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Questão 1: Explique o que caracteriza o evolucionismo antropológico do século XIX e

as principais críticas sofridas. Inclua na discussão a questão do método comparativo e


do conceito de sobrevivências.

Os ecos do evolucionismo social na antropologia remontam ao século XIX,


quando noções como progresso passam a fazer parte de todo um vocabulário intelectual.
Embora tenha sido uma escola, por assim dizer, muito criticada pelas tradições de
antropólogos que a sucederam, trata-se de um importante marco para a disciplina, na
medida em que começam a se delinear seus primeiros contornos teórico-metodológicos.
Cabe mencionar, portanto, algumas de suas influências. Uma delas remonta à noção de
evolução de um filósofo chamado Herbert Spencer e suas considerações acerca de uma
inexorável marcha do progresso, passando de configurações simples a complexas.
Combinada a uma paisagem intelectual muito marcada pela descoberta do mundo
"antediluviano", em que a noção do passado humano se estendeu de maneira imprevista,
os pressupostos dessa perspectiva teórico-metodológica começam a ser assentados. Era
visualizada uma origem única da humanidade que se estendia ao seu próprio destino, em
direção à civilização. Toda a diversidade cultural era reduzida a estágios históricos de
um mesmo caminho evolutivo em direção ao progresso — o que contrastava muito com
teorias bíblicas da degenerescência. Uma investigação evolucionista tinha por objetivo
preencher as lacunas históricas dos diferentes estágios evolutivos e empreendia tal
tarefa a partir do método comparativo. Mas o que estaria em jogo em tais comparações?
Lewis Henry Morgan é um importante autor não apenas para a antropologia, mas
também para outros desdobramentos clássicos da teoria social, como o materialismo
histórico e dialético de Marx e Engels. Em sua proposta, o que deve ser levado em
consideração num estudo antropológico são sobretudo as condições materiais de
existência e sua relação com a constituição de certas instituições, frutos de germes de
ideias tais como propriedade e governo. Nesse sentido, diferentes povos constituem
diferentes estágios evolutivos em direção à civilização, considerada o estágio mais
elevado da humanidade; sendo que o critério que define os limites de tais estágios diz
respeito a certas inveções, tais como o uso do fogo, do arco-e-flecha e da cerâmica. Sua
abordagem, que poderíamos considerar materialista, pode ser contraposta a de dois
outros autores evolucionistas. Refiro-me a Edward Burnett Tylor e James George
Frazer, proponentes do que poderíamos chamar de uma abordagem mais "mentalista" do
evolucionismo. Tylor aprofunda uma discussão acerca da noção de progresso, a partir
de suas considerações acerca de uma ideia de monocausalidade dos fenômenos sociais.
Aplicada à cultura, entendida no singular, como sinônimo de civilização, esse todo
complexo de hábitos adquiridos pela vida em sociedade, a proposta do autor pretende
encontrar leis universais do pensamento e da ação humana. São dois movimentos de
investigação realizados, o primeiro diz respeito a uniformidade que permeia a
civilização, em virtude de causas uniformes na ação humana. Já o segundo trata de
considerar os vários graus da civilização como estágios evolutivos, cada qual apontando
para uma história passada e outra futura. Uma noção importante que este autor traz é a
de sobrevivência, que se tratam de evidências que ajudam a traçar o curso que a
civilização mundial seguiu, a partir de processos, costumes e opiniões antigas que se
mantem pela força do hábito num estágio mais elevado da cultura. Sobrevivências são
tratadas como provas vivas de um certo passado evolutivo na própria civilização,
constituindo um conceito também importante para Frazer. Nesse sentido, cabe
mencionar que o autor se referiu a dois tipos de sobrevivências, uma mais pública, que
reflete em leis "atrasadas" e outra mais pobre que reflete nos estudos do folclore. O
estudo das sobrevivências, sobretudo no que tange ao folclore, para este autor entra em
conjunção com o estudo de sociedades ditas selvagens, uma vez que estudar estes
padrões mentais do pensamento em conjunto com outros estágios evolutivos recai na
tarefa primordial do método comparativo. O de preencher as lacunas na cadeia do que
eram consideradas as evidências históricas da evolução. As principais críticas que estes
autores sofreram refere-se a noção de monocausalidade histórica de Tylor, de que toda a
história da cultura (entendida no singular) remonta às mesmas causas. Causas num
passado remoto e inacessível, conjectural, como apontaria Franz Boas. O maior
problema da perspectiva evolucionista era, portanto, sua consideração de uma origem e
um destino único da humanidade, que se evidenciava no método comparativo e no que
se convencionou chamar de "antropologia de gabinete". Não havia uma preocupação
com o ponto de vista do nativo, tampouco com as condições concretas em que a cultura
e a sociedade eram vividas.

Questão 2: Desenvolva a importância da noção de cultura de Franz Boas e sua


transformação levada a cabo pelas herdeiras Margaret Mead e Ruth Benedict.

Embora a noção de cultura tenha sido inaugurada na antropologia pela tradição


evolucionista, a partir das contribuições de Edward Tylor, foi com o trabalho do
antropólogo Franz Boas que tal noção passa a ser conceituada pela maneira mais
utilizada na disciplina. Não se trata mais de um sinônimo de civilização, mas de algo
muito maior: uma certa forma de agir e pensar, tratando-se da forma pela qual humanos
percebem e entram em relação com o mundo. Na nova conceituação, portanto, se
reconhece que cultura não seria algo possível de existir no singular, trata-se sempre de
uma diversidade cultural. Culturas particulares constituem o enfoque, no vocabulário
que Boas inaugura, em vez de uma cultura universal, marcada pela marcha do
progresso. Influenciado pelo romantismo alemão, filósofos neo-kantianos e sua
formação nas ciências naturais, o clássico critica duramente as pressuposições
evolucionistas da cultura. Suas críticas, marcadas por um posicionamento político
bastante evidente contra o racismo e o nacionalismo, se endereçam sobretudo à maneira
pela qual o "método antigo" dos evolucionistas operava. Evocar um passado conjectural
e inacessível para explicar as semelhanças em grupos humanos distantes no espaço e no
tempo, bem como atribuir relações simples entre causa e efeito, não sustentam o
argumento central do evolucionismo. Segundo o qual, uma suposta origem única da
humanidade levaria a um mesmo destino: o da civilização. Defendendo uma abordagem
historicista, a abordagem boasiana estudava culturas particulares, na medida em que se
tornava possível reconstruir os processos pelo meio dos quais cada uma se conforma.
Um todo complexo, participante da vida mental e social dos seres humanos, que não é
redutível a determinismos de ordem biológica, geográfica ou econômica. Tampouco
seria possível estabelecer uma lei sociológica geral acerca da diversidade cultural. Essa
abordagem foi desenvolvida por vários de seus alunos, como Margaret Mead e Ruth
Benedict, cujos estudos costumam ser associados a chamada escola de cultura e
personalidade. Ambas as autoras desenvolvem tanto o método do particularismo
histórico e cultural quanto o próprio conceito de cultura, tornando mais contundente
ainda um dos imperativos metodológicos boasianos. O relativismo cultural, necessário
para não descrever as culturas a partir dos próprios termos daquela a qual o investigador
presente, é aqui aprofundado para um outro nível. Ruth Benedict discute acerca do que
ela chama de "padrões de cultura", isto é, acidentes históricos específicos, que
culminam em uma determinada maneira de ver e organizar o mundo, numa determinada
atitude. Os pressupostos metodológicos de um relativismo cultural passam a recorrer a
um movimento, por parte do antropólogo, de afastar-se dos seus próprios padrões na
medida em que dialoga com outros. Em que procura entender outros costumes, outros
padrões de cultura. Tais padrões de cultura dizem respeito à relação entre o indivíduo e
a cultura da qual ele participa, bem como entre a cultura e os indivíduos que a
conformam. Nesse sentido, as herdeiras de Boas acabam mobilizando uma discussão
acerca do caráter psicológico da cultura: cada cultura molda personalidades, as
capacidades entendidas como inatas aos indivíduos, a partir de um padrão próprio de
atitudes. Os desdobramentos de Benedict e Mead, ao mesmo tempo em que mantém a
crítica boasiana aos reducionismos de diversas ordens e seus efeitos políticos, conferem
ao conceito de cultura um novo campo de investigação. O que fica evidente nos seus
estudos na medida em que se discute como os impulsos culturais determinariam o
comportamento do indivíduo, consolidando certos ideais de conduta e marcando certas
atitudes como desviantes ou anormais. Em Sexo e temperamento de Margaret Mead,
essa noção é bem desenvolvida, conforme a antropóloga nos apresenta diferentes
culturas e seus temperamentos: os dóceis Arapesh, os agressivos Mundugmor, e as
mulheres dominantes e homens submissos dos Tchambuli. Além de sua contribuição
para a antropologia, trata-se de um importante livro que inspirou muito da teoria
feminista produzida, na medida em que reconhecia como a diferença entre os sexos está
diretamente associada à cultura. Durante boa parte do tempo, a autora realiza
comparações entre os Estados Unidos da época e as culturas estudadas, revelando uma
das consequencias dos desdobramentos da escola de cultura e personalidade no conceito
de cultura. Se para Boas, devíamos abrir mão do método comparativo, em virtude de
sua associação com generalizações conjecturais, aqui — uma vez que as culturas são
entendidas como todos complexos — um esforço comparativo emerge novamente.
Entretanto, não mais vinculado a uma generalização de um passado inalcançável e de
um futuro único da humanidade, mas sim aos diferentes tipos de existência que a
imaginação humana permitiria. E no que diz respeito à questão dos desvios de conduta,
essa comparação se tornava ainda mais importante, sobretudo por poder colocar em
evidência como o próprio desvio funciona na própria cultura das antropológas.

Questão 3: Qual a diferença entre o funcionalismo de Malinowski e o estrutural-


funcionalismo de Radcliffe-Brown?

Bronislaw Malinowski e Alfred Radcliffe-Brown foram importantes nomes na


constituição da disciplina antropológica, sobretudo na chamada escola britânica.
Funcionalismo é um termo que pode ser utilizado para descrever a contribuição de
ambos os autores, embora sua apropriação tenha tido diferentes implicações teóricas e
metodológicas para cada um deles. Num sentido mais estrito, funcionalismo é utilizado
para se referir ao trabalho de Malinowski, enquanto estrutural-funcionalismo diz
respeito ao de Radcliffe-Brown. A estabilidade que estes termos adquiriram com o
passar do tempo é um evento histórico recente, não sendo encontrada na época em que
produziram seus trabalhos. Nesse sentido, é relevante discutir acerca das diferentes
abordagens e propostas de ciência que ambos os autores apresentam. Considera-se que o
eco provocado pela contribuição malinowskiana à disciplina repercute sobretudo na
delimitação mais precisa de uma metodologia de trabalho de campo e de um estilo de
escrita etnográfico. A preocupação principal aqui é a de apresentar o ponto de vista dos
nativos, ou seja a "sua visão de seu mundo". Para tanto, um pesquisador em
antropologia deve lançar mão de um estudo sobre a organização da tribo e a anatomia
de sua cultura, sempre delineadas de modo preciso e claro, através de uma
documentação concreta e estatística de cada fenomeno observado. Outro imperativo
metodológico diz respeito à observação dos imponderáveis da vida real e seu
comportamento típico nas sociedades estudadas, que devem ser coletados através de
uma observação detalhada e minuciosa que só se torna possível com o contato íntimo
com a vida nativa, devendo sempre ser registrado num diário de campo. Essa
preocupação reflete na técnica de pesquisa conhecida por "observação participante". Por
fim, o pesquisador deve estar atento ao corpo de inscrições de uma mentalidade nativa,
sendo imprescindível a aprendizagem da língua nativa. Todas essas recomendações são
feitas no clássico Os argonautas do pacífico ocidental, publicado em 1922, em que o
autor vai descrever a maneira pela qual a instituição do sistema de trocas do Kula nas
ilhas Trobriand engendra efeitos por toda a extensão da sociedade estudada. Não se
trata, portanto, de algo isolado, mas de uma instituição que se encontra em relação a
outras instituições, entendidas pelo autor como organização social, de uma instituição
que tem determinada função para cada uma das necessidades vividas nessa cultura. Este
seria um aspecto implícito da teoria de Malinowski, como Eunice Durham chama, que
se torna possível na medida em que o autor coloca todo um vigor renovado no trabalho
de campo e na escrita etnográfica. Se o autor é celebrado por essa contribuição, por
outro lado, sua teoria explícita, uma teoria científica da cultura, elaborada e publicada
anos após sua descrição do Kula, não recebeu tanta atenção. Nessa relação entre
necessidade e função, o autor acabou por recair numa determinada forma de
determinismo biológico; afirmando que a cada "necessidade básica" do organismo
humano haveria uma resposta cultural específica, conforme o grupo em estudo. Dessas
necessidades básicas, acabam emergindo instituições, determinadas formas de
organização, que imprimem novas necessidades que, por sua vez, instauram novas
respostas culturais. Trata-se de uma relação de continuidade entre o orgânico e o social,
elementos muito importantes para uma compreensão do "estilo de pensamento" presente
nas discussões de ambos antropólogos. Entretanto, se em Malinowski essa relação é de
uma continuidade, para Radcliffe-Brown trata-se de uma simples analogia, mas
poderosa o suficiente para lançar as bases do social como um objeto de estudo concreto.
O conceito de função para Radcliffe-Brown, inspirado por Durkheim, Montesquieu e
por toda uma discussão que remonta às contribuições do evolucionismo, inspira-se
numa análise do orgânico. Se para uma morfologia orgânica as estruturas devem ser
localizadas e estudadas por uma fisiologia que pretende investigar como funcionam,
numa análise antropológica, ambos movimentos de análise devem ser feitos em
conjunto. Deve-se estudar as estruturas a partir de seu funcionamento, num determinado
sistema que vai se desenrolar o processo de vida social. Para o autor, que considera a
antropologia como uma sociologia comparada, muito próxima do método das ciências
naturais, o que importa para análise não é uma entidade fixa como "sociedade" ou
"cultura", mas sim um processo no qual é possível observar de maneira concreta o
funcionamento das estruturas sociais. Nesse sentido, a estrutura social é trabalhada por
Radcliffe-Brown como uma abstração que é possível a partir da observação do
funcionamento da vida social concreta, que por sua vez abre caminho para uma
generalização produzindo a viabilidade de uma análise comparativa. No limite, sua
pretensão era a de encontrar leis gerais para a vida social, enquanto a de Malinowski se
referia mais a apreciação da vida social como um todo integrado, que deve ser descrito
por meio da pesquisa de campo e da escrita etnográfica. As contribuições de Radcliffe-
Brown tiveram importantes impactos, a partir de uma leitura sincrônica das relações de
parentesco, o que leva a uma preocupação mais geral sobre as formas de classificação
das sociedades. Essa preocupação serviria como uma inspiração para uma guinada
estruturalista na antropologia, sobretudo a partir de Levi-Strauss, o que se tornou latente
com a discussão que o antropólogo britânico ofereceu à temática do totemismo.

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