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www.bmfbovespa.com.

br/revista No 12/ 2011

5
ENTREVISTAS
KENNETh Rogoff,
EcoNomISTA

LuIzA hELENA
TRAjANo,
SupERINTENdENTE do
mAgAzINE LuIzA
º Congresso de Campos do Jordão:

o País frente à
economia global

ENSAIo
pÉRSIo ARIdA SugERE
REAVALIAÇÃo
do fgTS E do fAT

coNTRApoNTo
o TEATRo muNIcIpAL
RENoVAdo
carta ao leitor

Raras vezes, em momentos tão complexos da vida econômica, é possível dispor


de tão amplo painel de informações e análises como o apresentado por expoentes
www.bmfbovespa.com.br/revista No 12/ 2011 do Brasil e do mundo no 5º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de
Capitais, realizado em agosto, em Campos do Jordão, quando havia sinais de agrava-

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mento da crise global, só em parte revertidos, em outubro. Este é o tema central des-

º Congresso de Campos do Jordão:

o País frente à
economia global
ta edição, que retrata com fidelidade os desafios postos para os gestores de política
econômica e para os mercados.
Personagens como o Prêmio Nobel de Economia, Robert Engle, economistas
das áreas pública e privada como Ilan Goldfajn, Michael Pettis, Marcelo Neri, Robert
ENTREVISTAS
KENNETh Rogoff,
EcoNomISTA
Skidelski, Marcio Holland e Luiz Awazu Pereira, a presidente da CVM, Maria Helena
LuIzA hELENA
TRAjANo,
Santana, e o megaempresário Eike Batista, entre outros, dão aqui seus depoimentos.
Felizmente, o Brasil está em posição mais favorável, com elevadas reservas cam-
SupERINTENdENTE do
mAgAzINE LuIzA

ENSAIo
pÉRSIo ARIdA SugERE
REAVALIAÇÃo
do fgTS E do fAT
biais e crescimento econômico, relativamente à maioria dos desenvolvidos, notou o
coNTRApoNTo
o TEATRo muNIcIpAL
economista Kenneth Rogoff, entrevistado com exclusividade. “Em comparação com
os países ricos, o Brasil ainda parece ótimo”, disse à Revista da Nova Bolsa. Destaca-se,
RENoVAdo

2011 nº12 ainda, a entrevista de Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, em que se mostra a
face moderna do empresário brasileiro, disposto a abrir o capital, investir e ampliar
seus negócios, sabendo que as crises, por maiores que sejam, passam. E as opiniões
do economista Pérsio Arida, um dos formuladores do Plano Real, sobre a necessida-
de de reavaliar os fundos para-fiscais, como o FGTS e o FAT, que alimentam o crédito
direcionado.
Também são abordados, nesta edição, iniciativas de longo prazo, como o acordo
de cross-listing de Johanesburgo, concluído entre Brasil, China, Rússia, Índia e África
do Sul; ensaio do professor Fabio Gallo, sobre o pequeno investidor; e a revolução
proporcionada pelo programa de popularização da BM&FBOVESPA. Na seção Con-
traponto, a reabertura do Teatro Municipal.

Boa leitura!

R E V I S T A D A

U M A P U B L I C A Ç Ã O D A B M & F B O V E S P A

Diretor Presidente: Edemir Pinto


Diretoria Executiva: Cícero Vieira Neto, Eduardo R. Guardia, Luis Furtado e Marcelo Maziero
Conselho de Administração: Arminio Fraga Neto – Presidente, Marcelo Fernandez Trindade – Vice-presidente, Candido Bracher,
Claudio Luiz da Silva Haddad, Craig Steven Donohue, José Roberto Mendonça de Barros, Julio de Siqueira Carvalho de Araujo,
Luiz Stuhlberger, Renato Diniz Junqueira e René M. Kern

Jornalista responsável: Alcides Ferreira edição de arte e diagramação: GB8 Design e Editoração Ltda.
coordenação editorial: Fábio Pahim Jr.
Fotos da capa: AGêNCIA Luz
editores: José Roberto Nassar, Jorge Wahl, Patrícia Brighenti
e Theo Carnier A Revista da Nova Bolsa é uma publicação trimestral da BM&FBOVESPA.
edição final: Rose Jordão O conteúdo desta publicação não representa a opinião da Bolsa,
colaboraram nesta edição: Fabio Gallo Garcia, Gilson Andrade, nem deve ser interpretado como recomendação de compra ou venda
Paola Cossermelli Messina, Paulo Trevisani e Silvia Penteado de ativos. Os artigos assinados expressam a opinião de seus autores.
revisão: Daniela De Piccoli e Rosangela Kirst É proibida a reprodução parcial ou integral de textos contidos
criação: Rogerio Guerra e Ronald Capristo Trapino nesta publicação.

ISSN 1983-8182
assinaturas: tel. (11) 2565-7581 – fax (11) 2565-7423
As correspondências à Revista da Nova Bolsa devem ser enviadas para:
Rua XV de Novembro, 275 – 5º andar, São Paulo/SP – CEP 01013-001
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índice

18 64

6 visite a bolsa CoNgResso De CaMPos Do joRDÃo


18 O País frente à economia global
No 5º Congresso internacional de Mercados financeiro e
eNtRevistas de Capitais, tradicional evento promovido a cada biênio
pela bM&fbovesPa, especialistas globais e autoridades
8 luiza HeleNa tRajaNo, superintendente do reuniram-se para discutir as tendências econômicas e a
Magazine luiza capacidade de o brasil resistir aos desafios de um novo
Lições de uma empresária de sucesso ajuste, na sequência da crise de 2008.
a partir dos ensinamentos recebidos em família e em es- José Roberto Nassar, Theo Carnier e Fábio Pahim Jr.
colas reputadas, a superintendente do Magazine luiza
superou obstáculos e construiu uma história muito bem- eNsaios
sucedida no varejo, levando sua companhia ao iPo, no
primeiro semestre. 54 Pérsio Arida indaga se vale a
Silvia Penteado pena manter o FGTS e o FAT
12 KeNNetH Rogoff, economista em palestra no instituto fernando Henrique, o
economista Pérsio arida sugeriu uma reavaliação dos
O Brasil está muito bem, comparado aos fundos para-fiscais fgts e fat e das cadernetas de
desenvolvidos poupança.
o professor de Harvard e ex-diretor de Pesquisa econômi- Por José Roberto Nassar
ca do fMi mostra que as crises são previsíveis e que estão
presentes mesmo entre os emergentes, como a China, 58 Pequeno investidor
agora mais vulnerável. todos os investidores, pequenos inclusive, devem diversi-
Paulo Trevisani ficar suas aplicações e respeitar o próprio perfil, de forma
a extrair o melhor resultado possível de suas aplicações.
Fábio Gallo

4 REVISTA DA NOVA BOLSA


70 86

teCNologia ResPoNsabiliDaDe soCial


62 Nova plataforma torna negociação ainda mais 70 Conquista inédita de Fabiana Murer no Mundial
rápida de Atletismo
está em operação, desde outubro, o PuMa trading sys- a medalha de ouro na Coreia do sul foi possível graças ao
tem bM&fbovesPa – a nova plataforma de negociação treinamento proporcionado pela bolsa e por um técnico
de contratos de câmbio pronto e de derivativos agrope- competente, elson Miranda, que se formou com os maio-
cuários, financeiros e baseados em índices de ações, que res especialistas do mundo.
reduziu o tempo de execução de uma ordem para menos Silvia Penteado
de 1 milésimo de segundo.
Theo Carnier
74 eM Revista
bolsas eMeRgeNtes
64 Nova porta aberta para o investidor 78 oN-liNe
a bM&fbovesPa e outras seis bolsas de países emergen-
tes, assinou em reunião da federação Mundial de bolsas,
realizada em outubro, em johanesburgo, acordo para for- 82 livRos
talecer o processo de internacionalização dos mercados,
prevendo inicialmente a negociação de derivativos de ín-
dice, até chegar, no futuro, à ampla listagem cruzada. CoNtRaPoNto
Theo Carnier
86 teatRo MuNiCiPal De sÃo Paulo
O teatro centenário revive
PoPulaRizaÇÃo após a terceira grande reforma, o teatro Municipal de são
68 O BM&FBOVESPA Vai ao Campo chega às
Paulo reabriu com programação repleta de atrações para
os amantes da música, da dança e das artes cênicas, um
cidades-chave do agronegócio restaurante totalmente renovado e aberto ao público, e,
em quatro anos, o capítulo rural do programa de populariza- sobretudo, com a presença fiel dos espectadores.
ção bM&fbovesPa vai até você alcança mais de 15 mil pes- Por Paola Cossermelli Messina
soas das 31 cidades mais importantes para o agronegócio.
Silvia Penteado

REVISTA DA NOVA BOLSA 5


visite a bolsa
fotos AgêNciA luz

Onde: Rua XV de Novembro, 275, Centro – são Paulo – sP


Quando: De segunda a sábado, das 10h às 17h.
Quanto: Entrada gratuita
Atrações: filme em 3D sobre a Bolsa; mesa de operações,
com demonstração de como são realizados os negócios
no pregão eletrônico; Centro de Memória, com vídeos e
objetos que contam a história da Bolsa; auditório para
palestras; e café.

Mais informações e agendamento para grupos:


www.bmfbovespa.com.br, no menu Institucional, Visitas.

p Macauly Alves, 16 anos, estudante (São


Paulo – SP)
foi meu pai quem me incentivou a conhecer
a BM&fBoVEsPA. De tanto ele falar em bol-
sa de valores acabou despertando em mim
o interesse sobre investimentos. tenho a
impressão de que conhecendo as empresas
listadas e as regras de negociação fica mais
fácil investir no mercado de ações sem ris-
cos. No Espaço Raymundo Magliano filho,
o que também me chamou a atenção foi o
local onde ficam as corretoras.

p gista
Anderson Oliveira galchin, 39 anos, paisa-
(São Paulo – SP)
Morei por seis anos fora do Brasil e lá tinha
notícias de que, economicamente, o País es-
tava crescendo bastante. Quando voltei, há
oito meses, comecei a pesquisar sobre algu-
mas atividades e, depois de procurar informa-
ções sobre o mercado pela internet, cheguei
à BM&fBoVEsPA. No primeiro contato, soube
p Herton leandro, 37 anos, professor (Jaraguá
do Sul – Sc)
que a Bolsa oferecia cursos e visita monitorada Há um projeto da escola, única em santa Cata-
ao Espaço. Não sei se antigamente existia um rina que trabalha com educação financeira. to-
espaço de visitação como este, aberto ao públi- dos os anos, fazemos um passeio para são Paulo
co, mas achei interessante esta iniciativa. Desta- com os alunos e sempre aproveitamos para dar
co também o carinho e a atenção com que os uma passada na BM&fBoVEsPA. Eu gosto mui-
monitores nos receberam. No momento, não to da simulação de uma negociação e também
invisto em ações; primeiro, estou procurando do espaço do café. Quem sabe não surge uma
conhecimento para, depois, no longo prazo, oportunidade, através da visita, para que eu pos-
deixar um dinheirinho investido. sa investir em ações um dia?

6 REVISTA DA NOVA BOLSA JAN/MAR 2010


p Marcos Rodrigues, 22 anos, e camilla
Sol, 21 anos, auxiliares administrativos
camilla – Na minha cabeça, este espaço era
mais agitado com os operadores. Depois de
(uberlândia – Minas gerais) participar da visita, gostei  da simulação e
da palestra que nos mostrou como funciona
Marcos – foi uma ótima oportunidade para o mercado de ações, além de nos explicar
eu conhecer, na prática, como funciona a quem pode se tornar acionista das empre-
Bolsa, que eu só conhecia mesmo pela te- sas, quanto um investidor precisa para co-
levisão. meçar a negociar etc.

q
Poliana Santiago da Silva,
21 anos, auxiliar de pro-
dução (cachoeira do ita-
pemirim – ES)
Gostei bastante da visita,
foi bem interativa e o lugar
é lindo. Recebi atenção es-
pecial dos monitores e con-
segui esclarecer algumas
dúvidas. Um dia, pretendo
investir em ações, mas, por
enquanto, não invisto. Eu
adorei a palestra  e conhe-
cia um pouco sobre a Bolsa,
pois, na faculdade, tive ma-
térias sobre investimento
em ações.

GILSON ANDRADE É JORNALISTA DA GERÊNCIA DE IMPRENSA DA BM&FBOVESPA.

JAN/MAR 2010 REVISTA DA NOVA BOLSA 7


entrevistas

Luiza HeLena Trajano


Superintendente do Magazine Luiza

LiçõeS de uMa eMpreSária


de SuceSSo
POR SiLvia penTeado *

Em meio a uma trajetória de sucesso, o Ma- a trabalhar, nas férias, na loja dos tios, em Franca.
gazine Luiza estreou, em abril no pregão da O ensinamento seguinte veio da tia Luiza, funda-
BM&FBOVESPA, depois de anos de preparação. dora do Magazine Luiza: “Se o cliente achou que
Enquanto aguardava o momento certo, a em- está errado, devolva o dinheiro. Não venda aqui-
presa manteve, por mais de dez anos, auditores lo que ele não gosta”.
internacionais controlando seus balanços. Com Na época da faculdade, dividia seu tempo
os R$926 milhões obtidos na operação, preten- entre a escola, à noite, e o trabalho durante o dia.
de acelerar o ritmo de crescimento da empresa Passou por todos os cargos na empresa até que,
em São Paulo – a rede entrou no mercado pau- em 1991, assumiu a superintendência. E, desde
listano, em 2008, com a abertura simultânea de lá, tem se dedicado a fazer a empresa crescer
50 lojas – e a consolidação do grupo na região cada vez mais.
Nordeste. A primeira aquisição foi feita em 1976, com a
Como tudo o que acontece no Magazine Lui- incorporação das Lojas Mercantil, no interior de
za, mesmo antes de assumir a superintendência São Paulo. Depois, vieram muitas outras: as redes
da empresa, em 1991, Luiza Helena Trajano esta- Talarico, Presidente, Tamoios, Felipe, Wanel, Líder,
va pessoalmente no comando do IPO, monito- Arno, Madol, Killar, Base foram sendo incorpora-
rando cada passo, cada informação. Casada, mãe das uma após outra. Em 2010, para compensar
de três filhos, natural de Franca, interior paulista, a perda do Ponto Frio e das Casas Bahia para o
formada em Direito e em Administração, ela vive maior concorrente, o Grupo Pão de Açúcar, um
a empresa 24 horas por dia. Está sempre dispo- passo importante foi dado com a compra das
nível para clientes e funcionários, com seu jeito Lojas Maia, que marcou a entrada da rede no
simples de falar sobre assuntos complexos. Ca- Nordeste. Em 2011, já com os recursos obtidos
racterística que, somada ao seu carisma pessoal, no IPO, adquiriu as Lojas do Baú, recuperando o
a torna imbatível na comunicação e na motiva- posto de segunda maior rede varejista de eletrô-
ção de funcionários e clientes. nicos e eletrodomésticos do País, que havia per-
De família de vendedores orgulhosos da dido no ano anterior para a Ricardo Eletro – que
profissão, como gosta de contar, Luiza começou comprou a rede Insinuante.
cedo, aos 12 anos, e foi acumulando ensinamen- Nos últimos dois anos, com recursos pró-
tos importantes. O primeiro veio de sua mãe: prios e seguindo ao pé da letra o plano estraté-
“Quer gastar? Vá ganhar”, disse ela à menina que gico traçado por Luiza, a rede pulou de 456 lojas
adorava dar presentes. Lição registrada, começou para 613, sendo 543 convencionais, 69 virtuais e

8 REVISTA DA NOVA BOLSA


um site. A estas estão sendo incorporadas as 121

divulgaçãO
lojas das Lojas do Baú.
Apenas no segundo trimestre de 2011, foram
9 novas lojas, sendo 4 na Grande São Paulo, 2 no
Nordeste, 2 lojas virtuais no interior de São Paulo
e 1 no Mato Grosso do Sul. O resultado é que,
embora os números do segundo trimestre não
tenham sido tão bons quanto os do primeiro, o
faturamento deve fechar 2011 em torno de R$6
bilhões, mantendo-se a expectativa de chegar
aos R$15 bilhões até 2015.
O segredo do sucesso? Segundo Luiza, pro-
fissionalismo, velocidade, qualidade e agilidade,
mantendo o cliente, sempre, como centro do
negócio. Mas, principalmente, pela motivação
de seus funcionários, inspirados pela própria Lui-
za. Ela mantém sua equipe atenta e sempre dis-
posta a quebrar paradigmas. Uma postura que
levou o Magazine Luiza a crescer rápida e consis-
tentemente, até agora, “sem perder a alma”.
A seguir, algumas das respostas de Luiza He-
lena Trajano para a Revista Nova Bolsa:

Revista da Nova Bolsa – A rede Magazine Luiza


cresceu muito e rapidamente com fôlego próprio.
Estar na Bolsa era um objetivo
Por que lançar ações na Bolsa? antigo, tanto que sempre
Luiza Trajano – Estar na Bolsa era um objetivo anti-
go, tanto que sempre tomamos medidas exemplares tomamos medidas exemplares
de governança corporativa, mesmo quando éramos de
capital fechado. Por mais de dez anos o Magazine Luiza de governança corporativa,
teve balanços auditados por uma empresa internacio- mesmo quando éramos de
nal de auditoria.
  capital fechado. Por mais de
R.N.B. – Como serão usados os recursos captados
no IPO? A meta é ser a primeira rede varejista do dez anos o Magazine Luiza
País?
L.T. – Os recursos captados na oferta pública de ações,
teve balanços auditados por
conforme programado, estão sendo destinados à ex- uma empresa internacional
pansão da rede, reforma de lojas, investimentos em tec-
nologia e logística, bem como na redução de linhas de de auditoria
capital de giro. Desde o IPO, por exemplo, inaugura-
mos 16 lojas organicamente, além de adquirir 121 pon-
tos comerciais das Lojas do Baú. Também já reforma-
mos diversas unidades do Magazine Luiza e das Lojas
Maia, com destaque para a virada da marca e reforma
completa de 14 lojas da grande Recife.

REVISTA DA NOVA BOLSA 9


entrevistas

R.N.B. – A empresa promoveu grande esforço para atrair o peque-


no investidor para o IPO. Seu objetivo foi alcançado?
L.T. – Sim, além dos grandes investidores contamos com grande adesão
de pequenos. A própria BM&FBOVESPA nos parabenizou pelo esfor-
Em uma economia ço de levar nossas ações para aqueles que ainda não tinham o mercado
de capitais como opção de investimento.
global, nenhum país
R.N.B. – A participação dos funcionários esteve de acordo com a
está descolado da sua expectativa? Qual a importância da participação dos funcioná-
crise, mas o Brasil rios no lançamento de ações?
L.T. – Logo na abertura de capital, tivemos mais de mil funcionários
está mais bem que aderiram ao processo e se tornaram sócios do Magazine Luiza. Não
estabelecemos uma cota para funcionários, mas realizamos uma oferta
preparado hoje especial e disponibilizamos um fundo só para eles.
do que há alguns R.N.B. – Como a senhora avalia o desempenho da economia bra-
anos. E, neste ponto, sileira no médio e no longo prazo? Acredita que a crise vai acabar
chegando por aqui? Ou já chegou?
ajuda muito ter um L.T. – Em uma economia global, nenhum país está descolado da crise,
mas o Brasil está mais bem preparado hoje do que há alguns anos. E,
mercado interno neste ponto, ajuda muito ter um mercado interno forte como o nosso,
forte como o nosso, que está crescendo ainda mais graças às políticas de inclusão.

que está crescendo R.N.B. – O que afeta mais o consumidor? As más notícias, que atu-
am sobre o psicológico, ou a redução do crédito?
ainda mais graças às L.T. – Os dois são ruins, mas tenho confiança de que, como socieda-
políticas de inclusão de, todos nós podemos nos mobilizar pelo sucesso da nossa econo-
mia. E por enquanto, o Brasil não está enfrentando problemas de falta
de crédito.  

R.N.B. – A senhora acredita que o varejo vai precisar de incentivos


do governo como os que foram dados à indústria?
L.T. – Alguns incentivos, como redução de IPI de determinados pro-
dutos, são muito bem-vindos, pois favorecem o aumento do consumo
e minimizam o impacto de uma possível crise na economia. Quando
tivemos a redução do IPI para os produtos da linha branca, houve refle-
xo positivo no varejo e na indústria. Possibilitou o acesso das famílias,
por exemplo, à máquina de lavar roupas, item que já foi considerado
de luxo, mas que, hoje, levando-se em consideração a situação da mu-
lher que trabalha fora e ainda precisa fazer outra jornada em sua própria
casa, é de extrema necessidade.

R.N.B. – Quando, aos 12, começou a trabalhar na loja de seus tios,


nas férias, imaginava que estaria no comando da terceira maior
rede varejista do País?
L.T. – Eu venho de uma família muito batalhadora e empreendedora, e
sempre buscamos melhorar e crescer. Essa meta esteve sempre presente
em minha vida. Quando me vejo hoje, fazendo o que faço, sinto muita
alegria por pensar na quantidade de empregos que ajudei a gerar, na

10 REVISTA DA NOVA BOLSA


quantidade de famílias que têm seu sustento graças ao trabalho no Ma-
gazine Luiza. É muito gratificante, porque conseguimos construir uma
empresa que tem lucro saudável e valoriza as pessoas.

R.N.B. – Quais os maiores desafios enfrentados nesses anos todos?


L.T. – Recebemos muitas interferências externas, como a velocidade das
Temos um cliente
informações, tecnologia, tendências. Todos esses fatores nos trazem gran- que cada vez mais
des desafios diários. Penso que, quanto mais o empreendedor estiver ali-
nhado com a sua profissão, o seu conhecimento e, principalmente, a sua usa meios digitais e
vocação, maior a chance de dar certo. Além desses fatores, existem outros
que também devem ficar em nosso radar, como cuidar do fluxo de caixa,
canais on-line para
perceber o momento da empresa e mudá-la de ciclo para que não enve- sua comunicação;
lheça, ter foco no cliente, atendendo a suas necessidades, e cumprir o que
se promete para ter credibilidade. São nossos desafios diários. visualizamos isso de
R.N.B. – Qual o desafio daqui para frente? Quais são seus planos?
forma muito positiva
L.T. – Acredito que o nosso maior desafio é continuar crescendo sem e natural, e buscamos
perder a nossa essência: simplicidade, transparência, valorização e res-
peito às pessoas. ter uma participação
R.N.B. – É realmente possível crescer tanto, ter tantos funcioná-
muito ativa em
rios, “sem perder a alma”, como a senhora disse em uma entrevista? canais como Twitter,
L.T. – Acredito que toda empresa tem de ter uma alma, e eu luto mui-
to, internamente, para mantermos a do Magazine Luiza, mesmo com o Facebook, blogs,
crescimento em número de funcionários e as distâncias entre as lojas. É
um trabalho que exige muito esforço e planejamento de ações.  Para entre outros
permanecer com os valores da empresa sempre vivos, investimos muito
em comunicação e treinamento dos nossos colaboradores. Prova dis-
so é que, em 2010, fomos eleitos pelo Instituto Great Place to Work a
melhor empresa para trabalhar em relação à prática de falar e, em 2011,
fomos o primeiro na prática de escutar os funcionários.

R.N.B. – O que mudou no varejo dos tempos em que a senhora co-


meçou a trabalhar com seus tios até hoje? O consumidor também
mudou?
L.T. – Ambos mudaram e, desde a época em que comecei com meus
tios, as mudanças foram diversas e impossíveis de listar rapidamente.
Temos um cliente que cada vez mais usa meios digitais e canais on-line
para sua comunicação. Visualizamos isso de forma muito positiva e
natural, e buscamos ter uma participação muito ativa em canais como
Twitter, Facebook, blogs, entre outros. O melhor exemplo do quanto
que estamos conectados a essa demanda é o recente lançamento do
projeto Magazine Você, em que inauguramos um novo canal de vendas
colaborativo via redes sociais Orkut e Facebook. As mudanças ocor-
rem, e é preciso estar atento a elas. Mas há algo que nunca muda: a sa-
tisfação dos clientes com um bom atendimento, e é isto que buscamos
oferecer sempre.

*SÍLVIA PENTEADO É JORNALISTA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 11


entrevistas

KENNETH ROGOFF
Economista e professor da Universidade Harvard

UM ENXADRISTA DESTRINCHA
OS DADOS DA CRISE GLOBAL
POR pAULO TREvISANI *

Foi preciso um enxadrista da era da internet, cos para análise de ciclos de bolhas e estouros.
reconhecido pela Federação Internacional de Com Carmen M. Reinhart, escreveu This Time Is
Xadrez (Fide) como grande mestre, para ajudar a Different (ver resenha na seção Livros), um puxão
enxergar a economia global através de enormes de orelhas de quase 500 páginas em luminares
conjuntos de dados. Esse enxadrista é o econo- da economia e autoridades que teimam em
mista Kenneth S. Rogoff, que na infância preferia acreditar que períodos prolongados de prospe-
jogar basquete a estudar e titubeou entre fazer ridade não são, necessariamente, bolhas; que,
mestrado no Massachusetts Institute of Techno- apesar de altas extraordinárias nos preços de
logy (MIT) ou ser jogador profissional de xadrez. ativos (especialmente imobiliários) e níveis de
Nesta entrevista à Revista da Nova Bolsa, Ro- endividamento acima do normal, alguma pecu-
goff disse que os países emergentes não estão liaridade moderna – por exemplo, alta produti-
imunes aos riscos de crise, mas que, em primeiro vidade, nova categoria de credores, crença não
lugar, esses riscos estão na China, por conta da muito fundamentada de que a nova geração é
excessiva oferta de crédito, acrescentando sobre mais esperta – torna o ciclo econômico presente
o Brasil: “Se estamos pensando no Brasil, é claro impermeável a crises.
que há riscos. Eles são óbvios, particularmente o Claro que a bolha imobiliária norte-america-
boom do crédito ao consumidor, a grande fatia na da década passada logo vem à mente, mas
de investimentos do governo. Mas provavel- Rogoff e Reinhart foram muito além – e desfru-
mente não seriam os maiores riscos no momen- tando da oferta sem precedentes de dados via
to, porque, em comparação com os países ricos, internet, cumpriram a tarefa de traçar modelos
o Brasil ainda parece estar ótimo”. usando dados de oito séculos e de 66 países, co-
O economista sabe bem do que fala, pon- brindo crises bancárias, crises de dívida, bolhas
derando sobre a necessidade de a Europa re- de ativos, inflação e câmbio.
conhecer a gravidade da crise não só na Grécia, Na entrevista feita por telefone em 7 de ou-
mas em países como Portugal e, talvez, Irlanda, tubro, em seu escritório na Universidade Har-
sem falar no problema das dívidas privadas na vard, Rogoff falou sobre a formação de bolhas e
Espanha. Há dois anos, contribuiu para um dos a gestão das crises subsequentes. Além de dar
mais abrangentes estudos de dados econômi- aulas, ele ainda joga xadrez.

12 REVISTA DA NOVA BOLSA


Revista da Nova Bolsa – O senhor escreveu que perí-

divulgaçãO
odos de prosperidade, alguns longos, frequentemen-
te terminam em lágrimas. Eles devem ser evitados?
Kenneth Rogoff – Claro que você não quer evitar
prosperidade e não dá para evitar ciclos, e o melhor que
se pode é tentar fazer que o período de alta seja o me-
lhor possível e que o de baixa seja o mais curto possível.
Mas, ao esticar os anos de prosperidade, você tem de
tomar cuidado para não o fazer por meio de um boom
de crédito como os Estados Unidos fizeram no início
dos anos 2000, quando você tem, talvez, uns dois anos
de alta pela frente e, depois, um período de baixa muito
ruim. Mas, é claro, se nunca tivéssemos tido a Revolu-
ção Industrial, jamais teríamos recessões tão ruins, mas
isso não seria uma coisa boa.

R.N.B. – Evitar excessos implica dizer a governos


que não aceitem dinheiro que investidores lhes
oferecem, e o senhor mesmo observa, em seu livro,
que isso é muito difícil.
K.R. – Nós concordamos totalmente nesse ponto. A
política aqui é muito difícil de resistir. Especialmente
quando a economia em geral está indo bem e tem ido
bem por muito tempo, não dá para ver o resto. E é aí que
eu acho útil observar referências históricas, olhar para
medidas de endividamento do país como um todo, do É claro que, no Brasil, há
setor privado, do governo, e tentar enxergar a realidade
e entender o que está acontecendo. Em nosso trabalho,
riscos, particularmente
Reinhart e eu demos muita importância a booms ala- o boom de crédito ao
vancados , em que a alavancagem simplesmente está
explodindo – a gente deve ficar especialmente alerta consumidor, a grande fatia de
porque pode haver problemas aí.
investimentos do governo.
R.N.B. – Desde que seu trabalho foi publicado, em Mas, provavelmente, não seria
2009, o senhor já viu algum sinal de que países ou
instituições estejam adotando suas métricas para o maior risco no momento,
esse fim?
K.R. – Bom, sim e não. Certamente, a parte mais in- porque, em comparação com
fluente do nosso livro são os capítulos sobre a duração
das recessões que se seguem a crises financeiras, enten-
os países ricos, o Brasil ainda
dendo que esta não é uma recessão comum. Além dis- parece estar ótimo
so, escrevemos um paper depois da publicação do livro,
usando o conjunto de dados do livro e em que argumen-
tamos que, para países avançados, quando o endivida-
mento supera 90% da renda, isso costuma ser associado
a um enfraquecimento da economia no longo prazo – e
alertamos para isso. Nosso argumento de que se deve
olhar para a dívida pública em relação ao Produto In-
terno Bruto (PIB) e dívida externa – quanto o país deve

REVISTA DA NOVA BOLSA 13


entrevistas

para o resto do mundo, contando [dívida] pública e privada – em relação


ao PIB. Eu acho que desde que o nosso livro saiu, vemos, frequentemente,
todo tipo de newsletter, FMI e bancos centrais usarem essas métricas que
não costumavam usar. A ideia é que é preciso olhar para ambos.
Ao esticar os anos R.N.B. – Atualmente, ao aplicar essa fórmula, onde estão os riscos?
de prosperidade, Os países emergentes estão entrando numa bolha?
K.R. – Bom, sabe como é, no final deste período, alguns países emergen-
é preciso tomar tes, inevitavelmente , terão problemas, porque há capital sendo despe-
cuidado para não jado neles e nem todos estão sendo muito cautelosos quanto a isso. No
prazo mais curto, temos os esmagadores problemas nos países avançados
fazê-lo por meio de – ainda estamos na segunda onda da Segunda Grande Contração, ainda
estamos na segunda onda da crise financeira. Eu acho que a Europa ainda
um boom de crédito, ficará pior e os Estados Unidos terão sorte se as coisas não piorarem no
como os Estados país. Então, nesse período, o capital continuando a fluir para os merca-
dos emergentes é o mal menor. Mas, se eles se tornarem excessivamen-
Unidos fizeram te alavancados e algum dia, daqui a alguns anos, quando os países ricos
começarem a ter forte crescimento, podemos certamente ver problemas.
no início de 2000. Agora, se há um país no mundo que não aparece o bastante na tela do
radar das pessoas, eu não apontaria para o Brasil – mas sim para a China,
Quando se têm uns onde o crédito doméstico em relação à renda é maior do que na Itália,
dois anos de alta pelo menos, pelos números que o FMI divulga. Enquanto eles continu-
arem a crescer 9% ou 10%, não vai haver muito problema, mas a história
pela frente, depois mostra que nós ainda temos ciclos. Mas se está se pensando no Brasil, é
claro que há riscos. Eles são óbvios, particularmente o boom de crédito
há um período de ao consumidor, a grande fatia de investimentos (assumida) pelo governo.
baixa muito ruim Mas, provavelmente, não seriam os maiores riscos no momento, porque,
em comparação com os países ricos, o Brasil ainda parece ótimo.

R.N.B. – O risco é a China. Mas se a China cair?


K.R. – Se a China cair ao mesmo tempo em que a Europa, isso claramente
atingiria o Brasil de maneira muito, muito forte.

R.N.B. – Apesar de ainda termos as crises nos Estados Unidos e na


Europa ainda frescas, não parece que as autoridades econômicas
aprenderam a lição.
K.R. – Eu não sei. Tenho a impressão de que autoridades econômicas,
inclusive no Brasil, estão alerta para o problema, mas simplesmente não
é fácil lidar com isso. A política de reduzir o ritmo de crescimento é incri-
velmente difícil, porque é difícil enxergar o risco. Pode-se dizer que, pelos
padrões históricos, as coisas estão perigosas – mas é muito difícil persua-
dir as pessoas enquanto as coisas ainda estão indo bem.

R.N.B. – Por que as pessoas tendem a olhar para os dados favoráveis?


K.R. – Bom, nossa pesquisa é radicalmente metodológica e certamente
centra-se na economia moderna. As pessoas têm estado muito concentra-
das em encontrar os modelos mais bonitos, com as explicações matemá-
ticas mais simples e elegantes. Isso foi muito produtivo, mas chegou a um
beco sem saída e, mesmo antes da crise financeira, já estava claro que mui-

14 REVISTA DA NOVA BOLSA


to embora tenha havido vários prêmios Nobel para essas teorias elegantes,
estas têm tido, em geral, interesse mais acadêmico. Uma das coisas que
Reinhart e eu exploramos foi a internet. O conjunto de informações que
juntamos não poderia ter sido obtido há poucos anos. Os dados não estão
na internet, mas as pessoas sim, os vendedores de livros raros também. O FMI vê os
Conseguimos juntar um conjunto de informações, contatando pessoas e
usando várias fontes. Certamente, o tamanho do conjunto já ajuda. Os governos como
economistas consideram que as inconsistências e possíveis imprecisões
fazem que não valha a pena lidar com todas as informações, e que é me- seu cliente, mas
lhor usar um conjunto de dados mais restrito. Mas Reinhart e eu mos-
tramos que a crise financeira é esmagadora e suas “pegadas” nos dados
deveria olhar para
são tão poderosas que olhar para dados – mesmo que imprecisos, ou in- os países e sua
consistentes – ainda é relevante. Pelo menos, para os nossos fins, analisar
um grande conjunto provou ser mais valioso do que dar mais atenção aos população. Quando
conjuntos mais restritos em que a maioria dos economistas tem se focado.
um governo assume
R.N.B. – Mas quando o senhor lista os principais indicadores de crises, riscos avaliados
por exemplo, o preço de imóveis fica no alto porque, entre outras coisas,
é o que dá “menos alarmes falsos”. Ou seja, os dados também podem dar por padrões
alarmes falsos. Não há o risco de esses dados levarem autoridades a
atacar um período de prosperidade com base num alarme falso?
históricos, o FMI
K.R. – Bom, se a reação for exagerada, sim. Mas acho que há um consenso tem de ser muito
generalizado entre bancos centrais de que quando há uma explosão de pre-
ços de imóveis que pode se conectar com uma explosão na tomada de cré- firme. As pessoas
dito, isso é uma situação bastante arriscada. Se os preços dos imóveis estão
subindo, mas a alta não é financiada por um enorme volume de crédito, isso consideram o Fundo
não é um grande problema – mas, muito frequentemente, é assim. O setor muito durão, mas,
imobiliário é, definitivamente, um dos mercados mais bagunçados – ele não
se limpa depressa, o conteúdo de informação nos preços pode não ser mui- especialmente
to transparente. Então, imóveis certamente são algo com que se preocupar.
A maneira ideal de lidar com isso é apertar as exigências para obtenção de quando um país
crédito, regulamentações do sistema financeiro – e não por aperto de políti-
ca monetária, embora eu acredite que os bancos centrais estão começando
não está precisando
a perceber que apertar a política monetária tem de ser parte da abordagem. urgentemente
R.N.B. – O senhor recomenda que instituições externas sejam res- de empréstimos,
ponsáveis por manter governos na linha ou é melhor tocar o alarme
quando algum país parece estar a caminho de uma crise? Qual o po-
mostra-se suave
der que elas podem ter? Afinal, governos são soberanos, eles não têm demais em suas
de obedecer ao FMI.
K.R. – Eles são soberanos, mas o FMI é muito deferente com os governos, críticas. Precisa ser
vê o governo como seu cliente e deveria ver o país e sua população como
seus clientes. E quando o governo está assumindo riscos avaliados por pa-
mais agressivo
drões históricos, o FMI tem de ser muito firme. Acho que as pessoas consi-
deram o FMI muito durão, mas na verdade, na maioria das vezes, especial-
mente quando um país não está precisando urgentemente de empréstimos,
o FMI é suave demais em suas críticas; precisa ser mais agressivo. E acredito
que se ele desenvolver essa reputação, isso teria algum efeito. Quando as
agências de avaliação de risco rebaixam países, isso tem impacto.

REVISTA DA NOVA BOLSA 15


R.N.B. – Mas o rebaixamento dos Estados Unidos não teve tanto im-
pacto.
K.R. – Não, mas o rebaixamento dos Estados Unidos foi mais uma formali-
dade: era para ter alguma consistência. O rebaixamento dos Estados Unidos
Os Estados Unidos fez sentido, pois a dívida norte-americana é mais arriscada do que era, parti-
cularmente se levar em conta que pode estar inflacionada.
podem curar suas
R.N.B. – Como o senhor vê os próximos anos? Para onde está indo a
feridas no decorrer Europa?
de uns poucos anos, K.R. – A Europa ainda vai piorar. Europeus têm me dito com segurança
que podem resolver o problema. Eu tenho ouvido isso há muito tempo e
é o cenário mais há apenas um ano os mesmos europeus e líderes me diziam: “Nós vamos
salvar a Grécia porque precisamos fazer isso para salvar a Europa”. Agora,
provável. Quem mais e mais eles estão dizendo: “Bom, talvez a Grécia não tenha jeito, mas
quer que seja o todo o resto da Europa está bem”. Isso é ridículo. Acho que Portugal ob-
viamente precisa de reestruturação da dívida, o setor privado na Espanha
presidente de 2013 também – e alguns municípios –, a Irlanda é menos evidente, mas suspei-
to que também precise de profunda reestruturação da dívida. E enquanto
a 2017, vai parecer eles estiverem negando, isso não vai se resolver. Acredito que ainda tenha
excelente ao final de piorar para catalisar a ação necessária – não apenas uma linha de crédi-
to de socorro maior, mas algumas decisões frias e duras sobre que países
do mandato. A estão ilíquidos e quais estão insolventes.

economia terá R.N.B. – Isso não iria quebrar a Zona do Euro?


K.R. – O euro ficaria mais forte. A Grécia nunca deveria ter feito parte do
voltado aos trilhos euro; Portugal nunca deveria ter entrado no euro. É preciso pôr esses pa-
e qualquer política íses numa trilha similar à que estão Letônia e outros países, embora estes
tenham de tornar esse processo mais duro. Foi um terrível erro admitir
será boa. Minha pequenos países na União Monetária quando todo o sistema é tão dis-
funcional. Veja-se a admissão da Estônia: está indo melhor do que alguns
preocupação é países do euro, mas também foi um grande erro. Eles precisam ter união
com o que pode mais coesa e padrões mais rígidos. Mas se perderem a Itália, aí é outra
coisa – isso sim seria o começo do fim do euro. Mas acho que o euro cer-
acontecer se a tamente poderia empurrar para fora alguns países temporariamente sem
enfraquecer seu propósito de longo prazo e acho que na verdade a moeda
Europa lidar mal ficaria mais forte com isso.
com sua situação R.N.B. – O desafio político de fazer isso não seria fácil, certo?
K.R. – Não é fácil e é por isso que tem de piorar antes de melhorar – não
acho que haja nenhum outro final possível para isso.

R.N.B. – E os Estados Unidos? O senhor também acha que vão ficar


pior?
K.R. – A Europa precisa ficar pior para catalisar as forças necessárias para
mudar o sistema. Os Estados Unidos não precisam; o país pode curar suas
feridas no decorrer de uns poucos anos, eu diria que esse é o cenário mais
provável. Quem quer que seja o presidente de 2013 a 2017, vai parecer ex-
celente ao final do mandato, a economia terá voltado aos trilhos e qualquer
política posta em prática vai parecer boa. Minha preocupação é com o que

16 REVISTA DA NOVA BOLSA


pode acontecer se a Europa lidar mal com sua situação – o setor financeiro
norte-americano ainda está muito frágil.

R.N.B. – Qual é o ciclo para os Estados Unidos? Os preços de imóveis


vão se estabilizar? Governos deveriam
K.R. – Os preços de imóveis vão se estabilizar dentro de alguns anos, o
desemprego vai cair, tudo num processo gradual e não com o boom cos- ser bem mais
tumeiro depois de uma recessão normal sem crise financeira. Como Rei-
nhart e eu mostramos, a recuperação é muito, muito diferente depois de cautelosos e ter uma
uma crise financeira. política fiscal forte.
R.N.B. – Então estará tudo pronto para uma nova bolha? Nesse contexto,
K.R. – Uma nova bolha é a menor das minhas preocupações no momen-
to, enquanto estamos saindo da outra bolha. emprestar do
R.N.B. – Falando sobre fluxos de capital, volta e meia parece haver
Exterior é bom. Mas
um excesso de liquidez gravitando em direção a certos ativos, e as num sistema político
pessoas não parecem ter muito sucesso quando tentam impedir que
esse dinheiro vá aonde quer ir. e regulamentar
K.R. – Acredito que, contanto que seja investimento estrangeiro direto
e compras de ações, isso é bem administrável. Quando ele causa uma ex-
fraco, os fluxos de
plosão de endividamento, isso é muito mais perigoso. Isso tem de ser ad- capital estrangeiro
ministrado por meio de regulamentações, exigências de capitalização de
bancos, exigências de entrada para créditos imobiliários. Então, à medida podem exacerbar
que o influxo de capital cresce, o correto não é apenas bloquear o fluxo
de capital – o que é muito difícil de fazer – mas, gradualmente, apertar a riscos em vez de
regulamentação. Os bancos centrais estão discutindo ter mais regras anti- simplesmente
cíclicas. Na prática, regulamentações são pró-cíclicas – quando as coisas
estão indo bem, eles dizem: “Ah, o risco não parece muito alto hoje” – e, promover o
então, afrouxam as regras. Mas precisamos de políticas regulamentares
mais anticíclicas. crescimento
R.N.B. – Em termos de investidores, quando se fala em dinheiro es-
peculativo, normalmente se trata de fundos de hedge, bancos, inves-
tidores sofisticados. Contudo, eles sempre parecem dispostos a assu-
mir grandes riscos mesmo sendo bem informados. Isso é algo que se
deve evitar também?
K.R. – O problema é que se há uma crise financeira, existe um monte
de custos. O fundo de hedge pode sair dela em ponto de equilíbrio ou
rendendo mais do que a média, mas por que a crise financeira tem um
custo tão profundo, governos não deveriam ficar tão ansiosos para tomar
emprestado todo o dinheiro que lhes é oferecido. Eles deveriam ser bem
mais cautelosos e ter uma política fiscal forte. Nesse contexto, emprestar
do Exterior é bom. Mas num sistema político e regulamentar fraco, os flu-
xos de capital estrangeiro podem exacerbar riscos em vez de simplesmen-
te promover o crescimento.

*PAULO TREVISANI É jORNALISTA RADICADO EM NOVA yORK.

REVISTA DA NOVA BOLSA 17


CAPA

NO CONGRESSO DE
CAMPOS, O BRASIL
FRENTE À CRISE GLOBAL
A segunda rodada da crise global e o fortalecimento da posição
brasileira dominaram os debates do 5º Congresso de Mercados
Financeiro e de Capitais, realizado no final de agosto, com a
presença de participantes de todo o mundo

POR FÁBIO PAHIM* FOTOS AGÊNCIA LUZ

C erca de mil pessoas – au-


toridades do governo bra-
sileiro, economistas, altos
executivos e traders de primeiríssi-
mo time que atuam nos mercados
sários como Eike Batista, presidentes
e diretores da Comissão de Valores
Mobiliários, do Banco Central e altos
quadros do Ministério da Fazenda,
raramente acessíveis em seus dias atri-
O evento propiciou debates apro-
fundados. Países centrais, como a
Itália e a Espanha, passaram a pagar
juros crescentes para financiar suas
emissões de dívida, na esteira das di-
internacionais e locais, empresários bulados de negócios e decisões. ficuldades escancaradas nas discus-
com inegável papel de liderança nos O formato das reuniões do Con- sões da Comissão Europeia, Banco
seus setores, intelectuais, personagens gresso de Campos do Jordão foi man- Central Europeu e Fundo Monetário
proeminentes de bancos comerciais e tido em relação aos eventos anteriores, Internacional, sobre empréstimos a
de investimento, corretoras, além de dados o interesse que desperta na pla- Grécia, Irlanda e Portugal, por exem-
companhias abertas e áreas de tesou- teia e a funcionalidade, além da ampla plo. A reestruturação da dívida grega
raria, reuniram-se de 25 a 27 de agosto cobertura da imprensa local e interna- foi tratada como a ameaça mais agu-
em Campos do Jordão, para a quinta cional. O encontro foi segmentado em da, com prejuízo para países e bancos
edição do Congresso de Mercados blocos temáticos. Cada seção foi apre- e novos riscos na Zona do Euro, mas
Financeiro e de Capitais, promovido sentada por um mestre de cerimônias havia questões ainda mais graves sobre
pela BM&FBOVESPA. Foi um even- – desta vez, a tarefa coube à jornalista a mesa: as condições de solvência de
to ímpar, capaz de mobilizar figuras- Mariana Godoy, da TV Globo. países e bancos internacionais, conju-
chave do núcleo decisório nacional, No dia 25 à noite, no coquetel de gando ameaças de recessão e de crash.
interessadas em conhecer de perto as abertura do evento, o diretor presi- Como resumiram o economis-
tendências globais. Mais uma vez, lo- dente da BM&FBOVESPA, Edemir ta-chefe do Itaú-Unibanco, Ilan
taram-se os hotéis da pitoresca cidade Pinto, e o CEO do CME Group, Craig Goldfajn, e o diretor de Regulação e
turística, em cujo centro circulavam o Donohue, enfatizaram a importância Gestão Corporativa do Banco Cen-
Prêmio Nobel Robert Engle, empre- da parceria entre as duas instituições. tral, Luiz Awazu Pereira da Silva, a

18 REVISTA DA NOVA BOLSA


REVISTA DA NOVA BOLSA 19
CAPA

para a execução de uma ordem”, afir-


mou. Bruno Dupire, da Bloomberg,
Nossos mercados estão preparados defendeu a importância da qualidade
das análises, notando que a negociação
para receber os investidores com derivativos deve se basear não so-
mente em preço, mas na existência de
hedge e no risco residual. Ao contrário
da crença comum, enfatizou que, nos
EdEmir pinto, dirEtor prEsidEntE da Bm&FBoVEspa
últimos 100 anos, oito das dez maiores
variações nos preços das ações do índi-
crise global de 2008 não se esgotou. também atinge o mercado de moe- ce S&P500 negociadas em Nova York
Os enormes dispêndios fiscais feitos das. Entre suas causas estão a situação foram para cima. E Michael Gorham,
depois da crise exposta com a quebra da economia global, as incertezas em diretor do Stuart Center for Financial
do Lehman Brothers evitaram novos relação ao sistema político dos Esta- Markets do Instituto de Tecnologia de
episódios de insolvência financeira, dos Unidos e as dúvidas em relação à Illinois, comparou os pregões de viva
mas a munição foi gasta e hoje se afi- Europa, que parece incapaz de adotar voz à negociação eletrônica atual, su-
gura insuficiente para que se enfrente uma política racional para resolver gerindo que os saudosistas se lembrem
o problema dos países e dos bancos. suas graves dificuldades econômicas. de que no passado também havia pro-
“A crise é de endividamento”, resumiu Por isso, observou, “não estamos pre- blemas – o FBI investigou operações
o diretor do Banco Central. “Não se vendo o fim da alta volatilidade”. nas bolsas de Chicago – e que os meios
esperava que tivesse tais proporções”. Os mercados de futuros e deriva- eletrônicos se impuseram porque per-
E um dos instrumentos-chaves para tivos foram amplamente debatidos, mitiram reduzir custos e propiciar a
o combate, a política de juros baixos com ênfase no papel das negociações existência de “mercados rápidos”. A
posta em prática pelo Fed, pelo Ban- eletrônicas e nos instrumentos mais re- presidente da Comissão de Valores
co da Inglaterra, pelo Banco Central centes colocados à disposição dos apli- Mobiliários (CVM), Maria Helena
Europeu e outros bancos centrais, cadores e dos traders. Joe Gawronski, Santana, mostrou que o mercado bra-
perdeu eficácia. “Há o risco de ruptu- presidente da Rosenblatt Securities, sileiro vem sendo fortalecido com
ra”, admitiu Goldfajn. um especialista em investidores de regras mais severas, que protegem me-
Não foi diferente a visão de Armi- alta frequência (HFTs), notou que “as lhor os investidores e as instituições,
nio Fraga, presidente do Conselho da corretoras tradicionais estão tentando com ênfase na governança corporativa
BM&FBOVESPA e ex-presidente do descobrir novos nichos e, com isso, se e na transparência das operações.
Banco Central – ele abriu o encontro, manter em um mercado cada vez mais
na manhã do dia 26, falando de Nova competitivo”. Robert Almgren, cofun- FOCO NA MACROECONOMIA
York, em teleconferência, quando des- dador da Quantitative Brokers e dou- As avaliações macroeconômicas,
tacou a fragilidade da recuperação de- tor em Matemática Aplicada e Com- locais e globais, despertaram enorme
pois da crise de 2008 e a transformação putacional pela Universidade de Prin- interesse, como as de Robert Skidel-
dos problemas, de uma crise de bancos ceton, afirmou que a negociação com ski, o principal biógrafo de Keynes. A
para uma crise de países, criando “gra- algoritmos é cada vez mais utilizada austeridade, afirmou, faz sentido para
ves tensões”. Felizmente, “a posição do no mercado financeiro, mas ainda pre- países como Brasil e China, que estão
Brasil é saudável”, mas o País está numa cisa ser mais bem compreendida pe- em crescimento, mas não para os pa-
encruzilhada e o governo tem de ser los investidores. Jim Gatheral, doutor íses desenvolvidos, ameaçados pelo
mais eficiente. Sua recomendação é o em Física Teórica pela Universidade colapso. Mas nem a China, alertou
aumento dos investimentos em capital de Cambridge, enfatizou que hoje os outro economista, o norte-americano
físico, intelectual e educação básica. mercados oferecem tantas alternativas Michael Pettis, professor da Universi-
O Prêmio Nobel de Economia e de negociação, com algoritmos e uma dade de Pequim, escapará dos pro-
diretor do Stern Volatility Institute, variedade de estratégias, que chegam a blemas. “É a economia mais desequi-
Robert Engle, mostrou que a volatili- confundir os responsáveis pela execu- librada já vista na história”, declarou.
dade é uma decorrência natural e não ção das ordens. “O operador não sabe, O consumo interno é baixo e há um
se limita ao mercado de ações, mas muitas vezes, que ferramenta escolher pendor excessivo para os investimen-

20 REVISTA DA NOVA BOLSA


CRAIg DONOhuE, CEO DO CME gROup E O DIRETOR pRESIDENTE DA BM&FBOVESpA, A,
EDEMIR pINTO, ENFATIzARAM A IMpORTâNCIA DA pARCERIA ENTRE AS DuAS INSTITuIçõES
uIçõES

tos. A China “vai ter de passar por um Getulio Vargas. Os avanços sociais e meus negócios e transformar planos
forte ajuste”, que reduzirá para 3% ao a expansão da classe média “são mais em realidade”. E, como enfatizou Pau-
ano, dentro de uma década, sua atual sustentáveis do que se imagina”, disse lo de Souza Oliveira Jr., diretor geral
taxa de crescimento, com consequên- Néri. Patrice Etlin, sócio e responsá- da BRAiN, o Brasil prepara novos
cias para todo o mundo. vel pelos investimentos no Brasil do passos rumo à integração no mercado
Mas, no Brasil, o secretário de fundo Advent International, mostrou global. A BRAiN trabalha para “coor-
Política Econômica do Ministério da que o mercado de capitais precisará denar as mudanças necessárias para
Fazenda, Márcio Holland, acredita ser ainda mais importante para for- que o Brasil se torne o centro finan-
que “desta vez foi diferente” (para- talecer o crescimento econômico, ceiro de investimentos e negócios na
fraseando o título do livro de Rogoff destacando outros trunfos do País – América Latina”.
e Reinhardt, ver resenha nesta edi- os investimentos que serão puxados Ao encerrar o 5º Congresso de
ção). Ao contrário dos países desen- pela Copa do Mundo e pelas com- Campos do Jordão, o diretor presi-
volvidos, disse ele, que cometeram modities, como o petróleo. Com o dente da BM&FBOVESPA, Edemir
muitos erros (lassidão monetária, pré-sal, o País passará do 17º para o Pinto, destacou a importância das
juros baixos, desregulamentação fi- 5º lugar entre os maiores produtores discussões para as tomadas de deci-
nanceira), o Brasil passou bem pela de óleo bruto do mundo, previu. Em são dos empresários brasileiros e das
crise de 2008 e está preparado para petróleo também investe o empresá- instituições financeiras. “Nossos mer-
enfrentar a severa desaceleração que rio Eike Batista, do grupo EBX, tam- cados estão preparados para receber
se avizinha. Isso será mais fácil graças bém presente em Campos do Jordão. os investidores”, assinalou.
à mobilidade social e à ascensão da “O mercado de capitais foi a mola ini-
classe média, apresentada pelo pro- cial para mim”, disse Eike. “Foi lá que *FÁBIO pAhIM É COORDENADOR EDITORIAL DA
fessor Marcelo Neri, da Fundação consegui os recursos para investir em REVISTA DA NOVA BOLSA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 21


capa

a HORa DO capITaL FÍSIcO,


INTELEcTUaL E Da EDUcaÇÃO BÁSIca
Durante sua exposição na abertura do Congresso de
Campos de Jordão, o presidente do Conselho de
Administração da BM&FBOVESPA, Arminio Fraga,
tratou, várias vezes, da questão dos juros, destacando
que a mudança do mix da política macroeconômica
abre caminho para a queda das taxas

POR FÁBIO PAHIM* FOTOS AGÊNCIA LUZ

22 REVISTA DA NOVA BOLSA


A economia global enfrenta
um momento de “grandes
tensões”, em que a recupera-
ção da “enorme crise de 2007/2008
tem sido muito fraca”, devido à de-
O receituário para que o Brasil
tenha um crescimento sustentado
salavancagem – e há agora o risco de e aumente sua competitividade passa
nova desaceleração, “uma recaída”, por um conjunto de ações: o país tem
afirmou o presidente do Conselho de
Administração da BM&FBOVESPA, de investir muito mais em capital físico,
Arminio Fraga, em teleconferência intelectual e educação básica
que abriu o 5º Congresso de Merca-
dos Financeiro e de Capitais realizado
em Campos de Jordão, na manhã de Arminio FrAgA, presidente do Conselho de AdministrAção dA Bm&FBoVespA
26 de agosto. “Os dados recentes mos-
tram um quadro delicado”, enfatizou. O papel da imprensa também foi mento de capitalização das empresas,
A crise de 2008/2009 foi caracte- realçado pelo presidente do Conselho oferecendo à sociedade um exemplo
rizada pela desalavancagem do setor da BM&FBOVESPA. “Imprensa críti- de governança corporativa e transpa-
privado, mas “agora é uma crise dos ca tem sido uma vantagem”, declarou. rência que “deve chegar ao governo”.
países”, em que as atenções se con- O Brasil, nesse aspecto, está melhor do O importante, frisou, “é cuidar bem
centram nos indicadores de risco de que outros concorrentes emergentes. do capital do País”.
países. “As políticas monetárias são O mercado brasileiro de deriva-
expansivas e países, como Cingapura, MuDANçA DA pOLíTIcA tivos baseia-se num modelo “elogia-
têm juros negativos”. MAcROEcONôMIcA do por autoridades internacionais”.
No Brasil, felizmente, “a posição Arminio Fraga ressaltou “é bem- O governo, hoje “preocupado com
é saudável” e os problemas de 2008 vinda a mudança do mix da política o fluxo de capitais”, adotou medidas
foram administrados. Mas o País está macroeconômica, segurando o lado para conter o ingresso de recursos
numa encruzilhada, convivendo com fiscal e deixando espaço para a política de curto prazo, o que afeta o merca-
acertos e erros. O receituário para que monetária chegar a taxas de juro mais do da BM&FBOVESPA, inclusive as
o Brasil tenha um crescimento susten- baixas”. O interesse crescente pela mo- operações de hedge. “Espero que isso
tado e aumente sua competitividade eda brasileira também foi destacado – possa ser aprimorado, temos dialoga-
passa por um conjunto de ações. “o real é vítima do sucesso”, não apenas do com o governo”.
Primeiro, “o País tem de investir das condições favoráveis do País no O mais importante, assinalou, é
muito mais em capital físico, intelec- agronegócio e na mineração. “Com ju- a preservação da capacidade da Bol-
tual e educação básica”, afirmou Ar- ros altos, o capital acaba vindo para cá”. sa de atrair recursos de longo prazo
minio Fraga. Segundo, precisa de um Na medida da ênfase na gestão e para o País. A experiência internacio-
governo mais eficiente, “não há condi- nas condições regulatórias, de modo nal mostra que a eficácia de medidas
ções de desenvolvimento sem isso”. A a permitir a ampliação dos investi- como as adotadas dá-se nos fluxos de
questão não é o tamanho do Estado. mentos em infraestrutura, “o Brasil curto prazo, “no plano prudencial”.
“O governo pode ser pequeno, médio terá condições de acelerar o ritmo de São as questões fundamentais
ou grande”. Se os brasileiros optaram crescimento”. que mais devem ser observadas, se-
por um governo grande, “que seja gundo Arminio Fraga. Para permitir a
eficiente”. Terceiro, “é preciso criar A BOLSA cOMO INSTRuMENTO queda dos juros – tratada como ques-
condições para que os juros sejam DE cApITALIzAçãO tão básica para a economia brasileira
mais baixos”. Quarto, é indispensável Para a BM&FBOVESPA, enfa- – é preciso que haja mais poupança,
enfrentar o custo Brasil. Arminio vê tizou, há “um teste importante, com “zelando para que o lado da oferta da
“com bons olhos os sinais de que a transformações profundas, desmutu- economia continue melhor”.
presidente Dilma Rousseff tem foco alização, abertura de capital, fusão”,
na meritocracia”; e citou os sinais de que implicam grandes “desafios de *FÁBIO pAHIM É cOORDENADOR EDITORIAL DA
“intolerância com a corrupção”. gestão”. A Bolsa tem sido um instru- REVISTA DA NOVA BOLSA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 23


CAPA

A VOLATILIDADE É A MARCA
DOS TEMPOS
Mercados mais voláteis, como os de Ele afirmou também que a volatilidade é uma respos-
ta natural dos mercados financeiros a novas informações.
ações e de moedas, significam que Essas notícias, em períodos de crise, costumam vir rapida-
mente e em quantidade acima da média, aumentando as
muitas e novas informações surgiram incertezas dos investidores.
para os investidores e, num quadro Estudos realizados em 50 países entre 1990-2005
deram respostas interessantes, disse o economista, às
como o atual, em que os mercados dúvidas sobre a volatilidade. Ficou claro nesses estudos,
sofrem tantas influências, não seria por exemplo, que os mercados ficam mais voláteis quan-
do a inflação é alta e também quando a produção cresce
razoável pensar que os preços não em ritmo lento, além de períodos em que os juros de cur-
to prazo são elevados.
mudariam rapidamente, no mundo Para Engle, não se deve considerar a volatilidade como
todo, inclusive no Brasil vilã dos mercados: “Mercados mais voláteis significam que
muitas e novas informações surgiram para os investidores.
Não seria razoável pensar que os preços não mudariam em
POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ
um quadro como esse. E se os novos eventos requerem mui-
tas mudanças, é melhor responder a eles agindo com rapidez”.

A volatilidade que tomou conta dos mercados de-


pois da crise de 2008 assustou em um primeiro
momento, mas depois teve redução, principal-
mente nas bolsas do Brasil e da China. Nesses países, o
mercado está menos volátil que na Europa, por exemplo,
Como exemplo de situação de alta volatilidade, ele
lembrou o comportamento do mercado de ações dos Esta-
dos Unidos em 6 de maio de 2010, uma quinta-feira. Essa
sessão ficou conhecida como flash crash porque o índice
Dow Jones teve uma queda de mil pontos, ou 9% num perí-
segundo Robert Engle, doutor em Economia pela Univer- odo de 20 minutos (o que caracterizaria um crash), mas em
sidade Cornell e diretor do Stern Volatility Institute, da minutos se recuperou. Naquele dia, o índice teve a segunda
Universidade de Nova York. maior variação em pontos da história (1.010,14 pontos) e a
Engle lembrou, durante palestra que fez no 5º Con- maior queda em um dia (recuando 998,5 pontos).
gresso Internacional de Mercados Financeiro e de Ca- “Foi um grande susto, com os computadores negocian-
pitais, que a volatilidade deve ser analisada como “assi- do ativos na velocidade da luz”, recordou. As causas dessa
métrica”, ou seja, oscila dependendo dos ativos a que se alta volatilidade ainda não estão claras, mas estudos deram
refere. “Não se pode generalizar, dizendo que os merca- algumas pistas para esse recorde de variação de preços dos
dos enfrentam um período de volatilidade. O mercado ativos: “Alguns negócios feitos via programas de computa-
de ações pode estar volátil em um período de tempo, dor tiveram grandes altos e baixos, comprando quando os
mas não é o único. Depois da crise, por exemplo, o mer- preços caíam e vendendo quando subiam. Quando prove-
cado de moedas também oscilou muito, como se viu dores de liquidez como esses programas de computador
com o real do Brasil”. mudam de estratégia rapidamente, o resultado só pode ser
De acordo com Robert Engle, é comum utilizar o VaR um aumento das oscilações dos preços dos ativos”.
(Value at Risk) como medida da volatilidade, pois essa Recordando 1929 – Na avaliação de Engle, crises como
ferramenta traz resultados satisfatórios. No entanto, para a que foi causada pelo crash de 1929 acontecem não apenas
que produza os melhores resultados é preciso dar atenção pela volatilidade dos mercados. Os fatores macroeconômi-
ao risco: “Há o risco de que o risco mude”, explica. “Deve- cos também têm peso preponderante para que as oscilações
se levar em conta essa variação, assim como a velocidade se programem. “Nos anos 1930 os juros eram baixos, mas
da variação – ou seja, qual a volatilidade da volatilidade”. a economia não recebeu estímulos”, lembrou. “Tivemos

24 REVISTA DA NOVA BOLSA


Há o risco de que o risco mude. Deve-se levar em conta
essa variação, assim como a velocidade da variação – ou seja,
qual a volatilidade da volatilidade

RobeRt engle, PRêmio nobel de economia e diRetoR do steRn volatility institute

então uma armadilha de liquidez (que ocorre quando os Para lidar com esse quadro de oscilações, Engle reco-
juros estão baixos, mas a economia não se sente estimula- menda que se reconheça, em primeiro lugar, que não há
da a crescer). E o governo dos Estados Unidos optou pelo mercados sem volatilidade: “Os mercados andam muito
estímulo, adotando as ideias de (John Maynard) Keynes”. juntos atualmente”, avalia. Ele também considera inútil ten-
Essa receita deveria ser repetida agora? Engle considera tar controlar a volatilidade: “Deve-se fazer o gerenciamento
que a situação é diferente e requer outro tipo de medidas: do risco para tomar a decisão mais correta de investir”.
“Hoje precisamos de estímulos de curto prazo e de poupan- Com base nessas constatações, ele recomenda uma
ça do governo no longo prazo. Não é fácil para os políticos análise realista dos mercados: “Os preços vão continuar
fazer essa opção. Mas quando lares e empresas reduzem in- a oscilar bastante. E o custo de transações, que está em
vestimentos o governo deveria preencher esse vazio”. queda, vai continuar a cair, o que é uma ameaça para os
De olho nesse quadro, o especialista acredita que a ganhos. É preciso fazer um balanço entre custo baixo e a
volatilidade dos mercados tem três causas principais: a situação dos mercados para evitar perdas maiores. É uma
situação da economia global; a incerteza em relação ao situação que prevalece em todos os mercados do mundo –
sistema político dos Estados Unidos; e as dúvidas em re- o que significa que o Brasil também terá de operar dentro
lação à Europa, que parece incapaz de adotar uma política dessa nova realidade”.
racional para resolver seus graves problemas econômicos.
“Por isso, não estamos prevendo o fim da alta volatilidade”. *THEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 25


CAPA

CLASSE MÉDIA, FELICIDADE,


POBREZA
Nada menos de 40 milhões de pessoas (entre os brasileiros) o 5º Congresso Internacional de Mer-
cados Financeiro e de Capitais. Ele coordena a equipe do
ingressaram, desde 2003, na classe média, CPS/FGV cujos estudos tornaram-se referência para todos
aqueles – empresas, investidores, consumidores – que te-
que hoje reúne 105 milhões de brasileiros, nham como alvo o mercado interno, um dos motores da
afirmou, em Campos do Jordão, Marcelo expansão da economia. Não sem razão, outros palestrantes
citavam-nos quando tratavam de assunto correlato.
Neri, estudioso da mobilidade social no País A nova classe média, batizada classe C, é formada pe-
las pessoas que ganham entre R$1.200 e R$5.174, a va-
POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ lores de maio de 2011 (considera-se a renda familiar per
capita, ou seja, a soma da renda de um domicílio dividida

B em diferente dos anos 1980, que se supõe uma


década perdida para o Brasil, a primeira década
deste século marcou um período de consistentes
avanços sociais, simbolizada pela expansão da classe mé-
dia, que já representa 55% da população (dados atualiza-
pelo número de indivíduos que o compõem, o que evita
distorções entre famílias muito grandes e muito peque-
nas). É um padrão brasileiro, incomparável ao america-
no, mas ainda assim “próximo da média mundial”, disse
Neri. Encaixaram-se nele, em 2011, 105 milhões de pes-
dos em maio de 2011), e pela consequente descoberta de soas, tendo incorporado quase 40 milhões em oito anos
seu grande potencial de consumo. Esse “brilho” da nova (em 2003, somava 65,8 milhões de indivíduos). Em 1992,
classe média é sustentável e, portanto, veio para ficar, na representavam 32% da população; em 2011, 55%. Quer
opinião de Marcelo Cortes Neri, economista-chefe do dizer, uma Espanha ou uma Argentina foram absorvidas
Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getulio nesse período. Para comparar, pode-se ver o que acontece
Vargas (FGV). Doutor em Economia pela universidade no topo da pirâmide: as classes A e B (rendimentos fami-
americana de Princeton, Neri foi o palestrante que abriu liares per capita superiores a R$5.174 mensais) represen-
tavam 12% da população e contavam 23
milhões de pessoas em maio de 2011 (10
milhões a mais que em 2003).

PNAD, Em VEz DE PIB


Pode-se ver também o que aconteceu
na base da pirâmide: as classes D e E (ga-
nhos mensais de até R$1.200) emagrece-
ram rapidamente; representam agora 33%
da população ou 60 milhões de pessoas,
tendo saudavelmente perdido 36 milhões
em relação a 2003. Neste campo, vale des-
tacar outra auspiciosa mudança: a redução
da pobreza absoluta (assim considerada
classe E, composta pelos sem rendimento
ou pelos que têm rendimento familiar per
capita de até R$751 mensais). Há mui-
tos critérios para avaliar a linha da pobre-
za e o próprio Banco Mundial tem o seu
(US$45/R$ 80 a US$60/105 mensais).

26 REVISTA DA NOVA BOLSA


O CPS/FGV tem o seu: define linha da pobreza como ¼
do salário-mínimo. Na média, nem ficam muito distantes.
Usando sua metodologia, o CPS concluiu, com base em Pesquisas que medem
dados da PNAD/IBGE, que a pobreza alcança atualmen- “satisfação com a vida” situam o Brasil
te 15% da população brasileira. É muito? Claro. Mas, em
1992, representava 35% da população e, em 2003, 21% – em primeiro lugar no ranking do
uma redução continuada ao longo dos últimos 20 anterio- índice de felicidade futura
res e acelerada nos anos recentes.
Os estudos de Neri e da FGV que demonstram os
avanços sociais no Brasil – e que vão além da quantifica- marcelo neri, economista-chefe do centro
ção da nova classe média – não tomam como base estrita- de políticas sociais da fgv
mente os números do PIB. Estimulado por um relatório
capitaneado pelos economistas Amartya Sen e Joseph
Stiglitz (ambos prêmios Nobel) a pedido do presidente
francês Nicolas Sarkozy – que alertou para a necessidade
de ampliar as atuais medidas de desempenho econômico, 25 ANOS Em OITO
combinando-as com indicadores sociais e de melhoria na Os avanços sociais e a expansão da classe média são
qualidade de vida –, Neri recorre às informações propi- sustentáveis? “São mais sustentáveis do que se imagina”,
ciadas pela PNAD e pelas pesquisas mensais de emprego responde Neri, animado com as perspectivas de ação
(PME). Nessas fontes, colhe dados da vida real das famí- conjunta entre governos federal e estadual que criam um
lias: acesso a bens de consumo (inclusive computador), “federalismo social”. Ele argumenta que os programas de
crédito, programas de transferência de renda, educação, transferência de renda (Bolsa Família, previdência, Bra-
emprego, salários, contribuição previdenciária. Capta in- sil sem Miséria etc.) respondem por apenas um terço das
formações que a simples divisão do PIB pelo número de mudanças. O resto vem, entre outras razões, do emprego
habitantes não fornece. formal, da evolução na educação (que, por si, só eleva a
Claro que, quando se examinam os padrões educacio- renda e é o passaporte para o mercado de trabalho), da
nais ou de acesso a bens tecnológicos, o Brasil ainda está participação da mulher (que tem menos filhos), do acesso
distante dos países desenvolvidos ou dos melhores emer- ao crédito ao consumidor – tudo isso vale também para o
gentes. Mas o que importa agora é o movimento – ou, Nordeste. “Existem poucos símbolos mais fortes do surgi-
mais ainda, o ritmo desse movimento, das transformações mento da nova classe média que a multiplicação das car-
em curso. Assim, o CPS/FGV observa que, entre 2003 e teiras de trabalho, mesmo na crise”.
2009, a renda medida com base na PNAD cresceu mais do Num balanço dos anos 2010, Neri resume: medida
que o PIB; e, em 2009, a renda do trabalho captada pela pela combinação PNAD/PME, a pobreza diminuiu 50%
PME cresceu 9,6%, enquanto o PIB per capita aumentou (dezembro 2002/dezembro 2010); como a meta do mi-
6,5%. “De acordo com a visão objetiva das pessoas, os seus lênio, da ONU, é chegar a esse percentual em 25 anos (de
respectivos padrões médios de vida estão crescendo mais 1990 a 2015), “o Brasil fez 25 anos em oito”. Esse senti-
do que o PIB sugere”. Isso ajuda a explicar porque a de- mento já está na cabeça das pessoas. Pesquisas que me-
sigualdade – que ainda, de qualquer forma, é muito alta dem “satisfação com a vida” situam o Brasil em primeiro
– vem caindo há dez anos consecutivos: a renda dos 10% lugar no ranking do índice de “felicidade futura” (bra-
mais pobres (de resto, ainda ínfima em termos absolutos) sileiros respondendo, em 2006, como se sentiriam em
cresceu cinco vezes mais que a dos 10% mais ricos no pe- 2011), deixando os demais BRICs muito para trás; em
ríodo 2003-2009. No caso de emergentes como China e 2001 (quando analisado a partir de 2006), estávamos no
Índia vem ocorrendo o oposto: aumento da desigualda- 44º posto do ranking (trata-se aí do índice de “felicidade
de e crescimento menor, segundo Neri, se pesquisa tipo passada”). Conclusão inevitável para Neri: “Nos últimos
PNAD for utilizada. Nesse caso, o gráfico que exibiu no anos, demos os pobres aos mercados; falta agora dar os
Congresso revela resultados surpreendentes. Se a âncora mercados aos pobres”.
PIB for trocada por dados tipo PNAD, o crescimento da
China cairia de 10% para 8% entre 2003 e 2010; e o do
Brasil subiria de 4% para 6%. *JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA ECONÔmICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 27


CAPA

O RISCO DE RUPTURA EXISTE


E É MAIOR NA EUROPA
Ampliam-se os riscos de agravamento da crise global, pois falta munição para
enfrentar os problemas. Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia
têm dificuldade de criar consensos internos que facilitem a coordenação de
iniciativas de política econômica

POR FÁBIO PAHIM* FOTOS AGÊNCIA LUZ

F oi na condição de um dos
mais qualificados economis-
tas brasileiros que o ex-dire-
tor do Banco Central e, atualmente,
economista-chefe do Itaú-Unibanco,
necessário para que se conclua o perí-
odo de desalavancagem). Resolver o
imbróglio seria mais fácil se existisse
consenso entre os democratas e os re-
publicanos, que compartilham o po-
Desfaz-se, assim, explicou, “a fan-
tasia” criada com a adoção do euro,
na década passada, de que uma moe-
da comum conduziria, naturalmente,
“à convergência dos juros”. Isso só se-
Ilan Goldfajn, impressionou os parti- der no Legislativo, sobre como agir. ria possível com a união fiscal, “o que
cipantes do 5º Congresso de Mercados O economista declarou-se preo- não é o caso”.
Financeiro e de Capitais, em Campos cupado com a Grécia, e com Portugal A possibilidade de reestruturação
de Jordão, ao afirmar que “os dados e a Irlanda, mas, muito “mais impor- de dívidas nacionais (ou seja, um ca-
macroeconômicos são mais sombrios tante”, com a Espanha e com a Itália. lote parcial, por assim dizer, controla-
do que os microeconômicos”, dando “Com juros baixos, esses países são do) foi considerada. “Numa reestru-
uma ideia das dimensões da nova crise solventes. Mas, com os juros atuais, turação ordenada, é preciso blindar
global – ou, como preferem explicar não são solventes”. os bancos, ante a impossibilidade de
outros economistas, da continuidade Para complicar as coisas, surgem transferências suficientes de recursos”.
da crise de 2008, pois de lá para cá o fatos novos – caso da defesa da pari- Mas se houver uma reestruturação de-
mundo não retomou o ritmo de cres- dade de moedas como o franco suí- sordenada, sem acordo, há o risco de
cimento anterior. ço (a Suíça, em setembro, anunciou uma crise bancária – “e esse cenário
Não há como pensar no Brasil, que sustentará a moeda na paridade não está descartado”. E o foco está na
alertou Goldfajn, sem olhar para o de um franco suíço para 1,2 euro) e o Europa, “onde se pode ter a ruptura”.
que ocorre nos Estados Unidos e na iene. “Isso muda o cenário”, alertou O problema é diferente nos Es-
União Europeia. E, num cenário de o economista. tados Unidos, centrando-se na hipó-
redução de dívidas, a começar daque- tese de um crescimento econômico
las dos consumidores norte-america- O quE SERIA umA RupTuRA inferior a 2% ao ano – e, possivelmen-
nos, “o esforço é para evitar recessão”. O cenário de ruptura, segundo te, de apenas 1,5%, neste ano. Mas,
O risco, disse o economista, não o ex-diretor do BC, “é de corrida aos admitiu, “não há consenso sobre o
se limita à piora do cenário, mas é de bancos”. Na União Europeia, enfa- ajuste fiscal – e os países costumam
uma “ruptura” – ainda mais na Euro- tizou, “estamos chegando a um mix demorar anos para decidir como vão
pa do que nos Estados Unidos, onde próximo ao da quebra do Lehman apertar os custos”.
o maior problema é o crescimento Brothers, mais perto, portanto, do ce- Como resultado das dificulda-
insuficiente para favorecer uma di- nário de ruptura”. Um sinal de piora des no mundo desenvolvido, haverá
nâmica melhor das dívidas (quanto da crise foi o aumento do risco dos “uma década perdida na União Euro-
menos o país cresce, maior é o tempo empréstimos interbancários. peia e nos Estados Unidos”.

28 REVISTA DA NOVA BOLSA


com escassez de poupança, o Brasil tende res a 31 de agosto, quando o Copom
reduziu de 12,5% para 12% a taxa
a se beneficiar com o excesso de poupanças básica de juros). E há mais elemen-
no mundo. O fluxo de capitais continuará elevado tos de complicação, pois “as commo-
dities que importam para a inflação,
e o câmbio, apreciado. portanto, vamos continuar não estão caindo”.
sendo um país caro Outra ameaça é a ocorrência de
um novo episódio do tipo Lehman
Brothers, “sem capacidade de reação
economista-chefe do itaú-unibanco, ilan goldfajn fiscal”, disse. “A munição está acaban-
do”, admitiu, o que significa “menos
ImpAcTOS NO BRASIL “uns 4 pontos porcentuais”, de 19% do capacidade de reação”. Os sinais dados
“Quanto maior a dependência PIB para 23% do PIB, “financiada, na pelo governo brasileiro de que pre-
da União Europeia e dos Estados margem, pela poupança externa”. tende reduzir os juros estão, segundo
Unidos, maior o risco”, alertou Ilan No curto prazo, notou o eco- Goldfajn, “rigorosamente corretos”.
Goldfajn. Com isso, muda a estratégia nomista, “já havia desaceleração; Mas, se no curto prazo aumentou
para enfrentar a crise. A China “tenta projetamos o crescimento do PIB o risco de um cenário pessimista para
realocar o transatlântico por dentro” e, em 3,6%. Para 2012, a inflação é es- o Brasil, “no longo prazo o cenário
se isso se confirmar, “as commodities timada em 5,3%, mas, num cenário não é tão ruim”, pois o mercado in-
não vão ceder”. pessimista, poderá ceder para 4,9% terno continuará atraente o bastante
Com escassez de poupança, o e, num cenário ultrapessimista, para para favorecer o fluxo de capitais para
Brasil tende a se beneficiar com o ex- 3,1%. “O cenário básico está come- o País. Isso é ruim para a indústria,
cesso de poupanças no mundo. “O flu- çando a migrar para o pessimista”. mas é bom para os setores de serviços
xo de capitais continuará elevado e o Neste caso, o crescimento do PIB e de commodities.
câmbio, apreciado”. Portanto, “vamos será da ordem de 3,2% e a taxa Selic
continuar sendo um País caro”. E a cairá para 10,5% (note-se que as afir- *FÁBIO pAHIm É cOORDENADOR EDITORIAL DA
taxa de investimento deverá aumentar mações de Ilan Goldfajn são anterio- REVISTA DA NOVA BOLSA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 29


capa

O BRaSIL JÁ DEVIa SER MaIS


QUE TRIpLE B
O País não cometeu erros semelhantes aos dos Estados Unidos
e da União Europeia e está pronto para enfrentar a crise, como
já fez em 2008, enfatizou o secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, Márcio Holland
POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ

A o contrário dos países de-


senvolvidos, que comete-
ram muitos erros (entre
os quais a lassidão monetária, com
juros baixíssimos, e a não regulação
recessão) que se avizinha, tanto nos
Estados Unidos como na Europa
(principalmente nesta). “Desta vez
foi diferente”, afirma Márcio Holland
de Brito, secretário de Política Eco-
nor. Doutor em economia pela Uni-
camp e também professor da FGV/
SP, Holland foi um dos palestrantes
do 5º Congresso Internacional de
Mercados Financeiro e de Capitais.
das operações financeiras), o Brasil nômica do Ministério da Fazenda, Holland, naturalmente, procu-
passou bem pela crise de 2008, tal estabelecendo comparações com cri- rou explicitar como o governo brasi-
como os emergentes em geral. E está ses do passado que nos atingiam em leiro reagiu às ameaças de uma “crise
preparado para enfrentar a severa de- cheio – agora, será possível manter o gerada pelos países centrais, cujos
saceleração (possivelmente, até uma crescimento, embora num ritmo me- governos (e agentes econômicos)

30 REVISTA DA NOVA BOLSA


foram tomados por uma espécie de
loucura”. Respondendo aqui e ali O Brasil não está superaquecido, não
aos economistas críticos (vários dos
quais participantes do Congresso), há bolha imobiliária, nem pressões na indústria.
ele enumerou os indicadores que Vamos realizar o superávit primário previsto
mostram a saúde da economia bra-
sileira. Alguns desses indicadores: o e a inflação vai para a meta
risco Brasil cai continuadamente; o
crédito doméstico cresceu “de modo
Márcio Holland de Brito, Secretário de Política
sustentável”, passando de 27% do PIB
econôMica do MiniStério da Fazenda
(nos anos 2000/2002) a 47% do PIB
atualmente; 80% do resultado primá-
rio previsto (2,9%) já foi conquistado
no primeiro semestre (o que libera
espaço – segundo os críticos do go- zo (“especulativo”) – “nada contra”, de Holland, decidiu reduzir a Selic. O
verno – a menos restrições de gastos porém, os investimentos diretos. gasto público vai reduzir dos atuais
no segundo semestre); numa déca- Além disso, “não há probabilidade de 21% do PIB (o pico na história re-
da, a dívida líquida do setor público overshooting cambial”, afirmou, mos- cente) para 18,5% do PIB em 2015,
(DLSP) caiu de 60,4% para 39,7% e trando que o dólar atravessou a crise prometeu Holland.
seu perfil melhora; as reservas cam- de 2000/02 (a da Nasdaq e das em- Para sustentar a decisão, o Co-
biais aumentaram de US$35 bilhões presas de base tecnológica) a R$2,37, pom recorreu à desaceleração em
(em 2000/02) para US$324 bilhões enfrentou o furacão de 2008/09 a curso nos países desenvolvidos e seus
em meados de 2011; notório avanço R$1,92 e chegou a R$1,60 (só para possíveis desdobramentos sobre a
no nível de emprego derrubou as ta- lembrar: na transição FHC-Lula, o economia brasileira. Isso remete a
xas de desemprego, numa década, de dólar bateu nos R$4). um quarto ponto. “O Brasil não está
11,7% para 6% (os Estados Unidos, superaquecido, não há bolha imobili-
por exemplo, lutam para não deixá- MuDANçA DE MIx ária, nem pressões na indústria”, disse
la chegar a 10%); a formalização do Em terceiro lugar, vem a quere- Holland. “Vamos realizar o superávit
emprego via contratações com cartei- la política fiscal versus monetária. primário previsto e a inflação vai para
ra do trabalho e a expansão dos ren- Grande parte dos economistas do a meta”. Tanto é assim que o ritmo de
dimentos e os programas sociais pro- mercado financeiro defende, há mui- crescimento arrefeceu e deverá ficar
piciaram a descoberta de uma nova to, a tese de que cortes fiscais mais em torno de 3,5% neste ano.
classe média (que já superou a me- rígidos permitiriam mais liberdade O conjunto de dados apresen-
tade da população, como informou para a política monetária – vale dizer, tados por Holland deveriam, em
Marcelo Neri, da FGV, em palestra para a redução dos juros. Aliás, essa sua opinião, permitir uma melhora
anterior à de Holland). “mudança no mix” das duas políticas na posição que o Brasil ocupa nos
A esses números mais secos ou- foi tema posto em discussão por Ilan rankings internacionais, incluindo os
tros pontos merecem ser acrescenta- Goldfajn, economista-chefe do Ban- de rating. “As mudanças estruturais
dos. Primeiro, os investimentos, que co Itaú, em palestra imediatamente pelas quais passaram Brasil e mundo
vêm crescendo 10% ao ano, segun- anterior à de Holland. Agora, “o go- nos últimos tempos não cabem nos
do Holland. Grandes eventos, como verno já pode alterar o mix”, respon- modelos econométricos”, disse. Os
Olimpíadas e Copa do Mundo, aju- deu Holland, acrescentando: Estados economistas estão confusos e alguns
darão a elevá-los a 23,2% como pro- Unidos e Europa não podem (dado, são até mesmo “arrogantes”. Um país
porção do PIB em 2015 (a taxa é de entre outras coisas, o nível já míni- que terá “crescimento com inclusão
19% atualmente). Segundo, a encren- mo dos juros). É o que parece estar social e produtividade” já devia ser
ca cambial. “Não podemos deixar o acontecendo: o governo anunciou “mais que triple B”.
câmbio apreciar mais”, disse Holland. novos cortes e contingenciamentos
Daí a razão das medidas de controle de gastos e o Copom, no começo de *JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA
de ingressos de capital de curto pra- setembro, poucos dias após a palestra ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 31


capa

a aLTa FREQUÊNcIa
VEIO paRa FIcaR
Os negócios de alta frequência conviverão, a partir de
agora, com a intermediação tradicional, explica o pre-
sidente da Rosenblatt Securities, Joe Gawronski: “Os es-
paços estão sendo compartilhados, embora a negocia-
ção eletrônica de alta frequência esteja crescendo”
POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ

O s High Frequency Traders


(HFTs) vieram para ficar nos
mercados financeiros – o que não
significa que a intermediação tradicional
deixou de existir. “Os espaços estão sendo
Essa estrutura mudou há pouco mais de
dez anos, quando ganharam força as negocia-
ções “fragmentadas” (em fração de centavos),
graças às transações realizadas por compu-
tador. A mudança foi rápida, segundo Ga-
compartilhados, embora a negociação ele- wronski: “Em março de 2006, a Nasdaq tinha
trônica de alta frequência esteja crescendo”, quase 50% dos negócios diários e a Nyse res-
afirmou Joe Gawronski, presidente da Ro- pondia por 33,6%. Em julho de 2011, esses per-
senblatt Securities, uma corretora especia- centuais despencaram para 18,4% e 13,07%”.
lizada em negociação de alta frequência, no E os HFTs foram um dos principais respon-
5º Seminário de Mercados Financeiro e de sáveis pela mudança, segundo o especialista:
Capitais. “Agora, as corretoras tradicionais “Tornaram-se rapidamente provedores de
estão tentando descobrir novos nichos e, liquidez, usando algoritmos. Preencheram
com isso, se manter em um mercado cada espaços vazios deixados pelos negociado-
vez mais competitivo”. Por muitos anos, res tradicionais, principalmente na Nasdaq.
lembrou Gawronski, a competição foi pe- Com isso, cresceram em velocidade meteó-
quena entre os corretores tradicionais, num rica e hoje têm entre 50% e 65% do volume
tempo em que as bolsas praticamente não total negociado nas bolsas de valores dos Es-
concorriam entre elas. O quadro começou tados Unidos e de 35% a 40% na Europa. No
a mudar com as negociações eletrônicas e, Brasil, ainda têm participação limitada de 7%,
a seguir, com a desmutualização, além da mas estão crescendo muito também aqui”.
união de várias bolsas. “Esses dois movimen- Outra característica dos negociadores ele-
tos, que começaram no final dos anos 1990, trônicos é atuar nas duas pontas (na de com-
mudaram a natureza da intermediação”. pra e na de venda) e ganhar na diferença
Na avaliação do especialista, havia pratica- entre essas operações. “Eles não assumem
mente um duopólio de mercado nas bolsas posições significativas de compra nem de
de valores dos Estados Unidos, formado venda”, recordou Gawronski. “Exploram a
pela Nyse (Bolsa de Nova York) e a Nasdaq. ineficiência de mercados para atuar e lucrar”.

32 REVISTA DA NOVA BOLSA


Os hfTs não assumem posições significativas de compra nem de
venda. Exploram a ineficiência de mercados para atuar e lucrar

joe gawronski, presidente da rosenblatt securities

Apesar dessa atuação lucrativa, os HFTs tam- seguirão em busca de novas fronteiras de negociação,
bém perderam dinheiro após a crise de 2008. Ga- com a “commoditização” das negociações tornando os
wronski calculou que o lucro desses intermediá- mercados mais eficientes e mais líquidos. Além disso,
rios foi de US$1,2 bilhão, no ano passado, menos da as bolsas deverão buscar mais ganhos em atividades
metade do que ganharam em 2008. “A perda deles não relacionadas às transações, como serviços de tec-
também foi significativa”, disse. “A crise atingiu a to- nologia e inteligência de mercado. “Não acho que as
dos. Mas também se verifica que os negociadores corretoras tradicionais deixarão de existir”, enfatizou.
de alta frequência estão ficando mais maduros. Os “Elas vão assimilar as mudanças e descobrir novas ma-
grandes desse segmento estão se profissionalizando”. neiras de encontrar valor. Haverá mais fusões nessa
Para o presidente da Rosenblatt Securities, os modelos área. E as transações de elevada escala e baixa margem
híbridos – que incluem HFTs e intermediários tradi- vão se solidificar e serão cada vez mais comuns.”
cionais – deverão se expandir, no futuro, ganhando
espaço nas bolsas. Os negociadores dos dois modelos *ThEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 33


capa

para esquecer os velhos


tempos do pregão
Nos tempos em que não havia negociação eletrônica, os problemas eram frequentes nos
pregões de viva voz, a ponto de obrigar o FBI norte-americano a investigar operações
nas bolsas de Chicago, para coibir tentativas de fraudes, lembrou Michael Gorham

POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ

M uitos estudiosos do mercado financeiro têm


saudade dos “velhos tempos”, em que não ha-
via negociação de alta frequência, nem algorit-
mos. Mas para Michael Gorham, diretor do Stuart Center
for Financial Markets do Instituto de Tecnologia de Illinois,
a Suíça tinha quatro locais de negociação de lã e, em 1988,
sete bolsas de valores. Era excessivo o número de centros de
liquidez, o que começou a mudar não apenas com a desmu-
tualização, mas o impulso dado aos mercados pelos nego-
ciadores de alta frequência (HTFs, na sigla em inglês).
nos Estados Unidos, os saudosistas deveriam lembrar que Com a negociação eletrônica, avaliou Gorham, chega-
no passado também havia problemas – e cabe reconhecer as ram a maior transparência, o menor custo (houve redução
vantagens da negociação eletrônica, enfatizou em sua pales- de 95% no custo das transações com ações) e a criação de
tra no 5º Congresso de Mercados Financeiro e de Capitais. novos tipos de ordens. Ocorreu aumento exponencial na
Entre os problemas do “velho mundo” dos mercados, velocidade dos negócios, enquanto se sucediam as inova-
lembrou, estavam a baixa transparência e os custos eleva- ções nos mercados futuros. “Também desapareceram os
dos das transações, em todos os níveis, além da falta de out trades, negociações fechadas no grito no pregão que
capacidade de gerenciar operações concluídas em ritmo geravam divergências e consequentes contestações”, re-
cada vez mais acelerado, nos chamados mercados rápidos. cordou. “Os out trades chegaram a representar 25% das
As investigações do FBI nas bolsas de Chicago, em 1989, negociações nos Estados Unidos”.
mostraram como era difícil monitorar os negócios realiza- Agora, graças à negociação eletrônica, “os reguladores
dos nos pregões. “As pessoas começaram a ficar cada vez sabem com precisão quando cada negociação acontece”.
mais frustradas com as transações feitas no pregão”. Melhorou a qualidade das transações. “Nos pregões (do
As negociações eletrônicas ajudaram a resolver os pro- passado), o que interessava era o tamanho e a voz de quem
blemas que advinham da negociação simultânea de deter- operava. Na transação eletrônica vale a velocidade”.
minados ativos, em diversas bolsas. Em 1985, por exemplo, Gorham reconheceu que também há problemas nos
negócios de alta frequência, como os chamados fat fingers”
(dedos gordos, numa tradução literal) – erros cometidos
ao apertar uma tecla do computador. “Um erro desses,
cometido por um operador em Londres, pode causar
graves problemas de preço e quantidade em Tóquio”. Em
2010, por exemplo, quando a Infinium negociava futuros
no mercado de petróleo da Nymex (New York Mercanti-
le Exchange), o preço do barril subiu quase um dólar, em
menos de um minuto. Foi uma transação equivocada, atri-
buída pela empresa a um erro humano, ocorrido durante
testes de um programa de computador.
Ainda assim, a negociação eletrônica veio para ficar.
“Acidentes continuarão a acontecer, apesar da tecnologia”,
afirmou o especialista. “A chave para minimizar as incorre-
ções será minimizar seu prejuízo para o sistema”.

34 REVISTA DA NOVA BOLSA


mercado de etFs
JÁ É trIlIoNÁrIo
O Brasil tem conquistado posições crescentemente melhores no mercado de
Exchange Traded Funds (ETFs), fundos de índices que conferem grande agilidade
aos aplicadores e que já reúne, no mundo, ativos superiores a US$1 trilhão

O mercado de fundos de índices, os Exchange


Traded Funds (ETFs), cujas cotas são negocia-
das nas bolsas, inclusive na BM&FBOVESPA,
atingiu a marca de US$1 trilhão, nos Estados Unidos,
e está se expandindo rapidamente em inúmeros países,
segundo o doutor em Matemática e professor do Cou-
rant Institute, da Universidade de Nova York, Marco
Avellaneda. “Trata-se de um mecanismo que permite
aos pequenos aplicadores diversificarem seus riscos e
aplicarem diretamente em ações”, recordou Avellaneda,
em palestra no 5º Congresso Internacional de Mercado
Financeiro e de Capitais.
Os ETFs são “o produto financeiro que mais cresce
no mundo”, negociando tanto ações como commodities,
como ouro físico e prata. Avellaneda informou que o mer-
cado de ETFs cresceu sete vezes em cinco anos e que ao
final do primeiro trimestre o maior desses fundos era o O especialista prevê um futuro promissor para os
SP500, com ativos de US$90,2 bilhões. No Brasil, o maior ETFs no Brasil. “Em commodities, por exemplo, o merca-
fundo de índice já tem ativos de US$12 bilhões, figurando do brasileiro pode brilhar nesse segmento”, afirmou. “Há
como o 13º maior do mundo. também amplo potencial de crescimento desses fundos
de ouro físico”.
Os ETFs nasceram em 1993, nos Estados Unidos – e
cinco anos depois chegaram ao mercado europeu, onde tam-
Nos últimos anos, ganharam bém alcançaram grande sucesso. Além de crescerem em es-
força os ETFs “sintéticos”, baseados cala exponencial, a diversificação ganhou força nesse merca-
do. Segundo Avellaneda, ganharam força, nos últimos anos,
em uma carteira de ações, em os ETFs “sintéticos”, baseados em uma carteira de ações, em
operações de swap ou em derivativos. operações de swap ou baseados em derivativos. Esse tipo de
fundo ainda não existe no Brasil, mas o especialista estima
Esse tipo de fundo ainda não que nos próximos meses estará no mercado.
existe no Brasil, mas há previsão Avellaneda diz que o número de ETFs registrados no
Brasil ainda é pequeno (são nove) se comparado a outros
de que nos próximos meses países da América Latina, mas recorda que todos esses fun-
estará no mercado dos são ativos: “Em outros países latino-americanos, há cen-
tenas de fundos registrados, mas poucos são os ativos. No
Peru, são 295 registrados, mas nenhum deles é ativo”.
MARCO AVELLANEDA, DOUTOR EM MATEMÁTICA
E PROFESSOR DO COURANT INSTITUTE *THEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 35


capa

UMa SEGUNDa cHaNcE, DEpOIS


DO INVERNO NUcLEaR
Os fundos private equity enfrentaram um período difícil na América Latina,
mas, a partir de 2005, voltaram com força, notadamente para o Brasil,
onde existem enormes oportunidades de investimento, influenciadas por
iniciativas como a realização da Copa do Mundo e a exploração do pré-sal

POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ

D epois de uma fase de ra-


zoável vivacidade nos ne-
gócios (os anos 1990), o
sistema de Private Equity enfrentou
um período de “inverno nuclear” na
US$26 bilhões globalmente, ganha
uma segunda chance na região – onde,
naturalmente, desponta o Brasil. De
2005 a 2010, a mobilização de fundos
foi crescente, passando de US$1,3 bi-
vel pelos investimentos da Advent no
País. Ao falar no 5º Congresso Inter-
nacional de Mercados Financeiro e de
Capitais, procurou responder às ques-
tões dos organizadores: quanto do
América Latina (a primeira metade da lhão para US$5,6 bilhões. Para 2011, a atual interesse dos investidores glo-
década passada), em que os recursos projeção de Etlin indica US$10 bilhões, bais pelos mercados emergentes, em
mobilizados anualmente para investir sendo US$9 bilhões para o Brasil. especial o Brasil, é justificado? De sua
ficaram bem abaixo do bilhão de dóla- Brasileiro (nascido e criado em análise de virtudes e problemas – tal
res. Agora, na opinião de Patrice Etlin, São Paulo), filho de francês, Etlin é como na de vários outros palestrantes
sócio da Advent International, fundo mestre em engenharia industrial pela –, sobressaiu um tom de realismo “po-
criado em 1984) que tem sob gestão École Centrale de Paris e responsá- sitivo”, se é que se pode caracterizar

36 REVISTA DA NOVA BOLSA


assim. Em sua apresentação, ele exi-
biu, a título de ilustração, a imagem de
uma famosa capa (do ano passado) da
É preciso, pois, fomentar os
revista britânica The Economist, onde investimentos em capital humano,
se vê o Cristo Redentor decolando,
propulsionado por um foguete (Mar-
aumentando o percentual de universitários
celo Neri, da FGV, o “descobridor” da em relação à população
nova classe média, também palestran-
te no Congresso, mostrou imagem se-
melhante, vestindo-a com a camisa 10 patrice etlin, sócio da advent
international – global private equity
da seleção brasileira.)
Por que o “inverno nuclear” do
private equity foi superado? Etlin tura e o BNDES acaba ficando com nos custos dos encargos trabalhistas e
enumerou as oportunidades que o um papel preponderante. Além dis- tributários. Educação é outro. Como
Brasil oferece. Elas valem por si mes- so, o mercado da dívida corporativa se tem visto pelo noticiário, começa
mas – crescimento econômico, moe- é ainda muito tímido (debêntures, a faltar mão de obra qualificada. Em
da estável, desenvolvimento do mer- por exemplo): representa 2% do PIB, pelo menos uma carreira de nível
cado de capitais, retomada dos IPOs, enquanto na média dos “melhores superior – chave quando se fala em
crescente taxa de investimentos, que emergentes” chega a 10% (e entre os produção na economia – a situação é
deve passar de 19% do PIB, no ano desenvolvidos, a 12%). Mais ainda mais grave: do total de universitários
passado, a 22% em 2014 (muito abai- nesse campo: o crédito imobiliário, formados no Brasil, apenas 5% são
xo dos 40% da China, mas esta é a nas contas de Etlin, não passa de 2% engenheiros; no Chile, segundo Etlin,
nossa realidade). Ou então as opor- do PIB no Brasil, baixo patamar em essa fatia chega a 17% e na Coreia do
tunidades surgem como resposta aos relação a emergentes (12%) e ricos Sul (a líder nesse campo), a 17%. É
problemas existentes. (64%). Em contrapartida, isto sugere preciso, pois, fomentar os investimen-
amplas fronteiras a ocupar (a própria tos em capital humano, aumentando
VAREjO E pETRóLEO Advent é investidora na Cetip). o percentual de universitários em rela-
Primeiro grande trunfo: a ascen- Outros trunfos aparecem eviden- ção à população (no Brasil, a penetra-
são da classe média. Neri, da FGV, tes quando se fala nos investimentos ção é de 20%, na China é de 19%, mas
calcula que a classe C tenha alcança- que a infraestrutura exigirá, puxados no Chile é de 43%, segundo Etlin). A
do 55% da população em 2011 (en- por eventos como Copa do Mundo e Advent, por sinal, participa do grupo
quanto as classes A e B chegavam a Olimpíadas e pela demanda por nos- educacional Kroton.
12% e os mais pobres, as classes D/E, sas commodities. Para não falar em Prós e contras à parte, vai ficando
a 33%). Etlin, por seu turno, projeta alimentos, esse é o filão onde despon- clara a presença brasileira. Pesquisa
um avanço da classe média para 57% tam petróleo, gás natural, etanol. Nas junto a empresários citada por Etlin
da população em 2014 (ano em que contas que Etlin exibiu, com a explo- revela que, neste ano, o Brasil ficou
as classes A e B subiriam para 16% e as ração do que já foi mapeado do pré-sal em primeiro lugar no conceito de
classes D e E se reduziriam para 28% o Brasil subirá do 17º posto entre os “atratividade de investimentos” (para
da população). A continuidade dessa produtores de petróleo para o 5º lu- os próximos 12 meses), passando
expansão dá asas à imaginação de um gar, encaixando-se entre os realmente a China pela primeira vez entre os
boom no mercado doméstico, a co- grandes (passará de 15 bilhões a 98 bi- emergentes. No entanto, entre os que
meçar pelos setores de varejo e con- lhões de barris em reservas provadas). são mais “intensamente competiti-
sumo – bom foco de investimentos Como que para tirar o brilho dos vos”, ainda estamos em terceiro lugar,
para os private equity (e para quantos trunfos, surgem as deficiências. Etlin abaixo de China e Índia. Moral da his-
queiram aproveitar as chances). destaca dois pontos para os quais não tória, nas palavras de Etlin: “O Brasil
Em seguida, vêm os serviços fi- há solução fácil. Um deles se locali- ainda é um mercado desafiador”.
nanceiros. O mercado de capitais se za na burocracia, na dificuldade para
fortalece, mas falta financiamento em abrir novos negócios (como demons- *jOSÉ ROBERTO NASSAR É jORNALISTA
reais principalmente para infraestru- tram pesquisas do Banco Mundial), ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 37


CAPA

UMA NOVA REVOLUÇÃO


PARA A CHINA
Tempos difíceis foram previstos para a China pelo
economista Michael Pettis, com forte diminuição do
ritmo de crescimento econômico, em decorrência de
desequilíbrios macroeconômicos – baixo consumo e
excesso de investimentos, muitos de má qualidade

POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ

O norte-americano Michael Pettis, professor da


Universidade de Pequim, não economiza adje-
tivos duros ao tratar da China, onde mora há
anos. “É a economia mais desequilibrada já vista na histó-
ria”, com um consumo interno extremamente baixo e um
de juro (ainda baixas, de qualquer modo) e aumento nos
depósitos compulsórios. Em agosto, o PIB chinês rodava a
9% (prevê-se 8,8% no final do ano), a inflação anual caía
para 6,2%, o iuane ganhava pitadas de valorização e os in-
vestimentos cresciam a 25% anuais. E de agora em diante?
excessivo pendor para os investimentos”. Ainda que num
prazo longo, “vai ter de passar por um forte ajuste”, que BAIxAR A 3%?
levará a 3%, em dez anos, sua atual taxa de crescimento, Confessando-se membro da confraria atualmente mi-
com inúmeras consequências para o mundo todo. O es- noritária, Pettis recorre a três cenários para enquadrar a
tablishment chinês tem consciência disso, mas o debate China. O primeiro, “insanamente” otimista, é largamente
– acirrado – não ultrapassa os muros acadêmicos, nem apoiado mundo afora: nos próximos cinco anos, ou até
alguns círculos íntimos do governo. “Há pouco tempo es- 2020, o crescimento vai ficar em torno de 9% anuais. O
crevi um artigo descrevendo a situação. Pediram-me não segundo (“minoria que começa a virar maioria”), mais
para alterar o conteúdo, mas para retirar a frase em que pessimista, aponta uma taxa entre 6% e 7%. O terceiro
informava que os melhores cérebros da China estão preo- cenário, inteiramente pessimista (que é o dele) crava um
cupados”. Tanto é assim que “já me chamaram de otimis- crescimento de apenas 3% em algum ponto da próxima
ta, por ser americano”. Mestre em Finanças pela Columbia década (ou ao fim de um período de dez anos) – quando o
University, de Nova York, Pettis foi um dos palestrantes investimento estará crescendo somente 6/7% anuais.
do 5º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e Nada, portanto, que possa nos golpear na virada da
de Capitais, promovido pela BM&FBOVESPA. próxima esquina, mas é bom que o mundo e o Brasil po-
Uma nova geração de líderes vai assumir o poder em nham as barbas de molho. A questão central é que a China
2013. Podem estar um passo à frente no caminho das refor- terá de trocar os motores de sua expansão, deslocando-os
mas, mas ainda assim são conservadores, e em linha com dos investimentos (sobretudo os voltados para expor-
seus antecessores. O atual governo pretende administrar a tações) para o consumo interno. A redução na demanda
transição de forma gradual e controlada. Deixa claro que, global (e a previsão de modestíssimas taxas de expansão
em resposta à desaceleração das economias desenvolvidas nos próximos anos) será uma das responsáveis por isso – o
(clientes das exportações chinesas) e às ameaças inflacioná- mundo rico, por sinal, cobra da China (e de países como
rias internas, tocará o barco com destino a um “pouso su- a Alemanha) ampliação dos padrões de consumo para dar
ave”. Até agora, está conseguindo, com elevações nas taxas acolhida a seus próprios produtos. O 12º Plano Quinque-

38 REVISTA DA NOVA BOLSA


provavelmente, tudo o que se ouve no Ocidente sobre a china
hina está errado.
Não acreditem quando se fala que o modelo chinês é magnífico

michael pettis, professor da universidade de pequim

nal (em vigor de 2001 a 2014) acena com estímulos ao Dar um tranco dessas proporções no apetite dos
consumo e restrições a investimentos, sempre sob contro- chineses provocaria tremendas repercussões internas e
le, à moda chinesa. “Eles podem não querer, mas serão for- externas. Os beneficiários do atual quadro (a começar
çados a aumentar o ritmo”, disse Pettis. Se isso acontecer, por estatais, exportadores e bancos chineses) reagiriam
será uma nova revolução, só que não maoísta desta vez. com agudeza, pressionariam duramente e poderiam
colocar em risco até mesmo a estabilidade política do
TEmpERANçA E BAIxA RENDA regime – não é sem razão que o governo deseja man-
Os chineses (como, de resto, os asiáticos) são natural- ter as rédeas sob controle. Ampliação do consumo e do
mente poupadores, por temperança de caráter e baixa ren- mercado interno exigiria elevação dos padrões salariais
da. No ano passado, o consumo representava 40% do PIB (o que vem ocorrendo muito lentamente); alguma for-
(a taxa de investimento superava essa marca). Países como ma de proteção social (os chineses não têm previdência
Estados Unidos consomem 70% do PIB e a média mun- social nem seguro-saúde); valorização da moeda (que
dial é de 65% – até no Japão esse indicador é baixo (55%). também vem ocorrendo muito lentamente); e aumento
O plano governamental pretende elevar moderadamente dos juros para os depositantes.
o consumo, a 50% do PIB, mas Pettis, cético, desconfia Questões espinhosas, como se vê. As aplicações pes-
dessas intenções. “Nos últimos anos, a taxa vem caindo e soais dos chineses só podem ser feitas via bancos. É daí
este ano deve baixar a 35%”. Até para alcançar a modesta que, em grande parte, sai o dinheiro que financia os vul-
meta governamental (50%), há imensas dificuldades. “Na tosos investimentos (muitos dos quais comprovadamente
década passada, o consumo das famílias cresceu de 7% a sem viabilidade, inclusive na área imobiliária, ou meros
8% anualmente, enquanto o PIB avançava 10/11%. Para desperdícios). “O sistema de investimentos chinês ba-
obter crescimento moderado, de 6%/7%, por exemplo, o seou-se numa profunda transferência de renda das famí-
consumo das famílias teria de avançar 10%/11%, pois é lias para empresas estatais e bancos”, afirmou Pettis. Nesse
necessário que caminhe quatro pontos de percentagem quadro de endividamento, o financiamento barato elevou
mais rápido que o PIB”. as margens de lucro dos bancos (por força do spread entre

REVISTA DA NOVA BOLSA 39


CAPA

MODELOS DE
taxas de depósito e empréstimo) e lhes permitiu, até ago-
ra, administrar os créditos podres com alguma facilidade
(calcula-se que representem 7% do total). Além disso, o
governo está atento à saúde do sistema financeiro e vem
promovendo uma limpeza com o perdão de dívidas a ju- DERIVATIVOS QUE
ATENDAM AOS
ros baixos ou negativos. Mas uma retransferência de ren-
da acoplada a mudanças no padrão de crescimento pode
produzir abalos na aparente higidez do sistema bancário,
obrigando até mesmo a uma recapitalização.

ImuNIDADE ALImENTAR
INVESTIDORES
As consequências da mudança no modelo chinês são Nos últimos 100 anos, oito das dez maiores
evidentes e nem sempre para o mal – mais importações chi-
nesas representam, por exemplo, algum alívio para o déficit variações nos preços das ações do índice
comercial norte-americano. Serão mais ou menos impac-
tantes conforme o cenário de desaceleração gradual (como S&P500 negociadas em Nova York foram
quer o governo chinês), atualmente majoritário – mínimo para cima, ao contrário da crença comum
de 7% de crescimento –, ou o cenário pessimista traçado
por Pettis, de 3% de crescimento. O que muda é a natureza dos aplicadores que as oscilações são prin-
e o volume dos bens transacionados. Exportadores de com-
modities, como Brasil e Austrália, parecem ficar na berlinda.
cipalmente para baixo, segundo Bruno
Mas os sinais são mistos. No caso brasileiro, as exportações Dupire, da Bloomberg
de ferro, aço e outras commodities metálicas serão afetadas
– um pouco mais, um pouco menos. Alimentos (e talvez
petróleo/energia) podem até sair ganhando: o aumento do POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ
poder de compra chinês não só eleva a demanda por comi-
da em geral como também a demanda por comida “mais

N
nobre”, como carnes e produtos lácteos. E ainda pode haver ão há um modelo ideal para negociar derivati-
um consolo: teremos dez anos para, se formos espertos (o vos, afirmou Bruno Dupire, chefe de Pesquisa
que inclui a Vale e siderúrgicas), readequar nossa economia Quantitativa na Bloomberg LP, no 5º Congres-
paralelamente ao processo de ajuste chinês. so Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais.
Como o processo está em pleno andamento, é cedo Os modelos têm de estar em linha com dados estatísticos
para apontar os números que a nova revolução chinesa e incluir não apenas o preço, mas o risco residual e a exis-
produzirá. Só se pode afirmar com firmeza, e com alguma tência de hedge.
responsabilidade, que a China terá de promover mudan- Os preços de derivativos, enfatizou, “contêm informa-
ças estruturais para corrigir seus desequilíbrios. “Prova- ções preciosas” para o investidor, que devem ser detectadas
velmente, tudo o que se ouve no Ocidente sobre a China pelos modelos de negociação. Os modelos devem ser ado-
está errado; não acreditem quando se fala que o modelo tados em consonância com a necessidade ou a visão do in-
chinês é magnífico, um milagre”, afirmou Michael Pettis vestidor, dependendo de uma avaliação independente.
aos participantes do 5º Congresso, reforçando sua visão O mercado, lembrou, adota vários modelos, como o
pessimista. Ele escapa da armadilha das metas. “Quando Black-Scholes, que leva em conta uma volatilidade cons-
a economia chinesa vai se ajustar? Quais os limites para a tante, e o Local V Model, que determina uma volatilidade.
dívida? Não sei. Só sei que será dramático”, disse. Todos eles têm prós e contras. Mas, além de terem com-
Tudo vai depender da capacidade dos (novos) go- provada eficiência, não se pode ignorar as características e
vernantes de reunir força política e promover consensos, os planos dos investidores.
blindando o regime. Se isso ocorrer, talvez a inevitável de- Nesse cenário, entra o gerenciamento de risco, que
saceleração não leve aos 3% do pior cenário. também é volátil. “Deve-se levar em conta premissas
como a que diz que se a volatilidade é representada por
*JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA EcONÔmIcO. um número, o risco também poderá ser”, explicou. “Da

40 REVISTA DA NOVA BOLSA


Oss preços de derivativos contêm informações preciosas para o investidor,
que devem ser detectadas pelos modelos de negociação

bruno dupire, chefe de pesquisa quantitativa da bloomberg lp

mesma forma, se a volatilidade for representada por uma foram para cima. Se restringimos o período para 10 anos,
curva, o risco também deve ser mostrado dessa maneira”. 6 em 10 oscilações bruscas foram de alta”.
Acima de tudo, “cada ativo é um ‘animal’ diferente, com Em sua palestra, Dupire disse também que na nego-
diferentes graus de volatilidade e de risco”. ciação dos derivativos o mercado deve dar igualdade de
Dupire assinalou que é preciso fazer algumas mudan- condições a compradores e vendedores, “que devem ter
ças em relação à modelagem de derivativos. Os modelos o risco distribuído na mesma proporção”. Na avaliação do
atuais são pouco dinâmicos, dando prioridade a transa- especialista, o que motiva a maioria das transações nas
ções matemáticas, em detrimento de uma visão realista bolsas é a diferença entre a visão do mercado e as opiniões
sobre os negócios. “Existe também um uso equivocado subjetivas dos participantes. Ele considera importante ter
de modelos em situações de mudanças abruptas de mer- ferramentas “que revelem as afirmações que os mercados
cado”, analisou. “O erro decorre principalmente de uma implicitamente fazem sobre o futuro” e que os modelos
visão largamente adotada pelo mercado que, no entanto, é podem ser importantes nesse processo, “desde que ade-
incorreta: a de que as variações dos preços, principalmen- quados a necessidades específicas e em linha com os mer-
te das ações, são principalmente para baixo”. Essa visão é cados a que se aplicarão”.
desmentida pelos fatos: “Estudando as variações de mer-
cados em 100 anos do índice S&P500, da Bolsa de Nova
York, verificamos que 8 dos 10 maiores saltos das cotações *THEO cARNIER É JORNALISTA EcONÔmIcO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 41


CApA

RENDA FIXA SONHA COM


OS ALGORITMOS
Entre as mais modernas ferramentas do mercado financeiro está
a negociação com algoritmos, que ganhou enorme espaço nas
transações eletrônicas e foi tratada por um especialista altamente
qualificado, Robert Almgren
POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ

A negociação com algoritmos


é cada vez mais utilizada no
mercado financeiro, mas,
na avaliação de Robert Almgren, co-
fundador da Quantitative Brokers
ajude a ter sucesso nas aplicações. Ao
falar sobre o tema no 5º Congresso
Internacional de Mercados Financei-
ro e de Capitais, lembrou que a nego-
ciação algorítmica tem grande utiliza-
transação e ganhou rapidamente es-
paço no mercado graças às transações
eletrônicas. Sua eficiência é enfatiza-
da pelos operadores devido à rapidez
que introduz nas operações de com-
e doutor em Matemática Aplicada e ção no mercado de ações. Contudo, pra e venda, mas a ferramenta trouxe
Computacional pela Universidade de ainda precisa se desenvolver em ou- grandes desafios. “É preciso resolver,
Princeton, ainda precisa ser compre- tros segmentos, como o de renda fixa. por exemplo, o problema fundamen-
endida pelos investidores para que O algoritmo é uma sequência de tal de execução das ordens”, afirmou
possa se tornar uma ferramenta que ações executadas para realizar uma Almgren. “Deve-se encontrar uma

42 REVISTA DA NOVA BOLSA


forma para fazer circular uma grande
parte de ativos de maneira eficiente A negociação algorítmica tem grande
através de vários mercados, sem es-
quecer de que o processo de negocia- utilização no mercado de ações. contudo, ainda
ção costuma ser separado da decisão precisa se desenvolver em outros segmentos,
de investimento. São desafios impor-
tantes, que os algoritmos podem aju- como o de renda fixa
dar a vencer”.
Almgren considera que a execu- robert almgren, cofundador da quantitative brokers
ção de ordens que se baseiam em algo-
ritmos no mercado de renda fixa deve
ser fundamentada em quatro premis-
sas: qual é a melhor alternativa para
execução; qual a necessidade de esta- ta também com análise do custo de é necessário definir os custos da exe-
belecer as diferenças entre os mercado transação em estágio desenvolvido, o cução antes da negociação, fazer a
de renda fixa e de ações, por exemplo; que nem sempre acontece em merca- mensuração eficiente da execução e
como definir e medir a execução da dos como o de taxa de juro”. desenvolver um trabalho sistemáti-
ordem; e quais as características dos Nos Estados Unidos, lembrou, co de avaliação após a realização do
mercados futuros de renda fixa. o segmento de renda fixa tem, entre negócio. “Todos esses passos estão
Respondidas as dúvidas, os algo- seus principais produtos, bônus cor- relacionados entre si e precisam ser
ritmos têm um enorme caminho para porativos e de governos e produtos li- seguidos para que as operações alcan-
crescer nesse segmento. “A execução gados a taxas de juro. Nesses segmen- cem o objetivo proposto”.
das ordens pode adicionar enorme tos, as transações eletrônicas ainda Há, ainda, a necessidade de refe-
valor às margens”, assegura. “É uma não prevalecem, o que restringe o uso renciais (benchmarks) de preço e de
área que apresenta muitos desafios e de algoritmos. “Essa realidade está formas de negociação de algoritmos
que, como tal, deve ser estudada em mudando, embora ainda prevaleça na para que a ferramenta possa ser mais
detalhes antes de ser utilizada”. maior parte dos mercados mundiais”, utilizada em renda fixa. Um desses
Entre os vários algoritmos ado- afirma “Existem mercados futuros de referenciais – o TWAP – tem como
tados no mercado de ações estão o taxas de juro que são totalmente ele- vantagens o cálculo relativamente
VWAP (Volume Weighted Average trônicas, como acontece com os con- simples e a medição rápida quando
Price) e o TWAP (Time Weighted tratos DI da BM&FBOVESPA, mas as informações sobre volume não são
Average Price). O VWAP permite ainda há muito a caminhar em outras definidas. A desvantagem é que não
negociar em linha com o volume do bolsas para chegar a esse estágio”. está diretamente relacionado à ativida-
mercado, buscando o preço médio De fato, na renda fixa, pregões e de do mercado. Outro referencial é o
no intervalo. E o TWAP faz o parcela- negociações eletrônicas convivem. VWAP, que é fácil de avaliar, mas não
mento de ordens de maneira regular, Mas os negociadores tradicionais corresponde a metas de investimento.
em intervalos de tempo previamente do pregão estão sendo substituídos Também são usados como benchmark
definidos, com vistas a diminuir a vo- por operadores de alta frequência e o preço de fechamento diário de um
latilidade de uma ação. Estas e outras por formadores de mercado (market ativo e o hedge (proteção) de opções.
alternativas poderão ser empregadas makers). Corretores que trabalhavam Os referenciais devem ser usados
no mercado de renda fixa. no pregão (“que eram verdadeiros de acordo com os mercados e as me-
Mas, alerta Almgren, é preciso le- atletas”) tendem a ser substituídos tas do investidor, disse Almgren. Mas
var em conta que o estágio de desen- por “corretores de algoritmos”, graças precisam ser definidos previamente,
volvimento do mercado de renda fixa ao êxito alcançado por essa ferramen- antes da execução da ordem – que,
é inferior ao de ações em algoritmos: ta no mercado de ações. por sua vez, deve estar ajustada ao
“O segmento de renda variável é to- Mas o sucesso dos algoritmos referencial escolhido. Os resultados
talmente eletrônico há vários anos e depende da correta definição e me- devem ser sempre avaliados.
tem melhores conceitos sobre execu- dição das execuções de ordens. Para
ção baseada nessa ferramenta. Con- alcançar esse objetivo, disse Almgren, *THEO cARNIER É JORNALISTA EcONÔMIcO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 43


CAPA

IMPORTÂNCIA DA EXECUÇÃO
CORRETA DE UMA ORDEM
Tantas são as estratégias disponíveis para executar uma operação
que os operadores chegam a hesitar na hora de escolher entre
elas, analisa o especialista Jim Gatheral, lembrando que a fórmula
da raiz quadrada empregada para avaliar o preço dos ativos e o
impacto de cada investidor no mercado tornou-se inadequada
POR THEO CARNIER* FOTOS AGÊNCIA LUZ

O s mercados oferecem vá-


rias alternativas de nego-
ciação, com algoritmos
e uma variedade de estratégias, que
acabam confundindo os responsáveis
participação no mercado. Mas, com
o nível de risco dos atuais mercados,
o modelo tornou-se questionável: “A
fórmula refere-se apenas ao tamanho
do negócio em relação ao volume diá-
por estímulo” e não deve ser adotado
apenas porque tem grande utilização
nos mercados.
Escolhida a estratégia adequada,
a economia de custos do investidor na
pela execução das ordens. “O opera- rio. Certamente, o impacto será maior execução de uma ordem pode ser re-
dor não sabe, muitas vezes, que fer- se a negociação for mais agressiva, vis- duzida em 25%, em média. “Fizemos
ramenta escolher para a execução de to que nesses casos há muitas transa- estudos que mostraram que potencial-
uma ordem”, afirmou Jim Gatheral, ções em curtos espaços de tempo”. mente podemos economizar até um
doutor em Física Teórica pela Uni- Quando a execução é precedida sexto do spread usando a metodolo-
versidade de Cambridge, em palestra de análise detalhada dos objetivos do gia adequada a cada ordem”, afirmou,
no 5º Congresso Internacional de investimento e das características de reiterando a importância de examinar
Mercados Financeiro e de Capitais. um determinado mercado, cresce a com cuidado a adoção da fórmula da
Durante vários anos, o mercado possibilidade de ganho, seja qual for raiz quadrada, “que, numa leitura li-
empregou a “fórmula da raiz quadrada” o instrumento escolhido para a ne- teral, pode levar à conclusão de que
– esta considera que cada negócio im- gociação, analisou Gatheral. Para ele, o custo do negócio não depende da
pacta o preço do ativo e que o impacto “um algoritmo, por exemplo, só pode estratégia de negociação – o que, na
de cada investidor é proporcional a sua ser testado por experimentação ou nossa visão, é um equívoco”.

Escolhida a estratégia
adequada, a economia
de custos do investidor
na execução de uma
ordem pode ser reduzida
em 25%, em média

jim gatheral, doutor em física


teórica pela universidade de
cambridge
44 REVISTA DA NOVA BOLSA
MERCADO DE CAPITAIS, A ALAVANCA
DO GRUPO EBX
O mercado de capitais é um poderoso aliado das com-
panhias brasileiras, segundo o presidente do grupo
EBX, que revelou dispor ainda de US$10 bilhões dos re-
cursos obtidos com a abertura do capital para assegurar
os vultosos investimentos planejados em várias áreas,
como petróleo, energia, mineração, portos e ferrovias

O mercado de capitais foi


a principal alavanca para
que os negócios de Eike
Batista prosperassem. O empresário
reconheceu essa importância com to-
panhias de todos os setores, como
para quem planeja investir nelas”.
Com essas vantagens, Eike re-
conheceu no mercado de capitais
um poderoso aliado das companhias
das as letras, em almoço com os par- brasileiras e de sua crescente atrativi-
ticipantes do 5º Congresso Interna- dade para os investidores globais. “O
cional de Mercados Financeiro e de mundo está descobrindo o Brasil”,
Capitais, em Campos do Jordão. “O afirmou. “Essa é uma realidade que se
mercado foi a mola inicial para mim. mostra cada vez mais forte e que ob-
Foi lá que consegui os recursos para servo em minhas viagens e nos conta- As empresas brasileiras, afirmou
investir em meus negócios e transfor- tos com empresários e executivos de Eike, tem colaborado para a mu-
mar planos em realidade”, disse. outros países”. dança da percepção do País entre
O grupo EBX (do qual é contro- Mas, para o empresário, o otimis- os investidores. Muitas escolheram
lador) obteve US$24 bilhões no mer- mo com o Brasil ainda precisa cres- o mercado de capitais, como forma
cado de capitais, dos quais ainda tem cer dentro do País. Em outras partes de se mostrarem ainda mais sólidas
US$10 bilhões para continuar inves- do mundo, o prestígio do mercado e transparentes: “Temos uma das
tindo, ressaltou Eike, explicando: “O brasileiro já está consolidado. Como maiores e melhores bolsas do mun-
grupo abriu capital de seis de suas exemplo, citou uma reunião com o do. Pelo lado regulatório, contamos
empresas – MMX, de mineração; principal executivo do megagrupo com a CVM, que tem mantido uma
LLX, de logística; MPX, de energia; norte-americano General Electric, atuação de primeira linha. Agradeço
OGX, de petróleo e gás; e OSX, de Jeffrey Inmelt: “Tive uma reunião a Maria Helena Santana, atual pre-
exploração offshore. E ainda vamos a com ele em agosto e só ouvi palavras sidente da entidade, pelo apoio que
mercado com a REX, do setor imobi- entusiasmadas em relação ao Brasil. tem dado a nós, empresários. Temos,
liário; a CCX, de exploração de car- Inmelt considera que, atualmente, o um ambiente mais do que adequado
vão; e AUX, de ouro”. mercado brasileiro é mais importante para incentivar os investimentos de
Além da captação de recursos, o que o chinês para a GE. Além disso, brasileiros e de estrangeiros. Muito
mercado de capitais incentiva a trans- afirmou que os americanos em geral dessa vantagem se deve ao mercado
parência das empresas, segundo o ainda não conhecem o Brasil, mas de capitais”.
empresário. “Esse é um item cada vez que nosso mercado é um dos mais
mais importante, tanto para as com- atraentes do mundo”. *THEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 45


cAPA

PLANTAR HOJE PARA GARANTIR


O AMANHÃ
A BRAiN é uma instituição, da qual participam várias entidades,
empenhada em transformar o Brasil no mais importante centro
financeiro e de investimento da América Latina, capaz de au-
mentar a atratividade do País para investidores de todo o mundo

POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ

P or muito tempo, o Brasil foi visto com espírito de


oportunismo; agora, é visto como oportunidade.
Paulo de Sousa Oliveira Junior está convicto disso.
Engenheiro graduado pela Escola Politécnica da USP, é di-
retor presidente da BRAiN – Investimentos e Negócios, en-
representantes de empresas dos mercados financeiro e de
capitais e de prestadores de serviço nas áreas de tecnolo-
gia, de informática e de agências nacionais e internacio-
nais de notícias (muitas das quais deram suporte ao even-
to promovido pela Bolsa).
tidade cujo papel descreveu ao falar no 5º Congresso Inter-
nacional de Mercados Financeiro e de Capitais. A entidade, VENTOS A fAVOR
sediada em São Paulo, pretende criar um ambiente propício A “chance é ímpar”, segundo o diretor presidente da
para os negócios entre os países da América Latina. Assim, BRAiN. Muitos são os pontos positivos: o ambiente ma-
“prepara o caminho para plantar hoje e garantir o amanhã”. croeconômico; o ambiente institucional; a infraestrutura
A BRAiN nasceu, há um ano e meio, por iniciativa de financeira (um sistema sólido, com bancos que não estão
várias instituições e empresas do mercado financeiro e de alavancados); a imagem externa do País; a ascensão da
capitais, quais sejam: BM&FBOVESPA, Cetip, Anbima, nova classe média e os processos de distribuição de ren-
Fecomércio, Febraban e bancos Santander, Itaú, HSBC, da, que trazem ao mercado legiões de consumidores (e
BTG Pactual, Bradesco, Citi, Votorantim, e Banco do Bra- até investidores). As deficiências também são várias e elas
sil. Mas conta com o engajamento do governo brasileiro, se revelam na infraestrutura física (de transportes a ener-
que vai participar de seu conselho consultivo e de grupos gia), na burocracia, na conectividade com outros países,
de trabalho (incluindo Fazenda e Tesouro), sem falar no na formação de capital humano e descoberta de talentos
apoio do Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (vale dizer, educação). Mas os problemas, do outro lado
(CVM) e BNDES, por exemplo. O mesmo ocorre com o da moeda, significam – repita-se – oportunidades. O que
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). não está feito (ou bem feito) abre espaço para novos inves-
As perspectivas estão abertas. O papel específico da timentos e “há muito por fazer”.
BRAiN é “coordenar as mudanças necessárias para que o Se o Brasil parece ser “a bola da vez”, é preciso cuidar
Brasil se torne o centro financeiro de investimentos e ne- para que ela não se desvie no meio do caminho. Vão nesse
gócios da América Latina”; em consequência, deve buscar sentido, as ações planejadas pela BRAiN ou já em execu-
a integração e fomentar o aproveitamento de oportunida- ção. De acordo com seu diretor presidente, foram criados
des – “um projeto que veio na hora certa”, disse Henrique sete grupos de trabalho (GTs), que atacam em várias fren-
Meirelles, então presidente do BC, quando do lançamen- tes. Dizem respeito tanto a aspectos específicos das con-
to no ano passado. “Surgiu para transformar o potencial dições brasileiras quanto a linhas de relacionamento com
do Brasil em realidade”. E “os ventos estão soprando a fa- os outros países latino-americanos, o que supõe ajustar
vor”, disse ele para uma plateia composta por centenas de hábitos, cultura e até legislação.

46 REVISTA DA NOVA BOLSA


Se o Brasil parece ser a bola da vez, é preciso cuidar para que ela
não se desvie no meio do caminho

paulo de sousa oliveira junior, diretor presidente da brain – brasil investimentos e negócios

Um dos grupos de trabalho concentra-se no “doing setores privado e público. “O BID está cooperando”, infor-
business”, ou seja, na busca de condições que facilitem os mou Paulo Oliveira, e tem havido “boa receptividade” dos
negócios e o empreendedorismo, analisando a burocracia bancos centrais e das autoridades reguladoras (as “CVMs”
(é conhecida a lentidão com que se aprova a entrada e a de cada país). A BRAiN pretende, além disso, “inserir suas
criação de novas empresas no Brasil, como demonstram propostas nas discussões bilaterais de que o governo bra-
estudos feitos anualmente pelo Banco Mundial) ou escru- sileiro participa”.
tinando o sistema tributário. Outro GT, criado adequada- Todas essas ações foram desenhadas para dar suporte
mente sob a rubrica “Talentos”, atenta para um ponto-cha- ao plano original que levou à criação da entidade. O traba-
ve: a educação. Radiografa os avanços e os pontos críticos lho, mesmo que de longo prazo, já está em andamento. E,
da formação do capital humano, incluindo os apagões de além de os ventos soprarem a favor, “está chovendo bas-
mão de obra que já afetam alguns setores. tante na nossa horta”, afirmou Paulo Oliveira. Neste caso,
No plano da conectividade com outros países, a o próprio nome da entidade é revelador, disse ele, sem te-
BRAiN prepara estudo comparativo da regulação do sis- mer o trocadilho: B – rain.
tema financeiro. Evidentemente, a integração financeira
da AL “depende de um longo trabalho”, que envolverá os *JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 47


CApA

É HORA DE O MUNDO RICO


ESTIMULAR O INVESTIMENTO
Em países emergentes, como Brasil e China, a austeridade fiscal
faz sentido para evitar desequilíbrios macroeconômicos, mas não
nos países desenvolvidos, gravemente atingidos pela crise, enfa-
tizou o economista Robert Skidelsky, que se declara “mais radical”
depois de ficar mais velho

POR JOSÉ ROBERTO NASSAR* FOTOS AGÊNCIA LUZ

A solidez das finanças públicas mundiais tornou-se


o grande problema do momento. O déficit fiscal
de países como Grécia, Irlanda, Portugal, Itália
passam de 10% do PIB, Estados Unidos e Zona do Euro
trafegam na faixa de 6% a 7% (quando o máximo acorda-
A receita tinha de ser completamente diferente, na
opinião do economista britânico Robert Skidelsky, pro-
fessor de Economia Política da Universidade de Warwick.
A incipiente recuperação que se verificava estacionou e
“há risco enorme de forte recessão” (o double dip), disse
do para o euro deveria ser de 3% do PIB). O tamanho da dí- Skidelsky no 5º Congresso Internacional de Mercados
vida pública em alguns desses países ultrapassa 100% do PIB Financeiro e de Capitais. A atividade econômica agora
(até países como França estão se sentindo pressionados) e precisa de estímulo (para além da política monetária),
os juros exigidos para refinanciá-la são altíssimos. A receita- não de austeridade. Requer também vontade e coope-
padrão, que voltou a ganhar peso depois de passados os efei- ração entre governos para fazer as reformas necessárias
tos mais drásticos da crise de 2008/09, prevê severo ajuste (Estados Unidos e China podem “fazer uma grande bar-
fiscal, sobretudo por meio de radicais cortes de gastos. Com ganha”). Os avanços pós-crise – na área regulatória, na
isso, projeta-se para este ano (e para 2012) crescimento eco- discussão de Basileia III, por exemplo – foram impor-
nômico ínfimo, de pouco mais de 1% nos Estados Unidos e tantes. Mas não bastam. “Estou mais radical agora que
de menos que isso para a média da Zona do Euro. estou mais velho”.

48 REVISTA DA NOVA BOLSA


Biógrafo e discípulo de John Maynard Keynes
(1883-1946), lorde com assento no parlamento bri- Não é imprimir dinheiro que
tânico, Skidelsky atua também no INET– Institute for
New Economic Thinking, entidade criada em Londres estimula. É a maneira como se gasta.
para, como diz o nome, buscar alternativas para as
“deficiências das teorias econômicas correntes” (um
A solução está no aumento da demanda
de seus patrocinadores é o financista George Soros); agregada, como pregava keynes
com um tom keynesiano, o INET tem, entre seus con-
selheiros e consultores, economistas de orientação
variada, como Anatole Kaletsky, Amartya Sen, Kene- robert skidelsky, professor da universidade
th Rogoff, Barry Eichengreen, Joseph Stiglitz, além de warwick e biógrafo de keynes
do próprio Skidelsky. Afirma não ser contra a injeção
de recursos (defendida pelos “monetaristas”) como
arma para ajudar a combater a recessão, dependendo
da situação e do momento. Mas não pode ser a única,
nem a preponderante. “Não é imprimir dinheiro que creveu em editorial recente (27 de agosto): países ri-
estimula. É a maneira como se gasta”. Em outras pala- cos precisam “botar menos pressão” sobre suas econo-
vras, “a solução está no aumento da demanda agrega- mias e pensar seriamente em crescimento; “mercados
da”, como pregava Keynes. preocupam-se mais com a habilidade de as economias
De acordo com Skidelsky, a austeridade até faz sen- crescerem do que com o tamanho do seu déficit”; a
tido em países como China e Brasil, onde os fatores de política fiscal da Europa “precisa ser recalibrada”, pen-
produção estão bombando e há risco de inflação. Não sando também em reformas como a previdenciária (au-
nos países desenvolvidos, onde há grande volume de mentando a idade), a trabalhista ou em privatizações;
recursos não utilizados na produção (poupanças con- a Grã-Bretanha deve moderar o ritmo de seus ajustes,
geladas). Investimento é a palavra mágica para canali- “não abandonando os cortes, mas amortecendo-os
zar essa poupança privada, afirmou Skidelsky em sua com incentivos fiscais para investir”. Mais ainda (e isso
palestra no congresso. Pode ser em infraestrutura (ou pode causar frisson em países como o Brasil): “O Ban-
em setores ligados à economia verde), como pretende co Central Europeu deveria dar mais espaço para que
o presidente Barack Obama no plano que apresentou seus membros possam ajustar-se” e “os bancos centrais
no início. Pode ser por meio da criação de um banco podem prestar mais atenção ao ritmo nominal do PIB
nacional de fomento, ideia que o próprio Skidelsky do que ao da inflação”. Isto quer dizer: “tolerância a oca-
propôs ao Reino Unido (ver, a propósito, a entrevista sionais impulsos de alta nos preços”.
publicada na edição 11 da Revista da Nova Bolsa), e Skidelsky estudou História antes de chegar à Eco-
que Obama replica em seu plano – é o nosso BNDES nomia e à Política. Deixou clara sua formação ao falar
fazendo escola. Enfim, esse é o ponto central exposto no congresso de Campos de Jordão. Distante dos “or-
por Skidelsky: descobrir novas fontes de aumento da todoxos” de Chicago, desconfia dos modelos quanti-
demanda para retomar um mínimo de crescimento tativos que se tornaram ferramentas indispensáveis às
econômico e, assim, dar espaço que permita aos países operações mundo afora dos mercados financeiros e de
reequilibrar seus déficits (interno e externo). capitais, impulsionados pelo progresso técnico na ma-
temática e na computação. Em muitos casos, porém
BNDES INgLêS E AmERIcANO – argumentam seus críticos, como Skidelsky –, bana-
Skidelsky, neste momento, não está só – e não só lizaram-se pelo uso burocrático de hipóteses e proje-
pela companhia de Obama. A ameaça de uma nova re- ções divorciadas das injunções políticas, econômicas e
cessão e os abalos do euro voltam a aprofundar a dis- sociais que afetam as aspirações de pessoas e empresas
cussão estímulo versus austeridade. E, sem embargo da do mundo real. “Sou um economista”, disse ele, para
urgência em corrigir desperdícios (sobretudo no setor concluir com ironia: “Não conheço matemática e por
público), espalha-se a defesa de políticas combinadas isso tenho de pensar”.
entre esses dois polos. A revista britânica The Economist
– bíblia de oito entre dez personagens desse ramo – es- *JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA EcONÔmIcO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 49


capa

O BRaSIL ESTÁ pRONTO paRa


ENFRENTaR a cRISE GLOBaL
Com a piora do contexto econômico global,
caracteriza-se a crise de endividamento e a
política monetária perde eficiência, frustran-
do as expectativas de retomada do cresci-
mento, que daria alento às empresas e aos
consumidores, alertou o diretor de Regula-
ção do Banco Central

POR FÁBIO PAHIM* FOTOS AGÊNCIA LUZ

50 REVISTA DA NOVA BOLSA


“O Brasil está mais preparado para
enfrentar o cenário internacional
de dificuldades”, avaliou o diretor
do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva,
reconhecendo que o contexto global piorou
do mais crédito e mais confiança”, como ocor-
reria em condições normais. “Chega-se, assim, à
armadilha da liquidez”. Nos Estados Unidos, o
presidente do Fed, Ben Bernanke, admitiu que a
recuperação norte-americana é modesta.
muito e que há o risco de uma recaída da crise Nos mercados acionários, a volatilidade
de 2008. “traduz as incertezas e a exposição dos bancos
Um dos problemas, admitiu, é a elevada vola- à dívida soberana e às exposições recíprocas”.
tilidade. Outro, é o crescimento das dificuldades Tampouco a confiança do consumidor está em
nos Estados Unidos e na União Europeia: “A de- recuperação. “Estamos na segunda etapa da cri-
terioração (nessas proporções) não era previsível. se de 2007/2008”, constatou o diretor do BC.
A crise é de endividamento. E teve origem na ex- “Evitamos a repetição da crise de 1929, mas
pansão excessiva do crédito privado, nas falhas de a dívida soberana está no cerne do problema.
regulação e nas prioridades de investimento”. Não estamos à beira de um colapso, mas, mais
Trata-se, portanto, de uma situação dife- perto de uma recessão”.
rente da que caracterizou o início da crise. Em
2008, recordou, houve uma “resposta tempesti- ApREcIAçãO DO REAL
va e sem precedentes”. Mas a resposta levou ao No Brasil, a tendência é de apreciação do
crescimento das dívidas soberanas, à ampliação real – uma moeda boa “para poupar e alocar ris-
dos gastos e à piora da situação fiscal. Frustrou- cos”. Estímulos monetários reforçam a atração
se, sobretudo, a expectativa de que o crescimen- de capitais e as aplicações de curto prazo. Desse
to absorveria a percepção de vulnerabilidades. ambiente, fazem parte mais crédito, volatilidade,
“Não houve a recuperação da confiança”. E a apreciação do câmbio. Mesmo assim, “o Bra-
conjugação de problemas colocou em dúvida “a sil está mais preparado para enfrentar a crise”.
sustentação da dívida”, de tal sorte que “a desa- Como explica Luiz Pereira: “Câmbio flutuante e
celeração passou de transitória para duradoura”, responsabilidade fiscal estão sendo reforçados”.
com agravantes como o down-grade (a piora Reservas cambiais elevadas, controle da política
do rating estabelecido pelas agências de risco) fiscal e medidas prudenciais, como as relativas
dos Estados Unidos e do Japão. Os avanços são ao depósito compulsório dos bancos, facilitam
muito mais difíceis, notou, quando existe falta a política monetária e permitem alongar prazos.
de consenso político. “Estamos preparados e sólidos, mas em pre-
sença de circunstâncias excepcionais”. Daí as pres-
O ESgOTAmENTO DA pOLíTIcA sões provenientes de posições alavancadas, pois
mONETáRIA os ativos não se movem numa só direção. Crises,
Novas dificuldades apresentam-se, agora: admitiu, “impõem desafios exagerados”.
“Começa a se notar a perda de eficiência das in-
tervenções monetárias internacionais”. Ou seja, *FáBIOpAHIm É cOORDENADOR EDITORIAL DA REVISTA DA
a manutenção dos juros baixos “não está crian- NOVA BOLSA.

Estamos preparados e sólidos, mas em


presença de circunstâncias excepcionais. crises
impõem desafios exagerados

luiz awazu pereira da silva, diretor de regulação e gestão


de riscos corporativos do banco central

REVISTA DA NOVA BOLSA 51


capa

a MISSÃO Da cVM ESTÁ


SENDO cUMpRIDa
O Brasil dispõe de mercados que são exemplo para
o mundo, como o de derivativos, mas, ainda assim, o
órgão regulador está se preparando para fortalecer
ainda mais a supervisão e aperfeiçoar as regras, por
exemplo, nos fundos de investimento

POR FÁBIO PAHIM* FOTOS AGÊNCIA LUZ

E stá em curso uma agenda de


reformas regulatórias, enfa-
tizou a presidente da CVM,
Maria Helena Santana na sessão de
encerramento do 5º Congresso de
tou que “o mercado brasileiro é tão
bom que deveria ser exportado”.
Maria Helena Santana defendeu
a criação de uma central de expo-
sição a derivativos, que permitiria
Outro exemplo de aperfeiço-
amento está no fortalecimento do
mercado de dívidas. Empregado
cada vez mais pelas companhias, o
mercado primário de dívidas permi-
Mercados Financeiro e de Capitais, tornar nulos os contratos que não te maior diversificação de fontes de
em Campos do Jordão. Mas, frisou, fossem registrados na central. Os recursos. Um avanço institucional
embora a crise global não tenha aca- bancos, argumentou, “devem evoluir foi propiciado pela Instrução 476 da
bado, “nós, os reguladores, não preci- do ponto de vista da suitability” – ou CVM – que regula as ofertas públi-
samos ficar na agenda crise”. seja, a capacidade de avaliar o perfil cas restritas de notas comerciais, cé-
A agenda da CVM, observou, de risco dos investidores. dulas de crédito bancário, debêntu-
contempla iniciativas de curto, mé- Citou, ainda, os aperfeiçoamen- res não conversíveis em ações, cotas
dio e longo prazos. Desde o episó- tos introduzidos nos fundos de in- de fundos fechados de investimento
dio da quebra do banco Lehman vestimento, com vistas ao aumento e certificados de recebíveis imobi-
Brothers, nos Estados Unidos, em da transparência para os cotistas e à liários ou do agronegócio. A norma
setembro de 2008, houve consenso melhora da “comparabilidade” entre trata do private placement e ajuda
internacional quanto à necessidade eles. Uma das questões diz respeito a tornar mais acessível a colocação
de intensificar os controles sobre “à responsabilidade do administra- pública de dívidas. Em alguns casos,
os mercados de derivativos, em es- dor na gestão de ativos e passivos”. grandes empresas, com tradição no
pecial, negociados em mercados de No médio prazo, liderar o de- mercado, poderão fazer lançamentos
balcão, mediante o fortalecimento bate sobre a melhora da eficiência de debêntures sem aguardar a revi-
das clearings e maiores exigências de econômica e a concorrência entre são da documentação pela CVM.
capital. Para fortalecer a supervisão, os fundos de investimento, “bem Mas a questão central é o alon-
foram desenvolvidos padrões para como à sensibilidade a preços e gamento de prazos – e, nesse ponto,
fornecimento e ampliação de dados. conflitos de interesse”, está entre os a evolução é lenta e há muita volati-
Agora, entre os passos previstos, objetivos da CVM. Trata-se, enfa- lidade, pois não há um mercado se-
estão a criação de uma espécie de tizou a presidente da autarquia, de cundário de dívidas privadas.
CNPJ global e códigos padronizados um segmento “de extremo sucesso, Maria Helena Santana elogiou o
para derivativos. Ainda assim, ressal- mas pode melhorar”. mercado primário de ações, que tem

52 REVISTA DA NOVA BOLSA


mostrado “uma evolução muito posi- cado secundário de ações, do ponto
tiva, na última década”. Mas, também de vista institucional e tecnológico.
há nele pontos a aperfeiçoar, pois “Os volumes crescem e também a
Para fortalecer
ainda predominam as ofertas iniciais eficiência e o número de participan- a supervisão de mercado,
(IPOs) de grande porte, não infe- tes”. Trata-se, acrescentou, “de uma
riores a R$500 milhões ou R$600 história de sucesso”, com aspectos foram desenvolvidos
milhões, enquanto em mercados importantes, como o aumento da padrões para fornecimento
desenvolvidos – como nos Estados liquidez. Entre os instrumentos des-
Unidos, na Inglaterra e no Canadá tacados estão os algotraders, a co-lo- e ampliação de dados
– o montante médio das emissões, cation – que propicia conexão entre
mais baixo, indica que companhias os mercados a vista e derivativos – e MARIA HELENA SANTANA,
de pequeno e médio portes têm os fundos ETFs. PRESIDENTE DA COMISSÃO DE VALORES
maior acesso à capitalização. MOBILIÁRIOS (CVM)
A presidente da CVM também *FÁBIO PAHIM É COORDENADOR EDITORIAL DA

destacou as transformações do mer- REVISTA DA NOVA BOLSA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 53


tendências

PÉRsiO aRida indaGa


se VaLe a Pena ManteR
O FGts e O Fat
Um encontro no Instituto Fernando Henri-
que Cardoso reuniu os principais economis-
tas que formularam o Plano Real – André
Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Fran-
co e Pedro Malan, além de Pérsio Arida, que
tratou da disfunção do crédito direcionado
oferecido com base nos fundos para-fiscais,
FGTS e FAT, e nas cadernetas de poupança
POR JOSÉ ROBERTO NASSAR*

O economista Pérsio Arida


está, há tempos, fora do
governo e optou por ficar
longe dos holofotes, mas continua
perscrutando acuradamente a polí-
sileira”, realizado no auditório da
Fundação iFHC, em parceria com
a BM&FBOVESPA, no dia 25 de
agosto. A seu lado estavam outros
quatro membros da equipe que for-
Num ambiente desse tipo, e em
frente ao “chefe” Fernando Henri-
que, os debatedores permitiram-se
uma conversa civilizada, de cunho
liberalizante. Arida, por exem-
tica econômica. Por isso, afirma que mulou e executou o Plano Real (al- plo, numa intervenção que durou
há “três agendas no Brasil de hoje”: guns dos quais reunidos atualmente 17 minutos, não se preocupou em
a modernização do setor público; a na Fundação Casa das Garças, nú- estender-se sobre dados numéricos
situação do “bloco juros-câmbio”; a cleo de estudos ligado à PUC-Rio): nem cravar previsões irretorquíveis.
baixa poupança privada, que além Pedro Malan, Gustavo Franco, An- Preferiu expor as ideias que convi-
de tudo carrega “três óbvias distor- dré Lara Resende e Edmar Bacha. dam a uma discussão mais aprofun-
ções institucionais” – FGTS, FAT e Todos foram concitados a respon- dada. Tanto é assim que dedicou
caderneta de poupança. Arida saiu der à seguinte indagação: passados tempo menor ao primeiro tópico
de seu recolhimento para participar 17 anos do fim da hiperinflação, por de sua agenda: a modernização do
do debate “Transição incompleta e que a taxa de juro ainda é tão alta setor público, item “extremamente
dilemas da (macro)economia bra- no Brasil? complexo”, que envolve mudanças

54 REVISTA DA NOVA BOLSA


no sistema tributário, na partição de Brasil mensurado nos mercados in- depreciado, o que traz o perigo de
receitas/gastos do sistema federativo ternacionais não é compatível com inflação mais à frente) criaram uma
e tem implicação direta na eficiência os altos prêmios demandados nos situação ótima para qualquer inves-
da economia, mas que “infelizmen- mercados domésticos. tidor estrangeiro: “ou ele vai ganhar
te saiu de moda”. Se o Brasil tivesse “Curioso” é que não é um fenô- um enorme diferencial de juro ou
poupança pública, poderia sustentar meno de curto prazo. A taxa é alta vai ganhar esse juro mais apreciação
uma taxa de investimentos compatí- hoje e o mercado, que é horizontal, cambial”. Isso produz “uma dinâmica
vel com um crescimento maior que espera que ela continue alta até onde perversa”. Nossa taxa de câmbio de
4%. “Estamos muito longe de tratar a vista alcança – já a precificou para hoje não é necessariamente a taxa
disso como coisa séria, a começar o longo prazo. Tornou-se um hábi- de equilíbrio dos mercados. Arida
pela própria mensuração. O que se to. Arida – que atualmente, na área gostaria de testar um mercado livre,
chama hoje de superávit do setor pú- corporativa – preside o Conselho sem intervenção do BC, com mais
blico não traduz a noção que as pes- do BTG Pactual – lamenta que te- volatilidade e risco. O resultado po-
soas têm, ou seja, dinheiro disponí- nhamos perdido a oportunidade de deria ser uma taxa mais apreciada ou
vel para novos investimentos ou para baixá-la em 2008, quando o governo menos apreciada do que a atual, mas
saldar dívidas”. fez um mix entre políticas fiscal, mo- valeria a experiência.
netária e creditícia. Se tivesse corta-
NÃO SOMOS ASIÁTICOS do os gastos, segurado o orçamento PAIS E FILHOS
O segundo bloco da agenda do BNDES e feito todo o ajuste via O terceiro item da agenda de
chama mais sua atenção e deixa-o taxa de juro, poderíamos ter criado Arida é a poupança privada. Ele re-
“intrigado”. Primeiro, os juros. Eles outro patamar de referência para ela. lembra as muitas razões que podem
estão altos ou porque os brasilei- “Não é uma certeza, mas é minha explicar porque ela é tão baixa no
ros têm “animal spirit”, são muito intuição: as pessoas se habituariam Brasil. Parte decorre de transferên-
empreendedores e querem investir a uma nova realidade”. Mudanças de cias para a poupança pública, parte
muito, ou porque poupam pouco mentalidade só ocorrem em circuns- revela um elemento cultural, socio-
– a poupança pública é inexisten- tâncias excepcionais, como em 2008. lógico (não somos asiáticos) pró-
te, a privada está em 17% (do PIB). E pode ser que agora (o recrudesci- prio de nosso tecido social, parte é
“Essa é a explicação clara do porquê mento da crise na Europa) esteja res- herança dos tempos inflacionários,
de o juro ser tão alto: ele é a taxa de surgindo essa oportunidade. parte é a desconfiança que nos leva
equilíbrio entre poupança e investi- O câmbio é o segundo aspecto a optar por juros tão extraordinaria-
mento”. Mas há outros aspectos em que o deixa intrigado. O real se va- mente altos. É comum os pais in-
torno disso e Arida recorre mais “a lorizou nos últimos anos (indepen- vestirem todo o dinheiro que têm na
uma conjectura do que qualquer dente dos percalços de setembro educação dos filhos e não proverem
outra coisa”. Há uma desconfiança passado) por “boas razões”, sejam as recursos para sua velhice “dentro do
nos ativos financeiros, afirma; de ligadas ao desempenho econômico, pressuposto tácito de que o filho vai
outro lado, é preciso juro muito aos juros altos ou à própria moder- sustentar o pai”. Nos tempos inflacio-
alto para as pessoas não consumi- nização do Brasil. Mas “há uma di- nários, de confisco financeiro, isso se
rem. O quanto disso pode estar nâmica da apreciação que de certa justificava: melhor investir na educa-
associado à “certa impaciência tem- forma independe do nível da apre- ção do filho do que deixar dinheiro
poral” típica dos países do Novo ciação” (não importa qual a taxa do no banco. Não deixa de ser uma for-
Mundo (e diferente dos asiáticos) momento). Quando isso acontece, ma de poupança um pouco disfarça-
e o quanto está associado a uma “ou se tem uma bolha – que não me da, diz Arida, “dentro da ideia de que
mentalidade que vem dos tempos parece ser o caso – ou se tem algo de aqui existe um laço familiar preva-
da inflação? Exigir ótima remune- distorcivo na formação desse merca- lente e solidário maior do que existe,
ração para os ativos financeiros se do”. Na opinião de Arida, a combina- por exemplo, em sociedades anglo-
justificava pelos sucessivos calotes ção de falta de conversibilidade com saxãs”. É difícil dizer qual pesa mais e
e planos, mas “talvez subsista hoje as intervenções do BC para diminuir ele não tenta quantificar. Mas afirma
por inércia”. Como “mentalidades a volatilidade e os juros altos (além que há distorções institucionais que
mudam muito lentamente”, o risco de o governo não querer câmbio tão poderiam ser mudadas.

REVISTA DA NOVA BOLSA 55


tendências

Na opinião de Arida, também são modernizaria, propiciando mais efi- nossa taxa de crescimento”. Todos,
três as “óbvias” distorções, “claramen- ciência à economia. de certa forma, remetem à questão
te disfuncionais”: o Fundo de Garan- O sistema FAT segue a trilha do do crédito direcionado, que segue
tia do Tempo de Serviço (FGTS), o FGTS, embora seja ainda “mais es- suscitando debates candentes – e
Fundo de Amparo ao Trabalhador tranho”. Híbrido, nem aparece como eles surgiram ao final das palestras
(FAT) e a caderneta de poupança. poupança. É um imposto que as no evento do iFHC. Seus defenso-
São arranjos feitos em períodos de empresas pagam e que também não res, dentro e fora do governo, argu-
alta inflação, polêmicos, politicamen- passa pelo orçamento. Em ambos os mentam que o crédito direcionado é
te indigestos, e não estão na agenda casos, os recursos são emprestados a um instrumento que garante recur-
do governo. O FGTS é algo entre se- taxas abaixo das do mercado, o que sos para políticas públicas voltadas a
guro-desemprego [foi concedido em tem “consequência óbvia”: a Selic, objetivos especialmente prioritários
1964 como compensação para a ex- taxa geral de juro, tem de ser mais ou sensíveis – como habitação, sa-
tinção da estabilidade no emprego] e alta do que precisaria ser. “Beneficia- neamento, outras áreas sociais (e até
aposentadoria e como tal colide com se um grupo de empresários às ex- produção de alimentos). Sem ele, o
esses dois. Tem garantia da União, pensas de todo o resto da sociedade. dinheiro cairia na vala comum e po-
mas é antes de mais nada um enorme Se não tivéssemos esses mecanismos deria procurar outros destinos. Arida
imposto, regressivo, se for compara- artificiais de precificação, haveria não concorda. Lembra que, quando
da a rentabilidade que ele oferece à certamente uma Selic mais baixa, foi diretor do Banco Central, nos
do mercado financeiro – “mistura de tudo o mais constante”. anos 1980, havia um imposto que
poupança compulsória com taxação A caderneta de poupança, por os bancos pagavam toda vez que al-
sobre os trabalhadores”. sua vez, é mais um arranjo institu- guém dava um cheque sem fundo (o
cional herdado dos tempos inflacio- Funcheque) – o que naturalmente
TUTELA ANTICIDADÃ nários, quando havia correção mo- repassavam para a taxa de juro – e o
A quem beneficia esse imposto? netária mais os 6% atuais. Embora dinheiro era repassado para a educa-
– indaga Arida, se ele não passa pelo voluntária, tem garantia do Tesouro, ção. “Zerei a alíquota e caiu o mun-
orçamento da União, pois vai direto o que justifica rendimento menor do do”. As pessoas diziam que educação
para os empresários que usam esses que os juros de mercado, e destina- era um problema crítico e que aquilo
recursos. “Justifica-se essa taxação e se a oferecer um crédito direcionado, custeava livros para o Nordeste. É
essa transferência entre classes para como o FGTS e o FAT. “Coisa óbvia certo, o dinheiro ia para algum lugar,
usar um termo marxista? A resposta de uma economia eficiente é deixar pelo menos em parte. Mas “vale
é não”. Será que o trabalhador, que a poupança escoar livremente para a pena esse tipo de arranjo? Não”.
elege presidentes e é responsabiliza- o investimento. Se você canaliza, Sem essas limitações, o dinheiro se-
do até criminalmente por seus atos, segrega, cria mercados cativos, você ria mais bem canalizado se passasse
não tem capacidade de administrar está criando distorções”, argumen- pelo orçamento. Governo e parla-
seu próprio dinheiro? “Existe um ta Arida. Poupança, segundo ele, é mentares decidiriam em conjunto o
pressuposto de tutela estatal sobre o que menos distorce entre os três, seu destino, o mercado diminuiria a
a poupança que vai contra qualquer mas cria potencialmente um piso taxa de juro dos empréstimos, a ar-
ideia moderna de cidadania”. Manei- para a taxa de juro. Se algum dia a recadação de impostos e a atividade
ras de reformar o sistema existem, taxa nominal de juro brasileira che- econômica cresceriam. “Sempre ha-
segundo Arida, e passam pelo mer- gar perto de 7%/7,5% e a poupança verá alguém para dizer: esse dinheiro
cado: os trabalhadores poderiam continuar rendendo 6%, com garan- vai sumir, não vai para os livros do
aumentar a remuneração de seu tia do Tesouro, “em algum momento Nordeste. Não é necessariamente
FGTS, escolhendo que instituição fi- será preciso mexer nisso”. verdade. Quando se elimina uma
nanceira vai administrar os recursos, distorção, há um ganho de eficiência
num ambiente de competição, re- CRÉDITO DIRECIONADO que quase sempre, como regra bási-
gulação e moderação no sentido do Uma reforma nesses três pontos ca, mais do que compensa”.
risco – vários países do mundo têm da agenda “certamente tornaria a
coisa parecida no caso de poupança economia mais eficiente, aumentaria *JOSÉ ROBERTO NASSAR É JORNALISTA
compulsória. Com isso, o sistema se a poupança privada e se refletiria em ECONÔMICO.

56 REVISTA DA NOVA BOLSA


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ensaio

pequeno investidor
Entre os mais amplos e variados textos encon-
trados na web estão os que tratam do pequeno
investidor e de como ensiná-lo a aplicar a sua
poupança. Existem as mais variadas dicas sobre
como investidores com esse perfil podem ganhar
dinheiro no mercado financeiro
POR FABIO GALLO GARCIA*

O bviamente, algumas in-


coerências e deslizes são
cometidos quando são
abordadas as questões relativas ao
pequeno investidor. De início surge a
dinheiro, assim como fazemos com
os nossos pagamentos de despesas.
Finalmente, temos de conhecer mais
sobre investimentos.
Um dos textos interessantes que
Para podermos ajudar quem
chega ao mercado e cativá-lo para
que continue como investidor, essas
lições são as primeiras que devem ser
passadas. É, também, preciso enten-
questão: como classificar o pequeno tanto dá dicas para o investidor ini- der que investir é um ato de sacrifício
investidor? Aqui, não farei nenhum ciante, como para os profissionais e que as pessoas investem para poder
tratado sobre essa classificação, mas que oferecem oportunidades de in- consumir com prazer, estarem pron-
cabe identificar suas duas principais vestimentos, é a cartilha da Comis- tas para a aposentadoria e prepara-
características: são iniciantes e têm são de Valores Mobiliários (CVM). das para alguma emergência.
poucos recursos para aplicar. Esse texto traz os cuidados que todos Consumir com prazer é justa-
Como ponto de partida, é ne- devem ter quando realizam um in- mente poder comprar o que se deseja
cessário entender que boa parte das vestimento – traduzidos em direitos sem acordar no dia seguinte com dor
pessoas tem como sonho “investir e dos investidores, que são: de cabeça porque foi reconhecido
ficar rico”. E acreditam que isso seja que não há como pagar aquela conta.
possível do dia para noite. Mas, colo- n fazer perguntas; Investir também pode significar estar
car dinheiro em algo e ficar rico num n conhecer as oportunidades de in- bem preparado para a aposentadoria
piscar de olhos é apostar, não é inves- vestimento; – afinal, quem não quer viver digna-
tir. Investir é algo diferente. n conhecer as regras; mente nessa fase da vida? Mas todos
Investir é acumular recursos de n fazer valer a escolha; sabem que, de vez em quando, a vida
maneira inteligente. Isso exige plane- n ter acesso às informações; nos apresenta algumas emergências,
jamento, disciplina e conhecimento n conhecer os riscos; nem sempre algo negativo como
de finanças. Planejar no sentido de n conhecer os custos; uma doença, às vezes, pode ser algo
organizar a nossa vida financeira. De- n ler previamente o contrato; bom, mas sempre há demanda de
vemos, também, ter disciplina, ser- n receber documentação dinheiro. Quem não tem exemplos
mos rigorosos nas nossas aplicações, n comprobatória do seu investi- dessas situações?
pois quando decidimos fazer uma mento; Outro aspecto que chama aten-
poupança, devemos separar aquele n fazer valer os seus direitos. ção é o fato de que esse vasto mate-

58 REVISTA DA NOVA BOLSA


Outra pergunta é feita, muitas
vezes, por investidores iniciantes: é
somente isso que deve ser considera-
do na hora do investimento?
A resposta objetiva é não.
A classificação de risco, embora
seja útil numa abordagem inicial, não
é suficiente para a decisão do investi-
mento. Deve-se considerar também o
perfil do investidor. Cada pessoa tem
um perfil em relação ao risco. A per-
sonalidade, a idade, suas experiências
de vida etc., fazem que cada um tenha
o seu próprio grau de aversão ao ris-
co, que representa o quanto a pessoa
se ressente com perdas no seu inves-
timento. Esse tipo de teste que busca
saber o grau de aversão ao risco, e as-
sim, conhecer o perfil do investidor,
é encontrado acessando os diversos
sites dos bancos e dos fundos de in-
vestimento disponíveis na internet.
Mas, somente conhecer o perfil
de risco do investidor não traz todas
as respostas. Duas outras variáveis
rial sobre o pequeno investidor co- de risco, assim não há como garantir muito importantes devem ser leva-
meça quase invariavelmente dando rentabilidade. das em consideração:
dicas de como ele entra no mercado Com base nesse raciocínio surge
e “começa a ganhar”, sem a preocu- uma das máximas constantemente n o tempo disponível para a realiza-
pação de esclarecer o básico sobre faladas sobre investimentos: “quanto ção do objetivo-alvo daquele in-
investimentos. Duas palavrinhas má- maior o risco, maior o retorno”. Mas, vestimento;
gicas em finanças devem ser postas isso não é tão óbvio assim, pois fica- n a utilidade marginal do dinheiro

desde o início: risco e retorno. As- mos com a impressão de que basta investido, ou seja, a importância
sim, é essencial mostrar que investir correr mais risco, que iremos ganhar do investimento em relação ao or-
significa aplicar os recursos acumu- mais. Na verdade, o correto é dizer: çamento do investidor.
lados (poupança) em algum ativo fi- “quanto maior o risco, maior o retor- Naturalmente, uma pessoa com
nanceiro, na expectativa de um retor- no esperado”. Note que a diferença mais idade e com patrimônio pesso-
no, no futuro. Neste aspecto, quando entre as frases é a palavra “esperado”, al mais elevado não está, em geral,
falamos do futuro estamos no campo porque quanto maior o risco, menos disposta a correr riscos altos. De
da incerteza. Quando medimos a in- certeza teremos do retorno. Mas, sim, maneira diferente, um jovem solteiro
certeza, estamos calculando o risco esperamos obter um retorno maior. que possua uma quantia substancial
associado àquele retorno. Em outros Justamente no aspecto risco en- de dinheiro no banco e que não te-
termos, quando se fala da incerteza contramos uma das dificuldades de nha utilidade para esses recursos, no
está se falando do risco associado a mercado. Como avaliar corretamen- curto prazo, pode se atrever a correr
perda ou prejuízo. Ou seja, trata-se te o grau de risco dos investimentos? riscos bem mais altos.
da possibilidade de ocorrência de Uma classificação geral e relativa Para ajudar no processo de deci-
evento desfavorável. Qualquer tipo entre os diversos ativos financeiros são sobre o grau de risco mais indica-
de aplicação apresenta algum grau pode ser vista na Tabela 1. do para o investidor, veja a Tabela 2.

REVISTA DA NOVA BOLSA 59


ensaio

Tabela 1

Riscos Cad. poupança CBD Fundos RF Ações


Mercado Baixo Médio Médio Alto
Liquidez Baixo Baixo Baixo Baixo
Crédito Médio Médio Baixo Médio

Riscos Arte Commodities Derivativos Imóveis


Mercado Muito alto Alto Muito alto Médio
Liquidez Muito alto Baixo Baixo Muito alto
Crédito Muito alto Médio Médio Baixo

Tabela 2

IMpORtânCIA DO InvestIMentO

fundamental complemento sem importância

curto 0 1 3
p
R
A médio 1 2 4
z
O
longo 2 3 5

A Tabela 2 mostra a graduação CDB, outra parte, em fundo de ren- que possamos ter uma visão mais ade-
de riscos de 0 a 5, considerando as da fixa e outra, em fundo de ações. quada sobre investimentos, particular-
duas variáveis (prazo e importância A diversificação é algo que deve mente acerca do pequeno investidor.
do investimento). O nível 0 signifi- ser buscado sempre. No entanto, te- Economia tem origem grega no
ca que o investidor não pode correr mos de considerar os custos da diver- termo Oikonomia, que, por sua vez,
risco e o nível 5 indica que ele pode sificação. Devemos lembrar que toda é composto de oikos e da raiz nem.
correr risco muito alto, investindo aplicação traz taxas de corretagem, Oikos significa casa, propriedade, lar.
em ativos muito arriscados. tributos e outros gastos que podem E a raiz nem assume o sentido de re-
Por outro lado, quem nunca ou- reduzir muito o retorno esperado das gular, organizar, administrar. Assim,
viu aquele velho conselho da vovó: nossas aplicações. Assim, também te- economia é, em essência, adminis-
“Filhinho, não coloque todos os mos de entender que a diversificação tração da casa, cuja condução deve
ovos na mesma cesta porque, se ela não é para todos os bolsos. No caso ter como princípios a garantia de sua
cair todos, os ovos irão quebrar”. do pequeno investidor, muitas vezes, perenidade e bem-estar. Extraímos
O mundo de finanças considera a diversificação não é aplicável em seu assim de Xenofontes e Aristóteles
esse conselho uma de suas máximas. sentido mais amplo. Mas, podem ser uma importante lição de que qual-
O que está por trás dessa frase é o indicados produtos financeiros que quer que seja a condução de nosso
conceito da diversificação. Diversifi- contenham naturalmente ativos di- dinheiro, ele deve ter em vista a ma-
car é aplicar o dinheiro em vários ati- versificados em sua concepção, como nutenção de nosso bem-estar.
vos financeiros. Assim, manteremos fundos de ações, fundos imobiliários,
o retorno médio esperado e teremos índices de ações etc. *FABIO GALLO É PROFESSOR DE FINANÇAS DA
PUC-SP E FGV-EAESP, RESPONSÁVEL PELA CO-
o risco total reduzido. Por exemplo: Finalmente, devemos lembrar o LUNA “SEU DINHEIRO” NO JORNAL O ESTADO
parte do dinheiro é aplicada em significado da palavra economia para DE S. PAULO E RÁDIO ESTADÃO ESPN.

60 REVISTA DA NOVA BOLSA


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noVa PlataFoRMa toRna


negociaÇÃo ainDa MaiS RÁPiDa
Está em operação o PUMA Trading System – sistema de negociação
desenvolvido pelo CME Group e pela BM&FBOVESPA. Em outubro,
foi concluída a primeira etapa: a migração dos contratos de câm-
bio pronto e de derivativos agropecuários, financeiros e baseados
em índices de ações para a nova plataforma, reduzindo o tempo
de execução de ordem para menos de 1 milésimo de segundo

POR THEO CARNIER*

A conclusão da primeira etapa de implantação do


PUMA Trading System BM&FBOVESPA assegu-
rou importante ganho de tempo em algumas ope-
rações realizadas na Bolsa: contratos de câmbio pronto e de
derivativos agropecuários, financeiros e baseados em índices
Demarco ressalta que os operadores de alta frequên-
cia (HFTs, na sigla em inglês) são cada vez mais presentes
nos mercados de bolsa e exigem cada vez mais velocida-
de e precisão das informações – demanda que está sendo
atendida com a implantação do PUMA Trading System
de ações. O tempo médio de negociação passou de 15 milési- BM&FBOVESPA.
mos de segundo para abaixo de 1 milésimo de segundo. A nova plataforma faz parte da estratégia da Bolsa de
A redução tem importância vital para os investidores. O substituir os sistemas anteriores de negociação, com o pro-
tempo é um diferencial que, na maioria dos casos, significa pósito de tornar o processo mais eficiente. “São mudanças
a diferença entre ganhar e perder. “Conseguimos, em pou- que dão mais eficiência, velocidade e flexibilidade às tran-
cos meses, diminuir expressivamente o tempo médio de ne- sações. O operador tem todos os produtos em uma tela.
gociação”, afirma André Demarco, diretor de Operações da Antes eram quatro. Há uma vantagem fantástica: acelera-
BM&FBOVESPA. “Além disso, o sistema de negociação pas- ção de decisão”.
sou a ser mais simples, o que também beneficia o investidor”. Segundo André Demarco, estão previstas mais duas
etapas: a substituição dos sistemas Mega Bolsa (negocia-
ção de ações), no segundo semestre de 2012; Bovespa FIX
e Sisbex (títulos de renda fixa e títulos públicos) em 2013.
O diretor de Operações da BM&FBOVESPA diz que o
processo de substituição das plataformas, ainda que gradativo,
FaSeS De iMPlantantaÇÃo têm de ser contínuo: “É diferente de um big bang, ou seja, de
Da noVa PlataFoRMa uma mudança que acontece de um dia para o outro. É preciso
ter cuidado para reduzir o risco de algo não sair como estava
• 1ª Etapa: substituição do GTS (câmbio pronto programado. No entanto, não se pode demorar, porque o
e derivativos) – Em operação desde outubro mercado demanda aperfeiçoamentos. Trabalhamos com
• 2ª Etapa: substituição do Mega Bolsa (ações e essas prioridades e estamos conseguindo cumprir as etapas
derivativos de ações) – Previsão: 2º semestre 2012 do trabalho, sem fugir do cronograma”.

• 3ª Etapa: substituição do Bovespa Fix (títulos *THEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.


privados de renda fixa) e do Sisbex (títulos públicos)
62– REVISTA
Previsão: 2013BOLSA
DA NOVA
mercado de capitais

NoVa porta aBerta para


o iNVestidor
A BM&FBOVESPA e outras seis bolsas de
países emergentes assinaram, em reunião
da Federação Mundial de Bolsas, acordo
destinado a fortalecer o processo de inter-
nacionalização dos mercados, prevendo,
inicialmente, a negociação de derivativos
de índice, até chegar, no futuro, à ampla
listagem cruzada (cross-listing)

POR THEO CARNIER*

U m acordo entre bolsas com capitalização so-


mada de US$9,02 trilhões entrará em vigor
no primeiro semestre de 2012. A iniciativa foi
anunciada, em outubro, pelos presidentes de sete bol-
sas, entre as principais dos países BRICS (Brasil, Rússia,
da Índia, a Hong Kong Exchange como o representante
chinês inicial, e a Johannesburg Stock Exchange ( JSE),
da África do Sul. A NSE e a BSE Ltd. (ex-Bombay Stock
Exchange) já assinaram cartas de apoio e vão aderir à
aliança após a eliminação de algumas pendências.
índia e China), mais a África do Sul. “É mais uma gran- No início, as bolsas, que foram responsáveis por
de oportunidade para os investidores”, resumiu Edemir mais de 18% do volume de contratos de derivativos ne-
Pinto, diretor presidente da BM&FBOVESPA, durante gociados em ambiente de bolsa no mundo desde junho
a cerimônia de anúncio do acordo, realizada em Joha- deste ano, terão listagens cruzadas de derivativos de
nesburgo, na África do Sul, na 51ª reunião anual geral índices. Depois disso, o grupo desenvolverá produtos
da Federação Mundial de Bolsas (WFE– World Federa- inovadores para acompanhar as bolsas BRICS.
tion of Exchanges). Na primeira fase do acordo, o Ibovespa (índice re-
A iniciativa prevê que, na primeira fase, as bolsas te- ferência do segmento Bovespa da bolsa brasileira) será
rão listagens cruzadas de derivativos de índices. Trata-se negociado nos mercados dos BRICS, assim como os ín-
de uma alternativa atraente para os investidores, em mer- dices de ações mais representativos dos países do grupo
cados que giram um volume financeiro médio diário de serão listados no Brasil.
US$422 bilhões, com 9.481 empresas listadas, de acordo Edemir Pinto explica que os contratos futuro e de
com estatísticas da WFE e de sites RTS. opções serão comprados e vendidos sempre em moeda
Fazem parte do acordo, além da BM&FBOVESPA, a local. “Não há compromisso de começar a negociação
Micex russa, a National Stock Exchange of Índia (NSE), dos produtos em todas as bolsas ao mesmo tempo. Até

64 REVISTA DA NOVA BOLSA


porque os acordos são feitos bilateralmente”, recorda. poderão negociar papel brasileiro na moeda deles”,
Segundo ele, as negociações com Hong Kong, África lembra Edemir.
do Sul e Índia devem ser iniciadas antes da Rússia, que Ronald Arculli, presidente da Hong Kong Stock Ex-
ainda está decidindo qual dos índices acionários (um é change e da WFE, também comemorou o acordo. “In-
cotado em dólar e outro, em rublo) deverá utilizar. vestidores globais estão cada vez mais procurando aces-
O presidente da BM&FBOVESPA não forneceu so aos maiores mercados em desenvolvimento”, garan-
pormenores sobre a fórmula que será utilizada no rateio tiu. “Esta iniciativa foi inspirada pelo relacionamento
da receita das negociações entre as bolsas, mas adiantou: próximo entre as bolsas de valores dos países do BRIC,
“Não é necessariamente 50% e 50%, depende do produto por meio do qual os investidores globais ganharão aces-
e das bolsas envolvidas. Mas prefiro não revelar, porque so aos derivativos de índices de ações que agora serão
faz parte da estratégia comercial de cada país”. cotados nas moedas locais destas bolsas. Estas listagens
cruzadas ocorrerão até junho de 2012”, previu.
O CÉU É O LIMITE Arculli reforça a importância da iniciativa das bol-
A segunda fase do acordo entre as bolsas será ainda sas lembrando que “a aliança permite que mais inves-
mais usada – a proposta é criar um índice dos BRICS tidores ganhem acesso ao bloco dos BRICS, com seu
composto, de forma ponderada, pelos índices dos mer- crescente poder econômico. Do ponto de vista global,
cados que fazem parte da aliança - que será listado nas o acordo aponta para a importância crescente das eco-
bolsas participantes. Ainda está em estudo como será a nomias e mercados financeiros dos BRICS na próxima
participação de cada um dos países. década e ressalta a necessidade do relacionamento entre
Outro passo que será dado no segundo momento os países desse bloco”.
é a possibilidade de as empresas terem dupla listagem. Além de medir o desempenho dos mercados, os
Ou seja, ter operações não só no Brasil, mas também em índices também servem como base para outros produ-
Hong Kong e Índia, por exemplo. tos financeiros, inclusive ETFs. “Para a segunda fase do
A segunda etapa também incluirá o desenvolvi- acordo, as bolsas concordaram em trabalhar juntas no
mento de produtos que oferecem acesso às empresas desenvolvimento de produtos novos para listagens cru-
listadas em todas as bolsas da aliança. “Depois disso, zadas nestas bolsas”, explicou Russell Loubser, diretor
acontecerá a listagem cruzada desses produtos e sua ne- presidente da JSE.
gociação em moeda local”, disse o diretor presidente da “Além dos produtos de listagem cruzada, existem
BM&FBOVESPA. “Os produtos também permitirão outras oportunidades que podemos explorar e que pro-
que os investidores acessem outros mercados em de- moverão maior desenvolvimento desses mercados e
senvolvimento por meio de um produto listado local”. melhor entendimento sobre os mesmos”, previu Ruben
A terceira e última fase ocorrerá com a criação de Aganbegyan, presidente da Micex.
produtos únicos, como fundos de índices (Exchange “A aliança das bolsas dos BRICS é muito promisso-
Traded Fund ou ETF) e índices mais específicos. ra, pois criará meios para que os investidores indianos
“Como somos (os países que fazem parte do acor- possam diversificar e expandir para outros mercados”,
do) grandes produtores e compradores de commodi- opinou Madhu Kannan, diretor presidente da BSE Ltd.
ties, podemos ter um índice com as ações das compa- “Essa aliança também criará oportunidades para que os
nhias ligadas ao setor de cada país. A pista estará livre investidores dos outros países do bloco possam parti-
e haverá possibilidade de inovarmos. O céu é o limite”, cipar e contribuir para o crescimento da Índia. A BSE
afirma Edemir Pinto. se empenhará em trazer produtos de nível mundial para
A aliança não interfere na parceria da Índia e desenvolver novos produtos para os outros mer-
BM&FBOVESPA com a CME, de Chicago, que prevê cados BRICS”, completou.
que o Ibovespa seja negociado nos Estados Unidos e Há grande interesse nas economias dos BRICS
que o S&P 500, um dos mais negociados no mercado por causa do crescimento acima da média previsto para
americano, esteja à disposição do investidor no Brasil. essas regiões e devido ao poder de consumo da sua
“É mais um produto para investidores”, diz. Além des- crescente classe média. “O crescimento dessa classe de
se, há o Brazil Easy Invest (BIM) que permitirá que a consumidores sugere que a demanda também crescerá
plataforma brasileira funcione nos quatro continentes, nestes países”, opinou Ravi Narain, diretor presidente
a partir do ano que vem. “Investidores de fora do País da National Stock Exchange of India.

REVISTA DA NOVA BOLSA 65


mercado de capitais

AS BOLSAS QUE DECIDIRAM OUSAR


ALÉM DA BM&FBOVESPA, FAzEM PARTE DO ACORDO ANUNCIADO
EM OUTUBRO AS SEgUINTES BOLSAS:

rts Group
Tem infraestrutura de negocia-
ção e liquidação integrada e
fornece serviços de alta quali-
dade e é considerada uma das
mais importantes operadoras
de derivativos. Seu mercado
de derivativos FORTS está en-
tre os dez mais importantes do
mundo. RTS também opera a
RTS Standard, um mercado de
ações a vista, em que negócios
são realizados com depósito
parcial de garantias com liqui-
dação em D+4.

FOtOS: DIVULgAçãO
Nse
A National Stock Exchange of
India foi fundada por algumas
das instituições financeiras
mais importantes da Índia e
começou a operar em junho
de 1994. Em um ano, tornou-
se a maior bolsa de valores
da Índia. Tem destaque no
ranking mundial, ocupando o
4° lugar em volume de nego-
ciações com ações, o 2° lugar
em opções sobre ações, e o
3° lugar tanto em futuros de
ações, como em futuros de
índices de ações.

66 REVISTA DA NOVA BOLSA


Bse
Fundada em 1875, a BSE Ltd. (ex- Bom-
bay Stock Exchange) é a primeira bolsa
de valores da Ásia e um dos maiores
grupos de bolsa da Índia, com foco no
desenvolvimento do mercado de capi-
tais indiano. Suas parceiras estratégicas
incluem duas das mais importantes
bolsas do mundo, a Deutsche Börse e a
Singapore Exchange.

FOLhAPRESS
HKex
Opera no mercado de títulos e de derivativos
em Hong Kong, além das clearings desses
mercados. Abriu o capital em 2000 e hoje
é uma das maiores operadoras de bolsa do
mundo, na capitalização das suas ações.

micex Group
É uma bolsa integrada, com um con-
junto completo de serviços competi-
tivos voltada a participantes dos mer-
cados financeiros, incluindo nego-
ciação, compensação e liquidação, e
serviços de depositária e de informa-
ção. A Micex está entre as 20 maio-
Jse
res bolsas do mundo em volume de
única bolsa de títulos de África do Sul, conecta compra- ações negociadas, e está negociando
dores e vendedores dos mercados de ações, de deriva- uma fusão com a RTS – outra bolsa
tivos sobre ações, derivativos de câmbio, derivativos de russa de grande escala.
commodities e derivativos de juros. Está entre as 20 maio-
res bolsas de valores do mundo em capitalização bursátil. *THEO CARNIER É JORNALISTA ECONÔMICO.

REVISTA DA NOVA BOLSA 67


popularização

o BM&FBoVESpa Vai
ao CaMpo CHEGa ÀS CiDaDES-
CHaVE Do aGroNEGÓCio
Em quatro anos, o módulo rural do programa de popularização
atendeu mais de 15 mil pessoas das 31 cidades mais importan-
tes para o agronegócio – ou seja, para o setor que mais contribui
para o equilíbrio do balanço de pagamentos
POR SÍLVIA PENTEADO* FOTO AgêNcIA Luz

O programa BM&FBOVESPA Vai ao Campo


está completando quatro anos de trabalho
com saldo bastante positivo. Já visitou 31 ci-
dades, todas referência para o agronegócio brasileiro, e
atendeu 16.152 pessoas.
lizar uma linguagem simples e didática, acessível para um
público leigo. Além de incentivar o crescimento do mer-
cado e divulgar os produtos da Bolsa, as visitas têm como
objetivo auxiliar, efetivamente, na geração de maior ren-
dimento para o agronegócio, protegendo o patrimônio de
A cada ano são visitadas sete cidades. Este ano, foram quem investe no campo.
Primavera do Leste, no Mato Grosso; Paracatu, em Minas
Gerais; Palmas, em Tocantins; Goiatuba, em Goiás; Ho- PÚBLICO DIVERSIFICADO
lambra, em São Paulo; Chapecó, em Santa Catarina, ter- Segundo o professor José Alberto Netto Filho, um dos
minando em Maringá, no Paraná, onde a programação foi palestrantes do programa, predominam nas plateias pesso-
aberta por Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócio e as ligadas ao agronegócio, mas também participam estu-
Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil, parceiro dantes e outros, pois o sistema de divulgação do evento – o
exclusivo do Vai ao Campo em 2011. Bolsamóvel e as mídias locais – é dirigido a todos os públi-
Também participaram o diretor de Commodities cos. “A resposta tem sido muito boa. Temos tido sempre
da Bolsa, Ivan Wedekin, que tratou do Gerenciamento de casa cheia e uma plateia interessada”. Quando o programa
Riscos no Agronegócio; o consultor da BM&FBOVESPA, volta a uma cidade nota-se uma nítida evolução do público:
João Pedro Cuthi Dias, especializado em derivativos de “As questões colocadas são mais específicas e mais direcio-
commodities, de Mercados Futuros, e o professor de edu- nadas, o que mostra que tem havido uma boa assimilação
cação financeira da Bolsa, José Alberto Netto Filho, dos das informações. Ficou a memória, ficou o referencial”.
temas Educação Financeira – O que Você Precisa Saber so- Numa das cidades visitadas, um senhor, acompanha-
bre Finanças Pessoais e Oportunidades de Investimento e o do do neto, o convidou a visitar o estande da empresa,
Mercado de Ações. Houve ainda sessão especial com técni- uma grande indústria na área de algodão, com filiais nos
cos do Banco do Brasil sobre proteção de preços agrope- Estados Unidos. Na conversa, José Alberto enfatizou a
cuários e proteção cambial. importância das noções de educação financeira recebi-
Esses temas fazem parte do conteúdo básico de todas das, principalmente por parte do rapaz. Deu ênfase, so-
as visitas do programa. As palestras, gratuitas, são apresen- bretudo, à questão da construção da riqueza, que leva
tadas por especialistas e consultores da BM&FBOVESPA uma eternidade, mas pode ser destruída da noite para o
e do Banco do Brasil, sempre com a preocupação de uti- dia. E foi ouvido com atenção.

68 REVISTA DA NOVA BOLSA


EducaçãO FinancEiRa
O BM&FBOVESPA Vai ao Campo é um dos módulos do
programa BM&FBOVESPA Vai até Você que, por sua vez, é
uma das inúmeras ações de educação financeira desenvol-
vidas pela Bolsa. As ações foram criadas a partir do reco-
nhecimento da BM&FBOVESPA da importância de oferecer
atividades e cursos para a comunidade sobre planejamento
financeiro e sobre o funcionamento dos mercados de capi-
tais e de derivativos, como alternativa relevante para a for-
mação de poupança e patrimônio. “É gratificante a experiência de levar essas informa-
Também integram essas ações pioneiras da Bolsa, visi-
tas monitoradas, palestras regionais, viagens com unidade ções até a população que normalmente não tem acesso.
móvel por todo Brasil, aulas gratuitas, concursos estudantis, A partir de feedback obtido na hora do cafezinho, vamos
parcerias com instituições de ensino, simuladores, portais aperfeiçoando nossa fala, nos aproximando ainda mais do
interativos e programas de televisão. público”, reforça.
O resultado do trabalho tem sido significativo. De 2002,
quando foi criado, até agosto de 2011, mais de três milhões
de pessoas foram alcançadas por uma das ações educati-
A ESCOLHA DAS CIDADES
vas da Bolsa. Só no BM&FBOVESPA Vai Até Você foram 671 Segundo Ivan Wedekin, diretor de Commodities da
mil pessoas. O portal Mulheres em Ação já recebeu 230 mil BM&FBOVESPA, as cidades são escolhidas levando em
acessos e o Espaço BM&FBOVESPA, mais de 600 mil pessoas. conta fatores que são referência do agronegócio – o setor
Os simuladores de ações contam com mais de um milhão que mais gera superávit comercial, contribuindo para o
de usuários; o de mercados futuros, 69 mil, e o do Tesouro equilíbrio do balanço de pagamentos. A Bolsa analisa, por
Direto, 173 mil.
Os cursos do Educar, gratuitos e adaptados a públicos exemplo, os indicadores agropecuários. Conta também
que vão de 11 anos à Terceira Idade, atingiram desde o lan- com a ajuda da Confederação Nacional da Agricultura
çamento, em 2006, mais de 168 mil pessoas; o curso Como (CNA), dos sindicatos e das associações do setor. Entra
Investir em Ações chegou, até agosto, a mais de 23 mil na conta o interesse dos patrocinadores, no caso de 2011,
pessoas; e o curso on-line Finanças Pessoais e Mercado de o Banco do Brasil, e das corretoras associadas.
Ações, lançado no ano passado, atendeu, até agosto, mais
Cidade escolhida, a BM&FBOVESPA mobiliza to-
de 243 mil pessoas.  O portal Quer ser Sócio? ultrapassou,
em 10 de outubro, a marca de 1 milhão de acessos desde dos os meios de que dispõe para um forte trabalho de
seu lançamento, em agosto de 2010, com a média diária divulgação. Nessa tarefa, exerce papel fundamental o Bol-
de 2.416 acessos. A média de audiência domiciliar do pro- samóvel, unidade itinerante de atendimento, que circula
grama de TV, Educação Financeira, em parceria com a TV pelas cidades visitadas, distribuindo folhetos informati-
Cultura, segundo o Ibope, foi de 54 mil residências em sua vos sobre o funcionamento dos mercados da Bolsa e di-
terceira temporada, exibida este ano. E o Fica Mais, até ju-
nho, recebeu a adesão de 15.034 investidores. vulgando a agenda de eventos. Também são feitas visitas
Tudo isso, certamente, significa uma enorme contri- às faculdades da região.
buição para o crescimento do número de investidores no “Ainda hoje, a fração da população que investe no
mercado acionário. Eles eram 85 mil em 2002 e hoje são 595 mercado acionário é pequena. Nossas ações visam, prin-
mil, a maior parte deles concentrados na faixa etária entre cipalmente, quebrar a barreira cultural que limita a expan-
26 e 35 anos. É preciso dizer mais?
são dos mercados derivativos e também de ações”, explica
Wedekin. Ele se mostra entusiasmado com o fato de o
mercado de derivativos – que pode ser bastante compli-
cado para a população em geral – estar “caindo cada vez
mais na boca do povo” graças ao programa de populari-
zação da Bolsa. “Em Maringá, as palestras contavam com
mais de 200 participantes, o que demonstra o interesse
efetivo em conhecer mais, em entender como o mercado
funciona no dia a dia”.

*SÍLVIA PENTEADO É JORNALISTA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 69


responsabilidade social

conQUisTa inÉdiTa de
Fabiana MUrer no
MUndial de aTleTisMo
Mais do que um sonho, a conquista da medalha
de ouro na Coreia do Sul foi possível graças ao
treinamento proporcionado pela BM&FBOVESPA
e pelo técnico, Elson Miranda, que se formou
com os maiores especialistas do mundo
POR SÍLVIA PENTEADO* FOTO AgêNcIA Luz

70 REVISTA DA NOVA BOLSA


A tensão e a concentração an-
tes de um salto com vara,
seja numa disputa interna,
seja num campeonato mundial, é ex-
trema. É preciso esquecer o mundo a
na, pois é muito difícil ter dois anos
seguidos tão favoráveis. “O bom
resultado mostra que estou sendo
constante”, comemora.
Embora a maioria das compe-
to com vara da adolescente alta e ma-
gra que vinha da ginástica olímpica.
Atleta da modalidade, Élson já havia
sentido na pele a falta de apoio e de
conhecimento. Decidido a se tornar
sua volta. O objetivo é ultrapassar o tições de que participou em 2011 técnico, foi buscar experiências bem-
sarrafo, colocado a quase cinco me- fizessem parte da Diamond League, sucedidas pelo mundo.
tros do chão – o equivalente à altu- todas foram encaradas como prepa- Entre 1997 e 2000, aprendeu
ra de um sobrado – sem derrubá-lo. ratórias para Daegu, sede da festa com o técnico Earl Bell, em Jonesbo-
“Quando vejo que passei e o sarrafo máxima do atletismo mundial. A ro, Arkansas (Estados Unidos). Em
continua lá, já desço comemoran- intenção era obter bons resultados, seguida embarcou para Leverkusen,
do”, conta Fabiana Murer, do Clu- mas sem a pressão de somar pon- na Alemanha, onde o polonês Lesch
be de Atletismo BM&FBOVESPA tos para a Diamond League. Com Klima treinava os melhores atletas
que, em agosto, marcou um tento essa estratégia, Elson tinha certeza alemães da modalidade. E de lá foi
e tanto para o Brasil. Ganhou a pri- de que em Daegu o pódio era bem para a Itália atrás de Vitaly Petrov,
meira medalha de ouro individual possível para Fabiana. “Só não dava um dos técnicos mais conceituados
na modalidade, no Mundial de Atle- para saber a cor da medalha, pois no mundo por seu trabalho com o
tismo de Daegu, na Coreia do Sul. tudo indicava que seria um Mundial multicampeão e recordista mundial,
Bateu as duas favoritas da prova, a mais forte do que o último.” A bola Sergey Bubka.
russa Yelena Isinbayeva, recordista de cristal de Elson estava certa. O primeiro contato com Petrov
mundial, bicampeã olímpica e cam- O ouro em Daegu significou a foi em outubro de 2001. Teve a sorte
peã mundial em 2005 e 2007, e a conquista de um sonho que Fabia- de não apenas conhecê-lo, mas culti-
polonesa Anna Rogowska, campeã na não tinha em 1997, aos 16 anos, var uma amizade que se mantém até
mundial em 2009. quando fez um teste para atletismo, hoje. Foi assim que conseguiu colo-
Para levar Fabiana ao degrau vinda da ginástica olímpica, para a car o salto com vara do Brasil no me-
mais alto do pódio da modalidade, qual era alta e “velha” demais. Inte- lhor nível mundial. Petrov, que tam-
o técnico Elson Miranda, treinador ressara-se pelo salto com vara um bém treinou a campeã Yelena Isin-
da seleção brasileira de salto com ano antes, quando viu uma prova da bayeva, presta consultoria aos atletas
vara e do Clube BM&FBOVESPA, modalidade, pela primeira vez, na da BM&FBOVESPA desde 2002
que acompanha a atleta desde 1997, Olimpíada de Atlanta e pensou que e tem acompanhado o desenvolvi-
traçou, com a consultoria do ucra- deveria ser gostoso cair lá de cima. mento de Fabiana desde o início.
niano Vitaly Petrov, uma estratégia “Meus objetivos foram avançando,
diferente daquela seguida em 2010. passo a passo, conforme fui me de- ANOS DE TREINAMENTO
No ano passado, o objetivo era ven- senvolvendo no esporte. No começo INTENSIVO
cer o circuito da Diamond League, sonhava apenas participar do Troféu Decisivo também foi o
série de eventos que reúne a nata do Brasil; com sorte, do Sul-americano.” apoio do Clube de Atletismo da
atletismo mundial, organizados pela Claro que lá no fundo sonhava BM&FBOVESPA. “O apoio da Bol-
Associação Internacional de Federa- ser campeã mundial e olímpica. Afi- sa não é oportunista. Ela não apenas
ções de Atletismo (IAAF). nal, quem não pensa nisso quando acredita no esporte, mas sabe que
Fabiana conquistou muitas vitó- entra em um estádio lotado para dis- não se obtém bons resultados de um
rias, como no Grande Prêmio Brasil putar uma prova esportiva? Mas sa- dia para outro. Para ter conquistas
Caixa no Rio de Janeiro, no Campe- bia que chegar a esse nível era muito importantes é preciso, no mínimo,
onato Ibero-americano de San Fer- difícil, principalmente num País sem dez anos de treinamento intensivo”,
nando e no Mundial Indoor, reali- tradição nessa modalidade. destaca a atleta. Patrocinada pela
zado em Doha, no Catar. Este ano, Mas, em sua trajetória de suces- Bolsa desde 2002, Fabiana diz que
a prioridade na temporada era obter so, o apoio do técnico Elson Miranda começar com uma grande equipe faz
o ouro no Mundial de Atletismo, foi notável. Ele foi o primeiro a vis- toda a diferença. “Tive tranquilidade
uma opção ousada, segundo Fabia- lumbrar as possibilidades para o sal- para treinar e alcançar meu sonho.”

REVISTA DA NOVA BOLSA 71


responsabilidade social

Fabiana quer agora ajudar a para a formação de novos atletas, Passados os Jogos Pan-America-
formar novos campeões. Paralela- que receberá crianças a partir de nos de Guadalajara, Fabiana ganha
mente aos duros treinos – seis ho- seis anos. “A gente precisa apoiar os um mês de férias mais do que me-
ras diárias em dois períodos, cinco jovens que estão começando, para recidas. Na volta, começa a pensar
vezes por semana, quando não está conseguir melhores resultados e au- na Olimpíada de Londres. “Não me
em competição; de três a quatro mentar o nível do atletismo no País. sinto hoje preparada para esse novo
horas por dia, seis dias por semana, Eu tive esta sorte desde que come- desafio.” Mas não são os mesmos
em época de competição –, ela vai cei, então acho que logo poderemos atletas que venceu na Coreia? “Sim,
se dedicar ao Projeto Categoria de ter mais gente conquistando meda- mas o clima é outro. Todos os atletas
Base, da BM&FBOVESPA, voltado lhas”, avalia. encaram a Olimpíada como o maior
desafio de sua carreira e tentam se
superar.” Além do mais, Fabiana che-
CluBE dE ATlETiSMO ga a Londres na condição de atual
Não é coincidência que os princi- de, que atenderá 80 crianças de 6 a 11 campeã mundial, ou seja, a compe-
pais destaques do atletismo brasileiro, anos. E pela Formação, para 90 crianças
tidora a quem todos querem vencer.
como Vanderlei Cordeiro de Lima, Maur- e adolescentes de 12 a 18 anos, que
ren Higa Maggi, Jadel Gregório, Maríl- visa ao desenvolvimento de polos que Mas tanto a atleta quanto seu
son Gomes dos Santos e Fabiana Murer, já atuam com atletismo, com aporte técnico estão otimistas, pois acredi-
tenham seus nomes ligados à história financeiro para infraestrutura, bolsas, tam que são muitas as possibilidades
do Clube de Atletismo BM&FBOVESPA. capacitação e coordenação técnica. A de ela saltar 5 metros. “Esse vai ser o
Já em 1990, a então BM&F iniciava sua princípio, serão três polos-piloto: Cam- nosso objetivo.” Nessa busca, a cola-
ligação com o esporte, escolhido não pinas, São Caetano do Sul e São José
só por sua tradição em Jogos Olímpi- do Rio Preto, com 30 participantes em
boração do técnico Petrov é consi-
cos, mas também por ser o que poderia cada um. Vanderlei Cordeiro de Lima, derada fundamental. “Aprendi com
proporcionar maior inclusão social de medalhista olímpico em Atenas, em Vitaly que sempre é possível evoluir.
jovens carentes, que sempre foi o foco 2004, é o padrinho do projeto. Ele tenta coisas com Fabiana que
do projeto social da Bolsa. Como afirma o coordenador téc- nunca tentou com Yelena ou Bubka.
O Clube de Atletismo nasceu em nico do projeto, Ricardo D’Angelo:
O trabalho vem dando certo e não
2002 para dar continuidade ao patro- “Basicamente, vamos colocar todo o
cínio do esporte, já com mais de 25 expertise de 20 anos do Clube, nos só com Fabiana. Fábio (Gomes da
atletas. Com a fusão das bolsas e a re- trabalhos de formação. Nós, técni- Silva) foi oitavo no Mundial, Thiago
formulação da estrutura da instituição, cos, nunca perdemos contato com (Braz) foi prata na Olimpíada da Ju-
em 2010, passou a integrar o Instituto potenciais atletas. Agora vamos for- ventude”, lembra Elson.
BM&FBOVESPA, comandado por Sonia malizar isso, com todo o percurso da Para Fabiana, a Olimpíada é um
Favaretto, que também é diretora de formação”. Ele ressalta que o objetivo
Sustentabilidade da Bolsa. “A decisão é a formação de atletas e cidadãos. desafio ainda mais importante que
de integrar o Clube de Atletismo ao Para Edemir Pinto, a conquista de Fa- para os demais, pois foi na anterior,
Instituto mostra que o compromisso da biana no Mundial comprova que o em Pequim, que passou por um dos
Bolsa com o esporte é de longo prazo.” Clube está no caminho certo. “Nossa piores momentos de sua carreira:
De 2002 a 2010, o Clube conquis- intenção, agora, é torná-lo ainda mais uma de suas varas sumiu. “Desta vez,
tou o título do Troféu Brasil de Atletis- completo, ampliar seu impacto no
estamos cercando tudo o que pode
mo nove vezes consecutivas. Chegou desenvolvimento do atletismo nacio-
então a hora de ampliar o trabalho. nal e promover a inclusão social por dar errado, incluindo a escolha da
Em setembro, durante a homenagem meio do esporte.” companhia aérea que vai transportar
pela conquista da medalha de ouro A nova fase já começa bem. Me- as varas”, garante Elson.
em Daegu, o diretor presidente da Bol- nos de um mês após sua criação, foi O Clube de Atletismo
sa, Edemir Pinto, anunciou o Projeto identificado pelo menos um grande BM&FBOVESPA tem patrocínio do
Categoria de Base, cujo objetivo é o talento no Clubinho de Paraisópolis,
desenvolvimento integral no esporte. Everton Moreira Gonçalves. Ele pas- Pão de Açúcar, Nike e Prefeitura de
É integrado pelo Clubinho, instalado sou na avaliação e já foi integrado à São Caetano. Fabiana ainda tem pa-
em Paraisópolis, no Espaço Esportivo e equipe que treina no polo de São Ca- trocínio individual do Pão de Açúcar
Cultural BM&FBOVESPA, com aulas vol- etano do Sul, cidade parceira histórica e da UCS.
tadas para a Iniciação no atletismo, de do clube, onde a Bolsa está investin-
forma lúdica, com professores treina- do R$15 milhões em um novo centro
dos e equipamentos adequados à ida- de treinamento. *SÍLVIA PENTEADO É JORNALISTA.

72 REVISTA DA NOVA BOLSA


Comprometimento,
proximidade e transparência
Valores que fazem parte da nossa essência

Há mais de 25 anos no mercado, a Futura está entre as mais sólidas e respeitadas corretoras do País.
Sócia-fundadora da BM&F, a Futura possui grande atuação nos segmentos de derivativos financeiros e agropecuários,
além de forte presença em renda variável, home broker e mercado de balcão.
A qualificação técnica e experiência de seus profissionais, aliadas ao atendimento personalizado aos seus clientes,
tornam a Futura a melhor opção para quem deseja proximidade, segurança e rentabilidade em suas operações financeiras.

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em revista

POR THEO CARNIER*

DIA DA EMPRESA
A Hrt Participações em Petróleo realizou, em
24 de outubro, o Dia da Empresa, marcando
o primeiro aniversário de sua listagem na
BM&FBOVESPA. A HRT convidou membros da

FOTOS: AgêNCIA LUz


companhia, analistas, acionistas e a imprensa
para uma série de atividades ao longo do dia
na Bolsa.

A distribuidora varejista de produtos far-


macêuticos Profarma teve três importantes
motivos para realizar, em 26 de outubro, seu
Dia da Empresa na BM&FBOVESPA: comemo-
rou seus 50 anos de vida, seus cinco primeiros
anos de listagem na Bolsa e sua adesão à cam-
panha “Quer Ser Sócio?”, programa de popula-
rização voltado ao investidor pessoa física.

trOFÉU
traNsParÊNCia
Pelo terceiro ano consecutivo, a BM&FBOVESPA
recebeu o Troféu Transparência da Associação Nacional
dos Executivos de Finanças, Administração e Contabi-
QUER SER SÓCIO? lidade (Anefac), Fundação Instituto de Pesquisas Con-
TEM 1 MILHÃO DE tábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e Serasa Expe-
rian. A Bolsa é uma das cinco companhias premiadas na
ACESSOS categoria “Empresas de capital aberto com faturamento
de até R$ 8 bilhões por ano”. Criado em 1997, o prêmio
Em outubro, o portal Quer ser Só- incentiva a transparência e a boa governança corporati-
cio? da BM&FBOVESPA ultrapassou a vas no mercado. “Receber este prêmio é ter um selo de
marca de 1 milhão de acessos desde qualidade nas nossas demonstrações financeiras, é uma
o lançamento, em agosto de 2010, forte demonstração ao mercado de que praticamos valo-
com a média diária de 2.416 aces- res que defendemos”, disse o diretor Financeiro da Bol-
sos. No site da campanha educativa sa, Marco Túlio Padilha.
da Bolsa, www.quersersocio.com.br,
Marco Tulio Padilha,
o público encontra vídeos didáticos
DIVULgAçÃO

diretor financeiro
sobre o mercado, acesso a cursos da BM&FBOVESPA
presenciais e on-line, dicas para co- (ao centro) e Paulo
Claver, gerente de
nhecer seu perfil e começar a investir, contabilidade da
informações que ajudam na escolha Bolsa, (à direita)
da corretora e esclarecimentos sobre durante a entrega do
Troféu Transparência
os riscos do mercado de capitais. 2011

74 REVISTA
REVISTA DADA
NOVA BOLSA
NOVA BOLSA
MAIS SERVIçOS NO SMARTPHONE GIGANTES
A BM&FBOVESPA passou a disponibilizar em outubro mais uma no-
vidade aos usuários de smartphones e tablets de 7 polegadas com sistema
GLOBAIS
Android 2.0. Uma atualização da versão que era usada permite acompanhar NA BOLSA
as cotações dos índices negociados na Bolsa, das ações listadas, dos contra-
tos futuros e de commodities e das notícias do mercado em tempo real ago- BRASILEIRA
ra com recursos gráficos interativos. O novo aplicativo para smartphones e
tablets com sistema Android está disponível para download gratuitamente Desde 17 de outu-
no Android Market. bro é possível negociar
na BM&FBOVESPA dez
programas de BDR Ní-
vel I Não Patrocinado,
de grandes corpora-
ções mundiais, emiti-
dos pelo Banco Brades-
co no Mercado de Bal-
cão Organizado. O Bra-
desco foi o vencedor
do terceiro processo de
concorrência entre ins-
tituições depositárias.
Os programas compre-
enderão os certificados
das seguintes compa-
nhias: American Ex-
press Company; AT&T;
NAS PISTAS DE gUADALAJARA Bristol-Myers Squibb;
O Clube de Atletismo BM&FBOVESPA participou da equipe bra- IBM (International Bu-
sileira que disputou os Jogos Pan-americanos de Guadalajara, no Méxi- siness Machines Cor-
co, em outubro, com 28 atletas (12 homens e 16 mulheres). Entre os poration); Johnson &
destaques, Marílson Gomes dos Santos, recordista sul-americano dos Johnson; Kraft Foods;
10.000m, Ana Cláudia Lemos Silva, recordista do continente nos 100m Pepsico; Visa; Boeing; e
e nos 200m rasos e Fabiana Murer, campeã mundial do salto com vara. O Walt Disney Company.
Clube de Atletismo integra o Instituto BM&FBOVESPA e tem parceria Os BDRs (Brazilian De-
com a Nike, o Pão de Açúcar e a Prefeitura de São Caetano. positary Receipts) são
certificados de depósi-
Ouro (4) to emitidos e negocia-
• Ana Cláudia Lemos Silva, nos 200m e no revezamento 4x100m dos no Brasil com lastro
• Marílson Gomes dos Santos, nos 10 mil metros em valores imobiliários
• Aílson Feitosa e Nilson André, no revezamento 4x100m emitidos por empre-
Prata (5) sas estrangeiras. Os
• Cruz Nonata, nos 5 mil m e nos 10 mil metros certificados não patro-
• Fabiana Murer, no salto com vara cinados são emitidos
• Joelma Neves Souza, Bárbara Farias de Oliveira, Geisa Coutinho por uma instituição
e Jailma Sales de Lima, no revezamento 4x400m depositária sem envol-
• Hudson Santos de Souza, nos 3 mil metros com obstáculos vimento da companhia
estrangeira emissora.
Bronze (3)
• Joílson Bernardo da Silva, nos 5 mil metros
• Ronald Julião, no lançamento do disco
• Geisa Coutinho, nos 400m REVISTA
REVISTA DADA BOLSA 75
NOVABOLSA
NOVA
em revista

BOVESPA MAIS
Em 3 de outubro, o toque de
campainha que simboliza o iní-
cio do pregão da BM&FBOVESPA
marcou o ingresso da Desenvix
Energias Renováveis S.A. no Bo-
vespa Mais, segmento de acesso
voltado para empresas que dese-
jam entrar no mercado de forma
gradual. Dedicada ao desenvolvi-
mento, implantação e operação
de projetos de geração de energia
elétrica a partir de fontes renová-
veis, a Desenvix é a segunda com-
panhia listada neste segmento
considerado de grande potencial
de atratividade principalmente
para as empresas de pequeno e
médio portes que buscam uma
estratégia diferenciada de ingres-
so no mercado de ações.

BOLSA APRESENTA GOVERNANÇA


TECNOLOgIA SOCIAL CORPORATIVA
PARA O TERCEIRO SETOR A BM&FBOVESPA recebeu, em 4 de
outubro, pelo segundo ano consecuti-
A Associação Profissionalizante BM&FBOVESPA vo, o prêmio da Revista Capital Aberto
apresentou, em outubro, os resultados da sua tecnologia “As melhores companhias para os acio-
social desenvolvida em 15 anos de história, em encontro nistas 2011”, no critério governança
aberto a educadores, representantes de entidades do ter- Corporativa.
ceiro setor e responsáveis pela área de responsabilidade Numa escala de zero a dez, a com-
social das empresas. Os participantes assistiram à pales- panhia tirou 8,5, a maior nota entre as
tra “Educação Integral para e com os jovens”, ministrada 100 empresas que responderam a um
pela especialista em educação Maria do Carmo Brant questionário sobre governança, formu-
de Carvalho, doutora em Serviço Social pela Pontifícia lado pelo Centro de Estudos de gover-
Universidade Católica de São Paulo e pós-doutorada na nança da Fipecafi em parceria com a
École dês Hautes em Sciences Sociales, de Paris. Os parti- Revista Capital Aberto.
cipantes receberam um exemplar do livro Associação Pro-
fissionalizante – 15 anos promovendo a cidadania de jovens
em risco social. A publicação está disponível em PDF em DE OLHO NO ALgODÃO
www.bmfbovespa.com.br/ap. Com atividades em São A BM&FBOVESPA participou, em se-
Paulo, no Brás, e no Rio de Janeiro, na Mangueira, a Asso- tembro, do 8º Congresso Brasileiro do Algo-
ciação Profissionalizante BM&FBOVESPA foi criada em dão – e, num espaço exclusivo, apresentou os
1996. Vinculada ao Instituto BM&FBOVESPA, promove serviços de classificação de fibras de algodão
a inclusão social via três programas: “Capacitação para a e de grãos de café para exportação. Mostrou,
Empregabilidade”, que oferece conhecimento básico em também, informações sobre as alternativas
administração; “Faz Tudo”, voltado à construção civil e para gerenciamento de risco de preços no
manutenção predial; e “Espaço Beleza”, para a formação agronegócio, finanças pessoais e as oportuni-
de cabeleireiros, maquiadores, manicures e pedicures. dades de investimento no mercado de ações.

76 REVISTA
REVISTA DADA
NOVA BOLSA
NOVA BOLSA
EXPOSIçÃO CELEBRA 25 ANOS
DE RODA VIVA
O Espaço Cultural BM&FBOVESPA e a Fundação Padre An-
chieta apresentam ao público a partir de 23/9 a exposição “Roda Viva
25 anos, o Brasil passa por aqui”, com 25 desenhos produzidos pelo
cartunista Paulo Caruso no decorrer da história do programa.
As charges foram escolhidas pelo próprio artista, que também as-
sina a curadoria, dentre as mais marcantes nos 25 anos do programa.
O ex-governador do Rio Leonel Brizola, o médico americano Patch
Adams, o rapper Mano Brown e o cineasta José Padilha são alguns
dos entrevistados no programa que tiveram o registro eternizado em EM BUSCA DO
poucos minutos nas tintas do cartunista. Essas são algumas das char-
ges que estarão em exposição no Espaço, acompanhadas de legenda INVESTIDOR-
relacionando o contexto. Respostas, posturas ou pequenos gestos ex-
pressados pelos entrevistados durante as sabatinas serviram de inspi-
ANJO
ração para os desenhos. Um grupo de 16 empre-
Durante as duas décadas e meia de Roda Viva, Caruso produziu sas do Rio de Janeiro en-
mais de 1.200 charges, que adicionaram humor e dinamismo aos as- controu-se, em outubro,
suntos abordados pelos convidados. com um grupo de investi-
A mostra também oferece ao visitante a possibilidade de assumir o dores-anjo – profissionais
papel de entrevistado em um cenário interativo, desenhado por Caruso experientes que investem
para a comemoração. O público pode tirar fotos no centro da Roda, ao recursos em empresas ini-
lado dos desenhos de todos os apresentadores que passaram pelo pro- ciantes com potencial de
grama e personalidades brasileiras e estrangeiras entrevistadas. crescimento. O grupo tam-
A exposição fica em cartaz até 30/12 no Espaço Cultural. bém dialogou com fundos
O Espaço Cultural BM&FBOVESPA está localizado na Praça de “capital semente”, que
Antonio Prado, 48, no Centro de São Paulo, e fica aberto à visitação investem em empresas nas-
pública de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. A entrada é franca. centes. O encontro foi pro-
movido pelo Instituto Edu-
cacional BM&FBOVESPA,
em parceria com a Financia-
dora de Estudos e Projetos
(Finep), como parte do 11º
Seed Forum Finep, no Cen-
tro de Convenções da Bolsa
do Rio. As empresas, que
poderão receber aportes
de até R$2 milhões, estão
associadas a incubadoras
e foram previamente sele-
cionadas pela Finep pelos
seguintes critérios: etapa
de desenvolvimento pré-
operacional ou operacional,
faturamento de até R$16
milhões por ano e sede no
Estado do Rio de Janeiro. Os
empresários passaram por
dois meses de treinamen-
to no Instituto Educacional
BM&FBOVESPA e na Finep.

*THEO CARNIER É JORNALISTA


ECONÔMICO.

REVISTA
REVISTA DADA BOLSA 77
NOVABOLSA
NOVA
ON-LINE

Por Patrícia Brighenti*

hormônios
Pesquisa realizada pelo neu-
rocientista e ex-trader John Co-
ates, da Universidade de Cam-
bridge, concluiu que a ação dos
hormônios é muito mais respon-
sável pelas decisões de investi-
mento do que se imagina. Quan-
do os operadores estão com sor-
te, seus níveis de testosterona
aumentam, ativando tamanha OPORTUNIDADES
euforia que os leva a subestimar A Bolsa da Coreia (KRX) discute com o CME Group a extensão do
os riscos. Já quando estão mui- acordo que ambas mantêm, com o propósito de operar, nos Estados Uni-
to estressados, o córtex adrenal dos, os mais populares derivativos de moedas negociados na Coreia do
produz volume excessivo de cor- Sul. O principal objeto é o contrato futuro de won sul-coreano contra o
tisol, hormônio que pode torná- dólar norte-americano, que negocia cerca de 200 mil contratos por dia. A
los extremamente temerosos e KRX também trabalha em outras frentes, com vistas a fornecer tecnologia
avessos ao risco. o objetivo do e expertise a mercados da Ásia Central. Os novos alvos da KRX são os
especialista com o estudo sobre mercados de ações de Uzbequistão, Cazaquistão e Mongólia, a partir de
processos biomecânicos foi ten- sua experiência no Laos e no Camboja, onde inaugurou bolsas de valores
tar entender as fortes emoções em joint venture com os respectivos governos locais.
que regem os operadores em
seu dia a dia. Em experimentos E tem mais i: a opção sobre o índice do mercado de ações da Coreia
anteriores, conduzidos no pre- do Sul, o Kospi 200, é o derivativo mais transacionado no mundo – 1,7
gão da Bolsa de Valores de Lon- bilhão de contratos trocaram de mãos em 2010.
dres (LsE), os níveis de cortisol E tem mais ii: o CME Group também estendeu sua parceria com
presentes na saliva dos traders a Bolsa de Valores de Osaka (OSE), com a finalidade de buscar coope-
chegavam a subir 500% em um ração no desenvolvimento de novos produtos, em marketing e em pro-
único dia. Para o neurocientis- moções, oferecendo produtos denominados em iene – como os índices
ta, nem tudo está perdido. Uma Dow Jones e Nikkei 225 – já no início de 2012.
forma de reduzir o caos que es- (BBR, 28/7, e Wall Street Journal/ Dow Jones Newswires, 11/10/2011)
ses hormônios podem provocar
seria a contratação de mulheres
pelas mesas de operações, em
estratégia de “diversificação hor-
monal”. o organismo feminino
SEM GRAÇA, MAS FUNDAMENTAL
tem apenas 10% da testostero- Há anos, a indústria de ações, derivativos e câmbio procura mo-
na produzida pelo masculino, dernizar as atividades pouco glamorosas de back office, ou retaguarda,
tornando-as menos propensas que ocorrem depois que um negócio é fechado. Mas os escândalos en-
à “exuberância irracional”. Já as volvendo operadores desonestos mostram a distância que existe entre a
situações competitivas não ati- sofisticada mesa de operações e as funções tanto de middle quanto de
vam o cortisol feminino com back office, sem as quais nenhuma transação pode existir. Ao contrário
tanta intensidade, com a desor- da imagem de alta sofisticação e precisão de frações de segundo das me-
dem vigente no mercado tendo sas, os setores que concentram a confirmação de negócios e a liquidação
menos probabilidade de preju- são, em geral, caracterizados por ineficiência, sobreposições e, por vezes,
dicar seu discernimento. práticas obsoletas. Segundo especialistas, o fenômeno parece localizado
(The Economist, 14/9/2011) nas instituições do mercado de balcão, pois, nos mercados organizados,
os processos de pós-negociação estão embutidos no emaranhado de me-
didas exigidas pelas bolsas para autorizar a conexão com seus sistemas.
7878REVISTA
REVISTA
DADA
NOVA
NOVA
BOLSA
BOLSA (FT.com, 22/9/2011)
foTos: DiVULGAção
BArriGA DE
PorCo
Depois de 50 anos de opera-
ções, o mercado futuro de barri-
ga de porco congelada foi des-
continuado pela Bolsa mercantil
de Chicago (CmE), em 15 de ju-
lho. o fim já era esperado: após a
integração da indústria e do uso
de barriga fresca, em vez de con-
gelada, na produção de bacon, MOinhO De VentO
a negociação com o contrato foi
A falta de política federal para a negociação de reduções de emissão
praticamente inexistente nos últi- de carbono nos Estados Unidos levou a Bolsa Intercontinental (ICE)
mos anos. o futuro de barriga de a optar pelo encerramento, no final do primeiro trimestre de 2012, das
porco começou a ser negociado atividades da Bolsa de Futuros de Clima de Chicago (CCFE) – platafor-
em 1961 e teve seu apogeu nas ma de derivativos sobre emissões de carbono –, pouco mais de um ano
décadas de 1960 e 1970, quando depois de adquiri-la da Climate Exchange PLC. A operação, que custou
cerca de US$ 600 milhões, envolveu tanto a Bolsa de Futuros quanto a
alcançou grande popularidade Bolsa de Clima de Chicago (CCX) e a Bolsa de Clima Europeia (ECX).
nos Estados Unidos. A CCX foi fechada pela ICE no fim do ano passado.
E tem mais: alvo de muitas E tem mais i: contratos semelhantes aos oferecidos pela CCFE serão
piadas no cinema e em progra- negociados em balcão pela Bolsa Intercontinental.
mas de televisão, o contrato foi
destaque no filme “Trocando as
E tem mais ii: a ECX continua a funcionar, sendo a maior platafor-
ma de negociação para reduções de emissão de carbono sob o esquema
Bolas”, de 1983, e na fala memo- europeu.
rável de Eddie murphy: “Pois é, os (SustainableBusiness.com, 8/8/2011)
preços da barriga de porco estão
em queda desde cedo, o que sig-
nifica que todo o mundo espera
que ele bata no fundo do poço INICIATIVAS
para comprá-lo bem barato. o A hKEx, entidade que reúne as bolsas e as ativida-
que significa que o pessoal que des de clearing em hong Kong, entrou em discussões
detém os contratos está dizendo: com as bolsas de valores de Xangai e shenzhen para
‘Estamos perdendo todo o nosso
estabelecer joint venture em hong Kong, com vistas
dinheiro e o natal está chegando.
na elaboração de produtos derivativos financeiros e
não vamos ter como comprar os
de novos índices.
bonequinhos do Comandos em
Já o acordo celebrado entre o Grupo AsX e a Cle-
Ação para nossos filhos!’”
arstream, que faz parte do Grupo Deutsche Börse, pre-
(Reuters, 15/7/2011)
vê o desenvolvimento de novo serviço de gestão de
garantias para o mercado australiano, a ser automati-
zado e centralizado.
A partir da assinatura de protocolo de intenções,
as bolsas de valores de Teerã (TsE) e Cazaquistão (Kase)
pretendem estimular a cooperação entre as duas enti-
dades em diversas áreas – como produtos, divulgação,
formação de mercado, troca de informações –, assim
como explorar oportunidades de investimento.
(Mondo Visione, 18/8, 29/8 e 4/10/2011)

REVISTA DA NOVA BOLSA 79


ON-LINE

PONTO DE VISTA I PONTO DE VISTA II


A Associação de Futuros e Op- Para a Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliá-
ções (FOA), sediada em Londres, rios (Iosco), os reguladores devem apertar a regulação dos mercados de-
divulgou as conclusões do relatório rivativos de commodities, a fim de assegurar que funcionarão com mais
sobre especulação nos mercados de transparência e menos abusos. Para tanto, recomendou que os supervisores
commodities que encomendou do utilizem as informações de que dispõem sobre limites de posição, contratos
grupo de pesquisa econômica FTI em aberto e derivativos de balcão para controlar os mercados de commodi-
Consulting. Os principais destaques ties que operarem em condições desordenadas.
são: a especulação não é a principal Em outro relatório, o Comitê sobre Sistemas de Pagamento e Liquida-
causa da volatilidade de mercado, ção da Iosco afirma a necessidade de os dados de derivativos de balcão serem
mas pode amplificar as oscilações reunidos, armazenados e disseminados por meio de sistemas de registro (re-
dos preços subjacentes; nos últimos positórios). Para o Comitê, ao centralizar tais dados, esses sistemas podem
anos, a especulação respondeu por fornecer às autoridades e ao público informações mais completas e oportu-
25% das variações de preços das nas, tornando os mercados mais transparentes, o que contribuiria para a pre-
commodities, levando à conclusão venção de abusos e a promoção da estabilidade financeira.
de que 75% de tais variações são (Mondo Visione, 24/8, e Bloomberg, 15/9/2011)
aceitas pelas partes como sendo
geradas por desequilíbrios entre
oferta e procura; a regulamentação
desinformada pode elevar a volati-
lidade de mercado, desestabilizar
PErDão
o processo de formação de preços ATrAsADo
e dificultar a capacidade de hedge
o operador nick Leeson,
para produtores e consumidores do
responsável pela falência do
mercado físico; e há benefícios da
Banco Barings em 1995, pe-
transparência de preços.
diu perdão a seu superior à
(Mondo Visione, 20/9/2011)
época, Peter norris, em con-
fronto pessoal em programa
de rádio da BBC, em agosto. meio de prisão em Cinga-
Além de não saber quanto o pura, por ocultar prejuízos
banco valia, Leeson afirmou operacionais, mas cumpriu
que não tinha ideia de que apenas quatro. Durante esse
suas operações resultariam período, foi diagnosticado
na quebra da instituição. nor- com câncer colorretal e seu
ris, por sua vez, comentou primeiro casamento se des-
que ao ver as primeiras ima- fez. Em liberdade, escreveu
gens de Leeson sendo preso o best-seller A História do
no aeroporto de frankfurt, Homem Que Levou o Banco
teve vontade de bater muito Barings à Falência, transfor-
nele. na tentativa de rever- mado em filme estrelado por
ter perdas – que chegaram a Ewan mcGregor. o que so-
Us$1,3 bilhão em derivativos brou do Barings, que tinha a
de títulos de longo prazo –, rainha Elizabeth ii entre seus
Leeson foi assumindo cada clientes, foi adquirido pelo
vez mais riscos, os quais saí- grupo holandês inG pelo va-
ram do controle. o operador lor nominal de € 1,15.
foi condenado a seis anos e (AFP, 6/8/2011)

8080REVISTA
REVISTA
DADA
NOVA
NOVA
BOLSA
BOLSA
BoDE EXPiATÓrio
SOMANDO A coalizão “Reaja Chicago”, que
A Bolsa de Valores protesta contra a desigualdade eco-
CBoE (CBsX) anunciou nômica, pleiteia a incidência de im-
acordo definitivo para ad- posto sobre as operações realizadas
quirir a Bolsa de Valores nas bolsas locais para financiar um
nacional (nsX), sistema programa de empregos. Segundo a
eletrônico de propriedade coalizão, o CME Group e a CBOE
Comissão de Valores mo-
de corretores e distribuido- Holdings são “cassinos gigantes” que
biliários (sEC) local.
res de valores dos Estados estimulam o tipo de “tomada exces-
Unidos. A nsX continuará E tem mais: a CBsX siva de riscos” que teria motivado
a operar separadamente, transferiu suas operações a atual crise financeira. O imposto
mas com a combinação de Chicago para a Costa teria alíquota de 25% e poderia pro-
dos sistemas de dados e Leste, com o intuito de porcionar US$1,4 bilhão em receitas
das operações. A proposta incrementar a velocidade anuais, além de ajudar a gerar 40 mil
já foi aprovada pelos con- de execução dos negócios novos empregos.
selhos de administração para seus clientes.
(Mondo Visione,
E tem mais i: é de longa data a
das duas entidades, mas
ideia de se introduzir imposto sobre
aguarda o sinal verde da 29/9/2011)
transações na indústria de derivati-
vos (a chamada taxa Tobin, proposta
pelo Nobel de Economia James To-
fUsÕEs bin), mas as bolsas sempre a com-
bateram, com o argumento de que
As bolsas de valores de quidação, centros de dados e causaria a migração dos negócios
Osaka (OSE) e Tóquio (TSE) outros setores operacionais. para outros mercados, acabando por
estudam os detalhes da aquisi- Em seguida, a prioridade será a resultar em perda líquida de empre-
ção parcial da primeira pela se- oferta pública inicial de ações, gos e menos receitas.
gunda, de modo a transformá- programada para 2013. Pos-
la em subsidiária. As tratativas teriormente, pretende lançar E tem mais ii: os executivos do
começaram em 10 de março, projetos voltados à área de tec- CME Group e da CBOE Holdings
véspera do dia em que o nor- nologia, sem descartar a venda estudam a realocação das respectivas
deste do Japão foi sacudido por de participação societária a bolsas para outros Estados, visando
forte terremoto e tsunami. outras empresas. A fusão das evitar a elevação de impostos – de
Na Rússia, a entidade ori- bolsas foi aprovada pelos res- 4,8% para 7% – implementada pelo
ginária da fusão do Grupo pectivos acionistas, em junho, Estado de Illinois no início deste ano.
Micex e da RTS, no valor de e pelas autoridades locais, em
E tem mais iii: para o prefeito de
US$4,8 bilhões, estará focada setembro.
Chicago, que não quer ver as bolsas
na integração de plataformas (MarketWatch, 13/8
fora do município, não faz sentido a
de negociação, sistemas de li- e 20/9/2011)
magnitude dos impostos estaduais a
que estão sujeitas. Em 2010, o CME
Group, sozinho, teria sido responsável
por 6% das receitas estaduais totais.
(Reuters, 10/10, e Chicago Business,
12/10/2011)

*PATRÍCIA BRIGHENTI É JORNALISTA E


TRADUTORA JURAMENTADA.

REVISTA DA NOVA BOLSA 81


livros

A CrisE, MAis UMA vEZ,


ErA PrEvisÍvEl
POR FÁBIO PAHIM JR.*

Desta vez, não é diferente – é as crises, por mais previsíveis que amplas e, acima de tudo, as mais
este o título oculto do livro This sejam, repetiram-se na história. confiáveis que se pode ter, como
time is different (na versão em por- Há várias maneiras de avaliar Fundo Monetário Internacional,
tuguês, Oito séculos de delírios finan- este livro fundamental. Global Financial Data, Oxford La-
ceiros – Desta vez é diferente – Edi- Primeira, por seu valor científi- tin American History Database,
tora Campus, 457 páginas.), escrito co. Trata-se de uma pesquisa histó- estudiosos da Universidade da Ca-
pelos economistas Kenneth Rogoff rica monumental, que escarafuncha lifórnia e do Dutch International
e Carmen Reinhart. Há, de fato, um as mais diversas economias, do sé- Institute of Social History, Histo-
padrão para as crises, “que transpas- culo 13 até hoje – cobre desde episó- rical Statistics of the United States
sa regiões e épocas distintas”, nota dios como o deslastre (redução do e The United States and the New
Arminio Fraga, sócio-fundador da conteúdo de prata nas moedas) do World, Pick’s Currency Yearbooks,
Gávea Investimentos e presidente penny inglês e da lira florentina ini- Relatórios Anuais da Liga das Na-
do Conselho da BM&FBOVESPA, ciados, respectivamente, em 1261 e ções, Course of the Exchange, de
no prefácio. 1289; o calote da Grã-Bretanha sob John Castaing, os estudos de An-
O clima de “invencibilidade o reinado de Eduardo III, em 1340; gus Maddison e o Total Economy
econômica”, diz Arminio, “levou a até chegar à crise das hipotecas sub- Database do Groningen Growth
uma avaliação otimista e arrogante prime nos Estados Unidos iniciada and Development Center. Só em
da situação”, num “padrão constru- em 2007-2008, exposta com a que- episódios de crise da dívida externa
ído há séculos”. Sobre o Brasil, a re- bra do Lehman Brothers e retoma- foram analisadas 250 situações.
comendação de que “não podemos da em 2010-2011, com a crise das Segunda, porque mostra como
nos embebedar com o sucesso”. dívidas soberanas na União Euro- são destruídos ativos, empobrecen-
Rogoff e Reinhart produziram peia e a repercussão crescente sobre do milhões de empresas e cidadãos,
uma das obras mais completas e os bancos que tomaram os papéis que se iludem com práticas cuja ori-
atuais sobre a história das crises emitidos por instituições ou países gem mais parece estar nos delírios de
financeiras – bancárias, de dívida fragilizados, da Islândia e da Grécia, mandatários políticos e econômicos
interna e externa, além das decor- passando pela Irlanda e Portugal e do que na avaliação fria da realidade.
rentes de inflação ou de forte des- chegando, pelas beiras, à Espanha e Terceira, pela fragilidade pre-
valorização cambial (ver entrevista à Itália. Foram analisados 66 países sente nas sociedades que embarca-
de Rogoff nesta edição). E de como e utilizadas fontes de informações ram na ilusão de que poderiam ser

82 REVISTA DA NOVA BOLSA JAN/MAR 2010


Trata-se de uma das obras
mais completas e atuais
sobre a história das crises
financeiras – bancárias,
de dívida interna e
externa, além das
decorrentes de inflação
ou de forte desvalorização
cambial. E mostra como
as crises, por mais
previsíveis que sejam,
repetiram-se na história

adiados os deveres de casa – equilí- Foi mais fácil iludir-se com as ex- existem – tanto em sociedades na
brio orçamentário do Estado, polí- plicações do Fed, no período Alan plena vigência da liberdade política,
ticas macroeconômicas convencio- Greenspan, de que seria possível como naquelas de cunho autoritário
nais, prudência nos dispêndios com liberar o mercado até limites inima- ou totalitário. Não há data exata para
aposentados e servidores públicos, gináveis, do que ouvir as advertên- a eclosão das bolhas, reconhecem.
endividamento contido e baseado cias de personagens como Nouriel Acrescente-se que, em países
na capacidade real de geração de Roubini, o “doutor catástrofe”, bem onde a imprensa é livre, a discussão
rendas, entre outros aspectos. Por antes da eclosão dos problemas, so- sobre os erros e os acertos das po-
que a ilusão? Porque o presente tra- bre a iminência de uma crise. líticas econômicas tende a facilitar
zia a prosperidade, e essa prospe- Desvaneceu-se, assim, a hipó- as tomadas de decisão das famílias
ridade parecia sustentável. Líderes tese de imunidade às crises decor- e das empresas. Parte da população
de governos populistas contribuí- rente da confiança ilimitada em se afasta, assim, dos riscos de políti-
ram muito para conduzir os países, líderes políticos não apenas em pa- cas temerárias. Na China, um texto
em todos os tempos, até o desmon- íses desenvolvidos como Alemanha do economista Michael Pettis foi
te – e o risco continua. ou Suíça, mas em emergentes como censurado não no conteúdo econô-
Mesmo idolatrados quadros China e Brasil, por mais que estes mico, mas na menção de que havia
públicos, alguns dos quais com pareçam preparados para uma nova grupos com ideias divergentes so-
enorme bagagem teórica, levaram torção no parafuso econômico. bre a condução da economia, rela-
as sociedades a confiar que agora se- tou no 5º Congresso Internacional
ria diferente, tal o domínio que jul- ALÉM DOS GOVERNOS de Mercados de Capitais e Deri-
gavam ter de ferramentas econômi- Os autores dissecam as crises, vativos, em Campos do Jordão. O
cas e tecnológicas que estenderiam sem relacioná-las aos governos da regime chinês não pode sequer ad-
por muito tempo a prosperidade. hora. De fato, crises existiram – e mitir que há divergências.

JAN/MAR 2010 REVISTA DA NOVA BOLSA 83


livros

Identificar a iminência de uma só obtiveram crédito fornecendo Um dos capítulos finais (o 16)
crise não é fácil para a maioria das dados falsos sobre renda e ativida- é especialmente interessante ao
pessoas físicas e jurídicas com afli- des profissionais. tratar da primeira crise financeira
ções bem mais chãs, como o crédito As crises, ademais, “podem se global do século 21, qualificada por
tomado no dia a dia para consumir reforçar e imbricar entre si”, dizem, Rogoff como a Segunda Grande
ou investir. Se as pessoas mal têm citando o exemplo da Argentina em Contração. Esta é, “sem dúvida, a
tempo para cumprir tarefas rotinei- 2001-2002: “O governo deu o calo- única crise financeira global que
ras, menos tempo têm para sopesar te de todas as suas dívidas, interna e ocorreu depois da Segunda Guerra
análises de médio e longo prazos externa; os bancos ficaram paralisa- Mundial”, diz ele. E, “mesmo que
e avaliar tendências. Acompanhar dos num ‘feriado bancário’, quando a Segunda Grande Contração não
os fundamentos econômicos é os depósitos foram congelados in- degenere em Segunda Grande De-
mais uma tarefa de economistas e definidamente; a taxa de câmbio pressão” – hipótese não descartada
críticos, mas a de observá-los, mi- peso-dólar norte-americano passou – “ela superará outros episódios de
nimamente, vale para famílias que de um para mais de três, pratica- turbulência, inclusive a ruptura de
gostariam de gastar acima dos ren- mente da noite para o dia; e os pre- Bretton Woods, o primeiro cho-
dimentos e para governos que se ços passaram de deflação de mais que do petróleo, a crise da dívida
endividam demais, contando com ou menos 1% ao ano para inflação da década de 1980 no mundo em
um futuro promissor. em torno de 30% ao ano, segundo desenvolvimento e a hoje famosa
estimativas oficiais conservadoras”. crise asiática de 1997-1998”. Como
UM ÍNDICE INOVADOR explica Rogoff: “A Segunda Grande
Rogoff e Reinhart desenvolve- OS EMERGENTES Contração já envolve extraordiná-
ram um índice denominado BCDI O contágio das turbulências ria crise bancária global e espetacu-
(sigla para as crises bancária, cam- globais sobre os emergentes ocor- lar volatilidade mundial da taxa de
bial, de dívida e de inflação). Mos- re, sobretudo, pelas dívidas sobera- câmbio. A sincronia dos colapsos
tram que essas coisas andam juntas, nas, mais difíceis de tomar. Já nas nos mercados habitacionais e nos
com frequência. E que uma grande economias avançadas, a origem das níveis de emprego também pare-
inflação (superior a 20% ao ano) crises globais são as crises bancá- ce sem precedentes desde a Gran-
tem efeito semelhante ao de um rias – hoje na pauta –, que reduzem de Depressão”. Pior, “sair de crise
calote. O Brasil sabe disso, pois o crescimento; afetam os preços global é, por natureza, mais difícil
mesmo a inflação atual de 7% ao das commodities; provocam “para- que escapar de crise regional envol-
ano, 2,5 pontos percentuais acima da súbita” dos empréstimos aos pa- vendo vários países (como a crise
do centro da meta, já gera gordo íses periféricos após as crises ban- financeira da Ásia, de 1997-1998).
“imposto inflacionário” que ajuda cárias; estimulam os investidores a A lentidão do crescimento no res-
o Tesouro e onera os contribuin- reduzir sua disposição de assumir to do mundo exclui a possibilidade
tes. Apura-se o Índice BCDI pela riscos, pois a riqueza deles dimi- de a demanda externa compensar o
soma de tipos de crises que um país nuiu. Além disso, uma crise bancá- colapso da demanda interna”.
enfrenta num determinado ano. ria num país pode provocar “falta O Brasil pode estar, em relação
Quando possível, adicionam-se à de confiança nos países vizinhos ao mundo, em condições melhores
conta os crashes no mercado acio- ou semelhantes, à medida que os para enfrentar a crise global. Mas, à
nário – assim entendidas quedas de credores se empenham na identi- luz da história, convém evitar mais dí-
25% ou mais nos preços das ações. ficação dos problemas comuns”. vida para oferecer crédito barato. As-
Faltou incluir, reconhecem Rogoff Quando o ministro da Fazenda, sim será mais fácil sair da crise mun-
e Reinhart, os calotes das famílias Guido Mantega, admite que “se- dial – que, provavelmente, será longa
e das empresas – lembrando que caram” os empréstimos, como de- –, em condições invejáveis.
a crise subprime norte-americana clarou na segunda semana de outu-
teve por origem as hipotecas tóxi- bro, vê-se que as análises de Rogoff * FÁBIO PAHIM JR. É COORDENADOR EDITO-
cas contratadas por indivíduos que e Reinhart nada têm de teóricas. RIAL DA REVISTA DA NOVA BOLSA.

84 REVISTA DA NOVA BOLSA JAN/MAR 2010


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contraponto

86 REVISTA DA NOVA BOLSA JAN/MAR 2010


O TEATRO
CENTENÁRIO
REVIVE
Após a terceira grande reforma
em pouco mais de meio século,
o Teatro Municipal de São Paulo
reabriu no ano do seu centenário,
com programação repleta de atra-
ções para os amantes da música,
da dança e das artes cênicas, com
restaurante totalmente renovado
e aberto ao público, e com pre-
sença fiel dos espectadores
POR PAOLA COSSERMELLI MESSINA*
FOTOS AGÊNCIA LUZ

JAN/MAR 2010 REVISTA DA NOVA BOLSA 87


contraponto

I
naugurado em 12 de se-
tembro de 1911, o Teatro
Municipal foi restaurado
nos últimos três anos e reaber-
to ao público em 12 de junho
de 2011, com apresentações da
Orquestra Sinfônica Municipal,
do Ensemble Café Zimmerman,
do Quarteto de Cordas da Cida-
de de São Paulo, da Orquestra
Experimental de Repertório,
do Coral Paulistano e do Coral
Lírico –programação exclusi-
vamente musical seguida, em
julho, pela exibição de grupos
como Ballet da Cidade de São
Paulo, Ballet Stagium, Compa-
nhia TeatroDança Ivaldo Berta-
zzo, Compagnie Philippe Gen-
ty e São Paulo Companhia de
Dança. Em 12 de setembro, com
a entrada da nova montagem
da ópera Rigoletto, de Giuseppe
Verdi, dirigida por Felipe Hirsch,
da Sutil Companhia de Teatro,
a casa mostrou, mais uma vez,
sua vocação para abrigar as mais
diversas modalidades de espe-
táculos. Sucederam-se novas
apresentações vistas por um
público ávido por bons progra-
mas, que lotou plateia, balcões,
anfiteatro, foyer, galerias, frisas
e camarotes renovados.
Não é a primeira reforma do
Teatro Municipal – houve uma,
em 1954, e outra, mais comple-
ta, iniciada em 1986 e concluída
em 1991. Ou seja: de tempos
em tempos os paulistanos têm
de conviver com a face escondi-
da do gigante. Mas, desta vez, a
promessa é de que a restaura-
ção terá vida mais longa, de até
cinco décadas, prevê a arquite-
ta Rafaela Calil Bernardes, que
acompanhou todos os traba-
lhos até a reabertura gloriosa.

88 REVISTA DA NOVA BOLSA JAN/MAR 2010


Do arEnIto aoS VItraIS Outro trabalho delicado e de-
A fachada do Teatro Mu- morado foi a desconstrução
nicipal, os estofados e vitrais, dos vitrais alemães do ateliê V.
as paredes pintadas e o palco Saille Stuttgart: “Virou um gran-
onde se apresentaram nomes de quebra-cabeça que remon-
entre os mais consagrados e tamos”. A busca por pequenos
universais da história da cultura pedaços de vidros que encai-
mundial – Enrico Caruso, Maria xassem perfeitamente com a
Callas, Villalobos, Tito Schipa, unidade foi árdua. Afinal, eram
Duke Ellington, Beniamino Gi- milhares de pedaços, marca-
gli, Nijinski, Margot Fonteyn, dos um a um (em cada qual
Ella Fitzgerald, Marcel Marceau aplicada uma película para a
ou Arturo Toscanini – exigiam proteção da radiação solar) e,
uma nova cara. Cerca de três depois, recolocados. Coisa de
anos e aproximadamente R$20 especialistas, aliás, de dezenas
milhões depois, o resultado fi- de especialistas, alguns dos
nal foi revelado. E encheu de quais já haviam participado da
alegria aqueles que foram ver reforma anterior.
de perto o resultado da obra. O palco e a acústica tam-
Rafaela Bernardes, do Depar- bém foram contemplados no
tamento de Patrimônio Histórico projeto de restauração. Sob o
da Secretaria Municipal de Cul- palco foram instaladas 76 novas
tura, coordenou o restauro. Sua varas para suportar um peso de
jovem figura inspira respeito. Ar- até 900kg. E o espaço ganhou
quiteta conhecida, ela nota que tratamento acústico aperfei-
um dos principais problemas era çoado o bastante para receber
o estado da pedra que reveste não só óperas, mas concertos
a fachada principal – o arenito. de todos os tipos e balés – em
É uma rocha amarelada com todos os casos, propiciando so-
alto índice de permeabilidade norização de alta qualidade. As
à água, o que torna difícil sua paredes do fosso da orquestra
conservação. Próteses e obtu- precisaram ser alteradas para
rações foram aplicadas nas par- que fosse obtida uma acústica
tes onde o desgaste era maior. próxima da perfeição.

JAN/MAR 2010 REVISTA DA NOVA BOLSA 89


contraponto

MEta aMBIcIoSa
A primeira reforma, em
1954, teve escopo menos am-
plo. Na época, foram modifi-
cadas a sala de espetáculos e
os camarins. Já a restauração
dos anos 1980 foi mais pesada,
envolvendo a correção de pro-
blemas de estrutura elétrica e
eliminação de cupins. Na mé-
dia, cada projeto teve vida útil
inferior a 30 anos. “O ideal é que
o prazo seja mais extenso”, ob-
serva Rafaela. O Teatro Munici-
pal foi vítima de um problema
comum às obras públicas: falta
de manutenção. Com o passar
dos anos, acelera-se o processo
de deterioração da pedra e de
outros materiais mais sensíveis.
Para evitar que isso volte a se
repetir, um manual de conser-
vação foi entregue à direção do
teatro após o término das obras.
“Se o manual de conservação e
manutenção for seguido, a gen-
te consegue estender esse pra-
zo para cerca de 50 anos”, acre-
dita Rafaela.
Mas, depois de assistir a
vários espetáculos no teatro
restaurado, a arquiteta filosofa:
“Sem as apresentações artísti-
cas, ele seria (apenas) mais um
edifício. O importante é que o
público possa usufruir”.
Não há, de fato, do que re-
clamar – da reforma e do seu
objetivo, que é permitir apre-
sentações de nível mundial.
Na pauta do Teatro Municipal,
por exemplo, está The Infernal
Comedy, dirigido por Michael
Sturminger e protagonizado
por um dos maiores nomes da
dramaturgia, o americano John
Malkovich. O ator faz o papel de
um assassino que apresenta sua
autobiografia ao público. O es-

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petáculo é uma mistura de co- Mas, assim como hoje, quando era uma hora da madrugada do
média com ópera e um encon- estão presentes os percalços dia 13 de setembro quanto o
tro curioso de gêneros. O título enfrentados nos restauros e espetáculo foi encerrado. Uma
da obra ilustra o tom jocoso, ao reaberturas do Teatro Munici- parte da plateia nem esperou
brincar com o nome de um dos pal, problemas semelhantes já o fim do espetáculo, relatam os
mais importantes textos da his- dominavam aqueles tempos. historiadores.
tória, A Divina Comédia, de Dan- A data de inauguração do te- Ao Teatro Municipal de um
te Alighieri. Combina elemen- atro foi adiada não uma, mas século atrás acorreram auto-
tos cômicos com monólogos duas vezes. A primeira, para não ridades, empresários da cafei-
sobre temas sombrios e a parti- coincidir com a época de colhei- cultura e da indústria nascente,
cipação surpreendente de uma ta de café. E a segunda, por pro- gente comum e grã-finos com
orquestra barroca. Além dessa blemas na entrega de materiais seus casacos de pele e chapéus
peça excêntrica e de outros es- da companhia lírica do barítono monstruosos, cuja altura atra-
petáculos contemporâneos, o italiano Titta Ruffo, uma grande palhava a vista dos que estavam
Teatro Municipal de São Pau- atração da época – que estava nas filas mais atrás. Não foi, em
lo receberá clássicos da ópera em Buenos Aires e aceitou o resumo, uma estreia perfeita.
como A Valquíria, de Wagner, e convite feito às vésperas (e às Mas, mais importante, foi o iní-
O Morcego, de Strauss. pressas) para a grande noite. cio de uma nova era cultural em
Em 12 de setembro de 1911, as São Paulo, com impacto direto
UM poUco DE HIStÓrIa portas do majestoso salão no- sobre a vida de muitas pessoas.
Repete-se, assim, a história bre se abriram para a multidão:
de um teatro ligado à vida da um enorme congestionamen-
cidade e à cultura global. Como to já havia sido enfrentado nas
agora, em que a metrópole ruas lamacentas da metrópole
abre-se cada vez mais para o paulistana, presenciado por es-
mundo, atraindo os investido- timadas 20 mil pessoas que, do
res das mais distantes regiões, Viaduto do Chá e adjacências,
no tempo em que foi inaugura- foram olhar os que chegavam. E
do o Teatro Municipal, a capital ainda houve o empurra-empur-
paulista crescia em tamanho e ra para entrar no teatro. Alguns
importância. Era o início do sé- protestavam contra o alto preço
culo, mais precisamente, 1903. dos ingressos (cem mil réis por
E foi naquele ano que, inspira- uma frisa com cinco lugares),
dos na Ópera de Paris, o cenó- mas queriam encontrar uma ca-
grafo Cláudio Rossi e os arqui- deira entre as 1.816 existentes
tetos Francisco de Paula Ramos no teatro, num tempo em que
de Azevedo e Domiziano Rossi as cadeiras eram de madeira e
foram contratados e lançaram- nem um pouco acolhedoras. O
se à tarefa de construir o Teatro público queria ainda ver na es-
Municipal de São Paulo, com fi- treia obras de um compositor
nanciamento público aprovado brasileiro, Antonio Carlos Go-
em lei e o apoio de famílias ri- mes, no lugar do Hamlet de Am-
cas. Foram gastos oito anos, 4,5 broise Thomas que Titta Ruffo
mil contos de réis, 4,5 milhões iria apresentar. A direção do te-
de toneladas de tijolos, 700 to- atro cedeu, em parte: permitiu a
neladas de armadura de ferro e execução de um trecho do Gua-
50 toneladas de ferro fundido rani e prosseguiu com a ópera,
até que a casa estivesse pron- que durou mais de duas horas,
ta para a aguardada estreia. mal chegando ao final, pois já

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contraponto

para aLGUnS, o tEatro


É UM Lar
Terminada a obra, Ramos
de Azevedo nomeou “guardião
do teatro” um especialista em
mármore, Anielo Corvino, nas-
cido em Castelle de San Gior-
gio, na província de Salerno. O
imigrante italiano veio ao Brasil
com o sonho de oferecer uma
vida melhor para a família e foi
reconhecido por Ramos de Aze-
vedo como trabalhador hones-
to. O Teatro Municipal tornou-
se a casa da família Corvino. Os
sete filhos de Anielo nasceram
e cresceram no prédio que ele
ajudou a erguer. Um deles, Sal-
vador Corvino, continuou o
trabalho de Anielo e se tornou
”conservador do teatro”. Quase
todas as crianças de Salvador do Salão Nobre, de Oscar Pe- e uma fotografia, a irmã mais
acabaram nascendo na casa reira da Silva, mostrando três velha queria que Markova lhe
da avó, menos Rosa Corvino, cenas da antiguidade grega: desse de presente uma de suas
nascida no interior do próprio no painel central, a origem do sapatilhas. A bailarina inglesa
Teatro Municipal, pois não hou- Teatro Grego; nos laterais, as concordou e a sapatilha está
ve tempo para o parto na casa musas da Música e da Dança. há 53 anos na coleção de obje-
da avó, em 9 de julho de 1926. Os personagens que dançaram, tos que Rosa guarda junto com
Aos 85 anos, Rosa é guardiã de cantaram e se apresentaram suas memórias. Algumas ima-
histórias únicas e incríveis rela- no palco do Teatro Municipal gens estão em seu livro sobre
cionadas ao Teatro Municipal. deixaram histórias para con- o Teatro Municipal – Vida, Amor
Sob seu palco, dentro das salas tar. Rosa Corvino explica que e Lembranças de Rosa Corvino –
e dos camarins onde ela brin- os dançarinos eram sempre os lançado em 2009. A obra é uma
cava quando criança e, após mais rígidos, especialmente história detalhada do teatro e
se aposentar como professora os que vinham da Rússia. Já os seus fundadores e é ilustrado
de piano, trabalhou, às vezes, americanos eram mais soltos. com imagens da coleção par-
como guia histórico da casa. “A gente esperava 15 ou 20 ticular da família Corvino. Foi
Para os que visitavam o teatro minutos, e eles nos atendiam,” editada e publicada com ajuda
– estudantes, turistas de outros diz Rosa sobre os artistas que de uma amiga e investimentos
Estados, países e até mesmo conheceu na infância. Com as do próprio bolso de Rosa. Com
habitantes da Capital – Rosa irmãs, pedia fotografias a músi- toda a riqueza das histórias des-
falava de sua infância e da his- cos, cantores e dançarinos, e re- crita, Rosa enfatiza que ainda
tória do teatro enquanto mos- cebeu uma sapatilha de presen- tem muito para contar e mos-
trava o edifício, dos alicerces te da inglesa Alicia Markova, um trar, mas o tempo foi perverso:
e do porão até o último andar. dos mais respeitados nomes do Rosa deixou de ser a guia oficial
Explicava o significado da mi- balé clássico do século 20. Uma da casa, com o protesto dos
tologia grega que as pinturas das irmãs de Rosa, Januária, “foi que a conheciam. Não é fácil
ilustravam, destacando “aquele mais ousada”. Enquanto Rosa viver longe do lugar onde dedi-
teto maravilhoso” – os afrescos esperava um simples autógrafo cou tantos anos – e tampouco

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ver esse lugar alterado. “É uma do acervo do teatro. Também com molho parmesão, um risoto
coisa intocável... Não se pode lá estão detalhes modernos, de arroz vermelho, mil folhas de
mexer em algo que é original. como o espelho em forma de berinjela, pasteizinhos de carne-
Isso não podia acontecer e me mosaico atrás do bar e mesas seca e uma variedade de saladas.
revolta muito”, diz Rosa sobre espelhadas com pés dourados O café do Teatro Municipal es-
algumas obras de restauro. Em em formato de espiral, dando treou alguns dias após a aber-
especial, ela cita a pintura de um toque mais atual ao espaço. tura oficial da casa, mas, segun-
Oscar Pereira da Silva no teto do Janelas grandes ficam de frente do a curadora, já há um prato
Salão Nobre, as passagens e os e estão abertas para a Praça Ra- predileto – o hambúrguer de
corredores onde os artistas en- mos de Azevedo. Do outro lado fraldinha, saboroso, macio e
saiavam atrás do palco e “uma do buffet, há um pequeno ter- grelhado na hora. Bebidas e so-
sala com um piano bonito” que raço e algumas mesas. bremesas são cobradas à parte,
foi simplesmente removida. De segunda a sábado, o res- como o suco de limão com ca-
Mas o tempo parece não passar taurante oferece café da manhã pim-santo, o cheesecake de pis-
para Rosa, que pretende publi- à la carte e um buffet variado tache com calda de amora, mi-
car mais um livro de memórias e para o almoço. Nos horários de niguiosas de doce de leite com
fazer uma exposição com as fo- espetáculos, serve petiscos e be- calda de gengibre e sorvete de
tos dos famosos que conheceu bidas. O cardápio tem curadoria creme, torta de maçã e petit ga-
na infância, entre as paredes do gastronômica, hoje ocupada por teau de limão siciliano.
lugar que descreve como seu Sandra Valeria Silva, dona do Bis- Como tudo no Teatro Muni-
“berço, templo e vida”. trô da Sara, no Bom Retiro. Ela se- cipal, o restaurante é pequeno
leciona pratos e orienta a equipe para atender à demanda – e há
noVo rEStaUrantE na cozinha. Além da variação espera para se acomodar num
A restauração, de fato, não diária de pratos oferecidos no espaço para apenas 38 pessoas.
podia deixar de ser feita, tais buffet (quinta e sábado há sem- Não é ele que, sozinho, fará a di-
os problemas estruturais do pre rabada), Sandra dá o tom do ferença. Mas certamente ajuda-
edifício. No eterno embate en- menu: muitas ervas e especiarias rá, criando um clima e puxado
tre o saudosismo e os tempos no preparo dos pratos e ampla por uma programação inovado-
modernos, estes prevaleceram. escolha de pratos quentes e de ra, o Municipal a recuperar seus
Não havia como ignorar a de- saladas. No cardápio de um dia anos de glória.
manda, como a da criação de de semana, em outubro, lá esta-
uma área para comer e beber. vam um frango com sementes
E surgiu o Café do Teatro Muni- de sésamo e molho de amora, *
PAOLA COSSERMELLI MESSINA
cipal de São Paulo, num encon- um gnocchi de mandioquinha É JORNALISTA.
tro elegante entre o clássico e o
contemporâneo. TEATRO MUNICIPAL dE SãO PAULO
Com cozinha de Adolfo Praça Ramos de Azevedo – Centro – São Paulo
Gorenstein e ambiente decora- Telefone: 3397-0300
do por móveis dos irmãos Fer- Bilheteria: 3397-0327
nando e Humberto Campana, Mais informações sobre a programação do Teatro Municipal de São Paulo
estão disponíveis no site da Prefeitura de São Paulo: prefeitura.sp.gov.br.
o Café tornou-se opção para
quem visita o teatro ou apenas CAfé dO TEATRO MUNICIPAL dE SãO PAULO
passa pelo Centro. Em 1920, lá Praça Ramos de Azevedo – Centro – São Paulo (entrada pelo lado direito
havia um salão de chá, cujas pe- do edifício)
De segunda a sábado:
dras originais, nas cores branca
Café da manhã das 8h às 11h30 (à la carte)
e azul, foram mantidas, assim Almoço das 12h às 15h (sábado até as 15h30)
como as pinturas do teto e as Preço: R$40 por pessoa (bebidas e sobremesas à parte)
cadeiras de veludo verde dos Serviço de bar no intervalo dos espetáculos
anos de 1950, que fazem parte Telefones para contato: (11) 3397-0416/3397-0417/3331-1874

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