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Momento Bossa Nova

Arte e modernidade sob os


olhares da revista O Cruzeiro
José Estevam Gava

Resumo Abstract
Este artigo discute algumas representações de moder- This article discusses some representations for moder-
niade propostas pela revista O Cruzeiro, com atenção nity proposed by O Cruzeiro maganize. Nevertheless,
especial à reforma gráfica ocorrida nos anos de 1959 special attention is given to a new graphic design ex-
e 1960, intitulada “paginações Bossa Nova”. Caracte- plored in 1959 and 1960, named “Bossa Nova pages”. 133
rizada pela geometrização, economia de elementos e Characterized by the geometric, economy of elements
am-plo uso de fotomontagens, a reforma atuou como and wide use of photomontage, the movement sttod
mani-festo pela atualização da forma de acordo com for a manifestation for the updating of the graphic
as li-nhas construtivistas vigentes no Rio de Janeiro e form according to the “constructivists” thoughts, which
São Paulo naquele momento. were coming out in São Paulo and Rio de Janeiro at
the time.

Palavras-chave Keywords
Jornalismo, O Cruzeiro, visualidade, representação, modernis- Journalism, O Cruzeiro, visual information, representation,
mo modernism
A revista O Cruzeiro “...o novo formato e findo o Estado Novo no Brasil, a revista
Quando começou a circular, em dezem- era líder em termos de abrangência e, até
para a notícia
bro de 1928, a revista O Cruzeiro já se o final dos anos 50, pôde realizar freqüen-
autoqualificava um veículo moderno, “a
caracterizou-se tes melhorias em seu parque gráfico. Neste
revista dos arranha-céus”. No dia previsto por aprofundar período considerado o mais próspero, que
para o lançamento, e não obstante a preca- mudanças já em se estendeu até o início dos anos 60, a tira-
riedade das comunicações no Brasil, a pu- gem de O Cruzeiro alcançou números ex-
curso no sentido de pressivos, ultrapassando a marca dos 700
blicação atingiu todas as capitais simulta-
neamente, feito que lhe garantiu o pionei- fazer a fotografia mil exemplares semanais.
rismo em termos de abrangência nacional. transcender as Seguindo os passos de algumas congê-
A idéia e os primeiros passos no senti- neres estrangeiras, especialmente a nor-
funções ilustrativas te-americana Life, O Cruzeiro marcou épo-
do de se criar uma revista com circulação
nacional deveu-se ao jornalista português ou de simples ca na história do jornalismo brasileiro ao
Carlos Malheiro Dias que, frente a dificul- registros de incorporar a reportagem investigativa e o
dades financeiras, vendeu o título a Fran- modelo de fotojornalismo. Movimentação
ocorrências.”
cisco de Assis Chateaubriand Bandeira de iniciada por aqui em meados dos anos 40,
Melo (1892-1968), empresário, advogado, o novo formato para a notícia caracterizou-
professor universitário e jornalista. À épo- se por aprofundar mudanças já em curso
ca, Assis Chateaubriand já possuía alguns no sentido de fazer a fotografia transcen-
jornais e a nova revista contribuiu para a der as funções ilustrativas ou de simples
diversificação do seu conjunto de veículos. registros de ocorrências. Pelo contrário,
134 Em pouco tempo, contudo, ela se trans- os instantâneos tornaram-se componentes
formava em título de grande destaque no de um todo mais orgânico, em que a busca
mercado editorial brasileiro, encontrando por inovações e impacto visual eram cons-
um sucesso de público que se estenderia tantes. Tendo elevado significativamente
por décadas, até seu fechamento em 1983. as vendas e a tiragem, as transformações
Em termos institucionais, a empresa O deram provas de que o novo formato da
Cruzeiro possuía independência para de- reportagem era essencial para a revista,
finir a pauta e procedimentos internos. acompanhando seu período de maior su-
Porém, assim como os demais veículos da cesso.
cadeia Diários Associados, ela estava su- A implantação da fotorreportagem in-
jeita a acatar as vontades e interesses de fluiu diretamente na escalada da tiragem.
seu proprietário quanto a determinadas A edição com a cobertura do suicídio de Ge-
reportagens ou matérias em especial. Uma túlio Vargas (1954), por exemplo, atingiu
vez conquistado o sucesso de público, ela a cifra de 720.000 exemplares, número só
se tornou motivo de orgulho para Assis recentemente igualado pela revista Veja.
Chateaubriand, que não tardou a utilizá- Mas, levando-se em conta o crescimento da
la como ferramenta de pressão política e população, vê-se que o feito de O Cruzeiro
ideológica. No contexto dos Diários Asso- ainda não foi superado em termos relati-
ciados, a revista logo cumpriu o papel de vos. Por isso, tornou-se lugar-comum entre
vitrine e meio privilegiado para divulga- os analistas dizer-se que, àquela época, O
ção de notícias, assuntos variados e cam- Cruzeiro significava para o Brasil o que a
panhas de interesse nacional. TV Globo significou nos anos 80. O gráfico
Finalizada a Segunda Guerra Mundial a seguir (fig.1) mostra a curva da tiragem
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da revista entre 1940 e 1970 e foi elabora- os avanços técnicos da fotografia, além de
do a partir de dados fornecidos pelos au- contribuir para a profissionalização e reco-
tores consultados e pelos exemplares de O nhecimento de muitas pessoas envolvidas
Cruzeiro verificados. no fazer jornalístico.

Bossa Nova & Design Gráfico


O Cruzeiro representou, para a ainda
jovem República brasileira de meados do
século XX, uma maior aproximação com o
PROGRESSÃO DA TIRAGEM DE O CRUZEIRO que se convencionou chamar de civilização
800.000
fig.1
ocidental, positivista e tecnocrática, um
700.000 flerte, também, com as idéias de “moderni-
600.000 dade”, “modernismo” e “vanguarda” larga-
500.000 mente exploradas então. Nação com uma
400.000 economia dependente e com uma cultura
300.000 sempre de olhos bem abertos para movi-
200.000 mentações externas, o desafio da revista
100.000 foi justamente a busca de acertar o relógio
histórico nacional de acordo com o tempo
1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970
dos centros dinâmicos da economia e da
Anos para os quais se encontraram dados a respeito da tiragem
cultura, ainda que sob a pena de acirrar a
dependência. 135
Mesmo com o surgimento de sua grande Nesse contexto, O Cruzeiro cumpriu a
concorrente, Manchete, em 1952, O Cru- função de janela para o mundo e para o
zeiro se impôs praticamente absoluta em próprio país, acompanhando e elaborando
seu gênero, até meados dos anos 60. A par- “...o desafio representações para importantes eventos
tir de então, e a despeito das dificuldades da revista foi políticos, econômicos e sociais, principal-
financeiras e crises internas pelas quais mente aqueles que se encadearam a partir
justamente a busca
passou, a revista se manteve até 1983, de 1945. As conquistas materiais e o for-
totalizando mais de meio século de exis- de acertar talecimento da sociedade civil, de base de-
tência. Junto a este dado bem expressivo, o relógio histórico mocrática e pluralista, refletiram, eviden-
que induz a idéias de notoriedade, ela é nacional de temente, na vida cultural do país, que se
normalmente alçada à posição de referên- ampliou e ganhou em termos de organiza-
cia na história do jornalismo por causa da acordo com o ção e autonomia. Por isso, O Cruzeiro pro-
distribuição em âmbito nacional, na qual tempo dos centros curou enaltecer traços que ajudassem na
foi pioneira, e por ter difundido, no país, dinâmicos da representação do país como nação moder-
o modelo de fotorreportagem. Dedicada na e democrática. Para reforçar essa idéia,
a uma infinidade de assuntos, inclusive
economia e da
demais países da América Latina passa-
àqueles mais sisudos, como política e eco- cultura, ainda ram a ser retratados como um todo inde-
nomia, ela sempre abriu espaço a eventos que sob a pena finido e uniformizado cuja principal carac-
diversos, curiosidades e colunismo social, terística política eram os freqüentes golpes
de acirrar a
também classificados como “mundanismo”. militares. Tanto O Cruzeiro como sua con-
Foi importante, ainda, por tornar públicos dependência...” corrente Manchete tendiam a descrever os
países vizinhos do Brasil como entidades
separadas e estranhas, regiões de políticas “Ao folhear a camente significou uma quebra radical no
atrasadas e economias caóticas. Essas vi- modelo de fotorreportagem, questionando
revista o leitor era
sões propiciaram ao país ter com relação à a própria noção de verossimilhança, fun-
América Latina uma visão semelhante à apresentado a uma ção informativa e objetividade da notícia.
que os Estados Unidos tinham dos seus vi- trama de imagens e Essas paginações passaram a ser guiadas
zinhos de língua espanhola, pondo em jogo idéias emblemáticas pelo uso de amplas figuras geométricas
sentimentos de superioridade e poder de simples, economia de elementos significan-
influência (Junqueira, 2000:141-142). de um país que tes, uso generoso dos espaços vazios e foto-
Com relação ao domínio artístico/cultu- pretendia ser montagens criativas.
ral, a revista se manteve atenta e suscetí- moderno e inovador.” Para ilustrar o grau de inovação propos-
vel à série de eventos que lançaram suas to pela revista, observe-se a reprodução de
bases estéticas nos anos 50. Ao folhear a uma fotorreportagem típica, de março de
revista o leitor era apresentado a uma tra- 1950 (fig.2), e uma reportagem bossa nova,
ma de imagens e idéias emblemáticas de de dezembro de 1959 (fig.3). Nesta última,
um país que pretendia ser moderno e ino- percebe-se a diagramação simplificada,
vador. Nessa dinâmica, a arquitetura de alto contraste, arejamento e ausência de
Oscar Niemeyer, as inovações do Design texto.
Gráfico, Poesia Concreta, Bossa Nova, Ci-
nema Novo e inícios da Arte Pop eram
amalgamados em um todo às vezes indis-
cernível ou tratado superficialmente, mas
136 que tinha a destacada função de levar ao fig.2
público uma idéia do que se passava em
torno e difundir imaginários de progresso
social e atualidade. No momento em que o
país surgia aos olhos das camadas médias
como um país do futuro, a revista não só
refletiu mas também reforçou e amplificou
as noções de modernidade em seu mais
amplo sentido, o que se deu por intermédio
não só de matérias escritas mas também
ao longo de experimentos visuais e diagra-
mações alternativas. fig.3

Naquele período de grande euforia e


crença no progresso técnico e social, mais
precisamente na transição entre as déca-
das de 50 e 60, a revista lançou um movi-
mento chamado “Bossa Nova no Jornalis-
mo”, constituído por um conjunto de apro-
ximadamente trinta matérias distribuídas
por mais de cem páginas da revista. Essa
reforma estilística caracterizada pela ex-
ploração de ambientes construídos grafi-

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As experiências do período BN foram Pode-se até dizer que as experiências BN
bastante ousadas, pois conferiram às foto- se configuraram como anti-reportagens,
grafias e à diagramação significados em si pois, entre outras características peculia-
mesmas, diminuindo consideravelmente a res, as personagens enfocadas estiveram
subordinação às legendas. Pensadas como inseridas em ambientes pensados grafica-
elementos pictóricos unitários e livres do mente, sem referenciais externos a si mes-
compromisso de reportar fatos, as novas mos, como se vê nas reportagens de janeiro
“reportagens” forneceram grande autono- e abril de 1960 (fig.4 e 5).
mia às imagens. Relativizando a neces-
sidade de se remeter a eventos e espaços
externos, cada matéria ficou encerrada fig.4

em si própria. A busca pelo visual inédito


quebrou os parâmetros da contigüidade e
previsibilidade normais e desejáveis do fo-
tojornalismo. Em lugar disso, elevou-se o
caráter poético e sugestivo por intermédio
da pura visualidade de cada página.
Mesmo quando o espaço tipográfico igua-
lou-se em tamanho com as imagens, ambos
elementos se interpenetraram de tal ma-
neira que não mais se pôde dizer em que
ponto terminava um e começava o outro. fig.5
137
Em adição, o “crescendo” de algumas le-
gendas, a tipografia inovadora ou sua dis-
posição não usual contribuíram para en-
fraquecer o sentido lógico e linear que, de
toda maneira, os textos ainda mantinham.
Além disso, sua considerável redução, a
dificuldade de leitura, bem como a super-
ficialidade (ou futilidade) da informação
fez com que os textos de fato sobrassem.
Por isso, com o advento da Bossa Nova de
“...com o advento
O Cruzeiro talvez se possa concordar em
que, finalmente, a imagem teria dominado da Bossa Nova de Se diversos fatores já contribuíam para
o texto de forma mais caracterizada. O Cruzeiro talvez questionar a idoneidade do fotojornalis-
A Bossa Nova de O Cruzeiro explicitou mo praticado por O Cruzeiro, tais como a
se possa concordar
a construção envolvida na foto de impren- invenção e manipulação de dados, com a
sa, levando as tarefas de recorte, monta- em que, finalmente, Bossa Nova tal sentimento encontrou seu
gem e colagem às últimas conseqüências. a imagem teria paroxismo. A manipulação também re-
Isto significou um forte contraponto à ve- dominado o texto forçou o viés autoral de cada exemplo, da
racidade documental que, ao menos em mesma forma como permitiu o surgimen-
princípio, deveria envolver a produção da de forma mais to de visões de mundo bem particulares,
fotografia no contexto de uma reportagem. caracterizada.” ideologicamente construídas. Além disso,
considerados fenômenos estéticos, as pa- “As diagramações ças de leitura mais direta, sensorial e en-
ginações Bossa Nova permitiram sua dis- volvente. Tal movimento em busca da ob-
Bossa Nova foram
cussão para além do âmbito estritamente jetividade na comunicação veio à tona nas
jornalístico. emblemáticas de economias centrais e no Brasil de maneira
Se a preocupação em transmitir a infor- uma certa visão de quase simultânea, num grande e interna-
mação da forma mais objetiva havia leva- mundo (...) Dessa cionalizado compromisso com o essencial.
do a imprensa comercial a empregar a fo- O uso dos espaços vazios como dados es-
tomontagem e a criatividade com muitas maneira, a revista truturais fizeram parte dessa estratégia
reservas, no período em questão esta prá- O Cruzeiro ajudou mais ampla para conter a poluição visual
tica foi revertida drástica e abertamente a difundir novas e o excesso de informações concentradas
pela revista O Cruzeiro, de modo que os numa mesma página. Assim, deu-se maior
jornalistas e designers gráficos puderam
tendências estéticas significado à informação, acentuando e en-
exercitar sua criatividade com soltura e e ideológicas, bem fatizando o tema.
independência. como amplificou um O largo emprego de fotografias sangra-
As diagramações Bossa Nova foram em- das, ocupando o maior espaço possível e
movimento cultural
blemáticas de uma certa visão de mundo, livres da moldura, também foram impor-
partes constitutivas de um contexto maior, mais amplo.” tantes itens de limpeza visual e mudan-
um imaginário fortemente inspirado pelas ça de ritmo. O fotógrafo Jean Manzon foi
vanguardas artísticas da época, especial- um dos primeiros a utilizar este recurso,
mente na pintura, escultura e arquitetu- já nos anos 40. Além de homogeneizar o
ra, quase todas embaladas pelo espírito campo visual, enaltecer a arte do fotógra-
138 construtivo, baseado em linhas amplas, fo, provocar impacto e cativar o leitor, as
grandes espaços e simplicidade formal. A imagens sangradas se contrapunham às
tônica que unia tais linguagens era dada páginas contendo dezenas de pequenas
justamente pela simplificação das formas e fotos justapostas, ao estilo “coleções de
arejamento dos espaços. Pretendia-se que selos”, cuja observação ficava prejudicada
esta nova estética representasse o momen- quando a impressão era de má qualidade.
to histórico brasileiro, ajudando a superar A figura 6 ilustra o emprego da fotografia
os aspectos arcaicos, figurativos e decora- sangrada no contexto de uma reportagem
tivos legados pelo passado colonial. Desta bossa nova de julho de 1960. Além deste
maneira, a revista O Cruzeiro ajudou a di- recurso, o exemplo também demonstra o
fundir novas tendências estéticas e ideoló- uso de tipografia inventiva, linhas de for-
gicas, bem como amplificou um movimento ça e crescendos que normalmente sugerem
cultural mais amplo. associações com fontes de luz, idéias de
As paginações inovadoras representa- atualidade, projeção futura e irradiação,
ram um ponto de inflexão na sua lingua- recursos já empregados por artistas futu-
gem específica e realizaram a síntese de ristas do início do século XX.
mudanças que, esparsamente, já se fa- As inovações propostas por O Cruzeiro
ziam presentes. As tendências verificadas no período Bossa Nova certamente foram
na propaganda, por exemplo, há muito já influenciadas pela reforma gráfica do Jor-
haviam demonstrado a preferência por nal do Brasil, de 1956, quando os espaços
formas estilizadas, visuais simplificados e foram arejados, fios e molduras foram re-
textos menos retóricos, resultando em pe- tirados, fazendo nascer uma paginação

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pôs uma revista mais leve e de leitura
fig.6

ágil; melhorou o design e a organização


interna. Por estes motivos tornou-se figu-
ra central na redação, atraindo simpatias
e inimizades. Já no início de 1954, a linha
editorial que ele havia incorporado à revis-
ta, com reforço à cobertura de eventos da
alta sociedade, começou a gerar desconten-
tamentos na equipe. O colunismo social,
iniciado justamente em reportagem de
janeiro daquele ano, foi uma tentativa de
limpa, austera e direta. O lançamento da equiparar-se à concorrente Manchete, que
revista Senhor, em 1959, também havia além de ser mais bem impressa, já havia
dinamizado o campo editorial por inter- se adiantado em privilegiar assuntos ame-
médio de um projeto gráfico integrado, do- nos em detrimento das grandes reporta-
tando o veículo de grande unidade visual, gens. Seguindo os passos da concorrente,
ousadia e soltura no trato com as ilustra- Amádio concentrou-se em fazer uma revis-
ções, abrindo o caminho para outras publi- ta mais “leve”, motivo pelo qual boa par-
cações. te da equipe o acusava de estar acabando
À época, a redação da revista O Cruzei- com o espaço anteriormente voltado ao
ro era dirigida por José Amádio, persona- “jornalismo-verdade”. Diante das pressões,
gem que assumiu a criação e a liderança o nome do jornalista deixou de constar no 139
quanto às novas paginações. José Amá- expediente a partir da edição de 16 de no-
dio ingressou no jornalismo em 1944, aos vembro de 1957. Finalizada esta sua pri-
21 anos de idade. Seu primeiro emprego meira gestão dentro da revista (de 1948 a
foi como redator da Revista do Globo, de 1957), José Amádio assumiu um alto posto
Porto Alegre, pertencente à editora homô- “O colunismo social na Schering, também pertencente a Assis
nima. Quatro anos depois, em 1948, por- (...) foi uma tentativa Chateaubriand.
tanto, recebeu convite para trabalhar em Os sucessores de José Amádio, contudo,
O Cruzeiro como assistente do secretário de equiparar- acusados de produzirem uma revista ain-
Accioly Netto. Porém, em 1950 já estava se à concorrente da pior, mantiveram-se nos postos por ape-
no lugar deste, o que significava ocupar o Manchete, que nas um ano e meio. Também sintoma da
segundo posto de maior importância na re- fragilidade interna, o lendário David Nas-
vista. Bastante culto e interessado em vá-
além de ser mais ser produziu apenas cinco reportagens em
rias modalidades artísticas, José Amádio bem impressa, já 1958 e mesmo seus artigos de opinião fica-
ingressou na revista durante seu período havia se adiantado ram meses sem ser publicados. Diante dos
áureo. Ainda que não houvesse se trans- maus resultados, Amádio reassumiu a che-
em privilegiar
formado em repórter de grande relevân- fia da redação em 31 de outubro de 1959,
cia, ele era um bom estrategista e homem assuntos amenos dando início à gestão que se estenderia até
de bastidores, sabendo dosar e misturar os em detrimento 1969.
ingredientes que tornavam as publicações das grandes Foi nesse segundo período dentro da
atraentes para os leitores. revista, iniciado em 1959, e com o crédi-
Em termos operacionais, Amádio pro- reportagens.” to renovado, que José Amádio introduziu
suas “reportagens bossa nova”. Em adição, “...decorrido apenas seguintes. Um dos editoriais também deu
ampliou seus interesses para além da sua conta de que a expressão, apesar de surgi-
um mês da primeira
antiga coluna “Cine-revista”, passando da no meio musical, tornara-se muito usa-
também a escrever a página dupla “Gente reportagem Bossa da em toda a imprensa brasileira.
que faz notícia” e a longa série “Ninguém Nova, a revista viu- O Cruzeiro explorou com bastante inten-
conhece ninguém”, dedicada a traçar per- se na necessidade sidade essas tais visualidades modernas,
fis de diversas personalidades. Ao longo fazendo surgir interessantes diálogos entre
de todas essas reportagens, páginas e co- de prestar contas as novas diagramações e as vanguardas
lunas, José Amádio explorou uma manei- junto aos leitores, artísticas oficiais, mesmo que os nomes
ra telegráfica e irreverente de escrever. Os explicando-lhes destas não fossem declarados. Dessa ma-
editoriais (ou “Conversa com o leitor”) do neira, o leitor era apresentado a um uni-
período Bossa Nova são ótimos exemplos
o estilo gráfico verso visual que lembrava algumas obras
desse tom coloquial e irônico que o jorna- inovador...” do concretismo nacional mais típico e que
lista explorou com intensidade. o tempo cuidaria de canonizar como mar-
Porém, decorrido apenas um mês da pri- cas de uma época. Assim fazendo, a revista
meira reportagem Bossa Nova, a revista utilizava uma estratégia diferenciada, que
viu-se na necessidade de prestar contas em vez de citar artistas, reproduzir obras
junto aos leitores, explicando-lhes o es- e descrever uma história, apropriava-se da
tilo gráfico inovador, ainda que este não estética, fazendo de si própria o dado novo.
tenha atingido a revista como um todo. Uma reportagem de setembro de 1960
José Amádio procurou ser o mais didático (fig.7) ilustra o viés construtivo das repor-
140 e abrangente possível. Para tanto, mencio- tagens bossanovistas, a obsessão pelo dado
nou o termo nouvelle vague como matriz geométrico e pelas montagens fotográficas.
externa; reiterou a brasilidade do vocábulo
“bossa” e a maneira como este termo havia
sido apropriado por um grupo de jovens
compositores que, dentre outras coisas, fig.7
pretendiam fazer canções com letras “mais
construtivas”. A Bossa Nova do Jornalis-
mo, contudo, foi assumida como de inteira
responsabilidade da revista em busca de
novas formas de expressão, objetivando
equiparar a linguagem jornalística às mo-
vimentações estéticas que a cercavam.
Vários editoriais cuidaram de qualifi-
car e explicar o novo tipo de jornalismo.
Para tanto, fizeram-se aproximações com
linguagens postas em prática na pintura,
arquitetura e música; empregaram-se ad-
jetivos como “paginações revolucionárias” Padrões de naturezas semelhantes tam-
e “sangue novo”, além das idéias de evolu- bém puderam ser verificados em algumas
ção, velocidade e modernidade que, de res- reportagens não relacionadas pela revis-
to, acompanhariam a sigla BN pelos anos ta no rol bossanovista. Este foi o caso da

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matéria publicada em novembro de 1963,
fig.9

sobre o lançamento da gravadora Elen-


co, cuja página inicial teve diagramação
geométrica e fotografias monocromáticas
recortadas em alto contraste (fig.8). As
capas dos discos lançados pela gravado-
ra Elenco, dedicados a repertórios tidos
como “modernos”, seguiram a mesma li-
nha construtivista e fixaram um estilo vi-
sual próprio, de economia visual que fazia
lembrar a própria canção Bossa Nova em Como já foi dito, parte considerável do
sua concisão e objetividade poética (fig.9). jornalismo Bossa Nova de O Cruzeiro re-
Talvez essa economia visual pudesse ser duziu a diagramação à lógica espacial ge-
explicada pelo fato de que a Elenco era um ométrica, ensaiando um diálogo com o abs-
selo novo e alternativo e, portanto, não ti- trato, ou com a concretude, dependendo de
nha muito dinheiro para investir na pro- como se queira chamar o distanciamento
dução. Mas, circunstâncias à parte, a idéia radical frente à representação dos objetos
de alto contraste e concisão vinculou-se materiais. Nesse processo, o desenho pla-
fortemente à linguagem musical da Bos- nificou as figuras à superfície do papel, ne-
sa Nova, influenciando outras gravadoras gando o efeito da tridimensionalidade, tal
que também se dispusessem a gravar tais como Milton Dacosta, Alfredo Volpi e Bel-
repertórios. miro de Almeida, entre tantos outros ar- 141
tistas, fizeram em sua pintura a partir das
experiências construtivas européias. Tanto
fig.8

em O Cruzeiro como nos citados pintores, o


diferencial residiu em que a figuração não
foi completamente abolida, mas adaptada
e “atualizada” de acordo com parâmetros
nascidos de certa pesquisa formal.
A BN converteu o pensamento invisível
em diagramas concretos, convidando o lei-
tor a exercitar a visualidade pura. Assim
como nas obras não-figurativas, e parado-
xalmente, a premissa da simples visuali-
“A BN converteu dade, para ser efetiva, dependia de concei-
o pensamento tos postos de antemão ao observador e for-
madores de sua experiência pessoal. Esta
invisível em era a condição para que a quase ausência
diagramas concretos, de enredos não invalidasse completamente
convidando o a significação basicamente fenomenológica
dos trabalhos.
leitor a exercitar a Ainda com relação ao princípio de ordem
visualidade pura.” do construtivismo e a maneira como este
foi recebido, Pierre Bourdieu (1996) cita “...a abstração ou profusamente colorida, por exemplo.
um catálogo de exposição de arte ocorrida Para este observador, o julgamento acer-
geométrica em tese
na França, em 1963, no qual a autora de- ca do que constitui ou não o caos depende
fine o abstrato construtivo como oriundo depende, para ter da presteza com que o “discurso” da obra
das grandes revoluções plásticas do co- sentido, de uma pode ser decifrado. No caso, o retrato
meço do século, “arte nobre, austera, que cultura teórica “significa” algo e é prontamente raciona-
afirma continuamente toda a sua vitali- lizado, pois se refere a um dado claro do
dade” e que exprime como nenhuma outra adquirida na sala de cotidiano (a figura humana, da qual bas-
linguagem “a conquista do artista sobre aula, nos livros e nas ta-se estar vivo para identificar sua exis-
um mundo ameaçado de decomposição...” exposições. Por este tência), enquanto que a abstração geomé-
Na arte concreta, portanto, “não há lugar trica em tese depende, para ter sentido,
para as forças obscuras, o atoleiro, o mór-
raciocínio, pode-se de uma cultura teórica adquirida na sala
bido”. Tradutora do domínio total do cria- entender porque a de aula, nos livros e nas exposições.
dor, nela pode ser lida “a dominação da ra- BN foi mal-aceita Por este raciocínio, pode-se entender
zão humana, o triunfo do homem sobre o porque a BN foi mal-aceita por alguns lei-
por alguns leitores e
caos”. (Bourdieu, 1996: 180-181) tores (como a própria revista o admitiu) e
Entretanto, estes são pontos de vista jornalistas...” jornalistas da equipe (que posteriormente
particulares, de uma artista ou pessoa se manifestaram a respeito). Mesmo que,
que tem familiaridade com os vários es- à época, um olhar mais atento pudesse de-
tilos ou linguagens pictóricas a ponto de cifrar-lhe intenções concretistas de razão e
ousar comparações ou regras mais gerais. ordem, o público médio por certo viu ape-
142 Se, para ela, as peças construtivistas de- nas figuras geométricas e esquemas espa-
notavam razão, ordem e clareza (o contrá- ciais que não representavam e, portanto,
rio do caos) para outro observador o efeito não portavam mensagens prontamente
poderia muito bem ser o oposto. Pode-se inteligíveis. De todo modo, a BN se concre-
perfeitamente imaginar alguém qualifi- tizou analogamente às vanguardas cons-
cando uma manifestação concreta, esta trutivistas que propunham alternativas à
sim, como sinônimo de caos, desde que ela representação naturalista. Dentro do cam-
escape completamente a uma dada expec- po noticioso e de entretenimento, a corren-
tativa ou não faça parte do acervo cultural te tentou dar roupagem contemporânea ao
que permite a tal observador apre-endê-la já bem canonizado modelo de fotorreporta-
e aceitá-la como forma de expressão esté- gem.
tica. Os idealizadores da BN de O Cruzeiro
Como exemplo, seria o caso de contra- por certo viram e se inspiraram em obras
por uma imagem concretista (abstração de Geraldo de Barros, Maurício Noguei-
geométrica) a uma outra, expressionis- ra Lima e Waldemar Cordeiro, principal-
ta (mas figurativa). É provável que um mente aquelas que exploraram efeitos de
observador alheio ao percurso das van- positivo/negativo, forma/não-forma, base-
guardas formais do século XX veja mui- avam-se na quadrícula de origem cubista
to mais ordem ou sentido e menos caos e, com isso, marcaram época no Concretis-
no quadro expressionista, mesmo que mo nacional. Nessas obras, firmando ana-
este mostre a figura humana deformada, logias com o processo fotográfico, a figura
executada sem detalhamento de traço já parecia oscilar à forma geométrica pura,

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feita de arcos, linhas retas e angulações revestindo-se ele mesmo da inovação. Em
precisas, rechaçando qualquer vestígio do tese, isto representou um contato mais ín-
pincel ou do traço à mão livre. timo e direto entre o leitor e a recém-lan-
Ao mesmo tempo em que ensaiou apro- çada vanguarda concretista, sem que fos-
ximações com o Concretismo, a BN de O sem necessárias referências explícitas ou
Cruzeiro travou relações com o Neoconcre- teorizações a respeito. Independentemente
tismo à medida que pôs a figura humana das reações que podem ter causado na mé-
no centro dos experimentos, manteve a dia dos leitores (dado, aliás, de dificílima
expressividade e convidou o leitor a usu- aquisição), cumpre ressaltar o ineditismo
fruir as novas paginações com bom humor do experimento e o caminhar paralelo da
e soltura, erguendo uma ponte na direção imprensa com a vanguarda formal. Os di-
da margem niilista do Dadaísmo. Isto sig- álogos e trocas de influências ali verifica-
nificou uma oposição à racionalidade e à das fazem ressaltar a existência de proje-
construção seriada propostos pela linha- tos culturais de sentidos análogos que, não
gem concretista mais ortodoxa. Em vez obstante a especificidade dos seus campos
disso, a subjetividade uniu-se à forma con- de atuação, denunciaram maneiras seme-
creta, ligando o projeto teórico ao universo lhantes de construção de mentalidades e
humano exposto em sua realização, como representações sociais.
se vê nesta reportagem de janeiro de 1960 Dentre todas as quase trinta reporta-
(fig.10). gens bossanovistas coletadas, apenas seis
não fixaram as autorias. As demais foram
executadas por nomes já consagrados den- 143
fig.10 tro da revista. O fotógrafo Indalécio Wan-
derley, por exemplo, foi o mais assíduo,
participando em dezesseis reportagens.
Contratado por O Cruzeiro em 1950, In-
dalécio formou dupla com vários destaca-
dos repórteres, como Ubiratan de Lemos,
Milton D’Ávila e José Amádio. Dada sua
experiência no setor, notabilizou-se como
o “fotógrafo das misses” e teve o privilégio
de fotografar mulheres de grande evidên-
cia, como Elizabeth Taylor e Marilyn Mon-
“...o jornalismo roe. Também foi responsável por inúmeras
Bossa Nova capas da revista, tornando-se bastante po-
Fiel à tradição de O Cruzeiro como veí- pular. Desde 1952 já atuava em dupla com
apresentou seu
culo impresso fortemente marcado pelo José Amádio, explorando equipamentos
compromisso com novas visualidades, o maior diferencial modernos e abordagens inovadoras.
jornalismo Bossa Nova apresentou seu quando (...) fez de si O repórter Milton D’Ávila também teve
maior diferencial quando não apenas di- próprio o dado novo, participação expressiva, assinando onze
vulgou novas linhas estéticas por intermé- reportagens. Já em 1950, ele se destaca-
dio do fotojornalismo corriqueiro, como já revestindo-se ele va na redação, ladeado por Accioly Netto
se disse, mas fez de si próprio o dado novo, mesmo da inovação” e José Amádio. Ao longo dessa década,
Milton ocupou o cargo de chefe da seção “A partir da inflexão ram das matérias bossanovistas, percebe-
de paginação, o que provavelmente expli- se que os mais assíduos conviviam e atu-
bossanovista, a
que a freqüência com que seu nome apa- avam com José Amádio já de longa data,
receu nas experiências BN. revista O Cruzeiro ou eram seus “imediatos”. Eram, por isso,
Dentre todos os repórteres envolvidos, ganhou leveza (...) jornalistas que comungavam de suas ini-
Ary Vasconcelos era aquele com mais im- tornando-se mais ciativas. Os demais, ou tinham fortes inte-
plicações no meio musical, tendo escrito resses no meio artístico, como Ary Vancon-
um livro considerado clássico: Panorama agradável para se celos, ou já eram profissionais experientes,
da música popular brasileira. Começou a manusear e ler.” como Ubiratan de Lemos, grande parceiro
trabalhar com José Amádio já em 1948. de Indalécio Wanderley, que por sua vez
Alternou-se com Fernando Lobo na co- era diretamente implicado nos novos de-
luna “Background” sobre música popu- senhos gráficos. Pelo menos aqueles de
lar, mas também escreveu sobre jazz ao maior participação já pertenciam à equi-
longo da seção “Aqui, jazz”. Além disso, pe de José Amádio quando este propôs a
costumava fazer grandes reportagens na reforma visual, não obstante suas várias
área cultural. No período Bossa Nova, “especialidades” e múltiplas formas de
contribuiu em quatro reportagens de for- atuação.
mato inovador. José Amádio, portanto, fez uso dos pro-
Ubiratan de Lemos, o último repórter fissionais que lhe eram mais próximos e
que merece destaque pelo número de experientes, garantindo, desta maneira,
participações, num total de três, foi um que o espírito das novas diagramações
144 dos parceiros mais constantes do fotó- fosse respeitado e mantido. Neste pon-
grafo Indalécio Wanderley. Destacado to, o voluntarismo de José Amádio fica
membro do “esquadrão de ouro”, como relativizado, pois mesmo que tenha sido
passou a ser conhecido o grupo de elite o mentor das inovações gráficas não era
da reportagem de O Cruzeiro, Ubiratan ele quem as executava, estando prova-
ganhou o primeiro lugar do Prêmio Esso velmente aberto a idéias e sugestões de
de Jornalismo, em 1955, com reporta- seus subordinados. Porém, a quantidade
gem sobre retirantes nordestinos. No de pessoas envolvidas na realização das
início dos anos 70, ele ainda trabalhava matérias não parece ter suscitado pro-
na revista, ocupando o cargo de chefe de blemas quanto à autoria da idéia origi-
reportagem. Em 1972, assim como tan- nal, pois José Amádio havia tomado esta
tos outros profissionais, Ubiratan esta- providência, declarando-se o “pai” da
va fortemente envolvido com manobras Bossa Nova jornalística desde o seu iní-
internas que privilegiavam as matérias cio, como já ressaltado aqui.
pagas, garantindo aos repórteres ganhos A partir da inflexão bossanovista, a re-
bastante elevados. Além dele, outros re- vista O Cruzeiro ganhou leveza, como se
pórteres, fotógrafos e ilustradores deram vê no exemplo de página dupla de 20 de
contribuições eventuais às paginações abril de 1963 (fig.11), tornando-se mais
Bossa Nova, tais como Pedro Lima, Ál- agradável para se manusear e ler. Os anos
vares da Silva, Eurilo Duarte, Antonio 60, contudo, foram bastante conturbados
Rudge e Jean Solari. para a empresa. A má administração, o
Analisando-se os nomes que participa- desvio de recursos e os altos salários leva-
ram-na à insolvência. Ainda mais, a morte
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fig.11
e altas tiragens que, pela importância e
distanciamento, já pertenciam à história
do jornalismo brasileiro.

Sobre o texto
Este artigo baseou-se na pesquisa:
GAVA, José Estevam. Momento Bossa
Nova: arte, cultura e representação sob
os olhares da revista O Cruzeiro. Assis:
2003. 215 p. Tese (Doutorado em História
de Assis Chateaubriand, em 1968, fez com e Sociedade) - FCL - UNESP. Orientadora:
que os antigos Diários Associados perdes- Profª Drª Tania Regina de Luca.
sem o elo simbólico que os unia. Mesmo
que sua morte não tivesse causado o fim
do império jornalístico, o desaparecimento
do líder já prenunciava a derrocada quase José Estevam Gava
geral, de modo que diversos bens e proprie- O autor é natural de São Caetano do
dades passaram a ser vendidos para saldar Sul, São Paulo. Graduou-se em Música, é
dívidas. Nessa seqüência de leilões, só uma mestre em Artes pelo Instituto de Artes da
mínima parte do patrimônio foi preser- Universidade Estadual Paulista (UNESP)
vada. Com o dinheiro obtido foram pagos e doutor em História Social pela Faculda- 145
fornecedores, indenizações, déficits opera- de de Ciências e Letras da mesma univer-
cionais acumulados e dívidas bancárias. A sidade. Atualmente, leciona na Universi-
tiragem da revista, porém, continuava em dade Federal de Pelotas.
queda.
Tendo já perdido sua aura de moderni-
dade, a velha revista dos arranha-céus
deixou de ser publicada em julho de
Bibliografia
1975. Dois anos depois houve uma ten- A Revista no Brasil. São Paulo: Abril, 2000.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. História
tativa de reviver o título O Cruzeiro; seu
da imprensa brasileira. São Paulo: Ática, 1990.
formato sofreu uma diminuição, sem con- BAITZ, Rafael. Um continente em foco: a imagem
tudo adicionar-lhe grandes outros atrati- fotográfica da América Latina nas revistas semanais
vos, de modo que a meta de se retomar brasileiras (1954-1964). São Paulo: 1998, 181p.
o sucesso de vendagem parecia um sonho Dissertação (Mestrado em História Social) – FFLCH
muito distante. Nesta segunda fase, ini- – Universidade de São Paulo.
ciada e dirigida pelo jornalista Alexandre BOURDIEU, Pierre. As Regras da Arte. São Paulo:
von Baumgarten, O Cruzeiro ainda resis- Companhia das Letras, 1996.
BRITO, Jomard Muniz. Do modernismo à bossa
tiu por aproximadamente seis anos, apa-
nova. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
gando-se de vez em 1983. À época, quase BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo. Vértice e ruptura
um quarto de século havia transcorrido do projeto construtivo brasileiro. Rio de Janeiro:
desde o lançamento das paginações bos- Funarte, 1985.
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