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O documento discute o evolucionismo antropológico do século XIX e suas principais críticas. Apresenta autores como Morgan, Tylor e Frazer que defendiam abordagens materialista e mentalista do evolucionismo e a noção de sobrevivências culturais. As principais críticas eram a noção de monocausalidade histórica e a abordagem de "antropologia de gabinete" sem considerar perspectivas nativas.
O documento discute o evolucionismo antropológico do século XIX e suas principais críticas. Apresenta autores como Morgan, Tylor e Frazer que defendiam abordagens materialista e mentalista do evolucionismo e a noção de sobrevivências culturais. As principais críticas eram a noção de monocausalidade histórica e a abordagem de "antropologia de gabinete" sem considerar perspectivas nativas.
O documento discute o evolucionismo antropológico do século XIX e suas principais críticas. Apresenta autores como Morgan, Tylor e Frazer que defendiam abordagens materialista e mentalista do evolucionismo e a noção de sobrevivências culturais. As principais críticas eram a noção de monocausalidade histórica e a abordagem de "antropologia de gabinete" sem considerar perspectivas nativas.
Questão 1: Explique o que caracteriza o evolucionismo antropológico do século XIX e
as principais críticas sofridas. Inclua na discussão a questão do método comparativo e
do conceito de sobrevivências.
Os ecos do evolucionismo social na antropologia remontam ao século XIX,
quando noções como progresso passam a fazer parte de todo um vocabulário intelectual. Embora tenha sido uma escola, por assim dizer, muito criticada pelas tradições de antropólogos que a sucederam, trata-se de um importante marco para a disciplina, na medida em que começam a se delinear seus primeiros contornos teórico-metodológicos. Cabe mencionar, portanto, algumas de suas influências. Uma delas remonta à noção de evolução de um filósofo chamado Herbert Spencer e suas considerações acerca de uma inexorável marcha do progresso, passando de configurações simples a complexas. Combinada a uma paisagem intelectual muito marcada pela descoberta do mundo "antediluviano", em que a noção do passado humano se estendeu de maneira imprevista, os pressupostos dessa perspectiva teórico-metodológica começam a ser assentados. Era visualizada uma origem única da humanidade que se estendia ao seu próprio destino, em direção à civilização. Toda a diversidade cultural era reduzida a estágios históricos de um mesmo caminho evolutivo em direção ao progresso — o que contrastava muito com teorias bíblicas da degenerescência. Uma investigação evolucionista tinha por objetivo preencher as lacunas históricas dos diferentes estágios evolutivos e empreendia tal tarefa a partir do método comparativo. Mas o que estaria em jogo em tais comparações? Lewis Henry Morgan é um importante autor não apenas para a antropologia, mas também para outros desdobramentos clássicos da teoria social, como o materialismo histórico e dialético de Marx e Engels. Em sua proposta, o que deve ser levado em consideração num estudo antropológico são sobretudo as condições materiais de existência e sua relação com a constituição de certas instituições, frutos de germes de ideias tais como propriedade e governo. Nesse sentido, diferentes povos constituem diferentes estágios evolutivos em direção à civilização, considerada o estágio mais elevado da humanidade; sendo que o critério que define os limites de tais estágios diz respeito a certas inveções, tais como o uso do fogo, do arco-e-flecha e da cerâmica. Sua abordagem, que poderíamos considerar materialista, pode ser contraposta a de dois outros autores evolucionistas. Refiro-me a Edward Burnett Tylor e James George Frazer, proponentes do que poderíamos chamar de uma abordagem mais "mentalista" do evolucionismo. Tylor aprofunda uma discussão acerca da noção de progresso, a partir de suas considerações acerca de uma ideia de monocausalidade dos fenômenos sociais. Aplicada à cultura, entendida no singular, como sinônimo de civilização, esse todo complexo de hábitos adquiridos pela vida em sociedade, a proposta do autor pretende encontrar leis universais do pensamento e da ação humana. São dois movimentos de investigação realizados, o primeiro diz respeito a uniformidade que permeia a civilização, em virtude de causas uniformes na ação humana. Já o segundo trata de considerar os vários graus da civilização como estágios evolutivos, cada qual apontando para uma história passada e outra futura. Uma noção importante que este autor traz é a de sobrevivência, que se tratam de evidências que ajudam a traçar o curso que a civilização mundial seguiu, a partir de processos, costumes e opiniões antigas que se mantem pela força do hábito num estágio mais elevado da cultura. Sobrevivências são tratadas como provas vivas de um certo passado evolutivo na própria civilização, constituindo um conceito também importante para Frazer. Nesse sentido, cabe mencionar que o autor se referiu a dois tipos de sobrevivências, uma mais pública, que reflete em leis "atrasadas" e outra mais pobre que reflete nos estudos do folclore. O estudo das sobrevivências, sobretudo no que tange ao folclore, para este autor entra em conjunção com o estudo de sociedades ditas selvagens, uma vez que estudar estes padrões mentais do pensamento em conjunto com outros estágios evolutivos recai na tarefa primordial do método comparativo. O de preencher as lacunas na cadeia do que eram consideradas as evidências históricas da evolução. As principais críticas que estes autores sofreram refere-se a noção de monocausalidade histórica de Tylor, de que toda a história da cultura (entendida no singular) remonta às mesmas causas. Causas num passado remoto e inacessível, conjectural, como apontaria Franz Boas. O maior problema da perspectiva evolucionista era, portanto, sua consideração de uma origem e um destino único da humanidade, que se evidenciava no método comparativo e no que se convencionou chamar de "antropologia de gabinete". Não havia uma preocupação com o ponto de vista do nativo, tampouco com as condições concretas em que a cultura e a sociedade eram vividas.
Questão 2: Desenvolva a importância da noção de cultura de Franz Boas e sua
transformação levada a cabo pelas herdeiras Margaret Mead e Ruth Benedict.
Embora a noção de cultura tenha sido inaugurada na antropologia pela tradição
evolucionista, a partir das contribuições de Edward Tylor, foi com o trabalho do antropólogo Franz Boas que tal noção passa a ser conceituada pela maneira mais utilizada na disciplina. Não se trata mais de um sinônimo de civilização, mas de algo muito maior: uma certa forma de agir e pensar, tratando-se da forma pela qual humanos percebem e entram em relação com o mundo. Na nova conceituação, portanto, se reconhece que cultura não seria algo possível de existir no singular, trata-se sempre de uma diversidade cultural. Culturas particulares constituem o enfoque, no vocabulário que Boas inaugura, em vez de uma cultura universal, marcada pela marcha do progresso. Influenciado pelo romantismo alemão, filósofos neo-kantianos e sua formação nas ciências naturais, o clássico critica duramente as pressuposições evolucionistas da cultura. Suas críticas, marcadas por um posicionamento político bastante evidente contra o racismo e o nacionalismo, se endereçam sobretudo à maneira pela qual o "método antigo" dos evolucionistas operava. Evocar um passado conjectural e inacessível para explicar as semelhanças em grupos humanos distantes no espaço e no tempo, bem como atribuir relações simples entre causa e efeito, não sustentam o argumento central do evolucionismo. Segundo o qual, uma suposta origem única da humanidade levaria a um mesmo destino: o da civilização. Defendendo uma abordagem historicista, a abordagem boasiana estudava culturas particulares, na medida em que se tornava possível reconstruir os processos pelo meio dos quais cada uma se conforma. Um todo complexo, participante da vida mental e social dos seres humanos, que não é redutível a determinismos de ordem biológica, geográfica ou econômica. Tampouco seria possível estabelecer uma lei sociológica geral acerca da diversidade cultural. Essa abordagem foi desenvolvida por vários de seus alunos, como Margaret Mead e Ruth Benedict, cujos estudos costumam ser associados a chamada escola de cultura e personalidade. Ambas as autoras desenvolvem tanto o método do particularismo histórico e cultural quanto o próprio conceito de cultura, tornando mais contundente ainda um dos imperativos metodológicos boasianos. O relativismo cultural, necessário para não descrever as culturas a partir dos próprios termos daquela a qual o investigador presente, é aqui aprofundado para um outro nível. Ruth Benedict discute acerca do que ela chama de "padrões de cultura", isto é, acidentes históricos específicos, que culminam em uma determinada maneira de ver e organizar o mundo, numa determinada atitude. Os pressupostos metodológicos de um relativismo cultural passam a recorrer a um movimento, por parte do antropólogo, de afastar-se dos seus próprios padrões na medida em que dialoga com outros. Em que procura entender outros costumes, outros padrões de cultura. Tais padrões de cultura dizem respeito à relação entre o indivíduo e a cultura da qual ele participa, bem como entre a cultura e os indivíduos que a conformam. Nesse sentido, as herdeiras de Boas acabam mobilizando uma discussão acerca do caráter psicológico da cultura: cada cultura molda personalidades, as capacidades entendidas como inatas aos indivíduos, a partir de um padrão próprio de atitudes. Os desdobramentos de Benedict e Mead, ao mesmo tempo em que mantém a crítica boasiana aos reducionismos de diversas ordens e seus efeitos políticos, conferem ao conceito de cultura um novo campo de investigação. O que fica evidente nos seus estudos na medida em que se discute como os impulsos culturais determinariam o comportamento do indivíduo, consolidando certos ideais de conduta e marcando certas atitudes como desviantes ou anormais. Em Sexo e temperamento de Margaret Mead, essa noção é bem desenvolvida, conforme a antropóloga nos apresenta diferentes culturas e seus temperamentos: os dóceis Arapesh, os agressivos Mundugmor, e as mulheres dominantes e homens submissos dos Tchambuli. Além de sua contribuição para a antropologia, trata-se de um importante livro que inspirou muito da teoria feminista produzida, na medida em que reconhecia como a diferença entre os sexos está diretamente associada à cultura. Durante boa parte do tempo, a autora realiza comparações entre os Estados Unidos da época e as culturas estudadas, revelando uma das consequencias dos desdobramentos da escola de cultura e personalidade no conceito de cultura. Se para Boas, devíamos abrir mão do método comparativo, em virtude de sua associação com generalizações conjecturais, aqui — uma vez que as culturas são entendidas como todos complexos — um esforço comparativo emerge novamente. Entretanto, não mais vinculado a uma generalização de um passado inalcançável e de um futuro único da humanidade, mas sim aos diferentes tipos de existência que a imaginação humana permitiria. E no que diz respeito à questão dos desvios de conduta, essa comparação se tornava ainda mais importante, sobretudo por poder colocar em evidência como o próprio desvio funciona na própria cultura das antropológas.
Questão 3: Qual a diferença entre o funcionalismo de Malinowski e o estrutural-
funcionalismo de Radcliffe-Brown?
Bronislaw Malinowski e Alfred Radcliffe-Brown foram importantes nomes na
constituição da disciplina antropológica, sobretudo na chamada escola britânica. Funcionalismo é um termo que pode ser utilizado para descrever a contribuição de ambos os autores, embora sua apropriação tenha tido diferentes implicações teóricas e metodológicas para cada um deles. Num sentido mais estrito, funcionalismo é utilizado para se referir ao trabalho de Malinowski, enquanto estrutural-funcionalismo diz respeito ao de Radcliffe-Brown. A estabilidade que estes termos adquiriram com o passar do tempo é um evento histórico recente, não sendo encontrada na época em que produziram seus trabalhos. Nesse sentido, é relevante discutir acerca das diferentes abordagens e propostas de ciência que ambos os autores apresentam. Considera-se que o eco provocado pela contribuição malinowskiana à disciplina repercute sobretudo na delimitação mais precisa de uma metodologia de trabalho de campo e de um estilo de escrita etnográfico. A preocupação principal aqui é a de apresentar o ponto de vista dos nativos, ou seja a "sua visão de seu mundo". Para tanto, um pesquisador em antropologia deve lançar mão de um estudo sobre a organização da tribo e a anatomia de sua cultura, sempre delineadas de modo preciso e claro, através de uma documentação concreta e estatística de cada fenomeno observado. Outro imperativo metodológico diz respeito à observação dos imponderáveis da vida real e seu comportamento típico nas sociedades estudadas, que devem ser coletados através de uma observação detalhada e minuciosa que só se torna possível com o contato íntimo com a vida nativa, devendo sempre ser registrado num diário de campo. Essa preocupação reflete na técnica de pesquisa conhecida por "observação participante". Por fim, o pesquisador deve estar atento ao corpo de inscrições de uma mentalidade nativa, sendo imprescindível a aprendizagem da língua nativa. Todas essas recomendações são feitas no clássico Os argonautas do pacífico ocidental, publicado em 1922, em que o autor vai descrever a maneira pela qual a instituição do sistema de trocas do Kula nas ilhas Trobriand engendra efeitos por toda a extensão da sociedade estudada. Não se trata, portanto, de algo isolado, mas de uma instituição que se encontra em relação a outras instituições, entendidas pelo autor como organização social, de uma instituição que tem determinada função para cada uma das necessidades vividas nessa cultura. Este seria um aspecto implícito da teoria de Malinowski, como Eunice Durham chama, que se torna possível na medida em que o autor coloca todo um vigor renovado no trabalho de campo e na escrita etnográfica. Se o autor é celebrado por essa contribuição, por outro lado, sua teoria explícita, uma teoria científica da cultura, elaborada e publicada anos após sua descrição do Kula, não recebeu tanta atenção. Nessa relação entre necessidade e função, o autor acabou por recair numa determinada forma de determinismo biológico; afirmando que a cada "necessidade básica" do organismo humano haveria uma resposta cultural específica, conforme o grupo em estudo. Dessas necessidades básicas, acabam emergindo instituições, determinadas formas de organização, que imprimem novas necessidades que, por sua vez, instauram novas respostas culturais. Trata-se de uma relação de continuidade entre o orgânico e o social, elementos muito importantes para uma compreensão do "estilo de pensamento" presente nas discussões de ambos antropólogos. Entretanto, se em Malinowski essa relação é de uma continuidade, para Radcliffe-Brown trata-se de uma simples analogia, mas poderosa o suficiente para lançar as bases do social como um objeto de estudo concreto. O conceito de função para Radcliffe-Brown, inspirado por Durkheim, Montesquieu e por toda uma discussão que remonta às contribuições do evolucionismo, inspira-se numa análise do orgânico. Se para uma morfologia orgânica as estruturas devem ser localizadas e estudadas por uma fisiologia que pretende investigar como funcionam, numa análise antropológica, ambos movimentos de análise devem ser feitos em conjunto. Deve-se estudar as estruturas a partir de seu funcionamento, num determinado sistema que vai se desenrolar o processo de vida social. Para o autor, que considera a antropologia como uma sociologia comparada, muito próxima do método das ciências naturais, o que importa para análise não é uma entidade fixa como "sociedade" ou "cultura", mas sim um processo no qual é possível observar de maneira concreta o funcionamento das estruturas sociais. Nesse sentido, a estrutura social é trabalhada por Radcliffe-Brown como uma abstração que é possível a partir da observação do funcionamento da vida social concreta, que por sua vez abre caminho para uma generalização produzindo a viabilidade de uma análise comparativa. No limite, sua pretensão era a de encontrar leis gerais para a vida social, enquanto a de Malinowski se referia mais a apreciação da vida social como um todo integrado, que deve ser descrito por meio da pesquisa de campo e da escrita etnográfica. As contribuições de Radcliffe- Brown tiveram importantes impactos, a partir de uma leitura sincrônica das relações de parentesco, o que leva a uma preocupação mais geral sobre as formas de classificação das sociedades. Essa preocupação serviria como uma inspiração para uma guinada estruturalista na antropologia, sobretudo a partir de Levi-Strauss, o que se tornou latente com a discussão que o antropólogo britânico ofereceu à temática do totemismo.