Sei sulla pagina 1di 9

É um processo de autodivinização psicótica, evidentemente.

Por isto
[1:00:00]
mesmo, é inútil discutir com um marxista, seja ele próprio Karl Marx, Lenin,
Jean-Paul Sartre ou qualquer outro, na base da verdade. A crítica lógica ao
marxismo não faz o menor sentido. Só uma faz sentido: o desmascaramento
psicológico. Você pode mostrar ao sujeito que ele é um maldito complexado,
que se considera um rato, e que imaginar ser o deus formador da práxis. É
uma autocompensação. Na medida que ele participa da práxis, ele tem um
senso de pertinência com algo que é muito maior que ele (...)

Aluno: Tipo o super-último-homem ou super-homem (übermensh) do


Nietzsche?

Olavo: Ah, sim. Há uma analogia com o super-homem do Nietzsche. Mas tem
uma diferença: o Nietzsche acreditava no super-homem. Mas esses caras não
acreditam nem super-homem, nem no [1:01:08], nem em coisa alguma. Só
acreditam na práxis (...)

Aluno: Eles são o super-homem que se tornam o último homem? Acho que é
(...)

Olavo: Isto conversamos outro dia. A analogia entre isso (marxismo) e o


Nietzsche é mais complicada. Vamos deixar para outro dia. Eu não consigo
pensar duas coisas ao mesmo tempo.

Acontece que o modo marxista de pensar ele é tão, tão, tão alheio às
categorias do pensamento humano que aos que pretendem criticar o marxismo
acham que o fariam como com as outras teorias, confrontando-a no terreno da
lógica e dos fatos. É assim: 99% da crítica liberal e conservadora é baseada
nisso. Por exemplo, o que faz o von Mises? Exatamente isso. Ele mostra que a
economia comunista é impossível na prática. Não é que ela é impossível na
prática, mas na própria teoria, porque ela não foi feita para ser realizada, meu
Deus do céu. Não existe economia comunista. Não existe e jamais existirá. Se
você pegar qualquer regime comunista tem-se uma ampla margem para
economia privada ali no meio, oficialmente ou extra-oficialmente. Hoje sabe-se
que a economia soviética era 50% privada clandestina, e era sempre assim,
porque a economia socialista não se destina a ser realizada. A única coisa que
é possível fazer é um meio-a-meio, quer dizer que você está sempre
negociando com capitalismo. Essa mistura de economia privada e estatal que
está em toda parte, que tem no Brasil, nos Estados Unidos, na China, e que é o
quê? Uma parte da práxis. Um deles avança um pouquinho e depois cede
terreno para o outro, o comunismo integra o capitalismo na sua estratégia e
assim por diante. Isso não terminará nunca e não foi feito para terminar. Caso
termine, o tribunal da história tornou-se presente, é o Juízo Final, e isso eles
não querem, porque não são idiotas.

Houveram marxistas que intenderam isso? Sim, Stalin e o pessoal da KGB.


Quem não o entendem são os filósofos. Qualquer filósofo marxista comparado
a Stalin é um bebê. Porque Stalin sabe como funciona o processo e sabe o que
está fazendo nele, mas os outros não sabem, só no terreno das ideias. Porém,
esse modo de pensar impregnou-se em outras correntes de pensamento. Por
exemplo, algumas correntes cristãs que imaginavam uma sociedade ou o Reino
de Cristo na Terra. Quando vocês o querem? Amanhã, ou depois? No Juízo Final
não adianta porque o próprio Jesus o fará e não você. Então o Reino de Cristo
na Terra também foi feito para ser empurrado com a barriga. Não chegará
nunca. E o que ele é? É um modo de pensar marxista esvaziado, esvaziado
deste conteúdo, e preenchido com outros elementos. O mundo liberal ou a
utopia liberal do Murray Rothbard, onde tudo é privatizado: o exército, a polícia
e até as ruas e os seus paralelepípedos; todo privado. E isso foi feito para ser
realizado? Claro que não. Isto é uma luta permanente pelo liberalismo
que jamais poderá ser realizada pois um dia você teria que fazer a
contabilidade. Quer dizer você privatiza tudo e se um país socialista lhe invadir,
o que você fará? As empresas privadas o defenderam? Ou você necessitará de
um Estado para defendê-lo? Por exemplo, o número de liberais que
argumentam que a sua economia é mais eficiente. Todos eles só raciocinam
sobre um país isolado, fazendo abstração da geopolítica, e daí claro, a
economia liberal seria soberana. Agora, quando há outro país querendo
destruir o seu, eu deveria agir pela doutrina liberal, fazendo apologia ao livre
comercio e deixando-o fazer o que quiser usando este pretexto de livre
comercio, ou fazer uma lei protecionista para impedir que ele tome todo o
nosso dinheiro como a China vem fazendo? É claro que você apelará para o
protecionismo, não que você o seja doutrinariamente... [01:06:02] também era
outro utópico. O ideal protecionista jamais se realizará. Se todas as nações
forem igualmente protecionistas o comercio internacional acabaria. Isto
também não é realizável.

O número de esquemas hegelianos que estão em circulação é muito grande.


Muita gente pensa assim sem perceber que é um filhote de Hegel. Isso não
quer dizer que eu estou esculhambando com Hegel. Uma vez eu observei o
seguinte: as filosofias antigas, Platão e Aristóteles, estão certas em sua
totalidade e erradas em uma multidão de detalhes; as modernas, são o
contrário, estão erradas na sua totalidade, mas com muitos detalhes corretos,
e estes detalhes as tornam preciosas. Hegel, por exemplo, têm analises
históricas fantásticas. O próprio Marx também. Então é claro que não podemos
jogar tudo isso fora, mas não quer dizer que devemos continuar sendo
hegelianos inconscientes. Devemos exorcizar este fantasma.

[Intervalo – retomada da aula em 1:08:39]

Antes de tudo, eu queria agradecer a todos vocês pela difusão do curso Política
e Cultura no Brasil, que começará no dia 12, e que o estou dando por duas
razões: (a) uma de ordem patriótica e (b) outra de ordem egoísta. Que é por
um lado absolutamente necessário esclarecer o quanto antes os fatores
estruturais mais constantes que estão por baixo de toda a situação a qual
vivemos e só com base nisso poderemos fazer uma previsão mais ou menos
adequada do que virá a acontecer, e todos estão precisando fazê-la. E a razão
pessoal é que eu tenho um problema contratual com esta casa, que nós
compramos, e por uma burrada minha, acabei caindo em uma armadilha a qual
ou eu liquido a hipoteca inteira de uma vez, ou teremos que sair daqui e perder
tudo o que gastamos na casa durante 10 anos. Então, lançarei um curso com
uma matrícula relativamente alta para tentar cobrir um pedaço desse negócio
e que permita-me negociar uma saída. Então eu agradeço a todos por estarem
salvando o Brasil [1:10:00] e a mim.
Aluno: A formação da consciência não se dá, como ensina Louis Lavelle, na
região de contraste entre a nossa vida interior e a vida interior com quem nos
relacionamos? Não seria correto substituir "conflito" por "contraste" ou
"diferença"?

Olavo: É claro que sim! O conflito é só uma das muitas maneiras possíveis de
relação, mas eu acrescentaria algo mais. Eu não acredito que a
autoconsciência se forme e sim que o sujeito a tem desde que nasce, mas é
apenas uma autoconsciência tosca que cresce, amplia-se e integra-se, ou seja,
é um tipo de crescimento orgânico. E essa autoconsciência cresce por conflito
mas por apropriação do mundo externo. Por exemplo, se eu digo: o mundo
externo é apenas uma coleção que não fazem o menor sentido; então eu não
poderia orientar-me dentro dele nem mesmo por um minuto, e não poderia
aprender a andar. É uma tese absolutamente impossível sob todos os aspectos.
Ela seria possível se você fizesse com Descartes, Hegel, Marx, Sartre ou Freud
e tantos outros que raciocinam a partir do conceito do "ego" e não sobre uma
experiência efetiva.

A apropriação desse mundo, por sua vez, seria impossível se as coisas-em-si


não me dissessem nada, se todo sentido fosse projetado por mim em cima
delas. Eu não estou livre para projetar um sentido. Eu não estou livre para
poder chamar uma lata de sardinha de Elefante, nem ao contrário. Essa
liberdade eu não possuo. Eu tenho que apreender às essências das coisas,
relativamente, e saber onde elas são o que são e até que ponto estas podem
ser transformadas por mim. Até mesmo os objetos que são transformados. A
madeira, por exemplo, você pode usá-la para fazer uma mesa, uma cadeira
etc. Mas ela tem a sua própria resistência e consistência, ela é alguma coisa
por si mesma além daquilo que você a transforma. Descobrir como são essas
coisas é a forma de conviver e apropriar-se delas. Se você não sabe o que elas
são não há apropriar-se delas.

A instalação do ser humano na realidade não é um processo de conflito com a


realidade. Tem-se conflitos com partes da realidade e com outras não,
evidentemente. Não se pode dizer que quando você está serrando uma
madeira há um conflito com ela. Isso é uma figura de linguagem
despropositada e não descreve o que está realmente acontecendo. O que você
faz é aproveitar-se de propriedades da madeira, que além de servirem para ela
servem para você, portanto tem-se um acordo; uma convergência. A madeira
tem suas conveniências e você as suas, e há uma região de intersecção entre
elas. É assim que a autoconsciência se expande. Quando o garoto começa a
mexer-se, no bercinho, ou pegar as primeiras coisas, o que ele está fazendo?
Ele está entrando em conflito? Há um conflito com a mamadeira por acaso,
quando ele a pega, meu Deus do céu? Que coisa absolutamente ridícula.

Se essas pessoas insistiram nisso é porque elas possuem, na sua psique, um


elemento conflitivo que nelas é dominante. É uma necessidade interior de ver
tudo sobre esse aspecto, de reduzir tudo a um lado conflitivo, e sempre
temível. Claro, há elementos temíveis no universo, mas existem também
amáveis. Se tudo fosse temível, nós nem o perceberíamos, meu Deus do céu!
Assim como há objetos que me aparecem desprovidos de sentido, porque eu
não sei o que eles são, há outros cujo sentido se revela imediatamente. Não só
para mim, mas até mesmo para um animal, um macaco [por exemplo]. Se você
der ao macaco uma banana, ele a usará como arma para bater na cabeça de
outro macaco ou irá comê-la? Se ele a come é porque sabe o que ela é. Essas
coisas contradizem a experiência mais elementar que o ser humano tem desde
o seu nascimento. Essas pessoas são malucas mesmo. Freud, Marx, Hegel,
Schopenhauer, todos eles são birutas, meu Deus do céu!

A carreira científica não exige do indivíduo a sua personalidade. Não exige


nada, somente que ele fale bem, e acabou. Não precisa fazer mais nada. Ele
não será julgado por seus atos. A indiferença ética do filósofo moderno é um
dos grandes escândalos da história. Por exemplo, Max Scheler, que é um
filosofo que eu admiro - excelente; mas que tinha suas maluquices também.
Ele comia tudo quanto é mulher que encontrava e ao mesmo tempo dava
lições de cristianismo. E certo dia um padre o perguntou: "o senhor fica
ensinando cristianismo e comendo até mesmo as mulheres dos seus alunos,
não combina". Daí ele [Scheler] disse: "o poste que indica o nome da rua não
sai andando por ela". Quer dizer que ele só indicava o caminho, mas não ia por
lá. No fim, ele acabou largando o cristianismo. Mas o Max Scheler era uma
personalidade instável que tinha momentos de brilho incomum e outros de
cegueira, como todo mundo.

Aluno: Ele largou o cristianismo e foi parar onde?

Olavo: Sei lá. Ficou solto. Ele não aderiu a nada que eu saiba.

Aluno: Só largou!

Você não verá nenhum desses filósofos dá a menor importância a nada do que
é bom e positivo no mundo. Tudo começa com o mal, com a hostilidade, com o
terror, com o conflito; todo. O que é isso? É uma inclinação pessoal. E vêem as
coisas dessa maneira porque foi assim que a vida se apresentou para eles.
Para eles a vida de conflito, de terror parece normal, quando qualquer pessoa
sabe que a vida não se constitui apenas disso. A vida tem luzes e trevas,
misturadas, e obviamente mais luzes que trevas, senão jamais teríamos
sobrevivido. Essas pessoas possuem conflitos interiores muito mal elaborados.
Todos eles. Você vê pela vida deles. O dr. Freud, por exemplo, com tantas
mulheres no mundo ele foi comer logo a cunhada. Isso é normal? O sujeito ter
que comer quem está dentro de casa, ele não pode sair na rua para pegar uma
mulher ou ir a um bordel. Por quê? Ele não tinha coragem para fazer isso e
tinha que pegar dentro da família. É evidente que é um sujeito deficiente.
Vejamos Karl Marx. O filho que ele teve com a empregada, que ele não o
deixava comer na mesa, junto com ele. Ora, eu já tive empregada que tinha
filhos, que não eram meus evidentemente, mas eles comiam comigo na
mesma mesa. Festejávamos aniversários juntos. Por quê? Enquanto está ali, é
criança e é pequeno, eu o considero filho meu. Não interessa se é filho da
empregada. Isso é um impulso normal do ser humano, por mais hierárquico
que seja, mesmo você sendo um aristocrata e a outra é somente uma
empregada, ainda há o impulso de amor ao próximo. Ser rico ou importante
não impede isso. Mas esses caras realmente não tinham isso, eles não sabiam
o que era [o amor ao próximo]. Essa dimensão da vida parecia não existir.
Alguém aqui até me pergunta:
Aluno: Qual a diferença do conceito do eu entre Hegel, Fichte e Schelling (...)
Meu professor diz que Schelling copiou Hegel e é um charlatão.

Olavo: Bom, ele copiou Hegel no início da vida. Esse professor tem um
conhecimento muito deficiente da filosofia de Schelling. Existem quatro
filosofias de Schelling, sucessivas. E a verdade é que ele só acertou a mão no
final da vida. Ele ficou muito tempo longe do ensino universitário porque ele
casou com uma mulher divorciada de um ex-amigo dele e isso foi um
escândalo. Ele só voltou depois de muito velho e fez dois cursos magistrais: (a)
filosofia da mitologia e a (b) filosofia da religião; que são o acabamento da
filosofia de Schelling. Quem não leu isso, não conhece Schelling. Não há uma
tradução portuguesa até hoje. Eu sei que existe uma tradução francesa muito
boa da Filosofia da Religião e uma tradução antiga, não tão boa, da Filosofia da
Mitologia. Mas a tradução da Filosofia da Religião é maravilhosa. Para quem lê
francês, está ai. Acho que deve existir uma tradução espanhola, eu não sei.

Schelling é muito difícil de ser lido em alemão, Hegel não, ele é fácil. Hegel é
um escritor excelente e faz umas frases curtinhas e incisivas. Já Schelling não.
Ele faz períodos de uma página e meia. O verbo está no fim e para você saber
o que está acontecendo tem-se que chegar até ele, mas como chegar no fim se
não se está entendendo nada? É uma coisa horrorosa. Eu não consigo ler
Schelling em alemão de jeito nenhum. Hegel eu ainda consigo um pouquinho.
[1:20:00]

Somente nas obras que você entenderá onde que o Schelling queria chegar:
ele estava entre as trevas, lutando contra elas, mas no fim acabou entendendo
tudo. Somente hoje a Filosofia da Mitologia e a Filosofia da Religião estão
sendo estudadas para valer. O sujeito estava tão adiante do que os caras
estavam discutindo na época que só hoje estão começando a entender o que
foi a filosofia de Schelling.

Fichte reduziu tudo ao Eu. Só o Eu existe e ele nega a existência do mundo,


talvez um pouco mais presunçoso que Hegel e Sartre. Mas Schelling entende
que o eu humano é uma doação divina. Ele entende que a frase "Eu sou o eu
sou" (que traduzem as vezes "Eu sou o que sou", não é bem isso). "Eu sou o eu
sou", "Eu sou o eu ser"; isso é um atributo divino. Não somos um "eu"
completamente, mas sim de um "eu" e alguma coisa. A começar pelo que você
come e incorpora-se no seu corpo. A não ser que você acredite que é o que se
come. É uma coisa horrível. Você pode ser um abacaxi ou uma salsicha e assim
por diante, mas eu não acredito nisso. Quer dizer que esse elemento [a
comida] é parcialmente integrado. Se você faz cocô então é uma parte que não
se integra, meu filho! Passou por você, mas não era você. Do mesmo modo
algumas idéias, que se incorporam, mas depois você as joga fora e que não
eram o "eu". O nosso "eu" é imperfeito: ele jamais se completa. Ele é o sinal de
Deus como toda identidade. Uma coisa ser alguma coisa é ela refletir a
unidade e permanência do ser, ainda que imperfeitamente. Por isso Schelling
dizia: "Não desprezem o princípio de identidade, ele é Deus". E eu acho que
essa frase é a mais maravilhosa da filosofia do século XIX. Mas ele só entendeu
isso no final. Ele passou por uma fase hegeliana mesmo e acaba discutindo
com Hegel etc. Mas tudo isso não interessa, como dizia o próprio Hegel: "você
é aquilo que você se torna". É importante entender que esse "se torna" é um
produto final. O famoso “tel qu’en Lui-même enfin l’éternité le change”. Quer
dizer que você adquire uma forma final e não a muda, na hora da morte põem-
se um ponto final. Você é o que você foi. Se não fosse isso, a influência post
mortem seria impossível e não estaríamos falando nem de Hegel, de Marx, de
Sartre ou de coisa nenhuma.

Este processo, não da formação, porque a autoconsciência já existe e ela se


amplia e afirma, por um processo infinitamente complexo, que incluem
elementos conflitivos, é claro, mas que não se reduz a ele. Ele é muito mais
bem descrito pelo Louis Lavelle do que por todos esses [Hegel, Marx etc]. Eu
acho Louis Lavelle maior que Hegel, Marx... Só dá para compará-lo com
Schelling, não há outro.

Aluno: Apenas Hegel é percussor histórico dessa retomada da prevalência


teórica dos contrários? Freud também caiu nessa tendência quando opôs
instinto de vida com o de morte?

Olavo: Com certeza. Além disso, instinto de morte é uma figura de linguagem
quando ele fala disso. Qualquer auto-restrição ou autonegação quer dizer que
você deseja morrer? Faça-me o favor. Isso é um negócio absolutamente
hiperbólico. Quer dizer que o pensamento metafórico e metonímico domina
essas pessoas. É que nem o Georges Bataille. No livro dele, O Erotismo, a
primeira frase: "do erotismo pode-se dizer que ele é semelhante a morte". Oh,
raios; eu nunca tinha reparado nisso, pensava que era o contrário. Eu morrerei
se for para cama com uma mulher? Como diria o Woody Allen: "isso seria um
tremendo atraso para minha vida sexual".

Esse pessoal pega semelhanças que só existem no reino verbal, através do


jogo de metáforas e metonímias, e os usa como se fosse verdade. É claro que
aquilo pode parecer verdadeiro se você for sensível àquele aspecto da
realidade no momento. Se você não é, basta dizer simplesmente: "não, não é
assim". Outra coisa comun a todos esses camaradas é a noção de que a
autoconsciência do ser humano tende a nascer de uma coisa que não é ela
mesma: ou nasce do inconsciente, ou do conflito, ou de sei mais o quê. Mas por
que não dizer que ela existe por já está aí desde o início? Você acha que o bebê
não tem autoconsciência alguma? Ele tem, pelo menos, no sentido corporal.
Alguma autoconsciência ele tem, se você beliscá-lo, ele saberá que foi nele.
Até uma ameba sabe disso, se você cutucá-la, ela sairá correndo. Então como o
ser humano não a teria? Tem-se uma autoconsciência, rudimentar, que cresce
por ampliação e apropriação, e não por conflito. Se fosse por conflito você não
passaria da primeira semana. Se o universo todo fosse conflitante, a coitada da
autoconsciência, que nem mesmo existe, já nasceria levando porrada, e ainda
cresce. Isso seria o milagre dos milagres. Nem Deus faz um treco desses.

Aluno: O senhor poderia comentar a relação entre autoconsciência e


decadência ou debilidade corporal? Digo porque me lembro que quando estive
doente, a minha autoconsciência e percepção das coisas, significativa, ficou
temporariamente mais desenvolvida.
Olavo: Isto é verdade! Porém é a debilidade que cria a autoconsciência? Você
não esteve doente por mais tempo que eu. Eu sei como essas coisas
funcionam. Não é a debilidade que cria isso, é o esforço de concentração.
Então não é a debilidade. A debilidade simplesmente cria para você uma
situação na qual você não sairá se não fizer um esforço de concentração. Você
poderá morrer também. Nada o impede disso. Assim como não impede de ficar
mais burro; alguns ficam. Por exemplo, pessoas que tiveram infarto geralmente
ficam burras por seis meses, pelo menos. Se o sujeito teve um infarto não o
contrate para fazer nenhum serviço, pois ele fará burrada; espere ele melhorar.
A debilidade cria um desafio, que você poderá responder positivamente ou
negativamente. Se você responder positivamente não será por causa da
doença, não foi a doença que fez este milagre, foi você que fez. A
autoconsciência se recusa a deixar-se amortecer, como o corpo, e ela luta para
se preservar. É um esforço que sai de dentro. E esse esforço não é dirigido
contra doença enquanto tal, você não está pensando nela. Essa experiência eu
realmente tenho e eu de fato adquiri, por exemplo, uma paciência fora do
comum. O pessoal diz "eu não sei como o senhor agüenta" e eu falo "eu fui
treinado para isso desde criança", para agüentar uma situação de desconforto
durante longos anos fazendo de conta que não estou sentindo nada e acabo
não sentido mesmo.

Você explicar o sucesso e o desenvolvimento pelo antagonismo é como


justificar a vitória de um boxeador pela força do seu antagonista. Se você dizer:
"ah, o Mike Tyson foi lá e ganhou a luta porque o Evander Holyfield era mais
forte". Isto é um absurdo! É uma coisa tão boboca que não devia ser nem
pensada. É uma força que vem de dentro e não criada pelo antagonismo, mas
ao contrário. Ela vence o antagonismo porque ela é alguma coisa. Se é assim
com você, então, explique-me isso: "eu fiquei forte porque comecei a levar
porrada, logo que nasci, antes de poder reagir". É claro que isso [a
autoconsciência] não é assim.

Aluno: O senhor diz que exorcizar o espírito inconsciente de Hegel, seria


preciso exorcizar o hegelianismo inconsciente. Schopenhauer foi um grande
adversário da filosofia de Hegel. O estudo de Schopenhauer poderia ajudar
neste objetivo?

Olavo: Definitivamente, não! Porque o mundo de Schopenhauer também é o


mundo do conflito. Você nasce em um mundo onde que é dirigido por uma
força cega e irracional, que ele chama de "a vontade". Isso também é um
brutal exagero. Por que que Schopenhauer via as coisas assim? Olha, ao nascer
eu enfrentei o antagonismo das condições ambientes como poucas pessoas. Eu
nasci em condições extremamente desfavoráveis e não tive a impressão de
que o universo inteiro era assim. Por quê? [1:30:00] Porque no meio desses
antagonismos havia coisas muito boas: a minha vó me contava histórias, a
minha mãe me fazia carinho, eu tinha uns brinquedinhos para brincar. Era tudo
cheio de coisas positivas, senão eu não teria agüentado, meu Deus do céu. Eu
estou aqui tudo é dirigido por uma força cega e hostil, onde eu estou sozinho
na jogada. Você está ferrado, meu filho. Isso definitivamente não é assim.
Agora, por exemplo, você pode criar uma fantasia poética, enfatizando esse
fato poeticamente. Vale como imagem. Tudo isso que eu estou falando sobre
Hegel, Marx, Schopenhauer vale como figura de linguagem. São construções
poéticas que expressam impressões, ou seja, neste momento estou tenho
impressão de que é tudo um conflito e daí eu expresso aquilo. Há um soneto
meu chamado "O olho direito" 1, onde eu expresso um momento de revolta
contra o mandamento divino: "se o meu olho direito me escandaliza, o senhor
manda furá-lo, e faço de conta que não vejo e o negócio fica pior ainda".
Naquele momento eu estou me opondo a Deus. Isto não quer dizer que eu seja
contra Deus. É a impressão de expressões do momento. Essas impressões
podem ser enormemente persuasivas se você sentiu a mesma.

Agora, a começa quando você filosofia transcende a esfera da poesia. Quando


você transcenda a esfera das impressões, e você diz "eu tive essa impressão,
mais aquela, mais aquela, mais aquela; mas o que é verdade por baixo ou para
além de tudo isso?". Quando você quer algo mais que a autoexpressão. Claro
que sem a autoexpressão você não chegaria a isso. Se não existissem
documentos poéticos e literários de mil e um estados de consciência, de mil e
uma impressões; nós jamais poderíamos filosofar. As obras poéticas nos dão a
base imaginativa sobre a qual iremos filosofar. Então precisamos delas: eu não
estou desfazendo da poesia. Só que a filosofia começa depois disso. Quando
você já colecionou um monte de impressões e você começa a esquematiza-las,
no sentido de unidade. Qual é a unidade, a ordem e o sentido por trás de todas
essas impressões incongruentes que eu tenho?

Aluno: Eu e outros colegas do COF estamos pensando em realizar uma


atividade parecida com o que Voegelin descreve em suas Reflexões
Autobiograficas. Trata-se de reunir pessoas que estudam determinados
assuntos e uma delas dá uma espécie de conferência enquanto as demais
acabam com ele, expondo seus erros de uma vez (...)

Olavo: Muito bom! Isto é muito bom. Desde que vocês não tomem as
conclusões disso como definitivas. Isso é apenas um treinamento. Você não
deve esquecer o seguinte: "toda atividade escolar é um teatro". O teatro
significa que nada do que ali se passa é realidade. Você não terá que responder
por aquilo. Você está apenas experimentando pensar de certas maneiras para
ver o que dá para no fim tirar as conclusões.

Aluno: (...) o senhor acredita que essa atividade é frutífera?

Olavo: Muito!

Aluno: (...) que orientações poderia dar?

Olavo: Dependem do que forem discutir a gente volta a conversar.

Aluno: Em relação ao conflito dialéctico, lembrei que Schopenhauer no


livro Mundo como Vontade de Representação, cita um exemplo muito
interessante e representativo da formiga buldogue da Austrália. Seccionada
em duas partes, a cabeça morde a calda, que se defende bravamente com
ferroadas. A luta dura meia-hora até que as partes morrem ou são carregadas
por outras formigas. É precisamente a partir, por assim dizer, "teatro" de
autólise que se compreende o sofrimento essencial das criaturas. Isso lança luz

1
Disponível em: http://old.olavodecarvalho.org/textos/sonetos.htm.
sobre o sentido profundo da célebre frase de Schopenhauer: "toda vida é
sofrimento".

Olavo: "Toda vida é sofrimento", "toda vida é alegria", "toda vida é prazer",
"toda vida é amor". "Tudo é" tal coisa - essa frase é sempre errada. Ela é
sempre uma impressão do momento. E essa impressão pode ser
tremendamente persuasiva se você tem aquela experiência em particular. Mas
lembre-se que você não teve somente essa experiência. Teve outras. A filosofia
começa quando você coteja o universo inteiros as experiências. E o que você
busca? A unidade do conhecimento na unidade da consciência.

Muito bem, eu acho que hoje podemos parar por aqui porque já bastante longo.
Novamente eu agradeço pela sua colaboração, peço que continuem
colaborando e, os que poderem, participem do curso Política e Cultura a partir
do dia 12.

Muito obrigado, fiquem com Deus.

Transcrição: Mateus F. Lima, 16/03/2018 [mateusf5ferreira@gmail.com]

Potrebbero piacerti anche