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Por isto
[1:00:00]
mesmo, é inútil discutir com um marxista, seja ele próprio Karl Marx, Lenin,
Jean-Paul Sartre ou qualquer outro, na base da verdade. A crítica lógica ao
marxismo não faz o menor sentido. Só uma faz sentido: o desmascaramento
psicológico. Você pode mostrar ao sujeito que ele é um maldito complexado,
que se considera um rato, e que imaginar ser o deus formador da práxis. É
uma autocompensação. Na medida que ele participa da práxis, ele tem um
senso de pertinência com algo que é muito maior que ele (...)
Olavo: Ah, sim. Há uma analogia com o super-homem do Nietzsche. Mas tem
uma diferença: o Nietzsche acreditava no super-homem. Mas esses caras não
acreditam nem super-homem, nem no [1:01:08], nem em coisa alguma. Só
acreditam na práxis (...)
Aluno: Eles são o super-homem que se tornam o último homem? Acho que é
(...)
Acontece que o modo marxista de pensar ele é tão, tão, tão alheio às
categorias do pensamento humano que aos que pretendem criticar o marxismo
acham que o fariam como com as outras teorias, confrontando-a no terreno da
lógica e dos fatos. É assim: 99% da crítica liberal e conservadora é baseada
nisso. Por exemplo, o que faz o von Mises? Exatamente isso. Ele mostra que a
economia comunista é impossível na prática. Não é que ela é impossível na
prática, mas na própria teoria, porque ela não foi feita para ser realizada, meu
Deus do céu. Não existe economia comunista. Não existe e jamais existirá. Se
você pegar qualquer regime comunista tem-se uma ampla margem para
economia privada ali no meio, oficialmente ou extra-oficialmente. Hoje sabe-se
que a economia soviética era 50% privada clandestina, e era sempre assim,
porque a economia socialista não se destina a ser realizada. A única coisa que
é possível fazer é um meio-a-meio, quer dizer que você está sempre
negociando com capitalismo. Essa mistura de economia privada e estatal que
está em toda parte, que tem no Brasil, nos Estados Unidos, na China, e que é o
quê? Uma parte da práxis. Um deles avança um pouquinho e depois cede
terreno para o outro, o comunismo integra o capitalismo na sua estratégia e
assim por diante. Isso não terminará nunca e não foi feito para terminar. Caso
termine, o tribunal da história tornou-se presente, é o Juízo Final, e isso eles
não querem, porque não são idiotas.
Antes de tudo, eu queria agradecer a todos vocês pela difusão do curso Política
e Cultura no Brasil, que começará no dia 12, e que o estou dando por duas
razões: (a) uma de ordem patriótica e (b) outra de ordem egoísta. Que é por
um lado absolutamente necessário esclarecer o quanto antes os fatores
estruturais mais constantes que estão por baixo de toda a situação a qual
vivemos e só com base nisso poderemos fazer uma previsão mais ou menos
adequada do que virá a acontecer, e todos estão precisando fazê-la. E a razão
pessoal é que eu tenho um problema contratual com esta casa, que nós
compramos, e por uma burrada minha, acabei caindo em uma armadilha a qual
ou eu liquido a hipoteca inteira de uma vez, ou teremos que sair daqui e perder
tudo o que gastamos na casa durante 10 anos. Então, lançarei um curso com
uma matrícula relativamente alta para tentar cobrir um pedaço desse negócio
e que permita-me negociar uma saída. Então eu agradeço a todos por estarem
salvando o Brasil [1:10:00] e a mim.
Aluno: A formação da consciência não se dá, como ensina Louis Lavelle, na
região de contraste entre a nossa vida interior e a vida interior com quem nos
relacionamos? Não seria correto substituir "conflito" por "contraste" ou
"diferença"?
Olavo: É claro que sim! O conflito é só uma das muitas maneiras possíveis de
relação, mas eu acrescentaria algo mais. Eu não acredito que a
autoconsciência se forme e sim que o sujeito a tem desde que nasce, mas é
apenas uma autoconsciência tosca que cresce, amplia-se e integra-se, ou seja,
é um tipo de crescimento orgânico. E essa autoconsciência cresce por conflito
mas por apropriação do mundo externo. Por exemplo, se eu digo: o mundo
externo é apenas uma coleção que não fazem o menor sentido; então eu não
poderia orientar-me dentro dele nem mesmo por um minuto, e não poderia
aprender a andar. É uma tese absolutamente impossível sob todos os aspectos.
Ela seria possível se você fizesse com Descartes, Hegel, Marx, Sartre ou Freud
e tantos outros que raciocinam a partir do conceito do "ego" e não sobre uma
experiência efetiva.
Olavo: Sei lá. Ficou solto. Ele não aderiu a nada que eu saiba.
Aluno: Só largou!
Você não verá nenhum desses filósofos dá a menor importância a nada do que
é bom e positivo no mundo. Tudo começa com o mal, com a hostilidade, com o
terror, com o conflito; todo. O que é isso? É uma inclinação pessoal. E vêem as
coisas dessa maneira porque foi assim que a vida se apresentou para eles.
Para eles a vida de conflito, de terror parece normal, quando qualquer pessoa
sabe que a vida não se constitui apenas disso. A vida tem luzes e trevas,
misturadas, e obviamente mais luzes que trevas, senão jamais teríamos
sobrevivido. Essas pessoas possuem conflitos interiores muito mal elaborados.
Todos eles. Você vê pela vida deles. O dr. Freud, por exemplo, com tantas
mulheres no mundo ele foi comer logo a cunhada. Isso é normal? O sujeito ter
que comer quem está dentro de casa, ele não pode sair na rua para pegar uma
mulher ou ir a um bordel. Por quê? Ele não tinha coragem para fazer isso e
tinha que pegar dentro da família. É evidente que é um sujeito deficiente.
Vejamos Karl Marx. O filho que ele teve com a empregada, que ele não o
deixava comer na mesa, junto com ele. Ora, eu já tive empregada que tinha
filhos, que não eram meus evidentemente, mas eles comiam comigo na
mesma mesa. Festejávamos aniversários juntos. Por quê? Enquanto está ali, é
criança e é pequeno, eu o considero filho meu. Não interessa se é filho da
empregada. Isso é um impulso normal do ser humano, por mais hierárquico
que seja, mesmo você sendo um aristocrata e a outra é somente uma
empregada, ainda há o impulso de amor ao próximo. Ser rico ou importante
não impede isso. Mas esses caras realmente não tinham isso, eles não sabiam
o que era [o amor ao próximo]. Essa dimensão da vida parecia não existir.
Alguém aqui até me pergunta:
Aluno: Qual a diferença do conceito do eu entre Hegel, Fichte e Schelling (...)
Meu professor diz que Schelling copiou Hegel e é um charlatão.
Olavo: Bom, ele copiou Hegel no início da vida. Esse professor tem um
conhecimento muito deficiente da filosofia de Schelling. Existem quatro
filosofias de Schelling, sucessivas. E a verdade é que ele só acertou a mão no
final da vida. Ele ficou muito tempo longe do ensino universitário porque ele
casou com uma mulher divorciada de um ex-amigo dele e isso foi um
escândalo. Ele só voltou depois de muito velho e fez dois cursos magistrais: (a)
filosofia da mitologia e a (b) filosofia da religião; que são o acabamento da
filosofia de Schelling. Quem não leu isso, não conhece Schelling. Não há uma
tradução portuguesa até hoje. Eu sei que existe uma tradução francesa muito
boa da Filosofia da Religião e uma tradução antiga, não tão boa, da Filosofia da
Mitologia. Mas a tradução da Filosofia da Religião é maravilhosa. Para quem lê
francês, está ai. Acho que deve existir uma tradução espanhola, eu não sei.
Schelling é muito difícil de ser lido em alemão, Hegel não, ele é fácil. Hegel é
um escritor excelente e faz umas frases curtinhas e incisivas. Já Schelling não.
Ele faz períodos de uma página e meia. O verbo está no fim e para você saber
o que está acontecendo tem-se que chegar até ele, mas como chegar no fim se
não se está entendendo nada? É uma coisa horrorosa. Eu não consigo ler
Schelling em alemão de jeito nenhum. Hegel eu ainda consigo um pouquinho.
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Somente nas obras que você entenderá onde que o Schelling queria chegar:
ele estava entre as trevas, lutando contra elas, mas no fim acabou entendendo
tudo. Somente hoje a Filosofia da Mitologia e a Filosofia da Religião estão
sendo estudadas para valer. O sujeito estava tão adiante do que os caras
estavam discutindo na época que só hoje estão começando a entender o que
foi a filosofia de Schelling.
Olavo: Com certeza. Além disso, instinto de morte é uma figura de linguagem
quando ele fala disso. Qualquer auto-restrição ou autonegação quer dizer que
você deseja morrer? Faça-me o favor. Isso é um negócio absolutamente
hiperbólico. Quer dizer que o pensamento metafórico e metonímico domina
essas pessoas. É que nem o Georges Bataille. No livro dele, O Erotismo, a
primeira frase: "do erotismo pode-se dizer que ele é semelhante a morte". Oh,
raios; eu nunca tinha reparado nisso, pensava que era o contrário. Eu morrerei
se for para cama com uma mulher? Como diria o Woody Allen: "isso seria um
tremendo atraso para minha vida sexual".
Olavo: Muito bom! Isto é muito bom. Desde que vocês não tomem as
conclusões disso como definitivas. Isso é apenas um treinamento. Você não
deve esquecer o seguinte: "toda atividade escolar é um teatro". O teatro
significa que nada do que ali se passa é realidade. Você não terá que responder
por aquilo. Você está apenas experimentando pensar de certas maneiras para
ver o que dá para no fim tirar as conclusões.
Olavo: Muito!
1
Disponível em: http://old.olavodecarvalho.org/textos/sonetos.htm.
sobre o sentido profundo da célebre frase de Schopenhauer: "toda vida é
sofrimento".
Olavo: "Toda vida é sofrimento", "toda vida é alegria", "toda vida é prazer",
"toda vida é amor". "Tudo é" tal coisa - essa frase é sempre errada. Ela é
sempre uma impressão do momento. E essa impressão pode ser
tremendamente persuasiva se você tem aquela experiência em particular. Mas
lembre-se que você não teve somente essa experiência. Teve outras. A filosofia
começa quando você coteja o universo inteiros as experiências. E o que você
busca? A unidade do conhecimento na unidade da consciência.
Muito bem, eu acho que hoje podemos parar por aqui porque já bastante longo.
Novamente eu agradeço pela sua colaboração, peço que continuem
colaborando e, os que poderem, participem do curso Política e Cultura a partir
do dia 12.