Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
1. Reflexão metodológica
A expressão "homo somaticus", hoje, é um tanto quanto rara; era, no entanto, comum nos tempos de São
Paulo e Filão Alexandrino. Esses e outros autores daquele período distinguem no homem dois elementos:
1- um psíquico e
2- outro somático,
dizendo respeito à alma, o outro ao corpo.
• Nós nos serviremos das expressões "homo sapiens", "homo vivens", "homo religiosus" etc., para
denominar as dimensões da vida, do conhecimento, da religiosidade etc. Por consequência, nos valeremos
da expressão "homo somaticus" para identificar a dimensão corpórea do homem.
Existe uma reflexão filosófica sobre o corpo humano em quase toda parte da história do
pensamento. Achamo-Ia em Platão, Aristóteles, Filão, Santo Agostinho, Santo Tomás, Descartes, Spinoza,
Leibnitz, Schopenhauer, Nietzsche, Bergson, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Marcel e muitos outros
ainda. Em geral, porém, salvo os existencialistas, esses autores não consideram o corpo em si mesmo, mas
o vêem exclusivamente em relação com a alma. Ademais, não se ocupam do corpo no inicio de suas
reflexões antropológicas, mas no fim
• Tal procedimento não é seguido apenas pelos platônicos (Platão, Platino, Descartes, Leibnitz), os
quais, identificando o homem com a alma, logicamente estudam antes de tudo e sobretudo esta; mas
também pelos aristotélicos (Aristóteles, Tomás, Locke), que no entanto vêem no corpo uma parte
essencial do homem. Isso é devido a exigência metodológica: tanto os platônicos como os aristotélicos, em
antropologia, se valem do método metafísico, o qual exige que se estudem antes as causas e depois os
efeitos, antes as coisas mais perfeitas e depois aquelas menos perfeitos. E, dado que tanto os platônicos
como os aristotélicos sustentam que a alma seja mais perfeita que o corpo e que exerça sobre ele uma
atividade causal, logicamente concentram suas atenções sobretudo na alma.
• No nosso estudo não seguiremos o procedimento tradicional, porque da alma, neste ponto, não
sabemos ainda nada. No início do estudo do homem a primeira realidade que encontramos é a dimensão
corpórea. É nela, pois, que concentraremos nossa atenção. Procuraremos olhar esta dimensão com aquela
atitude de curiosidade e maravilha que é própria do filósofo; cuidaremos de captar na corporeidade todos
aqueles convites que ela nos apresenta para ir além das aparências e penetrar na profundidade do
homem.
• Antes, porém, de empreender o estudo da corporeidade, há outra questão preliminar para ser
resolvida, qual seja, a questão do método a ser utilizado para o estudo dessa dimensão do homem.
• O corpo é obviamente uma realidade física, material. Significa isso, porventura, que o método
acertado para o seu estudo é o experimental, que é propriamente o método de que se vale o cientista no
estudo das coisas materiais?
• Na época moderna, a partir de Descartes até Pavlov e Watson, vigorou o costume, também entre
os filósofos, de aplicar o método experimental ao estudo da dimensão da corporeidade.
• Mas, desse modo, acabou-se por reduzir o corpo a uma coisa, a uma máquina, com leis mecânicas
perfeitamente calculáveis.
• Mas o corpo do homem não pode ser reduzido a uma coisa.
- Descartes e outros filósofos modernos foram induzidos a conceber o corpo dessa maneira por
causa da sua confiança cega no método científico, o qual reconhece como verdadeiro e real só o que é
experimentável, ou seja, os abjetos físicos e as coisas materiais
• A aplicação da distinção entre método científico e método "experiencial" para o estudo do corpo
deu origem a duas considerações diferentes do fenômeno da corporeidade:
1- a consideração científica, a qual estuda o corpo-coisa, o corpo objeto, o corpo situado no mundo, o
corpo como se manifesta aos outros, aquilo que os alemães chamam Korper;
2- a consideração fenomenológica, que estuda o próprio corpo, como é sentido, experimentado, vivido.
Essa modalidade do corpo os alemães chamam Leib.
• Dessa distinção, hoje, deve tomar partido qualquer estudo sério da somaticidade, porque existem
efetivamente dois aspectos do corpo.
1- Temos uma realidade física que se descobre em sua estrutura coisal objetiva;
2- Temos o vivido imediato da consciência, sem distância ou objetivação, uma estrutura próxima da
subjetividade constantemente operante no seu relacionamento com o mundo.
• Com relação ao Leib, ainda que eventualmente excluíssemos toda função dos sentidos externos, e,
portanto não pudéssemos de modo nenhum ver, ouvir, tatear o nosso Leib, o fenômeno do nosso Leib não
se anularia, porquê dele conservaríamos ainda a "consciência interna". Mas, com relação ao Korper, se
faltam as percepções externas, ele desaparece do mundo real e começa a fazer parte do mundo dos
sonhos e da fantasia.
• Portanto, pode-se efetuar dupla investigação sobre o corpo:
1- científica
2- fenomenológica.
Nós, naturalmente, nos dedicaremos neste estudo à segunda, sem, no entanto, ignorar totalmente
a primeira, a qual, embora não podendo dar-nos uma resposta conclusiva com relação ao problema da
somaticidade humana, pode, por outro lado, fornecer-nos informações importantes e significativas
• Por isso, antes de procedermos à análise filosófica da corporalidade humana, interroguemos a
ciência para que ela nos diga o que é este complexo físico tão importante que é o corpo humano e como
ele se distingue do de outros animais.
- O conhecimento que a ciência tem do corpo humano é ainda muito limitado e imperfeito.
O que já sabemos é mais que suficiente para deixar-nos estupefatos e maravilhados. Sobretudo o que nos
surpreende e encanta é o seu mecanismo, perfeitíssimo tanto no conjunto quanto em suas partes
singulares: a perfeição do aparelho circulatório, dos tecidos nervosos, da estrutura dos olhos e ouvidos; a
própria posição dos olhos, do nariz, da boca, das unhas, dos órgãos reprodutores, das mãos etc. é de
sabedoria extraordinária
“Quando o homem deve conquistar e procurar de per si o que o animal doméstico possui e obtém
imediatamente, quando deve procurar o seu alimento, confeccionar a sua vestimenta, construir sua
habitação, é então que chega, precisamente com isso, com essa autonomia e auto-formação necessárias
para ele, a um ponto bem mais longe que o animal”.
E isso com base em nenhum outro fundamento que não este: “que para ele é possível libertar-se
desses liames específicos e concretos com o ambiente, e de responder não só a determinadas situações,
mas a todas as situações em geral”.
• Outro aspecto que caracteriza o corpo humano e o distingue dos corpos dos animais é a sua
posição vertical.
• Essa postura implica, naturalmente, uma correspondente formação do corpo, e, portanto, mudança
radical perante o animal na estrutura somática, que diz respeito não só às partes do corpo com seus
correspondentes significados funcionais, mas a toda construção corpórea com todas as suas partes.
A construção corpórea porém não é um fato adquirido desde o nascimento.
Com efeito, a primeira coisa que a criança deve aprender (e com quanto esforço) é ficar de pé e
caminhar.
A posição vertical e o porte ereto são, portanto, ato livre e consciente do homem
No antigo Egito, alguns condenados à morte eram simplesmente suspensos de cabeça para baixo.
Ao contrário da posição horizontal, o porte ereto é sinal de vida, de saúde, de vigília, de força.
Por esse motivo a posição vertical assumiu importantes conotações simbólicas.
• As nações, as cidades, as regiões competem entre si para ver quem constrói os edifícios mais altos:
a torre de BabeI, a torre Eiffel, o etc. Os soberanos "sobem ao trono". E todos os povos consideram o céu o
lugar onde habita a divindade.
• Entre essas funções, algumas têm grande importância para a compreensão da natureza específica
do ser humano: assim as funções de “mundanização”, de individuação, de autocompreensão, de posse, e
outras mais.
• Por isso as estudaremos a seguir pormenorizadamente.
•
4. Função mundanizante
5. Função epistemológica
Sempre foi admitido que o corpo é um instrumento necessário para conhecer do mundo.
Mas os estudos recentes mostraram que a contribuição da somaticidade ao conhecimento (função
gnosiológica) é muito vasta e importante.
Foi demonstrado que a somaticidade é, antes de tudo, instrumento necessário para a
autoconsciência.
Quanto é importante a somaticidade como fator de autoconsciência se vê quando estamos
indecisos se alguma coisa está acontecendo ao nosso ser ou se se trata de situações puramente
imaginárias, sonhadas ou reais.
Então apalpamos o nosso corpo: esta é a verificação do nosso ser. Se encontramos a cabeça, as
mãos, os pés onde e como devem ser, damos um suspiro de alívio e voltamos a ficar tranqüilos
O meu corpo é o lugar privilegiado no qual o mundo se divide, recebe múltiplos significados e
torna-se o universo humano.
Mas ao mesmo tempo que decompõe o universo, o meu corpo não pára de o reunir; em ato
simples, inseparável do seu ser, ele junta e recompõe incessantemente em si mesmo o que
constantemente se divide, reagrupa em uma única harmonia os significados diferentes nos quais divide o
mundo.
• Graças à somaticidade, realiza-se troca duradoura e substâncial de propriedades de uma parte e de
outra.
"Devido à sua subjetividade e sua objetividade inseparáveis, meu corpo é mediador entre o meu "Eu" e o
mundo das coisas, lugar de encontro entre minha consciência e o universo dos objetos.
7. Função ascética
Ascese = exercício prático que leva a efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral.
Asceticismo: Moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem
Duas considerações opostas a fazer em relação ao corpo:
1- Platão, Plotino, Agostinho, pensaram que o corpo, com as suas paixões, os seus instintos e fraquezas
constitua um peso para a alma e a impeça de ascender para o mundo do espírito e, portanto, sugeriam aos
que aspiravam a um grau elevado de vida moral e espiritual a mais completa separação do corpo.
2- Aristóteles, Tomás, ao contrário, creram que o corpo, enquanto constitutivo essencial do homem, seja
diretamente envolvido na sua perfeição: ela depende em grande parte dos hábitos somáticos que uma
pessoa consegue atingir.
Por enquanto, procuraremos qual seja efetivamente a função ascética própria do corpo,
reportando-nos imediatamente à experiência ordinária.
Ora, essa nos diz claramente que o nosso corpo é diretamente envolvido, seja nas suas boas ações
como nas más, seja nos vícios como nas virtudes.
A experiência cotidiana nos diz que o exercício de uma virtude, como a prática de um vício, são em
larga medida devidos aos hábitos que conseguimos adquirir com o nosso corpo.
Por exemplo, os vícios do fumo e da bebida dependem essencialmente de hábito somático.
Não há, pois, nenhuma dúvida que o corpo tenha uma função capital a desenvolver também em
relação ao ascetismo e à vida espiritual.