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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE

Entrevista Motivacional

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE

Entrevista Motivacional

MÓDULO IV

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO IV

4 INTERVENÇÕES BREVES, TERAPEUTA E EXEMPLO DE CASO

4.1 AS INTERVENÇÕES BREVES

A necessidade de tratar pessoas com problemas relacionados à


dependência química faz com que se criem, cada vez mais, novas técnicas de
tratamento. O acesso a tratamentos para o dependente químico não é muito fácil.
Muitas pessoas não sabem como e onde procurar atendimento, além disso, o custo
para esse tipo de tratamento torna-se alto, uma vez que a maioria deles tem longa
duração. Por isso, uma técnica que seja facilmente aplicada e de duração breve
parece ser bastante útil e indicada para o tratamento do dependente químico. Esse é
exatamente o caso da Intervenção Breve, que se caracteriza pelo curto tempo de
aplicação, o que diminui os custos do tratamento.
A Intervenção Breve tem seu referencial teórico fundamentado nas teorias
cognitivas e comportamentais. Em um primeiro momento foi proposta, por Sanchez-
Craig, em 1972, como uma aproximação psicoterapêutica para indivíduos
dependentes de álcool. Esses autores apontaram para uma redução imediata do
consumo em indivíduos severamente dependentes e um aumento de sua saúde em
relação àqueles não tratados com Intervenção Breve.

Mas qual a relação entre as Intervenções


Breves e a Entrevista Motivacional?

Intervenções breves podem basear-se nos princípios da Entrevista


Motivacional. Há evidências de que quando as intervenções são baseadas nestes

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princípios produzem melhores resultados. Assim, a junção da Entrevista
Motivacional com as Intervenções Breves, resulta na técnica denominada
Intervenção Breve Motivacional.
A Intervenção Breve Motivacional é uma técnica adaptada da entrevista
motivacional para ser utilizada em contatos breves nos serviços de atenção básica a
saúde e baseia-se no modelo dos estágios de mudança. É uma técnica de curta
duração que pode ser utilizada por profissionais não especializados, assim como a
abordagem da Entrevista Motivacional.
As pressuposições teóricas da Intervenção Breve baseiam-se na ideia de
que um comportamento disfuncional pode ser mudado, que a motivação deve ser
avaliada e adaptada para a ação e que a percepção dos pacientes diz respeito a sua
responsabilidade no equilíbrio do processo de mudança de comportamento a ser
desenvolvido. O objetivo da Intervenção Breve é estabelecer para cada indivíduo os
padrões de consumo (utilizando-se de instrumentos adequados para tal) e fazer
associação com riscos que ele pode estar submetido quando faz uso de drogas.
Além disso, aconselhar sobre alternativas de mudanças de comportamento e ajudar
a traçar estratégias adequadas para alcançá-las, reforçando a capacidade do
indivíduo de produzir tais mudanças, ou seja, sua autoeficácia.
A Intervenção Breve é uma técnica que foca a educação e a motivação do
paciente para diminuir o uso de drogas. Os estudos relativos à Intervenção Breve
apresentam enfoque em sua efetividade na redução do padrão de uso de
substâncias, bem como no preparo dos profissionais envolvidos. Essa intervenção é
caracterizada por seis elementos básicos, que foram reunidos num acróstico
(FRAMES) a partir das palavras em inglês:

• Feedback

É a fase de devolução das primeiras avaliações feitas com o paciente que


referem-se ao padrão de comportamento e risco associados a esse padrão.
• Responsabilidade

Fase na qual é dada ênfase a responsabilidade pessoal do sujeito quanto à


mudança de comportamento.

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• Aconselhamento

Fase que fornece orientações sobre a mudança de comportamento e


discussão de metas.

• Opções de Escolha (Menu)

Fase que compreende a identificação das situações de risco com o


comportamento-problema e a discussão de estratégias de enfrentamento dessas
situações.

• Afeto (Empathy)

Essa fase refere-se à importância que há na forma como o profissional


consegue se colocar diante do paciente, oferecendo afeto e empatia, o que ajuda no
processo de mudança de comportamento.

• Autoeficácia (Self-efficacy)

É a fase em que se reforça a autoconfiança do paciente, pois refere-se às


crenças do sujeito em relação a sua capacidade de realizar uma tarefa específica e
ter êxito nela.

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Para o mesmo objetivo de memorização, pode-se utilizar
a palavra ADERIR, em português:

• Autoeficácia;

• Devolução;

• Empatia;

• Responsabilidade;

• Inventário;

• Recomendações.

A associação da Intervenção Breve com


materiais de autoajuda e instrumentos que medem os
padrões de consumo é essencial para uma boa
avaliação individual e para orientação do melhor
formato na aplicação da técnica.

Assim como acontece com a Entrevista Motivacional, a Intervenção Breve


Motivacional é um modelo de tratamento replicável em qualquer nível de atenção a
saúde, com formato simples e de fácil treinamento.
Essas intervenções se caracterizam por sua pequena duração, variando de
1 a 4 sessões de aconselhamento em um período de aproximadamente 10 ou 15
minutos a cada sessão, sobre os problemas relatados pelo paciente. Estudos têm
demonstrado que as intervenções breves resultam em vários efeitos benéficos,
como por exemplo: reduzem em média 24% do consumo excessivo de álcool
quando utilizada como cuidados primários ou diminuem o consumo de bebidas
alcoólicas de 9 doses por semana para 3 doses em 6 meses após o início da
intervenção.

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Perceba que os elementos das Intervenções Breves
são muito semelhantes ao da Entrevista
Motivacional, por isso elas se complementam em
Intervenção Breve Motivacional.
A diferença está no período de aconselhamento que
é mais breve na Intervenção Breve Motivacional.

4.2 O APRENDIZADO DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL

Aprender a usar a Entrevista Motivacional é uma tarefa que requer preparo,


pois se trata de uma abordagem que precisa de habilidades terapêuticas e
habilidades para desenvolver o julgamento de quando e como usá-la. Isso é
especialmente mais difícil com terapeutas iniciantes, porém com os terapeutas
experientes também existe a necessidade de que desaprendam estilos no trato com
o paciente.
Algumas estratégias da Entrevista Motivacional parecem fáceis e lógicas, no
entanto, em sua aplicação apresentam complicações e necessidade de adequação.
Embora o terapeuta que deseje aplicar a Entrevista Motivacional com seus pacientes
precise desenvolver habilidades essenciais, sem dúvida um dos maiores desafios
nessa abordagem é a prática com feedback.
Um bom feedback pode ser responsável pelo sucesso do tratamento. Para
isso, deve-se perceber o melhor momento para essa prática de acordo com as
questões trazidas pelo paciente. Ainda, o terapeuta não deve esquecer que durante
a sessão deve-se fazer no mínimo três feedbacks que resumirão esse encontro.
Além disso, o feedback também é útil nas devoluções de avaliação, recaídas e
sucessos alcançados ao longo do processo de mudança de comportamento.
O desenvolvimento de algumas características é essencial à constituição de
um bom terapeuta motivacional:

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O estilo do terapeuta será determinante na resistência
do paciente quanto à mudança de comportamento, pois
quando ela surge, o paciente desenvolve a tendência de
não produzir a mudança de comportamento.

O terapeuta deverá ater-se aos seus objetivos, pois o


confronto do paciente é uma meta, não um estilo.

A postura de argumentação não é boa para o


desenvolvimento do processo de mudança.

O uso adequado das estratégias da Entrevista


Motivacional por parte do terapeuta poderá aumentar a
motivação do paciente.

A interação entre terapeuta e paciente poderá suscitar a


motivação para mudança.

O terapeuta deve entender a ambivalência como normal


e ajudar o paciente a resolvê-la, pois ela será a chave
para mudança.

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Esses pontos servem de base para o início do trabalho com a Entrevista
Motivacional, evitando a resistência, resolvendo a ambivalência e introduzindo a
mudança.
Outro ponto-chave para tornar-se um terapeuta motivacional está em mudar
o estilo de trabalho. Para sentir-se seguro em relação à aplicação da Entrevista
Motivacional, o terapeuta deverá suprir as três fases do processo de aprendizagem:

• Como mudar seu estilo de trabalho de forma confortável:

Nesta fase, é importante observar as diferenças entre direcionar, orientar e


acompanhar o processo terapêutico. Os três estilos são adequados em diferentes
circunstâncias e relacionamentos, é preciso ter cuidado com a mistura dos três. É
essencial que o terapeuta alterne de forma flexível entre os estilos, de acordo com o
que for mais apropriado ao paciente e à situação.
Direcionar significa que o terapeuta tomará o controle da sessão. É como
afirmar ao paciente que você sabe que ele pode resolver o problema existente.
Orientar é ajudar o paciente a encontrar o caminho. O papel do terapeuta é
ajudá-lo a chegar lá. É como dizer ao paciente que você pode ajudá-lo a resolver o
problema seguindo o curso do próprio paciente.
Acompanhar significa que o terapeuta deverá escutar o paciente. Isso não
significa instruir ou direcionar, concordar ou discordar, persuadir ou aconselhar,
advertir ou analisar. É como dizer “não vou mudar ou forçar você, vou deixar que
você resolva o problema em seu próprio tempo”. Esse é um estilo importante,
principalmente, em momentos como início da sessão terapêutica. Ainda nesse estilo,
há as habilidades básicas de comunicação que devem ser desenvolvidas. É por
meio delas que os estilos de comunicação serão postos em prática.

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São elas: perguntar, escutar e informar.

Ao utilizar a habilidade de perguntar, o terapeuta tem a intenção de


ter uma compreensão sobre o problema do paciente. É preciso fazer
as perguntas certas e saber que o paciente espera que após fazer
perguntas o terapeuta tenha a solução para o problema. Então, use as
perguntas fechadas apenas para obter informações específicas e as
perguntas abertas são mais apropriadas para explorar o problema.

A habilidade da escuta está relacionada a saber se o que o


terapeuta entendeu é realmente o que o paciente disse. Quando bem
aplicada estimula o paciente a explorar mais questões importantes de
seu problema.

A habilidade de informar está ligada a transmitir o


conhecimento sobre o problema do paciente e seu tratamento a ele. A
informação mal-apresentada poderá gerar desconfiança ou
indiferença dos pacientes para com o terapeuta ou com o próprio
tratamento.

As três habilidades (perguntar, escutar e informar) podem estar nos três


estilos (direcionar, orientar e acompanhar). Todavia, a forma como misturá-las em
cada estilo pode variar muito.

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• Como melhorar a orientação:

Nesta fase, será o momento em que, ao sentir-se mais confortável com o


estilo orientador, o terapeuta então poderá desenvolver mais habilidades dentro
desse estilo. O terapeuta poderá criar maneiras rápidas de construir a agenda junto
ao paciente, que servirá para orientar os tópicos a serem seguidos na sessão e
garantirá que o paciente está em sintonia com o tratamento. Também é necessário
que o terapeuta exercite o uso das perguntas abertas simples e de afirmações que
mostrem ao paciente que está atento e escutando o que diz, como uma forma de
conduzir o caminho da sessão terapêutica. Para incentivar o progresso é
interessante que o terapeuta acostume-se a fazer resumos que trazem tudo o que
foi trabalhado e dito pelo paciente até então. Para a aplicação de todas essas
questões, o terapeuta deverá manter um estilo de resistir ao desejo de consertar a
vida do paciente.

• Aperfeiçoando as habilidades do terapeuta:

Nesta fase, o terapeuta já aprendeu a usar com exatidão todos os conceitos


e estratégias da Entrevista Motivacional. Portanto, caberá que aperfeiçoe o estilo de
escutar e prestar atenção aos argumentos do paciente em relação à mudança. O
trabalho do terapeuta será tentar refletir sobre os argumentos que o paciente traz e
observar o que acontece quando ele faz uma interferência, como a escuta reflexiva,
por exemplo, usando a linguagem do paciente. É possível que haja uma ampla
variedade de estilos na prática da Entrevista Motivacional. Cada terapeuta tem sua
forma de adequar-se as técnicas, estratégias e estilo de trabalho da Entrevista
Motivacional. É nessa fase que o terapeuta se apropriará da Entrevista Motivacional
e montará a sua forma de trabalho.
Existem padrões que estabelecem a mudança no estilo usado pelo
terapeuta, embora não exista necessariamente um padrão, duas consultas nunca
são iguais.
Para melhor orientar o terapeuta, há uma diretriz que pode servir de guia
para o terapeuta, no entanto sem que se pretenda criar uma forma única de trabalho
(como receita de bolo).

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O terapeuta deverá:

 Encontrar um foco comum – mostre ao paciente que há sintonia


entre vocês, isso criará um clima amigável e solidário. Procure estabelecer uma
agenda para priorizar os assuntos importantes. Deixe claro seu estilo de trabalho, no
qual está em foco o processo colaborativo e a liberdade de escolha do paciente.
 Explore e promova a motivação para mudar – troque informações
com o paciente a fim de fazer com que ele fale sobre como mudar e o que pensa
sobre isso. Use estratégias estruturadas como os prós e contras do problema e da
mudança, isso ajudará a impulsionar o paciente à mudança.
 Resuma o progresso – faça resumos longos, retorne para a agenda e
veja com o paciente qual será o próximo passo, quais foram as combinações feitas
para o futuro.

4.3 O EXEMPLO DE UM CASO

Para entender melhor como se devem juntar todas as peças desse quebra-
cabeça apresentado até aqui, é importante um exemplo de um fragmento de caso.
Todavia, esse não deve ser um exemplo a ser seguido como “receita de bolo”, pois a
Entrevista Motivacional, embora com pressupostos e estratégias específicas para
sua estruturação, é uma abordagem individualizada e personalizada. Seu uso
dependerá das características de cada paciente. É preciso esclarecer que, para uma
abordagem mais didática, algumas partes do tratamento serão puladas.

Caracterização do caso

Sexo: feminino
Idade: 40 anos

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Demanda: não está feliz com seu peso, sente-se gorda. Recentemente foi
ao médico e os resultados de exames mostraram alterações importantes em seu
estado geral de saúde relacionadas ao excesso de gordura corporal.

Terapeuta: Olá, segundo o que me disse ao telefone, seu principal problema


está relacionado ao seu peso. Gostaria de ouvir sobre suas preocupações a esse
respeito (o terapeuta usou uma pergunta aberta para estimulá-la a falar).

Paciente: Na verdade, eu nunca percebi meu peso como um problema,


sempre fui gordinha. Mas agora fui ao médico e parece que minha saúde precisa de
cuidados. Além disso, meu esposo tem me cobrado que emagreça pelo mesmo
motivo (aqui a paciente demonstra ambivalência quanto a enxergar a real
necessidade de emagrecer).

Terapeuta: O que você está me dizendo é que seu marido e o médico estão
preocupados com seu peso (o terapeuta faz uma reflexão simples).

Paciente: Talvez eu esteja comendo mais do que antes.

Terapeuta: Então, você notou que está comendo mais do que antes (aqui o
terapeuta faz mais uma reflexão).

Paciente: É, realmente, outro dia comi muito até passar mal.

Terapeuta: Como você sentiu-se naquele momento?

Paciente: Não muito bem, mais acho que isso, às vezes, acontece com as
pessoas. Eu gosto de comer e acho um sacrifício fazer dieta.

Terapeuta: Temos uma necessidade X de comer. Se excedermos essa


necessidade, tudo o que comemos passa a se acumular como gordura em nosso
corpo, muitas vezes, fazendo mal (informações úteis sobre o problema).

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Terapeuta (continuação): Você está me dizendo que seu marido e seu
médico estão preocupados com seu peso em razão de sua saúde. Você também se
sente um pouco preocupada, mas também pressionada por eles a diminuir a
ingestão de comida. Você gosta de comer, mas reconhece que, às vezes, exagera
na quantidade (o terapeuta faz um resumo do que foi dito até então).

Paciente: É, é isso sim.

Terapeuta: Isso é muito importante. Tem mais alguma coisa que você tenha
notado em relação ao seu problema?

Paciente: Algumas vezes, tenho comido pouco durante o jantar, mas,


quando todos vão dormir, como escondida. Isso faz com que me sinta mal.

Terapeuta: Isso é realmente preocupante. Quantas vezes isso ocorreu na


última semana? (o terapeuta faz uma reflexão de sentimentos).

Paciente: Mais ou menos três vezes.

Terapeuta: Então, você se preocupa que isso possa voltar acontecer.


(reflexão)

Paciente: Sim.

Terapeuta: Existe alguma forma de tentar evitar esse comportamento?

Paciente: Talvez se eu fosse dormir mais cedo.

Terapeuta: Você dorme tarde, após todos terem ido dormir (escuta
reflexiva).

Paciente: É, eu espero por isso para poder comer de verdade.

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Terapeuta: Se você pensar que está prejudicando sua saúde, conseguiria
mudar (escuta reflexiva).

Paciente: Não sei, porque realmente gosto muito de comer.

Terapeuta: O que você acredita que teria que reduzir em sua comida? O
médico lhe deu informações sobre isso?

Paciente: Sim, ele me disse que posso apenas substituir alguns alimentos
mais calóricos por outros menos calóricos.

Terapeuta: O quanto você se sente confiante para fazer isso numa escala
de 1 a 10? (medindo autoeficácia).

Paciente: Talvez 4.

Terapeuta: E por que você está no 4 e não no 1?

Paciente: Acredito que será possível se eu realmente me esforçar.

Até agora, o terapeuta procurou ter informações a respeito dos


sentimentos da paciente quanto ao seu problema, mostrar-se respeitoso e que
entende seu drama. Procurou verificar algumas possibilidades de mudança, mas
seu principal objetivo até aqui foi verificar seu estágio motivacional.
Pelas afirmações da paciente, é possível perceber que ela encontra-se no
estágio de contemplação, ou seja, já consegue perceber seu problema, mas
ainda está resistente a mudar. A partir disso, o terapeuta deverá trabalhar com
ela as estratégias referentes a esse estágio.

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Seguindo a sessão:

Terapeuta: O que você acha que poderia acontecer de pior se você


diminuísse a quantidade de comida que costuma ingerir? (balança decisional).

Paciente: Bom, na verdade, não vejo muitas coisas ruins nisso. Apenas pelo
fato de ficar com imensa vontade de comer.

Terapeuta: Você está me dizendo que sente uma vontade incontrolável de


comer.

Paciente: Sim.

Terapeuta: E o que poderia acontecer de melhor nesse caso de comer


menos?

Paciente: Eu emagreceria, a minha saúde melhoraria e eu ficaria mais em


paz.

Terapeuta: E como seria sua vida se diminuísse a ingestão alimentar?

Paciente: Eu não teria mais vergonha de comer tanto.

Terapeuta: Alguma vez você fez dieta? Como foi a experiência?

Paciente: Sim, várias vezes. Sempre consigo no início, depois acabo


comendo em uma festa e resolvo desistir.

Terapeuta: E se você pensasse que numa festa você pode comer, apenas
quando estiver em casa é que terá que fazer a dieta? (aumentando a autoeficácia).

Paciente: Assim me sentiria melhor e poderia continuar a dieta em casa.

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Terapeuta: Quando temos um problema, ficamos tão envolvidos com ele
que parece que não podemos falhar em nenhum momento. Porém, essas pequenas
falhas são possíveis e devemos encará-las como um momento de aprendizagem.
(ensinando sobre recaída e melhorando a autoeficácia).

Paciente: Nunca havia pensado dessa forma.

É importante ressaltar o entendimento do terapeuta a respeito


da paciente como alguém que se sente culpada e envergonhada
por seu comportamento. Esses sentimentos levam a uma baixa
autoeficácia, por isso a necessidade de fazer com que a paciente
se veja como alguém capaz de fazer a mudança.

Iniciamos agora a passagem para estágios mais avançados, o estágio de


preparação:

Terapeuta: Até agora você me falou sobre as dificuldades que está


encontrando quanto ao seu comportamento. Que parece ser difícil mudá-lo e você
não se sente preparada para isso (resumo).

Paciente: Talvez, hoje eu esteja mais confiante para tentar algo.

Terapeuta: Então, você se sente pronta para mudar seu comportamento?

Paciente: Acho que preciso mudar, gostaria de mudar, mais não sei como.

Terapeuta: O que você acha que poderia fazer hoje?

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Paciente: Não sei. O que você acha?

Terapeuta: Existem algumas possibilidades para isso. Vamos pensar em


que situação será mais difícil ficar sem comer em excesso.

Paciente: Realmente terei problemas no final de semana, porque


costumamos receber visitas.

Terapeuta: Você está me dizendo que não conseguiria controlar a


alimentação por causa das pessoas que estão em sua casa.

Paciente: Bom, não é por causa delas, é que me esqueço de seguir a dieta
quando me distraio com outras coisas.

Terapeuta: Então, que estratégias podemos usar para que você lembre-se
de sua dieta?
Paciente: Não sei, talvez se eu pedir ao meu esposo que me avise quando
eu estiver exagerando.

Terapeuta: Você acha que ele poderá ajudá-la. Ele está sempre com você?

Paciente: Acredito que sim. Nos finais de semana sempre estamos juntos.

Terapeuta: Você terá convidados nesse final de semana?

Paciente: Sim.

Terapeuta: O quanto você se sente pronta para conseguir pôr essa


estratégia em prática, numa escala de 1 a10?

Paciente: Acho que 8.

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Terapeuta: Muito bom. Podemos tentar.

Neste momento a paciente mostra-se bastante motivada


a mudar seu comportamento. Busca soluções e ajuda de
pessoas próximas (o esposo) para chegar ao seu objetivo. O
terapeuta usa sua motivação para investigar as situações
difíceis e como lidar com elas durante a tentativa de mudança
de comportamento.

No estágio seguinte (ação), a paciente põe em prática aquilo que


combinou com o terapeuta e sente-se mais motivada a continuar tentando.
Após alguns meses, já havia emagrecido e havia também uma melhora em
seus níveis de gordura no sangue, seus exames já estavam melhores.
Durante esse processo, o terapeuta seguiu trabalhando questões
voltadas à continuação das tentativas de seguir a dieta (manutenção da
mudança).

Terapeuta: Então, como vem se sentindo em relação ao seu


comportamento alimentar.

Paciente: Ontem, estive em um jantar fora de casa e consegui comer


apenas saladas e carne.

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Terapeuta: Que bom! Você realmente está conseguindo seguir seus
objetivos. Como você está se sentindo?

Paciente: Sinto-me orgulhosa e feliz.

Terapeuta: Quais estratégias você usou ontem para comer pouco?

Paciente: Lembrei-me de minha saúde e de quanto já progredi até aqui, não


quis perder o que já ganhei.

Terapeuta: É importante que você lembre que embora tenha feito muitos
avanços nas últimas semanas, é preciso estar sempre atenta aos perigos de
recaída. Sabemos também que, ao contrário do que você pensou, a recaída não
significa a perda de tudo que conquistou até aqui, certo? (trabalho de prevenção e
preparação de recaídas).

Paciente: Certo. Estou me esforçando para manter minha dieta.

Terapeuta: Posso perceber e realmente considero um grande esforço e


vitória nessas últimas semanas.

Aqui entramos no estágio de manutenção da mudança de


comportamento. O terapeuta identifica as estratégias que
têm funcionado e lhe oferece gratificações (os elogios) para
sua mudança de comportamento. Trabalha ainda questões
relacionadas às possibilidades de recaída com o objetivo de
preparar a paciente se isso ocorrer.

Não se esqueça que este não é o fim do tratamento. O paciente


provavelmente precisará de apoio do terapeuta, o que lhe dará segurança para
manter o novo comportamento até que este seja incorporado ao seu estilo de vida.

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Este é um pequeno exemplo de como conduzir as sessões de Entrevista
Motivacional. É claro que muitos elementos da teoria não foram contemplados nesse
exemplo a fim de não tornar-lo cansativo e longo demais.
Agora cada um pode iniciar seu treino pessoal e a aplicação da Entrevista
Motivacional com seus pacientes.

Porém, não se esqueça:

• Não julgue as decisões de seu paciente;


• Não o obrigue a pensar como você;
• Estude a aplicação da abordagem;
• Tenha em mente as principais estratégias;
• Acompanhe a resistência do paciente, não o confronte;
• Seja empático;
• Lembre-se dos estágios motivacionais;
• Tenha paciência para aguardar o momento certo para fazer intervenções;
• Treine o uso da escuta reflexiva e das perguntas abertas;
• Faça afirmações automotivacionais.

Enfim, construa-se como um terapeuta motivacional, observando a teoria em


questão e sua postura como terapeuta. Seja você iniciante ou experiente, lembre-se
que a mudança começa por você!

----------- FIM DO MÓDULO IV -----------

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----------- FIM DO CURSO ------

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