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Autor: Fellipe Castanheira Soares

Resenha: ​ANDERSON, Perry. O balanço do neoliberalismo. ​In: ​SADER, Emir &


GENTILI, Pablo (orgs​.​)​ Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático​.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 9-23.

Segundo Perry Anderson, o neoliberalismo tem origem após a II Guerra Mundial,


como forma de reação teórica e política, nas palavras do autor, contra o Estado
intervencionista e de bem estar social. No entanto, as ideias neoliberais apenas passam a
ganhar terreno após a crise econômica de 1973, que levou o mundo capitalista avançado à
profunda repressão, combinando baixo crescimento com altas taxas de inflação.
De acordo com os teóricos do neoliberalismo, as raízes desta crise estavam no poder
dos sindicatos, que empunhavam limites ao capitalismo com suas reivindicações de aumentos
de salários e gastos sociais, impedindo o alcance dos níveis necessários de lucro e
desencadeando processos inflacionários na economia.
Neste sentido, o receituário neoliberal para a crise era a manutenção de um Estado
forte, no sentido de sua capacidade de romper com os sindicatos e no controle do dinheiro,
porém fraco em relação aos gastos sociais e sem intervenções na economia. A meta principal
deveria ser a estabilidade monetária. Para o alcance de tais objetivos, segundo os neoliberais,
seria necessária uma rígida disciplina orçamentária, com a limitação dos gastos com o
bem-estar e o aumento massivo do desemprego, que seria uma forma de criar obstáculos aos
sindicatos devido ao surgimento de um exército de reserva de trabalhadores. Além disso, os
governos neoliberais deveriam reduzir os impostos sobre os rendimentos mais altos, sob a
justificativa de incentivo aos agentes econômicos, favorecendo o alargamento da
desigualdade, o que, na visão dos neoliberais, seria saudável para a dinamização da
economia.
De acordo com Perry Anderson, o triunfo da hegemonia neoliberal se dá na virada da
década de 70 para a década de 80, sobretudo a partir da vitória de Margareth Thatcher na
Inglaterra em 1979, e de Ronald Reagan nos EUA em 1980. A partir daí, boa parte dos países
do norte da Europa ocidental implementam programas de governo neoliberais, até mesmo
alguns de inclinação social-democrata que antes se opunham ao discurso. Além da crise
econômica de 1973, o ideário anticomunista da ideologia neoliberal, em meio às disputas da
Guerra Fria, fortalece o poder de atração do neoliberalismo neste período, o que colabora
para que se alastre por boa parte da Europa ocidental.
Na prática, os governos neoliberais implementaram programas de governo com
semelhanças e distinções. O governo de Thatcher foi o mais sistemático e ambicioso em sua
conduta, contraindo a emissão monetária, elevando as taxas de juros, baixando impostos para
as classes altas, abolindo controles sobre o fluxo financeiro, além de impor uma série de
ataques aos trabalhadores, com o corte de gastos sociais, uma legislação anti-sindical e o
aumento massivo do desemprego. O pacote neoliberal inglês também contou com amplo
programa de privatizações, desde a habitação pública, até algumas indústrias como de aço,
petróleo e gás. Já a variante neoliberal estadunidense, recorreu a medidas semelhantes como
redução de impostos para os ricos e elevação das taxas de juros, mas apresentou como
diferença o não cumprimento da disciplina orçamentária, devido aos investimentos militares
por causa da competição com a URSS. No continente europeu, de modo geral, os governos
que puseram em prática o programa neoliberal deram mais ênfase a disciplina orçamentária e
as reformas fiscais, e foram menos incisivos do que o thatcherismo no combate aos sindicatos
e nos cortes de gastos sociais.
Tecendo um panorama acerca dos resultados do neoliberalismo na década de 80,
Perry Anderson aponta que o projeto neoliberal foi bem sucedido em alguns aspectos, como
no controle da inflação e na recuperação dos lucros. Em relação ao crescimento dos lucros, o
autor afirma que só foi possível, sobretudo, devido aos golpes contra o movimento sindical,
que se expressaram na repressão às greves, na contenção dos salários e no aumento do
exército de reserva devido ao desemprego em massa. Por fim, como também era objetivo dos
neoliberais, observou-se o aumento da desigualdade, junto da diminuição de tributação aos
setores mais ricos.
No entanto, o principal objetivo do neoliberalismo, que era a retomada das taxas de
crescimento da economia, visando reanimar o capitalismo mundial, não se verificou,
apresentando inclusive queda neste quesito. Segundo Anderson, esse resultado paradoxal se
deve essencialmente ao fato de que a desregulamentação financeira criou mais condições para
a inversão especulativa do que a produtiva. Neste momento ocorreu uma explosão de
mercados de câmbio internacionais, diminuindo o comércio de mercadorias reais. Também
soma-se ao resultado fracassante do neoliberalismo o fato de que a diminuição do peso do
Estado de bem-estar social não ocorreu da forma que os neoliberais almejavam.
A década de 90 se inicia com uma nova recessão econômica dentro do sistema
capitalista. Porém, isso não significou a queda dos modelos neoliberais, pelo contrário, o
neoliberalismo permaneceu hegemônico. Esse segundo alento do neoliberalismo se explica
em grande parte, segundo Perry Anderson, em razão da vitória deste modelo no leste
europeu, após a derrota do socialismo.
Em relação a América Latina, o texto de Perry Anderson, por ter sido escrito
concomitantemente a implementação deste modelo nos países latinos, não encerra as análises
sobre o neoliberalismo no continente, porém traz algumas discussões. O autor salienta que a
primeira experiência histórica do neoliberalismo, antes mesmo de Thatchter na Inglaterra,
ocorreu em terras latino-americanas, na ditadura militar de Augusto Pinochet, no Chile. Sobre
o modelo neoliberal chileno, Anderson afirma que este demonstrou, como os próprios
teóricos neoliberais diziam, que a democracia não é necessariamente um valor central do
neoliberalismo. Ainda em relação ao modelo neoliberal implementado pelo governo
autoritário de Pinochet, aponta que este apresentou uma considerável diferença em relação
aos regimes europeus e o estadunidense, que foi o fato de que, no caso chileno, as medidas do
neoliberalismo retomaram o crescimento da economia.
Contudo, o autor conclui que nem só pelas vias autoritárias o neoliberalismo se fez
presente na América Latina. Apesar de certas doses de autoritarismo, os governos neoliberais
de Menem na Argentina e Fujimori no Peru foram eleitos, e Salinas no México, apesar das
fraudes, também passou por eleições. Todas estas experiências levaram a cabo o pacote
neoliberal contendo o combate à inflação, a desregulamentação da economia, o desemprego e
as privatizações. O tema da inflação aparece como principal condicionante para a aceitação
da população a certas medidas neoliberais, sendo inclusive necessário, nas palavras dos
economistas neoliberais, que houvesse hiperinflação para que assim se pudesse receitar o
“remédio” do neoliberalismo. Um breve recuo em nossa recente história e constatamos sem
estranhar a razão do argumento trazido por Anderson, já que o principal mote político do
governo mais neoliberal de nossa história, o de FHC, foi o combate da inflação, além da
estabilização monetária.
Perry Anderson questiona se o neoliberalismo encontraria mais ou menos resistência
aqui na América Latina do que encontrou na Europa. Neste sentido acredito que, na virada
para o século XXI, encontramos em certa medida a resposta. A partir deste momento
emergiram governos com tendências populares, e em diferentes escalas de resistência ao
modelo neoliberal no continente, como exemplo de Hugo Chávez na Venezuela e Evo
Morales na Bolívia, dois dos mais contundentes no enfrentamento do neoliberalismo, ou
mesmo Lula no Brasil, apesar de mais moderado. No entanto, tais resistências esbarraram em
dificuldades de distintas naturezas, e hoje o cenário com o qual nos deparamos é de
aprofundamento radical do projeto neoliberal na região, com governos que ascenderam ao
poder, seja pela via eleitoral ou por golpes parlamentares, e que apresentam o famoso
receituário da contenção de gastos como “sacrifício” necessário, sendo este o único caminho
possível para a retomada do crescimento econômico, evidenciando a hegemonia ideológica
do neoliberalismo. De fato concordamos com Perry Anderson: o neoliberalismo é um projeto
inacabado.

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