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RESUMO
1 Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo. Artigo apresentado ao
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFES enquanto aluno especial do programa de mestrado na disciplina de
Teoria e História da Arquitetura e da Cidade, sob orientação da Professora Clara Luiza Miranda. Vitória, 2018.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa parte, por um lado, de uma certa desconfiança boa, de que há algo valioso
a ser entendido, e por outro lado, da falta de encontros suficientes que possam alimentar
esse entendimento. A ideia de desenvolver o assunto da ficção e sua relação com a
arquitetura e a cidade foi e é estimulada por uma experiência pessoal do autor durante o
desenvolvimento do seu trabalho final de graduação. A ficção se mostrou como uma
interessante metodologia para o trabalho teórico e crítico, com o uso da narrativa,
personagens e cenários fictícios, metáforas e alegorias, fazendo parte integral da obra e
definindo assim seus resultados. Portanto, acredita-se que a ficção como recurso criativo
aliado à escrita e ao projeto venha a ter grande contribuição para o pensamento teórico
sobre a arquitetura, sobre a cidade e os fenômenos atuais. Essa é a principal premissa
deste esforço em dar um pontapé inicial no mapeamento e aprofundamento do assunto,
levantando também questões antes não abordadas. Procura-se, no momento, uma
experimentação e investigação aberta sobre um modo de olhar as coisas que se distancie
da imparcialidade e do puro cientificismo e da razão da História moderna e sirva como
ferramenta para pensar novas poéticas da arquitetura através, nem que seja (ou que seja,
principalmente) através das histórias contadas por nós mesmos.
Segundo o filósofo,
“na verdade, a linguagem é a única coisa que propriamente pode-se dizer ter uma
estrutura, seja esotérica ou mesmo não-verbal. Existe uma estrutura do inconsciente
apenas na medida em que o inconsciente fala e é linguagem. Existe uma estrutura de
corpos apenas na medida em que os corpos devem falar com uma linguagem que é um
dos sintomas. Mesmo as coisas possuem uma estrutura apenas na medida em que
mantêm um discurso silencioso, que é a linguagem dos signos.”
Por mais que os domínios explorados pelos estruturalistas sejam variados, seus métodos,
problemas e soluções são análogos. Dessa forma, Deleuze elenca sete critérios para se
entender o que é o estruturalismo, e talvez o primeiro critério seja o que mais nos
interesse no momento, na medida em que procura distinguir o que seria o real, o
imaginário e o simbólico. Não se tem a intenção aqui em descrever todos os critérios
elaborados por Deleuze, todos de grande importância no seu entendimento sobre o
pensamento estruturalista (como a diferenciação, a singularidade ou a topologia), mas
antes buscar um entendimento geral e esboçar algumas intenções que podem nos
aproximar do pensamento proposto na pequisa.
A questão que se faz então, com relação ao tema desta pesquisa é: como se observar
e/ou trabalhar o simbólico numa narrativa de ficção e na arquitetura? Como transpor de
uma coisa à outra, texto e objeto arquitetônico e vice-versa? Quais relações contém entre
si? E qual seria a importância dessa abordagem?
Peter Eisenman foi um dos pioneiros no esforço em teorizar uma Arquitetura Conceitual.
Tendo como inspiração a Arte Conceitual norte-americana, em especial os postulados em
Sentences on conceptual Art de Sol Lewitt, Eisenman publica seu Notes on conceptual
architecture em uma atitude avant garde, falando sobre o que poderia ser uma arquitetura
conceitual. A Arte Conceitual propunha em suas obras explicitar o processo e o
mecanismo (termo utilizado pelo pensamento estruturalista e que privilegia o conceito de
montagem) propondo uma arte como crítica à própria arte de forma provocativa.
De acordo com Passaro (2009), esta arquitetura, “situada nas margens do estruturalismo
e sintonizada com o pensamento pós-estruturalista, propõe uma inflexão na tradição
humanista ocidental, ao pensar o mundo desde a ausência de fundamentos e desde a
decomposição do tempo histórico”. A uma “linguagem própria” da disciplina, os arquitetos
procuram deslocar a ideia de representação para um distinto entendimento das noções de
sujeito, tempo e espaço.
Este estudo buscou mapear, de forma primária, alguns trabalhos de arquitetura que se
aproximam de um esforço de caráter fictício no projeto. Fica claro a contribuição do
pensamento estruturalista, bem como toda reflexão da Arte Conceitual, englobando aqui
toda a teoria da linguística e o que veio a se transformar no pensamento pós-
estruturalista, para uma aproximação do projeto de arquitetura e a narrativa textual. O
trabalho de Hejduk exprime bem isso: o deslocamento do sujeito, e até a falta dele, a
atemporalidade através da quebra cronológica do tempo histórico e os “devaneios
surrealistas”, elevando assim a importância da ficção, ou melhor, do próprio texto ou
leitura na obra para o resgate e construção da memória. Nesse sentido, parece que uma
arquitetura textual se mostra aberta à diferentes experimentações de leitura, quase como
uma colagem, dando um interessante caráter fragmentário à obra: uma abertura para
novas e outras possibilidades de se escrever a História.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Infância em Berlim por volta de 1900. In: _____ Magia e Técnica,
Arte e Política – ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas, volume I,
2ª edição, São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.
DELEUZE, Gilles. How to recognize structuralism? In: Desert Island and Other Texts,
1953-1974. Los Angeles: Semiotext(e), 2004.
FRANK, Suzanne. Peter Eisenman's House VI: The Client's Response. New York:
Watson-Guptil Publications, 1994.
PASSARO, Andres Martin; BRONSTEIN, Laís. Rua de mão dupla: leituras berlinesas
de John Hejduk e Daniel Libeskind. ARQTEXTO (UFRGS), v. 13, p. 98-121, 2009.