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Parnasianismo Brasileiro

1582-1922

Charles Borges Casemiro

Editora Casemiro
@
São Paulo
2014
PARNASIANISMO BRASILEIRO
1882-1922

COPYRIGHT @ 2014:
CHARLES BORGES CASEMIRO

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:
EDITORA CASEMIRO
2

CAPA:
VASO GREGO: HTTP://WWW.BEATRIZLAGOA.COM.BR/CLASSICOS.HTML.

PREPARAÇÃO DE TEXTO:
CHARLES BORGES CASEMIRO
IEDA FERREIRA BANQUERI CASEMIRO

REVISÃO:
CHARLES BORGES CASEMIRO
IEDA FERREIRA BANQUERI CASEMIRO

DADOS CATALOGRÁFICOS NA FONTE:


CASEMIRO, CHARLES BORGES. PARNASIANISMO BRASILEIRO: 1882-1922. SÃO
PAULO: CASEMIRO, 2014.

LITERATURA BRASILEIRA: 869.0.81


LITERATURA BRASILEIRA: CRÍTICA 869.0.81.09
20 PÁGINAS.

EDITORA CASEMIRO
@
2014
Charles Borges Casemiro

Parnasianismo Brasileiro
1882-1922

Editora Casemiro
@
São Paulo
2014
PARNASIANISMO NO BRASIL (1882/1922)

1. Parnasianismo

A poesia parnasiana instalou-se no Brasil no mesmo momento em que se dava a prosa


realista-naturalista. Estendeu sua vitalidade desde 1870 até a Semana de Arte Moderna de 1922.

Por conta da simultaneidade histórica, alguns críticos chegam a associar o Parnasianismo 4


ao movimento realista, a ponto de afirmar que ele seria a manifestação poética do próprio
Realismo.

No entanto, diferentemente do Realismo, o Parnasianismo ficou alheio à realidade.


Apegou-se a um formalismo vazio e artificial, que destoava do compromisso ideológico realista,
chamando a atenção para uma estética elitista que pregava a “arte pela arte”.

Fruto, entretanto, de uma época cientificista, o Parnasianismo pendeu, no campo da


linguagem, assim como o Realismo, para um tratamento estético racionalista, formalista e
tecnicista, que se contrapunha, em última instância, à subjetividade, à emotividade e à liberdade
formal que alicerçava a estética romântica de até então.

Os parnasianos fizeram-se, isto sim, poetas oficiais de uma “bela época” brasileira ao sabor
da cultura européia. Propuseram uma renovação da poesia que significava, a bem da verdade,
uma retomada em escala exagerada da estética clássica e renascentista européia.

Iniciado na França em 1866, ocasião da publicação da antologia Le Parnase


Contemporain – que reuniu composições de diversas tendências poéticas – o Parnasianismo
consagrou Leconte de Lisle, Theóphile Gautier, Théodore Banville, José Maria Herédia, Charles
Baudelaire, Sully Prudhomme (ganhador do Prêmio Nobel em 1901), Paul Verlaine, Stéphane
Mallarmé, entre outros defensores do princípio da “arte pela arte” – estética de reação contra o
romantismo e contra o cientificismo na arte, obtendo como resultado, de um lado, o
Parnasianismo, e, de outro lado, como contraponto, o Simbolismo.

No Brasil, o Parnasianismo foi inaugurado pela publicação do livro de poesia Fanfarras


(1882), de Teófilo Dias.

A partir de 1883, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Vicente de


Carvalho se incumbiram de conduzir a “carruagem do Parnaso”, formando uma espécie de
escola parnasiana brasileira.

Características do Parnasianismo:

Reação contra o subjetivismo e contra a liberdade formal do Romantismo e, ao mesmo


tempo, contra o aprofundamento das relações entre a arte e a realidade comum;

Retomada do racionalismo e da objetividade da arte clássica e renascentista, coerente com


o momento tecnicista do final do século XIX;

Descritivismo e artificialidade: apresentação de objetos artísticos, valorizando a


metalinguagem e a descrição minuciosa;
Rigor, perfeição e beleza formal: vocabulário raro, frases rebuscadas, métrica
harmoniosa, rimas ricas, ritmo equilibrado, uso de modelos fixos da beleza clássica e
renascentista;

Temática: “arte pela arte” – metalinguagem artística: culto à beleza de objetos artísticos;
épica: culto às cenas e figuras colhidas do universo épico antigo, da história oficial ou da
mitologia pagã; reflexões filosóficas: a existência.

2. Olavo Bilac (1865/1918)

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Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865, onde também
morreu em 1918. Foi o melhor poeta parnasiano brasileiro, ao lado de Alberto de Oliveira e
Raimundo Correia.

Sua temática parnasiana passa, de um lado, pela metalinguagem artística – definindo a


poesia, descrevendo a beleza de objetos de arte clássicos e de cenas cultuadas pela Antigüidade;
passa ainda, de outro lado, pela história oficial do Brasil – promovendo o culto poético,
acadêmico e ufanista aos heróis e aos fatos históricos nacionais.

Bilac, entretanto, conseguiu superar o convencionalismo temático parnasiano ao lançar


mão de uma subjetividade mais intensa para expressar certos conflitos interiores, sobretudo,
aqueles ligados ao amor, à sensualidade, ao problema da morte e ao problema do sentido da
existência. Em seu momento mais lírico, pode-se notar uma ligeira popularização de seus
recursos estéticos, que sempre primaram pela perfeição formal.

Por conta de suas ligações com a Academia Brasileira de Letras, Bilac foi aclamado o
“príncipe perpétuo dos poetas brasileiros”.

Obra:

Poesia (1888)

“Primeiros Versos”
“Panóplias”
“Via Láctea”
“Sarças de Fogo”
“Alma Inquieta”
“As Viagens”
Tarde (1918)

Texto I

Profissão de Fé

“Le poète est ciseleur,


Le ciseleur est poète.”

(Victor Hugo)

Não quero o Zeus Capitolino


Hercúleo e belo
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro – não eu – a pedra corte


Para, brutal
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,


Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista,
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Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara


A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,


Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,


A idéia veste:
Cinge-lhe a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima,


A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,


Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,


Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar-te um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,


O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia,


Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena


Segue esta norma.
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma! (...)

(Bilac, Olavo. Poesia - Nossos Clássicos, Rio de Janeiro, Agir, 1976)

Observar no texto:
7
a) O aparecimento de figuras mitológicas: Zeus, Hércules, Athene;
b) O tema metalinguístico: a arte pela arte, versando sobre a própria perfeição da poesia
parnasiana e sobre a atitude do artista diante de sua arte;
c) O vocabulário preciosista: ora antigo (camartelo, pena, ofício), ora culto e raro (rubim,
cingir, hercúleo);
d) A frase rebuscada, requintada: repleta de inversões da ordem direta (hipérbatos);
e) Comparações e analogias – exemplos: entre a atividade do ourives e a atividade do poeta,
definindo a poesia como uma jóia perfeita e o poetar como atento e árduo trabalho
técnico; entre a poesia e outros objetos de arte de perfeição formal;
f) A pregação do formalismo, do culto à serena e equilibrada forma;
g) O uso de versos simétricos e equilibrados (observar regras de proporção entre os versos):
octossílabos (com acento tônico na segunda, quarta e oitava sílabas) e o quadrissílabo
(com acento tônico na segunda e quarta sílabas);
h) O emprego de rimas raras, que encontra sua perfeição ao rimar palavras de classes
gramaticais diferentes, mantendo a mesma consoante de apoio.

Texto II

Via Láctea

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

(Bilac, Olavo. Poesia - Nossos Clássicos, Rio de Janeiro, Agir, 1976)


Observar no texto:

a) O soneto clássico em sua perfeição modelar: o uso do verso decassílabo sáfico (acento
tônico na quarta, oitava e décima sílaba); o vocabulário culto; frases requintadas
(hipérbatos: inversões na ordem dos termos; paralelismo entre construções; elipses:
apagamentos; uso da segunda pessoa do plural; teatralidade: diálogos e personagens);
b) A procura da expressividade, de um lirismo mais livre em que a natureza é testemunha e
cúmplice das emoções do eu-lírico;
c) A dramaticidade conseguida pela presença do diálogo e da personificação da natureza.

Texto III
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José do Patrocínio

Quando, ao braço o broquel, combatias, sozinho,


Calmo, o gládio imortal vibrando às mãos, certeiro,
De que bênçãos de mãe era feito o carinho
Que ungia a tua voz, glorioso Justiceiro?

Treva, em cuja espessura os sóis fizeram ninho!


Foi de dentro de ti que, para o cativeiro,
Saiu, como um doirado e alegre passarinho,
Num gorjeio de luz, o consolo primeiro...

Hoje, do mar da inveja, em vão, para o teu rosto


Sobe o lodo... Sorris: e injúrias e ironias
Vão de novo cair no podre sorvedouro...

E, eterno, à eterna luz dos séculos exposto


Ficas, – tu, que, ao nascer, já na pele trazias
A imorredoura cor do bronze imorredouro!

(Bilac, Olavo. Poesia - Nossos Clássicos, Rio de Janeiro, Agir, 1976)

Observar no texto:

a) O uso do verso alexandrino – mais raro, de difícil realização (com acento tônico na sexta e
décima segunda sílaba);
b) O tema “patrioteiro”, nacionalista, expresso na forma de soneto, do poema
homenageástico, que exalta a figura do líder político abolicionista, republicano e liberal
José do Patrocínio, importante figura da história do Brasil no século XIX.
Texto IV

In Extremis

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia


Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera 9


Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! o vento

Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...


E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vezes mais, a morte...

Eu, com o frio a crescer no coração, – tão cheio


De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!

(Bilac, Olavo. Poesia - Nossos Clássicos, Rio de Janeiro, Agir, 1976)

Observar no texto:

a) O ritmo declamatório e sonoro dos versos alexandrinos, oscilando com versos


hexassílabos em 5 estrofes que obedecem a seguinte fórmula: 5, 4, 4, 5, 4 versos;
b) A musicalidade determinada pela presença de aliterações, de assonâncias, de reiterações,
da pluralidade e da tonicidade;
c) A antítese entre a segunda e a terceira estrofe: a segunda descrevendo a realidade exterior
(universo sensorial) e a terceira descrevendo a realidade interior (estado de alma); essa
tensão entre o plano sensorial e o plano emocional é a base de sustentação do próprio
poema;
d) O predomínio de construções coordenadas, mais próprias ao descritivismo;
e) O paralelismo sintático e o hipérbato como requinte de frase;
f) O vocabulário rico;
g) As construções anafóricas e os verbos no gerúndio como elementos de intensificação do
ritmo;
h) Forte presença do lirismo e a discussão sobre a morte; postura e tema mais próprios ao
Romantismo e ao Simbolismo; a morte, no entanto, não é cultuada, é colocada como
interrupção dos prazeres da vida, o que de novo nos remete à postura clássica e à poesia
de Castro Alves (ex. “Mocidade e Morte”);
i) A analogia entre a imagem da natureza e a imagem da figura amada; o contraste entre a
situação do nascer do dia e a chegada da morte para o eu-lírico.

Texto V

Satânia

Nua, de pé, solto o cabelo às costas, 10


Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva. (…)

Como uma vaga preguiçosa e lenta


Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe… Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe… e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! – prossegue

Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,


Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca. (…)

Aos mornos beijos, às carícias ternas


Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânia... abre um curto sorriso de volúpia.

(Olavo Bilac in: Gonzaga, Sergius. Manual de Literatura Brasileira, Porto Alegre, Mercado
Aberto, 1993, p. 121)

Observar n texto:

a) O erotismo, a sensualidade e a tonalidade mais cotidiana do tema;


b) A erotização do ambiente a partir da prosopopéia (personificação);
c) A manutenção do formalismo, apesar da forma mais livre das estrofes;
d) A representação da figura feminina como retomada do lirismo amoroso “donjuanista”
de Castro Alves: a mulher sensualizada;
e) A adjetivação impressionista, ressaltando aspectos sensoriais: luz, sons, movimentos,
cores, perfumes.
Leitura Complementar

3. Raimundo Correia (1860/1911)

Raimundo da Mota de Azevedo Correia nasceu no Maranhão em 1860 e morreu em Paris


em 1911. Em sua poesia reverberam o racionalismo, o formalismo e o artificialismo da escola
parnasiana. Vale ressaltar o sentido plástico que obteve de suas descrições da natureza,
verdadeiros quadros impressionistas.

Apesar disso, em alguns poemas procurou dar vazão à sensibilidade e à subjetividade –


heranças de seu romantismo de estréia com os poemas de Primeiros sonhos.
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Em sua poesia mais típica, seguiu a temática parnasiana: a natureza, a perfeição formal dos
objetos e a cultura clássica.

Em sua poesia mais lírica, a filosofia e a meditação, marcadas pela desilusão e por forte
pessimismo ganharam maior espaço.

Destacam-se seus poemas: “As pombas”; “Mal secreto”; “Anoitecer”; “A cavalgada”; e


“Plena nudez”.

Obra:

Sinfonias (1883)
Aleluias (1891)

Texto I

Plena Nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura:


Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero em pleno esplendor, viço e frescura


Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas…

Não quero, a Vênus opulenta e bela


De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,


Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!

(Raimundo Correia)
Observar no texto:

a) O racionalismo, o formalismo e o artificialismo parnasiano;


b) O antibarroquismo presente na primeira estrofe;
c) Valorização do corpo e da nudez, dos traços limpos, da clareza das imagens;
d) A gradação da última estrofe manifestando o culto à deusa da beleza clássica.

Texto II

As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada…


Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada… 12

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoadas…

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais…

(Raimundo Correia)
Observar no texto:

a) As imagens impressionistas na apresentação da natureza;


b) A antítese entre o movimento das pombas registrado na primeira e o registrado na
segunda estrofe oferecendo uma imagem da natureza como analogia de um dado
existencial;
c) A analogia e/ou comparação entre a natureza das pombas e a existência não se mostra,
entretanto, exata: o movimento das pombas tem retorno; os sonhos e existência não
têm retorno.

Texto III

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora


N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,


Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo


Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,


Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

(Raimundo Correia)
Observar no texto:

a) O forte pessimismo e a desilusão com o mundo das aparências;


b) A insistência nos recursos formais clássicos;
c) A pendência romântica e simbolista: busca da essência, da alma, do mundo interior; 13
d) A anáfora (reiterações), a aliteração (repetições consonantais), a assonância (jogos
vocálicos) como contribuições rítmicas e musicais.

Alberto de Oliveira (1857/1937)

Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu em 1857 no Estado do Rio de Janeiro e lá


faleceu em 1937. Suas poesias tornaram-se o melhor exemplo do preciosismo, da exatidão e do
rigor da técnica parnasiana.

Apesar de se mostrar o mais típico poeta do Parnasianismo brasileiro, Alberto de Oliveira


revela certas características românticas; mesmo assim, seu lirismo se fez de modo bastante
contido, mantendo-se próximo do artificialismo e da técnica clássica. A maior parte de seus
poemas reduzem-se a representações mecânicas da natureza e de objetos decorativos. Destacam-
se entre eles os poemas “Última deusa” e “Vaso grego”.

Obra:

Meridionais (1884)
Versos e Rimas (1895)

Texto I

Última Deusa

Foram-se os deuses, foram-se, em verdade;


Mas das deusas alguma existe, alguma
Que tem teu ar, a tua majestade,
Teu porte e aspecto, que és tu mesma, em suma.

Ao ver-te com esse andar de divindade,


Como cercada de invisível bruma,
A gente à crença antiga se acostuma
E do Olimpo se lembra com saudade.

De lá trouxeste o olhar sereno e garço,


O alvo colo onde, em quedas de ouro tinto,
Rútilo rola o teu cabelo esparso...

Pisas alheia terra... Essa tristeza


Que possuis é de estátua que ora extinto
Sente o culto da forma e da beleza.

(Alberto de Oliveira)
Observar no texto:

a) O racionalismo, o formalismo e o artificialismo parnasiano;


b) O descritivismo e a impassibilidade;
c) A exaltação das formas perfeitas: a imagem da mulher é análoga à imagem das deusas
pagãs.

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Texto II

Vaso Grego

Esta, de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia


Então, e, ora repleta, ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mais o lavor da taça admira,


Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se de antiga lira


Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

(Alberto de Oliveira)

Observar no texto:

a) O descritivismo, a artificialidade e o formalismo parnasianos;


b) A presença da cultura clássico-pagã;
c) A exaltação das formas perfeitas.

Vicente de Carvalho (1866/1924)

Vicente Augusto de Carvalho nasceu em Santos em 1866 e morreu em São Paulo em 1924.
Apesar do rigor formal de sua obra, não possui exatamente características parnasianas, pois não
abandonou a expressividade sentimental herdada do Romantismo. A vista do mar e das
paisagens praianas, sempre em consonância com os estados de alma, constituem os temas
constantes de sua obra.

Obra:

Ardentias (1885)
Relicário (1888)
Rosa, A Rosa de Amor (1902)
Poemas e Canções (1908)

Texto I

Velho Tema

Só a leve esperança, em toda a vida,


Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
15
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,


Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos


Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

(Vicente de Carvalho)

Exercícios

1. (UNITAU)

"Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso,


O palácio imperial de pórfiro luzente
E mármor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra, em prata incrustado, o nácar do Oriente."

O texto acima reflete a valorização da poesia objetiva, descritiva e plástica da escola:

a) parnasiana.
b) barroca.
c) simbolista.
d) modernista.
e) romântica.

2. (UFPE) É incorreto afirmar que, no Parnasianismo:

a) a natureza é apresentada objetivamente;


b) a disposição dos elementos naturais (árvores, estrelas, céu, rios) é importante por obedecer
a uma ordenação lógica;
c) a valorização dos elementos naturais torna-se mais importante que a valorização da forma
do poema;
d) a natureza despe-se da exagerada carga emocional com que foi explorada em outros
períodos literários;
e) as inúmeras descrições da natureza são feitas dentro do mito da objetividade absoluta,
porém os melhores textos estão permeados de conotações subjetivas.

3. (UEL) Em seus poemas mais representativos, os poetas parnasianos cultivavam:

a) a simplicidade da Natureza, a musicalidade das palavras doces e a confissão dos


sentimentos.
b) o vocabulário raro, a metrificação impecável e as rimas preciosas.
c) o jogo de antíteses, a angústia da divisão psicológica e o tema da vida efêmera.
d) o verso livre, a rima apenas ocasional e os temas diretamente ligados ao cotidiano.
e) a retórica da indignação e do protesto, a participação política e os temas sociais.

4. (F. Santo André) Poemas como “Anoitecer” e “A cavalgada”, de Raimundo Correia, ou 16


“Vaso Chinês” e “Vaso Grego”, de Alberto de Oliveira, exemplificam uma feição típica
do Parnasianismo. É ela

a) o descritivismo.
b) o pendor filosofante.
c) a preocupação com temas particulares e individuais.
d) a valorização da Antigüidade greco-latina.
e) a expressão indireta do autor.

5. (F. ABC) Assinale a alternativa que caracteriza o Parnasianismo.

a) Subjetivismo, imaginação e sentimentalismo.


b) “Sob o manto diáfano da fantasia, a nudez crua da verdade.”
c) Impassibilidade, perfeição formal, rimas raras, seleção vocabular.
d) Registro de impressões, emoções e sentimentos despertados no espírito do poeta.
e) Liberdade de expressão, o cotidiano e o bom humor.

6. (PUC/SP) Observe a estrofe:

“Esta, de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda, do Olimpo, a um novo deus servia.”

Aspectos que nela se fazem evidentes, tais como a impessoalidade, o culto da forma e a
descrição nítida, permitem que, conhecida a orientação estética a que estão ligados, se
possa facilmente indicar o autor de “Vaso Grego”.

a) Alberto de Oliveira.
b) Cruz e Sousa.
c) Gonçalves Dias.
d) Gregório de Matos.
e) Vinícius de Moraes.

7. (UEL) Com a poesia parnasiana, passaram a ser valorizados:

a) o culto preciosista da forma e o recurso aos padrões da estética clássica.


b) a expressão espontânea dos sentimentos e o idealismo nacionalista.
c) os obscuros jogos de palavras e o sentimento de culpa religioso.
d) a expressão em versos brancos e os detalhes concretos da vida cotidiana.
e) as paisagens de natureza melancólica e o estilo grave das confissões.

8. (FAAP)
As Pombas

“Vai-se a primeira pomba despertada...


Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas 17
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...”
(Raimundo Correia)

Este poema de Raimundo Correia espelha dois tipos de assunto: o (.................) em que a
natureza nos aparece com uma fidelidade absolutamente realista, sem interferência do
poeta que apenas nos transporta para um quadro profundamente colorido e sonoro e o
(..................), mostrando-nos o homem vencido pelo destino.

a) árcade / socialista
b) paisagista / coletivista
c) místico / filosófico
d) pastoril / marxista
e) descritivo / psicológico

Tarefa

T1. (FEI/SP) “O Caçador de Esmeraldas” imortaliza em versos de perfeição clássica a epopéia


das bandeiras.

“Sete anos! Combatendo índios, febres, paludes,


Feras, reptis, – contendo os sertanejos rudes,
Dominando o furor da amotinada escolta.
Sete anos!… E ei-lo volta, enfim, com o seu tesouro!
Com que amor, contra o peito, a sacola de couro
Aperta, a transbordar de pedras verdes! – volta…”

a) Quem é o poeta?
b) Quem é o herói festejado?
T2. (MACK/SP) Assinale a alternativa incorreta.

a) A poesia barroca, representada no Brasil por Gregório de Matos, caracteriza-se


principalmente pelos jogos de oposições e pelo rebuscamento de linguagem.
b) A poesia lírica arcádica caracteriza-se pela racionalização dos sentimentos e pela busca
de simplicidade de linguagem.
c) A poesia lírica romântica denuncia o tom passional do eu-lírico que se torna centro de
todas as relações.
d) O estilo parnasiano se compõe de movimento e da fluência das imagens.
e) O estilo simbolista, criado pelos franceses, gera imagens sugestivas e expressa o fluxo das
sensações.

T3. (PUC/SP) A respeito de “Via Láctea”, de Olavo Bilac, é lícito dizer que 18

a) contém poemas onde o autor compara o trabalho do poeta ao lavor do ourives.


b) há uma profunda influência da Ilíada, mas também da Odisséia, ainda que em pequena
escala.
c) é uma coletânea de poemas, cujo tema é o amor sensual, vazado em versos de ritmos
neoclássicos, em que se observa muitas vezes uma estruturação intencional com vista à
chave de ouro do soneto.
d) é uma coletânea onde o principal tema é o céu noturno.
e) n.d.a.

T4.
“Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara


A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,


Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,


A idéia veste:
Cinge-lhe a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima,


A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,


Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito. (…)”
a) Qual é o tipo de verso e de acentuação tônica utilizados nos versos de Olavo Bilac?

b) Retire do texto exemplo de rima rica.

c) Retire do texto exemplo de frase rebuscada.

d) Retire do texto exemplo de riqueza vocabular.

e) Qual é o conceito de poesia parnasiana que emerge do conteúdo do texto?

T5. (UFPR)
19
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

(Raimundo Correia)

Assinale a alternativa que exprime a oposição fundamental desse texto.

a) Corpo versus espírito.


b) Gente feliz versus gente infeliz.
c) Piedade versus falsidade.
d) Essência do ser versus aparência.
e) Dor versus falsidade.

T6. (UEM)

Texto I

“Se não tivermos lãs e peles finas,


podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”

Texto II

“Torce, aprimora, alteia, lima


A frase, e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,


Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito. (…)”

Baseando-se na leitura dos trechos acima, assinale o que for correto e, depois, some os
valores atribuídos.
(01) O excerto I ilustra a afirmação: O bucolismo árcade visava representar a sadia
rusticidade dos costumes rurais, sobretudo dos pastores.

(02) O excerto II denota a preocupação do Parnasianismo pela forma requintada.

(04) Os excertos I e II denotam despreocupação com a forma.

(08) O excerto I é constituído de seis versos.

(16) No excerto II ocorrem rimas ricas.

(32) Todos os versos do excerto I são decassílabos. 20

(64) Em todos os versos do excerto II, há correspondência entre o número de sílabas


métricas e o número de sílabas gramaticais.

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