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CURSO DE TEOLOGIA
RIO DE JANEIRO
2017
ISRAEL BERNARDO DE OLIVEIRA FARIA
RIO DE JANEIRO
2017
Faria, Israel Bernardo de Oliveira
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Teologia, Curso de Teologia, do Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel
Green Simonton.
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Ao meu pai (in memorian) e minha mãe pelo
amor e dedicação que me entregaram em todo
tempo. A minha amada esposa pela compreensão
e auxilio. A Maria, presente de Deus, por toda
alegria que proporciona. A meus irmãos. A minha
amada igreja pelas orações e amigos por toda a
ajuda. Muito obrigado!
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos pastores que me tutelaram e aos professores do seminário por toda dedicação
em partilhar valorosos conhecimentos. E mesmo nos momentos em que parecia haver inflexão
limites em busca da excelência. Agradeço por que me deram não só o preparo teológico, mas
também uma melhor capacidade para ultrapassar as dificuldades para compreender e executar
a tarefa do pastorado. E com isto percebo que em muitos momentos acreditaram mais em mim
do eu mesmo. Aos meus colegas de seminário, digo que alguns são como irmãos, e que
agradecimentos.
"Deus só é corretamente servido quando
sua lei for obedecida. Não se deixa a cada
um a liberdade de codificar um sistema de
religião ao sabor de sua própria
inclinação, senão que o padrão de piedade
deve ser tomado da Palavra de Deus.”
João Calvino
RESUMO
diferenças entre elas e uma delas é o culto. Os pensamentos são por vezes divergentes.
firme ao dizer que tem na Bíblia o seu Princípio Regulador do Culto (PRC). A IPB
utiliza-se dos seus símbolos de fé e também posicionou-se em 2009 por meio de uma
carta pastoral e teológica que fala sobre o Princípio Regulador do Culto. O PRC é a
Deus, autoridade para regular todos os aspectos da vida humana e, portanto, totalmente
suficiente. Vemos também nas Institutas e nos comentários bíblicos de Calvino que a
forma correta de adoração é por Deus, e somente por Ele, estabelecida. E através dos
fato. Os puritanos buscavam fazer o que a Palavra ordenava. Esta era a constatação de
que a Bíblia é quem regulava o culto e foi documentada nas confissões reformadas.
Várias tratavam da bíblia como reguladora do culto e que qualquer invenção humana ou
Brasil nasceu com toda esta herança e o PRC está dentro dos seus símbolos de fé, do
sistema presbiteriano e dos seus documentos. O PRC não é primariamente uma doutrina
Palavras chave: Princípio Regulador do Culto, Doutrina Bíblica do Culto, Culto Cristão,
RESUMO............................................................................................................................
METODOLOGIA................................................................................................................
INTRODUÇÃO...............................................................................................................14
4.3.4.2 O TEMPLO......................................................................................................... 67
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 74
14
INTRODUÇÃO
A Bíblia comprova que em todos os tempos ouve uma busca pelo Deus criador dos céus
e da terra, através da adoração. Nos escritos do Antigo Testamento vemos a oferta de
Abel sendo recebida por Deus e a de Caim sendo rejeitada (Gn 4.4,5). Temos o povo se
reunindo em volta do tabernáculo, e depois do Templo, onde estava a arca da Aliança e
o povo fazia sua adoração. No Novo Testamento encontramos o zelo do Senhor Jesus ao
expulsar os cambistas do Templo chamado de casa de oração (Mt 21.12). E também o
apostolo Paulo participando instruções sobre a forma correta da ministração da Ceia do
Senhor na reunião do povo de Deus. A bíblia fala da relação do povo adorador e seu
Deus. Ela fala do Culto!
O Brasil dito um país de maioria cristã. Tem dimensões continentais e uma bela e vasta
multiplicidade cultural. Cada estado tem suas peculiaridades quanto a cultura que dão
contornos únicos a culinária, as roupas, as músicas dentre outras coisas. Quando
trazemos esta multiplicidade cultural para o ambiente das igrejas cristãs evangélicas
também vemos diversidade semelhante. Tais igrejas apresentam múltiplas
configurações de elementos de culto. Algumas introduziram até a apresentação de
malabaristas e “shows” pirotécnicos aos moldes de um circo. Estes casos são extremos,
óbvio, mas é bem comum hoje vermos a introdução da dança ou mesmos ritmos que
induzem a sensualidade como o “funk gospel”. Tudo isto permitido pelas máximas “é
para a glória de Deus” e se “a bíblia não proíbe pode fazer”. Este pensamento é, sem
dúvidas, “mais prático do que teológico, sugerindo meios de tornar o culto mais
interessante e satisfatório do ponto de vista emocional, mais inteligível ou, de alguma
forma mais autentico como um encontro com Deus” (Frame, 2006, p. 15). Para muitas
igrejas a analise do coração do homem pode definir por si só se o culto é aceitável a
Deus.
Portanto o culto é dever do homem a Deus e existe uma doutrina que regula sua forma.
Mais especificamente, existem princípios que balizam o culto. Assim o objetivo geral
deste trabalho é servir de orientação ao seguimento cristão que adota em suas liturgias
alguma forma de culto. Também observamos que as igrejas cristãs evangélicas, em sua
maioria, têm como sua principal programação o culto público. Já pela perspectiva
histórica da igreja, percebemos que nos relatos do Novo Testamento as primeiras igrejas
eram orientadas sobre a forma de Cultuar a Deus. Mas dentre os cristãos evangélicos
existem praticas litúrgicas variadas e que por vezes se contradizem. Por isso, o autor
tem a proposta de demonstrar que existe não uma única forma litúrgica, mas que
existem princípios litúrgicos que informam os elementos do culto. Existe uma doutrina
que a conduz o culto, a reunião do povo de Deus para a adoração, a mesma é conhecida
como: O Principio Regulador do Culto.
De forma específica o objetivo deste trabalho é orientar aos membros das igrejas
presbiterianas de que o culto é instituído por Deus para que seu povo entre em
comunhão com Ele através do serviço da adoração. E sendo a IPB uma igreja de
tradição reformada objetivamos, através da visão (reformada) de que a Palavra de Deus
é a única regra de fé e prática, orientar sobre as práticas do culto e o erro de não adotar a
bíblia como instrução única e fiel do culto. Também utilizaremos de importantes
escritos da fé reformada para explicar o que é o principio regulador do Culto. E com
segurança demonstrar a validade de tal princípio ainda em nossos dias. E que a IPB os
utiliza buscando, em fidelidade ao Deus Trino e sua Palavra, apresentar o culto
agradável.
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Cap. XXI.I. A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e
soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve
ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de
toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o
verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua
vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e
invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer
representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas
Escrituras. (CFW, p. 26, ’grifo do autor’)
Com tantas igrejas diferentes e uma pluralidade de cultos, que não o reformado, sendo
abordado de muitas formas, existe um questionamento a fazer: será que dentro das
igrejas presbiterianas há o conhecimento de que o Culto é instituído por Deus e que o
Principio regulador do Culto é a doutrina que trata deste assunto? Esta pergunta não se
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responde com facilidade pois os membros da IPB deveriam ter o conhecimento sobre o
que é o Princípio Regulador do Culto. Bem como da influencia reformada na Igreja
Presbiteriana do Brasil pelo fundamento chamado Somente as Escrituras, da Teologia de
Calvino, do pensamento puritano e dos Símbolos de Fé. Ou mesmo saber que tudo isto
contribuiu para a compreensão em nossos dias de um culto regido pelas Escrituras.
O Princípio Regulador do Culto (PRC) é uma doutrina bíblica e portanto não é uma
invenção cristã ou reformada. O que ocorre tão somente é o reconhecimento da mesma
dentre as verdades bíblicas. Partindo deste princípio o PRC deve ser explicado dentro de
um contexto da Palavra. Este contexto partilha da definição das palavras que limitam e
esclarecem o tema. Com este objetivo trataremos neste capítulo sobre o panorama do
culto bíblico do Antigo e Novo Testamento, da definição de culto cristão através da
metodologia de James F. White e do significado dos vocábulos princípio e regulador
todos pertinentes e inseridos ao PRC. Depois de cumprida esta tarefa será então
explicado o que é o Princípio Regulador do Culto e porque o mesmo está inserido na
perspectiva reformada.
Quando pensamos em definir o que é “culto cristão”, de uma forma simples, podemos
dizer: “Culto é o serviço de reconhecimento e honra à grandeza de Nosso Senhor da
Aliança” (FRAME, 2006, p. 21). Mas para tal definição nos aprofundaremos usando a
metodologia de James F. White. Este, autor do Livro Introdução ao Culto Cristão, usa
uma metodologia tríplice que se compõe de: abordagem fenomenológica que é uma
descrição as praticas dos cristãos no culto, a exploração de definições de pensadores
sobre Culto Cristão e em terceiro lugar ele faz uma análise de palavras-chave as quais
os cristãos de vários lugares usam para referir-se ao Culto e o que experimentam no
mesmo (WHITE, 1997, p. 12). E veremos que esta metodologia aponta para a instrução
da Palavra, ou seja, para o Princípio Regulador do Culto.
como a morte e ressurreição de Cristo. Assim o domingo marca o dia mais importante
da semana pois nele Jesus ressuscitou. É o dia do Senhor! E anualmente a Páscoa é
período central e seu sentido principal é a libertação da morte e do pecado por meio da
morte vicária de Cristo (WHITE, 1997, p. 12 e 42). Toda esta estrutura temporal é
verificada como o princípio que ordena e conduz os cristãos a adoração. A este
chamamos PRC e coordena o tempo com base nas Escrituras.
Os cristãos também se preocuparam com a estrutura, o local do culto pode ser qualquer
um, mas precisa ser conhecido. Neste lugar Deus age por dois instrumentos, através de
vozes e mãos humanas. Precisa-se também de contato visual o que faz do espaço de
culto algo entre a sinagoga e um cenáculo. Pois este tipo de espaço proporciona tanto
contato visual quanto do uso das mãos nos sacramentos (WHITE, 1997, p. 13 e 69). A
estrutura do local tem papel relevante na comunicação do Culto Cristão.
Com relação aos ofícios temos poucos que são: ofício de oração publica diária com foco
na oração e louvor e o ofício liturgia da palavra com foco na leitura e pregação das
escrituras (WHITE, 1997, p. 13 e 111). A liturgia da palavra é o culto dominical da
maioria das denominações protestantes. E estes estão corretos porque não há outra base
para a liturgia do Culto além da Palavra de Deus.
Através destes ofícios Jesus Cristo quebra a ignorância dos santos através da sua
revelação, restaura a comunhão através do seu sacerdócio e os santifica através do seu
poder. Para Allmen o culto só cumpre seu objetivo se proclama a Palavra de Deus. E só
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proclama esta Palavra se atenta para o cumprimento da mesma no culto em tudo que a
mesma define como ordenança.
O culto cristão contesta os atos de justiça da humanidade e selando o fracasso dela que
só tem esperança nas promessas que vem da parte de Deus. (WHITE, 1997, p. 16). E
não crer nos próprios atos de justiça é o que busca o PRC. No livro O sistema
presbiteriano, o autor W. H. Roberts, declara que o culto é a essência da religião e que
nele os homens insistentemente e aguerridamente tentam intrometer-se na soberania de
Deus. A definição de Roberts sobre culto é:
O Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa, ministro da igreja presbiteriana, em seu livro
Princípios Bíblicos de Adoração Cristã, trata sobre o tema do culto. E pela sua
declaração vemos que só ouvimos, conhecemos e somos edificados pela voz de Deus.
Esta voz que é expressa pela sua Palavra.
Assim vemos que se abandonarmos a Palavra como condutora do culto não ouvimos a
Deus. Não expressamos o nosso conhecimento de Deus, pois não existe. Assim não há
outra forma de expressão de conhecimento e não há culto cristão sem a condução da
Palavra.
Dentro deste tópico White analisa as palavras que a comunidade cristã utiliza para
referir-se culto ou a adoração1. A primeira palavra é serviço que é a prestação do
mesmo para outros, neste caso especifico Deus. Uma outra palavra é ofício que também
significa serviço e é utilizado para a tarefa do culto. Mas estas palavras estão longe do
significado dado pela palavra Gottesdienst que expressa o serviço do homem no culto e
um Deus que se esvaziou a si mesmo e assumindo a condição de servo (Fp 2.7). A
palavra liturgia também significa serviço, trabalho, realizado em benefício de outros
(WHITE, 1997, p. 19). Por este entendimento se o culto é um serviço deve ser feito aos
moldes daquele que chama. É Deus quem diz qual é o serviço e como deve ser feito.
Isto é servir a Deus com a condução da sua Palavra.
No novo testamento diversas palavras são utilizadas com a conotação de Culto. A mais
comum é latreia que é o vocábulo utilizado para o culto judeu no templo. Latreia tem
como significado obrigação religiosa, adoração de uma divindade ou serviço a um
mestre. Destacaremos outras duas: proskyneln (Mt 4.10) e threskeía (At 26.5). A
primeira destaca a adoração, culto, como um ato de submissão, o ato de se prostrar,
demonstrando a atitude corporal de submissão. A outra, threskéia, é traduzida por culto
ou ofício religioso (WHITE, 1997, p. 21). Este ato de submissão não deve ser somente
corporal, mas intelectual ao receber as Escrituras como direção para esta adoração.
Após tratarmos da definição do culto trataremos a seguir do panorama bíblico do culto.
1
O vocábulo referente à adoração, na Bíblia, é muito extenso, porém o conceito essencial, tanto no AT
como no NT, é o de “serviço”. Os termos usados no AT e no NT respectivamente, são o hebraico
´avodah e o grego latreia, cada um dos quais originalmente significa o trabalho efetuado pelos escravos
ou empregados. E, a fim de prestar essa “adoração” a Deus, os seus servos devem prostra-se – no
hebraico hishtahawah; no grego proskyneo – e assim manifestaram temor reverente e admiração e
respeito próprios da atitude de adoração. (DOUGLAS, XXX, pg.16)
22
É certo que Deus estabeleceu momentos especiais de culto, mas também vemos
manifestações de adoração de forma espontânea, ou seja, sem hora e lugar
determinados. Para o povo de Israel, o culto e a adoração ao Deus da Aliança, ocorrem
de forma naturalmente espontânea. Temos como exemplo a busca particular nas orações
(Dn 6.10;Mt 6.6). No livro de Salmos encontramos orações ao Senhor em momentos de
temor e dificuldade que levam ao louvor pelo livramento obtido (FRAME, 2006, p. 39-
40). Portanto a espontaneidade se dá em questão de hora e lugar e não de forma. A
adoração se dá por orações e salmos porque é isto que as Escrituras dizem. A forma
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espontânea de culto não abre espaço a criatividade humana em propor outros elementos
de adoração.
Na perspectiva do pacto o povo de Israel é o povo separado por Deus. Isto fazia de
Israel um povo santo e por isso devia ser fiel ao Senhor. Esta santidade característica do
povo é um conceito litúrgico e está presente no culto. “A vida total da nação era culto,
separada por Deus. Desta forma, as Escrituras introduzem o conceito de culto no sentido
amplo” (FRAME, 2006, p. 40). Este culto em sentido amplo é regido pela Lei de
Moisés. As Escrituras regulam a relação do povo e o Deus da Aliança (Pacto). Nela
vemos princípios que determinam a oração, o sacrifício, para, em obediência, cantar
louvores a Deus e cumprir os ritos religiosos. A circuncisão, dentre os ritos religiosos,
era um sinal distintivo e aos circuncidados era garantido o acesso a adoração no templo
(FRAME, 2006, p. 40). Portanto Deus regulava tanto a forma quanto o acesso a
adoração. Portanto deve ser reconhecido o PRC nas Escrituras desde a Aliança de Deus
e o povo de Israel.
O culto sacrificial é registrado desde o momento pós queda. Temos o exemplo nas
ofertas de Caim e Abel (Gn 4.2-5) e no sacrifício de Noé ao Senhor (Gn 8.20-22).
Abraão também sacrifica animais quando Deus estabelece um pacto com ele (Gn 15).
Posteriormente, quando Deus faz uma aliança com o povo de Israel, ele determina o
sacrifício do culto como parte integrante do pacto.
Os sacrifícios não tinham eficácia em si mesmos. Eles apontavam para Jesus Cristo que
é o verdadeiro cordeiro de Deus. É no sacrifício de Jesus que os pecados são de fato
perdoados (FRAME, 2006, p. 41-42). A observação dos sacrifícios era a essencial e a
fidelidade a todos os princípios que regulavam o culto sacrificial era a condição de
aceitação do sacrifício por Deus.
O povo de Deus, Israel, também prestava culto através das festas. O pentecostes era
celebração do encontro em que Deus, no monte Sinai, entregou as Tábuas da Lei. Já a
festa dos Tabernáculos era realizada após a colheita e trazia a lembrança de que o povo
peregrinou no deserto. No período desta festa o povo ficava em tendas para lembrar as
dificuldades do deserto. A última festa era a das Trombetas. Nela a Lei era lida para
todos e os pecados eram confessados. No Dia da Expiação o sumo sacerdote adentrava
o santo dos santos levando sangue para expiação dos pecados (FRAME, 2006, pg. 42-
43). O Dia da Expiação era o ponto alto do culto veterotestamentário; o sacrifício
oferecido naquele dia, pelos pecados do povo, prefigurava Cristo (HOEKEMA, 2011, p.
159). E qual destas festas era um ato de escolha do povo? A resposta é nenhuma! Todas
foram ordenadas por Deus. E todo o seu significado explicado por Deus.
Durante a história do povo de Israel existiu dois locais separados para a “habitação de
Deus”. Eles foram o Tabernáculo e o Templo e serviam especialmente para o culto
25
sacrifical. Porém também eram locais de busca do Senhor da Aliança. Neste local o
povo suas fazia orações, juramentos e louvores. Estes locais especiais também serviam
para o ensino.
O próprio Deus determinou a construção de um tabernáculo e capacitou com seu Santo
Espírito a Bezalel e Oliabe para executarem a construção. Ela era divida em três partes:
o pátio, o lugar santo e o santo dos santos. No pátio, que ficava ao redor da estrutura,
havia um altar para as ofertas e uma bacia com água que servia para a purificação. A
tenda, tarbenáculo, era dividida por uma cortina em duas partes. Na primeira, chamada
de santo lugar, ficava o altar com incenso, os pães da proposição e o candelabro. O
santo dos santos representava a presença de Deus e nele ficava a arca da aliança e um
trono. Somente o sumo sacerdote podia entrar no santo dos santos e isto somente no Dia
da Expiação.
Outro lugar separado para a adoração, culto, do povo de Israel foi o Templo. Este tinha
uma estrutura fixa e com uma configuração semelhante a do Tabernáculo mas era maior
e com mais mobília(FRAME, 2006, p. 43-45).
Levi era um dos filhos de Jacó e deu origem a tribo de mesmo nome. Esta Tribo,
separada por Deus para o serviço do culto, não recebeu terra como as outras mas
recebeu algo melhor. O Senhor era a herança deles e por isso tinham a tarefa exclusiva
de cuidar do santuário e do altar. O Rei Davi colocou também sob a responsabilidade
dos levitas a música. Eles eram os instrumentistas e cantores que atuavam no culto do
Templo. A responsabilidade do ensino da Lei era dos Levitas. E eles também recebiam
territórios dentro das outras tribos para cumprir esta responsabilidade em todo Israel.
Os sacerdotes também eram descendentes de Levi e foram separados dentre os filhos de
Arão. Eram os sacerdotes que ofereciam os sacrifícios e conduziam o culto. Eles
representavam, mediavam, o povo no culto a Deus. Os sacerdotes eram mestres do
ensino da Lei e responsabilizavam-se pela pureza cerimonial (FRAME, 2006, p. 45).
Deus escolheu a família e as funções executadas na manutenção e condução do culto.
Vemos nos aspectos sobre o Culto do Antigo Testamento tratados acima que Deus é
quem instituiu e instruiu o povo a respeito de como adorá-lo. Para tanto Deus instruiu o
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povo através de sua Lei e determinou que em obediência o povo permanecesse puro na
adoração. E desta forma habilitava-se a desfrutar das promessas de Deus.
O povo de Israel reconhecia que Deus era santo e digno da adoração. No culto existiam
orações, louvores e leitura da Palavra como serviço em honra a Deus. A mudança do
tabernáculo para Templo, a introdução de Levitas no louvor do Templo e as reuniões
nas sinagogas não feriram a essência do culto determinada por Deus. No templo eram
realizados os ritos por meio do sacerdote: a entrega de ofertas, a expiação e
determinação de pureza ou contaminação no culto. Tudo com relação ao culto ocorria
segundo os princípios pelos quais Deus regulava a adoração. Assim podemos afirmar
que no Antigo testamento o culto aceitável se dava pela obediência a Palavra. Se dava
pelo reconhecimento do PRC.
No Novo Testamento não existe uma família especial para o sacerdócio como no Antigo
Testamento. Mas todos os eleitos são sacerdotes e se apresentam diante de Deus como
“sacrifícios espirituais” na forma de uma vida piedosa, de orações e louvores. Estes
sacerdotes também são o templo do Espírito Santo e por este motivo a igreja é o corpo
de Cristo. No culto cristão o povo olha para Jesus como salvador único e suficiente
meio para se achegar ao Pai. E é neste culto que Cristo deve estar em todas as
circunstâncias da adoração (FRAME, 2006, pg. 49-54).
O culto sacrificial, o templo e o sacerdócio estão em Cristo. O culto é em fidelidade a
ele que é a própria Palavra. É dele e por ele um culto que está firme as Escrituras. O
PRC aponta para a obediência a Palavra e a instrumentalidade da mesma.
Como vimos a cima o culto é visto em sentido amplo que é a principal mudança do
culto entre os dois Testamentos. Mas também existe a ordenança para que os cristãos se
reunissem para louvar, orar e celebrar os sacramentos. Nesta ocasião Deus estava com
seu povo de forma especial. Os primeiros cristãos reuniam-se por ordenamentos
recebidos dos apóstolos. Portanto este culto era formatado, regulado, pela autoridade
apostólica.
30
Tratamos até aqui sobre o que era o culto no Novo Testamento e vimos que não existe
uma ruptura com o do Antigo Testamento. Os acontecimentos como cerimônias do
templo, as festas e o sacerdócio cumprem-se plenamente em Cristo. Mas a adoração
continua um imperativo de Deus. Imperativo este que vincula à aceitação, por parte de
31
B) A Autoridade das Escrituras nos diz que Deus se revela de forma especial através da
Bíblia e é ela quem estabelece toda doutrina, governo e vida para o cristão e para igreja.
C) A Condição espiritual do homem como doutrina diz que o homem é totalmente
depravado e portanto está em rebelião para com Deus. Neste estado todos os atos são
pecaminosos não há no coração a intenção de glorificar a Deus. O homem não tem
como instituir um culto santo e agradável por si mesmo se fazendo necessária a
observação da doutrina da Autoridade das Escrituras. D) A Suficiência de Cristo – o
pensamento reformado sustenta que a obra redentora de Deus atinge seu ápice na vida e
obra de Jesus Cristo. Isto é apresentado de maneira mais peculiar pois a redenção é
apontada pelos seguintes ofícios de Cristo: profeta, sacerdote e rei. E) A Soberania de
Deus na Salvação é a doutrina que diz que o homem pela sua condição espiritual é
dependente da vontade soberana de Deus para que seja salvo. O homem sem Deus está
morto em seus delitos e pecados e não coopera para sua salvação (SANTOS, 2006, p.
131-143). F) Centralidade da pregação nas missões – essa doutrina entende a igreja faz
missões através pregação do evangelho de Jesus Cristo. E esta é motivada pelo “o amor
a Deus e o zelo pela sua glória, obediência ao mandamento de Cristo e ao seu desejo de
que todos ouçam a mensagem do evangelho e pelo amor ao próximo” (SANTOS, 2006,
p. 143).
Como vemos a Soberania de Deus, a Autoridade das Escrituras, e a condição espiritual
do homem cooperam para o entendimento do PRC.
A palavra princípio tem significados variados. Dentre eles podemos dizer que principio
é: idéia de começo, ponto de partida ou mesmo verdade primeira que serve de
fundamento para algo. A palavra princípio vem do latim principium e tem sua origem
em principal, primeiro, e, assim, demonstra a procedência de ação ou conhecimento. A
palavra princípio também pode significar regra ou norma, mas relativo ao tema é uma
diretriz e não uma ordem. Temos como exemplo a norma bíblica “Não matarás” que
não é absoluta. Esta norma, princípio, orienta sobre o valor da vida humana. Pois no
caso de defesa própria ou de inocente tal norma não se aplica. Assim informamos que
para o presente trabalho princípio é uma regra geral, uma diretriz de pensamento e
ações. (ERICKSON apud HENRY, 2007, p.467).
O Principio Regulador do Culto é uma doutrina que entende que é Deus quem instrui a
igreja a respeito do Culto. Isto é, Deus através da sua Palavra, a bíblia, com
mandamentos diretos, que podem ser compreendidos por uma dedução racional, ou
originar-se através de prática histórica estabelecida. O culto, portanto, se realiza, em sua
totalidade, em atos determinados pela Palavra de Deus. (SCHWERTLEY, 2017, p.2)
34
“...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e
tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as
imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob
qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas
Santas Escrituras”.( Confissão de Fé de Westminster)
O Princípio Regulador do Culto definido como temos hoje é sem dúvida formulação
puritana. Os puritanos com o seu amor a Palavra e intento de fazer, com relação ao
culto, só o que era ordenado na bíblia, que primeiro trataram da Palavra de Deus como
um princípio regulador. Mas veremos neste capítulo que isto foi um desenvolvimento
do fundamento da fé reformada chamado sola scriptura. E também veremos a mesma
concepção nos escritos de Calvino. Para ele a Palavra é o fundamento para o culto e que
nada além dela deve ser utilizado.
O Sola Scriptura é um dos fundamentos da reforma. E é ele quem define o PRC pois a
Escritura, Palavra de Deus, no pensamento reformado, é quem regula o culto.
A Escritura é a única e infalível autoridade para igreja. Tal doutrina afirma que com a
morte dos apóstolos as formas e revelação indireta cessaram. As autoridades e concílios
eclesiásticos estão subjugados a Escritura e nem estes ou qualquer homem pode
acrescentar ou subtrair algo.
As Escrituras são a regra de fé e prática que regulam a relação do cristão como filho de
Deus em todas as coisas. Os santos estão sob esta autoridade e reconhecendo-a tem
segurança no proceder requerido por Deus. Assim também o PRC reconhece a
autoridade das escrituras e de forma especifica as tratam no ambiente do culto.
As coisas de Deus não são tratadas pelo reconhecimento natural. Mas somente na
observação da especial revelação de Deus é que a glória ao seu nome é dada. Somente
por dedicação a um viver em conformação com as Escrituras. E em relação ao culto a
doutrina que aponta esta conformação é o PRC.
Toda a verdade a ser crida e vivida a cerca da salvação foi revelada por Deus de forma
progressiva. Ele revelou de forma direta e sobrenatural através do seu Santo Espírito por
meio de anjos, sonhos, visões, teofanias, pessoas inspiradas e por Jesus Cristo, o seu
filho, o que o homem caído por si não poderia conhecer a respeito de Deus. É desta
revelação que Paulo fala em Gl 1.11-12: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho
que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi
de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.“ E o próprio Deus ordenou que
essa revelação fosse escrita e estivesse sempre disponível e preservada do homem e sua
natureza corrompida e da malicia de Satanás. A vida revelada na Palavra de Deus
também está na forma do culto. As verdades escritas são as palavras de instrução sobre
a salvação, sobre o culto conforme o PRC se empenha em buscar, também santificação,
o serviço e a vida do homem reconciliado com Deus (ANGLADA, 2013, pg.37).
As escrituras são o fundamento do culto e seus aspectos são garantidores de sua
confiabilidade e perfeição. Isto é explicado pelas seguintes aspectos a cerca da mesma:
inspiração, autoridade e suficiência. Temas que serão tratados a seguir.
A bíblia foi escrita por pessoas dirigidas pelo Espírito Santo e, portanto, é de natureza
divino-humana. É a revelação autoritativa de Deus e cada palavra dela vem Dele e,
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portanto, é infalível e inerrante (ANGLADA, 2013, pg.73). “Só existe um único livro
que nos declara a mente e a vontade de Deus. Por ser inspirada pelo próprio Deus, a
Escritura é autoautenticada e absoluta” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.12). A inspiração
para o culto é dada, palavra por palavra, do próprio Deus. Não cabendo ao arvorar-se
inspirado quando altera o ordenamento divino para o culto. Tal atitude fere o PRC, ele
fere a Palavra de Deus. Não há novas revelações diretivas para o culto.
Este atributo das sagradas Escrituras nos afirma que ela deve ser crida e obedecida. A
bíblia é a fonte suprema de autoridade sobre qualquer assunto nela tratado como, por
exemplo, o culto. Ela é a nossa única regra de fé e prática (ANGLADA, 2013, pg.76).
“A Bíblia é o único padrão absoluto e objetivo, pelo qual a ética, a doutrina, o governo
da igreja e a adoração devem ser julgados” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.12). Esse padrão
absoluto não dá ao homem discricionariedade para formular um culto a Deus. Não pois
são as Escrituras
Tudo que Deus requer da sua igreja pode ser encontrado em sua Palavra ou dela ser
logicamente inferido. Ela é completa e não cabe qualquer acréscimo de tradição ou nova
revelação. Por isso não é lícito ao homem ir além do que é prescrito por Deus na sua
Palavra em matéria de Culto (ANGLADA, 2013, p.91-98).
Este aspecto nos faz perceber que existe que há um “Princípio Regulador das
Escrituras” de onde se infere um PRC. O homem deve, portanto, observar segundo a
bíblia, tudo o que diz respeito a sua existência no âmbito da fé e da prática. A Bíblia
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Sagrada é portanto suficiente em instrução para o culto. O PRC aponta e acata este
atributo da Palavra.
O PRC é a aplicação do fundamento reformado sola scriptura na esfera do Culto.
Porque a Palavra de Deus apresenta-se Inspirada, Autoritativa e suficiente para conduzir
igreja ao culto verdadeiro.
O maior expoente da Reforma é sem dúvida João Calvino (1509-1564). Ele como
teólogo e expositor bíblico é quem mais influenciou a doutrina do culto da igreja
presbiteriana. Dentre suas preocupações, Calvino, tratou sobre o culto como se vê
abaixo:
Ele como excelente teólogo e expositor bíblico é quem mais influenciou a doutrina do
culto da igreja presbiteriana. Para Calvino ser reformado é mais do que ter uma
soteriologia com base bíblica, é “também uma concepção bíblica da adoração”
(SCHUWERTLEY, 2001, p. 125). O entendimento doutrinário de Calvino a respeito do
culto são preservados até os dias de hoje nas suas obras. Tanto nas Institutas da Religião
Cristã como em seus comentários bíblicos ele afirma ser Deus, através da sua Palavra,
quem determina a forma de adorá-lo. Deus é que instrui de forma definitiva e
inquestionável o culto ao seu nome. Este entendimento nada mais é o que mais tarde
“viria a se chamar de Princípio Regulador do Culto” (SCHUWERTLEY, 2001, p.
125). E como trataremos a seguir veremos que o PRC não é nomeado ou definido nos
escritos de Calvino. Mas o seu entendimento é que as Escrituras dirigem o culto.
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Calvino, ao comentar Levítico capítulo dez, declara que o ocorrido com Nadabe e Abiú
é um reflexo da abominação de Deus à corrupção da religião. A pureza da adoração foi
violada quando os filhos de Arão levaram fogo estranho diante do Senhor. O julgamento
de arrogantes pode pensar ser uma punição muito grande para o delito. Calvino, porém,
diz que o entendimento do texto passa, pelo quanto sagrada é a adoração a Deus e por
que “era necessário que sua religião fosse sancionada em seu próprio começo”
(CALVIN, 1998, p. 307 – tradução do autor). O pecado deles foi oferecer incenso sem
atentarem ao que a lei prescrevia. “Embora tenham errado em ignorância, ainda assim,
foram condenados pelo mandamento de Deus ao negligenciarem o que era digno de
Maior atenção” (Calvin, 1998, p. 307 - tradução do autor). O culto, a adoração a Deus, é
regulado por suas determinações e qualquer invenção humana é abominação. As
invenções humanas são “fogo estranho” corrompem a santidade do culto. (CALVIN,
1998, p. 307)
Calvino fala que a declaração de Deus quando diz “Não profanem o meu santo nome”
confirma o seu sentimento na punição de Nadabe e Abiú. A pureza e integridade do
culto deve ser mantida. Pois a santidade na adoração os leva a uma adoração legitima e
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Deus está condenando o povo por sua hipocrisia e superstição que estão sempre
acompanhadas pela impiedade. Os homens maus pensam fazer tudo o que é necessário
em honra a Deus enquanto “os homens bons do sentimento mais profundo do coração,
se apresentam diante de Deus, e, enquanto cedem a sua obediência, confessam e
reconhecem o quão longe” estão da perfeição no cumprimento de todos os seus deveres
(CALVINO, 1998, p. 662-663). Calvino diz que a figura da boca e dos lábios denota o
todo e por elas a piedade é assumida. Mas o coração está longe de Deus o que
demonstra que estão inclinados a mentira e falsidade. Deus também condena a adoração
com base em invenções humanas por mais que se esforcem convencidos de uma
possível devoção. A reverencia da adoração é fundamentada e regulada por Deus em
sua Palavra e sem ela todo culto, devoção e reverencia são esvaziados e condenados.
Jesus confirma as palavras do profeta Isaías ao dizer: “Em vão me adoram; seus
ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mt15.9) (CALVINO, 1998,
pg. 663-664).
Calvino ao comentar o texto reprova a forma com os homens em sua insolência tratam
com a lei. Manter o que Deus exige era algo trivial para os fariseus e mestres da lei.
Estavam sempre buscando novas formas de culto e tratavam suas criações como algo
mais perfeito que a Palavra de Deus. “Enquanto isso, a adoração de Deus é corrompida,
da qual o princípio primeiro e principal é a obediência. A autoridade dos homens é
preferida ao comando de Deus” (CALVIN, 1997, p. 189).
Com isso a majestade da lei é desconsiderada e a reverencia é diminuída. A transgressão
é a inclusão de uma tradição cerimonial humana sendo considerada como parte do culto.
Deus deve ser adorado como estabelecido em sua Palavra, portanto sem nenhum
aditamento. Estes homens, no que diz respeito as ofertas voluntárias, asseveraram a lei
ao ponto de desconsiderarem o quarto mandamento e por suas tradições deixavam seus
pais a própria sorte. Buscavam a santidade dentro de suas criações, mas a mesma é
obtida em, por fé, cumprir esta lei sem reservas crendo que a mesma é perfeita. A
verdadeira santidade consiste na sincera retidão do coração! Para Calvino o que o
Senhor Jesus declara é que uma vez que a adoração de Deus é espiritual deve ser
acompanhada de sinceridade no interior do coração. Assim, os que fazem exibição
externa, são hipócritas. E quando Jesus cita o profeta Isaías dizendo “em vão me
adoram” é porque não há honra a verdadeira religião. A verdade é que estes tolos
“homens se permitem vagar além dos limites da Palavra de Deus, quanto mais trabalho
e ansiedade aparecem ao adorá-lo, mais pesada é a condenação que eles desencadeiam
sobre si mesmos” (CALVIN, 1997, p. 188). O temor deles para com o Senhor era
fundamentado nos mandamentos de homens.
Cl 2.22-23 - Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se
baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato,
aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e
severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos
da carne.
A questão tratada pelo Apostolo Paulo aos cristãos colossenses é a criação de filosofias
e tradições humanas. Coisas externas e falhas que são a base de sua religião, mas estas
nada tem relação com o reino espiritual de Deus. “O culto divino, a verdadeira piedade
e a santidade dos cristãos não consistem em bebida e comida e roupa, coisas essas
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A maior obra de Calvino são as chamadas Institutas da Religião Cristã. Elas são como
uma manual para os cristãos. Tem o objetivo de ensinar tudo quanto a vida piedosa. As
Institutas foram a fonte doutrinária do que veio a se chamar calvinismo. Forma de
pensamento que influencio profundamente o que veio as igrejas reformadas e como
consequencia a IPB. Calvino, nas Institutas, fez uma série de criticas a Igreja de Roma
por encontrar auoridade em outro lugar que não as Escrituras. Vemos um exemplo
abaixo:
Para o Dr. W. Yong, Calvino, faz declarações que libertam os homens da imposição de
Roma. Essa força libertadora corta a força de imposições de homens com relação ao
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culto e a adoração. Pois no âmbito do culto toda instituição é de Deus. Yong diz que isto
é o Príncipio Regulador do Culto Reformado ”(YONG, 2000, p.3).
Deus a quem quer atrair para mais perto a fim de ter intimidade, a luz de sua Palavra,
revela a sua salvação. As Escrituras dissipam as trevas de nossa mente e por elas o
conhecimento verdadeiro de Deus é obtido com clareza. É pela Palavra que Deus instrui
a igreja proclamando que deve ser adorado e como deve ser adorado. As escrituras são
“a mais direta e segura marca para reconhecê-lo” (CALVINO, 2015,I.IV.3).
Portanto, por mais que ao homem, com sério propósito, convenha volver os
olhos a considerar as obras de Deus, uma vez que foi colocado neste
esplendíssimo teatro para que fosse seu espectador, todavia, para que fruísse
maior proveito, convém-lhe, sobretudo, inclinar os ouvidos à Palavra
(CALVINO, 2015, I. IV.2).
Para que o homem viva a verdadeira religião tem de ter a doutrina celeste, a Palavra,
como o princípio fundamental de todas as coisas. Pois o reto conheceimento daquele
que é luz e perfeição em todo o seu ser, Deus, nasce da obediencia as Escrituras. É ela
quem nos protege do erro! Conquanto que a mente humana é tendenciosa ao erro, tende
a criação de novas e fantasiosas religiões. Calvino diz que “Deus proveu o subsídio da
Palavra a todos aqueles a quem quis, a qualquer tempo, instruir eficientemente, porque
antevia ser pouco eficaz sua efígie impressa na formosíssima estrutura do universo”
(CALVINO, 2015, I.IV.3). Importa que nos apeguemos a Palavra porque e é dela que a
compreensão de Deus se torna real e viva. Não temos outro modo de nos dirigirmos no
culto ao Senhor diferente da Palavra (CALVINO, 2015, I.IV.3).
O profeta que diz que a glória de Deus é proclamada pelos céus também faz menção a
Palavra quando diz: “A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma” e também “Por elas
o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes” (Sl 19.7a e 11).
Calvino ensina que Deus convida todos a contemplação dos céus mas a sua
manifestação especial é a Escritura. Pois o homem está em total ignorancia e não pode
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achegar-se a Deus a não ser por sua Palavra. Em Jo 4.22 Jesus diz a mulher samaritana
que seu povo adora o que não conhece e somente os judeus apresentavam o culto
verdadeiro (CALVINO, 2015, I.IV.4).
A autoridade da Bíblia provem de Deus e não da Igreja. E Ele decidiu por não enviar
seus oráculos diariamente, mas nas Escrituras consagrou sua verdade e lembrança de
forma perpétua. Portanto é um erro grave imaginar que as Escrituras estão sujeitas ao
julgamento da igreja como se ela, sendo perfeita, pudesse apoiar-se no arbítrio dos
homens. É por ela, Palavra, que encontramos solida certeza da vida eterna. A igreja não
tem decisões livres para serviço a Deus!
Deus não admite que o limitado homem crie imagens de qualque material que
representem a Ele. O criador de todas as coisas não pode ser representado por nada
criado. Nem admite que seja adorado quaisquer das obras da criação como sol, lua ou
mesmo o homem. Toda e qualquer representação é um meio supersticioso. Tal atitude é
contradizer o ser de Deus. Calvino apoia-se nas palavras do apostolo Paulo: “Visto que
somos geração de Deus, não devemos pensar que o divino seja semelhante ao ouro, à
prata ou à pedra trabalhada pela arte ou invenção do homem” [At 17.29]. Esta proibição
de Deus segue também para imagens que tenham alusão a sua manifestação pois a
nuvem, a fumaça e a chama eram simbolos da glória celeste para o povo de Israel.
Tambem condena imagens e representações de Deus. As representações de Deus levam
a imediata adoração desta pois os homens julgam estar vendo o Senhor nas mesmas
(CALVINO, 2015, I.XI. 3-9).
Que culto Deus realmente requer se verá em seu devido lugar, em outra parte.
Ora, mediante sua lei, quis ele prescrever aos homens o que é justo e reto, e
dessa forma que eles sejam restringidos por uma norma precisa, para que a
ninguém se permita forjar qualquer expressão cultual (CALVINO, 2015,
I.XVII.3, ‘grifo do autor’)
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A verdadeira religião, o culto com base no conhecimento de Deus, tem nas escrituras
seu fundamento. Pois sempre que frizam que há somente um Deus isto nos impõe não
transferir a nada o que compete a Deidade. E o homem que se aproxima Dele para um
culto legitimo, em obediência, deve entendê-lo único legislador da sua adoração
(CALVINO, 2015, I.XVII.1).
Regulador Puritano2: tudo no culto deveria ser regulado pelas Escrituras, mas trazia em
consequencias uma grande repercussão em todas as áreas da vida”(Canuto, 2007, p.4).
O entendimento puritano da suficiência das Escrituras os fazia focar somente nas
ordenanças da Palavra. A frase a seguir explica melhor este pensamento: “Não
queremos saber daquilo que pode ser feito só porque a Bíblia não proíbe, mas queremos
fazer só que ela ordena”(CANUTO, 2007, pg.4).
Martin Lloyd-Jones destaca quatro importantes fatores que definem a maneira de ser
puritano (LLOYD-JONES,1993, p. 266).
1) O puritano tem sua “raiz” na compreensão de todas as coisas a luz do ensino das
Escrituras.
2) O puritano declara que a visão de mundo apresentada pela fé evangélica não é
apenas mais uma, mas arraigada na Palavra, é a unica que tem validade.
3) Os puritanos enfatizam à comunhão e a espiritualidade do culto. “A Igreja reunida é
o coração da idéia puritana” (LLOYD-JONES,1993, p. 266).
4) “Os puritanos criam também na extirpação do pecado e numa rígida disciplina
eclesiástica” (LLOYD-JONES, 1993, p. 266).
Em decorrencia da busca dos ordenamentos bíblicos voltaram-se para um culto simples.
Rejeitaram tudo do culto católico-romano e do anglicano que não podiam encontrar
como ordenamento bíblico. O culto puritano era composto dos seguintes elementos:
1. Leitura bíblica
2. Oração
3. Cântico dos Salmos sem acompanhamento de instrumentos
4. Pregação como o mais importante
5. Santa Ceia
6. Batismo
O que determinou este formato de culto foi o Princípio Regulador do Culto
(ANGLADA, 1997, p. 10).
2
Entenda, neste caso, o Princípio Regulador Puritano e Princípio Regulador do Culto como a mesma a
mesma doutrina. Porem “A terminologia geralmente empregada (Principio regulador Puritano) não
expressa bem o assunto. Não porque os puritanos não defendessem o princípio que estamos
considerando. Mas porque não indica o assunto, e porque a defesa deste princípio não se limita a eles”.
(ANGLADA, 1997, pg. 10).
48
tidos hoje como símbolos de fé da IPB trazem neles o sentido do PRC. Os mesmos
serão tratados no capítulo que segue junto a outras confissões reformadas.
Esta é a confissão reformada mais antiga e foi chamada de Belga, pois se refere a todos
os Países Baixos. Este território corresponde hoje a Holanda e Bélgica. Ela data do ano
1561 e é também chamada de Confissão Walloon ou Confissão da Holanda.
A Confissão Belga tinha como principal objetivo defender os cristãos reformados
perseguidos pelo Rei Filipe II da Espanha, adepto a igreja de Roma. O Principal autor
desta Confissão foi Guido de Brès e seu intento era comprovar que os crentes
reformados eram fiéis as verdades bíblicas. Mas isto não deu certo pois as autoridades
da Espanha continuaram a perseguir os cristãos. Em 1567, de Brés tornou-se mártir mas
a sua obra perdura até os dias de hoje.
51
O Sínodo de Dort ( 1618-1619) adotou a Confissão Belga como padrão doutrinário das
igrejas reformadas.
A Confissão Belga declara a Palavra como regra perfeita para servir a Deus. Ela trata
sobre o assunto das Sagradas Escritos em quatro artigos que são:
“Artigo 3” – A Palavra escrita de Deus: declara que os escritos sagrados foram
produzidos por homens santos movidos pelo Espírito Santo.
“Artigo 4” – Os livros Canônicos das Sagradas Escrituras: Afirma que crêem nos 66
livros do Antigo e Novo Testamentos e que contra estes nada pode ser alegado.
“Artigo 5” – De onde as Sagradas Escrituras derivam sua dignidade e autoridade:
Declara que as Sagradas Escrituras regulam, fundamentam e confirmam a fé. Elas são
testificadas pelo Espírito ao coração que são de Deus
“Artigo 7” – A suficiência das escrituras sagradas para serem a única regra de fé:
Declara que as Escrituras são a perfeita vontade de Deus. Nela Ele, Deus, escreve todo
o modo de servi-lo.
O Catecismo de Heidelberg demonstra com clareza que a Palavra é quem dirige a forma
do culto. Ele é enfático como vemos na pergunta que segue:
52
A primeira Confissão Helvética foi criada em 1536 e foi apreciada por Lutero. Mas ela
foi rejeitada por discordâncias sobre a “presença real” de Cristo na Ceia. A Segunda
Confissão Helvética surgiu como uma confissão pessoal. Heinrich Bulinguer contraiu a
peste que assolava Zurique e revisou um trabalho antigo. Mas ele não morreu e o
príncipe Frederico III o pediu que elaborasse uma confissão de fé reformada.
A Segunda Confissão Helvética é formatada como um manual de teologia. Tem como
influência a versão definitiva das Institutas e seu ponto de partida são as Escrituras.
Esta confissão declara: “Cremos e confessamos que as Escrituras Canônicas dos santos
profetas e apóstolos de ambos os Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus, e têm
suficiente autoridade de si mesmas e não dos homens”. É pelas Escrituras que igreja é
instruída a respeito da verdadeira piedade e sabedoria. Por isso são rejeitadas todas as
tradições humanas. Estas tradições podem ser belas e com títulos impotentes, ou
mesmo, se apresentar com títulos atraentes e delas se dizer “são divinas e apostólicas”.
Mas se não apresentarem provas bíblicas devem ser rejeitadas.
Este tratado também afirma em relação as “Obras de escolha humana” que os cultos não
são realizados por uma escolha, por nosso arbítrio, pois estes não são agradáveis a Deus.
Este documento do sec. XVI é um dos mais influentes do período após a reforma da
Igreja. A Confissão de Fé de Westminster (CFW) foi produzida por teólogos de
Westminster e é uma exposição minuciosa da teologia reformada. Depois de muitos
anos de problemas com o rei Carlos I, o parlamento com majoritariamente puritano,
reuniu-se com o objetivo de uniformizar a fé praticada em todo o reino.
O Dr. William Twise foi presidente e junto aos delegados teve a tarefa de revisar os 39
artigos utilizados até então pela igreja da Inglaterra. E depois da assinatura da Solene
Liga da Aliança a assembléia direcionou-se para o enquadramento doutrinário que era
praticado na Igreja Presbiteriana da Escócia.
“I. A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania
sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido,
amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma
e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é
instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que
não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou
sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer
outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”. (grifo do autor)
Como vemos que a CFW declara, a luz da Palavra, que todo ensino humano relativo a
doutrinas e mandamentos são conduzidos pela revelação especial de Deus. Isto é
determinante para CFW afirmar que toda a forma de culto não pode ir além da clara
autoridade da Escritura (HODGE, 1999, p. 369).
Abaixo segue a seção em que a CFW, capítulo XXI.V, declara o que deve ser feito no
culto. O culto devido a Deus compõe-se dos seguintes elementos:
Deus nos fala através de sua Palavra quando ela é lida e pregada de forma apropriada.
Há nas Escrituras o ordenamento para oração, cântico de salmos e da ministração dos
sacramentos. A Seção VII afirma que ouve uma mudança de dia escolhido para
adoração. Desde o princípio existiu um dia para o culto. Este dia foi o sábado como
declarado no terceiro mandamento. Mas que desde a ressurreição de Cristo, o domingo,
chamado “Dia do Senhor”, passou a ser o dia determinado para a reunião do povo de
Deus para o culto solene. O fato da mudança é explicitar “o fato da ascensão do
Redentor crucificado e seu posicionamento à destra do poder, o grande fato central da
religião de Cristo” (HODGE, 1999, p. 365).
(ROBERTS, 2003, p.9) de toda a sua liderança, ou seja, dos pastores, presbíteros e
diáconos.
Com relação a sua teologia podemos dizer que o Sistema presbiteriano é caracterizado
por três grandes elementos: “no primeiro estão as doutrinas aceitas por todos os cristãos;
no segundo, doutrinas mantidas por todos os protestantes; e no terceiro, as doutrinas
caracteristicamente calvinistas” (ROBERTS, 2003, p.10).
O aspecto mais direto a este trabalho é o Culto. O Sistema Presbiteriano é aplicado a
Igreja Cristã e nela o culto é parte central. As doutrinas que direcionam o culto neste
sistema são:
a) somente Deus deve ser adorado; b) deve ser adorado pela mediação de
Cristo apenas; c) Deus aceita o culto quando tributado em espírito e em
verdade, sob a direção do Espírito Santo; d) somente no culto verdadeiro
pode O pecado ser perdoado e obtido O favor divino; e) no Evangelho, parte
alguma do culto religioso aparece subordinada a este ou aquele lugar; Í)
dentre os sete dias da semana, Deus separou um para o descanso, devendo
esse dia ser inteiramente consagrado a Deus; g) os princípios gerais do culto
estão expostos na Bíblia (ROBERTS, 2003, p.13-14) grifo do autor.
A soberania de Deus está presente em todas estas doutrinas. O culto, debaixo desta
soberania, segue a Palavra de Deus. E deve buscar atender obedientemente todas as
ordenanças quanto ao culto. Isto gera uma formatação de culto clara e simples. A
mesma foi usada no presbiterianismo desde o seu surgimento. Sobre isto veremos a
seguir na história do Presbiterianismo.
Oração dando origem ao que se chamou de Segundo Livro de Oração. Com a chegada
de “Maria, a sanguinária”, perseguidora da fé reformada, Knox exilou-se em Genebra.
Knox tinha um profundo desejo de limpar a igreja e condenava abertamente os desvios
praticados pela igreja de Roma.
“Os protestantes têm como postulado básico de sua fé que a leitura da Bíblia,
por si só, não somente instrui os indivíduos na religião, mas é instrumento de
conversão. Além disso, o próprio culto protestante exige a leitura, pois que o
seu material litúrgico são a Bíblia e o livro de hinos” (MENDONÇA, 1984,
p.95)
A Igreja do Norte (PCUSA) concentrou seus esforços no Sudeste e sul do Brasil mais
Bahia e Sergipe. Já a missão da Igreja do Sul (PCUS) concentrou-se em Campinas e
adjacências, Nordeste e parte de Minas Gerais. E após trinta anos de trabalho
missionário estas missões decidiram que era tempo da Igreja Presbiteriana brasileira ter
autonomia. Isto aconteceu de fato com a criação do Sínodo Presbiteriano em setembro
de 1888. Nesta ocasião a Igreja Presbiteriana do Brasil “adotou como padrões
62
Veremos neste tópico que a IPB trata com seriedade o tema do PRC. Tem a correta
compreensão e é ciente da importância, pois se firma no ensino das Escrituras. O autor,
em sua ambiência, percebe que o ensino do PRC é negligenciado por muitas igrejas
presbiterianas. E em outras denominações é totalmente ignorado. O que é um erro grave
percebido desde muito por Calvino e pelos Puritanos. O culto não firmado na Palavra é
pecado. Por isso a IPB tem instituído documentos que ensinam o culto com base no
PRC, ou seja, um culto bíblico.
A IPB tem ordinariamente em seu culto público a leitura da Palavra de Deus, a pregação
desta Palavra, orações, o uso dos cânticos sagrados e as ofertas. Bem como a
ministração dos sacramentos (Batismo e Santa Ceia) ordenados pelo Senhor Jesus. Está
forma de culto é mais confessional e calvinista. Ela é bíblica e alterá-la sem apoio na
Palavra, única regra de fé e prática é pecado.
Segundo Hermisten Maia os elementos do culto “normalmente” usados na IPB, ou seja,
não são obrigatórios, são:
Podemos perceber pela citação acima que o padrão de culto da IPB é harmônico com o
pensamento de culto de sua Confissão de Fé bem como de João Calvino e John Knox. É
um culto simples que busca seus elementos na Palavra de Deus.
O manual do Culto da IPB foi elaborado por uma comissão nomeada pelo Supremo
Concílio. Portanto o mesmo só pode ser alterado por uma reforma constitucional. Ou
seja, de forma direta o PRC faz parte do documento maior da IPB. O Manual do Culto
apresenta a seguinte forma para o culto dominical.
1. O dirigente, ao iniciar o culto, deve convidar a igreja a oração.
2. “O hino será anunciado assim
– Cantemos em louvor ao Deus triúno o hino 8, do Novo cântico (como exemplo)”
3. A leitura das Escrituras será anunciada da semelhante forma:
- Vou ler para nossa instrução a Palavra de Deus como se acha em Is 6.1-7
-Segue-se a leitura do texto
4. Depois da leitura, o povo é convidado a orar
- Oremos
5. Em seguida procede-se à leitura bíblica
- Leiamos na Palavra de Deus o Salmo 51
6. Acabada a oração e leitura, será anunciado e cantado o hino 67 (como exemplo)
- Cantemos em louvor a Deus o hino 67 do hinário Novo Cântico
7. Depois do hino será pronunciado um Sermão
8. Acabado o pronunciamento do Sermão, far-se-á oração. O dirigente dirá:
- Oremos (pode ser em uníssono o salmo 103)
9. Terminada a oração, cantar-se-á um hino, anunciado do seguinte modo:
- Louvemos a Deus, cantando o hino 88 do hinário Novo Cântico (como exemplo)
10. Oração – Segue o exemplo abaixo
- A ti, que és poderoso para nos conservar sem pecado e para nos apresentar
ante a vista da tua glória, imaculados com exultação na vida de nosso Senhor
Jesus Cristo; a ti, único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo nosso Senhor,
seja dada glória e magnificência, império e poder, antes de todos os séculos, e
agora, e para todos os séculos dos séculos. Amém.
11. O ministro poderá convidar o povo a se pôr de pé e impetrará sobre ele a bênção.
A comissão especial não tinha como propósito estabelecer novos princípios de liturgia.
A igreja tem seus princípios de liturgia em sua regra de fé e prática conforme nos diz a
confissão. A IPB considera suficiente o que é tratado sobre Culto na Confissão de
Westminster, Catecismos e em seus princípios de liturgia. Ela limitou-se neste
documento a pronunciar-se “aos oficiais e aos membros arrolados quanto às expressões
físicas no culto, a saber, danças, coreografias, expressões fortes e palmas” (COMISSÃO
EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.1). No que se refere ao
culto a Igreja Presbiteriana do Brasil declara de forma firme que são as Escrituras que
balizam o culto conforme compreendido pelo PRC.
Pela declaração a cima vemos que a IPB como igreja cristã adora a Deus, tem as
Escrituras como regra de fé e prática, mas também faz uso de sua Confissão de Fé, de
sua teologia reformada calvinista e da sua identidade denominacional que aponta para
os puritanos para formular sua decisão a respeito do culto. Qualquer prática diferente
constitui-se mais que um erro contra a IPB, é um erro contra o Senhor. Podemos
lembrar mais uma vez das palavras pronunciadas pelos puritanos: “Não queremos saber
daquilo que pode ser feito só porque a Bíblia não proíbe, mas queremos fazer só que ela
ordena” (CABUTO, 2007, p.4). Esta mesma visão conduzem os documentos sobre o
culto na IPB aida hoje.
4.3.4.2 O TEMPLO
Seguindo o que diz na Confissão (CFW, XXI.6), o culto público pode ser prestado em
qualquer lugar. O que o caracteriza é a sua convocação pública e não o local. Não
existem locais mais sagrados a semelhança do templo de Jerusalém. Isto não significa
um lugar qualquer. O lugar escolhido para o culto deve “levar em consideração a
conveniência, propriedade, facilidade, e outras circunstâncias que devem ser analisadas
68
sempre pelos princípios gerais da Bíblia e pelo bom senso” (COMISSÃO EXECUTIVA
DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.4).
As igrejas locais são uma viva expressão da igreja de Cristo. E, além disso, elas também
constituem-se em comunidades socialmente organizadas. E por isso admite-se que atividades
de cunho sociocultural façam parte da vida da igreja. Portanto não há erro algum em festas
relativas ao calendário público ou eventos que visam lazer e cultura. Nem mesmo atividades
que objetivam criar oportunidade de melhora profissional.
Mesmo reconhecendo que a IPB admite que se façam atividades de cunho sócio
cultural. Tais atividades “não devem ter lugar no culto, pois nem são elementos deste e
nem contribuem para que os referidos elementos sejam mais bem utilizados pelo povo
de Deus” (COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008,
p.5).
“Como tal, a cultura não deve ser percebida como algo moralmente neutro. A
queda do homem afetou profundamente todas as dimensões de sua existência.
As culturas, embora preservando valores morais e éticos bons por causa da
graça comum de Deus, refletem o atual estado do mundo caído e sem Deus,
morto em ofensas e pecados e, por natureza, debaixo de sua santa ira e
condenação. Muitos aspectos culturais são distorções da revelação natural de
Deus (Rm 1.18-31)”.
Assim, os costumes culturais de um povo não devem ser usados como orientação do
culto revelado por Deus em sua Palavra. Como, por exemplo, as danças inseridas por
algumas religiões em seu culto. A regra de fé e prática são as Escrituras, a Palavra de
Deus, e nela devemos buscar os princípios de liturgia que dão forma ao Culto a Deus.
Ao tratar do PRC a carta pastoral lembra, de forma semelhante à Calvino, aos puritanos
e aos fundadores do presbiterianismo, quando se volta para a Palavra para responder os
69
Todas as atividades ordenadas nas Escrituras com o propósito de adorar a Deus são
chamados “elementos de culto”. Em essência o culto do Antigo Testamento e do Novo
são o mesmo culto, mas com administração diferente. As cerimônias eram uma
prefiguração de Cristo, sua vida e obra. Elas não fazem parte do culto do Novo
Testamento, mas os princípios e elementos confirmados nele são utilizados como regra
no serviço a Deus.
Assim, o próprio Deus, por sua Palavra revelou quais são os elementos do culto que lhe
são agradáveis. Os elementos de culto que devem ser observados pela IPB são os
elencados em sua Confissão (CFW):
- orações
- juramentos religiosos
O culto público no decorrer da história recebeu certas mudanças por parte das igrejas
reformadas. Podemos verificar dentre estas mudanças a introdução de instrumentos
musicais como piano, violão e guitarra ou de percussão como a bateria. Além dos
instrumentos foram incluídos o canto coral e a condução do louvor por uma banda.
Outras alterações ocorreram pelo desuso como a peruca por parte dos pregadores e o
véu por parte das mulheres. Por motivo de saúde pública o cálice único foi substituído
pelo individual. Porém todas estas alterações foram em circunstâncias do culto. Os
elementos do culto em si continuam inalterados. As mudanças que “têm ocorrido no
culto ao longo da história da IPB não justifica a inclusão de novos elementos hoje, seja
a título de modernidade, adaptação, contextualização e renovação” (Carta Pastoral). As
circunstâncias do culto são importantes pois a sua função é permitir que o culto ao
Senhor aconteça adequadamente mas não devemos depositar nas mesmas um caráter
religioso.
Ao verificar as condições que devem ser observadas no culto não foge a sua tradição.
Assim como Calvino e os puritanos, toma como base o ensino das escrituras. Isto
portanto inclui elementos e atitudes prescritas nas Escrituras. Isto significa então seguir
o ensino de Jesus para que adoremos “em espírito e verdade” (Jo 4.23-24). “Os
adoradores que ele busca são aqueles que o adoram com a atitude interior aceitável e de
acordo com a verdade por ele revelada aos judeus” (Carta Pastoral). A adoração a Deus
não é permissiva quanto a liberdade de imaginação e sentimentos pois isto configura
uma distorção do ensino de Jesus.
“As Escrituras também nos falam do culto que Deus não aceita. Este é
marcado não somente pelos acréscimos e invenções humanos, mas pela
hipocrisia (Is 1), pela inimizade nos corações dos adoradores (Mt 5.23-24),
pelas divisões internas nas igrejas locais (ICo 1-4 e 11; Gl 5.14-15), pela falta
de ordem e de inteligibilidade (ICo 14), pela entrega de ofertas que
simbolizam a falta de amor e de consagração a Deus (Ml 1), pela vida imoral
do povo e dos seus líderes (Ml 2) e servir ao Senhor de maneira displicente
(Is 58.1-10; Mq 6.6-8; Gl 6.7)” (COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO
CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.10).
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Quando a carta pastoral trata do modo aceitável de cultuar a Deus trás a informação de que,
além de elementos e circunstâncias, o culto requer uma transformação do coração.
A carta foi provocada pela ausência de decisão sobre dança litúrgica, coreografia e
palmas. E com base no Princípio Regulador do Culto entende-se que somente as
Escrituras são regra de fé e prática. Também nos padrões de Westminster e mesmo no
próprio sistema presbiteriano, desenvolvimento da fé reformada que busca a Palavra
como fundamento, estas expressões corporais foram reprovadas. A carta lembra que os
reformadores retiraram do Culto de forma definitiva as dramatizações pois o meio
eficaz de transmissão da Palavra é a pregação.
Com relação a danças e coreografias a Carta Pastoral fundamenta sua decisão da
seguinte forma:
Fundamenta também a sua decisão, por igreja confessional que é, no Catecismo Maior
Pergunta 117 quando se pronuncia a respeito do Dia do Senhor e diz: o Domingo “deve
ser santificado por meio de um santo descanso por todo aquele dia, não somente de tudo
quanto é sempre pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que
são lícitos em outros dias” (CMW P.117). E a despeito das danças e coreografias serem
tomadas como pretexto de encenação ou dramatização a Carta apega-se ao ensinamento
da CFW XXI. V quando diz:
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O culto a Deus deve ser prestado de acordo com a Palavra. E cabe aos pastores e
concílios a orientação e “em todas as coisas, usem de sabedoria, bom senso e prudência
para evitar conflitos, divisões e contendas no meio do povo de Deus”. O SC suplica a
Deus para que a denominação em todos os regiões do nosso país goze de paz e
harmonia.
Desde surgimento do presbiterianismo com John Knox as Escrituras tem o seu devido
lugar. Elas são a base de conhecimento que estrutura a igreja em todos os aspectos como
diz o sistema presbiteriano. Também não há de fugir desta fundamentação o culto. Os
intentos do homem não são puros e só existe segurança nos ensinamentos das
Escrituras. Isto é ensinado pela própria Palavra e por este motivo a IPB não introduz
nada além deste ensinamento. Os cânticos e hinos devem ter sua estrutura arraigada na
Palavra. A forma simples de cultuar a Deus preocupa-se em fazer tudo o que as
Escrituras mandam. Também se preocupa em não introduzir “fogo estranho” ou forçar a
consciência dos cristãos os obrigando a participar de elementos de culto estranhos a
Palavra. Como se estes puros fossem ou se mal não fizessem por serem permitidos fora
do contexto do culto como dança. A IPB entende e informa através de seus documentos
que recebe as santas Escrituras como o PRC. Reconhece estar nelas e somente nelas
tudo quanto Deus requer no culto e considera agradável. O dia do culto é dever da igreja
buscar ciência na Palavra como encontramos no hinário Novo Cântico quando diz na
primeira estrofe do hino A Igreja em adoração.
Eterno Pai, teu povo Congregado
Humilde entoa o teu louvor aqui
No dia para o culto reservado,
Com esperança olhamos para ti.
Teu santo livro, ó grande Deus, tomamos
Com fé singela e reverente amor,
E, como atentos filhos, procuramos
Ciência na palavra do Senhor
(Hinário Novo Cântico, hino 3)
Podemos afirmar que a IPB utiliza PRC por reconhecer a soberania de Deus no culto. A
IPB reconhece que só Jesus é o caminho e que só o percorremos através da Palavra. E
só pela regulação da Palavra pode o culto ser centrado em Cristo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando tratamos dos benefícios adquiridos pela reforma trazidos até nós principalmente
por Calvino, nós reconhecemos que, mesmo através de um desenvolvimento teológico
profundo, o culto continua bíblico. O culto continua atrelado às práticas das sinagogas
freqüentadas por Jesus. O culto deve continuar atrelado às práticas da igreja apostólica.
Por que a fé demonstrada pela prática da Palavra é o que garante ser a adoração em
espírito e em verdade. Isto não pode ser esquecido.
Em nossos dias muito é dito sobre uma nova reforma ou avivamento da igreja brasileira.
Quando vemos a introdução de elementos estranhos ao culto atrelada a falta de uma
ética cristã devemos nos lembrar que o reformador Calvino disse que a reforma passa
pela compreensão de como Deus deve ser adorado. E ele deve ser adorado conforme a
sua santa Palavra ensina. E então chegar a mesma conclusão que os puritanos fazer
somente o que a bíblia ordena fazer.
Quanto a IPB vemos sua liderança, através da carta que trata do PRC, seu empenho por
obedecer a Deus e o buscá-lo em espírito e em verdade. A IPB é confessional e é clara
quanto a sua forma de culto. Seus elementos e circunstancias de culto são claros e não
precisam de modificações. Cabe a liderança das igrejas fidelidade a própria igreja, a
nossa teologia e antes de tudo as sagradas escrituras. O assunto culto sempre foi tratado
com seriedade pelos reformadores e não pode ser negligenciado em nossos dias.
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O autor também se arvora, antes de encerrar de fato este trabalho, a sugerir novas
abordagens do tema do PRC. A primeira seria um trabalho tratando de forma mais
profunda o pensamento de Calvino sobre a regulação da Palavra sobre o culto. Esta
buscaria em outros materiais e também trabalharia com mais profundidade a forma
litúrgica aplicada por Calvino a Genebra. Também seria muito interessante verificar na
história dos pré-reformadores possíveis controvérsias sobre o culto que apontem para o
retorno do mesmo as Escrituras. Outra abordagem sugerida seria a aplicação do PRC em
outras denominações reformadas ou o aprofundamento do PRC dentro do contexto
puritanos.
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