937, p. 423 (BN).
46 Idem, p. 424.
47DELLA CAVA, Ralph. op. cit., p. 17.
4 8pOU~ une nouvelle ~mage de l' Egl~4 e m~4 e en quuUon. IDOC.,
Belgique, gditions J. Duculot S.A., p. 13.
49 REB , junho de 1947, vol. 6, Fase. 2, p. 469 (BN).
5 0GUASTINI , Raul. Ideario político de Getúlio Vargas. São
Paulo, Empresa Grafica da "Rev~4ta do~ T~~buna~~" Ltda.,
1943, p. 118.
51AZZI, Riolando, op. cit., pp. 18-19.
52 Idem, p. 19.
53DIDONET, Frederico. Cruzes e consolações do sacerdote.RE~
4, junho de 1944, p. 261 (BN).
54~OSÁRIO, Irma Maria, op. cit., p. 77.
550LIVElRA, Pedro A. Ribeiro. Poder e conflito religioso: ~
ma abordagem sociológica, Petrópolis, in Rev~4ta de Cul-
tu~a Voze4, janeiro/fevereiro de 1991, p. 19.
109

56 REB , março de 1945, p. 28 (BN).


57 Idem, p. 39.
58"A Ordem", out. de 1937, pp. 286-88 (BN)
59 SUC UPlRA, Luis. O socialismo em face do Evangelho, in "A
OJtdem", abril de 1937, pags. 333, 340, 350 e 351 (BN).
6°ALVES, Márcio Moreira, op. cit., p. 157.
61pio XI, "QuadJtagê.6-i.mo Anno".
62Man ifesto do Episcopado Brasileiro sobre a Ação Social,
REB, junho de 1946, p. 481 (BN).
63 I dem, p. 479.
6"LlMA, Alceu de Amoroso. Ação social católica, in "A OJt-
dem", janeiro de 1937 (BN).
65 RO SÃRIO, Irmã Maria da, op. cit., p. 473.
66"Unitas", maio de 1940, p. 146, citado por Boris Fausto,
in op. cit., p. 319.'
67REB, junho de 1942, p. 117 e 419.
68Manifesto do· Episcopado Brasileiro pela voz do Arcebispo
D. Jaime de Barros Câmara por ocasião do fim da guer -
ra. REB, junho de 1945, pp. 117 e 419.
69MOURA, Gerson. O al-i.nhamento .6em Jtecompen.6a: a pollt-i.ca
do goveJtno VutJta, Rio de Janeiro,' FGV, CPDOC,1990,p.37.
7 o
- - - - -. op. c i t. p. 38.
71SKIDMORE, Thomas. BJta.6-i.l: de Getúl-i.o a Ca.6telo BJtanco
(1930-1964). Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.pp.96-7.
72VIANNA, Luis Werneck. O sistema partidário e o Partido De
mocrata Cristão. CadeJtno.6 CEVEC, n 9 I, São Paulo, Bra-
siliense, 1978, p. 23.
73IANNI, Octávio. O e.6tado e o planejamento econôm-i.co no 8Jta
.6-i.l. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,1986,p.94.
7"PRADO JR. Caio. H-i..6tôJt-i.a econôm-i.ca do BJta.6-i.l. São Paulo,
Brasiliense, 1965, pp. 308-9.
110

7~rojeto n 9 1266 de 1948, que dispõe sobre o Plano SALTE.


Diário do Congresso Nacional, criado por Octávio Ianni,
em "O E.6tado e. o Plane.jame.nto Econômico no Blta.6il" , ã
p. 103.
7~OURA, Gerson, op. cit., p. 80.
77IANNI, Octávio, op. cit., p. 110.
78SKIDMORE, Thomas, op. cit., p. 93.
79Correio da Manhã, 22/10/47, transcrição de Edgar Carone em
"A Q.u.altta Re.pública (1945-1964) - Vocu.me.nto.6. São Pau
10, Dife1, 1980, pp. 23-4.
80MOURA , Gerson, nota da página 88.
81 MANOR , Paul. Fictions et idéo10gie dans l'armée bresi1i -
enne nationa1istes et 1ibéraux, 1946-1951, in Re.vu.e.
d'Hi.6toilte. Mode.ltne. e.t Conte.mpoltaine., 25, octobre-decem
bre, 1978, p. 568.
82
- - - - - - . op . c i t. p. 570 .
83"Yar Book of United Nations", citado por Paul Manor ã pá-
gina 573.
84 MANOR , Paul, op. cit., p. 574.
8sALMEIDA JONIOR, Ant5nio Mendes. Do dec1fnio do Estado No-
vo ao suicfdio de Vargas, em HGCB, Tomo 111, 3 9 volume,
São Paulo, Dife1, 1986. p. 244.
86SKIDMORE, Thomas, op. cit., p. 136.
87 . op. cito p. 138.
-----
88HIRST, M5nica. O pragmatismo impossfve1. A po1ftica ex -
terna do segundo governo Vargas, FGV, CPDOC. Rio de
Janeiro, 1990, p. 04.
89Bases do governo brasileiro para a negociação da Comis -
são Mista, de 11/01/51 transcrito por CRUZ, Ade1ina A.
Novaes et a11i (org.). Impa.6.6e. na. de.moc.lta.c.ia. blta..6ile.~
Ita. 1951/1955. Co1etânéa de documentos, Rio de Janeiro,
Editora da FGV, 1983, p. 71.
111

9 0IANNI , Octávio. op. cit., p. 122.


91YARGAS, Getúlio. Mensagem ao Congresso Nacional. Depart~
mento de Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, (CPDOC) -
1952, p. 10.
92YIEIRA, Evaldo. E6tado e mi6ê~ia 60cial no B~a6il de Ge-
túlio a Gei6el. são Paulo, Cortez Editora, 1985. p.38
e 39.
9~KIDMORE, Thomas~ op. cit., p. 141.
9~IANNI, Octavio, op. cit., p. 137.
95
------ . O colap6o do populi6mo no B~a6il. pp. 66-8.
96Memorial dos Coronéis, de 08/02/54, transcrito por CRUZ,
Adelina Alves Novaes et alli(org.), op. cit., p.25l.
97SKIDMORE, Thomas, op. cit., p. 182
98DELLA CAVA, Ralph. Igreja e Estado no Brasil no século
xx. E6tudo6 CEBRAP, 12, abril-maio-junho de 1975. Edi
tora Brasileira de Ciências Ltda.
99YIANNA, Luís Werneck. O sistema partidário e o partido
democrata cristão. Cade~no6 CEVEC. São Paulo, Editora
Brasiliense, 1978, p. 16.
looREB, vol. 5, Fase. 2, junho de 1945 - (BN).
lOlAZEYEDO, Armando Dias de. O dever eleitoral dos católi -
cos brasileiros. Revi6ta de Cultu~a Voze6. setembro /
outubro de 1945 (BN) , p. 586 e 587.
l02REB. Yol. 8 Fase. 4, dezembro de 1948, pp. 831-52 e 854,
(BN) .
l030LIYEIRA, C.A. Barbosa. Catolicismo e comunismo. Revi6ta
de Cultu~a Voze6. Rio de Janeiro, jUl./ag. 1945. pp.
549-50 (BN). Além de Barbosa de Oliveira,e no mesmo
número da Revista Vozes, o artigo de-Tristão de Athar
de foi calorosamente combatido pelo Pe. Marcondes nitsh
batendo na tecla do ateísmo comunista e entendendo de
mocracia como sinônimo de capitalismo.
112

l04ÁVILA, Fernando Bastos de. A missão social da Igreja h~


je em "Mi66io da Ig~eja no B~a6il". D. Cindido Pa-
dim et alli. São Paulo, Edição Loyola, 1973, p. 155.
losCARTA Pastoral de D. Jaime de Barros Cimara, "Não Tran-
sigir" in REB, voI. 9, Fase. 2, junho de 1949,p.508.
l06Idem, pp. 511-12.
l07REB, vo1. 7, Fase. I, março de 1946, pp. 193-4 (BN).
108 vo1. 6, Fase. 4, dezembro de 1946, pp. 817-
-----.
19.
1 o9
-----. Vol. 7, Fase. 2, junho de 1947, pp. 304 e
306.
110DELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 21.
lllIdem, p. 21.
112WIARDA, Howard J. O movimento católico b~a6ilei~0: 06
de6a6io6 do de6envolvimento nacional. Centro João XXIII,
mimeo., p. 16.
113ALVES, Márcio Moreira, op.cit., pp. 48-9.
114DELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 28.
11SROSSI, Cônego Agne1lo. O pentecostalismo no Brasil. REB,
Vol. 12, Fase. 4, dezembro de 1952, pp. 773-4.
116FREI Dr. Boaventura Kloppenburg. Contra a heresia espÍr!
ta. REB, Vo1. 12, Fax I, março de 52, pp. 88 e 94.
117FREY, P. Henry e HOWE, G. Nigel. Duas respostas ã afli -
ção: umbanda e pentecosta1ismo. Vebate e C~ltica, n 9
6, julho de 75, São Paulo, HUCITEC, p. 82.
118DELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 29.
1 19ALVES, Márcio Moreira, op. cit., p. 50.
120REB, vol. 9, Fase. 2, junho de 1949, p. 533 (BN).
12 1
MONTEIRO, Cecília que, na condição de datilógrafa-secre-
tária, viu nascer a CNBB. Entrevista ao Jo~nal do B~a
6il em 14/10/72.
113

122"0 dever eleitoral dos católicos". ~tensagem assinada por


D. Jaime e os bispos do Espírito Santo, Valença, Bar-
ra do Piraí, Petrópolis e Campos. REB, Vol. lO, Fase.
3, setembro de 1950, pp. 730-1 e 739.

12\rIANNA, Luis Werneck, op. cit., p. 8.


12'+nELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 33.
12~ENDES, Cândido. Memen-to do~ v-ivO.6 - a. e.6queJtda. c.a.-tõt-i -
c.a. no BJta..6-it. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1966.
p. 43.
126yIANNA, Luis Werneck, op. cit., p. 27.
127LlMA, Alceu A. em "Une jouJtné-e a.vec. V. HetdeJt Câma.Jta.".
Desclei de Brouwer, 1970.
128DELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 34.
129SARTORI, Frei Luis Maria. Sugestão de bases para uma es-
trutura geral da ACB, REB, Vol. 12, Fase. I, março de
52, p. 39.
1 3 oIdem, p. 42.
131CARONE, Edgar. A qua.Jt-ta. Jtepubt-ic.a. - IVoc.umen-to~.São Pau
16, Difel, 1980, p. 300.

132Carta de alforia do campones, transcrita por CARONE, Ed-


gar, op. cit., pp. 306-7.
133ALVES, Márcio Moreira. O CJt-i~-to do povo. Rio de Janeiro,
Editora Sabiá, 1968, p. 47.
13~VARGAS, Getúlio. A c.a.mpa.nha. pJte~-idenc.-ia.t. Rio de Janei -
ro, José Olímpio, 1951, p. 53.
O goveJtno -tJta.ba.th-i~-ta. no BJta.~-it, vol. IV,Rio
135___________ •

de Janeiro, José Olímpio, 1969, pp. 471-2.


136ESTUDOS da CNBB - lI, Pastoral da Terra, Edições Pauli -
nas, São Paulo, 1981, pp. 44-46.
137"PASTORAL sobre o Problema Rural"., Bispos D. Marcolino
Dantas, D. João Portocarrero Costa e D. José Delgado
em E~-tudo~ da. CNBB lI, Pastoral da Terra. São Paulo,
Edições Paulinas, 1981, pp. 55-6.
114

I 38 "PASTORAL sobre o Problema Rural", op. cito p. 54.


139 D. Inocêncio Engelke, op. cito p. 51.
l_oA Igreja e o Vale do Sio Francisco. E~~udo~ da CNBB-ll,
Pastoral da Terra, Sio Paulo, Edições Paulinas,198l,
pp. 69 e 70.
1_IREB, Vol. 12, Fase. 3, setembro de 1952, p. 701.
1-2 Idem , p. 707.
l_3 D. Cecília Monteiro em entrevista já citada.
l--"A CNBB no seu 20 9 aniversario", SEDOC, vol. 5, Petróp~
lis, Vozes, 1972/1973, p. 561.
l_sBRUNEAU, Thomas, op. cit., p. 150.
l_sDELLA CAVA, Ralph, op. cit., p. 37.
1_7BRUNEAU, Thomas. Rel~g~ão e pol~~iza~ão no B~a~il. Sio
Paulo, Edições Loyola, 1979, pp. 70-1.
l_sALVES, Mareio Moreira, op. cit., p. 69.
l_9BRUNEAU, Thomas. Rel~g~ão e pol~~iza~ão no B~a~il. p. 72.
150
Ca~olic~~mo b~a~ile~~o em epoca de ~~an~~~ão.
------ .
p. 280.
ISIALVES, Márcio Moreira,op. cit., p. 70.
I 5 2MAINWARING , Scott. Ig~eja ca~ôl~ca e poIZ~~ca no B~a~~l.
Sio Paulo, Brasiliense, 1989. pp. 56-7.
IS3LIBÃNI9, J.B. Con61~~o~ Ig~eja-E~~ado. Encontros com a
Civilização Brasileira, n 9 4, outubro de 1978. Rio de
Janeiro, Editora Civilização Brasileira, p. 29.
11 PARTE
OSISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: ARELAÇÃO ESTADO/IGREJA
NOS ANOS 1937 - 1955
Em outubro de 1930 se concluiu a longa crise da
república oligárquica com a eclosão da Revolução da Alian-
ça Liberal.

Muito alim dos objetivos imediatos dos setores


sociais que deflagraram a Revolução, esta significará um
marco decisório na história recente do país, representando
mudanças significativas no desenvolvimento do capitalismo
no Brasil, com a passagem do eixo dinâmico da economia do
setor agrário-exportador para o setor industrial e, tam-
bém, rupturas decisivas no sistema político excludente que
buscava representar exclusivamente um aparato produtivo
simples (o setor cafeeiro exportador) para um sistema po-
lítico que procurava atender e abrigar interesses diversos
e díspares; e, acima de tudo, um sistema que procurava in-
corporar politicamente as massas urbanas e populares. Na
celebração dos mitos do sistema que lhe antecedeu, "o pals
.
com vocação agrária" e "a questão social como caso de poli.
cia", a modernidade de 30, ao mesmo tempo que relegou -
a

história a república dos oligarcas como algo ana~r6nico e


velho, apontou para dois novos atores sociais estratégicos
a partir de então: o setor empresarial e as massas encara-
das como unidade indivisível e substrato da naçao sendo im
possível alijá-las da participação política.

Muito além dos mitos, o que se observa e que na


nova institucionalidade que se inaugurava a partir de 30,
o Estado assumia um papel crucial no desenvolvimento das
duas tendências apontadas anteriormente. Ao se constituir
enquanto Estado nacional, capitalista e burguês, este ga-
117

nhou, a partir de 30, a margem de manobra resultante da


crescente centralização de poderes que lhe conferia papel
ímpar na configuração das opções políticas e econômicas. Em
outras palavras, seria sob a égide do Estado que se delimi-
taria o alcance e amplitude dos canais de representação da
sociedade civil e, por outro lado, o desenvolvimento do ca-
pitalismo e de novos padrões e ritmos de acumulação esta-
riam umbelicalmente ligados às opçoes e políticas econômi -
1
cas traçadas pelo Estado.

Dentro desse contexto, pretendo estudar as trans-


formações observadas na educação, da década de 30 até o se-
gundo governo Vargas, dirigindo a atenção especialmente -
a

escola (termo empregado de forma genérica) porque esta, en-


quanto "lOCU6" formal da educação, possui um ãmbito especí-
fico da sociedade que é o da mediação.

Como a escola é uma das mediações sociais que tem


por função primordial a promoção do desenvolvimento da so-
ciedade que, com seu próprio sistema de leis específicas a
determina, entre as duas - sociedade e escola - há uma per-
manente relação dialética. Considere-se, ainda, que entre
~a-estrutura e superestrutura há uma relação recíproca. A
infra-estrutura - o modo do ser humano produzir sua existê~

cia - está em constante mudança uma vez que existe a busca


de uma eficiência cada vez maior, essas mudanças é que for-
çarão as respectivas modificações nos elementos que compõem
a superestrutura (unidade entre idéias e instituições). Um
estudo do discurso ideológico pode conduzir a compreensao
do problema da relação recíproca entre a infra e a superes-
118

trutura. Quando se passa de um modelo econômico a outro,


por exemplo, o discurso ideológico do sistema educacional
passa a refletir e, ao mesmo tempo, refratar uma determina-
da realidade que está em permanente transformação.

Uma dada sociedade, numa determinada epoca, tem


sua própria ideologia unindo seus membros num processo de
interação. Por isso, o elenco de formas de discurso na co-
municação sócio-ideológica varia de acordo com o contexto
histórico em que cada grupo está inserido. Principalmente
no que se referia ao sistema educacional brasileiro, no pe-
ríodo histórico estudado, a voz da Igreja se fez ouvir com
bastante eloqüência porque, como afirmava o Pe. Leonel Fran
ca,

"E ~io Zn~imo, ~io p~06undo, ~io nece44i~io.


o nexo en~~e a o~ientacio da e4cola e a 60~­
macio do ca~ite~ nacional que nio e
exage~o
a6i~ma~-4e que 04 de4tin04 de um povo 4e jo-
gam n04 4eU4 e4tabelecimen~04 de educacio".2
119

1. Educação e Sociedade: Considerações GeYais

Tomando como ponto de partida o fato de que a


educação, antes de ser uma questão técnica, é um elemento
superestrutural que faz parte da instância ideológica, tor-
na-se necessário explicitar de que forma se estabelece a re
lação educação-ideologia.

-
Antes de mais nada, e preciso levar-se em conta
que a ideologia, apoiada pelo aparelho estatal, se apresen-
ta como universal e, dessa forma, busca esconder os interes
ses parciais que na realidade r~presenta.

Para Gramsci, a ideologia "é uma concepçao de mun


do que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na
atividade econômica, em todas as manifestações da vida inte
lectual e coletiva"! e só as concepções "orgânicas", aque-
las ligadas a uma classe fundamental, são essenciais. À me
dida que um grupo social conquista posição hegemônica, cria
um grupo de intelectuais ligados à sua concepção de mundo.

A sociedade como um todo é atingida pela ideolo-


gia dominante que é colocada pela classe hegemônica, atra-
vés da linguagem, num nível intangível e acima das diferen-
ças de classe. E verdade que esse atingir apresenta dife-
renças qualitativas em função das diferentes camadas que co~

poem a sociedade. O papel do intelectual é muito importan-


te uma vez que a ele cabe a função de organização da ideolo
gia das várias camadas ou classes sociais. E através do me
120

canismo de cooptação que a classe dirigente agrega todos os

intelectuais de uma determinada formação social com o obje-

tivo de estabelecer a sua orientação cultural, a qual se

constitue em fator essencial da hegemonia.

Entenda-se intelectual, como em Gramsci, num con-

ceito bem amplo, como aquele que enquanto "funcionário" da

superestrutura, ê criador, organizador e educador. Esse con

ceito de intelectual abrange desde a burocracia privada do

pessoal do aparelho de estado, aos criadores de concepçoes

de mundo (em ciência, filosofia, direito, etc.) e professo-

res primários."

À educação cabe papel importante, embora nao de

forma monopolizadora, na formação dos quadros que garantem

a consolidação da ideologia da classe dominante, assim como

a sua generalização, mesmo que relativa, para toda a socie-

dade. Ea educação que, enquanto prática social, ao incul-

car determinados tipos de conhecimento, reproduz determina-

dos tipos de sujeitos sociais.

"O eno4me de~envolvimen~o alcan~ado pela a~i


vidade e a o4ganiza~ão e~cola4 . (em ~en~ido
amplo) na~ ~ociedade~ que ~u4gi4am do mundo
medieval mo~t4a a impo4tância que alcan~a4am
no mundo mode4no a~ ca~ego4i~ e a~ 6un~õe~
in~electuai~: na medida em que ~e ~4a~ou de
ap406unda4 e dila~a4 a 'in~elec~ualidade'
de cada indivZduo, ~ambêm ~e tendeu a multi-
plica4 a~ e~pecializa~õe~ e a ape46ei~oã-l~.
I~~o ~e con~egue g4a~a~ ã~ in~~i~ui~õe~ e~c~
la4e~ de dive4~o~ g4au~, a~ê o~ o4gani~mo~
pa4a p4omove4 a chamada 'al~a cultu4a', em ca
da campo da ciência e da têcnica".s

A forma como a relação entre educação e ideologia

atua no proce~so de produção e reprodução nas instituições


de ensino ê tão bem clarificada por Lefebvre que justifica
121

a longa citação.

"A e~eola p~epa4a p40le~i~i04 e a unive~4ida


de di~igen~e4, ~eenoe~a~a4 e ge4~0~e4 da p~o
duCão eapi~ali4~a. Sueedem-4e a4 ge4acõe4 a~
4im 60~mada4, 4ub4~i~uindo-4e uma4 pela4 ou~
~~a4 na ~oeiedade dividida em ela44e~ e hie-
~a~quizada. Uma in~~i~uiCão ~evela-4e 'poli-
6uneional' (não 4 em di46uncõe4 e 6~aea4404).
A e4eola e a unive~~idade p~opagam o eonheei
men~o e 60~mam a~ ge~acõe~ joven4 4egundo ' pa
d~õe4' (pa~~e4n~) que eonvêm ~an~o ao pa~~o~
na~o eomo ã pa~e4nidade e ao pa~~imônio. Hi
di~6uncão quando o 4abe4 e~l~ieo ine4en~e a
~odo eonheeimen~o di o~igem a ~evol~ad04. Ã4
6uncõe4 maeica4 da e~eola e do lieeu 40b~e­
põe-~e a 6uncão 'ell~iea' da unive44idade,
que 6il~~a 04 eandida~04, de4 enc.oJtaja ou a6a4
~a '04 que 4e de~viam', pe~mi~e o 'e4~ab~
4hmen~'. ~4im, o~ ~~ê~ g~au4 de en4ino (p4i
mi~io, ~eeundi~io, ~upe~io~) não en~~am ape~
na~ eomo e6ei~0~ ou p~odU~04 da divi4ão 40-
eial do ~~abalho, dou~~ina jã expo~~a, po~
veze~ em nome da e~l~iea libe~al e mode4ada.
Ele~ 6azem pa~~e dela po~ eau4~ e ~azõe~,
eomo 6uncõe~ e e~~~U~U4a4 e 4ubo~dinam-~e
ao~ dive~~D~ me~ead04 eapi~ali4~a4 (o da~
me~eado~ia~, que e~~imula a p~oduCão - o do
~~abalho, que 60~ma 04 ~abalhado~e~)".6

No sistema capitalista de produção, a educação a-


presenta uma contradição fundamental uma vez que, se por um
lado tem por objetivo elevar o nível das massas de forma a
atender às exigências da produção, que se transforma conti-
nuamente, por outro, pretende impedir a transformação das
consciências.

Na sociedade brasileira,

"o~ g~upo4 que dividem


en~~e ~i a p~opJÚeda­
de e o con~ole di~e~o d04 mei04 de p~oduCão
do~ ben~ ( ... ) eoneen~~am en~~e ~i o pode~
de eon~~i~ui~em, em ~eu p~ovei~o, o ~ipo de
E4~ado que, po~ 4ua vez, ~ep~oduz ~e~vico~ e
no~ma~ de 4egu~anca, de p~op~iedade, de di-
~ei~o e a~ê de edueacão, ~e~vico~ e no~ma~
que 4e~vem em eonjun~o pa~a man~e~ eDe~a e,
4e po~~lvel, em ~ela~iva paz a o~dem 40eial
de que 4e nu~~e o eapi~al, ou 4eja, aquela
122

o~dem em qu~ ele ~e multipliea".7


~

Acrescente-se que a complexidade dos problemas do Estado e

diretamente proporcional à necessidade de ampliação de sua

rede escolar, quanto ao nível de especialização e .hierar~

quia, para atender à diversidade de funções sociais.

o Estado, enquanto organização jurídico-política

que coordena e disciplina as múltiplas manifestações de atl

vidade, de convivência de indivíduos e grupos que integram

a estrutura da vida social, necessita do consenso que ele

gera pela educação, coercitivamente ou não.

A necessidade que o Estado tem do consenso remete

a questão do poder que Bobbio divide em três tipos, confor-

me o meio de que se serve o seu detentor para obter os efei

tos desejados: o poder econômico, o ideológico e o políti-

co. O Estado assegura o consenso que lhe é imprescindível

exercendo, direta ou indiretamente, essas três formas de p~

der, que

"eont~ibuem conjuntamente pa~a in~titui~ e


mante~ ~ociedade~ de de~iguai4 dividida4 em
6o~te4 e 6~aeo4 com ba4e no pode~ polltico,
em ~ico~ e pob~e4 com ba~e no pode~ econômi-
co, em ~ábio4 e igno~ante4 eom ba4e no pode~
ideológico. Gene~ieamente, em ~upe~io~e4 e
in6e~io~e~".8

O Estado que, numa concepçao ampla proposta por

Gramsci, é a sociedade política + a sociedade civil: uma he


gemonia protegida pela coerçao, age no sentido da criação

de uma vontade coletiva e da construção de uma sociedade de

maneira que os valores das classes dominantes sejam consid~

rados como valores universais. O exercício da função hege-


123

mônica é um dado que caracteriza o exercício e a posse do

poder, entre as orientações básicas da função hegemônica es

tão a da criação de um sistema de alianças e a mudança in-


telectual e moral da sociedade.!

Um grupo social, num dado momento histórico, pode

exercer supremacia sobre os outros grupos de uma determina-

da sociedade. Essa supremacia pode se manifestar de dois

modos: como dominação e como direção intelectual e moral. O

agir e a maneira de pensar das classes dominadas sao marca-

das pela hegemonia ideológica das classes dominantes, uma

uma vez que, as massas são "educadas" num sentido que se

opõe a seus próprios interesses básicos e, também, à práxis

que lhes é própria.

Numa sociedade de classes em que o Estado é con-

trolado por uma classe politicamente dominante, a educação

- um dos veículos usados pelo Estado para impor sua vonta-

de - que prevalece é aquela voltada ao atendimento dos int~

resses dessa classe. A educação é então, além de uma prátl

ca social, uma questão política e, por isso mesmo, tende a


se distanciar do interesse geral da sociedade.

g preciso levar em conta, no entanto, que nem so

a classe dominante produz conhecimento. As camadas sociais

dominadas também produzem seus próprios saberes. Num país

como o Brasil, com as grandes diferenças regionais, isso po

de ser facilmente verificado através das manifestações do


folclore, da religiosidade popular, do senso comum e da lin

guagem. Esses conhecimentos produzidos pelas classes domi-

nadas se modificam ao longo dos diferentes momentos históri


124

coso

A educação nao é um ato político unilateral, pois


as classes dominadas tendem a lutar, ou resistir, contra es
sa dominação uma vez que

"a p04içio no~mal do homem no mundo - po~que


com ele - nio ~e e4gota em me~a pa~4ividade.
( ... 1 t a pa~ti~ da4 ~elaçõe~ do homem com a
~ealidade e nela c~iando, ~ec~iando, decidin
do, que ele vai dinamizando o ~eu mundo. {... T
E é ainda o jogo dialético de ~ua~ ~elaçõe4
- com que ma~ca o mundo ~e6azendo-o e com
que é ma~cado - que nio pe~mite a 'e4tatici-
dade' da~ ~ociedade4 nem da4 cultu~a4".IO

A partir de 1930, o Estado brasileiro se colocou


como o condutor do desenvolvimento econômico do país. A ed~

caça0, então, além de um instrumento de inculcação ideológl


ca, passou a ser também um importante investimento para o
aumento da produtividade através da qualificação da mão-de-
obra, da invenção técnica, etc. Principiou a transformação
qualitativa da escola, enquanto geradora de desenvolvimento,
sob a direção do Estado e o papel da educação começou a se
desdobrar, a partir do Estado Novo e mais intensamente na
década de 50, em vários níveis: na produção, como fator de
aumento da produtividade; na organização da produção, prep!
rando recursos humanos necessários a seu planejamento e con
trole; na ordem social, agindo a nível das consciências e
difundindo a ideologia da sociedade do bem-estar que resul-
taria do progresso econômico propiciado pelo capital; e ai~

da na formação de recursos humanos futuros para o processo


de produção. 11 Vale lembrar que a educação, principalmente
sob a forma de escolarização compulsória está ligada à as-
censão da burguesia ao poder.
125

A sociedade brasileira, cujos alicerces foram o


latifúndio e a escravidão, evoluiu até uma sociedade de elas
ses, típica de um regime capitalista periférico sem perder
a histórica dicotomia: trabalho manual/trabalho não-manual.
Se a escola não pode ser responsabilizada por essa divisão,

"ela. Jr.epJr.oduz em .6eu pJr.ôPJr...i..o .6e..i..o a. d..i..v..i...6ã.o


en~Jr.e ~Jr.a.ba.lho ma.nua.l e ~Jr.a.ba.lho ..i..n~elec~ua.l
pOJr.que já e.6~á, pela. pJr.ôpJr...i..a. na.~uJr.eza. ca.p..i..~a.
l..i...6~a., .6..i..~ua.da. globa.lmen~e em Jr.ela.çã.o a. - e
Jr.epJr.oduz..i..da. como a.pa.Jr.elho em óunçã.o de - uma.
d..i..vi.6ã.o ~Jr.a.ba.lho ma.nua.l/~Jr.a.ba.lho ..i..n~elec~ua.l
que ul~Jr.a.pa..6.6a. a. e.6cola.".12

o que se deve entender por classe social? O con-


ceito marxista vulgarizado não admite ambigüidades: classes
sociais são grupos de homens que se definem pelo lugar que
ocupam no processo de produção. Assim, no capitalismo exis
tem duas classes fundamentais: a burguesia que detém os meios
de produção e o proletariado que vende sua força de traba-
lho. As chamadas classes médias tendem ao desaparecimento.
Note-se que, nesta perspectiva, não foram considerados os
trabalhadores assalariados em setores não produtivos que
constituem uma variante das classes médias. Há que se consi
derar, ainda, a distinção entre estruturas e relações soci-
ais. Essa distinção normalmente não é clarificada em virtu
de de uma interpretação economicista das classes sociais que
indiferentemente usa o conceito de relação de produção - r~

lações dos agentes de produção entre si e do trabalho - e o


de relações sociais de produção que correspondem à estrutu-
ra econômica e às relações sociais, políticas e ideológicas
que constituem os suportes das estruturas sociais.

"Pode-.6e d..i..zeJr., a..6.6..i..m, que uma. cla..6.6e .6oc..i..a.l


126

de6ine-~e peio ~eu iuga~ no eonjunto da~ p~~


tiea~ ~oeiai~, i~to e, peio ~eu iuga~ no eon
junto da divi~ão ~oeiai do t~abaiho que eom~
p~eende a~ ~elaçõe~ polZlIea~ e a~ ~eiaçõe~
ideoiõgiea~". 13

A sociedade brasileira foi-se tornando mais com-


plexa, como não poderia deixar de ser, à medida que a econo
mia do país evoluiu do modelo agrário-exportador para o de
substituição de importações.

A partir de meados do século XIX, com a consolida


çao do Estado Nacional, desenvolveu-se a economia agro-ex-
portadora do café na região centro-sul do país e o aparelho
urbano-burocrático e de serviços (bancos, casas de export~

çao e importação, agências do governo central, etc.) atin-


giu dimensões consideráveis.

o setor terciário, que evoluia em função do dese~

volvimento do capitalismo comercial e da indústria, aos po~

cos foi-se subdividindo em diferentes categorias de ativida


des. Os serviços de produção - comércio, crédito, transpo!
te, comunicação -, por serem complementares -
as atividades
industriais, apresentaram um crescimento contínuo. Os ser-
viços governamentais e as atividades sociais cresceram tam-
bém por exigência da industrialização enquanto as profis-
sões liberais apresentaram um crescimento mais lento e nao
tão contínuo. De um modo geral, esses trabalhadores não pr~

dutivos constituiram a classe média que se distinguia dos


operários urbanos e dos trabalhadores rurais.

Do ponto de vista político, a classe média brasi-


leira tendeu para a formação de uma espécie de área onde a
127

luta anticapitalista das classes trabalhadoras era amorteci


da uma vez que ela (a classe média) era incapaz de suprimir
à divisão capitalista do trabalho. Daí a contradição ideo-
lógica própria dessa classe: tanto era atraída para o plano
ideológico da burguesia, enquanto segmento privilegiado pe-
la divisão do trabalho, como podia se aliar à classe traba-
lhadora em termos políticos desde que não fosse suprimida a
dicotomia trabalho manual/trabalho não-manual. Há que con-
siderar, ainda, que a classe média nao era homogênea em sua
constituição, o que decorria da existência de diferentes si
tuações de trabalho que correspondem a modos diversos de com
binações de alguns elementos como, por exemplo, nível de es
colaridade necessário, horários de trabalho e níveis sala-
riais mais ou menos próximos da remuneraçao do operariado.
Em virtude da presença prolongada e dominante do trabalho
escravo, a classe média brasileira até a década de 60, apr~

ximadamente, manteve-se afastada socialmente do proletaria-


do. Esse afastamento fora acentuado pelos movimentos anar-
co-sindicalistas e socialistas da década de 20.

Se os representantes de uma camada superior da


classe média brasileira - altos funcionários públicos, pro-
fissionais liberais, etc. - cultuaram o liberalismo que, em
termos gerais, er~ a ideologia dos setores agrários e se
opuseram com o mesmo empenho a

"'~egime~ ~evoLucioni~io~ de t~an~içio' (de


1931 a 1934), a 'ditadu~~' (de 1937 a 1945)
e a 'gove~no~ LegaLmente con~tituZdo~' (1945
a 1954), i~~o ~e deve a que a~ va~iaçõe~ con
juntu~ai~ da ~eLaçio ent~e o E~tado e o movI
mento popuLa~ (maio~ ou meno~ ~ep~e~~io, mal
o~ ou meno~ cont~oLe) nio ~io ~u6iciente~ pa
128

ILa. de..6 c.Ma.C-te ....izCV'f. a.o~ olho ~ d e.6.6 a. c.la..6.6 e a. ew


tênc.~a. de uma. pol2t~c.a. e.6ta.ta.l de ILec.onhec.[:
menta da..6 c.la..6.6 e.6 tILa.ba.lha.daILea.~". 1 '+

Na realidade, nenhum dos grupos sociais (os seto-


res médios, o setor cafeeiro, setores agrários menos vincu-
lados ao modelo agro-exportador), em fins da década de 20 e
início da de 30, detinham com exclusividade o poder pOlíti-
co e esse fato criou condições para que o Estado fosse con-
cebido como uma entidade arbitral que se mantinha afastada
dos interesses imediatos e se sobrepunha soberanamente ao
conjunto da sociedade.

A expectativa da pequena classe média em relação


ao Estado se resumia, principalmente, no progresso que, sob
sua ótica consistia no acesso que teria ao consumo. Esses
trabalhadores urbanos do nosso capitalismo periférico ti-
nham como parâmetro o nível de consumo usufruído pelos tra-
balhadores dos países desenvolvidos. Como esse consumidor
almejava os produtos oferecidos pelo mercado mundial, o que
era economicamente difícil, suas aspirações tornaram neces-
sá ria a industrialização. Essa "pressão", mesmo indetermi-
nada, contribuiu para que o Estado tomasse a iniciativa po-
15
lítica do crescimento industrial do país.

o "tenentismo" foi a mediação necessária para que


essas aspirações da pequena classe média se transformassem
em vontade política ao defender, indiretamente e em termos
tipicamente militares, a importância de um Estado nacional
antioligárquico e centralizado. Após a Revolução de 1930,
o novo Estado Brasileiro precisava de bases que o legitima~

sem e os grupos que até então haviam participado do poder,


129

direta ou indiretamente, nao tinham condições de fazê-lo.

As massas populares urbanas se constituiram, então, no seg-

mento social capaz de garantir o poder conquistado pelos r~

volucionários na medida em que o Estado se tornasse recepti

vo às suas aspirações. "Fincando seu prestígio nas massas

urbanas, Getúlio estabeleceu o poder do Estado como insti -

tuição e este começou a ser uma categoria decisiva na socie


dade brasileira".16

o setor agrário que até então possuíra o domínio

político da sociedade, passou a ter sua posição disputada

pelos proprietários de indústria. Novas forças sociais sur

giram no panorama nacional. Em função da industrialização,

os centros urbanos tiveram sua importância política aument~

da e, simultaneamente, expandiam-se o operariado e os seto-

res médios da população.

Se a classe média nao se unificava em torno de um

interesse autônomo, o operariado dependia do salário para

sobreviver o que explica ter a mesma relação - uma relação

básica - com o setor responsável pelo pagamento. Isso nao

significa, no entanto, que o operariado se constituísse nu-

ma classe social homogênea. O operário que, de alguma for-

ma, conseguia se qualificar e passava a almejar uma mudança

de posição social montando, por exemplo, sua própria peque-

na oficina, tinha uma visão de mundo que o aproximava da

classe média: o desejo de "subir na vida" ou o desejo de

"tornar-se independente". O pequeno agricultor que migrava


para a cidade e ia trabalhar na fábrica se identificava com

o operariado e constituía uma outra camada da classe. Tanto


130

no primeiro como no segundo caso, o comportamento político

nao se orientava pelos interesses correspondentes à situa-

çao econômica concreta uma vez que o salário era visto de

duas formas diferentes: como uma forma de dependência da

qual podia sair e como a garantia de um rendimento fixo.

Em termos políticos, o proletariado brasileiro, na

primeira metade do século XX, foi marcado por dois movimen-

tos que se complementavam: a marginalidade até a década de

20 e a absorção pelo aparelho estatal através da legislação

trabalhista (1934).

A crise de 1929, afetando países capitalistas com

os quais o Brasil mantinha relações de dependência econômi-

ca, estimulou a redefinição das relações entre os diferen-

tes setores da sociedade brasileira. ·A saída era concen-

trar esforços na industrialização e o Estado se encarregou

de criar condições para a afirmação de uma burguesia que,

mesmo incipiente à epoca, fosse capaz de neutralizar politi

camente o operariado.

A partir de 1930, o Estado brasileiro, além da e!

pansao, teve que redefinir suas funções. "~então, na est~

fa de um Estado hipertrofiado, que vão tomando forma as cla~

ses sociais e se vão definindo as relações entre elas".17

Em 1945 o país estava apto a acelerar seu desen -

volvimento e a burguesia industrial estava em condições de

disputar a tutela estatal sobre a sociedade. Ao mesmo tem-

po que o país se redemocratizava e surgiam os grandes parti

dos políticos, as relações entre os setores da sociedade se

redefiniam porque os diversos segmentos da burguesia, as ca


131

madas m~dias urbanas e o proletariado haviam sardo do Esta-

do Novo com níveis diferentes de desenvolvimento polrtico.

Após a Segunda Guerra, e em parte por causa dela,

foi considerável o desenvolvimento industrial brasileiro en

quanto a produção agrária permanecia estagnada. As cidades

haviam crescido e o proletariado se constituíra num contin-

gente populacional politicamente considerável e o Governo

Dutra, por conseqU~ncia, teve qua dar continuidade ao pro-

cesso de absorção política das massas urbanas e incorporar

as massas rurais ao processo democrático e aos benefícios

do desenvolvinento, antes que as pregaç6es revolucionárias

as conquistassem.

A burguesia industrial emergente que conseguira,

com a Revolução de ~930, arrancar parte do poder da antiga

burguesia agrário-comercial, constatou que as instituiç6es

econômicas, políticas, educacionais, etc., que vinham de um

contexto agrário-colonial, tinham que sofrer mudanças para

que se instalasse e expandisse o regime capitalista de pro-

dução no setor industrial. Assim, a partir do momento em

que o setor industrial principiou a ter ascend~ncia sobre os

outros setores da economia, \~stes começaram a sofrer mudan-

ças internas na direção do modo capitalista de produção. E~

se fato acarretou, paralelamente, metamorfoses na própria

organização da vida individual e social.

"t ne~~e ~enz~do que ~e 4eal~za a ~ecula4~za


ção da culzu4a e do compo4zamenzo, a 4eo4~en
zação da~ 4elaçõe~ do~ homen~ enZ4e ~~, com
o ~ob4enazu4al e com a naZU4eza. A~ c4ença~
e o~ pad4õe~ de compo4zamenzo, o~ valo4e~ e
a~ no4ma~ ~oc~a~~ mod~6~cam-~e ( ... ) V~~~ol­
vem-~e a~ 4elaçõe~ ~oc~~~ ex~~zenze~, em be
132

ne6Zeio de out~a~". 18

Como a sociedade agrária foi muito lentamente pe-

netrada pela "civilização capitalista", as reformas instit~

cionais básicas aí chegaram com considerável atraso.

Acrescente-se que, durante o Estado Novo, o poder

da burguesia industrial e financeira aumentou consideravel-

mente graças, inclusive, à utilização do poder militar e p~

licial contra as forças políticas que lhe opunham resistên-

cia: as forças de esquerda e as forças tradicionais ligadas

ao campo. Para o Estado, ao assumir a condução da política

econômica nacional, era muito importante afastar as tendên-

cias mais extremadas.

Dentro desse contexto sócio-político-econômico, a

demanda por escolarização cresceu. Acrescente-se que tal

demanda era um fato desde 1920 porque o número elevado de

analfabetos excluía grande parte da população do processo

eleitoral. Além do eleitoral, contribuíram para a crescen-

te procura por educação outros fatores como a urbanização e

o crescimento demográfico das massas urbanas em virtude da

migração rural; a proposta de desenvolvimento industrial que

exigia a preparaçao de contingentes para as novas ativida-

des em expansao e a necessidade de consenso por parte do Es

tado.

A Igreja que pretendia recuperar o terreno perdi-

do para o positivismo republicano e ampliar a "sua proemi -

nência moral e o seu poder político que depende da manuten-


ção do espírito religioso do povo, isto é, dos votantes"l',
133

se empenhou em aumentar a sua própria rede de instituições

de ensino. Não havia, por parte da Igreja, uma preocupaçao

específica com o ensino profissional que o desenvolvimento

prometido pela industlialização demandava.

Durante a longa predominância da economia agro-e~

portadora, o que existia em termos de educação sistematiza-

da era voltado para a formação das elites objetivando o de-

sempenho das funções pOlítico-burocrátias e o exercício de

profissões liberais. Esse fato explica porque um padrão de

ensino humanístico e elitista ficou tão arraigado entre nós.

Explica, também, porque o poder público relegava a educação

a um plano secundário - a educação não correspondia às exi-

gências da sociedade como um todo - enquanto as institui-

ções mantidas pela Igreja Católica sobressaíam-se no atendi

mento àquele padrão de ensino acima referido.

Quando o processo de industrialização principiou

a emergir e a demanda social pela escola cresceu, as elites

intelectuais se mobilizaram e modificações aconteceram no

discurso e na ação do Estado. Na década de 20, a precária

oferta de ensino, à qual era atribuída, talvez por ser mais

fácil, a causa dos problemas brasileiros, preocupava dife-

rentes grupos da sociedade e a campanha contra o analfabe -

tismo evoluiu.
134

2. A educação brasileira no período de 1930 a 1945

2.1 A Escola Nova

Durante a década de 20, os profissionais da educ~

çao haviam introduzido uma outra visão da escola, a escola


renovada, em que a preocupação com a qualidade do ensino
era o ponto aI to. Esses "renovadores" representavam no país,
ideologias originadas no contexto das sociedades hegemôni-
cas que aqui foram "traduzidas" em termos dos interesses 10
cais dominantes.

A Pedagogia da Escola Nova surgiu quando a burgu~

sia dos países capitalistas centrais já se afirmara como


classe hegemônica e o pensamento liberal evoluíra para a
idéia de uma construção social na qual era destinada à esc~

la a missão de reformadora da sociedade. A ordem capitali~

ta não era questionada e os desvios de sua evolução eram a-


tribuídos à derrota da açao equalizadora da escola. De acor
do com Dewey, a maneira de corrigir esses desvios consisti-
ria em "( ... ) criar nas escolas uma projeção do tipo de so-
ciedade que desejaríamos realizar; e, formando os espíritos
de acordo com esse tipo, modificar gradualmente os princi-
pais e mais recalcitrantes aspectos da sociedade adulta".2o

O ideá rio liberal brasileiro assimilou o escolano


vismo porque atendia ao conservadorismo dos setores dominan
135

tes, aos anseios reformistas dos setores médios da socieda-


de e prometia ascensão social para os setores dominados.

A Revolução de 1930 que, em função dos interesses


internos e das conjunturas externas, permitiu a articulação
entre as diferentes frações da classe dominante, permitiu,
também, que o liberalismo nacional se consolidasse nwm ideo
logia educacional que refletia as contradições do desenvol-
vimento do nosso capitalismo periférico.

Em 1932, assinado por Fernando de Azevedo, Louren


ço Filho, Carneiro Leão e outros, o Mani6e4to d04 Piohei~04

da Edueação Nova mostrava uma concepçao nova das relações


entre o sistema educacional e a realidade nacional.

"Na hie~a~quia d04 p~obLema4 nacionai4, ne-


nhum 4ob~eLeva em impo~tâneia e g~avidade ao
da edueação. Nem me4mo 04 de ea~ãte~ eeonômi
eo Lhe podem di4puta~ a p~mazia n04 pLano~
de ~eeon4t~ução naeionaL. POi4, 4e a evoLu-
ção o~gâniea do 4i4tema euLtu~aL de um paZ4
depende de 4ua4 eondiçõe4 eeonômiea4, ê im-
p044ZveL de4envoLve~ a4 60~ça4 eeonômiea4 ou
de p~odução 4em o p~epa~o inten4ivo da4 60~­
ça4 euLtu~ai4 e o de4envoLvimento da4 apti-
dõe4 ã invenção e ã iniciativa que 4ão 04 6a
to~e4 6undamentai4 do ae~ê4eimo de ~iqueza
de uma 40eiedade".2l

Os Pioneiros preocupavam-se com o desenvolvimento


tecnológico e científico que, a exemplo do que acontecia em
nível internacional, eram indispensáveis à modernização do
país e, conseqüentemente, à sua autonomia. Cabe observar que,
por nao levar em conta a especificidade própria da moderni-
zação do nosso capitalismo, a defesa do desenvolvimento tec
nológico e científico tornou-se inócua. De qualquer forma,
as finalidades da educação deveriam condizer com a visão de
mundo de um país que se modernizava (o liberalismo nacio-
136

nal, no caso).

"A educaçio nova 1••• 1 a44ume a 4ua ve~dadei


~a 6unçio 40cial, p~epa~ando-4e pa~a 60~ma~
a 'hie~a~quia democ~ã~ica' pela 'hie~a~quia
da4 capacidade4', ~ec~u~ada4 em ~Od04 04 g~u
p04 40ciai4, a que 4e ab~em a4 me4ma4 opo~~~
nidade4 de educaçio".22

o Manifesto afastava a id~ia de monop6lio da edu-


caça0 pelo Estado ao qual atribuía a organização dos meios,
atrav~s de um plano geral, que tornasse a escola, em todos
os seus graus, acessível a todos de acordo com as aptidões
vitais de cada um.

Outro aspecto importante do Manifesto era a visão


pragmática da função da escola:

"1 •.• 1 4e em ~oda a comunidade a4 a~ividade4


manuai4, mo~0~a4 ou con4~~u~0~a4 con4~i~uem
a4 6unçõe4 p~edominan~e4 da vida, e na~u~al
que ela la e4cola) inicie 04 alun04 ne44a4
a~ividade4, pondo-04 em con~ac~o com o am-
bien~e e com a vida a~iva que 04 ~odeia, pa-
~a que ele4 p044am, de4~a 60~ma, p044uZ-la,
ap~eciã-la e 4en~i-la de aco~do com a4 ap~­
dõe4 e P044ibilidade4".23

A proposta consistia em preparar os alunos, a pa~

tir do 1 9 ciclo, para as atividades profissionais de manei-


ra a colocar o sistema educacional em função do desenvolvi-
mento s6cio-econômico do país.

Ao tratar da renovação do ensino superior, o Mani


festo cuidou da formação das elites às quais esse se desti-
nava. De urna elite bem selecionada entre os mais capazes,
dependia o desenvolvimento da sociedade.

Os Pioneiros tiveram

"um p~imei~o apoio legal de ambi~o nacional


na4 Re60~a4 F~anci4co Camp04, advinda4 com
137

a Revolução de 1930, que c~~ou o M~n~h~én~o


da Educação e Saúde e, pOh~e~~onmen~e, no ca
pltulo 'Oa Educação e da Cultuna na Conht~~
tuição de 1934'''.
Os Pioneiros, liberais por vocação e revolucionirios por n~

cessidade mantiveram uma luta com a Igreja que se estendeu


até o Estado Novo e se reacendeu em 1946 com a volta do
24
país à democracia liberal.

Apesar de todo autoritarismo implantado em 1937,


o Estado, de certa forma, incorporou o ideirio estadonovis-
ta na sua concepção de educação como "o aparelho que aloca
os 'dons' individuais de cada um, ajustando-os à sociedade
e com isso ela se harmoniza".25 Essa visão elitista se re-
velava pela "meritocracia" expressa no Manifesto:

"Se o pnoblema 6undamen~al dah democ~ac~ah ê


a educação dah ma,hhah popula~e~, o~ melhone~
e o~ ma~~ capaze~, po~ heleção, devem 60nman
o vê~t~ce de uma p~~ãm~de de ba~ e ~men~ a" .26

Resumindo, enquanto o modelo norte-americano que


inspirara as diretrizes do Manifesto, foi planejado de for-
ma definida como uma proposta para romper a situação depen-
dente de outras nações capitalistas, no Brasil essa situa-
çao periférica não foi enfrentada. O que aconteceu entre
nós foi que uma educação que deveria ser planejada para uma
civilização urbano-industrial, se reduziu, de um modo geral,
à adoção de uma nova linguagem para as antigas priticas edu
cativas.

Em 1924, um grupo de intelectuais criou a Associa


ção Brasileira de Educação CABE) com o objetivo de "colabo-
rar em perfeita harmonia com os governos"27 em matéria de
138

educação.

Em 1931, o governo pediu à ABE o embasamento para


uma política educacional. As divergências internas, no en-
tanto, impediram que da Quarta Conferência Nacional de Edu-
cação saísse a resposta esperada pelo governo e permitiram
que, no ano seguinte, fosse lançado o Manifesto dos Pionei-
ros. A intensificação dos confli tos internos na ABE fez com
que o grupo católico abandonasse a associação e fundasse a
Confederação Católica Brasileira de Educação (CCBE).

Contra o perigo de um modernismo agnóstico que a-


meaçava a pedagogia brasileira, Amoroso Lima se pronunciara
refletindo o pensamento católico:

"Ao~ educado~e~ ca~5Lico~, po~~an~o, e a ~o­


do~ aqueL~ que op~am peLa ~evoLução e~pi~i­
~uaL b~a~iLei~a con~~a a de~ca~ac~e~ização
yanki~~a ou ~ovié~ica, cabe ne~~e momen~o
uma ~a~e6a deci~iva pa~a a cau~a do B~a~iL,
que ê a me~ma da CiviLização, que p~e~enda
de6end~ o ~eu ca~ã.~e~ c~i~~ão e a ~u.:t 6inaL~
dade e~pi~i~uaL".2a

A ABE se colocara favorável àqueles defensores da


Escola Nova, que eram francamente contrários ao ensino reli
gioso facultativo nas escolas.

A ABE que fora reconhecida, pelo Decreto n 9 5.235,


de 20 de novembro de 1934, de utilidade pública, silenciou,
por razões políticas, durante o Estado Novo.

2.2 A educação sob o enfoque católico

No quadro de instabilidade política que se confi-


gurou apos a Revolução de 1930, a Igreja era uma institui-
ção j á organizada no país e, sob a firme orientação de D. Le
139

me, se conduzia no sentido de recuperar as poslçoes perdi-


das em 1889. Responsável pela maior parte das escolas se-
cundárias, a Igreja desenvolvia sua ação junto às elites
oligárquicas garantindo-lhes a posição de liderança conduto
ra da sociedade. Quando a Igreja se voltava para as clas-
ses populares, fazia-o com caráter assistencialista. Essas
posições conservadoras seriam mantidas até a década de SO
quando as "transformações sofridas pelo pensamento cristão
começaram a se manifestar em termos práticos, concretos, so
bre o movim0nto educativo brasileiro".2!

Para as lideranças católicas, a origem da crise


por que passava o país era o esquecimento de Deus e sua so-
lução estava na reestruturação das instituições em Cristo.
O racionalismo suprimira as dimensões natural e sobrenatu-
ral do homem e a Igreja, combinando a autoridade da Tradi-
ção, da Escolástica e do Magistério era a única instituição
capaz de equilibrar o homem e a sociedade em seu duplo des-
tino natural e sobrenatural.

Os pensadores católicos, dentre os quais desponta


Alceu de Amoroso Lima, concebiam a ordem social fundamenta-
da no espiritualismo cujos princípios eram os únicos capa-
zes de reeducar os homens. Só a obediência aos preceitos
evangélicos pode levar ao atendimento das necessidades mate
riais e morais da sociedade. O homem integra-se em duas o~

dens de bens: os de natureza temporal, física e os de natu-


reza espiritual. "O homem é, portanto, por essência, cida-
dão nato de duas sociedades perfeitas: a civil e a religio-
sa".30 A Nação e o Estado constituem a sociedade civil pe~
140

feita e a Igreja Católica, a sociedade religiosa por. exce-


lência uma vez que "realiza a plenitude das exigências reli
giosas naturais da alma humana,,3l.

A Igreja Católica, à época, tinha como um dos seus


propósitos fundamentais a prevenção contra o possível cres-
cimento do comunismo e, por isso, atribuía grande importin-
cia aos grupos considerados "células naturais" da naçao co-
mo, por exemplo, a família, instituição básica, natural e
primeira da sociedade. Coincidentemente, o Estado tinha na
família uma das suas bases de sustentação, daí a preocupa -
ção em enaltecer e preservar a "c.eiula.. ma.-telL" da sociedade
d0 quaisquer influências que a pudessem corromper.

A instituição da Comissão Nacional de Proteção -


a

Família pelo Decreto-lei n 9 1.764, de 10 de novembro de 1939,


foi bem recebida pelos católicos porque, nas palavras de
Amoroso Lima,

"( ••. 1 e~~a. c.omi~~io a.plLe~en-touum plLoje-to


de lei a.blLa.ngente que ia. de~de a.
ba.~ta.nte
in~tituiçio do a.bono 6a.milia.1L a.té a. c.lLia.çio
do impo~to ~oblLe c.eliba.tãlLio~ e c.a.~a.i~ ~em
6ilho~, pa.~~a.ndo pela. 2a.c.ilita.çio de a.qui~i­
çio de c.a.~a. pIL5plLia.".s

A relação Igreja-Estado Novo no tocante à políti-


ca da família não seria, no entanto, tão tranqüila como se
verá a seguir. Dos trabalhos dessa comissão resultou o De
cre~o-lei n 9 3.200, de abril de 1941, que, em linhas muito
gerais, não entrou em temas mais controvertidos, não adotou
uma defesa tão intransigente da família tradicional e, de
concreto, criou mais um órgão da burocracia federal: o De-
partamento Nacional da Criança.
141

Esse decreto (o de n 9 3.200) foi modificado pelo


de n 9 3.284, assinado em 19 de maio de 1941, que o objetiv~

va regulamentar as vantagen3 concedidas aos funcionários pg


blicos com muitos filhos. O ponto que provocaria a reaçao
da Igreja foi o item "c" do primeiro artigo que conferia
preferência, em igualdade de condições com os demais, ao can
didato solteiro que tivesse filhos reconhecidos.

A reação da Igreja, que não se fez esperar, se


traduziu no recurso ã mobilização da opinião pública atra-
ves de um memorial enviado a Vargas, com cópia para Capane-
ma. Nesse memorial, assinado por representantes de várias
entidades como o Centro D. Vital, a Confederação Nacional de
Operários Católicos, a Federação das Congregações Marianas
e a Associação dos Jornalistas Católicos, por exemplo, era
solicitado que a condição de casado fosse exigida para a
promoção funcional; era um meio de incentivar o casamento
e, como decorrência, proteg-er a mulher e os filhos. Na rea
lidade, o que havia era a preocupação de garantir e valori-
zar a família legitimamente constituída de acordo com a mo-
ral católica.

Esses protestos nao foram considerados e a norma


de equiparação foi mantida. 33

De qualquer forma, a atenção particular dispensa-


da ã família se explica pelo poder, por ela exercido, que
reside na sua função de mediação social. Ao fornecer a to-
das as instituições sociais um modelo de fácil controle, a
família reforça o poder efetivo da classe dominante uma vez
que, na sua função de socialização primária do indivíduo,
142

instila na criança as doses de controles sociais necessa-


rios para sua submissão ã sociedade através de um elaborado
sistema de tabus.

A crise por que passava, nao so o país, mas o mun


do ocidental, tinha, para os católicos, uma raiz intelec-
tual e, assim, a educação era o veículo para a solução. Deus
estivera ausente da educação escolarizada. Era urgente, po~

tanto, a definição de uma filosofia de educação que expres-


sasse um ideal pedagógico fornecido por uma concepção de vi
da ditada pelas ciências especu1ativas que

"opeJLa.m pJr..inc.ipa.lmente na. oJLdem da. veJLda.de,


a.o pa.~~o que a.~ c.iênc.ia.~ pJLát.ica~ opeJLa.m na.
oJLdem do bem. 00 me~mo modo que há uma. veJLda.
de a. de~cobJL.iJL na na.tuJLeza., da.~ co.i~a.~, hã
um bem a. pJLa.t.icaJt _pa.)I.a. leva.1L cada. co-i.~a. ã
~ua. 6.inal.ida.de na.tuJLa.l, e- e~4a. i a ta.JLe6a.
da~ c.iênc.ia.~ p1Lát-i.ca.~, enqua.nto d.iJL.igem a.
vontade humana. pa.JLa. a. opeJLa.ção do be~ a.o pa.~
~o que a~ e~pecula.t.iva.~ d.iJL.igem a .intel.igên~
c.ia huma.na. ã de~cobeJLta. da. veJLdade".34

A ética, subordinada ã teologia, forneceria o fio condutor


das ciências especulativas.

Os pensadores católicos se contrapunham ao positi


vismo que norteava a intelectual idade brasileira e privile-
giava o Estado como a sociedade competente para a orienta-
ção do ideal pedagógico. Os católicos acreditavam que -
a

cooperação harmônica das três sociedades - a Igreja, a Famí


lia e o Estado - cabia a responsabilidade pela educação já
que sao igualmente necessárias, distintas e unidas por Deus. 35

A EncZcl.ica. V.iv.in.i lll.iu~ Ma.g.i~tJL.i, editada em 31


de dezembro de 1929, cuidando da Educação Cristã da Juventu
de, foi o alicerce do pensamento católico da época para o
143

qual, assim como as faculdades humanas sao ordenadas pela


educação, também os valores são hierarquicamente ordenados.
"Não chega.mo~ - escrevia Amoroso Lima - a um
e~p~~~tua.t~~mo a.b~t~a.to 6unda.do a.pena4 na. ~a.
zão ou no co~a.ção do p~õp~~o homem. E ~~m ã
~ubo~d~na.ção da. ~n4t~ução ã educa.ção e de~ta.
ã cuttu~a., po~ me~o ta.mbém de uma. h~e~a.~qu~a.
c~e~cente da. 6o~ma.ção 6Z4~Ca., 4ubo~d~nada. ã
~ntelectua.l e e~~a. ã mo~a.l. Tudo ~440 un~6~­
ca.do peta. 6~na.l~da.de últ~ma. do homem, o qua.l
não é um ~dea.t a.b~t~a.to e 4~m um 4e~ conc~e­
to, o Se~ em ~~, o Veu~ V~vo que ~e 6ez ho-
mem pa.~a. no~ ~a.lva.~. A educa.ça.o ~el~g~o~a.,
po~ta.nto, é a. cha.ve de toda. a. 2~lo~o6~a., a.
c~~nc~a. e a. a.~te peda.gõg~ca.".3

Na oraçao proferida como paraninfo das turmas de


professores pela Faculdade Nacional de Filosofia da Univer
sidade do Brasil, em dezembro de 1941, Amoroso Lima refor-
çava a filosofia educacional católica:

"t ... ) não há. en~~no c~entZn~co pe~~e~to ~em


con~c~~nc~a. ~oc~a.l. E não ha. con~c~enc~a. ~o­
c~a.l, ve~da.de~~a., ~em e~6o~ço mo~a.l e ~el~ -
g~o~o. L. .. )o~ !1~a.nde4 va.lo~e4 ~OC~a.~4 que
ultimamente ~e tem diviniza.do - a. Cla.~4e, a.
Raça., a. Na.ção, o Núme~o, a. Técnica. - que ~ão
ete~ 4enão out~o~ ta.nto~ ~ub~tituto~ ilu~õ­
~o~ pa.~a. a. ~ede de Veu~ que exi~te ~nva.~~a.­
vetmente no co~a.ção de todo~ o~ homen~".37

A Igreja tinha seu projeto próprio de educação


que, sem antagonizar a política educacional vigente, nor-
teava as suas instituições de ensino. O conceito cristão
de educação, por outro lado, era suficientemente elástico
(ou vago) para não ir de encontro aos interesses do "e~ta.­

bl~~ hm ent" :

"A educa.ção é um p~oce~~o v~ta.l ~e~ulta.nte


de 6a.to~e~ exte~no4 e inte~no~, de 6o~ça~ na.
tu~a.~4 e e~pi~ituai~. ( ... ) A educa.ção nãO
~e ~e~ume numa. p~epa.~a.ção utilitá.~ia. pa.~a.
6~n~ exclu~ivo~ ou numa 6o~ma.ção de a.4pecto~
pa.~cia.i~ da. pe~~ona.l~dade. ( ... ) A educação
c~i~tã p~ocu~a. de~envolve~ no homem toda. a.
1-l4

pe~6ectibilidade de que ele i capaz".3e

Resumindo, a educação, segundo a concepçao cristã,

é um processo de desenvolvimento e de formação onde agem,

de forma conjugada, a influência assistemática e difusa do

meio; a influência sistemática e intencional da família,

da escola, da Igreja, do Estado e a ação consciente e li-

vre do próprio educando.

Criticando a pedagogia da Escola Nova, Amoroso Li

ma dizia que os métodos não se confundiam com o ideal ped~

gógico e tinham por função ativar os conteúdos de maneira

que o ideal fosse alcançado:

"t ... ) o caminho da pedagogia católica deve


~e~ ju~tamente o e~tudo acu~ado de todo~ o~
mitodo~ novo~, intftoduzido~ pela pedagogia
modeftna, de todo~ o~ 6ato~ ftevelado~ pela
p~icologia expeftimental ou eela~ expeftiên-
cia~ ~eculafte~ do tema t •.• ) a luz de uma gi
lo~o6ia veftdadeiftamente católica de vida". ~

~ de Amoroso Lima o quadro que sintetizava de forma bastan

te abrangente, em que deveria consistir a pedagogia cató1i

ca (Anexo I).

Além dos educadores leigos, nessa primeira fase de

contestação ao "escolanovismo", a Igreja se fez represen-

tar por sacerdotes como o Padre Leonel Franca, por exemplo:

"E a educação que pla~ma o homem; a in~tftu­


ção, quando muito, pftepa~a ticnico~. ( ... ) A
in~tftução i apena~ um meio; a educação o 6i~
a ftazão-de-~eft da atividade pedagógica. Ao
unilate~ali~mo intelectuali~ta, que ~e fte~ol
ve numa mutilação de6oftmadofta da natufteza~
oponha-~e uma concepção integftal da pedago-
gia que aóftace a cftença na 4ealidade viva,
conc4eta, total de ~ua~ eúgênciM humana..6". ItO

Dos princípios defendidos pelos Pioneiros, o da


145

laicidade e o da co-educação, principalmente, mereciam acir


radas críticas dos educadores católicos e, embora por ra-
zões diferentes, das autoridades educacionais. Essas crí-
ticas virão novamente à tona nas inúmeras discussões em
torno da elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional, iniciada com a redemocratização do país e co~
cluída em 1961. Note-se que as propostas educacionais ca-
tólica e liberal, eram ambas elitistas, só diferindo por
"servirem" a elites distintas.

A Igreja sempre levou o conceito e a prática da


educação para além da escola, embora desse a esta um lugar
de destaque, porque

"a 4eligiio ca~5lica acabou impondo a ~i p45


p4i~ a mi~~ão de ~e4 o in~~4umen~o in~~i~u ~
cional Que 6az a pon~e en~4e a o4dem divina
e a humanidade pa4a ~alva4 e~~a úl~ima a~4a­
vê~ do encon~40 com a Revelacão. r~~o ~e dá
p04 ela ~e con~ide4a4 o luga4-~e44eno de~~a
ligacão, Que4 a~4avê~ da ~obe4ania vi~Zvel
da hie~a4Quia, Que4 a~4avê~ da invi~Zvel ema
nada do~ cêu~"." 1

2.3 A centralização nacional da educação

Até a década de 30, não havia um sistema nacional


de ensino e, portanto, a ideologia educacional não era explici-
tada na política do ensino público. O ensino estava orga-
nizado em sistemas estaduais, sem articulação legal com o
sistema central. Essa independência, no entanto, era rel~

tiva porque a legislação referente ao Distrito Federal fun


cionava como um modelo que, de um modo geral, era seguido
por todo o país. O Colégio Pedro 11 era um padrão de refe
rência para o ensino brasileiro.
146

o governo que se instalou pós-Revolução de 1930

tinha um projeto centralizador que levou i criação do Mi-

nistério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (Decre-

to n 9 19.402, de 14 de novembro de 1930) e do Conselho Na-

cional de Educação (Decreto n 9 19.850, de 11 de abril de

de 1931). O Ministério e o Conselho ~inham por função ga-

rantir diretrizes gerais para a educação nacional, o que

atenderia, também, is reivindicações dos "profissionais da

educação". A perspectiva centralizadora

"~omou 60Ama legal na Con~~i~ui~io de 1934,


que a~Aibuiuã Uniio compe~ência paAa ~Aa~aA
a~ 'diAe~Aize~ da educa~io nacional', a~Aa­
vê~ de uma a~io legi~la~iva que ~e e6e~iva -
Aia pela di4CU~~io e apAova~io pelo Legi~la­
~ivo, do Plano Nacional de Educa~io. TAa~a­
va-~e, a~~im, do e~~abelecimen~o de diAe~Ai­
ze~ eAai~ de OA aniza io e uncionamen~o do
~~~~ema e en~~no, a4 qua~~ peAm~~~~~em ã
Uniio cooAdenaA a a~io educa~iva d04 e~~a­
d04".'+2

A centralização da educação foi feita gradual e

lentamente. Os estados continuaram controlando o ensino

com seus meios próprios, o que atendia i descentralização

pleiteada pelos inovadores. Ao mesmo tempo, foi garantida

aos representantes do ensino confessional e privado, de um

modo geral, a participação na burocracia estatal que condu

ziria o sistema educacional.

A Reforma Francisco Campos, efetivada através de


uma série de decretos que dispunham sobre a organização do

ensino superior e do ensino médio, secundário e profissio-

nal, traduziu-se numa proposta muito particular e conserva


dora, pois consolidou o dualismo, reforçou o elitismo e não

contemplou a pretendida renovaçao científica do sistema


147

educacional. Os ensinos secundário e superior foram pri-

vilegiados enquanto os representantes dos ensinos primário

e técnico foram excluídos do Conselho Nacional de Educa-

çao.

Não cabe ao intento desse trabalho um exame mais

detalhado da Reforma Francisco Campos. Vale, no entanto,

acrescentar que a universidade foi adotada corno forma de

organização do ensino superior e, em 11 de abril de 1931,

foi decretado o Estatuto das Universidades Brasileiras, em

vigência até 1961, que agregaria a Faculdade de Educação

Ciências e Letras às demais faculdades que integravam a

Universidade do Rio de Janeiro, com a finalidade prática de

preparar professores para o ensino médio.

Durante a Era Vargas assistimos

"( ... ) uma tomada de con~ci~ncia po~ pa~te


da ~ociedade polZtica, da impo~tância e~t~a­
têgica do ~i~tema educacional pa~a a~~egu~a~
a~ mudança~ e~t~utu~ai~ oco~~ida~ tanto na
in6~a como na ~upe~e~t~utu~a. Po~ e~~a ~azão
a ju~i~di~ão e~tatal pa~~a a ~egulamenta~ a
o~ganizaçao e o 6uncionamento do ~i~tema edu
cacional, ~ubmetendo-o, a~~im, ao ~eu cont~o
le di~eto".~3

Este controle se acentuou no período de 1937 a 1945, com a

centralização do sistema educacional em torno da União ob-

jetivando colocar a educação a serviço da ideologia do Es-

tado, procedimento comum a regimes autoritários.

A proposta educacional do Estado evidenciava-se

no discurso do Ministro Capanema por ocasião dos festejos

do Centenário do Colégio Pedro 11:

"Sendo a educação um do~ in~t~umento~ do E~­


tado, ~eu papel ~e~á 6ica~ a ~e~viço da Na-
148

ção ( ... I lo~ge de ~e~ ~eut~a (a educação),


deve toma~ pa~t~do ou melho~, deve adota~
uma 6~lo~o6ia e ~egui~ uma tábua de valo~e~,
deve ~ege~-~e pelo ~i~tema de di~et~ize~ mo-
~ai~, polltica~ e eco~ômica~ que 60~mam a ba
~e ideológica da Nação e, que, po~ i~to, e~~
tão ~ob a gua~da, o co~t~ole ou a de6e~a do
E~tado. ( ... 1 P~ovidê.nciai~adiável a ~e~,
po~tanto, tomada ê a elabo~ação de um código
de di~et~~ze~ da educação nacional. ( ... ) Se
~ã~ aI Cne~~~ <;-ódigo] e~ta~el~cida~ a~ di~e-::
t~~ze~ ~deolog~ca~, ~ob CUja ~n6tuenc~a toda
a educação ~e~á ~ealizada, e ainda o~ p~i~cl
pio~ de o~ga~ização e 6uncio~ame~to de todo
o apa~elho educativo do pal~. Tal co~po de
lei con~titui~á o Código da Educação Nacio-
~al".1t1t

Acrescente-se que a ideologia do Estado - Um Est~

do intervencionista, controlador e paternalista - se fazia


presente não só no sistema escolar mas nos meios de comuni
caça0 e em todos os organismos sociais de maneira a envol-
ver, tanto quanto possível, a totalidade dos brasileiros.

Segundo Francisco Campos, um dos idealizadores do


Estado Novo,

"pa~a a~~egu~a~ ao~ home~~ o gozo do~ novo~


di~eito~, o E~tado p~eci~a de exe~ce~ de mo-
do e6etivo o cont~ole de toda~ a~ atividade~
~ociai~ - a eco~omia, a polltica, a educação
( ... ) Só o E~tado 60~te pode exe~ce~ a a~bi­
t~agem ju~ta ( ... ) Não in~titulmo~ um pode~
de~pótico, ma~ um pode~ in~titucio~al 2o~te,
como exp~e~~ão da ~obe~ania ~acio~al". 5

Para Azevedo Amaral, outro ideólogo do Estado No-


vo,

"tanto no plano e~pi~itual como na e~6e~a e-


conômica, a auto~idade do E~tado do tipo ago
~a ado.tado ~o BJta~il 6az-~e ~e~ti~ ~ob a 60~
ma de coo~denação e ~eaju~tamento da~ ativi-::
dade~ do~ i~divlduo~ e do~ g~upo~ ~ociai~,
bem como pela inte~venção p~oteto~a que vi~a
p~eenche~, pela a~~i~tencia e~tatal, ~ de6i
ciência4 e lacuna~ ve~i6icada~ no tocante a
a~~unto~ que no~malmente devem pe~manece~ na
ó~bita da~ ~e~pon~abilidade~ individuai~".1t6
149

o intervencionismo estatal est~esempre associado


à idéia de um futuro determinado que precisava ser "cons-
truído".

No caso específico da educação, a ideologia esta-


tal nao se chocava com a proposta da Igreja que partia do
pressuposto de que só a fé, uma questão de dogma e, porta~

to, baseada na autoridade, poderia garantir a ordem. Às


elites cabia o papel de criar e manter as bases de uma so-
ciedade cristã e, por isso mesmo, ordeira e pacífica.

Francisco Campos, em carta enviada a Vargas, apr~

sentando à aprovação o decreto de introdução do ensino re-


ligioso nas escolas, clarificava o que seria uma divisão
harmônica de "espaços" e, ao mesmo tempo, uma reciprocida-
de de apoio entre o Estado e a Igreja.

"O decJte.to ..i.n.6.t..i..tu..i., pOJt.tan.to, o en.6..i.no Jtel..i.


g..i.0.60 ~acul.ta.t..i.vo, nã06azendo v..i.olênc..i.a ã
con.6c..i.enc..i.a de n..i.nguêm, nem v..i.olando, a.6.6..i.m,
o pJt..i.ncZp..i.o de neu.tJtal..i.dade do E.6.tado em ma-
.têJt..i.a de cJten~a.6 Jtel..i.g..i.o.6a.6 ( ••• ) Ne.6.te ..i.n.6-
.tan.te de .tamanha.6 d..i.6..i.culdade.6, em que ê ab-
.6olu.tamen.te ..i.nd..i..6pen.6ãvel JtecoJtJteJt ao concuJt
.60 de .toda.6 a.6 60Jt~a.6 ma.teJt..i.a..i..6 e mOJta..i..6, o
decJte.to, .6e apJtovado poJt V.Ex., de.teJtm..i.naJtã
a mob..i.l..i.za~ão de .toda a IgJteja ca.tôl..i.ca ao
lado do goveJtno, empenhando a.6 óOJt~a..6 ca.tôl..i.
ca.6, de modo man..i.óe.6.to e declaJtado, .toda a
.6ua val..i.o.6a e ..i.ncompaJtãvel ..i.nóluênc..i.a no .6en
.t..i.do de apo..i.aJt o goveJtno, pondo ao .6eJtv..i.~o
de.6.te um mov..i.men.to de oe..i.n..i.ão de caJtã.teJt ab-
.6olu.tamen.te nac..i.onal".lt7

o Estado tinha necessariamente que desenvolver uma


política de segurança que, afastando as ameaças internas e
externas, garantisse o êxito do seu projeto. Tudo o que p~

sesse em risco a paz social, conseguida através da agluti-


naçao da sociedade em torno dos valores ocidentais e cris-
150

tãos, Jeveria ser evitado e combatido. A Igreja, com sua


enorme capacidade de penetração social, era um aliado pre-
cioso ?ara, através da educação, preservar e expandir esses
valores espirituais que Francisco Campos prezava.

"A po.e.1.:Uc.a. da. e.duc.a.çã.o, .6e.gundo 0.6 c.a..:tô.e.i-


C.O.6, .:te.m que. e.xc..e.ui~ a..6 in6.e.uênc.ia..6 ma..:te~ia.­
.e.i.6.:ta..6 de. .:toda..6 a..6 denomina.çõe.6. f ••• ) 0.6 c.a.-
.:tô.e.ic.o.6 que~em em p~imei~o .e.U9a.~ que ã. e.6c.o-
.e.a. .6e. c.on.:tinue a. a..6.6e9u~a.~ .e.ibe.~da.de ~e.e.i9io
.6a., a. .e.ibe.~da.de de. en.6ina.~ a. ~e.e.igiã.o do.6 a.~
.e.uno.6 e. do.6 pa.i.6. E a.inda. que o e.n.6ino, de
um modo 9e.~a..e., e.6.:te.ja. ba..6e.a.do e o~ien.:ta.do nu
ma. c.onc.epçã.o e..6pi~i.:tua..e.i.6.:ta. de. vida.".48

Em 1936, foi distribuído em todo o país um ques-


tionário contendo 207 perguntas, organizado com a colabora-
ção de Lourenço Filho, Jfilio de Mesquita Filho, Almeida Jr,
Hélene Antipoff, entre outros. Foram de Capanema as pala -
vras introdutórias a este questionário:

"0 inqui~i.:to que .6e. inic.ia. c.om o p~e..6e.n.:te.


que..6.:tionã~io, .:te.m c.omo obje..:tivo p~imo~dia..e.
~e.c.o.e.he.~ inóo~ma.çõe..6 e. e..6.:tudo.6 que. .6i~va.m ã.
e..e.a.bo~a.çã.o do p.e.a.no Na.c.iona..e. de. Educ.a.ç.ã.o. f ... )
Vi~ige-.6e. o que..6.:tionã~io a.o.6 b~a..6i.e.e.i~o.6 . -
p~06e.6.60~e.6, e..6.:tuda.n.:te..6, jo~na..e.i.6.:ta..6, e.6c.~i­
.:to~e..6, c.ie.n.:ti.6.:ta..6, .6a.c.e.~do.:te.6, mi.e.i.:ta.~e..6, po
.e.1..:tic.o.6, p~o 6i.6.6io na.i.6 da..6 lJã~ia..6 c.a..:te.golÚa.6'::
a. .:todo.6 qua.n.:to.6 e..6.:te.ja.m c.onvenc.ido.6 de. que. a.
educ.a.çã.o i o p~ob.e.e.ma. p~ime.i~o, e..6.6enc.ia.1 e
bã.6ic.o da. Na.çã.o".4!

o inquérito pretendia abranger todas as questões


relativas a educação e ia desde os princípios que deveriam
orientá-la no Brasil, até questões diversas como, por exem-
pIo, "qual a definição de belas artes?"

o Conselho Nacional de Educação cuja competência


era superintender, dentro do espírito dos Conselhos Técni-
cos, a ação educativa que compete i União (coordenar, pla-
near, fiscalizar e exercer ação supletiva)50, entregou, em 17
151

de maio de 1937, a Capanema o ante-projeto do Plano de Edu


cação Nacional. No dia seguinte, o ante-projeto foi envi~

do à Presidência da República. Elaborado sob a presidência


de Reynaldo Porchat, era um plano de organização e estrutu
ração do ensino bastante minucioso contendo um total de
51
504 Artigos, distribuídos em 6 Títulos.

Num Congresso reunido no Centro D. Vital de São


Paulo, foram debatidos os pareceres sobre o plano nacional
de educação. Dentre as idéias dominantes, que refletiam a
posição de parte da Igreja, destacavam-se:

"O Plano Nacional de Educaçio nio deve~ia


exo~bi~a~ de ~ua compe~ência con~~i~ucional,
cingindo-~e a di~e~~ize~ ge~ai~ de o~dem edu
cacional, com ~e~pei~o da au~onomia do~ E~~a
do~, da 6amZlia e da e~cola pa~~icula~";52

qualquer monopól io oficial do ensino merecia condenação po,!:.


que, entre outros aspectos, a escola oficial não possuía a
capacitação doutrinária capaz de prover a educação cristã
integral, necessária como um fator de defesa social. Ao
que parece, a Igreja temia perder o espaço conquistado com
a Constituição ~e 1934.

Em virtude das mudanças políticas, decorrentes


do golpe de 10 de novembro de 1937, o projeto do Plano Na-
cional de Educação não chegou a entrar em discussão no Le-
gislativo.

o ensino primário era um dos problemas governa-


mentais que deveria ser solucionado através da intervenção
do Governo Federal. A administração desse ramo de ensino
continuaria a ser atribuição dos estados e municípios e -
a

União caberia traçar em lei federal as diretrizes fundamen


152

tais e cooperar financeiramente com os governos estaduais

e municipais.

Na exposição de motivos em que Capanema apresen-

tava o projeto de decreto-lei para a criação da Comissão

Nacional de Ensino Primirio, ficava claro que, al~m do ~-

nalfabetismo, havia a questão da centralização do ensino

primirio atrav~s da nacionalização das escolas estrangei-

ras, da estruturação do currículo e das diretrizes para a

elaboração dos programas, caracterizando a diferenciação

do ensino rural e urbano. Segundo o Ministro da Educação:

" ( •.• ) o anaR.óabe..t-i.6mo pe.ll.dull.a. ( ••• ) e.m mu-i


.tO.6 ~on.to.6 do .te.Il.Il.-i.tÔIl.-io nac-ionaR., a e..6coR.a
pll.-imáll.-ia e..6.tll.ange.-ill.a de..6nac-ionaR.-iza a cll.-ian-
~a bll.a.6-iR.e.-ill.a e. o e.n.6-ino pll.-imáll.-io oll.a m-in-i.6-
.tll.ado ne.m .6e.mpll.e. .6e. ll.e.ve..6te. da.6 quaR.-idade..6
e..6.6e.nc-iai.6 a e..6.ta modaR.-idade. de. e.duca~ão, e.
e..6.tá de..6.t-i.tuZdo da un-idade. -in.te.R.e.c.tuaR. e. mo-
ll.aR. que. pll.e.ci.6a te.Il.".53

Para promover o contínuo estudo da obra federal


quanto ao ensino primirio, foi criada, pelo Decreto-lei n 9

868, de 18 de novembro de 1938, a Comissão Nacional de En-

sino Primirio para "estudar e propor as bases da política

a seguir em mat~ria de ensino primirio" e "estabelecer um

plano de combate ao analfabetismo".51t

Na sessão de instalação da Comissão Nacional de

Ensino Primário, Capanema explicou as razões que levaram o

governo a constituí-la marcando esse fato como "uma nova

era na solução do problema fundamental da educação no Bra-


sil".55

Na primeira sessao ordinária da Comissão, Capan~


ma salientou a necessidade de elaboração de um plano para
153

a utilização da verba orçamentária de 1939 para o ensino

primário (que foi de 10 mil contos) e, ap6s enumerar as vá

rias modalidades para esse fim, disse que a melhor era o

Governo Federal manter as escolas e entregá-las aos Esta-

dos que as fariam funcionar a exemplo do que já fora .feit~

com bons resultados, em relação aos problemas da lepra e

da tuberculose. A razão dessa escolha, no entanto, era pri!!

cipalmente de natureza política como o pr6prio ministro ad

mitia:

Gove~no Fede~al ~ mui~o pou


"l ... ) a açao do
co ~en~ida no in~e~io~; a con.~~ução de p~~
dio~ e~cota~e~ na~ melho~e~ condiçõe~ ~~cni­
ca~ po~~Zvei~, equi~ado~ com o melho~ ma~e­
~ial, ~o~na~ia ~en~Zvel a ação do Gove~no Fe
de~al e eonco~~e~ia a~~im pa~a a unidade na~
eional, p~eocupação p~edominan~e do a~ual go
ve~no". 56 -

Como o ensino primário rural e urbano era encara

do como um duplo problema, pois, em ambos os casos, pode-

riam estar em zona integralmente brasileira ou de infiltra

çao, ficou decidido, na segunda sessão ordinária da Comis-

sao, que

"a ve~ba de 10 mil eon~o~ ~e~ia dividida ini


eialmenze enz~e o~ E~~ado~ que ap~e~en~avam
com maio~ g~avidade e u~gência o p~oblema da
nacionalização: são Paulo, Sanza Ca~a~ina,
Rio G~ande do Sul e Pa~ani".57

Com o objetivo de promover estudos e centralizar


informações sobre a educação nacional, ainda em janeiro de

1938, pelo Decreto n 9 580, fora criado o Instituto Nacio-

nal de Estudos Pedag6gicos (INEP). Vale acrescentar que o


governo central, desde 1937, passara a solicitar, através

dos interventores que os Estados aplicassem uma porcenta-


154

gem maior de recursos na educação primária.

Registre-se que a medida concreta quanto ao pro-

blema do ensino primário só foi tomada em 14 de novembro

de 1942, quando o governo federal, pelo Decreto-lei n 9 4.958,

instituiu o Fundo Nacional do Ensino Primário constituído

pela renda resultante dos impostos federais que deveriam

ser criados para esse fim.

A preocupaçao com o ensino primário, a despeito

de fazer parte do conjunto de aparatos do Estado Novo, foi

respeitável. O que talvez se possa questionar é se essa

preocupação se concretizou em termos qualitativos e se te-

ve a abrangência pretendida.

Complementando a tutela estatal sobre a educação

escolarizada, foi instituída, pelo Decreto-lei n 9 1.177, de

29 de março de 1939, a Comissão Nacional do Livro Didáti-

CO. 58 A Comissão não funcionou como o esperado.

A relação entre segurança nacional e educação,

como nao podia deixar de ser, tocava de perto as Forças Ar

madas. Em agosto de 1938, sob a promoção e orientação da

"WoJL.td FedeJLa:ti.on 06 Educ.a:ti.on A.6.6oc.i.ation.6", deveria oco.!:.


rer a VIII Conferência Nacional de Educação, com a partic!

paçao dos membros da ABEJrepresentantes do Ministério da

Educação e Saúde, do Ministério das Relações Exteriores e


da Prefeitura do Distrito Federal. Segundo a exposição

feita pelo Ministro da Guerra ao presidente,

0.6 kom en.6, c.apaz a-


155

~ilLma.C(Õe..6 da..6 .6obe.lLa.nia..6. ( ... ) a. 'WolLld Fe.-


e.1La.t~on Oõ Eduea.t~on À.6.6oeia.tion.6' ve.m pILO-
move.ndo bie.na.lme.nte. eonõe.lLêneia..6 inte.lLna.eio-
na.i.6, de..6tina.da..6 a. õome.nta.1L uma. polZtiea. e.du
ea.tiva. olLie.nta.da. pa.lLa. o de..6e.nvoivime.nto do
e..6 ZlLito de. de..6a.lLma.me.nto mOILa.l do.6 OVO.6 e.
ue.neia.1L no .6e.nt~ o o e..6ea..6O a..6
l 01L~a..6, a..6 tlLa. içoe..6 e. a..6 in.6titu~çoe..6
ita.lLe.6 e., olLta.nto, da. 1Le. ui.6a. a..6 no oe..6 de.
mi-
~.6e~p ~na. e. ~elLa.lLqu~a. . ••• ) BILa..6~l 1Le.-
ela.ma. um .61.6te.ma. eompleto de. .6e.gulLa.nça. na.-
eiona.l, o que. plLe..6.6UpÕe., õunda.me.nta.lme.nte,
uma. e.ntlLo.6a.ge.m do.6 ôlLgão.6 miiita.ILe..6 eom 0.6
ôlLgão.6 Õe.de.lLa.i.6, e.6ta.dua.i.6 e. nota.da.me.nte. mu-
nieipa.i.6, ineumbido.6 da. e.duea.ção e da. eultu-
1La.".S9 (grifos do texto).

~ no mínimo curiosa a colocação em termos antagª

nicos dos conceitos de solidariedade e soberania. De qual-

quer forma, Osvaldo Aranha não conseguiu convencer as auto

ridades militares que os integrantes da WFEA, na maioria

americanos, não eram comunistas e a Conferência não se rea

lizou. Acrescente-se, ainda, que segundo Dutra,

Tais personagens eram profissionais da educação defensores

da Pedagogia da Escola Nova.

2.3.1 O Ensino Superior

No Distrito Federal, por ser a capital política

e intelectual do país, os diferentes grupos lutaram por

"estabelecer a hegemonia quanto ao papel da universidade

brasileira".61 Assim, no período de 1935 a 1941, surgiram

três universidades - a Universidade do Distrito Federal; a


156

Universidade do Brasil, da antiga universidade do Rio de


Janeiro, que datava de 1920; e a Pontifícia Universidade Ca-
t6lica - que representavam as diferentes posiç6es ideo16gi
cas dos educadores da época.

No que diz respeito ao ensino superior, cabe um


parêntese quanto ao estado de são Paulo que, derrubado do
poder pela Revolução de 30 e desejoso de recuperar a hege-
monia que havia gozado durante a República Velha, possuía
um projeto próprio de universidade que se inseria no seu
projeto político. A Revolução Constitucionalista de 1932
mostrou as oligarquias paulistas a necessidade da formação
de quadros de maneira a tornar o poder competente,o que l~

vou um grupo de insdustriais a fundar, em 1933, a Escola


Livre de Sociologia e política e a criar, em 1934, a Facul
dade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de S.
Paulo. - "Colocou-se especificamente a importância de todo
agente de poder possuir um determinado saber correlativo ao
poder que exerce".62 O que foi dito acima pode ser ilus-
trado com a leitura do Manifesto da Fundação da Escola Li-
vre de Sociologia e política de São Paulo e do Decreto n 9
6.283, de 25 de janeiro de 1934, que criou a Universidade
de são Paulo. Acrescente-se que São Paulo, como estado ri
co, possuía condiç6es para criar sua própria universidade
sem a interferência do governo federal e a USP nasceu de
um decreto estadual.

Em 1935, sob a gestão do Prefeito Pedro Ernesto,


graças à iniciativa de Anísio Teixeira, foi criada a Uni -
versidade do Distrito Federal (UDF) com estrutura e voca-
157

çao científica próprias. O então Ministro da Educação, Gu~

tavo Capanema, criou uma série de dificuldades para a cri~

ção da UDF baseado no fato de que ela não reproduzia "ip.6-Ú>

lite~i.6" o texto da lei federal, o Decreto n 9 19.851, de

11 de abril de 1931, que dispunha sobre a organização das

universidades brasileiras.

No discurso de inauguração dos cursos da UDF, em

31 de julho de 1935, Anísio Teixeira contestou o ministro

mostrando que a Escola de Ciências, a Escola de Educação e


~

a Escola de Filosofia e Letras equivaliam a Faculdade de

Educação Ciências e Letras o mesmo acontecendo em relação

à Escola de Economia e Direito. Acrescentava, ainda, que

a Universidade estava em condições de manter um número mai

or de cursos idênticos aos federais, se a demanda o exigi~

se, dentro das normas do referido Decreto. Ainda nesse dis

curso, Anísio Teixeira defendia o que considerava ser o p~

pel da Universidade:

"A libe~dade i uma conqui.6ta que e.6ti .6emp~e


po~ 6aze~. Ve.6ejamo-la pa~a no.6, ma.6 nem .6em
p~e a que~emo.6 pa~a 0.6 out~O.6. Hi, na libei
dade, qualque~ coi.6a de indete~minado e de
imp~evi.6Zvel, o que 6az com que.6ô a pO.6.6am
ama~ 0.6 que ~ealmente tive~em ~~ovado. ( ... )
Po~ .<..6.60 i que a Unive~.6idade i e deve .6e~ a
man.6ão da libe~dade. 0.6 homen.6 que a .6e~vem
e 0.6 que, ap~endendo, .6e candidatam a .6e~­
vi-la, devem con.6titui~ e.6.6e 6ino e.6col da
e.6picie pa~a quem a vida .6Ô vale pa~a 0.6
'<'dea.<..6 que a alimentam". 63

À época, o autoritarismo, que culminou com a in~

tituição do Estado Novo, ji se fazia sentir. Basta lembrar


que à criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) seguiu-
se a promulgação da Lei de Seguranç~ Nacional (Lei n 9 38,

de 1935), instrumento de repressão a qualquer movimento de


158

oposição ao poder constituído. Provavelmente, Vargas auto


rizou a assinatura do decrero de criação da UDF, passando
por cima do Ministério da Educação, por nao lhe interessar
perder o apoio político do prefeito Pedro Ernesto.

A Intentona Comunista de 1935 levou o Congresso


a renunciar às suas prerrogativas e a delegar plenos pode-
res ao Presidente da República para decretar o estado de
sítio que se prolongaria até 1937. A perseguição aos com~

nistas transformou-se em verdadeira "caça às bruxas" com a


criação, em 1936, da Comissão Nacional de Repressão ao Co-
munismo e a aprovação, no mesmo ano, pelo Congresso, da lei
que instituiu o Tribunal de Segurança Nacional, órgão res-
ponsável pela prisão de intelectuais e educadores. Em vir-
tude do clima político e da ingerência do governo federal,
a UDF foi extinta por decreto presidencial em 1939 e seus
cursos seriam transferidos para a Universidade do Brasil.

Pedro Ernesto foi deposto e Anísio Teixeira afas


tado de suas funções de secretário de Educação e Cultura do
Distrito Federal.

"A impLantaçio da UVF, dent40 do contexto


que antecedeu o E4tado Novo 6oi, 4em dúvida,
um de4a6io. Ve4a6io p04 4e t4ata4 de uma
in4tituiçio unive44itã.4ia con4titu1.da de e4-"
coLa4 e in4titut04 voLtado4 pa4a a4 ciência4
humana4, tendo uma Linha de pe4qui4a e de
con64onto4 com a 4eaLidade e nio com o obje-
tivo de 4e4 uma me4a a~ência de en4ino, p4eo
cupada com a t4an4mi44ao ou a 4epetiçio de
um 4abe4 con4titu1.do e com a manutençio do
, 4 tatu4 quo'". 6 It

Os intelectuais católicos nao se omitiram quanto


à fundação da UDF. Em carta, datada de 16 de junho de 1935,
a Capanema, Alceu Amoroso Lima expressava seu desagrado:
159

»A 4ecente 6undaçio de uma unive4~idade muni


cipal, com a nomeaçio de ce4to~ di4eto4e~ de
6aculdade~ que nio e~condem ~ua~ idê.ia~ e p4e
gaçõe~ comuni~ta~, ~io a gota d'água que 6ez
t4an~604da4 a g4ande inquietaçio do~ católi-
co~. ( ... 1 Vej am ele~ que o gove4no combate
~e4iamente o comuni~mo (~ob qualque4 apa4ên-
cia ou má~ca4a pa4a di~6a4ça4) - ~úmula de
todo o Ren~amento antie~pi4itual e p04tanto
anticatõlico; que combate ~e4iamente o im04a
li~mo do~ cinema4 e teat40~ pela cen~u4a ho~
ne~ta; 04ganiza a educaçio com a imediata co
lab04ação da Ig4eja e da FamZlia - vejam i~­
to o~ católico~ e apoia4io, pela p4óp4ia 604
ça da~ ci4cun~tância~, o~ homen~ e o~ 4egi~
me~ que po~~am a4~egu4a4 ao B4a~il e~te~ be-
ne6Zci04".65

Alceu prosseguia dizendo que o que almejavam os católicos

era a ordem pública, a paz social, a liberdade de ação pa-

ra o bem e a unidade de direção da autoridade governamen -

tal.

A proposta educacional centra1izadora de Vargas

se evidenciava no pronunciamento de 5 de junho de 1936

quando este afirmava que

"no C044ente ano,4VLâ elab04adci. o Plano Na-


cional de Educaçio iniciando-~e, ao me4mo
tempo, imp04tante~ t4abalho4 de~tinad04 a 4e
modela4, amplia4 e melh04a4 todo o ~i~temã
educativo da Uniio. P04 out40 lado, de~en­
volve~-~e-á, com mai04 amplitude, a colab04a
çio do Gove4no Fede4al com 04 ~e4viço4 de e~
ducação mantid04 pel04 gove4no~ locai~ e p04
toda~ a4 in~tituiçõe4 de ca4áte4 p4ivado".66

Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde

no período de 1934 a 1945, dedicou o melhor de seus esfor-


ços na criação da Universidade do Brasil, que serviria de

modelo para as instituições de ensino superior em todo o

território nacional. A Lei 452, de 5 de julho de 1937, que

organizou a Universidade do Brasil determinava que a insti

tuição deveria manter todos os cursos superiores que fos-


160

sem previstos por lei de maneira que nenhum estabelecimen-


to, isolado ou congregado, deixasse de nela ter o seu cor-
respondente. A USp, por exemplo, deveria também se amol-
dar ao padrão de ensino superior ditado pela Universidade
do Brasil, criada três anos depois.

No Plano de Reorganização do Ministério da Educa


çao, apresentado ao Legislativo em 1935, Capanema enfatiza
va a necessidade de organizar a universidade do Brasil que
resultaria da ampliação e revisão da, até então, Universi-
dade do Rio de Janeiro.

"O B~a6iL nio pode~i p~09~edi~ na ~ua ind~6-


~~ia, na 6ua a9~icuLtu~a, no 6eu comê~cio em
~oda~ a6 va~iada6 mani6e6taçõe6 de 6ua vida
poLZ~ica e e6pi~ituaL ~e nio di6pu~e~ de um
9~ande quad~o de homen~ aL~amen~e p~epa~ad06
na6 ~êcnica6, na6 ciência6 e na6 Let~a6. ( ... J
O~a o e~ino 6upe~io~, como 6e 6ab~ deve 6e~
p~e6e~iveLmente unive~6iti~io. Po~ i~~o, di-
zemo~ Que o B~a6iL p~eci~a de unive~6ida­
de~" . 61

A proposta era formar uma elite, constituída de


um conjunto de especialistas em todos os ramos da ativida-
de humana, capaz de conduzir a naçao. Assim, através de
uma elite eficientemente formada pela Universidade, resol-
ver-se-iam os problemas do país, inclusive o do ensino pri
mário. A Universidade do Brasil foi concebida como uma

"comunidade de p~06e~60~e6 e aLun06, con6a-


9~ad06 ao e6tudo e que tem po.~ 6inaLidade~
e66enciai6: o de6envoLvimen~0 da cuL~u~a 6i-
L06õ6ica, cien~6ica, Lite~i~ia e a~~Z~tica;
a 60~maçio de quad~o~ donde ~e ~ec~utem eLe-
men~06 d~~inad06 ao ma~i~~ê~io bem como ã6
aLta6 6unçõe~ da vida pubLica do paZ6; o p~e
pa~o de p~o6i66ionai6 pa~a o exe~cZcio de a~
~ivi:dade6 que demandem e6~ud06 .6upeJÚO~u". 68

o projeto, bastante ambicioso. que reunia num só


161

"eampU4" todas as instituições componentes da Universidade


do Rio de Janeiro, mereceu críticas contundentes, através
da imprensa. Dessas críticas, Simon Schwartzman fez um
bom apanhado em sua obra "Te.mpo4 de. CapaYl.e.ma".69

A Igreja não iria perder a oportunidade de for-


mar as elites condutoras da sociedade, segundo sua ótica
própria, e dentro de poucos anos surgiria a Universidade
Católica.

Uma das primeiras preocupaçoes de D. Leme ao che


gar ao Rio de Janeiro, em 1921, foi cuidar da instrução r~

ligiosa da elite, principalmente da elite masculina que ten


dia ao positivismo. Note-se que a participação direta da
mulher na vida pública do país era, praticamente, nenhuma
e o mal do catolicismo brasileiro era a ignorância religi~

sa.

Através da revista "A 04de.m", que fazia a prega-


çao contra toda forma de rebelião, e do Centro D. Vital, ó!
gao criado com o objetivo de coordenar os movimentos lei-
gos recém-criados, a intelectual idade católica deveria, fu~

damentalmente, defender a pessoa humana contra o anti-huma


nismo comunista que ameaçava o mundo.

Alceu Amoroso Lima, presidente do Centro D. Vi-


tal, fundou, em 1929, de acordo com projetos de D. Leme, a
Ação Universitária Católica (AUC). Desde então, os univer
sitários católicos passaram a valorizar a "mensagem evang~

lica tanto mais veementemente quanto a viam atacada, em suas


Faculdades - sobretudo na de Direito pelos mestres comu-
nistas".7o A partir de 1935, a AUC foi incorporada i ACB
162

e rebati:ada com o nome de Juventude Universitária Católi-

ca (JUC).

Em 1932, sob a direção de Sobral Pinto, foi fun-

dado o Instituto Católico de Estudos Superiores, onde os

universitários católicos estudavam Teologia, Sociologia e

Liturgia, e de onde nasceram algumas importantes vocaçoes

religiosas.

Em 1935, com a aprovaçao do Vaticano, foram pro-

mulgados os Estatutos Gerais da Ação Católica Brasileira

que dividiam a AC em quatro setores principais: Homens da

Ação Católica (HAC); Liga Feminina da AC (LFAC); Juventude

Católica Brasileira (JCB-Masculina) e Juventude Feminina

Católica (JFC). O setor da juventude admitia seções: a J~

ventude Estudantil Católica (JEC) , para os jovens secunda-

ristas; a JUC, para os estudantes universitários e a JOC,


para os jovens operários. 71

Por ocasião do Primeiro Congresso Católico de E-

ducação, realizado no Rio de Janeiro, em 1934, a Igreja

mostrou-se interessada na criação de uma universidade su-

bordinada à hierarquia eclesiástica e independente do Esta

do. Essa universidade teria como objetivo básico a resso-

cialização das elites brasileiras, de acordo com os princi

pios éticos religiosos da moral católica. Para atingir seu


objetivo, a universidade daria prioridade aos cursos das

áreas humanísticas e sociais.

Em 1934, a permissão constitucional de transfe-

rência de recursos financeiros a instituições religiosas

pelo Estado, a autorização de subvencionamento de escolas


163

católicas e a reintrodução do ensino facultativo de reli-

gião nas escolas oficiais marcaram a penetração católica

~a educação, durante a Era Vargas.

A fundação da primeira Universidade Católica do

Brasil, um dos resultados do Primeiro Concílio Plenário

Brasileiro (1939), que se iniciou com a autorização do fun

cionamento das Faculdades de Direito e Filosofia,

"a.pa.lt.ece como ólLuto nolt.ma..f. de uma. .6élt.ie de


óa.tO.6 que vão da. óunda.ção do CentlLo v. Vita.~
pa..6.6a.ndo pe.f.a. AUC, a.té o In.6titu.to Ca.tólico
de E.6tudo.6 Supelt.iolt.e.6". 7 2
A 21 de junho de 1940,

"no pa.licio S. Joa.qui~ .6ob a. plt.e.6id~ncia pe.6


.6oa.l de Sua. Emin~ncia., com a. plt.e.6ença. do SIL~
Núncio Apo.6tó.f.ico e de um glLupo e.6colhido de
lLeplLe.6enta.nte.6 do clelt.o .6ecula.1t. e lt.egula.1t. e
do .f.a.ica.to ca.tó.f.ico 60i óunda.da. a. Sociedade
Civi.f. 'Fa.culda.de.6 Católica..6' com o óim, como
diz o alLtigo 2 do.6 .6eu.6 E.6ta.,tutO.6, de 'óun-
da.It., ma.nteA, a.dmini.6tlt.a.1t. e dilLigilt. 0.6 e.6tabe
lecimento.6 de en.6ino .6upelLiolt. e a..6 in.6.t.<.tui~
çõe.6 cu.f.tulLa.i.6 que hão de integlt.a.1t. a óutulLa
Univelt..6ida.de do Rio de Ja.neilLo,".7~

Em 15 de março de 1946, com a agregaçao da Esco-

la de Serviço Social do Instituto Social do Rio de Janeiro,

o que satisfazia às exigências legais para a formação de

uma universidade, surgia, pelo Decreto n 9 8.681, a primei-

ra universidade católica do Brasil. Essa universidade que,

no ano seguinte, recebeu do Vaticano o título de Pontifí-


cia, serviu de modelo para a criação de outras universida-

des católicas pelo país.

A Universidade Católica, entregue por D. Leme a

administração e orientação pedagógica dos jesuítas, tinha

uma dupla função:


164

"de um la.do ela. .6e c.on.6-t.LtuiJtia. em uma. in.6-ti


-tuição de c.omba.te a.o en.6ino e a men-ta.lida.de
la.ic.i.6-ta., ga.Jta.ntindo a. Jte.6olução da..6 c.Jti.6e.6
na.c.iona.i.6 e ba.JtJta.ndo a. ideologia. c.omuni.6-ta.
no pa.l.6; de outJto, na. medida. em que .6e Jte.6 -
pon.6a.bil~za..6.6e pelo a.de.6-tJta.mento da..6 nutuJta..6
el~te.6 d~Jt~gen-te.6, a. IgJteja., pOJt .6UpO.6-to,
c.onc.Jtetiza.va. .6ua. me-ta. de Jtec.Jt~.6-t~a.n~za.Jt a. .60
c.ieda.de e a. pJtõ pJtia. ~n.6 ti-tu~ção do E.6-ta.do". 7if

A dupla função da Universidade era coerente com


a visão da intelectualidade católica que, de certa forma,
aceitava as desigualdades quanto à distribuição de renda
mas temia a modernização dos costumes que o desenvolvimen-
to do país acarretava.

"A.6 med~da..6 pa.Jta. a. .6olução da. c.Jt~.6e em que


v~v~a. o pa.l.6 não a.pon-ta.va.m pa.Jta. a. -tJta.n.6noJtma.
ção da. e.6-tJtu-tuJta. .60c.~a..e., ma..6 pa.Jta. um -tJta.ba. ~
lho peda.gõg~c.o, que a.ting~.6.6e a..6 c.on.6c.~ên­
c.~a..6 ~nd~vidua.~.6 do.6 membJto.6 da. el~te d~Jt~­
gente".75

Havia um privilegiamento do individual sobre o


social em detrimento de um enfoque mais dirigido às deman-
das da sociedade. Era importante formar as inteligências
singulares de que a sociedade necessitava para conduzi-la
no sentido da obtenção da paz e da ordem.

"Po.6.6u~doJta. da. Jtevela.ção da. oJtdem, a. IgJteja.


06eJtec.eu a.o E.6ta.do, não .6em c.ond~çõe.6, uma.
60Jtm~dãvel mãqu~na. bUJtoc.Jtã-t~c.a. de c.ontJtole
do.6 dom~na.do.6. Ê ba..6-ta.n-te c.oJt~eta. a. ~eneJtên­
c.~a. webe~~a.na. ã .6ua. pollt~c.a. c.omo emp~e.6a. de
dome.6-t~c.a.ção da..6 c.on.6c.~ênc.~a..6 em pJtove~to da.
bu~oc.~a.c.~a. la.~c.a. Ma..6 pa.Jta. ~.6-to .6eJt~a. pJtec.~­
.60 que .6eu en.6~no 60.6.6e a.c.a-tado, pelo meno.6
60Jtma.lmen-te pelo.6 dom~nan-te.6".76

A política da Igreja, "como empresa de domesticação de cons


ciências" explica o bom relacionamento com o Estado duran-
te toda a Era Vargas, quando os educadores católicos conse
guiram maior predominância que aqueles representantes da
165

Escola Nova, de peso político bem menor. O discurso de Gus


tavo Capanema, quando da inauguração das Faculdades Católi
cas, mostra a perfeita compatibilidade entre os projetos
educacionais do Estado e da Igreja.

"( ••• 1 Pode a6i~ma~-6e, 6em ~eQeio de exage-


~o, que 6Ô po~ eXQeç.ã.o 6 e enQon.tJta~ã. hoje uma
naç.ã.o de elevada Qul~u~a em que nã.o 6lo~e6-
ç.am ã. 6omb~a da lei e ~eQonheQida6 pelo E6~a
do, a6 in6~i~uiç.õe6 Qa~ôliQa6 de en6ino 6Up~
uo~". 77

A independência da Universidade Católica em relação ao Es-


tado residia na sua filosofia educacional própria e na in-
clusão em seus currículos de disciplinas voltadas ao ensi-
no superior da religião.

Quanto ã priorização do ensino superior por par-


te das autoridades, leigas ou não, diante do grave proble-
ma do analfabetismo, é preciso considerar que, à preocupa-
ção em formar novas elites condutoras para o novo país que
surgira, somava-se o traço cultural da sociedade brasilei-
ra que atribuía prestígio especial aos profissionais de ni
vel superior. Há que se levar em conta, ainda, que a as-
censão do positivismo com a República, explicitou o antigo
menosprezo pela universidade que vinha desde a implantação
das instituições de cul tura no país iniciada por D. João VI.
Na concepção positivista, a universidade era elitizante e
promotora de saber ornamental. Do "processo de crítica e
superaçao do positivismo, iniciado na década de 20, é que
iria emergir nova e valorativa acepçao de universidade.,,7'
A derrubada da República Velha mostrou o quanto o país ne-
cessitava de elites capazes de conduzí-Io politicamente, se
166

gundo novo modelo ideológico.

2.3.2 O ensino médio

A reforma do ensino secundário proposta por Frag

cisco Campos através do Decreto n 9 19.890, de 18 de abril

de 1931, e consolidada pelo Decreto n 9 21.241, de 4 de a-

bri1 de 1932, deu novas perspectivas a esse grau de ensino

ao eliminar o sistema de "preparatórios" e de exames parc~

lados com vistas ao ingresso no ensino superior; o ensino

secundário passou a ser metodizado com a ser laça0 obrigat~

ria de seus estudos.

Como se pode depreender da exposição de motivos

que acompanhou a Reforma Francisco Campos, o ensino secun-

dário passou a ter uma finalidade bem mais ampla:

"Via de~eg~a, o en4ino ~ecund~~io tem 4ido


con4ide~ado ent~e nÔ4 como um 4imple4 in~­
t~umento de pAepa~ação do~ candidato~ ao en
~ino ~upe~ioA, de~p~ezando-~e, a~~im, a ~ua
6unção eminentemente educativa que con~i~te
no de~envolvimento da4 6aculdade4 de ap~e_­
ciação, de juIzo, de c~itêAio, e4~enciai~ a
tod04 o~ ~amo~ da atividade humana, e, paA-
ticula~mente, no t~eino da inteligência em
colo ca~ 04 pAO blemu no~ ~ eu~ teAm04 exat04
e p~ocu~a~ a4 4ua4 ~oluç~e~ adequada~".79

Mais adiante, Francisco Campos afirmava:

"A qualidade exclMiva do en4ino ~ ecund~~io


não h~ de ~eA a mat~Icula n04 cu~~o~ ~upe -
AioAe~; o ~eu 6im, pelo contA~Aio, deve ~e~
a 60~mação do homem pa~a tod04 04 g~ande4
~eto~e~ da atividade nacional, con~tituindo
no ~eu e~pIAito todo um ~i~tema de h~bit04,
atitude~ e compoAtamento~ que o habilitem a
viveA po~ ~i me~mo e a toma~, em qualque~
~ituação, a~ deci4 ~ e4 mai~ co nv eniente4 e
mai~ ~ eg uJr.a~ " . 8 o

Há que se convir que "formar o homem para todos


167

os grandes setores da atividade nacional" levou a um currí


culo verdadeiramente enciclopédico que demandava um perío-
do de cinco anos - a duração do curso ginasial - para a for
maçao de uma sólida cultura geral. Só uma pequena parte
da sociedade podia dar-se a esse luxo.

As transformações por que passava o país cres


cimento do número de indivíduos, urbanização, êxodo rural
e aumento da renda "pe~ capi~a" - levaram a uma mobilidade
social que a Reforma Francisco Campos, pela ênfase na cul-
tura geral e pela falta de articulação com os outros ramos
do ensino médio, não atendia. Em documento da época, que
se encontra no Arquivo Gustavo Capanema, afirma-se:

"A Lei O~ginica de 1942 veio amplia~ 04 con-


ceiz04 bã4ic04 da Re60~ma Camp04, adapzando-
04 me!ho~ ã4 exigência4 da 40ciedade conzem-
po~inea. A Lei de 1931 p~epa~ou o caminho
pa~a a Re60~ma Capanema, que ence~~a, zoda
ela, uma concepção 6il04ô6ica muiza ma~cada,
o que não 4e ve~i6ica na an~eceden~e. A Lei
Campo.6 ê uma lei-~egulamen~o. ( ... ) A Lei Ca-
panema ê uma lei de p~incZpi04. ( ... )Alêm do
nZ~ido 4en~ido de con~inuidade que ~~aduz, a
Lei O~ginica de 1942 at~bui ao en4ino 4ecun
dã~o a 4ua indi4cuzZvel 6inalidade 6undamen
~al, que ê a 60~mação da pe~.6onalidade ado~
le4 cen~e" . a 1

Um exame da exposição de motivos enviada por Ca-


panema, Ministro da Educação, ao Presidente, em 01 de abril
de 1942, fornece elementos suficientes para a percepção do
alicerce ideológico da Lei Orgânica do Ensino Secundário
(Decreto-lei n 9 4.244, de 9 de abril de 1942). Assim,

"o que con4~izui o ca~ãze~ e4pecZ6ico do en-


4ino 4ecundã~io ê a 4ua 6unção de 60~ma~ n04
adole.6cen~e.6 uma 4ôlida cul~u~a ge~al ( ... )
e, bem a4.6im, de nele4 acenzua~ e eleva~ a
c~n.6ciência paz~iôzica e a con~ciência huma-
n~4~ica. L... ) o en4ino 4ecunda~io ~em mai4
168

p~ec~~amente po~ á~nai~dade a 6o~mação da


con~c~ênc~a pat~~ot~ca. t que o en~~no ~e­
cundã.~~o ~ e de~t~na ã. p~epa~ação da~ ~nd~v~­
dual~dade~ conduto~a~, ~~to ê, do~ homen~
que deve~ão a~~um~~ a~ ~e~pon~ab~l~dade~ ma~
o~u dent~o da ~ oc~edade e da nação. ( ... T
um en~~no [pat~~ãt~co) capaz de da~ ao~ ado-
le~cente~ a comp~een~ao do~ p~oblema~ e da~
nece~~~dadu, da m~~~ão e do~ ~dea~~ da na-
ção e, bem a~~~m, do~ pe~~~o~ que a acompa-
nhem, ce~quem ou ameacem". 2

Formar a consciência patriótica era uma decorrên


cia da função que as individualidades condutoras produzi-
das pelo ensino secundário, exerceriam na direção da vida
nacional. Agora, o patriotismo, em virtude do contexto in
terno e das injunç6es externas, tornara-se mais radical e
daí a importância de se formar nas jovens geraç6es "a cons
ciência da significação histórica da pátria, assim como o
sentimento da responsabilidade nacional". 83

No discurso pronunciado por ocasião do Centená-


rio do Colégio Pedro 11, em dezembro de 1937, Capanema ex-
plicitava que a educação era um instrumento do Estado e
-
por isso o homem devia ser preparado para uma açao necess~
~

ria e definida pela Nação para combater o que pudesse agr~

dir a sua ideologia. Acrescente-se que o "agressor" mais


especificamente temido era o comunismo.

Na referida exposição de motivos observam-se al-


gumas contradiç6es como, a título de exemplo, a elitização
visível na preocupação em formar individualidades conduto-
ras, de um lado, e medidas que deveriam concorrer para a
maior utilização e democratização do ensino secundário, de
outro. Essas medidas consistiram na redução do curso gin~

sial para quatro anos, que colocaria a primeira fase da


169

educação secundária ao alcance de um número maior de jo-


vens e uma conveniente articulação com o segundo ciclo de
todos os ramos especiais do ensino médio e, ainda, o ensi-
no secundário não teria, como finalidade preparatória ape-
nas conduzir ao ensino superior. 84

Havia, é certo, a preocupação em adequar a estr~

tura do ensino de nível médio ao ideário que norteava a r~

novaçao do sistema educacional. Ainda com esse propósito,


algumas alterações foram feitas em relação à Lei Francisco
Campos: a separação dos estudos de história do Brasil e de
geografia do país foi reforçada "com o obj etivo de orientar
o ensino secundário no sentido de uma compreensao maior dos
valores e das realidades nacionais"8s; o estudo do espa-
nhol foi introduzido como "um passo a mais que damos para
a nossa maior e mais Íntima vinculação espiritual com as
naçoes irmãs do continente,,86; o ensino das ciências deve-
ria se proceder de acordo com uma nova metodologia que re-
pudiando o "erudito monologar docente", apenas, deveria in
centivar os alunos a "discutir e verificar, ver e fazer"
de maneira a formar nos estudantes dos cursos científico e
clássico "uma conveniente cultura científica que concorra
para definir-lhes a madureza intelectual e que os habilite
aos estudos universitários em qualquer ramo".87 A propos-
ta dessa nova metodologia, na realidade, não foi além da
proposta. O ensino das ciências não conseguiu levar adia~

te a objetividade e a instrumentalidade pretendidas e aca-


bou por inserir-se no academicismo literário que caracteri
zava a vida escolar.
170

A educação moral e cívica foi introduzida no cur


rículo escolar, sem um programa instrutivo, com o objetivo
de "desenvolver nos alunos uma justa compreensao da vida e
da pátria e fazer-lhes, desde cedo e em todas as atividades
e circunstâncias da vida escolar, efetivamente viver com
dignidade e fervor patriótico".88 A ênfase dada ao patri~

tismo - as palavras derivadas de pátria aparecem inúmeras


vezes na exposição de motivos de Capanema - se justificava
por ser a expressão do nacionalismo que legitimava o regi-
me autoritário. À finalidade patriótica do ensino, de um
modo geral, e, especificamente à orientação cívica somava-
se a educação militar no ensino secundário. Nos Centros cí
vicos desenvo1ver-se-iam atividades prescritas pelos Decre
tos-Lei n 9 s 2.072, de 8 de março de 1940 e 4.101, de 9 de
fevereiro de 1942.

Outra inovação da Lei Orgânica do Ensino Secund~

rio foi a adoção da Orientação Educacional que, articulada


com a administração escolar e o corpo docente, comporia "o
organismo coordenado e ativo, capaz de assegurar a unidade
e a harmonia da formação da personalidade ado1escente".89
A instituição desse serviço foi inspirada nos moldes da
"guidance" norte-americana, embora nos Estados Unidos nao
houvesse uma lei que o instituisse compulsoriamente em to-
das as escolas de nível médio. A Orientação Educacional era
entendida de maneira muito ampla e sem uma determinação
exata de um conjunto de características que permitisse um
conceito próprio. Assim, uma das causas para as "maiores
confusões" surgia "exatamente das discrepâncias entre as
teorias em voga e os processos em uso". 90
171

A primeira tentativa de Orientação Educacional


no Brasil data de 1931 e deveu-se a Lourenço Filho, a epo-
ca diretor do Departamento de Educação do Estado de S. Pau
lo, que criou o "Serviço de Orientação Profissional e Edu-
cacional". Esse serviço, que interrompido e reiniciado em
1932 e extinto em 1935, tinha como objetivo principal guiar
o estudante na escolha de seu lugar social pela profis-
são. '1 Para que a obrigatoriedade legal do Serviço, agora
em âmbito federal, se concretizasse era necessário um nume
ro considerável de especialistas de nível superior para
atender ao ensino secundário. Somente em 1956, a formação
de profissionais de nível superior especializados em Orien
tação Educacional se tornou realid~de com a criação do CU!

so específico na Faculdade de Filosofia da PUC-RJ, inicia-


tiva que foi seguida por outras instituições.

A Orientação Educacional, que o Decreto n 9 4.244


tornava obrigatória, se constituiria num veículo . -
aprec1a-
vel para a defesa de uma "filosofia sã" recomendada por A!
ceu na carta já referida. Daí a PUC ter tomado a diantei-
ra na formação dos primeiros orientadores educacionais em
nível superior. O fato da orientação educacional poder ser
usada corno um mecanismo autoritário de controle não confli
tava com a proposta católica urna vez que, mesmo enquanto
mecanismo de controle, poderia ser desenvolvida de acordo
com os parâmetros da moral cristã.

Apesar de Capanema conceber a orientação educa-


cional corno a orientação voltada para o trabalho, do Pro-
grama das Atividades Referentes à Orientação Educacional
172

na Escola Secundária Brasileira, da Divisão de Ensino Se-


cundário do MES, de 12 de maio de 1942, constava, dentre
outras modalidades, a orientação moral e religiosa. A pri-
meira visava "inculcar nos adolescentes os princípios bási
cos normativos que devem reger o comportamento humano" e a
segunda tinha

"como objetivo 6o~talece~ na alma adole~cen


te o~ en~inamento~ ~eligio~o~ ~ecebido~ na
6amllia e na e~cola de p~imei~o g~au, bem
como a auxilia~ o jovem a vence~ a~ dióicul
dade~ peculia~e~ ã idade, na aceitação dib
ve~dade~ ete~na~".92

Como os primeiros orientadores educacionais eram de forma-


ção católica, essa modalidade foi privilegiada e, assim, a
Igreja garantiu seu espaço nas escolas oficiais.

?or ocasião do 1 9 Simpósio sobre Orientação Edu-


cacional, realizado em são Paulo, em 1957, D. Cândido Pa-
dim conceituava esse tipo de orientação, inspirado nos moI
des da "guidance" norte-americana, como

"am ~e~viço pe~manente, o~ganizado na e~co­


la em ba~ e~ é.ien.tlóica~ e técnica.6 de~t.ina­
do a p~omove~ o melho~ aju~tamento pO.6~lvel
de cada aluno ã vida e~cola~, com o objeti-
vo de encaminhá-lo ã ~ua plena ~eal.ização
vocacional".93
A palavra vocal:ional tinha o sentido de "tendência para a
plenitude da personalidade, por meio dos dotes originais
que marcam cada ser humano". 94 O vocacional era mais 1iga-
do à proposta educacional católica de formação do Homem In
tegra1 do que à proposta de uma orientação que pre1iminar-
mente seria dada aos jovens quanto aos seus estudos e que,
nos moldes da "Educa.:i:.ional guidance", seria a base da futu
ra orientação para o trabalho.
173

A criação de uma Organização ~acional da Juventu

de foi inicialmente planejada no Ministério da Justiça, em


1938, sob a gestão de Francisco Campos. Tratava-se de uma
cópia quase completa da Organização Nacional Balila, do fas
cismo italiano. À idéia do projeto era militarista - subs
tituía o serviço militar nos centros cívicos - e mobiliza-
dora, em termos de mobilização política. Em linhas gerais,
o objetivo da Organização Nacional da Juventude era

"a.6.6i.6zilL e educalL a mocidade, ·olLganizalL pa-


lLa ela pelL20do.6 de zlLabalho anual no.6 campo.6
e o~icina.6, plLomovelL-lhe a di.6ciplina mOlLal
e o ade.6zlLamenzo 62.6ico, de maneilLa a plLepa-
lLã-la ao cumplLimenzo do.6 .6eu.6 develLe.6 palLa
com a economia e a de6e.6a da naçio".95

Francisco Campos desencadeou a processo e Vargas


pediu pareceres ao ~Iinistro da Guerra e ao Ministro da Edu
caça0 que, por motivos diferentes, reagiram ao projeto de
crlaçao da ONJ.

Dutra considerou válida a Organização em moldes


que nao tirassem do Exército o domínio da força e que for-
çassem o envolvimento do Ministério da Educação num proje-
to que deveria ser político-pedagógico:

"Em vez de di.6:tlLibuilL-.6e 0.6 aluno.6 da.6 a..t.u.a.Á.Á


e.6cola.6 na.6 6ileilLa.6 de uma enzidade nov~ co
mo o e..a. cltganizaçio Nacional da Juvenzude, me
lholL .6elLia con~elLvã-lo.6 no.6 e.6:tabelecimenzo~
a que pelLzencem e que pa.6.6alLiam, enzão, a ce
lul4.6 da ONJ. A .6egunda 6a.6e con.6i.6zilLia no
lLeclLuzamenzo da juvenzude que ainda nio pelL-
zence a nenhum e.6:tabelecimen:to de en.6ino. O
melholL meio de lLeclLuzã-la .6elLia com a 6unda-
çio de e.6cola.6. L••• J Como .6e vê, a OlLganiza
çio Nacional da Juvenzude .6e pelLmize dalL ca~
delLneza de lLe.6elLvi.6za e chega a dezelLminalL a
exZinçio do.6 TilLo.6 de GuelLlLa e Navai.6, o que
nio con.6ulza ao.6 inzelLe.6.6e.6 da de6e.6a nacio-
nal e vem lLezilLalL da.6 601Lça.6 alLmada.6 uma a-
zlLibuição que não deve .6elL concedida a ou-
174

t~em. Só ao Exé~c~to deve cabe~ o pode~ m~­


l~ta~" .! 6

Capanema reagiu porque o projeto de criação da

Organização da Juventude esvaziaria o Ministério da Educa-

ção. Em parecer de 13 de setembro de 1938, o ministro con-

testou o título Organização e, pautando-se no modelo sala-

zarista, propos a denominação Mocidade Brasileira ou Juven

tude Brasileira, a exemplo da Mocidade Portuguesa. Capan~

ma concordou com Dutra quanto ao fato de que o ensino mili

tar deveria ser competência exclusiva do Ministério da

Guerra:

"Va~ a out~o ó~gão o papel de p~epa.ILa~ a.6 ~!!::.


.6e~va.6 m~l~ta~e.6 ê en6.ILaquece~, pela .6up~e.6-
.6ão da un~dade de d~~eção, a o~gan~zação m~­
l~ta~ do paZ.6. Em .6uma, pen.6o que a O~gan~za
ção Nac~onal da Juventude deve l~m~ta~ a iteã
de .6ua atuação; deve ~e.6t.ILingi.IL 0.6 .6eu.6 obje
tivo.6 a'doi.6 .6omente, a .6abe~, a educação 6I
.6ica e a educação mO.ILal e cZvica". ( •.. ) Nu~
ma palav.ILa, t~ata-.6e de um apa.ILelho 06icial
de g.ILande.6 p~opo~çõe.6, con.6tituZdo po~ nume-
~O.6a.6 dependincia.6, e.6palhada.6 em todo o
paZ.6. No 6undo ê uma e.6pêcie de mini.6tê.ILio
novo, de.6tinado a .6upe~intende~ a educação
da juventude em todo.6 0.6 .6eu.6 a.6pecto.6, .6al-
vo no que .6 e ~e6 e.ILe ao en.6ino ou in.6:t1Lu.ção".! 7

A pedido de Vargas, Capanema redigiu novo proje-

to que vinculava a Juventude à escola porque os centros cf

vicos estariam dentro dela (educação moral, cívica e físi-

ca; educação pré-militar e educação doméstica). A inscri-

çao seria obrigatória - no projeto de Francisco Campos não

era - e dividida em dois grupos: Infantes (de 7 a 13 anos

de idade) e Pioneiros (de 13 a 18), para os jovens; Brasi-

leirinhas (de 7 a 13) e Jovens Brasileiras (de 13 a 18), p!

ra as meninas, com papéis bem definidos. Nos Infantes e

Pioneiros seria formado


175

"o amo~ ao deve~ milita~, a con4ciincia da4


g~ande4 ~e4pon4abilidade4 do 40ldado, o co-
nhecimento da4 tecnica4 elementa~e4 do 4e~vi
ço milita~ e 04 hábit04 4ingel04 e du~04 da
vida de ca4e.~na e de campanha".~8

Às Brasileirinhas e às Jovens Brasileiras, a educação do-


méstica daria "o sentimento de que o seu maior dever e a
consagraçao ao lar".'9

o projeto, provavelmente do início de 1939, in-


cluía o Ministério da Educação na direção da Juventude Bra
sileira determinando nos Artigos 27 e 28 que ao Governo Fe
deral caberia a direção administrativa da Juventude para o
-
- administrativos que se
que seriam criados no MES os orgaos
tornassem necessários. 1oo Ao invés da instrução paramili-
tar, deveriam ser transmitidos valores culturais. A dife-
rença entre cultura militar e instrução militar não chegou
a ocorrer e a primeira acabou se resumindo na preparaçao
para o desfile da Semana da Pátria e a comemoração do Dia
da Juventude, 19 de abril.

Finalmente, a Juventude Brasileira foi instituí-


da pelo Decreto-lei n 9 2.072, de 8 de março de 1940, sob a
forma de

"uma co~po~açio ,o~mada pela juventude e4CO-


la~ de todo o pa~4, com a 6inalidade de p~e4
ta~ culto ã pát~ia. ( ... ) A Juventude 8~a4i~
le~~a 6e limita~a, daZ po~ diante, ao culto
mai6 ou men04 ~itual14tico da4 g~ande4 data4
naciona~6, 6em que n~nguêm po~ ela ~ealmente
4e inte~e66a46e e t~ata64e de da~-lhe impul-
40. A ent~ada do 8~a6il na gue~~a ao lado
d06 Aliad04 6e~~a a pá de cal que leva~ia ã
extin~io do p~ojeto já natimo~to de uma o~~a
n~zaçao 6a6ci4ta da juventude no 8~a4il".1 T

Segundo Maria Theíis, uma análise da Lei Orgâni-


ca "nos dá bem a idéia da inadequação ao momento nacio-
176

nal". 1 02 Outra crítica comumente feita é quanto ao -


cara-

ter autoritário da Lei, evidenciado na questão da finalid~

de patriótica do ensino, na ênfase dada à educação moral e

cívica e à educação militar no ensino secundário. Quanto

ao caráter autoritário, a Lei era coerente com o contexto

nacional e no que diz respeito à inadequação, ao contrário,

houve o propósito bem definido quanto à ideologia que dev~

ria nortear esse ramo do ensino médio, propositalmente el!

tizante que consagrou o dualismo educacional. Capanema se

aproximou dos princípios educacionais católicos represent~

dos, principalmente, pelo Padre Leonel Franca e Alceu Amo-

roso Lima. Vargas, coerente com a proposta de desenvolvi-

mento do capitalismo brasileiro, preocupava-se prioritari~

mente com o ensino técnico profissional, uma forma de re-

produzir os trabalhadores, através da formação de mão-de-

obra, enquanto classe:

"A~ in~~i~uiç~e~ de e~eoLa~ de 6ib~iea ( ... )


vie~am aLa~ga~ a~ po~~ibiLidade~ de p~epa~o
p~o6i~~ionaL do ~~abaLhado~ e de ~ua p~oLe.
t na~u~aL em ~odo La~ o~ganizado o de~ejo de
ve~ o~ 6ilho~ eon~inua~em 04 pai4 na ~~aje~~
~ia de ~~abaLho hone~~o, ~epe~indo em nOV04
La~e4 a~ aLeg~ia~ 4impLe4 da 6amZLia. Cong~e
gi-Lo4 pa~a que ~enham amanhã. um o 6Zeio e PO!
~am eon~~i~ui~ ou~~a~ 6amZLia4, a~ende a um
an~eio e6e~ivo e a um ju~~o ~ec1.amo 40eiaL".103

Nada mais autoritário que supor que os pais operários alme

jassem para seus filhos a continuação de sua trajetória

ocupacional.

E preciso considerar que, por parte dos grupos

dirigentes, o projeto educacional merecia apenas uma impo!

tância relati~a dentro do projeto econômico e político of!

cial e daí a atenção, repito, apenas relativa, inclusive


177

em relação à dotação de verbas públicas, dada ao ensino

técnico industrial de custo bastante elevado. A conseqüê~

cia disso foi a expansão do ensino secundário e, em menor

escala, do ensino comercial, de iniciativa privada, princl

palmente, para atender a demanda crescente por escolas.

Além do ensino secundário, Capanema organizou,

em termos nacionais, o ensino técnico profissional nas três

areas da economia através da Lei Orgânica do Ensino Indus-

trial (Decreto-lei n 9 4.073, de 30/01/1942), da Lei Orgâni

ca do Ensino Comercial (Decreto-lei n 9 6.141, de 28/12/1943)

e da Lei Orgânica do Ensino Agrícola (Decreto-lei n 9 9.613,

de 20/08/1946). O ensino técnico profissional, de acordo

com o Art. 129 da Constituição de 1937, era destinado -


as

classes menos favorecidas e era, em matéria de educação, o

primeiro dever do Estado.

A intenção de tirar do ensino secundário o cara-

ter de passagem para o ensino superior, na realidade, nun-

ca se concretizou. O país, em que pese a necessidade da

formação de mão-de-obra para atender ao desenvolvimento,

não podia descuidar da formação de "personalidades condut~

ras" capazes de garantir a manutenção da ordem social esta

belecida.

Quanto ao ensino técnico profissional, em espe-


cial o ensino industrial, evidenciou-se a distância entre

a necessidade de mão-de-obra exigida pelo processo de in-

dustrialização do país e a falta de infra-estrutura sufi-

ciente ao sistema educacional para a implantação em larga

escala desse tipo de ensino. Além disso, a duração longa


178

dessa formação profissional afastava aquela parcela da po-

pulação que efetivamente dela precisava para, o mais cedo

possível, ingressar no mercado de trabalho. Considere-se,

ainda, que as camadas médias da sociedade, responsáveis p~

lo crescimento da demanda por educação, pouco se interess~

vam pelo ensino profissional de grau médio e continuavam a

buscar o ensino secundário que garantia o acesso a todo e

a qualquer curso de nível superior.

Com o intuito de atender às exigências da indús-

tria quanto ao caráter prático e instrumental da aprendiz~

gem, o governo recorreu

"~ cniaçio d~ um 4i4~ema de en4ino panalelo


ao ~i4~ema 06icial, que 60i onganizado em
convênio com a4 indú4~nia~ e a~navê4 do ~eu
ôngio máximo de nepne~en~açio - a Con6edena-
çio Nacional da~ lndú~~nia~".lO~

Foi criado, então, pelo Decreto-lei n 9 4.048, de 22 de ja-

neiro de 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-

trial (SENAI), organizado e dirigido pela Confederação Na-

cional das Indústrias e mantido pelas indústrias a ela fi-

liadas. Somente no final do ano de 1942, as Escolas Técni

cas Federais começaram a ser organizadas.

A 10 de janeiro de 1946, com estrutura semelhan-

te à do SENAI, o governo criou, pelo Decreto-lei n 9 8.621,

o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Em


termos sócio-econômicos, a reforma do ensino comercial pr~

curou atender à demanda de novos tipos de profissionais que

a ascensão da burguesia industrial e comercial e o próprio

crescimento da burocracia estatal exigia.

A Lei Orgânica do Ensino Agrícola, estruturada


179

como as demais e com um currículo composto de disciplinas


de cultura geral e cultura :écnica e com as mesmas instru-
ções metodológicas, procuro~ Dodernizar o ensino agrícola
que nao vinha merecendo maiores atenções por parte do go-
verno. O passado histórico recente de uma economia agro-
exportadora dominada pelas oligarquias rurais talvez expli
que esse descaso, aparentemente paradoxal num país como o
Brasil que, apesar da industrialização crescente, tinha gra,!!
de parte de sua economia apoiada em atividades agrícolas.

Resumindo, cabe a obervação de Anísio Teixeira:

"o chamado ~iJtema de educaçio da elite, com


p4eendendo o ~n~ino 4ecundã~0 de ca~ãte~
p40pedêutico ~o ~upe~o~ e o en~ino ~upe~io~
g4atuLto expal:di~am-~ e 60~a de toda4 a~ p40-
p04çõe4, e o ~i4tema po~ula~, comp~eendendo
o'en~~no p~mã~o e o técnico, nio ~omente
nio ~e expandiu na~ me4ma4 p~opo~çõe~, como
~e vem também t04nando p~opedêutico ao en4i-
no ~upe~io~, meta 6inal a qu~ todo~ a~pi-
4am".lOS

Vale lembrar que a ótica de .\nísio era a dos Pioneiros da


Escola Nova.

Era difícil para as camadas dirigentes acreditar


na educação como fator de desenvolvimento e havia, inclusi
ve, os que acreditavam que o progresso do país dependia mais
do refinamento de suas elites que da educação do povo. Por
outro lado, para a sociedade brasileira, como um todo, im-
portava mais as formas ritualísticas que consagravam o pa-
drão educacional, por serem capazes de gerar "4tatu4", que
lo6
a sua autenticidade.

Ao manter o ensino religioso no currículo esco-


lar, a Constituição de 1937 (Art. 133) garantiu à religião
180

católica, de fato, a sua "oficialização" nas escolas. Das

religiões institucionalizadas, a católica era que tinha

condições efetivas de realizar esse tipo de ensino, já que

as Igrejas Protestantes nao precisavam "brigar" pelo ensi-

no religioso curricular uma vez que para isso, via de re-

gra, mantinham as escolas düminicais. Como o catolicismo

popular brasileiro não primava pela ortodoxia, a Igreja ti

nha na escola um veículo importante para suprir a deficiê~

cia religiosa. Não havia, portanto, razões para conflitos

entre o Estado e a Igreja e esta adquiriu junto ao Minist~

rio da Educação, à época de Capanema, uma posição privile-

giada.

Foi a confiança nessa posição que, provavelmente,

levou Alceu Amoroso Lima a enviar ao recém-empossado Mini~

tro da Educação uma relação de medidas que deveriam ser a-

dotadas em relação à educação e, também, à outras áreas do

governo. Da relação de 19 itens do setor de educação con~

tavam, por exemplo, a rigorosa exclusão do ecletismo peda-

gógico e do bolchevismo; a defesa das humanidades classi -

~ cas, latim e grego e sua incorporação no plano nacional de

educação; o entendimento com os estados para uma uniformi-

dade na orientação educativa e facilidades do ensino reli-


gioSO.I0 7

A entrevista concedida por Capanema a - imprensa,

antecipando as linhas mestras da projetada reforma de ensi

no, já mostrara o quanto o Ministro se aproximava do ideá-

rio católico de educação:

"L ... ) pa~a uma ob~a educa~~va de at~o ~en~


do humano e nac~onat o E~~ado p~ec~~a con~a~
181

'c.om a. c.oope./ta.ç.ã.o de.~,;t.e..6 doi.6 e.le.me.Mo.6 de. p/ti


me.i/ta. o/tde.m e.m ma.tê/tia. de. e.duc.a.ç.ã.o, a. .6a.be./t:
a. Fa.mll~a. e. a. Re.ligiã.o. E p/te.c.i.6o, e.m p/time.i
/to luga./t, que. a. Fa.mllia. c.oope./te. c.om o E.6ta.-
do. Em .6e.gundo luga./t, ê p/te.c.i.6o te./t e.m vi.6ta.
que. de.ve.mo.6 ba.ni/t de.6initiva.me.nte. de. no.6.6O.6
hãbito.6 inte.le.c.tua.i.6 o ve.lho p/te.c.onc.e.ito da.
E.6c.ola. le.~ga., poi.6 a /te.ligiã.o ê, c.omo a. e.xpe.
/tiênc.ia. humana o de.mon.6t/ta., uma. da..6 ma.io/te.~
60/tç.a..6 e.duc.a..tiva..6". 1 o a

o texto da Lei Orgânica do Ensino Secundário pe~

mite avaliar a aceitação das medidas propostas por Alceu.


O ensino do grego e do latim, por exemplo, foi justificado
sob a alegação de que

"po/t ma.~.6 que. e..6te.ja. o no.6.6O pa.Z.6 voltado pa.


/ta. a. mode./tnida.de. e. pa./ta. o 6utu/to, po/t ma.i~
vigo/to.6a. que. .6e.ja. a. .6ua. pa./ttic.ipa.ç.ã.o na. vida.
nova. do mundo, nã.o lhe. ê pO.6.6Zve.l de..6c.onhe.-
c.e./t a. ~/t/te.movlve.l vinc.ula.ç.ã.o de. .6ua. c.ultu/ta.
c.om a..6 o/t~g e.n.6 he.lênic.a..6". 1 O!

Além disso, e principalmente, o Parágrafo único do Art. 21


do Decreto-lei n 9 4.244, determinando que o ensino de reli
gião e o seu regime didático seriam fixados pela autorida-
de eclesiástica, garantia a presença da Igreja Católica
nas escolas oficiais.

A proposta de ensino religioso em nada conflita-


va com a proposta educacional do Estado. Questionando aqu~

les que, ao defender a escola ativa, combatiam o ensino re


ligioso, Amoroso Lima argumentava que

"o c.a..te.c.i.6mo ê uma. e..6c.ola de. p/tã.uc.a., de. a.li


vida.de., de. /te.a.liza.ç.ã.o. ( ... ) E a. mo/ta.l /te.li~
gio.6a. ê 6unda.da. .6ob/te. a. noç.ã.o de. de.ve./t que. ê
a. ne.ga.ç.ã.o da. pa..6.6ivida.de., da. inêAc.ia. e. do
e.g oi.6mo" •
E refletindo o pensamento dos educadores católicos quanto
à relação escola-individuo-sociedade:
182

"N~o ba4t~ p~epa~a~ o indivIduo pa~a a 40cie


dade. Se~a pa44a~ do e~~o ~nd~viduali4ta pa~
~a o e~~o 4oc~a.e~llta. ( ... 1 NÔ4 mantemo4 uma
4ujeição ~e.eat~va do indivIduo ã llociedade,
ma4 4ubmetemo4 um e out~o, indivIduo e 40cie
dade, a uma 6inalidade llup~ema que excede o~
limite4 do e6ême~o e do ~e.eativo. A 4ocieda-
de n~o ê pa~a nÔ4 um ~im e 4im um meio. E 4e
aceitamoll que o indiv~duo 4e 4ubo~dine a ela
ê pa~a que o homem p044a ~ea.eiza~-4e em toda
4ua plenitude". 110

Ao estabelecer a diferenciação do ensino secundá


rio feminino que deveria "tomar em consideração a natureza
da personalidade feminina e a missão da mulher dentro do
lar" e determinar "a separação das classes, sempre que na
mesma escola secundária houver aluno dos dois sexos".lll
Capanema impedia a co-educação. Isso agradava especia1meg
te aos católicos que davam ã mulher, por ser mais faci1men
te religiosa e por servir "ã vida, transmitindo-a a outros
seres, na tarefa mais sublime de sua natureza" e, também,
"como educadora nata da infância", rel~vante papel na for-
maçao e preservação da família católica. ll2 Essa preocupa-
çao era compreensível porque a Primeira Guerra Mundial ha-
via levado um número considerável de mulheres a buscar em-
pregos nas fábricas e no comércio. Era importante trazê-
las de volta ao lar, livres de prováveis influências que
pudessem prejudicar sua tradicional atuação enquanto educa
doras da família cristã brasileira.

o nacionalismo, que se expressava pelo caráter


patriótico que deveria ser dado ã educação, também se coa-
dunava com o pensamento católico, pois

"a acutação do ca~ã.te~ nac~onal e F?at~iõti­


co da educação e~a legItima, necell4ã.~ia e in
dillpen4ã.vel a ~ma 6o~ação completa e pe~6eI
183

~a da humana. Po~~ ama~, d~gn~


pe~~onal~dade
6~ca~ e eng~andece~
a Pã~~~a dev~a ~e~ um
do~ obje~~vo~ 6undamen~a~~ de toda ve~dade~­
~a 6o~maçao ~oc~al e mo~al do homem".113

~ justo acrescentar que o nacionalismo brasileiro não le-


vou a uma pedagogia racista e a sabedoria cristã, no dizer
de Amoroso Lima, podia indicar os limites e a extensão do
nosso sentimento nacional.

"( ••• 1 nao con~~~u~ 6~nal~dade p~eclpua da


educaçao de~envolve~ o amo~ da p~õp~~a ~aça
como ~endo o bem ~up~emo; e 6~nalmen~e que a
~aça nao con~t~~u~ a 60nte p~~me~~a e a ~e­
g~a ~up~ema da o~dem ~el~g~o~a como da o~dem
j u~I d~ c a" . 1 1 4
A formação eugênica do homem brasileiro se resumiu em cul-
tivar as qualidades do corpo, o que nao feria os princí-
pios católicos, pois, segundo o tomismo, o corpo é, de cer
ta forma, a plenitude da alma.

Note-se que no "discurso" da Educação Física, os


três valores básicos da sociedade eram: integração (com se~

tido de unidade), aperfeiçoamento da raça e sentimento na-


cionalista. Só se podia

"cog~ta~ de melho~a~ a~ cond~ç5e~ do homem


b~a~~l~~o cu~dando ao me~mo ~empo de ~ua
cul~u~a, de ~ua ~aúde, de ~ua e~~~u~u~aÇao
mo~al e ~~~o ~e pode~á con~egu~~ com uma ~ã­
b~a 'pollt~ca b~olõg~ca', ( ... ) u~~l~zando
como elemento áundamen~al a educaçao 6I~~ca,
que na~ ~ua~ mult~pla~ con~eqüênc~a~ - mo~6o
lõg~c~, 6~~~olõgica~, e~p~~~tua~~ e ê~n~~
ca~ - pe~m~~~~-no~-á ape46e~ço~~ o~ valo~e~
d~~igente~ e c~~ado~e~ da~ el~~e~ e a~ ap~~­
d5e~ p~odu~o~a~ da~ ma~~a~. ( ... ) U~~l~zan­
do e~~a g~ande a~ma mode~na da e~~~u~u~aÇao
humana (a Educaçao FI~~ca) ( ... ) ê que ~ e po
de~á ~ealiza~ a6~nal o m~lag~e da 6o~maçao
~n~eg~al do Homem B~u~le~~o". 1 1 5

Essa maneira dicotômica de tratar o homem brasileiro em na


da se chocava com os princíoios educacionais católicos. Se
l8-l

aos "condutores" fosse dada uma formação cristã sólida, os

"conduzidos" caminhariam corretamente e o equilíbrio so-

cia1 seria mantido.

Um exame da correspondência trocada entre Amoro-

so Lima e Capanema permite inferir que a importância da

Igreja era tão grande ao ponto do Ministro "ouvir" o educa

dor religioso no que dizia respeito à nomeação de pessoas

para o exercício de cargos relacionados à educação. Em caE

ta de 16 de junho de 1935, Amoroso Lima criticando o fato

de Anísio Teixeira, na sua opinião, um socialista, ser o

~irétor do Departamento Municipal de Educação do Distrito

Federal, recomendava "organizar a educação e entregar os

postos de responsabilidade nesse setor importantíssimo a

homem de toda confiança mOAat e têcnica".116 (grifos do au

tor). Em carta de 21 de julho de 1939, respondendo a Al-

ceu sobre o convite feito a um professor de física experi-

mental italiano, Capanema escrevia:

"( ... ) tudo quanto combinei com voce e~ti na


minha memõAia, e nada àeixaAã de ~eA cumpAi-
do. Nenhuma nomeação combinada deixaAã de
~aiA (Costa Ribeiro havia sido indicado por
Alceu Eara a referida cátedra). Nenhuma nova
nomeacao ~e 6aAã ~em o ~eu pAêvio a~~entimen
to" . 1 1 7

Uma vez garantida a iniciativa (privada) católi-

ca no ensino superior e no ensino secundário, estavam ass~

gurados os objetivos educacionais católicos que se resumiam

em preparar as elites para, repito, criar e manter as ba-

ses de uma sociedade cristã. Acrescente-se que as insti -

tuições escolares mantidas pela Igreja eram bastante onero

sas e, por definição, quem podia arcar com o alto custo


185

dessa .educação já era membro da elite. O conservadorismo

da Reforma Capanema, coadunava-se com o conservadorismo ca

táolico.

2.3.3 Os ensinos primirio e normal

De um modo geral, os ensinos primário e normal

eram atendidos pelos Estados e das reformas estaduais que

buscavam, desde a década de 20, algumas inovações de cará-

ter predominantemente metodológico, poucas conseguiram ir

adiante. Além da falta de um plano consistente, os siste-

mas estaduais careciam de recursos materiais e humanos pa-

ra a efetivação de tais reformas. Determinando a concreti

zação ou o abandono das reformas educacionais, pesava~ tam

bém, as circunstâncias políticas. Isso tudo contribufa pa

ra acentuar as diferenças regionais.

A Lei Orgânica do Ensino Primário (Decreto-lei

n 9 8.529, de 2/01/1946) e a Lei Orgânica do Ensino Normal

(Decreto-lei n 9 8.530, de 2/01/1946) traçaram as diretri-

zes gerais que deveriam nortear os dois ramos de ensino.

A educação primária seria financiada pelo Fundo

Nacional de Ensino Primário, instituído pelo Decreto-lei

n 9 4.958, de novembro de 1942 porque

"eILa um dado ..tJtJtec.u~ãvel de no~~a expeJt..i.ên-


c.ia que o~ E~~ado~, ~Õ c.om o~ ~eU4 Jtec.uJt~o~
ou ..tn..tc...taz..tva4, não c.on~eguilL..tam Jte40lveJt o
pILoblema do en~..tno pJt..i.mãJt..to, a ..tn~eJt6eJtênc...ta
6edeILal eJta ~mpJte~c...tndZvel, e não apena4 pa-
ILa 6~xaJt d~JtetJt..tze~, ma~ ~ambêm paJta c.oope-
JtaIL n~ ~eà!..tza~Qe~u.ile

O ensino primário ficou assim estruturado: en~..t-


186

no 6undamental, subdividido em elementar, de quatro anos

de duração, e complementar, de um ano; e en~ino ~upletivo,

com dois anos de duração, destinado a adolescentes e adul-

tos.

Era no ensino primário que a escola pública se

voltava realmente para as massas populares o que fazia com

que ao lado da ênfase no ensino patriótico, fosse acres -

centada a proposta pragmática que permitia a articulação

legal desse nível de ensino com as escolas de aprendizagem

e com os cursos técnicos profissionais. Eram finalidades

do ensino primário: "proporcionar a iniciação cultural que

a todos conduza ao conhecimento da vida nacional e ao exer

cÍcio das virtudes morais e cívicas" e "elevar o nível dos

conhecimentos úteis à vida na família, à defesa da saúde e

à iniciação ao trabalho".ll'

A organização do ensino normal apresentou as mes

mas distorções encontradas na organização do ensino técni-

co-profissional: a falta de articulação dentro do sistema

educacional, a longa' duração, a predominância da formação

geral sobre a técnica, a falta de flexibilidade e a seleti

vidade.

Durante a Era de Vargas, a educação rural passou

a merecer maior atenção da parte do governo. A educação


passou a ser encarada como um meio de manter a população

rural no campo e garantir a estabilidade da ordem social.

Num discurso proferido em 1933, Vargas assim se pronuncia-

va:

"Há. plLo6unda d-i.6elLenç.a entlLe en~inalL a lelL e


187

edu~a~. A le~tu~a ê ponto ~n~~~at de ~n4t~u­


ção e e4~~, p~op~~amente, 4Ô ê ~ompteta quan
do ~e ~e6~~e ã ~ntet~gin~~a e ã at~v~dade:
( ••• J A p~~ da. inJt~ução, a edu~ação: da~
ao ~e~tan~jo, qua4e abandonado a ~i me~mo, a
~on4~~inc~a de ~eU4 d~~e~to~ e deve~e4; ~o~­
tate~e~-tce a atma ( ... ) en~ija~-the o 6~4i­
~o peta ~giene e peto t~abatho ( ... ) ê p~e­
~~40 ~~~a~ e4~ola4. Não a4 ~~~a~, po~êm, 4e-
gundo um ~odelo ~Zgido apl~~ávet ao paZ~ ~n­
te~~o. Ve a~o~do ~om a~ tendin~ia~ de ~eU4
hab~tant~ devem04 min~4t~a~ o~ tipo~ de en-
4~no que ~he4 ~onvêm: n04 ~ent~o~, POPUt040~
e indu~ttiai~ - o tê~ni~o p~06i4~ionat -( ... );
no ~nte~~:~ - o ~u~at e ag~Z~ota". 12 o

Essa preocupa;ão com a educação rural se intensi

ficou durante o Estado ~ovo. Em 1937, foi fundada a Socie

dade Brasileira de Educação Rural que, além de programar a

educação propriamente dita e coerente com a proposta naci~

nalista do governo, tinba por objetivo o folclore e as ar-

tes rurais brasileiras. Corno observou Vanilda Paiva,

"a p~eo~upação em p~e4e~va~ n04~a t~ad~ção


60l~lõ~~c~ 4e inte~4i6icou ~om a eme~gincia
do ~nte~~~e pela edu~ação ~u~al ( ... ) ve~~-
6~ca-4e que na4 g~ande~ ~~dade4, a aqu~~~ção
de novo~ hibito~ de v~da e de novo~ pad~õe~
~ultu~a~~ pela~ populaçõe~ v~nda~ do ~ampo
~onduzia ã de~adinc~a da~ a~te~ ~~~ada~ e~­
pontaneamente pelo povo". 121

Não é demais repetir que ao buscar o desenvolvi-

mento do ensino elementar, visando a população rural, e o

do ensino técnico industrial, visando a população urbana,

o governo tinha por objetivo básico a sedimentação do po-

der e a educação era um importante instrumento de difusão


ideológica.

Com a instalação do Estado Novo, a orientação p~


dagógica e administrativa da rede escolar dos municípios
-
passou a ser desenvolvida pela Inspetoria de Ensino, orgao -
188

ligado ao poder público municipal. Essa Inspetoria era um

órgão executivo que devia orientar e controlar a rede de

ensino de acordo com diretrizes estabelecidas pelo Regula-

mento do Ensino Municipal e pelo Regimento Interno da Esco

la. Na realidade, o que acontecia era serem essas normas

emanadas do planejamento do ensino estadual que, por sua

vez, era elaborado em conformidade com a pOlítica nacional

da educação. De concreto, "o apoio à difusão do ensino

primário se fez em forma de apelo aos estados para que se

esforçassem nesse sentido".122

Enquanto na rede pública estadual as escolas ru-

rais expandiam-se, nos municípios e em localidades ainda

menores, especialmente naquelas colonizadas por imigrantes

europeus, crescia o número de escolas mantidas pela Igre-

ja. Era comum as escolas serem construídas junto às cape-

las e o vigário de cada paróquia era, de fato, o responsá-

vel por suas diretrizes.

O Estado Novo emudecera os debates em torno da

educação e as decisões governamentais passaram a ser mais

de ordem política que de ordem técnica. A difusão do ensi

no, então, se fez segundo um objetivo quantitativo que le-

vava em conta que à educação cabia, inclusive, difundir pri!!

cípios de disciplinas cívica e moral e que a estratégia e-

ducacional deveria se orientar no sentido de uma cultura


de cunho nacionalista e nacionalizador. Assim, para os e~

tados onde a população de imigrantes e seus descendentes


era maior, o governo federal aumentou, como mecanismo para

a nacionalização das escolas "estrangeiras", a colaboração


189

financeira para a fundação e manutenção de escolas elemen-

tares.

A nacionalização das escolas do sul do país, on-

de a imigração estrangeira ocorreu em maior volum~ era uma

questão que preocupava o governo, principalmente em termos

de segurança nacional. Em memorando datado de 8 de outu -

bro de 1940, endereçado a Capanema, o secretário geral do

Conselho de Segurança Nacional, General Francisco José Pin

to, ressaltava a importância de "solucionar no menor tempo

possível o problema da integração na comunhão brasileira

de elementos brasileiros que se conservaram dela aparta-


dos".123 A preocupação do secretário partia da notícia,

veiculada pela imprensa, que a Comissão Nacional de Ensino

Primário apresentara ao ministro da educação um ante-proj~

to, acompanhado da exposição de motivos, relativo à prepa-

ração do magistério primário que, resumidamente, dizia:

"A~~i.m, pa.lLa.
a.~ e.~ c.ola.~ nOllma.i.~ da.~ zo na.~ de.
c.oloni.za.~ão de. olli.ge.m e.~~Ila.nge.i.lLa, le.mblla. o
a.nte.-plloje.to que. haja. o e.~tudo de lIngua.,
u~o~ e c.o~tume~ da.~ popula~õe~ de~~a.~ zona.~,
a. 6i.m de que o tlla.balho de a.~~i.mi.la.~ão do~
c.olono~, pela. e~c.ola. plli.mãlli.a., po~~a. vi.1l a
exellc.ell-~e de manei.lla mai.~ e6i.c.i.ente".124

Em julho de 1940, o minucioso relatório apresentado por Du.!

phe Pinheiro Machado sobre a inspeção feita ao sul, por in

cumbência do Ministro do Trabalho Indústria e Comércio, de

ra ao governo a dimensão do problema que representavam os

"quistos raciais", especialmente os de origem alemã, e a

existência de núcleos comunistas em Santa Maria, cujo co-

mércio em grande parte estava entregue a judeus, e em Uru-

guaiana, onde continuava a existir o Diretório da Aliança


190

Xaciona1 Libertadora. O relatório denunciava, ainda, que

"a~ e~coLa~ e~t~angei~a4, mantida4 e 4ubven-


cionada~ po~ comunidade~ e~t~angei~a~, acha-
vam-4e in~taLada~ em bon4 p~édio~, com p40-
6e~404e~ ad4ede p4epa4ad04 pa4a a ta~e6a de~
nacionaLizado~a e di~punham de mate4iaL ade~
quado" . 125

Prosseguia o relatório:

"N44 4egi5e~
que pe~c044i encont4ei e~cola4
b4a~il~4a4 6uncionando em ve4dadei40~ pa~­
diei404 ou choupana4 cobe4ta4 de palha, ~em
a4, ~em Luz e ~em higiene, com p406e~404e4
• mal pag04 e de~p40vid04 de mate~ial. E4~a~
e~cola4 04a 4ão mantida~ pel04 E4tado~, 04a
pel04 municlpio~".125

A preferência pelas escolas "estrangeiras" por

parte da população rural não podia ser justificada apenas

pela sua melhor qualidade. Havia por parte dos imigrantes

e seus descendentes a preocupação em manter vivos os laços

com a pátria de origem. As providências tomadas pelo go-

verno federal que levaram ao fechamento de centenas de es-

colas, desde são Paulo até o Rio Grande do Sul, eram comen

tadas no jornal de são Leopoldo lAlgemei~e Sch4e4~eitun~}:

"No Rio G~ande do Sul, em ge4al, a4 e~cola4


teuto- b4a4iLei.4M, digo, teuto- evang êLica4,
~4tão ~egi4t~ada4 e p04 i4to 4econhecida4 pe
lo gove~no 6ede4al, 400 de mai4 ou men04 600
e~coLa4 teuto-evangélica4. Uma auLa de ale-
mão dia4iamente 60i-lhe admitido. Também a
in4t4u~ão ~eLigi04a pode4ã 4e4 6eita em lln-
gua mate4na. Com i4to é dado ii4 e4 cola4 a po~
4ibilidade do en4ino em alemão. ( ... ) A 4U~
p4e44ão da llngua aLemã mate4na, que é 6ala-
da po~ qua4e tod04 04 teuto-b4a4ilei~04 jun-
tamente com a Llngua do pa14, na4 localida-
de4 de in4t4u~ão mai4 adiantada, 4e4ia um 4e
t4oce440 cultu4aL que, p044ivelment~ até com
ce4teza 4e. 6a4ã 4enti4 economicamente". 127
A língua materna para os filhos dos imigrantes era o ale-

mão e a língua portuguesa era, apenas, a língua do país em


191

que haviam nascido. A cultura, portanto, era alemã. Tal-


vez houvesse por parte dessas populações teu to-evangélicas,
a esperança que, uma vez conquistada a Europa, o Reich vo!
tasse sua proposta expancionista para a América do Sul.

Os estados do sul do país tinham que integrar


seus sistemas educacionais ao projeto nacional e nacionali
zar as escolas "estrangeiras". A educação deveria ser o
instrumento da difusão do patriotismo cultural que eviden-
ciava o culto à pátria. Ao deixar a escola, o jovem deve-
ria estar disciplinadamente comprometido com a ordem esta-
belecida e capaz de zelar pela consolidação do regime poli
tico.

Entre os imigrantes italianos, também numerosos


no sul do país, a nacionalização foi bem mais tranqüila. O
fato dos italianos e seus descendentes serem majoritaria-
mente católicos, facilitou o entendimento entre Igreja e
Estado e a integração das suas escolas "estrangeiras" ao
sistema estadual de ensino. A própria Igreja tomou a dian
teira na nacionalização da rede escolar católica.

Em circular datada de 12 de julho de 1940, a CÚria


Metropolitana de Porto Alegre ordenava

"4e~ deve~ de con4ciincia d04 pi~OC04 en4i-


na~ ~egula~, me~ôdica e e6icien~emen~e a dou
. ~~ina c~i4~ã não 4Ô n04 colêgi04 ca~ôlic04~
ma.6 ~ambêm em todo.6 0.6 coR.êgi04 púbR.ico.6,.6 em
exce.64ão de um .6Ô, da.6 4ua.6 pa~õquia4. ( ... )
A P~imei~a comunhão ê ob~iga~ô~ia e 6ica .6e-
ve~amen~e p~oIbida, ne.6~e pa~~icuR.a~, ~uaR.­
que~ di.6~inção en~~e 0.6 aR.uno.6 do.6 calegio.6
ca~õlico.6 e 0.6 de e.6COlA.6 púbR.ica.6".128

Em 30 de julho de 1940, o Secretário da Educação e Saúde


Pública do Rio Grande do Sul prestava contas ao interven-
192

tor federal, Coronel Osvaldo Cordeiro de Farias, do conve-


nio assinado com o Arcebispo de Porto Alegre e os Bispos
Sufragâneos do Estado. Principiava o secretário por dizer
que as resoluções contidas na circular baixada pelo Arce-
bispo Metropolitano eram de grande valia, "pois os colonos
não mandavam os seus filhos às escolas do Estado, porque a!
~

guns parocos se recusavam a conceder comunhão solene a quem


não freqUentasse a escola paroquial". 12! Pelo item 4 desse
convênio, a

"C~~ia Met~opoLitana ~e comp~ometia, ~em p~e


juZzo da compLeta autonomia admini~t~ativa e
con6e~~ionaL da~ ~e6e~ida~ e~coLa~, a mante~
na~ me~ma~, um en~ino ~i~o~o~amente nacionaL
de aco~do com a Legi~Laçao Rede~aL e e~ta­
duaL atinente i mati~ia".13

A partir da 11 Guerra, com o alinhamento do Bra-


sil ao lado dos países democráticos, as escolas estrangei-
ras passaram a ser vistas como prováveis focos de subver-
sao ideológica. Isso levou à extinção das escolas teuto-
brasileiras, a maioria de orientação protestante.

Provavelmente, ao contribuir para a extinção das


escolas protestantes, a Igreja tenha procurado aumentar o
espaço de sua atuação uma vez que o "ensino regular, metó-
dico e eficiente da doutrina cristã" deve ter levado um nu
mero maior de famílias católicas a buscarem as institui-
çoes oficiais de ensino. Vale lembrar que nas áreas ru-
rais, a prática do ensino religioso era uma exigência da
população que buscava no catecismo os elementos éticos ne-
cessários à orientação da vida particular e social.

A nacionalização das escolas "estrangeiras" cató


193

licas se completou com a obrigatoriedade do vernáculo nas

atividades pedagógicas, a colocação da Bandeira Nacional

em lugar de destaque, a distribuição gratuita do mapa do

Brasil e a adoção de manuais didáticos imbuídos de espíri-

to nacionalista. As atividades escolares só se iniciavam

depois de, diante da Cruz e da Bandeira Nacional, alunos e

professores fazerem o Sinal da Cruz e cantarem o Hino Na-

cional.

2.3.4 Síntese da administração Capanema

As condições específicas do país frustraram a ten

tativa de reproduzir a estrutura centralizada de tipo nap~

leônico e o sentido das reformas educacionais ficou sendo

mais o controle e regulamentação do sisteffia de ensino que

a sua ampliação.

A proposta governamental de desenvolver a ampla

mobilização patriótica acabaram por se resumir nos desfi-

les da Juventude Brasileira, aos corais orfeônicos espalh~

dos pelo país e ao material de propaganda difundido pelo

DIP.

o ensino primário continuou sendo responsabilid~

de dos estados, houve o crescimento, sob formas bastante

criticáveis, do ensino secundário, o ensino ~écnico profi~


sional, com exceção dos cursos ministrados pela indústria

nascente, foi muito pouco expressivo e, quantitativamente,

o ensino superior estagnou. Esse descompasso entre o de-

senvolvimento dos diferentes níveis de ensino, principal-

mente entre os cursos do ensino de nível médio, mantinha a


194

dualidade do sistema educa~ional que, além de produzir e


reproduzir a força de trabalho para o processo produtivo,
garantia a consolidação de uma sociedade de classes, agora
mais nitidamente definida.

Um conjunto de noçoes e pressuposições, que no


contexto adquiriram o caráter de verdades, talvez tenha si
do a principal herança do Estado Novo na área educacional.
Entre as pressuposições estava a de que os múltiplos pro-
blemas do ensino seriam sempre e necessariamente soluciona
dos com melhores leis, melhor planejamento, mais fiscaliza
131
çao e mais controle.

Note-se que a expansao do ensino secundário se


deveu principalmente à iniciativa privada, especialmente
da Igreja, enquanto o Ministério da Educação, que exigia a
uniformidade, paradoxalmente, se limitava i manutenção de
um colégio padrão e à equiparação ou oficialização das ou-
tras escolas. Como o poder federal "não teve capacidade
de dar autenticidade à equiparação, à base de critérios
educacionais relevantes, passaram a prevalecer os critérios
extrínsecos, isto é, formalmente verificáveis". 132

A Igreja, por motivos próprios já abordados, pa~

ticipou do esforço centralizador do governo e contribuiu,


em grande parte, para o crescimento do número de estabele-
cimentos de ensino de iniciativa privada. Essa centraliza
ção, no entanto, se revelaria sufocadora e os responsáveis
pelos estabelecimentos particulares de ensino, inclusive a
Igreja, se insurgiram contra ela. Apesar de admitir que
algum progresso fora conseguido com a criação do MES, a Lei
195

Francisco Campos e a Lei Capanema, Mariano da Cruz obser-


vou, referindo-se ao ano de 1944, que

"o en~ino vinha padecendo de g~avl~~ima~ de-


6iciência~ e~t~utu~ai~ cuja cau~a p~incipal
~e~idia na ~Zgida 'mecanização' do~ p~oce~­
~o~ educacionai~, na uni60~mização e ~igidez
do~ cu~~lculo~ e, numa palav~a, na 6alta de
libe~dade pedagógica, o que eximia de ~e~pon
~abilidade o~ educado~e~".133 -

Essa "insurreição" da Igreja contra a centraliza


çao que ela, em certá medida, ajudara a criar se explica
pelo fato de os tempos serem outros. As forças de oposi-
ção principiavam a se manifestar. No Rio de Janeiro, por
exemplo, os estudantes, sob a liderança da União Nacional
dos Estudantes (UNE), apoiada pela Sociedade dos Amigos da
América e pela Liga de Defesa Nacional, realizaram uma pa~

seata antitotalitária (1942). A participação do Brasil na


11 Guerra Mundial abriu caminho para pressoes contra a di-

tadura Vargas. O lançamento em Minas (1943) do Manifesto


dos Mineiros, apontava para mudanças institucionais de ca-
ráter liberal. A redemocratização do país se fazia anun-
ciar e era necessário que a Igreja cerrasse fileiras con-
tra as prováveis ameaças aos privilégios conquistados. A
questão educadores liberais x educadores católicos apenas
hibernara durante o Estado Novo e, embora em novos termos,
iria ser reacesa.

Com o objetivo básico de "estabelecer uma açao


conjunta para neutralizar os obstáculos que, a cada passo,
dificultavam o ritmo e a eficiência escolar,,13~, anunciou-
se em março de 1944 o I Congresso de Estabelecimentos Par-
ticulares de Ensino. Nesse momento não houve a reivindica
196

çao por verbas públicas; só no Terceiro Congresso de Esta-


belecimentos Particulares de Ensino, realizado no
. ~ .
lnlClO

de 1948, ficou estabelecido que o papel do Estado na educ~

ção deveria ser o de intermediário financeiro entre o povo


e as escolas particulares.

Educadores dos mais diferentes credos religiosos


e educadores sem credo religioso algum participaram desse
Primeiro Congresso; os católicos se fizeram representar
por um grupo de trabalho formado por diretores de colégios
católicos do Rio de Janeiro: estavam lançadas, aí, as raí-
zes da força que as instituições católicas de ensino exibi
riam nos embates futuros. Nesse Congresso foram lançadas
as bases da Associação de Educação Católica CAEC) , "uma a~

sociação nacional dos estabelecimentos católicos, para pr~

gresso crescente do ensino, dentro das normas da doutrina


da Igreja". 135, em outras palavras, uma associação para uni
ficar e defender os interesses da Igreja na educação. Como
o grupo de trabalho já havia previamente definido "os pon-
tos" em que deveriam estar de acordo na reunião do Primei-
ro Congresso, os católicos tiveram uma atuação bastante si~

nificativa.

Chamando a si a defesa dos direitos da Igreja e


da família e o amparo à liberdade pedagógica e administra-
tiva da iniciativa particular, a AEC, que em 1946 afirmava
representar 1.400 escolas de níveis primário e secundário,
iria crescer 'e, como grupo de pressão enfrentaria outros
grupos de orientação secular nos debates em torno da Lei
de Diretrizes ~ Bases da Educação Nacional. Com a fina1i-
197

dade de exercer as mesmas funções no nível universitário,

foi criada, em 1952, a Associação Brasileira de Escolas Su

periores Católicas (ABESC).

3. A redemocratização do país e a educação

Ao final da II Guerra Mundial, atendendo a fato-

res de ordem interna e de ordem externa, a organização capita-

lista do sistema produtivo brasileiro tornara-se definida.

O crescimento econômico, exigindo a incorporação

do desenvolvimento tecnológico externo, veio solidificar

uma estrutura social que já era bastante injusta. O cres-

cimento econômico, a produção cultural e o desenvolvimento

social aconteceram em ritmos diferentes. Esse descompasso

acarretou, de um lado a manutenção da dependência para o

desenvolvimento econômico e, de outro, a perpetuação do sa

ber como um mecanismo capaz de fortalecer o poder de uma

classe dominante que não pretendia se deixar destituir pe-

las classes dominadas que ajudara a criar. Assim, era im-

portante educar para o desenvolvimento, isto é, para o "co

mando" e a escola teve que reforçar a função de preparar

as "elites condutoras" que se encarregariam de administrar

a dependência, dirigir a máquina estatal e garantir a heg~

monia (da classe dominante) através do monopólio dos ins-

trumentos de elaboração e expressão de idéias e valores.

Num sistema capi talista" de produção, a educação


tem um papel ideológico, que é a inculcação dos valores da
sociedade capitalista, e um papel econômico, que é o de
atender a duas exigências fundamentais que se complemen-
198

tam: a formação de mão-de-obra qualificada e, nos países


subdesenvolvidos, o aproveitamento das tecnologias de pro-
dução importadas. Em termos econômicos, a educação deve-
ria formar "capital humano".

A importância da renovação educacional, que dev~

ria decorrer da inovação política (a redemocratização), f~

ce ao desenvolvimento do capitalismo industrial brasileiro,


foi bastante relativa. Na realidade, as transformações que
desde 30 vinham ocorrendo no sistema escolar não foram su-
ficientes para que a grande massa da população tivesse, d~

mocraticamente, acesso a urna educação de qualidade apreci~

velo

A democracia legi timada pela Consti tuição de 1946,.

de acordo com o modelo liberal, era urna democracia restri-


ta ã parcela da sociedade que garantia para si mesma as
prerrogativas da cidadania, entre as quais estava o siste-
ma de ensino. OS'setores médios da sociedade, aqueles que
se situavam entre o grupo dominante e a massa de trabalha-
dores, por serem econômica e politicamente importantes, ti
veram suas reivindicações atendidas no que dizia respeito
à educação. A escolaridade era o meio de acesso e de as-
censão na esfera dos privilegiados. Isso explica porque
as camadas médias aceitavam seu papel, de apoio e barganha,
dentro do jogo político.

Um pouco por tradição histórica e muito em virtu


de de suas atuações pOlíticas e sociais, os setores médios
da sociedade brasileira almejavam a formação educacional
que era tradicionalmente destinada às elites. Corno as ofer
199

tas de funções técnicas de alto nível num parque industrial


ainda incipiente eram bastante limitadas, era natural que
as camadas médias optassem pelas atividades públicas e pe-
las profissões liberais que tradicionalmente garantiam a
ascensão almejada. Acrescente-se que o caráter dependente
da modernização da economia brasileira era uma limitação
para a efetiva transformação do sistema de ensino.

A quarta Constituição Republicana, promulgada em


18 de setembro de 1946, não diferia, em essência, da de
1934. No que dizia respeito à educação, reafirmava, em mui
tos pontos, os princípios de democratização embora, compa-
rativamente com a Constituição de 1934, fosse mais restri-
ta quanto à gratuidade. O Art. 168, inciso 11, determina-
va: "O ensino primário oficial é gratuito para todos; o e~

sino oficial ulterior ao primário se-lo-á para quantos pr~

varem falta ou insuficiência de recursos". Nos incisos 111


e IV do mesmo artigo, era colocada a responsabilidade das
empresas quanto à educação de seus empregados menores e dos
filhos dos empregados, se o número destes fosse superior a
100.

Pelo inciso V do Art. 168, o ensino religioso,


constante do horário das escolas oficiais, teria matrícula
facultativa e seria ministrado de acordo com a confissão
136
religiosa do aluno.

Dentre as medidas que deveriam ser to~adas para


traçar uma política educacional de âmbito nacional, desta-
cava-se o i~ício dos trabalhos para a elaboração de um a~

te-projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-


200

nal que cumpriria o estabelecido_pela Constituição: "Comp~

te à União legislar sobre diretrizes e bases da educação na


cional".137

Em 1945, livre do silêncio imposto pelo Estado


Novo, a ABE promoveu, no Rio de Janeiro, o IX Congresso
Brasileiro de Educação com o objetivo de estabelecer dire-
trizes para uma educação democrática.

"Não .óe. ,tJLa,tava ma-i...ó de. e..ó,tabe.le.c.e.JL d-i..JLe.,tJL-i..-


ze..ó mOJLa-i...ó paJLa uma e.duc.ação de..ó,t-i..nada a -i..m-
pOJL valoJLe..ó au,toma,t-i..c.ame.n,te. de.6-i..n-i..do.ó, c.omo
que.JL-i..a Campo.ó, ne.m de. e..ó,tabe.le.c.e.JL d-i..JLe.,tJL-i..ze..ó
-i..de.olõgic.a.ó paJLa uma e.duc.ação a .óe.JLv-i..ço do
E.ó,tado, c.omo que.JL-i..a Capane.ma".138

Pela primeira vez aparecia numa Constituição a


expressa0 "diretrizes e bases" da educação nacional. A Cons
tituição de 1934 falava em diretrizes da educação nacio-
nal; a de 1937, em bases da educação nacional e em diretri
zes a que deveria obedecer a formação física, intelectual
e moral da infância e da juventude. Capanema, deputado co~

tituinte, foi o responsável pela união dos termos "diretri


zes" e "bases" ao propor a emenda que deveria substituir,
no ante-projeto da Constituição, os incisos XV e XVI do
Art. 59 que atribuía à União, competência privativa para le
gislar sobre diretrizes da educação e sobre ensino secundá
rio e superior. Capanema justificou a emenda declarando
que "a educação é problema iminentemente nacional, em to-
dos os seus aspectos" e "a União não pode, pois ser excluí
da do poder de sobre ela legislar neste ou naquele ponto;
a competência legislativa federal neste assunto deve ser
geral".l3'
A proposta do deputado Capanema, refletindo a po~
201

tura autoritária e centralizadora do ex-ministro, foi rela

tivamente esvaziada no texto constitucional que ao garan-

tir a competência federal para legislar sobre diretrizes e

bases da educação nacional não excluía a legislação esta-


dual supletiva ou complementar (Art. 6 9 ).140

O planejamento educacional que so principiou a

se esboçar no governo de Juscelino Kubitschek, ( ... ) é uma

forma, entre outras, de intervenção do Estado em Educação,

com vistas à implantação de uma determinada política educ~

cional, estabelecida com a finalidade de levar o sistema

educacional a cumprir as funções que lhe sao atribuídas, en


quanto instrumento deste mesmo Estado".141

A proposta de educação democrática da ABE refle-

te a concepção de democracia própria do liberalismo. Assi~

como educação democrática entendia-se aquela que, fundada

no princípio da liberdade, garantia a igualdade de oportu-

nidades e exigia uma organização social em que a distribui

çao do poder econômico não estabelecesse nem antagonismos,

nem privilégios.1 42 Como se vê, não existia a idéia de lu-

ta de classes.

A Carta Brasileira de Educação Democrática, doc~


mento resultante do IX Congresso promovido pela ABE, mere-

ceu de Alceu Amoroso Lima minuciosa crítica no que lhe pa-


receu pseudo ou, até mesmo, anti-democrático, mesmo tendo
classificado o documento de notável com muita coisa a lou-

var. "Infelizmente" Idizia Alceu I a filosofia social em

que assentam os princípios desta Carta parece inclinar-se

mais no sentido de subordinação da Pessoa Humana à Socieda


202

dade, do que desta àquela. 143 A recomendação do documen-


to de "evitar que influências dogmáticas deturpem o cara-
ter democrático da escola e atentem contra a expansao da
personalidade do educando"144, o pensador católico opunha:
"Se for entendido (o termo dogmáticas) como sendo a exclu-
sao do ensino religioso das escolas, então temos que pro-
testar", mas, "se o termo 'dogmáticas' for entendido como
imposições opressivas de qualquer espécie - quer científi-
cas, quer políticas, quer professorais ou de outro qual-
quer gênero - de pleno acordo".145 Finalizava dizendo que
a democracia sempre correu o perigo de que a Declaração
dos Direitos fosse substituída pela Ditadura da Maioria. 146

Antes mesmo de começarem os trabalhos que resul-


tariam na LDB (1961), "degladiar-se-iam", mais uma vez, as
duas vertentes da ideologia liberal em educação: a dos edu
cadores ligadas à ABE e a dos educadores católicos.

o êxito do modelo de neocristandade até então a-


dotado pela Igreja, dependia basicamente da capacidade em
combater a secularização, em influenciar a sociedade atra-
vés do Estado e em manter um monopólio religioso. Tomando-
se como referência o período pós-lI Guerra, verifica-se que
mudanças relativamente rápidas ocorriam na sociedade brasi
1eira; à Igreja nao convinha opôr resistência a essas trans
formações, que eram irreversíveis, sob pena de condenar
sua influência ao declínio. Por volta de 1945, o antimo -
dernismo era insustentável e à Igreja não interessava colo
car-se ao lado de setores da sociedade cuja importância de
crescia.
203

A expansao de outras religi6es, especialmente nas


cidades, tornou evidente o que já ocorria há algum tempo:
a Igreja não atingia efetivamente as massas populares. O d~

clinio do monop6lio religioso preocupava a hierarquia cat6-


lica e a criação do Secretariado Nacional para a Defesa da
Fé e da Moralidade, em 1953, foi urna das medidas tornadas p~

ra vigiar a marcha das falsas religi6es e condenar movimen-


tos e falsas idéias, e garantir a supremacia cat6lica junto
ã sociedade.

Apesar de professarem urna preocupaçao com a reli-


giosidade popular, os lideres da neocristandade poucos fa-
ziam para modificar as práticas pastorais entre os setores
populares. A ignorância religiosa, que D. Leme almejara
corrigir, persistia.

A ~liança com o Estado, que permitira a Igreja


manter a condição de instituição religiosa privilegiada e o
dominio do sistema educacional durante o Estado Novo, agora
era mais incerta. Por isso, continuando sua estratégia tra
dicional de aliar-se, no que fosse possivel, ao Estado, a
Igreja teve que se reformular em alguns aspectos para poder
acompanhar as mudanças que ocorriam na politica nacional.

Para urna instituição que pretendia representar t~

das as camadas sociais, era dificil mostrar-se tão autoritá


ria diante de urna sociedade que se tornava cada vez mais he
terogênea. Vale acrescentar que a Igreja, em que pese sua
maior ou menor ligação com o aparelho do Estado, pelo menos
a totalidade de sua hierarquia nunca esteve desligada das
classes dominantes. Acrescente-se que os movimentos popu-
204

lares evoluiam para uma presença cada vez mais organizada


na política nacional. Essas classes populares que, em úl-
tima anilise, lutavam pela cidadania, inclinavam-se a re-
jeitar o paternalismo e o autoritarismo, inclusive na reli
gião. Dentre esses movimentos destacava-se o campones dos
anos 50 que, ao defender a reforma agriria, solapava a vi-
são católica tradicional quanto ao direito cristão à pro -
priedade privada. Além de ameaçar a Igreja tradicional ao
politizar antigos problemas sociais, os movimentos popula-
res contribuiram para que o clero mais progressista se co~

cientizasse das injustiças sociais e da necessidade da


Igreja de dar-lhes atenção.

Não por acaso, as priticas pastorais mais pro-


gressistas da Igreja passaram a envolver camponeses e estu
dantes, estes, também, bastante politizados. A sensibilida
de da Igreja, mesmo que relativa, quanto aos problemas so-
ciais era coerente com a ideologia populista da época que
supunha uma aliança com as classes politicamente dominan-
~

tes da epoca sem deixar de lado o acompanhamento das mudan


ças em curso.

A história da JUC e da JEC, de certa forma, re-


flete as transformações da própria Igreja nesse período.

De ter como principal atividade, em 1939, a pro-


moçao da Piscoa do Universitirio, a JUC começou a evoluir
quando, na Semana Nacional, realizada em são Paulo, de 20
a 25 de fevereiro de 1947, se propos a avaliação e a elabo
ração de um programa anual cujo teor seria a
"d.ign.idade. humana, a lLev.i~ã.o da~ a.t.iv.idade~
205

do ano ante4io4 e a o4dem ~oeial e4i~tã. E4a


o inZeio, ainda muito ineipiente, da p4eoeu-
pação eom a p40blemãtiea ~oeial b4a~ilei4a
que i4ia domina4 o movimento. E4a, também,
um p4inelpio de e~t4utu4ação. A ~emana 60i
enee44ada eom uma p4oelamação do~ unive4~itã
4io4 e4i~tão~, que de6inia o~ 4uei~ta~ eomo
uma elite a ~e4viço da ma~~a». 47

Essa concepçao de elite, "bem longe das reso1u-

çoes de integração e compromisso com a luta popular que

dez anos mais tarde seriam tomadas pelos jovens universit!

rios,,148, era compatível com a fase do popu1ismo cujo obj~

tivo era mudar a órbita do poder pela mobilização.

Em 1948, na Semana Nacional de Ação Católica, o

setor masculino da JUC, indicando sinais de mudança, apre-

sentou um estudo sobre a vida universitária e o método de

análise Ver - Julgar - Agir. "Mis foi a partir de 1950 que

tanto a JUC como a JEC ( ... ) iniciaram a busca de matura-

çao que iriam atingir definitivamente no período de 1956 a


1962".149

Até 1955 o movimento jucista era "um movimento

em caracol, limitado ã universidade, que não tinha ainda

instrumentos intelectuais suficientes para refletir sobre


uma situação mais amp1a".150 A partir das reuniões de Por-

to Alegre (1956) e de Recife (1957), a JUC saiu da univer-

sidade e passou para o campo da realidade social brasi1ei-

ra visando sua transformação.

"Finalmente, numa te4eei4a 6a~e, que. poueo


dU40U, poi~ 60i e04tada pelo golpe. milita4,
eon~e.guiu o movimento unive44itã4io 4ua ~;~­
te4 e 6iMl, ou Aeja., ..in6eJÚJt a urrivVt.6idgde no eon-:....
te.xto nae~onal, com toda a p4oblema.tiea ~o­
eia.l 4e.lacionada di4etamente eom a.4 p4eocupa
ç~e.~ p406i4~ionai4>>. 151 -
206

o depoimento de Herbert José de Souza, em que pe-

se o fato de ser autobiográfico, dá uma idéia do que foi a

JEC na década de 50.

"E~~a juventude e~tudantil cat5lica combina-


va e~emento~ ~emp4e em alta inten~idade. De
um lado uma ade~ão ext4emamente 604te ao e-
vangelho, que4 dize4, o evangelho e4a a bZ-
blia me~mo da juventude: p4eci~ava e~tuda4 o
evangelho, o que contava e4a o C4i~to, não
e4a o Papa. ( ... ) O out4o dado e4a o engaja-
mento no ~ocial e no polZtico. E~~e me~mo
~entido de ab~oluto que ~e tinha em 4elação
ã Ig4eja e ã militância na Ação Cat5lica 60i
t4an~6e4ido pa4a a ~ociedade. ( ... ) O que ~e
que4ia e4a c4ia4 uma out4a ~ociedade. O 4e-
604mi~mo e4a inadmi~~Zvel".152

A fé religiosa e, também, política deu aos jovens

da JEC que passaram a integrar a JUC e desta saíram para

fundar a Ação Popular, a idéia de que seriam capazes de mu-


dar o país.

Em 1946 o processo de industrialização do país

prosseguia e Dutra fora eleito como candidato do PSD, apoi~

do por políticos defensores dos grupos econômicos ligados

ao setor agrário tradicional. Pretendendo fazer um Ministé

rio de conciliação, Dutra nomeou Clemente Mariani, da UDN,

para o cargo de Ministro da Educação. Acrescente-se que o

populismo, ao mobilizar as massas, desenvolvia lideranças

que podiam escapar ao seu controle; a democracia poderia tor

nar essas lideranças relativamente autonôm~s na medida em


que percebessem alternativas diferentes das que eram expli-

citamente oferecidas no populismo.

A ambigüidade política que caracterizou a redemo-


cratização do país, preocupava a Igreja porque, diante da
força que o povo pudesse adquirir, talvez tivesse bastante
207

enfraquecido o seu papel de sacralizar a ordem estabelecida


e dar-lhe estabilidade.

Naqueles momentos de transição em que uma guerra


terminava e outra se iniciava (a Guerra Fria) e -
passavamos
da ditadura estadonovista para a democracia,

"doi~ ~entimento~ ea~aete~izavam a eon~ei~n­


eia mode~na: a de~itução e a e~pe~ança. Ne~­
~a ene~uz~thada hi~tõ~iea ~e ap4e~entavam
quat~o eaminho~: o tibe~at, o ~oeiati~ta, o
nae~onat-totatitã4io e o e~i~tão. O qua~to
eaminho ê o da Ig~eja (que) eaminha ~emp~e
equidi~tante do~ e~~o~ eont~ã4io~ que ~e opõem
mutuamente (el ~ua atitude ( ... ) ê ante~ de
tudo a independ~neia e a vigitineia".153

Foi para garantir essa independência e o direito


de vigilância, que o grupo católico, através da AEC, atuou
fortemente nos debates em torno da elaboração da LDB se con
trapondo aos educadores cujo pensamento estava expresso na
Carta Brasileira de Educação Democrática.

Essa Carta, que representou uma tentativa de des-


centralização, merece algumas observações. Ao "dar maior
relevo possível ao ensino da ciência", fazia-o na medida em
que a generalização de um conjunto de conhecimentos possib!
litaria a cooperação internacional; havia um forte investi-
mento americano no país e era importante que a ciência nao
tivesse pátria - a organização de um sistema de educação que
conduzisse à cooperação internacional e à fraternidade uni-
versal representava a preocupação do mundo aliado de então.
Outro aspecto que chama à atenção: o planejamento das ativi
dades educacionais deveria ser objetivamente traçado de acor
~

do com as necessidades e as possibilidades do pals.

Tiveram, ainda, os autores da Carta a preocupaçao


208

em nao passar qualquer idéia de fascismo (item 3 - Formação

democrática do professor); em recomendar "a conveniência da

organização de missões culturais destinadas ao aperfeiçoa-

mento de professores rurais", ou seja, organizar grupos de

profissionais que iriam para o interior; em pregar a educa-

ção gratuita em todos os graus de ensino, devendo o Poder

Público, para que o ensino particular tivesse um preço mais

accessível, isentar as instituições particulares de ensino

de impostos.

A 29 de abril de 1947, Clemente Mariani instalou

a Comissão que iria elaborar o projeto de Diretrizes e Ba-

ses da Educação Nacional. Para os trabalhos preliminares

essa comissão, presidida por Lourenço Filho, se dividiu em

três subcomissões: a do Ensino Primário (Almeida Jr., Car-

neiro Leão, Teixeira de Freitas e Celso Kelly), a do Ensino

Médio (os católicos Alceu de Amoroso Lima e Maria Junqueira

Schmidt; mais Faria Góis, Artur Filho e Agrícola Bethelem);

e do Ensino Superior (Padre Leonel Franca, Pedro Calmon, Ce

sário de Andrade, Mário Brito e Levy Carneiro).

Embora, em termos de relação de forças, os educa-

dores ligados à ABE fossem mais numerosos, a Igreja contava

com a AEC que iria "desenvolver uma atuação terrivelmente

belicosa - de defesa e ataque - nos meios educacionais, tan


to técnicos como administrativos e po1íticos".154

Em 29 de outubro de 1948, foram encaminhados à câ

mara Federal, o projeto de LDB da Comissão Ministerial e o


do próprio Ministro. Acompanhava-os a exposição de motivos
de Mariani.
209

Urna concepçao liberal ainda muito forte marcava


esse anteprojeto de LDB. Se no Manifesto dos Pioneiros de
1932, o plano de reconstrução educacional era "antes de tu-

do um plano de organização e de administração do sistema


educacional, a partir de alguns princípios pedagógicos-admi
nistrativos".155, a concepção de plano da educação contida
no Anteprojeto de 1948, "não traduzia ( ... ) a idéia de um
planejamento integral da Educação dentro de um processo de
planejamento global do país".156

Na exposição de motivos, a possibilidade de subir


na "escala educacional" correspondia a ascensão social. A
"redistribuição da juventude, sem entraves, pelas ocupações
úteis", conferia à educação a propriedade de reproduzir a
mão-de-obra e distribuí-la na escala ocupacional". Tratava
dos diferentes níveis de ensino e discutia a questão da au-
tonomia uníversitária segundo dois elementos essenciais:
um, as raias que limitavam a ação; outro, o poder de agir
livremente dentro dessas raias.

A exposição de motivos cuidava do que seria urna


educação nacional: a unidade do aparelho escolar seria asse
gurada pelos objetivos comuns atribuídos à educação nacio-
nal; pela identidade de mínimos morfológicos, funcionais e
de conteúdo, impostos aos sistemas locais; pela função uni-
ficadora do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de
Educação e da Conferência Nacional de Educação.

O ensino médio deixou de ser constituído por sis-


temas estanques "mantendo os dois sistemas, cultural e uti-
litário, mas permitindo a transferência entre eles e facili
210

tando a sua interpenetração". No currículo do ensino secun

dário, o humanismo foi pensado de maneira bastante pragmátl

ca. Saía o latim e o estudo das línguas era praticamente

justificado: o inglês, para facilitar o contato com as civi

lizações dominantes e o francês, para manter a continuidade

de nossos laços espirituais com o mundo greco-latino. O es

tudo das ciências - físicas, naturais e sociais - era colo-

cado em plano equilibrado com o das disciplinas literárias.

A educação artística e a educação cívica receberiam cuida-

dos apropriados.

Ao contrário da Comissão, Clemente Mariani, citaQ

do Alberto Torres, era cauteloso em relação à descentraliza

çao porque

"0 plLob.tema da cen.tILa..t.i.zação e da de.6cen.tlLa-


liza.ção não ~ ma.i.6 de a.n.tagoni.6mo, .6enão an-
.te.6, de halLmonia, de pene.tlLação e de equilZ-
blLio en.tlLe a. 6unção pa.lL.ticulalL de cada õlLgão
e a.6 6unç5e.6 gelLai.6 de na.ciona.lida.de".157
Segundo Danilo Lima, as precauçoes do Ministro deviam-se

ao fato de que

"POIL oi.to ano.6 de di.ta.dulLa, a. educação .tinha.


.6~do cen.tlLal~za.da. no M~n~.6.têlL~o e .6elL~a u.tõ-
p~co de.6cen.tlLal~zâ-la. lLepen.t~na.men.te, de~xa.n
do o M~n~.6.têlL~O como execu.tolL de um Con.6elho
FedelLal elL~gido em õlLgão c.en.tlLa.t, e expec.ta-
dOIL da.6 dec.~.6 5 e.6 do.6 E.6 .tado.6 e Mu~c.Zpio.6". 15 e

A Igreja estivera, desde o início, presente na e-


laboração do projeto de LDB e nesse primeiro momento deli-

nearam-se duas posições: os que defendiam a centralização,

como Capanema; e os que lutavam pela descentralização, isto

é, os liberais da educação nova aos quais se juntaram, ten-


do a AEC à frente, os conservadores da escola privada que
211

viam no Estado um órgão supletivo das atividades particula-

res. A controvérsia centralização x descentralização con-

tribuiu para que o projeto fosse arquivado até 1951, quando

passou a ser discutido internamente na Câmara (até 1956).

Quando o projeto voltou à ordem do dia, a grande discussão

passou a ser ensino público x ensino particular.

A Igreja que se havia aproximado dos educadores

da ABE no combate à centralização, colocava-se, agora, no

terreno oposto lutando pelos direitos da escola particular

nos seguintes termos: a escola particular era escolhida e a

escola oficial, imposta. A escola oficial era imposta por-

que, sendo gratuita, atraía aqueles que nao podiam pagar

as altas mensalidades cobradas pelas escolas particulares.

Assim, para que a escola particular pudesse ser a opção de

uma livre escolha, accessível a todos, eram necessárias ver

bas públicas que garantissem a manutenção da iniciativa pri

vada a custos mais baixos. Fez-se, em termos, uma falsa di

cotomia: a educação particular era, além de humanística e

de boa qualidade; a educação pública era pragmática e de ma

qualidade.

Anísio Teixeira que, ao defender a escola pública,

sofreu os ataques da AEC dizia que, além dos colégios parti

culares sem condições de atender à classe abastada, os col~

gios mantidos pela Igreja tinham seus interesses protegidos


com que chamou de "estranha versão de 'liberdade de ensi-

no'''. 15' Os colégios confessionais

"~a.6.6alÚam em uma .6oc..<.edade pobJLe, a .6elL c.o-


l'ég.<.o.6 .6 omen.te da.6 c.la.6.6 e.6 JL.<.c.a.6. Como a IgJLe
ja em 6a.6e de lLenovação e expan.6ão de.6ejava
212

~e~vi~ a toda a 4o~iedade, o ~i4temade 'Qon-


Qe44ão pública' do en4ino muito lhe Qonvi-
nha" . 1 l; o

A questão do ensino público e do ensino particu-


lar mobilizou enormemente a sociedade a ponto de se desenca
dear uma campanha em defesa da escola pública.

Para a Igreja era importante, repito, manter sua


proeminência moral e seu poder político que dependia da ma-
nutenção do espírito religioso do povo, isto é, dos votan-
tes. Assim, para atender à demanda crescente por escolari-
zaçao, a Igreja precisava aumentar a sua rede de escolas,
não só para a formação de elites mas para todos. Isto expll
cava a busca aos recursos públicos, através de subvenções e
auxílios, para que as escolas católicas fossem franqueadas
161
às classes inferiores da sociedade.

A AEC conseguiu, através da influência do Dr. Car


los Pasquale junto ao Ministério da Educação, que o Congre~

so aprovasse a Lei n 9 2.342, de 29 de novembro de 1954, que


instituía o Fundo Nacional do Ensino Médio que deveria reg~

larizar e estipular o acúmulo das subvenções do -


governo as
escolas particulares secundárias. Assim, através de bolsas
concedidas aos estudantes e, em alguns casos, às instituições,
as escolas podiam ser indiretamente mantidas pelo Estado.

Segundo;Padre Alonso, na época presidente da AEC,


o Estado

"deveJr.ia 4ent1..Jr.-4e 4u.b41..d1..â.Jr.io de toda4 a4


e4cola4 da 'nação', não pelo4 tZtU.104 de pJr.O
pJr.1..edade ou de dependênc.1..a admin1..4tJr.aüva
que apJr.e4entem e44a4 1..n4t1..tuiçõe4, ma4 pelo4
n1..lho4 do povo, ou. 4ua4 6amZlia4, que l1..v~e­
mente a4 e4colheJr.em e qu.e não têm d1..Jr.e1..to4
213

meno~e~ a~ p~ovidência~ do gove~no, que o~


a.e.uno~ do~ cen.t~o~ e~.ta.tai~", 1 6 2

Embora não houvesse aberta e declaradamente a de-

fesa da escola particular católica, foram seus mentores que,

graças à sua influência, acabaram definindo a estratégia e

o conteúdo das reivindicações da iniciativa privada.

o que animava os educadores católicos, e os forta

lecia, não era o simples interesse pela manutenção e ampli~

ção de um "mercado", O ensino era uma espécie de trinchei-

ra onde combatiam, como cru~ados, por uma visão de mundo, da

natureza humana e do destino do homem. O ideal era que es-


se "combate" se estendesse aos não-católicos no sentido de

trazê-los ao abrigo seguro da fé e da moral cristã.

A escola confessional católica precisava manter


um território historicamente conquistado. Note-se que, ao

iniciarem-se os debates em torno da LDB as escolas mantidas

pela Igreja não atendiam apenas às famílias da burguesia


agro-exportadora, mas também à burguesia industrial e -
as
classes médias urbanas de onde saíam, inclusive os "jecis-

tas" e os "jucistas". Na realidade, existia a necessidade

de garantir o próprio espaço político numa sociedade que se

modernizava.

A sociedade brasileira caminhava para uma polari-

zaçao: de um lado os setores populares relativamente repre-

sentados pelo Estado e por um grupo de intelectuais de elas

se média; e de outro, um conjunto heterogêneo que abrangia

grandes parcelas da classe média, da burguesia, do capital

estrangeiro monopolista e das oligarquias tradicionais. A


214

pol Í t ica educacional refletia a ambivalência dos grupos no poder.

Como resultado,
"elaudieou a LVB (1961) ao t~aduzi~ exatamen
te e~~a eompo~ição ent~e o E~tado lide~ante~
eom pode~ de 6o~mula~ a polZtiea naeional de
edueação e de en6eixã-la num plano a que ~e
~ubo~dina~ão o~ ~eeu~~o~ públieo~, e um ~i~­
tema global de6inido, no p~eâmbulo da lei,
eom p~evalêneia, o~a do e~6o~ço públieo, o~a
do e~6o~ço p~ivado. -E a eont~adição ent~e
uma polltiea de de~envolvimento, quanto ao~
6in~ p~oelamado~, e uma 6ilo~o6ia libe~al im
plleita, quanto ao~ meio~ de ~ealizã-la.PoiJ
a ideologia do~ inte~e~~e~ dive~gente~, de~­
de que 6iquem e~te~ ent~egue~ ao ~eu 'e~pon­
tâneo' dinami~mo".163

4. O significado da escola como instituição social

Em síntese, para entender o significado da escola,


como instituição social inserida no contexto, julgo impor -
tante considerar alguns dados que serão examinados a seguir.

Em torno do projeto Capanema, de caráter bastante


ideológico e elitista, a escolarização, de um modo geral,
principiou um processo de expansão que se intensificaria ã
medida que a industrialização do país e a urbanização evo-
luíam e, em conseqüência, crescia a demanda social por edu-
caça0.

No período de 1935 a 1955, os investimentos do G~

verno Federal na área de educação tiveram um aumento tímido


maS- crescente como demonstra. em termos percentuais a tabe
la a seguir.
215

TABELA I - Despesas realizadas pela União

MINISTÉRIOS 1935 1945 1955

Aeronáutica 6.3 7.1


Guerra 18.1 16.4 13.1
Marinha 6~8 6.3 7.9
Agricultura 2.4 3.0 5.0
Educação / Saúde 5.0 5.6 9.8
Fazenda 4.0 35.3 22.7
Justiça Negócios Interiores 4.6 4.8 4.3
Relações Exteriores 2.1 1.1 0.6
Trabalho Insdústria e Comércio 0.6 5.8 2. 7
Viação e Obras Públicas 20.0 14.2 22.3

FONTE: Instituto Nacional de Estatística, Anuã~io E~tatZ~


tito do B~a~il, Ano VII, 1946, p. 461; ano XVII:
1956, p. 411.
OBSERVAÇÃO: o Ministério de Educação e Cultura (MEC) só
recebeu a a tua! denominação quando pela lei n 9 1. 920,
de 23 de julho de 1953, foi criado o Ministério da
Saúde.

No mesmo período, os investimentos estaduais em


educação decresceram enquanto na área municipal houve um
crescimento relativo (Tabela 11, cálculo percentual).
TABELA 11: Depesas realizadas pelos Estados e fixadas pelos Municípios

ÁREAS ESTADO MUNIC!PIO I

1935 1945 1955 1935 1945 1955 I

Administ. Ger. 9.9 (5~) 14.0 (2~) - 12.8 (2~) 13.1 (2~)
Exação e Fix. Financeira a
3.7 (10.) 4.4 (9~) - 6.4 (6~) 5.4 (7~)
Sego Pública 14.3 (3~) 9.6 (6~) 8.1 (7~) - 2.9 (9~) 3.1 (9~)
Educação PÚblica 15.0 (2~) 11.4 (4~) 13.7 (3~) - 9.5 (5'!) 11.4 t3~1)
Saúde 4.6 (4~) 7.1 (8~) 7.7 (8~) - 3.5 (8~) 4.8 (8~)
Fomento 6.0 (9~) a
4.2 (10.) - a
0.6 (10.) a
0.7 (10.)
Serviços Industriais 16.7 (l~) 10.3 (5~) - 6.0 (7~) 6.2 (6~)
Div. PÚblica 11.9 (3~) 11.8 (4~) - 11.0 (3~) 6.9 (5~)
Servo Utilidade PÚblica 14.6 (2~) 10.9 (6~) - 37.5 (1~) 38.1 (1~)
Encargos Diversos 8.7 (7~) 14.5 (1~) - 10.0 (4~) 10.0 (4~)
-

FONTE: Instituto Nacional de Estatística, Anuã4io de E~tatl~tiea do B4a~il, ano VII, 1946,
pp. 465 e 471; ano XVII, 1956, pp. 418 e 451.
OBSERVAÇÃO: A classificação de 1935, quanto ao estado, não coincide no seu todo possibili-
tando, apenas a comparação das três áreas assinaladas~ quanto ao município,
não existe a distribuição por área.

N
~
Q\
217

Apesar do aumento de verbas para a educação, por


parte da União e dos municípios não se pode afirmar que t~

nha havido, por parte dos poderes públicos, urna preocupa-


çao prioritária em criar condições financeiras para desen-
volver um projeto de organização da educação pública nacio
nal.

Destoando do discurso oficial, -o Estado perman~

ceu reticente e essa lacuna foi preenchida pelas institui-


ções particulares de ensino, o que significou um atendimen
to seletivo da e6et~va demanda social por educação (não se
tratava, apenas, da demanda resultante do crescimento demo
gráfico, principalmente, urbano). As escolas. católicas que
majoritariamente se ocupavam do ensino secundário, benefi-
ciaram-se do vazio deixado pelo Estado. Acrescente-se, ai~

da, que um número expressivo de estados brasileiros não po~

suÍam recursos suficientes para desenvolver seus respecti-


vos sistemas de ensino.

A Tabela rrr mostra, em primeiro lugar, que o nu


mero crescente de matrículas no ensino secundário, no pe-
ríodo de 1940 a 1955, fortemente concentrado nas institui-
ções particulares, em certa medida, correspondeu ã demanda
escolar e, em segundo lugar, o quanto o sistema público era
reticente quanto a este grau de ensino.
218

TABELA 111: Matrícula no ensino secundário público


e particular

ENSINO POBLICO ENSINO PARTICULAR


ANOS TOTAL
NOMEROS C! DO NOMEROS
o % DO
ABSOLUTOS TOTAL ABSOLUTOS TOTAL

1940 160.164 42.771 26,7 117.393 73,3


1945 239.852 55.320 23,1 184.532 76,9
1950 374.221 160.390 28,4 267.831 71,6
1955 579.781 188.602 32,S 391.179 67,S

FONTE: Serviço de Estatística da Educação e Cultura.

OBSERVAÇÃO: a tabela foi extraída de um quadro maior que


abrangia o período de 1940 a 1965.

A tabela acima permite, ainda, observar que a

partir de 1950 as matrículas no setor público aumentaram e

que o percentual de matrícula pelo ensino particular (em

1945) comparativamente com o ensino público coincidiu com

a vigência da Reforma Capanema.

O aumento contínuo do número de matrículas nas

instituições públicas de ensino pode ser explicada por al-

guns fatores como as altas anuidades cobradas pelas insti-

tuições particulares e a mobilização social em torno das

questões levantadas pelo projeto de LDB. Como decorrência,

o percentual de matrículas nos estabelecimentos particula-

res em relação aos estabel~cimentos públicos decresceu gr~


dativamente até que, em 1965, passou a ser de 48,7% num to

tal de 1.553.699.

A iniciativa particular nao era um todo homogê-

neo. Havia as instituições leigas e as de caráter re1igi~

so. Geraldo Bastos Silva, estudioso da educação secundá-


219

ria no país, diz só ter informações discriminadas referen-


tes a 1959 quando, segundo dados fornecidos pela Diretoria
do Ensino Secundário, do total de 1950 estabelecimentos
particulares, 936 (48,0\) eram mantidos por entidades reI!
giosas, 768 (39,4t) eram propriedades.de pessoas físicas ou
sociedades por cotas ou por ações e 246 (12,6\) eram de ini
ciativa de entidades leigas sem finalidade lucrativa. 164 A
falta de dados estatísticos, creio, não impede que se pos-
sa afirmar a existência da supremacia numérica das escolas
católicas sobre as demais escolas particulares, em anos an
teriores.

Em 1950, os outros ramos do ensino médio enqua-


dravam-se, com pequenas variações regionais, na seguinte
sistemática: ensino normal, estadual ou particular; ensino
industrial e ensino agrícola, predominantemente federais e
165
ensino comercial, predominantemente particular. A estas
observações feitas por Roberto Moreira, acrescento que a
predominância da esfera federal nos ensinos industrial e
agrícola se devia, basicamente, aos altos custos de suas
instalações e manutenção.

A concentração da população nas áreas urbanas de


veria fazer com que o governo desse mais atenção ao ensino
primário, pois para viver (ou sobreviver) na cidade era ne
cessário, no mínimo, o saber ler e escrever que, quanto mais
não fosse, propiciava melhores condições para o ingresso
no mercado de trabalho. A expansão da rede escolar públi-
ca de ensino primário, que se deu sobretudo nos centros ur
banos, no entanto, foi insuficiente para atingir a popula-
220

çao de 7 a 12 anos de idade e, segundo ~Iaria José Werebe,

ainda em 1959, quase 50% das crianças ficavam fora da esco


166
la.

Acrescente-se, ainda, que o problema da evasao

escolar, que parece ser crônico entre nós, já se verifica-

va em 1935, como se pode observar pela Tabela IV que mos-

tra que um percentual mínimo concluia o curso primário:

13,0%, em 1935; 16,4%, em 1945 e 20,9%, em 1955. Além das

diferentes causas desta evasão (necessidade de contribuir

desde cedo para o orçamento doméstico, repetência, etc.),

havia o fato de as escolas da rede particular atrairem a-

quela parcela de alunos que podia pagar as anuidades esco-

lares, mantendo uma 5~ série, ou Curso de Admissão, que pr~

parava (este era o obj etivo declarado) para o exame de aces

50 ao ensino médio da rede p~blica.

TABELA IV: Ensino Primário Público

l\'IATRICULA 1 935 1 945 1 955

Geral 2.413.594 3.238.940 4.545.630


Efetiva 2.045.551 2.741.725 -
1 9 ano 1.389.771 1.758.465 2.424.690
4 9 ano 143.085 287.852 399.632

FONTE: Instituto Nacional de Estatística. Anuã~io E~tatZ~


~ico B~a~ilei~o, Ano V, 1939/40, p. 921 a 1080;
Ano VI, 1941/45, p. 443; Ano X, 1949, p. 489; Ano
XII, 1951, p. 409; Ano XVI, 1955, p. 444 a 446;
Ano XXI, 1960, p. 290.
OBSERVAÇÃO: não há o n 9 de matrículas efetivas em 1955.

Há que se acrescentar, ainda, que havia uma dif~

rença entre a matrícula geral - que correspondia à popu1a-


221

çao em idade escolar - e o numero dos efetivamente matricu


lados e uma diferença bem maior, de aproximadamente 50%, en
tre estes e o número dos que freqüentavam a escola na l~

série. Provavelmente, isso se explica pela obrigatorieda-


de constitucional que os pais tinham de matricular os fi-
lhos e comprová-lo nos locais de trabalho. (Constituição
de 34, Art. 150; Constituição de 37, Art. 130 e Constitui-
ção de 46, Art. 168).

TABELA V: Situação do ensino superior

ESPECIFICAÇÃO 1935 1945 1955

Unidades escolares 248 325 845


Pessoal docente 3.898 5.172 14.601
Matrícula geral 27.501 26.757 73.575
Matrícula efetiva 25.996 - 69.942

FONTE: Instituto Nacional de Estatística. Anuá-


~~o E~zazZ~z~co do B~a~~l, ano ~ 1939/40,
p. 921 a 1080; ano X, 1949, p. 481 a 486;
ano XX, 1959, p. 355 a 357.

A Tabela V permite observar que durante a primei


ra fase da Era Vargas (1930-1945), a atenção dedicada ao
ensino superior era menor que aquela voltada para o ensino
secundário. Isso se explica pelo fato do número de estabe
lecimentos de ensino superior ser em número suficiente pa-
ra atender à parcela da classe média que a ele tinha aces-
so por ter disponibilidade financeira ou "vocação" para cu.!.
sar o ensino secundário.

Em 1955, o número de estabelecimentos de ensino


superior era quase três vezes maior que em 1945 porque, se
222

gundo Aída Bezerra, houve maior demanda da classe média

- que agora era bem maior em termos demográficos e buscava

cada vez mais o ensino secundário público - por carreiras

universitárias, principalmente aquelas mais ligadas às ci-

ências sociais. Em conseqüência, a análise das situações

sociais ganhou um novo instrumento que, num clima de liber

dades democráticas, a uma "outra forma de presença social.

A dinâmica do momento levaria as organizações estudantis a

ultrapassarem, em termos de discurso e atuação, os limites

institucionais da universidade". 167

Em que pesem as críticas quanto à forma como se

deu a expansão escolar, o sistema educacional brasileiro

perdeu parte da estagnação que o caracterizara até 1930. A

consciência da necessidade de educação escolarizada despe~

tada em alguns setores da sociedade foi, em si mesma, um

avanço, mesmo levando-se em conta o largo fosso existente

entre as mudanças econômicas ocorridas no país e as mudan-

ças educacionais.
223

NOTAS DA PARTE 11

lForam utilizadas as seguintes fontes:


MENDONÇA, Sônia Regina de. E~~udo e economia no B~a­
~il: opçãe~ de de~envolvimen~o. Rio de Janeiro,
Graal, 1988 .
. FAUSTO, Boris. A ~evolução de 1930. São Paulo, Brasi-
liense, 1972 .
. IANNI, Octávio. E~~ado e planejamen~o econômico no B~a
~il. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1986.

2FRANCA , Leonel. En~ino ~eligio~o e en~ino leigo. Rio de


Janeiró, Schmidt Editor, 1931, Introdução.
3PORTELLI, Hugues. G~am~ci y el bloque hi4~O~ico. Méxi-
co, Siglo XXI, 1974, p. 18.
4Idem, p. 111.
sGRAMSCI, Antônio. O~ in~elec~uai~ e a o~ganização da cul
~u~a. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. -
Para ° trabalho foi utilizada a edição em espanhol da
Editora Nueva Visiôn, 1972, p. 14.
6LE FEBVRE, Henri. Re-p~odução da4 ~elaçãe~ de p~odução.
Porto, Escorpião, 1973, p. 59.
7 BRANDÃO ,Carlos Rodrigues. O que ê educação. São Paulo,
Brasiliense, 1988, p. 92.
8BOBBIO, Norberto. E4~ado, gove~no e 4ociedade. Rio de Ja
neiro, Paz e Terra, 1988, p. 83.
'MACCIOCHI, Maria Antonieta. A 6avo~ de G~am4ci. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1980, pp. 151 e 152.
lOFREIRE, Paulo. Conscientização e alfabetização: uma nova
visão do processo, in FÁVERO, Osmar (org.). Cul~u~a
popula~ e educação popula~. Memõ~ia d04 ano~ 60. Rio
de Janeiro, Graa1, 1983, pp. 100 a 102.
llRODRIGUES, Neidson. E4~ado, educação e d~en~olvim~n~o
econômico. São Paulo, Cortez, 1982, p. 113.
12POULANTZAS, Nicos. A4 cla~~e4 4ociai4 no capizali~mo ho
je. Rio de Janeiro, Zahar, 1978, p. 33.
13Idem, p. 14.
14SAES, Décio A.M. Class~ mÉdia eEolítica no Brasil: 1930-
1964, in HGC8-111, Vo1. 10, Sao Paulo, Difel, 1986,
pp. 464 e 465.
224

lSPERElRA, Luís. U~baniza~ão e indu~t~ializa~ão. Capo 111


de Trabalho e desenvolvimento no Brasil. são Paulo,
Difusão Européia do Livro, 1965.
I6WELFORT, Francisco. O populi4mo na polXtic~ b~a4ilei~a.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, p. 51.
I7COHN, Gabriel. Perspectiva da esquerda em pOlítica, in
IANNI, Octávio et alii. Revolu~ão 40cial no B~a~il.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965, p. 139.
18IANNI, Octávio. O processo político e desenvolvimento e-
con6mico, in PolXtica e ~evolu~ão ~ocial no 8~a4il,
p. 25.
19MORElRA, Roberto. Educa~ão e de4envolvimento no 8~a~il.
Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências so-
ciais, Rio de Janeiro, 1960, p. 225.
2°DEWEY, John. Vemoc~acia e educa~ão. São Paulo, Nacional,
1957, p. 350.
2IA revolução educacional no Brasil. Ao povo e ao governo.
Mani6uto do~ Piuniúw4 da Educ.a~ão Nova. São Paulo, Na-
cional, 1932, p. 38.
22 Idem, p. 42.
23Ibidem, p. 55.
21+LlMA, Danilo. Educa~ão, ig~eja e ideologia. Rio de Ja-
neiro, Francisco Alves, 1978, pp. 40 e 41.
2sCURY, Jamil Carlos R. Ideologia e educ.a~ão b~a4ilei~a:
c.atõl~c.o4 e libe~a~4. são Paulo, Cortez, 1988, nota
p. 71.
26Mani6e~to d04 Pione~~o4, op. cit., p. 64.
27CARVALHO, Marta Maria C. de. O nacional e o regional
nos debates educacionais promovidos pela ABE nos anos
20. Cade~no ANPEd, n 9 2, 1989, p. 23.
28LlMA, Alceu Amoroso. Vebate4 pedagõgico~. Rio de Janei-
ro, Schmidt, 1931, p. VIII.
29PAIVA, Vanilda Pereira. Educa~ão popula~ e educação de
adulto4: contribuição à história da educação brasilei
ra. São Paulo, Loyo1a, 1973, p. 42. -
30LI~~, Alceu Amoroso. PolZtic.a. Rio de Janeiro, Editor Ge
túlio Costa, 1939, p. 34.
S 1 Idem, p. 37.
32LlMA, Alceu Amoroso. Família e estado. "A O~dem", novem
bro de 1940, p. 28.
225

33SCHWARTZMAN, Simon et alli. Tempo~ de Capanema, Rio de


Janeiro, Paz e Terra, 1984, pp. 120 a 122.
3~LlMA, Alceu Amoroso. polIt~ca, p. 162.
35CURY, Jamil. Op. cit., p. 57.
36LlMA, Alceu Amoroso. Vebate~ peda9õ9~co~, p. XII.
37 _ _ _ . Oração aos novos mestres. "A OJr.dem" , fevereiro
de 1942, p. 124.
38SANTOS, Theobaldo Miranda. O conceito de educação na pe-
dagogia moderna. "A OJr.dem" , fevereiro de 1942, p. 51.
3'LlMA, Alceu Amoroso. Vebate~ peda9õg~co~, p. XIX.
~oFRANCA, Pe. Leonel. Op. cit., p. 8.
~lCURY, Jamil. A igreja católica / educação: pressupostos
e evolução no Brasil, in PAIVA, Vanilda Corg.). Cato-
l~c~~mo, educaçio e c~inc~a. São Paulo, Loyola, 1991,
p. 102.
~2HORTA, José Silvério Baía. As diferentes concepções de
diretrizes e bases e a questão do nacional na histó-
ria da educação brasileira. CadeJr.no~ ANPEV n 9 2, 1989,
pp. 5 e 6.
~3FREITAG, Birbara. E~cola, e~tado e ~oc~edade. São Paulo,
Moraes, 1986, pp. 51 e 52.
4~PanoJr.ama
da Educaçio Nac~onal. Rio de Janeiro, MES, 1937,
pp. 21 e 23.
~5CAMPOS, Francisco. O estado nacional, in MEDEIROS, Jar-
base rdeolog~a autoJr.~tãJr.~a no BJr.~~l 1930/1945, Rio
de Janeiro, FGV, 1978, p. 27.
46AMARAL, Azevedo. O estado autoritirio e a realidade na-
cional, in MEDEIROS, Jarbas. Op. cit., p. 126.
~7Carta de Francisco Campos ao Presidente Vargas. CPDOC/
FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 31.04.18/1, pp. 2 e 4.
~8"Algumas informações sobre nossa atualidade católica.
CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema GC 39.05.25-1, doc.
31, p. 3.
~'''Apresentaçãopor Capanema do inquérito para a elabora-
ção do Plano Nacional de Educação". CPDOC/FGV. Arqui
vo Gustavo Capanema, GC 34.05.l9g.
50"Em torno da constituição do Conselho Nacional de Educa-
ção". CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema GC 34.07.30g.
226

51Plano de Educação Nacional. CPDOC/FGV, Arquivo Gustavo


Capanema, GC 34.07.30 g. Pasta V.
52BECKER, L.V. O plano nacional de educação no Centro D.
Vital de São Paulo. "A O~dem", nov./dez. 1936, pp.3l6
e 317.
53Exposição de motivos para o projeto de decreto-lei que
criou a Comissão ~acional de Ensino Primário. CPDOC/
FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.00.00 - Ag.
54Decreto-lei n 9 868, de 18 de novembro de 1938. CPDOC/FG~
Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.00.00 g - 4.
55Ata da sessão de instalação da CNEP em 18 de abril de 1939.
CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.00.00 g-6.
56Primeira sessão ordinária da CNEP. CPDOC/FGV. Arquivo
Gustavo Capanema, GC 38.00.00 g - 12.
57Segunda sessão ordinária da CNEP. CPDOC/FGV. Arquivo Gus
tavo Capanema, GC 38.00.00 g - 13. -
5e"Da elaboração e utilização do livro didático". CPDOC/
FGV. Arquivo Gustavo Capanema GC 38/01/06 g.
5'"OS problemas educativos e a segurança nacional". CPDOC/
FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 34.05.19 g, p. 1.
6 o Idem, p. 3.
610LIVEN, Arabela Campos. A pa~oquializacão do en~ino ~upe
~io~. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1990, p. 6l~

62FÃVERO, Maria de Lourdes de A. Uni~e~~idade e pode~. Rio


de Janeiro, Achiamé, 1980, p. 9.
63Discurso de Anísio Teixeira, in Revi~.ta 8~a~ilei~a de E~
.tudo~ Pedagõgico~, V. 37, n 9 86, jan./mar. 1962, pp.
181 a 188.
64FÃVERO, ·Maria de Lourdes de A. Op. cit., pp. 81 e 82.
65Carta de Alceu Amoroso Lima a Capanema, in SCHWARTZ~~N,
Simon et alli. Op. cit., pp. 297 e 298.
66Pronunciamento de Getúlio Vargas. CPDOC/FGV. Arquivo Gu~
tavo Capanema, GC 34.05.19 g.
67MES. Plano de reorganização do Ministério de Educação e
Saúde Pública. Rio de Janeiro, Imprensa Naciona~ 1935,
p. 28.
68Lei n 9 452, de 5 de julho de 1937, Capítulo I, Artigos
1 9 e 2 9 , transcrito por FÃVERO, Maria de Lourdes de A.
Op. c i t " p. 19 9 .
227

6'SCHWARTZMAN, Simon et alli. Op. cit., pp. 209 e 210.


7 0ROSÁRIO, Irmã Maria do. Caltdeal. V. Leme. Op. cit., p. 303.
71BEOZZO, Pe. José Oscar. CIt~4tão4 na un~veIt4~dade e na po
lZt~ca. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1984, p.3~

72Idem, p. 33.
73Fundação da Sociedade Civil "Faculdades Católicas". CPDOCj
FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 40.00.00 g.
74SALEM, Tânia. Do Centro D. Vital à universidade católi-
ca, in SCHWARTZ~~, Simon (org.). A bU4ca de um mode-
la Un~VeIt4~tã.It~O. Brasília, CNPq, 1982, p. 129, nota 2.
7sOLIVEN, Arabela Campos. Op. cit., p. 64.
76ROMANO, Roberto. Blta4~l: ~glteja contlta e4tado. são Paulo,
Kairós, 1979, p. 146.
77 CAPANEMA, Gus tavo. Di-scurso pela inauguração das Faculda
des Católicas. CPDOC/FGV, Arquivo Gustavo Capanema~
GC 40.00.00 i, p. 3.
78PAlM, Antônio. Por uma universidade no Rio de Janeiro,
in SCHWARTZ~~, Simon (org.). A bU4ca de um modela
Un~VeIt4~tã.It~O, pp. 18 e 19.

7!CAMPOS, Francisco. EXp04~ção de mot~vo4. Rio de Janeiro,


MES, 1931, p. 3.
8 o l dem, p. 4.
81Documento do Arquivo Gustavo Capanema c~a autoria nao
consegui descobrir. CPDOC/FGV; GC piL452]00.00, pp. 2
e 3.
82Lei Orgânica do Ensino Secundário. MES. Serviço de Docu-
mentação, Folheto n 9 8, p. 34.
8 3l dem , p. 35.
nlbidem, p. 36.
8s Le i Orgânica do Ensino Secundário, p. 37.
uldem, p. 38.
87 l bidem, p. 39.
88 l dem, ibidem, p. 40.
89 Le i Orgânica do Ensino Secundário, p. 41.
90QUElROS, Amaro Xisto. Orientação educacional, Rev~ta 8Jta.
4~le~lta de E4tudo4 Pedagãgico4, V.Il, n 9 31, nov./dez.
1947, p. 584.
228

91N~RICI, Imideo C. Int~odução à o~ientação educacional.


são Paulo, Editora Atlas, 1978, pp. 15 e 16.
'2programa das atividades referentes à oriéntação educa-
cional na escola secundária brasileira. CPDOC/FGV,
Arquivo Gustavo Capanema, GC 42.05.12/1g, pp. 1 e 2.
93pADIM, Cândido. Objetivo4 da o~ientação educacional. De
partamento de Ensino Secundário. CADES, 1957, p. 86~
, '+ Idem, p. 86.
,sCriação da Organização Nacional da Juventude. CPDOC/FG~
Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.03.00/1.
'6CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.08.09, pasta
I-I, série g, pp. 3, 4 e 5.
97CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 34.11.30 g, pa~
ta 11-1 alI-lO, pp. 2, 4 e 5.
'8Projeto de criação da Juventude Brasileira. CPDOC/FGV,
Arquivo Gustavo Capanema, GC 38.03.00/1, Art. 18, p.5.
9'Idem, Art. 19, p. 5.
lOOIbidem, p. 8.
lOlSCHWARTZMAN, Simon et al1i. Tempo4 de Capanema, p. 134.
l02NUNES, Maria Thetis. En4ino .6ecundã.~o e 40ciedade b~a-
4ilei~a. Rio de Janeiro, ISEB, p. 114.

1 O3 VARGAS , Getúlio. A nova polltica do 8~a.6il. Rio de Ja-


neiro, José Olímpio, 1944, V.lO, p. 33. "O patriotis
mo do trabalhador brasileiro" (Discurso pronunciado
no estádio do "Va.6Co da Gama", por ocasião das come-
morações do dia 1 9 de maio de 1943).
lO'+ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. Hi.6tô~ia da educação no
8~a4-tl. Rio de Janeiro, Petrópolis, Vozes, 1987, p.166.

losTEIXEIRA, Anísio. Educação escolar no Brasil, in PEREI


RA, Luiz e FORACCHI, Marialuce. Educação e 4oc~eda ~
de. são Paulo, Nacional, 1985, p. 401.
l06MENDES, Durmeval Trigueiro. Para um balanço da educação
brasileira. Revi.6ta de Cultu~a Voze.6, n 9 2/77, Rio
de Janeiro, Petrópolis, 1969, pp. 86 e 89.
l07SCHWARTZMAN, Simon et alli. Tempo4 de Capanema, pp. 173
e 174.
108"0 Jo~nal", 22 de abril de 1941.
lO'Exposiçio de motivos da Lei Orgânica do Ensino Secundá-
rio, p. 37.
229

110LI~~, Alceu Amoroso. V~bate~ peda9õ9~co~, pp.112 e 113.


lllExposição de motivos da Lei Orgânica do Ensino Secundá-
rio, p. 40.
112LIMA, Alceu Amoroso. O homem e a mulher (ensaio de ca-
racterologia). "A O~dem", novembro de 1937, pp.462 e
464.
1 1 3SANTOS , Theoba1da f.Iiranda. Op. cit., p. 59.
114LlMA, Alceu Amoroso. M~to~ do no~~o tempo. Rio de Janei
ro, José Olímpio, 1943, p. 225.
11SPEREGRINO Jr. O papel da educação física na formação do
homem moderno. Rio de Janeiro, Rev~~ta de Educação
Fl~~ca, 1942, p. 32.

116SCHWARTZMAN, Simon et a11i. Tempo~ de Capanema, p. 229.


117Idem, p. 337.
lleCAPANE~~, Gustavo. Exposição de motivos, in Fundo~ e
campanha~ ~ducac~ona~~. MEC/DNE, 1959, 1 9 V, p. 21.

11!Decreto-1ei n 9 8.529, Tit. I, Capo I, Art. 1 9 e Cap. I lI,


Art. 59, in NOBREGA, V. Londres. EncLctopêd~a da te-
9~~tação do en~~no. Rio de Janeiro, Romanitas, 1972,
p. 334 (VaI. 1).
1 2 aVARGAS , Getu-1 10.
. Op. C1t.,
. \' . _,
.., pp. 118 e 121. liA ins-
trução profissional e a educação ~ora1, cívica e a-
gríco1a. (Discurso pronunciado na Bahia em. 18 de
agosto de 1933).
121pAIVA, Vani1da. Op. cit., p. 132.
122Idem, p. 114.
l:>.3CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema, GC 34.11.30 II 15-g.
124Idem.

12SRe1atório de Pinheiro Machado. CPDOC/FGV. Arquivo Gusta


vo Capanema, GC 34.11.30 - A 11 4-g, p. 5.
12 6Idem, p. 4.
127Ibidem, p. 4.
128CPDOC/FGV. Arquivo Gustavo Capanema. GC 34.11.30 - A 11
7 g.
129Idem.
130Ibidem.
230

131SCHl'iARTZMA:~, Simon et alli. Op. cit., pp. 263 a 265.


132SILVA, Geraldo Bastos. A educação ~ecundã~~a. São Pau-
lo, Nacional, 1969, p. 335.
133CRUZ, Mariano. V~nte ano~ a ~e~v~ço da educação. Rio de
Janeiro, AEC do Brasil, 1966, p. 20.
1311Idem.
13SCircular de D. Jaime de Barros Câmara transcrita por M~
riano da Cruz. Op. cit., p. 23.
• 36ALMEIDA, Fernando H. Mendes (org.). Con~.:t.~tu~ção do B~a
~~l. são Paulo, Saraiva, 1954, pp. 689 e 690.

137 I dem, pp. 621 e 622.


13!HORTA, José Silvério Baia. Op. cit., ? 8.

139Parecer preliminar de Gustavo Capanema. Rev~~ta B~a~~­


le~~a de E~~udo~ Pedagõg~co~, n 9 36, 1940, pp. 150 e
151.

1110ALMEIDA, Fernando H. Mendes (org.). Op. cit., p. 623.


1 11 1 HORTA , José Silvério Baia. L~be~al~~mo, teenoe~ae~a e
planejamento edueae~onal no B~a~~l. São Paulo, Cor-
tez Editora, 1982, p. 9.
1ll2Carta Brasileira de Educa~ão Democrática. Rev~~ta B~a~~
le~~a de E~tudo~ Pedagog~eo~, V. 5, agosto de 1945~
p. 259.
1113LlMA, Alceu Amoroso. Educação democrática. Rev~~ta B~a­
~~le~~a de E~tudo~ Pedagõg~eo~, V. 5, n 9 15, setem-
bro de 1945, p. 450.
1 li li Idem, p. 450.
lllsIbidem, p. 451.
1116Idem, ibidem, p. 451.
1ll7ALVES, Márcio Moreira. O C~~4to do povo. Rio de Janei-
ro, Editora Sabiá, 1968, p. 224.
1 It e Idem, p. 224.

lll!Ibidem, p. 225.
lsoIdem, ibidem, p. 226.
lSlALVES, Márcio Moreira. Op. cit., p. 226.
231

lS2S0UZA, Herbert José. Depoimento sobre a participação na


JEC, in PAIVA, Vanilda (org.). Catolici4mo, educação
e ciência, pp. 199 e 200. Sobre a JUC escreveram tam
bém; GOMEZ de SOUZA, Luiz Alberto. A JUC: o~ e4tudan
te~ catôlico4 e a polZtica. Petrópolis, Rio de JaneI
ro, Vozes, 1982 e SIGRIST, José Luiz. A JUC no B~a~
~il: evolução e ~mpa~~e de uma ~deolog~a (1950-1968).
são Paulo, Cortez e Universidade Metodista de Piraci
caba, são Paulo, 1980.
ls3LIMA, Alceu Amoroso, citado pelo Pe. Domingos Gugliel-
melb, in REB, V. 7, fas. 2, junho de 1947, p. 298.
lS4LIMA, Danilo. Op. cit., pp. 92 e 93.
lssHORTA, José Silvério Baia. L~be~ali~mo, tecnoc~acia e
planejamento educaional no B~a~il, p. 20.
1 56 Idem, p. 216.
1 S7MARIANI , Clemente. Exposi~ão de motivos. Revi~ta B~a~~-
lei~a de E~tudo~ Pedagog~co~, n 9 36, 1949.

lS8LIMA, Danilo. Op. cit., pp. 92 e 93.


lS!TEIXEIRA, Anísio, citado por Danilo Lima, op. cit., p. 45.
1 61MOREIRA, Roberto. Op. cit., p. 225.
162Padre A. Alonso S. J. Apostila mimeografada, p. 12.
163MENDES, Durmeval Trigueiro. Existe urna filosofia da edu
cação brasileira? in F~lo~o6~a da Educação B~a4ile~~
~a. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987 ,p. 8I.

164SILVA, Geraldo Bastos. Op. cit., p. 331.


16SMOREIRA, Roberto. Op. cit., p. 96.
166WEREBE, Maria José Garcia. G~andeza~ e m~~ê~ia4 do en~~
no no B~a~il. são Paulo, Difusão Européia do Livro:
1970, p. 90.
167BEZERRA, Aída. As atividades em educação po~ular, in
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). A que~tao polZtica
da educação popula~. são Paulo, Brasiliense, 1986,
pp. 22 e 23.
CONCLUSÃO

Para compreender o significado da educação, pro-


4'
curei alinhavar a reconstituição da história do paIS no
período que abrangeu 0$ Governos Vargas porque ela (a edu-
cação) foi um dos elementos integrantes desta história.
Através da reunião e análise de dados coletados em documen
tos, livros, revistas e jornais cheguei à conclusão que a
educação, naquele momento histórico, foi definida peio Es-
tado, pela Igreja e pela sociedade.

Embora o Estado tivesse desempenhado, no período


de 1930 a 1955, o papel principal no processo pedagógico,
a Igreja conseguiu garantir uma atuação nada desprezível
_ et-O
neste processo. Quanto a sociedade, ao buscar esta ou aqu~

la escola, às vezes até com sacrifício, não o fazia embala


da inconscientemente pelos diferentes discursos, oficiais
ou nao, porque - como afirma Gaudêncio Frigotto - "a ques-
tão da escola na sociedade capitalista, é fundamentalmente
uma questão da luta pelo saber e da articulação desse sa-
ber com os interesses de classe". 1

° Estado Novo, com características próprias"


inseriu-se no conjunto mais amplo de uma época em que o t~

talitarismo do Estado-nação aparecia como a solução para a


falência da democracia liberal pós-I Guerra e o dique ca-
paz de conter, entre outras, a "ameaça" comunista. Nesse
contexto, era compreensível que a Igreja, ansiando por re-

1 FRlGOTIO, Gaudêncio. A pILOdu:tiv-úia.de da. e4c.ola. .únplLOd.u.ii.va. São Pau


10, Cortez/Autores Associados, 1984, p. 161.
233

cuperar o terreno perdido após a República e preocupada,

também, com a possibilidade de avanço das idéias socialis-

tas, se aproximasse do Estado autoritário. O que na reali

dade existia era a necessidade de um apoio recíproco que

foi muito bem urdido por Vargas e pelo Cardeal Leme. A

Igreja via no Estado fortalecido a garantia de possibilid~

de de açao enquanto este tinha naquela um elemento facili-

tador de sua aceitação junto aos diferentes segmentos da

sociedade, especialmente os mais simples, cujo sentimento

religioso, que nunca deixara de existir, interessava levar

em conta e, se possível, expandir e aprofundar. Em outras

palavras, a relação política/religião católica era uma dia

lética de forças complementares que refletiam, nessa rela-

çao, os condicionamentos gerais da sociedade em que ambas'

estavam inseridas.

Se o Estado era autoritário, a Igreja Católica

sempre foi uma instituição fortemente organizada e centra-

lizada que possuía na hierarquia eclesiástica um sólido

alicerce que lhe permitia atuar em qualquer forma de con-

juntura política para conquistar consciências e forças so-

ciais.

Essa relação política entre o Estado e a Igreja,

como nao poderia deixar de acontecer, se refletia na educa

çao com, por exemplo, a preocupação explicitada que ambos

tiveram quanto à "fabricação" de elites através da escola.

Por parte do Estado, essa "elite condutora", que nao se

compunha de ideólogos do regime, deveria ser educada para,


tanto quanto possível, deter, ou filtrar, a busca demudan
234

ças que pudessem partir das massas. Por parte da Igreja,


a formação de elites - o que historicamente vinha fazendo
-
desde a epoca colonial objetivava preparar lideranças c~

pazes de ocupar posições importantes nos diferentes seto -


res da sociedade e, assim, atuarem como guardiões e multi-
plicadores da fé e da moral católicas. Ambos, Estado e Igr~

ja, precisavam de uma elite que tivesse a "qualidade" de


nao se deter a pensar na sociedade como ela realmente era
e, por isso, ser capaz de garantir a "paz social" ou, em
outros termos, evitar a luta de classes tão temida pelo ca
pitalismo.

o erescimento da sociedade urbano-industrial ge-


TOU uma demanda social por escolas que era importante ateQ
der por dois motivos básicos: o desenvolvimento do capita-
lismo e a própria demanda em si que, se não satisfeit~ ta!
vez gerasse uma indesejada turbulência social. O saldo da
expansao das oportunidades educacionais, no entanto, foi
positivo porque se preparava a força de trabalho para o
crescimento do capital, elevava, também, o valor dessa for
ça de trabalho. Esse lado positivo da expansão escolar prig
cipiaria a se fazer sentir na década de 50.

A redemocratização do país, apesar das mudanças


no quadro pOlítico-institucional, herdou um forte legado
do período autoritário e no âmbito da cultura política, por
exemplo, a reprodução dos elementos desse legado limitavam
as possibilidades de transformação ou, pelo menos, faziam
com que elas não ocorressem acompanhando o mesmo ritmo da
periodização da reforma política. A educação nao ficou
235

imune a essa conjuntura uma vez que a transição política,

mais uma vez, partiu das relações de poder que se situavam

no sistema de representação política sem, praticamente, l~

var em conta os movimentos da sociedade como um todo. Vale

acrescentar que o ponto de partida das relações de poder

estava fundado numa relação de força.

Se por um lado o longo debate em torno da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 196L

mostrou o quanto era difícil superar o legado autoritário,

por outro lado teve o mérito de mostrar um conflito de

idéias, que envolveu a sociedade brasileira, so possível

de acontecer num regime democrático. Lamentavelmente, a r~

democratização não continha em seu bojo um plano nacional

de educação estabelecido como parte integrante do planeja-

mento de políticas públicas na área social.

Em síntese, se a escola nao é responsável pelas

distorções sociais, e nela, inclusive, por ser um espaço

social importante e necessário, que o processo de transfor

mação da sociedade pode ser iniciado. ~ importante, por-

tanto, que ao pensar a educação se tenha sempre presente

os interesses específicos nela envolvidos.


BIBLIOGRAFIA

1 - DOCUMENTOS DE ARQUIVO
Foram consultados d0cumentos oriundos dos arquivos
Gustavo Capanema e Getúlio Vargas, do acervo do CPDOC,
da Fundação Getúlio Vargas.

2 - LIVROS E ARTIGOS
ALMEIDA, Fernando H. Mendes Corg.). Con~tituiç5e~ do B~a­
~il. são Paulo, Edições Saraiva, 1954.

ALMEIDA Jr., Antônio Mendes. Vo declZn~o do E~tado Novo


ao ~uicZdio de Va~ga~. HGCB, Tomo 111, são Paulo, Difel,
1986.

ALONSO, Padre A.S.J. A po~ição católica du~ante a t~amita


çao do p~ojeto de LVB. Apostila mimeografada.
ALVES, Márcio Moreira. A rg~eja e a pol1tica no B~a~il.
São Paulo, Brasilieilse, 1979.
O C~i~to do povo. Rio de Janeiro, Editora Sabiá,
1968.

AMARAL, Azevedo. O e~tado auto~itã~io e a ~ealidade nacio


nal, in MEDEIROS, Jarbas. Ideologia auto~itã~ia no B~a­
~il 1930/45. Rio de Janeiro, FGV, 1978.

ARENDT, Hannah. O~igen~ do totalita~i~mo. são Paulo, Com-


panhia das Letras, 1989.
ÁVILA, Fernando Bastos de. A mi~~ão ~ocial da Ig~eja ho-
je, in PADIM, D. Cândido et alli. M~~ão da rg~eja no
B~a~il. São Paulo, Loyola, 1973.

AZEVEDO, Armando Dias de. O deve~ elei~o~al do~ catól~co~


b~a~ilei~o~. Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, Rio
de Janeiro, 1945.
AZZI, Riolando. P~e~ença da rg~eja Ca~ólica na ~ociedade
b~a~ilei~a. Tempo e Presença Editora. Cadernos do ISER.
n 9 13.
2 .) ,
_..,

BAKHTIN, Mikhail. Ma~X~4mo e 6~lo406~a da l~nguagem. São


Paulo, Hucitec, 1988.
BARROS, Roque Spencer Maciel de (org.). V~~e~~~ze4 e ba-
4e4 da eduQação. São Paulo, Pioneiras, 1960.
BECKER, L.V. O plano naQ~onal de eduQação no Cen~~o v. V~

~al. "A Ordem", 1936.

BEOZZO, José Oscar. A Ig~eja en~~e a ~evolução de 30, o


e4~ado novo e a ~edemoQ~a~~zação. HGCB, Tomo 111, são
Pau~o, Difel, 1986.

c~~4~ão~ na un~ve~~~dade e na polI~~Qa. Petrópo-


lis, Rio de Janeiro, Vozes, 1984.
BOBBIO, Norberto. E~~ado, gove~no e ~oQ~edade. Rio de Ja-
neiro, Paz e Terra, 1988.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que e eduQação. São Paulo,
Brasiliense, 1988.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.) . A que~.tão polI.t~Qa da
eduQação popula~. São Paulo, Brasiliense, 1986.
BRUNEAU, Thomas C. Ca.tol~Q~~mo b~a~~le~~o em epOQa de:tJta.n
~~ção. são Paulo, Loyola, 1974.

Rel~g~ão e pol~.t~zação no B~a~~l. são Paulo, Loy~


la, 1979.
CÂMARA, D. Jaime. Não .t~an4~g~~. Revista Eclesiástica Bra
si1eira, 1949.
CÂMARA, D. Jaime et al1i. O deve~ ele~.to~al do~ Qa.tõl~Qo~.
Revista Eclesiástica Brasileira, 1950.
CAMPOS, Francisco. O e~.tado naQ~onal, in MEDEIROS, Jarbas.
Ideolog~a au.to~~.tã~~a no B~a~~l 1930/45. Rio de Janeiro,
FGV, 1978.
EXp04~ção de mo~~vo~ (Reforma). Rio de Janeiro,
MES, 1931.
CAPANEMA, Gustavo. Expo~~ção de mo~ivo~, in Fundos e cam-
panhas educacionais. MEC/DNE, 1959.
CARONE, Edgar. A ~~Qe~~a ~e.pú.bliQa. São Paulo, Difel, 1974.
238

CARONE, Edgar. O E4tado Novo (1937-1945). são Paulo, Di-


fel, 1976.
A qua4ta 4epública - I - documento4. São Paulo,
Difel, 1980.
CARVALHO, José Murilo de. F04ça4 a4mada4 e pol1.tica, 1930-
1945, in A revolução de 30. Coleção Temas Brasileiros,
V. 54, Editora Universidade de Brasília.
CARVALHO, Marta Maria C. de. O nacional e o 4egional n04
debate4 educacionai4 p4omovido4 pela ABE n04 an04 20.
Cadernos ANPEd, n 9 2, 1989.
CAVA, Ralph Della. Ig4eja e e4tado no B4a4il do 4eculo X~
Estudos CEBRAP, 12, Editora Brasileira de Ciências Ltda.
1975.
CHAUf, Marilena & FRANCO, Maria Sílvia C. Ideologia e mo-
bilização popula4. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985.
COHN, Gabriel. Pe44pectiva da e4que4da em pol1.tica, . in
IANNI, Octavio et alli. Revolução 40cial no B4a4il. Rio
de ~neiro, Civilização Brasileira, 1965.
CRUZ, Adelina Alves Novaes (org.). Impa44ena democ4acia
b4a4ilei4a 1951/1955. Coletânea de documentos. Rio de
Janeiro, FGV, 1983.
CRUZ, Mariano. Vinte an04 a 4e4viço da educaç.ão. Rio de
Janeiro, AEC do Brasil, 1966.
CUNHA, Luiz Antônio. Educação e de4envolvimento 40cial no
B4a4il. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975.
CURY, Jamil Carlos R. Ideologia e educação b4a4ilei4a: ca
tólic04 e libe4ai4. São Paulo, Cortez, 1988.
A ig4eja católica / educação: p4e44upo4to4 e evo-
lução no B4a4il, in PAIVA, Vanilda (org.). Catolici4mo,
educação e ci~ncia. São Paulo, Loyola, 1991.
DANTAS, D. Marcolino et alli. Pa4to4al 4ob4eo p40blema
4u4al. Estudos da CNBB, 11, são Paulo, Edições Paulinas,
1981.
DEWEY, John. Vemoc4acia e educaçiio. São Paulo, Nacional,.1957.
239

DIDONET, Frederico. C~uze4 e con4olaç5e4 do .6ace~dote.

REB, junho de 1944.


ENGELKE, D. Inocêncio. Pa4~o~al da te~~a. Estudos da CNBB,
11, São Paulo, Edições Paulinas, 1981.
FAUSTO, Boris. A ~evolução de 1930. São Paulo, Brasilien-
se, 1972.
FÃVERO, Maria de Lourdes de A. Un~ve~.6~dade e pode~. Rio
de Janeiro, Achiamé, 1980.
FÃVERO,. Osmar .(org!). Cultu~a popula~ e educação popula~.
Memõ~~a do.6 an04 60. Rio de Janeirv, Graa1, 1983.

FERNANDES, Pe. Geraldo. A ~el~g~ão na.6 con.6t~tu~çõe4 ~epu


bl~cana.6 do B~a4~l. REB, dezembro de 1948.

FONSECA, Pedro Cezar Dutra. Va~ga4: o cap~tal~.6mo em con4


t~ução. São Paulo, Brasiliense, 1989.

FOUCAULT, Michel. M~c~o6I.6~ca do pode~. Rio de Janeiro,


Graal, 1979.
FRANCA, Leonel. En.6~no ~el~g~o.6o e en.6~no le~go. Rio de
Janeiro, Schmidt Editor, 1931.
RREIRE, Paulo. Con.6c~ent~zação e al6abe~~zação: uma nova
v~4ão do p~OCe.640, in FÃVERO, Osmar (org.). Cultu~a po-
pula~ e educação popula~. Memõ~~a do.6 an04 60. Rio da
Janeiro, Graal, 1983.
FREITAG, Bárbara. E.6cola, e.6tado e .6oc~edade. são Paulo,
Moraes, 1986.
FREY, P. Henry & HOWE, G. Nigel. Vua.6 ~e.6po.6ta.6 ã a6~ção:
umbanda e penteco4tal~4mo. São Paulo, Hucitec, 1975.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A p~odut~v~dade da e.6cola ~mp~oduU­
va. são Paulo, Cortez/Autores Associados, 1984.
GANDIM, Danilo. E.6cola e ~~an.66o~mação .6oc~al. Petrópolis,
Rio de Janeiro, Vozes, 1988.
GRAMSCI, Antônio. 0.6 ~n~electua~4 e a o~gan~zação da cul-
tu~a. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

GUASTINI, Raul. Ideã~o polIUco de Getúl~o Va~ga.6. São


240

Paulo, Empresa. Grifica d& Revista dos Tribunais Ltda.,


1943.
HIRST, Mônica. O p~a9maZi~mo impo~~Zvel. A polZ~ica exte~
na do ~e9undo 90ve~no Va~9a~. Rio de Janeiro, CPDOC/FG~
1990.
HORTA, José Si1vério Baia. A~ di6e~ente~ concepçoe~ de di
~et~ze~ e ba~e~ e a que~tão do nacional na hi~tô~ia da
educação b~a~ilei~a. Cadernos ANPEd, n 9 2, 1989.
Libe~al~mo, e planejamento educacio-
tecnoc~acia

nalno B~a~il. são Paulo, Cortez, 1982.


IANNI, Octávio. O colap~o do populi~mo no B~a~il. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1988.
E~tado
e planejamento econômico no B~~il. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1986.
O p~oce~~o polZtico e de~envolvimento econômico,
in PolZtica e ~evolução ~ocial no B~~il. Rio de Janei-
ro, Civilização Brasileira, 1965.
Indu~t~alização e de~envolvimento ~ocial no B~a­
~il. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1961.
KLOPPENBURG, Frei Boaventura. Cont~a a he~e~ia e~pZ~ita.
REB, 1952.
LE FEBVRE, Henri. Re-p~odução da~ ~elaçõe~ de p~odução.
Porto, Escorpião, 1973.
LIBÂNIO, J. B. Con6lito i9~eja-e~tado. Encontros com a Ci
vi1ização Brasileira. Rio de Janeiro, Civilização Brasi
1eira, 1978.
LIMA, Alceu Amoroso. Une jou4nêe avec V. Helde~ Câma~a.
Desc1ée de Brouwer, 1970.
Nota~ pa~a a hi~tô~ia do Cen~~o V. Vital. A Orde~
junho de 1958.
Ação ~ocial ca~ôlica. A Ordem, janeiro de 1937.
,
Vebate~ peda9ôgico~. Rio de Janeiro, Scillridt, 1931.
PolZtica. Rio de Janeiro, Schmidt, 1939.
241

LIMA, Alceu Amoroso. Famll~a e e4tado. A Ordem, 1940.


------o O~ação a04 nOV04 me4t~e4. A Ordem, 1937.

------o M~t04 do n0440 tempo. Rio de Janeiro, José Olímpio,


1943.

------o Educação democ~ãt~ca. Revista Brasileira de Estu-


dos Pedagógicos, 1945.
LIMA, Danilo. Educação, ~9~eja e ~deoio9~a. Rio de Janei-
ro, Francisco Alves, 1978.
LINHARES, Maria Yedda (org.). H~4tõ~~a ge~ai do B~a4~i. Rio
de Janeiro, Editora Campus, 1990.
LOURENÇO FILHO, Manuel B. Int~odução ao e4tudo da e4coia
nova. são Paulo, Melhoramentos, 1974.
MACCIOCHI, Maria Antonieta. A óavo~ de G~am4c~. Rio de Ja
neiro, Paz e Terra, 1980.
MAINWARING, Scott. I9~eja catõi~ca e poilt~ca no B4a4~l.
são Paulo, Brasiliense, 1989.
MARIANI, Clemente. Expo4~ção de mo~vo4. Revista Brasilei
ra de Estudos Pedagógicos.
MANOR, Paul. F~ct~on4 et ~dêoio9~e dan4 i'a~mêe bê4~i~en­
ne: na~onai~4te4 et i~bê~aux, 1946-1951. Revue D'His-
toire Moderne et Contemporaine, decembre, 1978.
MENDES, Cândido. ~e mento d04 V~V04 - a e4 que~da catõi~ca
no B~a4~l. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1966.
MENDES, Durmeval Trigueiro. Pa~a um balanço da educação
b~a4iie~~a. Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, Rio
de Janeiro, 1969.
EX~4te
uma óilo406~a da educação b~a4~ie~4a? in
MENDES, D. Trigueiro et alli. F~io406~a da educação b~a
4iie~~a. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987.

MENDONÇA, Sônia Regina de. E4tado e econom~a no B~a4~i:


opção de de4envoiv~mento. Rio de Janeiro, Graal, 1986.
MONTEIRO, Pedro Aurélio de Goes. A ~evolução de 30 e a 6~
nai~dade poiltica do exê~c~to. Rio de Janeiro, Andersen
Editores, 1941.
242

MOREIRA, Robert. Educação e de~envolvimento no B~a4il. Rio


de Janeiro, Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciên
cias Sociais, 1960.
MOTA, Carlos Guilherme (org.). B~a4il em pe~4pec~va. são
Paulo, Difusão Européia do Livro, 1971.
MOURA, Gerson. O alinhamento ~em ~ecompen~a: a polltica e~
te~na do gove4no Vut4a. Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 1990.

N~RICI, Imídeo G. Int4odução à o4ientação educacional. são


Paulo, Atlas, 1978.
NOBREGA, Vandick Londres. Enciclopédia da legi4lação do en
~ino. Rio de Janeiro, Romanitas, 1972.

OLIVEIRA, C. A. Barbosa. Catolici4mo e comuni~mo. Revista


de Cultura Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes,
1945.
OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro. Pode4 e conálito 4eligio~o:
uma abo4dagem ~ociolõgica. Revista de Cultura Vozes, Pe
trópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1991.
OLIVEN, Arabela Campos. A pa4oquialização do en~ino 4upe-
~i04. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1990.

PADIM, Cândido. Objetivo~ da o4ientação educacional. Rio


de Janeiro, MEC/CADES, 1957.
PAIM, Antônio. P04 uma unive4~idade no Rio de Janei4o, in
SCHWARTZMAN, Simon (org.). A bu~ca de um modelo unive4-
~itã4io. Brasília, CNPq, 1982.

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popula4 e educação de


adulto~: cont4ibuição à hi~tõ~a da educação b4~ilei-

4a. São Paulo, Loyola, 1987.


PAIVA, Vanilda Pereira (org.). Catolici~mo, educação e ciên
cia. são Paulo, Loyola, 1991.
------o Te~e~ ~ob4e
a Ig4eja mode4na no B4a~it. Religião
e Sociedade, 11/1, Rio de Janeiro, Educampus Ltda.
PEIXOTO, Afrânio et alli. Maniá~to do~ pionei4o~ da edu-
caça0 nova. São Paulo, Nacional, 1932.
243

PEREGRINO Jr. O papel da edueação 6Z~iea na 604mação do ho


mem mode4no. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro,
1942.
PEREIRA, Luís. U4banização e indu~t4ialização. Capo 111,
de T4abalho e de~envolvimento no B4a~il. São Paulo, Di-
fusão Européia do Livro, 1965.
PEREIRA, Luís & FORACCHI, Marialice M. (org.). Edueação e
~ociedade. São Paulo, Nacional, 1985.
PIO XI. EncZclica "Vivini Illiu~ Magi~t4i". Série Documen
tos Pontifícios n 9 7, Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes,
1974.
EneZelica "Quad4age~imo Anna", in JÚNIOR, Pimen-
tel (org.). A doutAina ~oeial da Ig4eja. São Paulo, Do-
minus Editora S.A., 1963.
PORTELLI, Hugues. G4am~ci y el bloque hi~to4ieo. México,
Siglo XXI, 1974.
POULANTZAS, Nicos. A~ cla~~e~ ~ociai~ no capitali~mo hoj~

Rio de Janeiro, Zahar, 1978.


PRADO Jr., Caio. Hi~tõAia eeonômica do B4a~il. São Paulo,
Brasiliense, 1965.
QUEIRaS, Amaro Xisto. OAientação edueaeional. Revista Bra
sileira de Estudos Pedagógicos, 1947.
REIS, Elisa. P. O e~tado nacional como ideologia: o ca~o
b4a~ilei4o. Estudos Históricos. são Paulo, Vértice, 1988.
RICOEUR, Paul. InteApAetação e ideologia~. Rio de Janei-
ro, Francisco Alves, 1988.
RODRIGUES, Neidson. E~tado, educação e de~envolvimento.
são Paulo, Cortez, 1982.
ROLIM, Francisco Cartaxo, O.P. Expan~ão pAote~tante em No
va Iguaçu. REB, setembro, 1973.
Penteco~tali~mo. REB, dezembro, 1973.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. Hi~tõ4ia da. edueação no
BAa~il. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1987.
244

ROMANO, Roberto. B~a~~l: ~g~eja cont~a e4tado. São Paulo,


Kairós, 1979.
ROSÁRIO, Irmã Maria do. O.C.D. (Laurita Pessoa Raja Gaba-
glia). O Ca~deal V. Leme. Rio de Janeiro, José Olímpio,
1962.
ROSSI, Agnello. O pentec04tal~~mo nu B~a~~l. REB, 1952.
SAES, Décio A.M. Cla.6.6e mê.d~a e pol1.tica no B~a~~l: 1930-
1964. HGCB-III, V. 10, são Paulo, Difel, 1986.
Indu.6t~~al~zação, popul~.6mo
e cla~~e mê.d~a no B~a
~~l. Cadernos da Universidade Estadual de Campinas,n 9 6,

são Paulo, 1976.


SALEM, Tânia. 00 Cent~o o. V~tal ã un~ve~.6~dade catôl~ca,
in SCHWARTZMAN, Simon (org.). A bU.6ca de um modelo un~­
ve~~~tã~~o. Brasília, CNPq, 1982.

SANTOS, Theoba1do Miranda. O conce~to de educação na peda-


gog~a mode~na. A Ordem, 1942.

SARTORI, Frei Luiz Maria. Suge.6tão de ba4e.6 pa~a uma e~­


t~utu~a ge~al da ACB. REB, 1952.

SAVIANI, Dermeva1. Educação: do .6en~o comum ã con~c~ênc~a


6~lo.6ô6~ca. São Paulo, Cortez/Autores Associados, 1989.

SCHWARTZMAN, Simon et a11i. Tempo.6 de Capanema. Rio de Ja


neiro, Paz e Terra, 1984.
SCHWARTZMAN, Simon (org.). A bu~ea de um modelo un~ve~~~tã
~i.o. BraS"ília, CNPq, 1982.

A pol1.t~ca
da ~g~eja e a educação: o .6entido de
um pacto. Religião e Sociedade, 13/1, Petrópolis, Rio
de Janeiro, Vozes, 1986.
SILVA, Geraldo Bastos. A educação .6ecundã~~a. São Paulo,
Nacional, 1969.
SKIDMORE, Thomas. B~a.6~l: de Getúli.o a Ca4tei.o BMnco(1930-
lq641. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.

SOARES, G1ãucio Ary Di1lon. Soc~edade e polltica no B~a­


.6il. são Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.
245

SOUZA, Herbert José. Vepo~mento 40b~e a pa~t~c~pação na


JEC, in PAIVA, Vanilda (org.). Catolic~4mo, educação e
c~ênc~a. são Paulo, LoyoIa, 1991.

SUCUPIRA, Luiz. O 40c~al~4mo em 6ace do evangelho. A Or-


dem, 1937.
TAUZIN, Frei Sebastião. Ação católica em p~06und~dade. A
Ordem, 1937.
TEIXEIRA, Anísio. Vi4CU~40. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, 1962.
Educação e4cola~ no B~a4il, in PEREIRA, Luiz & FO
RACCHI, Maria1uce (orgs.). Educação e 40c~edade. são
Paulo, Nacional, 1985.
Educação não ê p~~vilêgio. São Paulo, Nacional,
1977.
TODARO, Margaret Patrice. Pa4to~4, p~ophet4 and pol~ti­
c~an4: a 4~udy 06 the B~a4ilian Catholic Cnu4ch, 1916-
1945. Tese (Ph.D.). Colfimbia University, 1971, (xerox).
TRINDADE, Hélgio. lnteg~al~4mo. são Paulo, Difusão Euro-
péia do Livro, 1974.
VARGAS, Getfi1io Dornelles. A nava pol1.,t..ica do BJta4":'l.. Vs.
5, 6 e 10, Rio de Janeiro, José Olímpio.
IMen4agem ao Cong~e440 Nac~onal. Rio de Janeiro,
Departamento de Imprensa Nacional, 1952.
A campanha p4e4~dencial. Rio de Janeir~José Olím
pio, 1951.
Q gove4no t~abalh~4ta no B~a4~l. Rio de Janeiro,
José Olímpio, 1969.
VIANNA, Luiz Werneck. Libe~al~4mo e ~ind~c.al~4mo no B~a-
4il. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
O 4i4~ema pa~~dã~io e o pa~t~do democ~ata C.~i4-
tão. Cadernos CEDEC, n 9 1, são Paulo, Brasi1iense, 1978.
VIEIRA, Evaldo. E4tado e mi4ê~ia 40c~al no B4a4~l: de Ge-
túlio a Ge..i4el. São Paulo, Cortez, 1985.
246

WELFORD, Francisco. O populi~mo na polZtica b~a~ilei~a.


Rio de Janeiro, PaZ e Terra, 1985.
WIARDA, Howard J. O movimen~o catõlico b~a~ilei~o: o~ di-
lema~ do de~envolvimen~o nacional. Mimeo.
ANE XO

"QUADRO INTEGRAL DA PEDAGOGIA, TAL COMO A COMPREENDE UMA PHILOSOPHIA


CATHOLICA DA VIDA"

~\,ô~ cP FORMAÇÃO FfsICA FORMAÇÃO INTELECI1JAL FORMAÇÃO MORAL E RELIGIOSA


se~~~~').:
~o
. ôo. (j0
~~').:, ~'):
(ordem da natureza) (ordem das idéias) (ordem dos deveres)
ç§> Se o\,o PODER CONHECER DEVER
Ci.O~

EDUCAÇÃO Infundir hábitos físicos Infundir hábitos intelec- Infundir hábitos morais pelo
pelo governo dos sentidos tuais pelo governo da in- governo da vontade a fim de
teligência colocar o homem em sua PIÓ-
pria natureza

INSTRUÇÃO Ministrar conhecimentos Ministrar conhecimentos Ministrar conhecimentos mo-


Puberdade à profissionais científicos rais e religiosos
morte

CULTURA Elevar a personalidade Elevar a personalidade Elevar a personalidade indi-


Maturidade individual e social pe- individual e social pelo vidual e social pela união
à morte lo upolLte. humaYÚ.6mo com Ve.U6

ex LIMA, A.A. Vebate~ Pedagõgico~, p. XV.

N
+;.
--l

... ..---:.
Dissertação apresentada aos Srs.:

Nome dos
Componentes da
Banca Examinadora

~/.\~~t·~
D~-t10 Martins de Lima

Vis to e permitida a i.mpre~são_

Rio de Janeiro, ~/ ~/ _1_9_9_2____

Coordenador Geral do IESAE

Potrebbero piacerti anche