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Antropologia

Livro: O homem, quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica


Editora Paulus, São Paulo, 2005

A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM


(Homo somaticus)

1. Reflexão metodológica
A expressão "homo somaticus", hoje, é um tanto quanto rara; era, no entanto, comum nos tempos de São
Paulo e Filão Alexandrino. Esses e outros autores daquele período distinguem no homem dois elementos:
1- um psíquico e
2- outro somático,
dizendo respeito à alma, o outro ao corpo.
• Nós nos serviremos das expressões "homo sapiens", "homo vivens", "homo religiosus" etc., para
denominar as dimensões da vida, do conhecimento, da religiosidade etc. Por consequência, nos valeremos
da expressão "homo somaticus" para identificar a dimensão corpórea do homem.
Existe uma reflexão filosófica sobre o corpo humano em quase toda parte da história do
pensamento. Achamo-Ia em Platão, Aristóteles, Filão, Santo Agostinho, Santo Tomás, Descartes, Spinoza,
Leibnitz, Schopenhauer, Nietzsche, Bergson, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Marcel e muitos outros
ainda. Em geral, porém, salvo os existencialistas, esses autores não consideram o corpo em si mesmo, mas
o vêem exclusivamente em relação com a alma. Ademais, não se ocupam do corpo no inicio de suas
reflexões antropológicas, mas no fim
• Tal procedimento não é seguido apenas pelos platônicos (Platão, Platino, Descartes, Leibnitz), os
quais, identificando o homem com a alma, logicamente estudam antes de tudo e sobretudo esta; mas
também pelos aristotélicos (Aristóteles, Tomás, Locke), que no entanto vêem no corpo uma parte
essencial do homem. Isso é devido a exigência metodológica: tanto os platônicos como os aristotélicos, em
antropologia, se valem do método metafísico, o qual exige que se estudem antes as causas e depois os
efeitos, antes as coisas mais perfeitas e depois aquelas menos perfeitos. E, dado que tanto os platônicos
como os aristotélicos sustentam que a alma seja mais perfeita que o corpo e que exerça sobre ele uma
atividade causal, logicamente concentram suas atenções sobretudo na alma.
• No nosso estudo não seguiremos o procedimento tradicional, porque da alma, neste ponto, não
sabemos ainda nada. No início do estudo do homem a primeira realidade que encontramos é a dimensão
corpórea. É nela, pois, que concentraremos nossa atenção. Procuraremos olhar esta dimensão com aquela
atitude de curiosidade e maravilha que é própria do filósofo; cuidaremos de captar na corporeidade todos
aqueles convites que ela nos apresenta para ir além das aparências e penetrar na profundidade do
homem.
• Antes, porém, de empreender o estudo da corporeidade, há outra questão preliminar para ser
resolvida, qual seja, a questão do método a ser utilizado para o estudo dessa dimensão do homem.
• O corpo é obviamente uma realidade física, material. Significa isso, porventura, que o método
acertado para o seu estudo é o experimental, que é propriamente o método de que se vale o cientista no
estudo das coisas materiais?
• Na época moderna, a partir de Descartes até Pavlov e Watson, vigorou o costume, também entre
os filósofos, de aplicar o método experimental ao estudo da dimensão da corporeidade.
• Mas, desse modo, acabou-se por reduzir o corpo a uma coisa, a uma máquina, com leis mecânicas
perfeitamente calculáveis.
• Mas o corpo do homem não pode ser reduzido a uma coisa.
- Descartes e outros filósofos modernos foram induzidos a conceber o corpo dessa maneira por
causa da sua confiança cega no método científico, o qual reconhece como verdadeiro e real só o que é
experimentável, ou seja, os abjetos físicos e as coisas materiais
• A aplicação da distinção entre método científico e método "experiencial" para o estudo do corpo
deu origem a duas considerações diferentes do fenômeno da corporeidade:
1- a consideração científica, a qual estuda o corpo-coisa, o corpo objeto, o corpo situado no mundo, o
corpo como se manifesta aos outros, aquilo que os alemães chamam Korper;
2- a consideração fenomenológica, que estuda o próprio corpo, como é sentido, experimentado, vivido.
Essa modalidade do corpo os alemães chamam Leib.
• Dessa distinção, hoje, deve tomar partido qualquer estudo sério da somaticidade, porque existem
efetivamente dois aspectos do corpo.
1- Temos uma realidade física que se descobre em sua estrutura coisal objetiva;
2- Temos o vivido imediato da consciência, sem distância ou objetivação, uma estrutura próxima da
subjetividade constantemente operante no seu relacionamento com o mundo.
• Com relação ao Leib, ainda que eventualmente excluíssemos toda função dos sentidos externos, e,
portanto não pudéssemos de modo nenhum ver, ouvir, tatear o nosso Leib, o fenômeno do nosso Leib não
se anularia, porquê dele conservaríamos ainda a "consciência interna". Mas, com relação ao Korper, se
faltam as percepções externas, ele desaparece do mundo real e começa a fazer parte do mundo dos
sonhos e da fantasia.
• Portanto, pode-se efetuar dupla investigação sobre o corpo:
1- científica
2- fenomenológica.
Nós, naturalmente, nos dedicaremos neste estudo à segunda, sem, no entanto, ignorar totalmente
a primeira, a qual, embora não podendo dar-nos uma resposta conclusiva com relação ao problema da
somaticidade humana, pode, por outro lado, fornecer-nos informações importantes e significativas
• Por isso, antes de procedermos à análise filosófica da corporalidade humana, interroguemos a
ciência para que ela nos diga o que é este complexo físico tão importante que é o corpo humano e como
ele se distingue do de outros animais.

2. Propriedades do corpo humano

- O conhecimento que a ciência tem do corpo humano é ainda muito limitado e imperfeito.
O que já sabemos é mais que suficiente para deixar-nos estupefatos e maravilhados. Sobretudo o que nos
surpreende e encanta é o seu mecanismo, perfeitíssimo tanto no conjunto quanto em suas partes
singulares: a perfeição do aparelho circulatório, dos tecidos nervosos, da estrutura dos olhos e ouvidos; a
própria posição dos olhos, do nariz, da boca, das unhas, dos órgãos reprodutores, das mãos etc. é de
sabedoria extraordinária

Desenvolvimento do corpo humano


• Enquanto o animal nasce, geralmente, com corpo já perfeito, inteiramente pré-fabricado, pelo qual
torna-se independente desde os primeiros dias (cf. o pintinho, o bezerrinho, o leãozinho), o homem nasce
com um corpo que está ainda em fase de estruturação.
• É ainda um corpo extremamente frágil, privado de qualquer autonomia, de modo algum senhor de
si mesmo. Segundo A. Portmann, o homem representa um "nascimento fisiologicamente precoce". Para
ele, o homem vem ao mundo com doze meses de antecipação. Só depois de um ano atinge finalmente
aquele grau de formação que um mamífero de uma espécie correspondente à humana pode apresentar já
no momento do seu nascimento.
• O corpo do animal não é mais capaz de desenvolver-se. (ele realiza desde o início certas operações,
mas somente aquelas em que é especializado), o corpo humano é dotado de um poder de
desenvolvimento maravilhoso.
• O homem é capaz de manejar seu corpo, adestrá-lo e torná-lo apto a realizar movimentos de uma
perfeição admirável. Basta ver o que sabem fazer os instrumentistas e os prestidigitadores com as mãos, os
dançarinos e as bailarinas com os pés, os artistas com os dedos, etc.
• Particularmente com o instrumento que lhe é fornecido pelas mãos, o homem pode formar o
mundo, mudá-lo, transformá-lo, dominá-lo.
• Olhando a diferença específica do homem com relação aos animais, ele é definido como o ser não
especializado.
• Enquanto o animal é, sempre, especialista em determinada função orgânica (seja a da visão, da
audição, ou do olfato, ou do paladar, ou do tato, ou do movimento de migração), o homem é, por sua vez,
uniformemente dotado nesse ponto.
Acrescente-se, ademais, a sua pobreza de instintos que, para uma reação imediata às situações
concretas da natureza, deixa o homem inteiramente carente.
Um exemplo, o pintinho já possui, desde o nascimento, uma forma completamente madura de sua figura,
permitindo prover inteiramente suas necessidades; agora pense-se na criança recém-nascida, a qual é
ainda por completo impotente e, sem os cuidados da mãe, está condenada a morrer dentro de poucos
dias.
O elemento fisiológico que lhe permite atingir e também superar todas as várias especializações
dos animais é o cérebro.
Com esse órgão, que nele é superdesenvolvido em relação ao dos animais, ele compensa
abundantemente a sua deficiência inicial.
A compensação da carência com a formação do cérebro aparece como hipercompensação de
inferioridade biológica constitucional.
Sobre esta base é exigida para o homem especialização orgânico-funcional sobre o fundamento do
seu cérebro.
O homem torna-se, então, um ser especializado no cérebro.
• A deficiente especialização orgânica e a fraca provisão de instintos não é de modo algum defeito do
ponto de vista do homem, mas e, antes, a condição preliminar que lhe permite:
- tomar iniciativas, desenvolver ações conscientes e livres, construir para si o seu mundo.

“Quando o homem deve conquistar e procurar de per si o que o animal doméstico possui e obtém
imediatamente, quando deve procurar o seu alimento, confeccionar a sua vestimenta, construir sua
habitação, é então que chega, precisamente com isso, com essa autonomia e auto-formação necessárias
para ele, a um ponto bem mais longe que o animal”.

E isso com base em nenhum outro fundamento que não este: “que para ele é possível libertar-se
desses liames específicos e concretos com o ambiente, e de responder não só a determinadas situações,
mas a todas as situações em geral”.

• Outro aspecto que caracteriza o corpo humano e o distingue dos corpos dos animais é a sua
posição vertical.
• Essa postura implica, naturalmente, uma correspondente formação do corpo, e, portanto, mudança
radical perante o animal na estrutura somática, que diz respeito não só às partes do corpo com seus
correspondentes significados funcionais, mas a toda construção corpórea com todas as suas partes.
A construção corpórea porém não é um fato adquirido desde o nascimento.
Com efeito, a primeira coisa que a criança deve aprender (e com quanto esforço) é ficar de pé e
caminhar.
A posição vertical e o porte ereto são, portanto, ato livre e consciente do homem
No antigo Egito, alguns condenados à morte eram simplesmente suspensos de cabeça para baixo.
Ao contrário da posição horizontal, o porte ereto é sinal de vida, de saúde, de vigília, de força.
Por esse motivo a posição vertical assumiu importantes conotações simbólicas.

• As nações, as cidades, as regiões competem entre si para ver quem constrói os edifícios mais altos:
a torre de BabeI, a torre Eiffel, o etc. Os soberanos "sobem ao trono". E todos os povos consideram o céu o
lugar onde habita a divindade.

3. Funções da corporeidade em geral


• Podemos afirmar que as funções do corpo se referem a toda atividade humana, já que não há
nenhuma operação do homem que não tenha um componente somático mais ou menos visível.
• Assim, a somaticidade é componente fundamental do existir, do viver, do conhecer, do desejar, do
fazer, do ter etc. Ou seja, o corpo é elemento essencial do homem. Sem ele:
não pode alimentar-se
não pode reproduzir-se
não pode aprender
não pode comunicar
não pode divertir-se

• Entre essas funções, algumas têm grande importância para a compreensão da natureza específica
do ser humano: assim as funções de “mundanização”, de individuação, de autocompreensão, de posse, e
outras mais.
• Por isso as estudaremos a seguir pormenorizadamente.

4. Função mundanizante

Uma das principais funções da somaticidade é a de "mundanizar" o homem.


Mundanizar = fazer um ser-no-mundo.
É por obra do corpo que o homem faz parte do mundo; ele se reconhece constituído dos mesmos
elementos do mundo, sujeito às mesmas sortes e às mesmas leis, por causa do seu corpo.
• Os existencialistas (Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty) nos mostraram que a somaticidade nos situa
no mundo das coisas e nos faz participantes de suas restrições espaciais
Como qualquer outro corpo, o nosso também se insere em uma situação espacial bem definida e
deve ocupar sempre determinada porção do espaço.
"Motivado por uma necessidade original, o meu corpo é o ponto de referência em relação ao qual
cada coisa toma seu lugar e torna-se situada; eis-me, pois, transformado em centro de imenso círculo - o
meu "ambiente": cada raio seu define, para mim, uma perspectiva, e a sua circunferência é o meu
"horizonte".
O meu corpo é o centro e o foco de todo o meu universo espacial; o ambiente geométrico do meu
ambiente vital; graças ao meu corpo localizado, atraio para mim todos os pontos do espaço; os concentro,
os recapitulo, os interiorizo.
• Graças a este ritmo o universo inteiro reside em mim, enquanto eu habito todo o universo".
Também a dimensão das coisas é relacionada com nosso corpo (quando éramos crianças a cadeira era
mais alta ... ). Assim também o movimento das coisas tem como ponto de referência o nosso corpo

5. Função epistemológica
Sempre foi admitido que o corpo é um instrumento necessário para conhecer do mundo.
Mas os estudos recentes mostraram que a contribuição da somaticidade ao conhecimento (função
gnosiológica) é muito vasta e importante.
Foi demonstrado que a somaticidade é, antes de tudo, instrumento necessário para a
autoconsciência.
Quanto é importante a somaticidade como fator de autoconsciência se vê quando estamos
indecisos se alguma coisa está acontecendo ao nosso ser ou se se trata de situações puramente
imaginárias, sonhadas ou reais.
Então apalpamos o nosso corpo: esta é a verificação do nosso ser. Se encontramos a cabeça, as
mãos, os pés onde e como devem ser, damos um suspiro de alívio e voltamos a ficar tranqüilos
O meu corpo é o lugar privilegiado no qual o mundo se divide, recebe múltiplos significados e
torna-se o universo humano.
Mas ao mesmo tempo que decompõe o universo, o meu corpo não pára de o reunir; em ato
simples, inseparável do seu ser, ele junta e recompõe incessantemente em si mesmo o que
constantemente se divide, reagrupa em uma única harmonia os significados diferentes nos quais divide o
mundo.
• Graças à somaticidade, realiza-se troca duradoura e substâncial de propriedades de uma parte e de
outra.
"Devido à sua subjetividade e sua objetividade inseparáveis, meu corpo é mediador entre o meu "Eu" e o
mundo das coisas, lugar de encontro entre minha consciência e o universo dos objetos.

6. Função econômica ou de posse


O corpo desenvolve também uma função insubstituível referente ao possuir, ao qual damos o nome
de função econômica. O corpo é antes de tudo indispensável para possuir existência.
Eu existo possuindo um corpo; quando o perco, morro, ou seja, paro de existir. Não apenas o
possuir de cada coisa passa através do corpo.
Com efeito, apenas aquilo com que posso entrar em contato por meio do meu corpo pode ser por
mim reclamado como meu.
Com o exercício da função de posse, nós temos a impressão que ocorre uma dilatação do nosso
corpo, da nossa dimensão somática.
Por esse motivo nós consideramos as coisas como possíveis prolongamentos do nosso corpo: na forma de
instrumentos de alimentos ou até de objetos de consumo.
A relação que existe entre o homem e a máquina, se entendermos aqui a 'máquina' no sentido lato
de obra humana, não é a relação entre sujeito e objeto, mas antes uma nova figura que une o homem e a
máquina".
Órgão específico da função econômica como também da mundanizante é a mão: é com ela que
tomamos posse das coisas, e é também com a mão que moldamos e transformamos as coisas.
Na mão se atua sobretudo o movimento bivalente que notamos acima: do homem para o mundo e
do mundo para o homem. De fato, com a mão ao mesmo tempo "manipulamos" e "incorporamos" as
coisas.

7. Função ascética
Ascese = exercício prático que leva a efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral.
Asceticismo: Moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem
Duas considerações opostas a fazer em relação ao corpo:
1- Platão, Plotino, Agostinho, pensaram que o corpo, com as suas paixões, os seus instintos e fraquezas
constitua um peso para a alma e a impeça de ascender para o mundo do espírito e, portanto, sugeriam aos
que aspiravam a um grau elevado de vida moral e espiritual a mais completa separação do corpo.
2- Aristóteles, Tomás, ao contrário, creram que o corpo, enquanto constitutivo essencial do homem, seja
diretamente envolvido na sua perfeição: ela depende em grande parte dos hábitos somáticos que uma
pessoa consegue atingir.
Por enquanto, procuraremos qual seja efetivamente a função ascética própria do corpo,
reportando-nos imediatamente à experiência ordinária.
Ora, essa nos diz claramente que o nosso corpo é diretamente envolvido, seja nas suas boas ações
como nas más, seja nos vícios como nas virtudes.
A experiência cotidiana nos diz que o exercício de uma virtude, como a prática de um vício, são em
larga medida devidos aos hábitos que conseguimos adquirir com o nosso corpo.
Por exemplo, os vícios do fumo e da bebida dependem essencialmente de hábito somático.
Não há, pois, nenhuma dúvida que o corpo tenha uma função capital a desenvolver também em
relação ao ascetismo e à vida espiritual.

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