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DOSSIÊ INTOLERÂNCIA

O limite é: integridade física


e psíquica; além é claro,
não ofender a moral do outro.
Do outro: respeitando a cultura,
religião, ideologia política e
sexualidade, enfim; respeitar o
outro como ele é.

OSLIMITESDA
LIBERDADE DE
EXPRESSAO
Quando o discurso de ódio
extrapola o direito de se
manifestar livremente

por Daniel Gomes de Carvalho"

m meio ao efer- Em tempos de intolerância, a proi- Uma reflexão seminal sobre a liber-
vescente Carnaval bição do bloco é mais um episódio a dade de expressão está na obra Sobre
de São Paulo em instigar o debate sobre os limites da a Liberdade, publicada em 1859 pelo
2018, um fato des- liberdade de expressão. Sem pretender filósofo utilitarista John Stuart Mill.
toou da animação. fornecer uma resposta absoluta a essa Ferrenho defensor da liberdade indi-
Por iniciativa do longa discussão, recorremos a alguns vidual, Mill argumenta que ao redor
movimento Di- fundamentos filosóficos que abordam de cada indivíduo háuma área em que
reita São Paulo, o a ideia da tolerância e os limites da nem a sociedade nem o Estado estão
bloco Porão do liberdade individual. autorizados a agir. É o que ele chama
Dops pretendia de self regardíng areat "sobre si mesmo,
desfilar nas ruas A TIBEBOADE DE EXPRESSAO seu corpo e sua mente, o indivíduo é
da cidade para A liberdade de expressão é o direito soberano". Mill elenca três argumentos
"celebrar" o legado da ditadura mili- de qualquer um manifestar suas ideias em defesa da liberdade de expressão.
tar. Um dos cartazes de divulgação do liwemente, sem interferência do gover- Argumento da falibilidade: quando
bloco exaltava afigura do coronel Carlos no ou da sociedade. Por issq trata-se de o homem torna-se consciente de si
Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi um dos pilares das democracias e peça como um ser limitado e pequeno (ou
e torturador durante o regime militar. fundamental para o exercício da cida- seja, humano), passível de ser iludido,
O Ministério Público (MP) entrou daniae dafiscalização do poder público. ele compreende que muitas de suas
com uma liminar tentando impedir o opiniões podem estar equivocadas.
desfile do bloco, alegando apologia à Por isso, a única posição coerente com
tortura. A juíza Daniela Conceição ne- o bom senso é a tolerância; filha da in-
gou o pedido, sob ajustificativa de que a Liberdade de certezae da dúvida, a tolerância seria
proibição fere aliberdade de expressão. parte da condição humana.
O MP recorreu e, às vésperas do desfile,
expressão é o direíto Argumento da parcela de verdader
veio a decisão do desembargador José de expor ideias sem a mesmo que uma opinião contrária a
Rubens Queiroz Gomes, para quem a nossa seja falsa, às vezes ela pode ser
manifestação do bloco configura, de
interferência do goverrn parcialmente verdadeira ou mostrar al-
fato, crime de apologia à tortura. ou da sociedade gumas fissuras de nossa argumentação.

78 cenrulltonoEs | 1. semestre 2018


ii: RESUMO :::
:::

PRECONCEITO
GENERALIZADO
Manifestante
associa o islamismo CONCEITO E CAUSAS lntolerância é a não
ao nazismo em aceitação das diferenças ea incapacidade
ato em New South de reconhecer uma opinião divergente. Ma-
Wales, na Austrália, nifestações de ódio têm crescido no Brasil
em outubro de 2015 e no mundo devido a fatores como a crise
potítica e econômica e o fortalecimento
do individualismo e da cultura do medo.
de que a liberdade de expressão não pode A internet e as redes sociais também têm
se sobrepor àgarantia da dignidade hu- papel central na visibilidade e na repercus-
mana. Em terÍnos çrais isso significa que são dos episódios de intoterância.
o direito à liwe manifestação não deve
servir de salvo-conduto paraque alguém RACISMO Adiscriminação com base em ca-
possa incitar aviolência ou expressaÍ-se racterístÌcasfísicas, como a cor da pele, tem
de forma preconceituosa,principalmente origem na escravidão e ainda hoje persiste
contra grupos historicamente vulnerá- nos países que adotaram esse sistema, como
veis - negros, homossexuais, mulheres, os EUA e o Brasil. Devido ao preconceito
imigrantes, minorias religiosas. raciat, os negros são os mais afetados pela
A Constituição brasileira de 1988 ga- violência, os que têm os mais baixos sa[ários
rante a liberdade de expressão e proíbe a e escoÌaridade e representam a maior parte
censura préüa, é fato. Vtas há condições da população carcerária do país.
estabelecidas pelos Códigos Ciül e Penal
que determinam certos limites. A mani- RELIGIÃO Os seguidores das crenças de ma-
festação de ideias preconceituosas pode triz africana, como umbanda e candomblé,
ser enquadrada como injúria calúnia e sâo os principais alvos da intoterância reti-
difamação. Atualmente, grande parte giosa no Brasil, fenômeno que tem relação
das decisões judiciais segue alinhada direta com o racismo. Em algumas naçôes,
ao pensamento de Mill. Um discurso de a situação é ainda mais grave, quando as
Argumento do dogma: toda opinião ódio, notadamente os que se configuram restrições à liberdade de religião partem do
não contestada, não discutida, torna-se como ofensa ou humilhação a grupos próprio governo (como em Mianmar, índia
um dogma, umpreconceitq mesmo que identitários, costuma ser penalizado. e Arábia Saudita) ou de grupos retigiosos
seja verdadeira. Quando uma opinião Mesmo com alguns parâmetros judi- extremistas, como o Estado lstâmico.
verdadeira é contestad4 ela é obrigada ciais, estabelecer uma linha vermelha
a justificar-se e, por isso, torna-se mais sobre o que pode ou não ser expressado é XENOFOBIA A estagnação econômica, a
forte, mais racional mais vigorosa. A
e uma tarefa complexa. Essa sobreposição crise dos refugiados e o temor do terro-
liberdade de expressão, assim, é fun- de valores tão caros à democracia - a liwe rismo acentuaram a aversão e o medo de
damental para entendermos o porquê manifestação do pensamento e a defesa pessoas de cutturas diferentes (em geraÌ,
de acreditarmos numa determinada da dignidade humana - nos coloca em estrangeiros), em diversas regióes do mun-
opinião e nos liwarmos do fanatismo. um exercício permanente parao desen- do. lsso levou os EUA e alguns países da
volvimento da sociedade. A liberdade de Europa a adotar um discurso nacionalista
BESTBTQ0ES A0 DTSCURSo DE oDn expressãq lembra-nos o cientista político e conservador, e potíticas anti-imigração,
Para Mill, há um único motivo que FelixOppenheim, é uma liberdade so- como a construção de muros parabarrar a
pode levar a sociedade a interferir nes- cial, umavez que envolve mais de um ser entrada de imigrantes. No Brasil, o aumento
sa liberdade: evitar o dano a outrem humano. Consequentementg os limites do número de refugiados é acompanhado
(harm to others). Esse dano aterceiros da liberdade de expressão são constru- peto crescimento da xenofobia.
pode ser o dano privado, isto é, a outros ídos socialmente, pela manifestação de
indivíduos, ou o dano público, contra grupos identitários, por cidadãos que ma- GÊNERO Pelo menos uma pessoa LGBT é
as instituições e o interesse público. O nifestam ideias que desafiam os direitos assassinada pordia no Brasi[ - o país é cam-
chamado "princípio do dano" é aúnica humanos e por decisões judiciais que vão peão mundial de homicídios de transgêne-
possibilidade de restrição à liberdade: criando bases para uma jurisprudência ros. Essas pessoas também estâo expostas
"a liberdade do indivíduo deve ser, as- sobre o tema. E a partir desse choque de ao preconceito e exclusão social. No mundo,
sim, limitada; ele não deve se tornar valores que iremos construir a sociedade a prática homossexua[é considerada crime
nocivo a outras pessoas". que queremos para o futuro. em mais de 70 países - em sete deles, como
Ao trazer o pensamento de Mill parao o Sudão e o lrã, é punida com pena de morte.
atual contexto de intolerância, podemos *Doutorando
em História Social peta Univenidade
afirmar que o autor se alinha com a tese de São Paulo (USP) e professordo Poliedro Educação

cEATuALIDADES | 1. semestre 2018 79


Pergunta: 

INTOLERÂNCIA?  Por  que  tempos  de  intolerância?  Quais  fatores  nos  fizeram  chegar  a  este 
patamar? 

Resposta: (possíveis respostas) 

‐ POS MODERNISMO: 

Individualidade, egoísmo, narcisismo, relativismo, instantaneidade (Modernidade Líquida*) ... 

‐ Choque das civilizações 

https://drive.google.com/open?id=1nggBy858‐vDQ1sUBX8W1tnXs037pQtnm 

JUSTIÇA/JUSTO:    No  sentido  mais  amplo,  o  termo  “justiça”  está  muito  próximo,  quase  um 
sinónimo, de retidão. Entre seus sentidos mais restritos estão os de justiça distributiva, corretiva 
e retribuidora. Os gregos antigos entendiam justiça como uma vida ética vivida de conformidade 
com certas virtudes. A humanidade entende justiça como sistema de padrões que distinguem o 
certo  do  errado.  Embora  os  padrões  humanos  difiram,  a  habilidade  de  se  fazer  julgamentos 
morais, num sentido ou noutro, é universal; nenhuma pessoa é amoral no sentido de indiferença 
em relação ao bem e ao mal. Tem havido, sempre, diferentes pontos de vista quanto à base da 
justiça, em qualquer de suas formas: 

‐  Os estoicos viam a justiça como estando enraizada na ordem racional das coisas;  

‐  Trasímaco/Thrasymachus  ‐  sofista;  PODER  É  DIREITO,  quem  tem  autoridade,  determina  as 


regras, no poder da coerção; 

‐  Platão;  estado  que  ocorre  quando  cada  um  ocupa  sua  devida  função,  fazendo  assim  a  sua 
contribuição para o todo, da melhor maneira possível. 

‐ Locke; descobre‐se a justiça mediante a experimentação, guiada pela razão. 

‐ Hume e o positivismo lógico, na convenção e nos costumes 

‐ Capri; tomar posse do que lhe é devido/o que lhe toca e pagar/cumprir o que lhe é dever. 
DIREITO:  ter  acesso  ao  que  lhe  cabe  (proporcionalmente  –  considera  o  ser  total  em  suas 
condições). DEVER: cumprir, algo que corresponde por ser feito, obrigação (as vezes denota uma 
situação forçosa quando uma pessoa não pode escolher por mais que esteja de acordo ou não 
com ela). 

DIREITO:  medida  ou  padrão  daquilo  que  é  certo  ou  correto,  determinado  na  experiência 
humana e concorda com as convenções e conhecimentos humanos. Tem como característica 
retidão ou seja; em consonância com os retos princípios.  

O governo existe para o propósito primário de proteger os direitos humanos básicos. 

Ter um direito é ter um reclamo legal ou moralmente justificável de possuir ou obter algo ou de 
agir de certa maneira. Ter um direito é um relacionamento tríplice que envolve a pessoa que 
possui o direito, outras pessoas que têm o dever de observar tal direito, e a questão ou coisa a 
que o direito diz respeito. 

Uma importante distinção existe entre direitos positivos e direitos naturais. Direitos naturais 
são direitos que o homem possui sem consideração de decretos e políticas de um estado. O 
direito  natural  é  baseado  na  lei  natural  (no  mundo  ocidental  cristão  também  é  interpretado 
como lei de Deus) e na dignidade humana. Direitos positivos são dados pelo estado, baseados 
na lei positiva e respaldado por alguma espécie de sanção. “Rejeitar o direito natural equivale a 
dizer que todo direito é positivo, e isto significa que direito é, exclusivamente, apenas aquilo 
que é determinado por legisladores e cortes de diversos países”. 

DIGNIDADE¹ HUMANA²: (1) Valor imputado a algo. (2) é o valor intrínseco de cada ser humano 
sem  levar  em  consideração  sua  condição  concreta.  Negar  o  aspecto  externo  da  dignidade 
humana a alguém, significa tratar a pessoa como objeto e não ser humano. 

RESPEITO: consiste no reconhecimento de nobres qualidades e mesmo de grandes conquistas 
realizadas pela pessoa. 

*  Modernidade  Líquida:  Zygmunt  Bauman  define  a  modernidade  como  “líquida”,  fluida,  a 


impermanência  e  a  constante  mudança  de  forma  nela  verificadas  nunca  têm  um  término:  O 
conceito  de  sociedade  líquida  caracteriza‐se  pela  incapacidade  de  manter  a  forma.  Nossas 
instituições,  quadros  de  referência,  estilos  de  vida,  crenças  e  convicções  mudam  antes  que 
tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades “autoevidentes”. Sem dúvida 
a  vida  moderna  foi  desde  o  início  “desenraizadora”,  “derretia  os  sólidos  e  profanava  os 
sagrados”, como os jovens  Marx e Engels notaram. […] A nossa é uma  era, portanto, que se 
caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e subverter as tradições, mas por evitar que padrões 
de conduta se congelem em rotinas e tradições. 

 A liberdade adquirida surgiu com o derretimento dos sólidos, tirando o indivíduo da terra 
firme e levando‐o ao oceano das incertezas. 
 Apenas transformou o indivíduo de cidadão político em consumidor de mercado. 

Para caracterizar a modernidade líquida, Bauman faz uma diferenciação no modo pelo qual as 
vidas  humanas  convivem.  As  comunidades  existentes  na  modernidade  sólida  eram  éticas. 
Bauman também as chama de compreensivas e duradouras, ou seja, genuínas. Elas se baseavam 
em normas e objetivos, nos quais os destinos eram partilhados visando à sua permanência. Na 
modernidade líquida, ocorre o inverso; Bauman designa suas comunidades como estéticas. Elas 
se  reúnem  em  torno  do  entretenimento,  de  celebridades  e  de  ídolos.  Essas  comunidades 
estéticas, comunidades‐cabide, dificilmente oferecem laços duradouros a seus membros. 

 As  comunidades  estéticas  não  permitem  a  condensação  das  comunidades  éticas. 


Impedem  a  sociabilidade  entre  as  pessoas  e,  assim,  contribuem  muito  para  a 
perpetuação da solidão do homem moderno. 

O ser humano líquido é um dos reflexos do novo jeito de pensar, no qual “virtualmente todos 
os aspectos da vida humana são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva 
de  longo  prazo  tenha  mais  sentido”.  A  certeza  está  na  constante  mudança,  devendo  cada 
indivíduo buscar por si próprio uma maneira de melhor sobrevivência. 

 “a  categoria  ou  ideia  de  fundo  não  é  o  ser,  mas  a  relação,  não  é  o  sujeito,  mas  a 
estrutura. […] Os homens não têm significado e não existem fora das relações que o 
instituem e especificam o seu comportamento” 
 Bauman  vê  o  ser  humano  transformado  numa  estrutura  flexível  programável  para  o 
consumo.  
 As  interações  sociais  e  os  laços  afetivos  estão  cada  vez  mais  fracos,  devido  à 
modernidade líquida.  
 Tudo passa a ter um cunho econômico, focalizando a materialidade nas relações. 
 Perguntar ‘quem você é’ só faz sentido se você acredita que pode ser outra coisa além 
de você mesmo”. 
 Na época líquido‐moderna, o mundo está repartido em fragmentos mal ajustados e as 
existências individuais seguem o mesmo parâmetro. Elas estão fatiadas numa sucessão 
de episódios fragilmente conectados. 

Identidade  (na  Modernidade  Líquida)  é  uma  das  palavras  que  vêm  ganhando  mais  espaço 
atualmente, quando se faz referência à vida humana e ao papel do indivíduo no meio em que 
vive. Se no passado a “arte da vida” consistia em encontrar os meios adequados para realizar os 
fins propostos, agora se trata de testar, um após o outro, todos (as inúmeras possibilidades) os 
fins,  de  acordo  com  os  meios  ao  alcance.  A  construção  da  identidade  é  infindável,  pois  seus 
experimentos nunca terminam. Quando o indivíduo assume uma, existem outras aguardando a 
sua  vez.  A  liberdade  de  escolher  uma  identidade  que  esteja  à  disposição  no  mercado  de 
consumo acaba sendo um valor em si mesmo. 

 O indivíduo é livre desde que seja maleável perante as investidas dos modismos criados 
e desmontados pelos meios de comunicação de massa. 
 O  traço  mais  vincado  da  “qualidade  de  vida”  é  existir  sempre  sob  a  forma  de  uma 
imagem, ao mesmo tempo em que essa imagem se encontra em perpétua mudança. 

Consumo: “Quando o Estado reconhece a prioridade e superioridade das leis do mercado sobre 
as leis da pólis, o cidadão transforma‐se em consumidor” (BAUMAN, 2000, p. 59). Ele torna‐se 
cada  vez  mais  individualista,  pensando  em  seus  próprios  ganhos,  enquanto  aceita  cada  vez 
menos a necessidade de participar no governo do Estado. Aumenta a distância entre o ideal de 
democracia  e  a  sua  versão  real  existente.  O  que  interessa  ao  cidadão  é  o  consumo  próprio, 
reduzindo‐se o mundo a uma gigantesca loja de departamentos, com prateleiras cheias das mais 
variadas ofertas. A  mentalidade  consumista perpassa toda a vida humana, transformando as 
atividades  cotidianas  em  algo  que  pode  ser  mercantilizado.  As  relações  com  os  outros  seres 
humanos, incluindo os amigos e membros da família, passam a ser vistas em termos de mercado, 
devido à mentalidade consumista. 

 A insatisfação nas relações revela profundamente uma insatisfação consigo mesmo, ou 
seja,  por  mais  que  o  indivíduo  esteja  sempre  atualizado,  nunca  será  a  melhor 
mercadoria  no  mercado  da  afetividade.  O  medo  e  a  ansiedade  de  ficar  de  fora  são 
eminentes. 
" QUEÇTOES SOCIAIS RrUClla E POLITICA

atentado à redação do jornal satí·


Liberdade O rico francês Char/ie Rebdo,em 7
de janeiro de 2015, que causou a
Havia um consenso nas mani-
festações: nada justifica os atas

de expressão morte de 12 pessoas, reacendeu o debate


terroristas. No entanto, levantou-
se um debate sobre os limites do humor.

em debate mundial sobre os limites da liberdade


de expressão. O ataque foi reivindicado
pelo ramo iemenita do grupo fundamen-
Tem lugar e sentido uma sátira que não
tem como alvo os poderosos"? Até que
ponto as charges do jornal não reforça-
Atentado terrorista na França talista islâmico AI Qaeda. O pretexto riam o preconceito contra a população
contra o jornal satírico para a brutal ação foi a série de alusões muçulmana marginalizada na França e
eharlie Hebdo amplia a satíricas da publicação ao profeta Mao- na Europa"? Muçulmanos podem sentir-
discussão sobre os limites do mé (Mohamed), considerada ofensiva -se incomodados - e até ofendidos -
humor e da livre manifestação por muçulmanos. O CharlieHebdoé um com desenhos retratando Maomé (o
de ideias no mundo jornal de humorcritíco permanente das que contraria preceitos islâmicos), bem
instituições de Estado, dos governos, dos como católicos podem não gostar de
políticos e de todas as religiões, incluindo sátiras com o papa
o cristianismo - majoritário na França. Para o humor do Charlie Hebdo e
onde é publicado -, mas também o isla- seus defensores, sagrada é a liberda-
mismo. o judaísmo e as demais. de. Numa sociedade verdadeiramente
A reação ao massacre correu o mun- democrática, a liberdade de expressão
do, a partir da França, com milhões de deve ser garantida até mesmo a quem
pessoas nas ruas solidarizando-se com tem opiniões contrárias às suas. Afinal,
as vítimas, em nome da liberdade de a liberdade seria um bem absoluto: não
expressão e recusando o medo. A frase há meia liberdade ou liberdade parcial.
"Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie") Mas e quando há questões e fonnas
tomou-se um símbolo contra o terror de expressão que envolvem preconcei-
e, com canetas e lápis nas mãos, muitos to, discriminação, apologia da violência
manifestantes afinnavam a importância ou incitação ao ódio? Em muitos países
de escrever e de desenhar livremente. europeus, como a própria França, é cri-

160 ' UTUAllDADU 2015 I l'l.mlltr.


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RESUMO
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No Brasil, a expressão Religião e politica


do pensamento é livre, HISTORIA o Iluminismo e,a Revolução
mas a Constituição Fr,ances,a, no século XVUI, consolid,aram
a ideia de Estado l,aico, em que o poder
condena todas as politico é separado da religiao.
formas de preconceito
ESTADO LAICO t aquele que mantém
neutralidade em matéria religiosa e
AMORXOOIO biografados, poderão resultar em inde- não adota nenhuma religião oficial. t
Manifestante em nizações. Mas, com a decisão, poderão seguido pela maioria das nações.
Paris t:arrega tartaz vir a público livros que chegaram a ser
que reproduz a capa lançados e foram recolhidos, histórias ESTADO RELIGIOSO t aquele em que a
do Jomat fr.tl1(~S contadas pela metade e outras que nem religião integra oficialmente as institui'
Charfie Hebdo. em 7 sairam do papel. Quem ganha com isso ções de Est,ado.A participação religiosa
de janeiro de 2015 é a coletividade. pode ser subjetiva, quando a cúpula da
Isso não quer dizer que a liberdade de religião tem voz nas decisões de Est,ado,
expressão não tenha limites no Brasil. ou organica, quando a Igreja participa
Além de assegurar o di reito à vida pri~ do governo. Eo caso de Irã e Din,amarca.
me negar o Holocausto judeu cometido vada, a Constituição também condena
pela Alemanha nazista durante a II todas as fonnas de preconceito. Portanto, FUNDAMENTALISMO No cenário global
Guerra Mundial (1939-1945). Alegando a liberdade de expressão não pennite cresce,a ,aç:l.o de grupos fundamenta-
que o governo francês concede privilé- que se discrimine ninguém: é crime. Para listas, que buscam impor os preceitos
gios ao judaísmo, muitos muçulmanos resolver, no dia a dia, os conflitos naturais religiosos como leis. O Estado Islamico,
que vivem no país reivindicam uma lei em uma sociedade complexa - entre as grupo armado que controla partes do
semelhante para proibir a reprodução opiniões expressas e os interesses con- território da Slria e Iraque, usa a crença
de imagens ofensivas ao profeta Mao- trariados porelas - existem os meios da religiosa com fins pollticos e bélicos.
mé. A discussão evidencia que mesmo Justiça O que se espera é que o Judiciá-
um país considerado o berço da demo- rio se aprimore para funcionar bem: de SHARIA Sistema de leis e/ou códigode
cracia moderna ainda não conseguiu fonna rápida, correta e sem distinções conduta para segu ido res do isl ami smo,
amadurecer plenamente o debate a ligadas à classe social e ao poderio eco- derivado do Alcorão. Tem diferentes in-
respeito da liberdade de expressão. nômico dos envolvidos. terpretações, podendo ser incorporada
No Brasil moderno, mesmo com a integralmente à constituição do pais
o debate no Brasil separação entre Estado e Igreja e com (como no Irã) ou adotada como alter·
De acordo com a Constituição bra- as garantias da Constituição, houve nativa aos muçulmanos que optam por
sileira, a expressão do pensamento é várias situações em que a liberdade de serem julgados por uma corte islamica
livre. Essa garantia se soma à proibi- expressão ficou em xeque por temas (Ubano e Nigéria).
ção do anonimato, para que cada um ligados à religião. Em 1986, a Igreja
assuma a responsabiJjdade pelo que Católica pressionou o governo e con- BRASIL O Estado brasileiro é laico desde
díz_ Aqueles que se sentem ofendidos seguiu impedir no país a exibição do a primeira Constituiç:l.o republicana, em
têm assegurado o direito de resposta, filmeJe Vaus Salue, Marie, do consagra- 1891. A Carta de 1988 veda que Uniâo,
além da indenização por dano material, do cineasta francês Jean-Luc Godard, estados e municlpios estabeleç,am cul·
mora1 ou à imagem. Com relação à pro- por supostamente blasfemar contra tos religiosos, criem subvenções ou
dução artística, o texto constitucional é a Virgem Maria. Em outro exemplo mantenham relaçâo de dependência
inequívoco: "É livre a expressão da ati- mais recente, a Arquidiocese do Rio de ou aliança com entidades religiosas.
vidade intelectual, artística, cientifica Janeiro tentou impedir que o cineasta
e de comunicação, independentemente José Padilha utilizasse a imagem do LIBERDADE DE EXPRESsAo O atentado
de censura ou licença". Cristo Redentor em um filme por con- ao jornal francês Charlie Hebdo provocou
Com base nisso, emjunho de2015, o siderar que as falas de um personagem um de bate mund ial sobre a liberd,ade de
Supremo Tribunal Federal (STF) jul- dirigidas à estátua eram ofensivas aos expressão. No Brasil, a Constituição ga·

I
I
gou uma Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade e encerrou a polêmica relativa
à publicação de biografias, derrubando
a necessidade de autorização prévia
da pessoa retratada. Eventuais abusos
católicos. O episódio gerou polêmica, e
a Cúria voltou atrás. Para muitos, nãose
pode aceitar que uma imagem como a
do Cristo Redentor, parte indissociável
do horizonte urbano, cultural e afetivo
rante que as pessoas possam se expressar
livremente. Os limites estao dados pela
proibiç:lo de violar a intimidade e a honra
de pessoas ou instituições. Em casos de
conflitos, pode--se recorrer àJustiça.
r por parte de biógrafos, como relatar dos cariocas, esteja sob controle de uma ................................
................... ............ .
r fatos inverídicos ou ofender a honra de instituição religiosa. 181

f GE ATlIAUOAOES2<llS l l 'um.. t•• 161

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