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1972: DIMENSÕES
O “SENTIDO” DA INDEPENDÊNCIA
ironizou Althusser:11
Eis aí as peças do antigo sistema colonial: dominação política,
comércio exclusivo e trabalho compulsório. Assim se promovia a
acumulação de capital no centro do sistema. Mas, ao promovê-
la, criam-se ao mesmo tempo as condições para a emergência
final do capitalismo, isto é, para a eclosão da Revolução
Industrial. E, dessa forma, o sistema colonial engendrava sua
própria crise, pois o desenvolvimento do industrialismo torna-se
pouco a pouco incompatível com o comércio exclusivo, com a
escravidão e com a dominação política, enfim, com o antigo
sistema colonial [...] A crise do antigo sistema colonial parece,
portanto, ser o mecanismo de base que lastreia o fenômeno da
separação das colônias [...] Trata-se, antes de tudo, de inserir o
movimento de Independência no quadro da crise geral do
12
colonialismo mercantilista.
ECOS DE OXFORD
CONSIDERAÇÕES FINAIS
NOTAS
1
Professor do Departamento de História – Unesp/Franca.CEP 14400-690. e-
mail: malerbaj@uol.com.br
Este texto constitui-se na base da palestra que proferi no seminário
Independência: perspectivas, acervos e iconografia, realizado pelo MinC e
Fundação Biblioteca Nacional, em Brasília, dia 1/9/2005. Tive a oportunidade
de discuti-lo novamente com os alunos do Programa de Pós-graduação em
História da UFPr em novembro de 2005, de cujo debate este texto muito se
beneficiou.
2
Esse texto encontra-se disponível no site do Centre for Brazilian Studies. Cf.
MALERBA, J. Esboço crítico da recente historiografia sobre Independência do Brasil
(desde c. 1980). University of Oxford, Centre for Brazilian Studies’, 2003.
Disponível em: Working papers series:
<<http://www.brazil.ox.ac.uk/workingpapers/Marlerba45.pdf>>.
3
Poder-se-ia objetar que a metodologia que utilizo nesta abordagem é
imprópria em função do universo diminuto das obras selecionadas para
comparação. A própria coletânea organizada por C. G. Mota, de acordo com a
impiedosa avaliação de José Honório Rodrigues, teria valor desigual, por ser
“sem unidade orgânica, e muito desequilibrado no valor da pesquisa e da
contribuição”. Cf. RODRIGUES, Jose Honório. Independência: revolução e
contra-revolução. Rio de Janeiro: F. Alves, 1975, 5.v (seu ensaio
“Historiografia da Independência e seleção de documentos” encontra-se no
volume 3 dessa obra). É verdade que houve uma verdadeira avalanche de
publicações em função do “sesquicentenário” da Independência, como os de
BARREIROS, Eduardo Canabrava. Itinerário da Independência. Prefácio de
Pedro Calmon. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972. p.XXII; ou a obra
monumental organizada por MONTELLO, Josué (dir.). História da
Independência do Brasil. Rio de Janeiro: A Casa do Livro, 1972, 4.v. O próprio
Prof. Mota já havia dado enorme contribuição ao tema da independência em
outras obras suas, particularmente no Brasil em Perspectiva (São Paulo: Difel,
1968). Eu mesmo fiz um balanço desses grandes fluxos historiográficos e sua
fortuna crítica MALERBA, J. Para uma História da Independência –
apontamentos iniciais de pesquisa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Rio de Janeiro, ano 165, n.422, p.59-86, 2004. Porém, minha
pretensão aqui hoje não é rigorosamente a de esgotar toda essa bibliografia,
mas apenas a de fazer um exercício comparativo entre dois momentos
historiográficos diversos. Nesse sentido, as obras comparadas assemelham-se
em pontos fundamentais: são compostas de ensaios produzidos por
historiadores profissionais, acadêmicos, familiarizados com o arsenal teórico e
crítico mais atualizado de suas épocas. Essas características garantem, quero
crer, a legitimidade deste exercício comparativo.
4
MOTA, Carlos Guilherme (or.) 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972,
p.11-12.
5
Idem, p.10-11.
6
Faço uma apresentação sucinta das teses e da influência das teorias da
dependência na historiografia latino-americana em, MALERBA, J. Nuevas
perspectivas y problemas de la historiografia en América Latina. Historia
General de América Latina. Paris: UNESCO, 2006 [no prelo]. (v.9, Teoria y
metedología en la historia de América Latina). Sobre as teorias da
independência e sua influência na historiografia latino-americana, cf.
HALPERIN DONGHI, Túlio. “Dependency Theory” and Latin American
Historiography. Latin American Research Review, v.17, n.1, p.115-130, 1982;
LOVE, Joseph L. The Origins of Dependency Analysis. Journal of Latin America
Studies, v.22, n.1, p.143-168, 1990; BERGQUIST, Charles. Latin America: A
Dissenting View of 'Latin American History in World Perspectives. In:
International Handbook of Historical Studies: Contemporary Research and
Theories. George Iggers and Harold T. Parker (ed.). Westport CT: Greenwood
Press, 1970.
7
Cf. NOVAIS, F. A; MOTA, C. G. A independência política do Brasil. 2 ed. São
Paulo: Hucitec, 1996. [1.ed. 1985]. Grifo nosso.
8
Tradição fundada na leitura de alguns textos de Marx, em particular o
Prefácio à Crítica da Economia Política. Outra tradição interpretativa, dentro do
próprio marxismo, vai destacar da experiência de homens e mulheres e o
papel da luta de classes como “motor” da história humana. Esta última
linhagem, apurada, entre outros textos originais, do Manifesto comunista, é bem
exemplificada na tradição do marxismo britânico. A literatura sobre esses
pontos é monumental.
9
Cf. GRAMSCI, Antonio. Quaderni del carcere. Ed. Valentino Gerratana. Turim:
Einaudi, 1975.
10
Cf. BENJAMIN, Walter. Theses on the Philosophy of History. In:
Illuminations. Trad. Harry Zohn. London: Fontana, 1992, p.245-255. Uma
excelente interpretação das ‘teses’ de Benjamin em CARDOSO Jr.,
Hélio.Tempo e Narrativa Histórica nas ‘Teses’ de W. Benjamin”. In:
MALERBA, J. (org.) A Velha História, método e historiografia. Campinas: Papirus,
1996, p.51-60.
11
Cf. THOMPSON, E.P. The poverty of theory and other essays. London: Merlin
Press, 1978.
12
Cf. NOVAIS, Fernado A.; MOTA, Carlos Guilherme. Op. cit., p.22-23. Grifo
nosso.
13
Tal interpretação influenciou enormemente e continua a influenciar a
historiografia brasileira. Para Ana Rosa C. Silva, por exemplo, a
independência não foi senão um ponto no longo processo de
desmantelamento do antigo regime europeu e do antigo sistema colonial.