0 valutazioniIl 0% ha trovato utile questo documento (0 voti)
60 visualizzazioni7 pagine
1) A cultura contemporânea compreende a morte como algo distante e oculto, com os procedimentos de morte "terceirizados" para as funerárias e o luto ocorrendo de forma rápida e controlada.
2) A morte invertida se caracteriza pela vergonha e ocultamento da morte, diferente da morte domada da Idade Média onde a morte era vista como natural e as pessoas se preparavam para ela de forma pública.
3) O ser-para-a-morte de Heidegger significa que a morte define a exist
1) A cultura contemporânea compreende a morte como algo distante e oculto, com os procedimentos de morte "terceirizados" para as funerárias e o luto ocorrendo de forma rápida e controlada.
2) A morte invertida se caracteriza pela vergonha e ocultamento da morte, diferente da morte domada da Idade Média onde a morte era vista como natural e as pessoas se preparavam para ela de forma pública.
3) O ser-para-a-morte de Heidegger significa que a morte define a exist
1) A cultura contemporânea compreende a morte como algo distante e oculto, com os procedimentos de morte "terceirizados" para as funerárias e o luto ocorrendo de forma rápida e controlada.
2) A morte invertida se caracteriza pela vergonha e ocultamento da morte, diferente da morte domada da Idade Média onde a morte era vista como natural e as pessoas se preparavam para ela de forma pública.
3) O ser-para-a-morte de Heidegger significa que a morte define a exist
1) Explique o modo como a nossa cultura contemporânea compreende a morte e o morrer,
por meio de um exemplo de comportamento, ou rito, ou artefato, ou valor, ou acontecimento que vivenciamos em nossa cultura.
Frente ao fato da morte – quando é atestada -, em nossa cultura ocidental
contemporânea, o “pseudo-rito”, ou melhor denominado, os procedimentos realizados normalmente são em primeiro lugar o desaparecimento do corpo. Este último é passado da família, para a funerária, que cumpre o papel de aprontamento de tudo, para enfim o velório ocorrer em um ambiente distante e neutro, que antes era realizado no lar do morto acompanhado pelo cuidado e preparo da família. Isto é, a morte e o morrer se caracterizam atualmente como “terceirizados”, somado a certa negação dos mesmos - esquivar-se de qualquer pensamento e expressão frente a morte e o morrer. Outro exemplo simples, mas expressivo dessa caracterização é o fato de se existir a Necromaquiagem - arte de maquiar cadáveres para velórios e demais cerimônias fúnebres. A concepção de homem elaborada com o desenvolvimento do capitalismo foi a de um instrumento de produção. Isso contribuiu para que a morte se tornasse cada vez mais um tabu, superando até mesmo o da sexualidade. Dado que nossa organização social alimenta uma lógica de mercantilização das relações vividas, há cada vez mais o desenvolvimento do individualismo – uma noção de “eu” isolado, independente, interiorizada. Isso reflete em como as pessoas lidam com a morte. Soma-se também a realidade concreta dos dias de hoje, no qual o lugar da morte é o hospital, tal ambiente tornou-se o destino daquelas pessoas que estão à beira da morte invariavelmente. Pois, nesse local a condição de isolamento se associa ao morrer (isto pode ser tomado como outro indicativo da postura de negação frente ao morrer). É nesse ambiente que o médico torna-se um novo poder a intervir, os vínculos a circundar a pessoa a beira da morte deixou de ser de anteparo pelos familiares para ganhar um caráter de impessoalidade, posto pela relação entre o médico e a doença, habitual e nutrida pelo contexto do hospital – há um encobrimento das possiblidades de morte por meio do lema médico de luta pela vida - e não entre o medico e o doente. Isso demonstra o quanto à interferência da medicina alterou em vários sentidos o morrer, tanto estabeleceu o distanciamento da dimensão familiar como, através da estipulação de vários procedimentos, aumentou a duração da morte e do morrer. Algumas implicações dessa morte obrigatoriamente escondida são a retirada da possibilidade de preparação para morte pelo moribundo e sua família e elaboração do luto pelos mesmos. Pode-se dizer também que com essa relação com a morte ocorre a coisificação do homem. Contraditoriamente a morte emerge hoje também como espetáculo. Diferentemente da vivência do morrer na vida privada há um morrer mostrado cruamente, no cotidiano e repetitivamente nas cidades e pela mídia caraterizado pelo escancaramento. O caráter que encerra é de distância, desconhecimento e simultaneamente de espetáculo, ou seja, outra forma de apresentar a morte enquanto questão a se ocultar. Os processos de luto e seu entendimento como integrantes do ciclo da vida são também dificultados pela morte escancarada. A compreensão da morte como distante, também em seu sentido temporal que se atrela a uma noção de estágio final do ciclo da vida – desenvolvimento – repercuti na concepção de vida na velhice. Mesmo tendo que a morte é algo inevitável para todos, em nossa cultura se cria uma expectativa de que as pessoas que deveriam morrer estivessem na terceira idade, pois já viveram suas vidas. Dessa forma essa concepção de velhice se desenha como um momento de isolamento, quando não destinados a hospitais estão nos asilos. O paciente terminal também está sujeito a essas implicações das representações da morte e do morrer de nossa sociedade, restando-lhe igualmente o isolamento do mundo e de si mesmo. É possível contatar a partir do exposto que em nossa cultura contemporaneamente se lida com a morte e o morrer pelo modo afastamento, negação e impessoalidade. Essa postura implica numa redução das manifestações ritualísticas para se lidar com a morte – já não se vê muito pessoas prestando luto por meio da mudança de cor da roupa, nem cerimônias prologadas, e/ou manifestação de emoções referentes ao morto, entre outros. Não há abertura para vivência e expressão de tristeza e dor, os processos de lutos devem realizados em curtos espaços de tempo e exige-se uma postura de controle e fortaleza frente a morte. O isolamento se constitui como uma condição para vários sujeitos – idosos e pacientes terminais. O que se torna um tanto preocupante uma vez que os ritos possuíam historicamente a função de fortalecer o grupo comunitário após a morte de um dos seus membros, bem como possibilitar a reorganização do mesmo e também a reorganização própria de cada pessoa, suscitando a abertura à ressignificação (não que isso não possa ocorrer sem a realização de ritos caraterísticos).
2) Explique a diferença entre morte invertida e a morte domada, segundo P. Ariès.
A morte invertida diferencia-se da morte domada primeiramente no que diz respeito
ao seu período histórico correspondente e seguidamente por suas caraterísticas. A morte domada é dominante da época medieval, define-se por uma atitude familiar e próxima com a morte. A consciência da trajetória de sua própria morte fazia parte do cotidiano dos homens, seja por certos avisos, ou uma noção interna, ou ainda constatando a morte frequente em guerras ou por doenças. Esse caráter familiar e próximo com a morte se expressava em atitudes como a preparação da própria cerimonia fúnebre pelo moribundo, sendo está pública, a abertura para expressão de sentimentos de tristeza e dor e livre circularização de pessoas de todas as idades no quarto. O maior medo frente à morte era morrer repentinamente, anonimamente, sem as homenagens devidas. O medo dos mortos era presente, e atitudes para mediar esse temor ocorriam, como praticas rituais que intentavam a separação entre vivos e mortos, auxiliando no percurso dos mortos até os céus e impedindo a contaminação por eles (tanto física como psíquica). Por outro lado a morte invertida, emergida a partir do século XX, caracteriza-se por uma atitude de encobrimento e vergonha frente à morte. Esta última não é mais considerada um fenômeno natural, e sim fracasso, impotência, por isso deve ser ocultada. Já não é mais incumbência dos sujeitos e nem deve ocupar sua consciência, tudo isso em função do lema de proteção a vida. Volta-se a desejar a morte repentina, não percebida – atitude típica da antiguidade. Diante uma sociedade mercantil e o desenvolvimento das ciências médicas o lugar da morte deixa de ser o lar para ser o hospital. Quem se torna o senhor da morte é o médico, não é mais a própria pessoa a beira da morte que tem direito sobre seu estado, dando- se validade, mas sim o médico que a controla por meio da fixação de horários a sua escolha e a elaboração do atestado de óbito. Além disso, essa estrutura de funcionamento da sociedade a morte se torna um comércio, a preocupação se fixa na escolha dos terrenos e cemitérios, contratação de empresas para cuidar dos funerais e do enterro, ou seja, torna-se caro morrer. Bem como, a um incentivo ao prolongamento da vida a qualquer custo, quase que uma garantia à imortalidade, retirando qualquer status aos mortos, atribuindo ao seu momento qualidades desdenhativas – esvaziando, ocultando e negando a morte. A morte para a sociedade ocidental recebe um caráter acidental (acidentes, doenças, infecções, velhice adiantada), já não é mais vista como integrante do processo vital. Outro aspecto marcante da morte invertida é a supressão do luto, não há a possibilidade de manifestação ou vivência da dor e da tristeza, exige-se superação rápida e controle. Além da a aparência do morto é suprimida, há a utilização de maquiagem com o intento de dar-lhe aspectos vívidos, não possibilitando que os traços mórbidos trouxessem a tona a facticidade da morte.
3) Explique o ser-para-a-morte e como podemos pensar a existência desde esse ponto de
vista.
A morte se apresenta como o limite maior, uma condição imutável, intransponível,
logo o modo mais próprio do homem, dessa forma origina a própria temporalidade. O Dasein enquanto abertura para possibilidades se depara com o não poder fazer tudo, pois é finito, constantemente perseguido pela iminência do limite maior, logo o ser tem dificuldade de conceber deixar de ser possiblidade. Tem sua totalização no ser-para-morte, que não é suficientemente compreendido a partir da morte dos outros e nem mesmo por uma concepção de dimensionamento de tal fenômeno, pois escapa ao simplesmente dado. O morrer se apresenta assim como experiência própria e única, onde a substituição é inconcebível, porque nela há um permanente risco do ser próprio de cada Dasein. A morte por não ser passível de entendimento completo, escapando a compreensão cognitiva plena é desatada e torna-se evidente por meio da angústia (tonalidade que o mundo toma). Por ser uma condição no qual o Dasein está lançado torna-se parte do ser-no-mundo, e dessa forma recebe uma conotação pela cotidianidade, caracterizada de forma impessoal, isto é, o fenômeno da morte é tido como um acontecimento, dentre tantos outros, constante que acomete apenas aos outros, sem surpresa por sua apresentação, ao mesmo tempo que impele a sua fuga e encobrimento. Para que se possa superar essa tendência de encobrimento e fuga da possibilidade pessoal da morte, é necessário que haja uma antecipação do ser-para-morte como pura possibilidade, compreendendo-o não como um simples acontecimento que emerge no fim da vida, mas sim o modo pelo qual se cumpre a vida. Isso não significa a realização concreta de tal possibilidade, nem tão pouco, um pensar sobre ela de forma simples. Não se encerra na tentativa de premeditar seu quando e como, nem também se trata de uma espera, uma vez que esperar remete a algo anterior. Tal antecipação leva o Dasein a se compreender como poder-ser que se forma no projetar-se, por meio da abertura para suas possiblidades mais próprias. Este projetar-se – escolha frente às diversas possibilidades de ser-no-mundo - atrela-se a ideia de projeto, no sentido de um todo não acabado, no qual o Dasein é responsável pelas decisões que escolhe, ou seja, é autor do seu projeto - o que faz consigo mesmo - que pode se concretizar ou perder-se. Conclui-se que a antecipação da morte corresponde em igual medida a aceitação de todas as outras possibilidades enquanto somente possibilidades.
4) O que caracteriza o luto no Brasil contemporâneo, segundo Koury?
O que caracteriza o luto no Brasil contemporâneo, segundo Koury é uma postura de
discrição. Com a intensificação da individuação de nossa sociedade, que desloca sentimentos á margem das relações sociais em função de uma suposta subjetividade, vem se transformando os modos tradicionais de lidar com várias situações integrantes da vida, como por exemplo, a morte, colocando em “xeque” modelos ritualísticos. Uma nova sensibilidade vem se formando em relação à morte sustentada por um sentido de distanciamento – tanto do morto como dos que o perdem - e integra como caraterísticas marcantes o constrangimento da manifestação publica da dor individual – tornando-a cada vez mais estranha ao dia a dia do homem – devido a uma reprovação encoberta do luto publico que se relaciona com uma certa noção de que essa manifestação publica pode despertar para os outros a presença da morte, contaminando-os. Observa-se assim uma disseminada ambivalência referente a vivencia do luto: por um lado há a presença da dor pessoal de uma perda e se espera que ela apareça, mas por outro, contraditoriamente, se exige que a pessoa volte a um estado anterior idêntico de forma rápida, que retome suas atividades (trabalho principalmente) como era antes da morte da pessoa querida, a regra se torna o esquecimento somado a um fingimento de que “tudo está bem”. Outra ambiguidade suscitada com essa nova forma de luto é a presença simultânea de uma indignação por falta de solidariedade que é buscada (e que se sente falta) e de uma censura aplicada pela própria pessoa que sofre uma perda, fazendo com que ela recolha sua dor, internalize seu sofrimento, gerando um sentimento de vergonha de si mesma. Com isso os processos de lutos são mal elaborados, pois lhe veta – tanto socialmente como pessoalmente - sua vivência, seu trabalho, tornando-o mais lento e abrindo possibilidade para emergir a anomia e a condenação pessoal. Os valores que circundariam o luto contemporâneo, a saber, a ideia de fracasso e desilusão relacionada a uma postura de naturalização e anonimato somada a negação da elaboração do sofrimento de forma social, alimentariam a solidão individual (o sofrimento do luto é pessoal, diz respeito somente a pessoa q vivencia essa dor), bem como destacariam uma fragmentação de sentimento coletivos explicitado por certa espécie de receito social de contaminação. Com a crescente diminuição da realização de ritos de passagem traumática – rituais da morte e do morrer – e o aumento do abafamento da expressão do luto de forma social/comunitária ocorre a produção de uma desorientação das pessoas, principalmente no que diz respeito a modelos de comportamento seja do enlutado ou daqueles que o rodeiam, que se espera que preste solidariedade e condolências – apresentada atualmente como recusada ou expressada de forma discreta. Isso alimenta uma ideia cada vez mais disseminada na sociedade moderna, a saber, a de negação de que o sofrimento faz parte da vida.
5) Como você vê a experiência do paciente fora da possibilidade de cura?
A sociedade ocidental com o desenvolvimento de tecnologia e a disseminação da
lógica mercantil – aplicada a concepção de mundo e homem no qual a produtividade é o parâmetro para o homem e a cura um objetivo fixo – está fazendo com que o homem se torne inconsciente e privado de sua própria morte, mesmo que este seja o único ser consciente de sua mortalidade e finitude. Isto é, a morte tem atualmente um caráter de ocultamento, não se fala sobre ela, não se vivencia o morrer de forma comunitária, como um fenômeno social, partilhado, o local para morrer deixar de ser o lar e torna-se o hospital. Essa perspectiva sobre a morte e o morrer repercutam na relação tanto com os sujeitos idosos como com os pacientes terminais, além de desenvolver uma noção do que consiste esse período ou situação. No caso do paciente chamado terminal, que é aquele que está fora de possibilidade de cura, a visão social é de um sujeito que representa a morte (uma morte que carrega aspecto de solidão, sentido mecânico e desumano) enquanto ainda vive. É visto como alguém já morto, sem a possibilidade de se fazer qualquer coisa por ele, uma pessoa sem futuro (sem possibilidade alguma), principalmente no que diz respeito a sua autonomia, no sentido de gerenciamento da própria vida. Em outras palavras, o paciente terminal é infantilizado. Isso faz com que vivam, geralmente, isolados do mundo e de si mesmos. Esse isolamento é alimentado pela caraterística relação que se estabelece com os profissionais do hospital – em especial o médico – que é de impessoalidade, dado que interação acontece entre o médico e a doença e não entre médico e o doente e com sua família que é de “conspiração do silêncio” – uma busca por ocultar tudo, mas que ao mesmo tempo expressa por meio de semblantes, olhares, gestos. Essa conspiração do silencio, está diretamente relacionada com as expectativas que a própria palavra terminal comporta – que são piores. O luto pode ocorrer antecipadamente formado por uma morte simbólica, uma vez que há a constatação pelo paciente de seu estado de adoecimento atrelado a negação da possibilidade de viver seu presente e futuro pessoal. Uma das características do ambiente hospitalar que contribui para a formação desta morte simbólica é a despersonalização dos pacientes, principalmente os terminais. O afastamento do trabalho, dos amigos e familiares além de ter sua autonomia retida e seus desejos e angústias desprezados são constitutivos dessa despersonalização que causa muito sofrimento, principalmente emocional. A partir disso uma nova noção de cuidado para com os pacientes que estão fora de possibilidade de cura deve ser cultivada. Essa deve ser diferente da lógica de cuidado predominante no Brasil que é de focalização nos cuidados a todo custo, sem levar em conta o sujeito que sofre e seu sofrimento, centralizando o cuidado na doença do sujeito e não no sujeito que possui a doença. Essa nova noção emergente – que pode ser chamada de promoção dos cuidados paliativos - precisa integrar uma concepção de pessoa, de sujeito por trás da situação de paciente, de pessoa que ainda possui vida, isto é, dar atenção a experiência do paciente, suas necessidades e reações, pois este tem sentimentos, desejos, opiniões e, sobretudo, o direito de ser ouvido. Tal promoção deve ser um compromisso não só do psicólogo, mas de toda a equipe da área da saúde. Outro papel dos cuidados paliativos é ajudar na prevenção das pequenas mortes simbólicas, antes mencionadas, vivenciadas diariamente no curso da experiência de adoecer e da iminência da morte. Bem como abrir possibilidade para a elaboração de novos sentidos e significados para todos os envolvidos, principalmente o paciente.