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Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/cultura/1539859862_392943.html?
fbclid=IwAR01C5KH_Xn2VxTxfdi6C1sUJeo888Qdr0tIS4COfQWaGKx4GH2UEcVRXtg
De qualquer forma, neste momento haverá leitores dizendo algo como: "Ok,
tudo bem. A filosofia é bonita. Pode ser um hobby, como jogar xadrez ou fazer
palavras cruzadas. Mas não se traduz em nada que possa me servir. Nunca me
verei na situação de duvidar se o mundo existe, como Descartes".
Muito trabalho para 10 reais? Sim, é. Mas existem organizações que fornecem
essas informações, como a Give Well, que analisa o impacto das ONGs
recomendadas, e a The Life You Can Change, do próprio Singer, que inclui até
uma calculadora que permite saber como cada doação será usada.
Mas, claro, na verdade não agimos sozinhos. Uma pessoa não faz muita
diferença, mas cada um dos torturadores continua sendo responsável pelos
danos causados. Especialmente se levarmos em conta que, provavelmente,
apenas aperte o botão porque acredita que os outros 999 também o apertarão.
Por outro lado, tudo isso importa? Afinal, nossas vidas são muito curtas para
que um punhado de votos, alguns tuítes ou doações de 10 reais de vez em
quando representem uma mudança significativa.
Para Arthur Schopenhauer, o fato de que nossas vidas estejam cercadas por
nada nos leva a sentir ansiedade metafísica, "uma angústia existencial que nos
assalta quando tentamos contemplar o abismo eterno do Nada", como resume
Simon Blackburn em Pense: Uma Introdução à Filosofia.
Os dois nadas não nos angustiam igualmente. Pode dar vertigem saber que
milhões de anos se passaram até nascermos. Mas o nada que virá é o que
costuma dar mais medo: milhões de anos passarão (provavelmente) quando já
estejamos mortos. Por que não escutamos o filósofo romano Lucrécio, quando
diz em Da Natureza das Coisas, que esta eternidade até nosso nascimento é
um espelho do que vai acontecer depois de nossa morte?
De fato, para Epicuro, esse medo é irracional. A morte não é nada, já que, uma
vez mortos, não poderemos sentir absolutamente nada. Não deveríamos temê-
la porque, quando chega, já não estamos lá.