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CURSO FORMAÇÃO DE

mediadores de leitura

A LEITURA
Literária
Lílian Martins

Gra
tui
to!

3
FASCÍCULO
APRESENTAÇÃO
A leitura da palavra não é apenas precedida pela Caro(a) leitor(a), por meio deste módulo Ao final, entenderá como esse gosto da
leitura do mundo, mas por uma certa forma de você terá um breve conhecimento sobre a leitura literária acompanha e estimula o
“escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de Leitura Literária. desenvolvimento da prática leitora e como
transformá-lo através de nossa prática consciente. No decorrer dos estudos, aprenderá a essas práticas podem criar condições para
Paulo Freire, em A Importância de Ler. diferenciar um texto literário de outro que a formação de leitores mais críticos.
não pode ser entendido como literatura. Espero, sinceramente, que a partir de
Conhecerá também as razões pela escolha agora o seu olhar diante de uma obra literá-
do trabalho com a leitura literária e o que ria seja outro, muito mais afetivo e disposto
a diferencia de outros tipos textuais para à aventura da entrega e do deleite que so-
que possa atuar melhor como media- mente a experiência com a linguagem lite-
dor(a) de leitura. rária pode nos oferecer. Está preparado(a)?
Ao longo deste fascículo, você será Advirto logo: Você pode se apaixonar...
capaz de identificar quais são os gêneros E se você ainda não se inscreveu em
literários e a sua classificação. Em seguida, nosso curso gratuito, não perca tempo, to-
entenderá como funciona o ato de ler e as das os módulos, mesmo o(s) que você per-
dimensões da leitura que perpassam muitos deu, pode encontrar aqui:
outros aspectos além do texto impresso.
Desta forma, irá descobrir o porquê da ava.fdr.org.br
leitura ser um instrumento de mudança
social a partir da interação leitor-texto.
Você compreenderá também a contri-
buição da leitura literária para a formação
leitora e o que faz esse tipo de texto ser tão
especial e mais adequado para desenvol-
ver o prazer de ler, o gosto pela leitura.
Mágico, não é?

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1.
AFINAL, O QUE
É MESMO ESSA
LITERATURA?
A pergunta aparentemente singela traz
uma dúvida bastante antiga de filósofos,
estetas, críticos e historiadores. É por
essa razão que qualquer tentativa de res-
pondê-la, de forma genérica, poderia nos
fazer cair em erro, pois quando se fala em
Literatura, ainda não há um consenso,
portanto, mesmo os estudiosos preferem
dizer somente sobre o seu conceito, evi-
tando, assim, a armadilha de sua possível
definição. Vejamos:

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Desde a Antiguidade Clássica, já se per- É importante lembrar que o conceito
guntavam: o que é literatura? Esse vocábulo aristotélico se refere apenas à poesia, uma
é originário do termo, em latim, littera que vez que a prosa literária como conhecemos,
significa: “arte de escrever” e era utilizado hoje, (conto, romance, novela e crônica)
para designar o ensino das primeiras letras. ainda não era cultivada.
Ao escrever a Poética, Aristóteles diz: “a arte A partir do século XX, se irradiou a im-
literária é mimese da realidade”. Posterior- portância da ficção como característica
mente, este conceito foi revisto por Alfonso da Literatura por meio dos estudos de I.
Reyes que defende mimese ser uma “imita- A. Richards, R. Ingarden, Günther Müller,
ção de presença subjetiva, correspondente W. Kayser, R. Wellek e Manfred Kridl. As
à coerência ou semelhança entre a casa que origens desse conceito de Literatura como
o arquiteto constrói e a que vislumbra em ficção remontam a Lessing e Goethe. Por
sua mente”. Desta forma, mimese não seria isso, podemos dizer que Literatura é ficção
uma cópia, mas recriação em que o poeta se entendermos esses conteúdos como
(re-)cria, com seus próprios meios – a sua compostos das “imagens” deformadas e
linguagem – um mundo à imagem e seme- transfundidas do mundo real. Desta ma-
lhança do mundo real, porém que só exis- neira, se admite a equivalência entre ima-
te na experiência verbal. ginação e ficção.

Ficção:
criação artística (teatral, literária,
cinematográfica) em que o(a) autor(a)
faz uma leitura particular e original da
realidade; prosa literária construída
a partir de elementos imaginários
baseados na realidade e/ou de
elementos da realidade inseridos em
um contexto imaginário.

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A arte literária se define, portanto,
como expressão dos conteúdos da imagi-
nação, conforme um duplo movimento de
representação em que essas imagens ora
seriam representações objetivas, ora repre-
sentações sensíveis da realidade expressas,
muitas vezes, por meio de metáforas.
Nas últimas décadas, esse conceito tem
se consolidado com contribuições de im-
portantes críticos como Tzvetan Todorov,
Christopher Butler, Alvin B. Kernan e Stanley
E. Fish. Assim, se entende que a literatura, e
por extensão a arte literária, não se reduz a
um mero texto de raso entretenimento, mas
como bem exemplificou Massaud Moisés:
A Literatura constitui uma forma de conhe-
cer o mundo e os seres humanos: convicta
de ser acionada por uma “missão”, ela co-
labora para o desvendamento daquilo que
todos nós, conscientemente ou não, perse-
guimos durante a existência. E, portanto, se
a vida de cada um corresponde a um esfor-
ço persistente de conhecimento, superação
e libertação, à Literatura cabe um lugar de
relevo, como ficção expressa por meio de
vocábulos polivalentes. (MOISÉS, 2012, p.28)

Metáfora:
designação de um objeto ou qualidade
mediante uma palavra que designa outro
objeto ou qualidade que tem com o
primeiro uma relação de semelhança.

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Diante do que foi salientado, você pode
ainda perguntar: mas por que especifica-
mente o trabalho com a leitura literária
é importante? Por que a escolha pelo texto
literário e não outro? A resposta é: porque
a leitura literária provoca e exige variados
mecanismos de compreensão, podendo o
texto literário dar vazão às mais variadas
leituras, dependendo das potencialidades,
características e gostos de cada indivíduo
que o lê, justamente porque ele não apre-
senta restrições ou finalidades definidas
e, sobretudo, por ser a linguagem literária
multisignificativa, dialógica, capaz de
provocar emoções diferentes em um
mesmo leitor, dependendo, por exemplo,
da sua leitura e/ou releitura.
Para Rangel, quanto mais produtivo for
o diálogo provocado pelo texto no leitor,
mas proficiente será a leitura. Essa carac-
terística aplica-se diretamente à leitura lite-
rária porque:
[...] o texto comporta uma concepção que
não se esgota nele mesmo, mas no diálogo
que provoca com o leitor. O diálogo será tan-
to mais produtivo quanto mais o texto puder
possibilitar condições de identificação do
leitor com ele, considerando que o autor, ao
criar o texto, não tem objetivo de conformar
o leitor, mas de tê-lo como coprodutor, par-
ceiro, dando-lhe também possibilidades de
criar outros textos. A obra, então, não é ape-
nas um objeto que apresenta uma visão de
mundo acabado, mas um espaço que pode
contribuir na formação do leitor reflexivo
(RANGEL, 2009, p. 27).

Proficiente: competente, capaz, mais
preparado, que tira maior proveito.

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PUXANDO
PROSA

Outro aspecto relevante a se conside- Literatura ou


rar é que a leitura literária sempre irá exigir
mais do leitor, seja pela observação ao rit- Bibliografia?
mo de um poema ou aos traços psíquicos Agora, atenção: se a obra literária
de determinada personagem, ou mesmo pressupõe a leitura, nem todo
observando o que diz o narrador ou, ainda, texto escrito se classifica como
percebendo o discurso semioculto conti- literário. Em razão de um mal-
do nas entrelinhas da narrativa. É por isso entendido que passou a considerar
que os mecanismos cognitivos utilizados ao literário todo e qualquer texto
se ler um texto literário são maiores e, por impresso que se destina à leitura,
conseguinte, exigem maior compreensão fala-se em “literatura médica”,
por parte do leitor. Por essa razão, muitas “literatura política”, “literatura
pessoas não compreendem determinados automobilística” etc. Entretanto,
textos ou autores por os considerarem difí- o que observamos com isso é
ceis ou, ainda, por não compreenderem sua um erro em razão da extensão
mensagem. Dizem logo: “não gosto desse do sentido da palavra “literatura”.
livro”, “não gosto desse autor!” Neste caso, o correto seria
Entretanto, essa opinião pode mudar a utilizar o termo “bibliografia”
partir do instante em que esse(a) leitor(a) e deixar a Literatura para definir o
iniciar um esforço individual de compreen- tipo de texto em que, por meio da
são leitora ou quando puder contar com arte, a linguagem expressa seja pela
uma figura que pode fazer a diferença nesse palavra escrita, seja ela falada, não
processo de compreensão e reflexão tex- apenas um meio de comunicação,
tual, que é o mediador de leitura. mas um objeto de admiração,
como espaço da criatividade.

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2.
OS GÊNEROS
LITERÁRIOS
Todos os gêneros são bons, afora o gênero tedioso.
Voltaire

Este é um tema que interessa não apenas para a Teoria da


Literatura, mas também para a História e Filosofia. Isso, em parte,
se deve ao fato de que as doutrinas acerca dos gêneros literários
se confundem com o início da história da Estética, da Filosofia e da
própria crítica literária.
A estrutura clássica compreendia três gêneros (Lírico, Dramático
e Épico). Hoje, entretanto, quando à sua classificação, podemos
dizer que os gêneros se dividem em: Prosa e Poesia.
Essa atual classificação dos gêneros literários marca a expressão
de dois modos fundamentais de o escritor ver o mundo e nos
situarmos perante a realidade. O primeiro, a prosa, voltado para
fora e o segundo, a poesia, para dentro. Ao lado deles temos as
espécies e as formas. Para entendermos melhor, vejamos o quadro
explicativo abaixo:

Gêneros Literários Espécies Formas

Soneto, ode, canção,


elegia, vilancete,
Lírica
Poesia balada etc.
Épica
Poema, poemeto,
epopeia.

Conto

Prosa ----------- Novela

Romance

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Ao contrário do que este quadro pode Portanto, somente a partir do momento
parecer, os gêneros literários e as suas em que nós, leitores, estivermos prontos
respectivas espécies e formas não são es- para uma transformação de nossa prática
truturas fixas e estagnadas. Esta é apenas leitora no que diz respeito à leitura literária,
uma sugestão de organização, proposta quando nos sensibilizarmos e acreditarmos
por Massaud Moisés, em que não se exclui que a leitura é o caminho que nos leva a
a ideia de que cada gênero pode incluir mundos infinitos, dentro e fora de cada um
componentes de outro gênero, de uma de nós, aí, sim, estaremos propiciando uma
de suas espécies ou formas. Ficaram de compreensão adequada da literatura seja
fora deste quadro, gêneros como o Teatro, ela em qualquer gênero.
a Crônica, o Ensaio, a Fábula, o Apólogo,
entre outros, por se tratarem de formas
híbridas ou paraliterárias. De nenhum
modo, estas são consideradas menores
e/ou menos literárias. Apenas, res-
peitamos aqui os postulados da
escolha teórica do crítico men- PUXANDO
cionado anteriormente.
É importante que, ao tra- PROSA
balharmos com a leitura dos
gêneros literários, possamos
Durante a Antiguidade Clássica, a
utilizá-los levando em consi-
divisão feita por Aristóteles classificava
deração toda a sua poten-
as obras literárias pertencentes ao
cialidade e não apenas
gênero lírico quando o “eu” interior
trabalhar exclusivamente
do poeta nos passava uma emoção
seus aspectos formais.
ou um estado de espírito com forte
É muito comum encontrar-
carga subjetiva. Considerando
mos os gêneros literários nos
o gênero dramático tínhamos,
livros didáticos como sendo tex-
fundamentalmente, os conflitos das
tos narrativos desestruturados em
relações humanas representados por
que quando se trata, por exemplo,
atores por meio de palavras e gestos.
de poesia, são trabalhados apenas os
Por fim, o gênero épico era uma
aspectos que se referem ao conceito de
narrativa de fundo histórico em que
estrofes, verso, rima, desprezando a men-
eram narrados os feitos históricos e os
sagem de seu conteúdo. Em outra circuns-
grandes ideais de um povo. A presença
tância, este mesmo gênero é usado apenas
de um poeta observador voltado para o
para fins ortográficos ou gramaticais, mais
mundo exterior conferia a este gênero
uma vez, levando os leitores ao esvaziamen-
bastante objetividade.
to do texto e se prendendo apenas aos as-
pectos formais que rapidamente são deco-
rados para, em seguida, serem esquecidos.

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3.
O ATO DE LER E AS
DIMENSÕES DA sociais”. (2004, p.48) E isso ocorre por-
que, historicamente, os livros são
LEITURA usados como  ferramentas contra
a alienação cultural, política e
social. Outrora, também já fo-
Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se ram queimados, em razão do
faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem caráter insubmisso de seus
mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies. conteúdos para as estruturas
Machado de Assis, no conto “Primas de Sapucaia” ditatoriais vigentes que, um
dia, já consideraram obras
como, por exemplo, Gabrie-
Nós sabemos que a leitura não se limita a la, Cravo e Canela, de Jorge
uma simples decodificação de códigos e Amado, subversiva.
linguagens, ela vai além, pois o leitor preci- Percebemos, com isso,
sa interagir com o que lê, atribuindo senti- que a prática da leitura sofre
do às coisas. Dessa maneira, a leitura é um modificações de acordo com as
ato abrangente que articula as várias di- transformações da sociedade. A
mensões do ser humano: imaginativa, sen- humanidade cresce, expande seus
sorial, afetiva, intuitiva, inteligível, cultural, horizontes e os livros impulsionam
lógica etc. Essas dimensões articuladas esse avanço a depender da sua pro-
com o desenvolvimento cognitivo do pen- posta educativa.
samento, a partir do ato de ler, faz descor- Conforme Paviani, “ler é uma com-
tinar um novo horizonte na vida do indiví- petência óbvia e necessária para qual-
duo que, através do texto, se transforma quer profissional, e a arte de ler demanda
em leitor(a) e amplia sua compreensão de reflexão e uma certa dose de solidão, a fim
mundo. Assim, a leitura promove também de percorrer os segredos de um texto, que
o desenvolvimento intelectual, podendo é capaz de oferecer o prazer de descobrir o
ressignificar a vida pessoal do sujeito, pos- ser das coisas ou as artimanhas da razão”.
sibilitando a abertura de novos caminhos (2003, p. 113) Ele acrescenta ainda que os
e perspectivas, resultado das dimensões leitores de literatura são aqueles que
proporcionadas pelo verdadeiro papel da sabem buscar a plenitude dos saberes,
leitura e dos profissionais nela inseridos. o conhecimento que ultrapassa as
Para Magda Soares, “o ato de ler tem definições e as classificações da
sido ao longo da história uma prerrogativa ciência e os minguados dados
das camadas dominadoras; sua assimila- de uma informação objetiva. De
ção pela camada de base popular denota fato, quem lê cria a possibilida-
a vitória de um elemento indispensável de de efetivar o ato de conhecer
não somente à preparação cultural, como e, portanto, além de aprender,
ainda à modificação de suas categorias adquire consciência de que está

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aprendendo. Em outras palavras, para Pa-
viani, a pessoa que adquiriu a compe-
tência da leitura tende a se tornar autô-
noma em seu pensamento e, assim, não
depende das opiniões dos outros para
formular suas próprias ideias.
A mediação da leitura literária se re-
fere a diferentes práticas de aproxima-
ção entre leitores e textos literários.
Nas últimas décadas, ações e políticas
públicas têm buscado garantir a consti-
tuição de acervos literários em bibliote-
cas, escolas e demais espaços públicos, a
exemplo do Programa Nacional Bibliote-
ca da Escola (PNBE) ou, ainda, do exito-
so Programa de Alfabetização na Idade
Certa (PAIC). No entanto, diferentes estu-
diosos têm apontado que a constituição
de acervos bibliográficos não basta para a
efetiva formação de leitores. Quando dedi-
camos atenção aos contextos escolares, por
exemplo, verificamos que, muitas vezes,
como observa Magda Soares, desenvolve-
-se uma “escolarização inadequada” da li-
teratura, quando a mediação não é feita
com propriedade. Com essa inadequa-
ção, a escola acaba por distorcer a
literatura e distanciar os alunos
das práticas de leitura literária.
Observamos isso quando professores
utilizam o texto literário apenas para o
ensino da gramática normativa ou em
contextos transdisciplinares, de forma
isolada. Por exemplo, utilizar o Iracema,
de José de Alencar, nas aulas de Geogra-
fia e História para tratar, somente, da pai-
sagem e/ou da sociedade cearenses.
Não quero, com isso, dizer que estas
práticas escolares devem ser evitadas, pelo
contrário, devem e merecem ser desenvolvi-
das, mas não de formas isoladas sem envol-
ver experiências que contribuam para o en-
contro entre os leitores e a arte literária. Esse
encontro se dá com a linguagem, as nuan-
ces da narrativa e com o estilo do autor.

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4.
A LEITURA LITERÁRIA E
A SUA CONTRIBUIÇÃO
PARA A FORMAÇÃO
LEITORA
E se pensarmos o papel dos professores Os livros não mudam o mundo,
nesse processo como nossos primeiros quem muda o mundo são as pessoas.
mediadores de leitura, percebemos a im- Os livros só mudam as pessoas. 
portância dessa ação desempenhada por Mário Quintana
cada um deles na construção de uma socie-
dade menos alienada e passiva diante de Como vimos, a leitura literária corrobora
seus opressores. Mas, para que isso acon- para a vida social por ser capaz de consti-
teça, é fundamental que esses docentes tuir uma prática questionadora do mundo
também sejam leitores e não permaneçam organizado, propondo outras direções de

PUXANDO
distantes das experiências literárias. Afinal, vida e de convivência cultural. Neste sen-
aquele que desempenha a importante ta- tido, a leitura literária contribui para a for-

PROSA
refa de mediação da leitura literária, sendo mação leitora ao estabelecer com o texto
professor, bibliotecário, educador social, lido uma interação prazerosa de criticidade
agente voluntário, entre outros, se coloca através do emprego da literatura. O gosto
no entre-lugar de aproximação do leitor e da leitura acompanha o desenvolvi-
do livro e precisa dialogar intimamente com O que é a literatura para você? mento da prática leitora do sujeito. Em
o texto literário seja na escola, na bibliote- Você se lembra de suas primeiras sociedades ágrafas, circulam textos literá-
ca, no clube de leitura, na associação, no viagens literárias? Como foram? rios orais, através de brincadeiras com sons
grêmio estudantil, na igreja ou até mesmo Seus professores obrigavam você a ler das palavras, contações de histórias, além
em sindicatos. ou não? Como eles apresentaram os das criações de imagens desenhadas ou es-
Através da leitura literária, o ato de ler textos literários para você? O que lhe culpidas. Essas práticas ocorrem também,
tem dimensões e possibilidades muito pediam: fichas de leitura, trabalhos hoje, entre sujeitos alfabetizados ou não,
mais profundas. Pois, se a leitura visa criar sobre livros lidos, redações? o que permite que se amplie o universo da
a consciência da realidade humana por Como isso lhe marcou? interação leitor-texto. Tais ações também
meio da compreensão, interpretação e Se você já atua como mediador, como podem servir de estímulos para a prática
transformação do mundo, então, a leitura acredita que a leitura literária pode ser leitora, tendo como ponto de partida e che-
literária pode ser usada pelos mediadores um instrumento de afetividade? gada o texto literário.
de leitura como um instrumento de imagi-
nação, afetividade e raciocínio para a for- Ágrafas: diz-se de cultura, povo e lín-
mação crítica do indivíduo. gua que não têm registro escrito.

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A leitura literária tem seu espaço bem
marcado em nossa sociedade e, muitas ve-
zes, aparece inicialmente vinculada ao es-
paço escolar onde, infelizmente, nem sem-
pre é praticada de forma satisfatória. Graça
Paulino, refletindo sobre a leitura literária
na escola, alerta:
Como a leitura na escola é ensinada e
aprendida de forma ligada a diversos dis-
cursos e gêneros textuais, especificidades
da  leitura literária convivem com as de
outros tipos de leitura, como a científica,
a filosófica, a informativa. Essas leituras,
embora diversas e requerendo estratégias
diferentes dos leitores, têm pontos em co-
mum, que podem ser trabalhados por pro-
fessores e alunos. Leitura alguma sobrevive
bem como prática cultural, quando censu-
rada ou tolhida por autoridades do Estado,
da família ou da escola. Especialmente
a leitura literária requer liberdade, cujo
único limite é o respeito pela leitura do ou-
tro, que pode apresentar suas singularida-
des. (PAULINO, p. 56, 2007)

Nesse sentido, algumas questões po-


dem ser abordadas quanto à importância
do trabalhar-se com a leitura literária:
• Quais as implicações desse tipo de
texto que o fazem especial, ou mais
adequado, para desenvolver o gosto
pela leitura?
• O que envolve o trabalho com o texto
e a leitura literários?

A leitura literária é capaz de capacitar


o(a) leitor(a) a produzir inferências e ler o
que está nas entrelinhas, nos intervalos
entre as palavras, naquilo que não está es-
crito. Assim, a leitura literária traz, para o
universo do leitor, possibilidades novas
de sentido, colocando em questão suas
verdades, desestabilizando-o e levando-o
a reestruturar-se.

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5.
ANTES DE VIRAR A
PÁGINA...
Assim, finalizamos este fascículo, acreditan-
do que você, a partir de agora, dispõe de um
conjunto de informações que pode ajudá-lo
no melhor desenvolvimento da sua forma-
ção como mediador de leitura. Não preten-
demos fechar o leque das possibilidades
para novas reflexões acerca deste tema,
mas, sim, estimular seus estudos sobre a
Leitura Literária. Desta forma, esperamos
O envolvimento com o texto e a leitura contribuir para a sua reflexão e para o seu
literários implica liberdade. Isso significa exercício enquanto agente fomentador da
que não podemos ir direto ao texto com prática leitora.
ideias pré-estabelecidas ou inalteráveis, Mas, atenção: a presença da leitura li-

DESAFIO
pois ao invés de ir pensando junto com o au- terária, por si só, nas práticas de mediação
tor, o(a) leitor(a) acaba se fechando, somen- de leitura, não garante que os leitores vão
te para aquilo que acredita, transformando ler com proficiência.
a leitura numa atividade difícil. Se acreditar- Os leitores, seja por qualquer suporte (li-
mos que o mundo está absolutamente com- vro impresso, tablets, smartphones) ou em
pleto, que nada mais pode ser feito, a leitura Baseado no que você aprendeu aqui, qualquer lugar (casa, escola, clube), familia-
não nos faz sentido algum. É preciso, então, é preciso criar um estado de espírito rizam-se com a leitura literária, ao mesmo
tornar a atividade da leitura significativa. ideal para se “receber” o que vem com tempo em que se encaminham para uma
Cabe, então, ao mediador da leitura literária o texto literário, de forma a usufruir ao concepção ampla do fenômeno literário, a
criar condições para a formação de leitores máximo do que ele pode nos oferecer. ponto de compreendê-lo de forma artística,
capazes de experienciar toda a força huma- Procure ler mais sobre o tema, mas também de maneira crítica e até polí-
nizadora da literatura, não bastando ape- converse com colegas e nos mande tica. Desse modo, acreditamos que cons-
nas ler, até porque não existe uma leitura suas impressões. truindo uma sociedade leitora, teremos
simples, assim como também não há uma também uma sociedade mais justa, solidá-
que seja impossível. ria e participativa!

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REFERÊNCIAS
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Maria Lílian Martins de Abreu (Autora)
É graduada em Letras Português, Espanhol e suas Literaturas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com especialização em Ensino de
Língua Espanhola pela Faculdade Stella Maris e MBA em Jornalismo Político, Marketing e Comunicação Midiática pela Universidade do
Parlamento Cearense. É mestre em Literatura Comparada pela UFC. É responsável pela apresentação e produção do programa literário
semanal “Autores e Ideias” da Rádio FM Assembleia (96,7 MHz) vinculada à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará desde 2007. Foi
professora tutora do Instituto UFC/Virtual - UAB e, atualmente, trabalha no Núcleo de Educação a Distância do Centro Universitário
Ateneu (UniAteneu).

Rafael Limaverde (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de
Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.

Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do Termo de Fomento celebrado
entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, sob o nº 05/2018.
Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de
Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gestor de Projetos Emanuela Fernandes
Analista de Projetos Tainá Aquino Estagiária UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira
Fundação Demócrito Rocha Gerente Pedagógica Luciola Vitorino Analista Pedagógica CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA
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fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-897-8 (Fascículo 3)

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