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Resumo Abstract
Este artigo discute algumas representações de moder- This article discusses some representations for moder-
niade propostas pela revista O Cruzeiro, com atenção nity proposed by O Cruzeiro maganize. Nevertheless,
especial à reforma gráfica ocorrida nos anos de 1959 special attention is given to a new graphic design ex-
e 1960, intitulada “paginações Bossa Nova”. Caracte- plored in 1959 and 1960, named “Bossa Nova pages”. 133
rizada pela geometrização, economia de elementos e Characterized by the geometric, economy of elements
am-plo uso de fotomontagens, a reforma atuou como and wide use of photomontage, the movement sttod
mani-festo pela atualização da forma de acordo com for a manifestation for the updating of the graphic
as li-nhas construtivistas vigentes no Rio de Janeiro e form according to the “constructivists” thoughts, which
São Paulo naquele momento. were coming out in São Paulo and Rio de Janeiro at
the time.
Palavras-chave Keywords
Jornalismo, O Cruzeiro, visualidade, representação, modernis- Journalism, O Cruzeiro, visual information, representation,
mo modernism
A revista O Cruzeiro “...o novo formato e findo o Estado Novo no Brasil, a revista
Quando começou a circular, em dezem- era líder em termos de abrangência e, até
para a notícia
bro de 1928, a revista O Cruzeiro já se o final dos anos 50, pôde realizar freqüen-
autoqualificava um veículo moderno, “a
caracterizou-se tes melhorias em seu parque gráfico. Neste
revista dos arranha-céus”. No dia previsto por aprofundar período considerado o mais próspero, que
para o lançamento, e não obstante a preca- mudanças já em se estendeu até o início dos anos 60, a tira-
riedade das comunicações no Brasil, a pu- gem de O Cruzeiro alcançou números ex-
curso no sentido de pressivos, ultrapassando a marca dos 700
blicação atingiu todas as capitais simulta-
neamente, feito que lhe garantiu o pionei- fazer a fotografia mil exemplares semanais.
rismo em termos de abrangência nacional. transcender as Seguindo os passos de algumas congê-
A idéia e os primeiros passos no senti- neres estrangeiras, especialmente a nor-
funções ilustrativas te-americana Life, O Cruzeiro marcou épo-
do de se criar uma revista com circulação
nacional deveu-se ao jornalista português ou de simples ca na história do jornalismo brasileiro ao
Carlos Malheiro Dias que, frente a dificul- registros de incorporar a reportagem investigativa e o
dades financeiras, vendeu o título a Fran- modelo de fotojornalismo. Movimentação
ocorrências.”
cisco de Assis Chateaubriand Bandeira de iniciada por aqui em meados dos anos 40,
Melo (1892-1968), empresário, advogado, o novo formato para a notícia caracterizou-
professor universitário e jornalista. À épo- se por aprofundar mudanças já em curso
ca, Assis Chateaubriand já possuía alguns no sentido de fazer a fotografia transcen-
jornais e a nova revista contribuiu para a der as funções ilustrativas ou de simples
diversificação do seu conjunto de veículos. registros de ocorrências. Pelo contrário,
134 Em pouco tempo, contudo, ela se trans- os instantâneos tornaram-se componentes
formava em título de grande destaque no de um todo mais orgânico, em que a busca
mercado editorial brasileiro, encontrando por inovações e impacto visual eram cons-
um sucesso de público que se estenderia tantes. Tendo elevado significativamente
por décadas, até seu fechamento em 1983. as vendas e a tiragem, as transformações
Em termos institucionais, a empresa O deram provas de que o novo formato da
Cruzeiro possuía independência para de- reportagem era essencial para a revista,
finir a pauta e procedimentos internos. acompanhando seu período de maior su-
Porém, assim como os demais veículos da cesso.
cadeia Diários Associados, ela estava su- A implantação da fotorreportagem in-
jeita a acatar as vontades e interesses de fluiu diretamente na escalada da tiragem.
seu proprietário quanto a determinadas A edição com a cobertura do suicídio de Ge-
reportagens ou matérias em especial. Uma túlio Vargas (1954), por exemplo, atingiu
vez conquistado o sucesso de público, ela a cifra de 720.000 exemplares, número só
se tornou motivo de orgulho para Assis recentemente igualado pela revista Veja.
Chateaubriand, que não tardou a utilizá- Mas, levando-se em conta o crescimento da
la como ferramenta de pressão política e população, vê-se que o feito de O Cruzeiro
ideológica. No contexto dos Diários Asso- ainda não foi superado em termos relati-
ciados, a revista logo cumpriu o papel de vos. Por isso, tornou-se lugar-comum entre
vitrine e meio privilegiado para divulga- os analistas dizer-se que, àquela época, O
ção de notícias, assuntos variados e cam- Cruzeiro significava para o Brasil o que a
panhas de interesse nacional. TV Globo significou nos anos 80. O gráfico
Finalizada a Segunda Guerra Mundial a seguir (fig.1) mostra a curva da tiragem
Estudos em Jornalismo e Mídia
Vol.II Nº 1 - 1º Semestre de 2005
da revista entre 1940 e 1970 e foi elabora- os avanços técnicos da fotografia, além de
do a partir de dados fornecidos pelos au- contribuir para a profissionalização e reco-
tores consultados e pelos exemplares de O nhecimento de muitas pessoas envolvidas
Cruzeiro verificados. no fazer jornalístico.
Sobre o texto
Este artigo baseou-se na pesquisa:
GAVA, José Estevam. Momento Bossa
Nova: arte, cultura e representação sob
os olhares da revista O Cruzeiro. Assis:
2003. 215 p. Tese (Doutorado em História
de Assis Chateaubriand, em 1968, fez com e Sociedade) - FCL - UNESP. Orientadora:
que os antigos Diários Associados perdes- Profª Drª Tania Regina de Luca.
sem o elo simbólico que os unia. Mesmo
que sua morte não tivesse causado o fim
do império jornalístico, o desaparecimento
do líder já prenunciava a derrocada quase José Estevam Gava
geral, de modo que diversos bens e proprie- O autor é natural de São Caetano do
dades passaram a ser vendidos para saldar Sul, São Paulo. Graduou-se em Música, é
dívidas. Nessa seqüência de leilões, só uma mestre em Artes pelo Instituto de Artes da
mínima parte do patrimônio foi preser- Universidade Estadual Paulista (UNESP)
vada. Com o dinheiro obtido foram pagos e doutor em História Social pela Faculda- 145
fornecedores, indenizações, déficits opera- de de Ciências e Letras da mesma univer-
cionais acumulados e dívidas bancárias. A sidade. Atualmente, leciona na Universi-
tiragem da revista, porém, continuava em dade Federal de Pelotas.
queda.
Tendo já perdido sua aura de moderni-
dade, a velha revista dos arranha-céus
deixou de ser publicada em julho de
Bibliografia
1975. Dois anos depois houve uma ten- A Revista no Brasil. São Paulo: Abril, 2000.
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tativa de reviver o título O Cruzeiro; seu
da imprensa brasileira. São Paulo: Ática, 1990.
formato sofreu uma diminuição, sem con- BAITZ, Rafael. Um continente em foco: a imagem
tudo adicionar-lhe grandes outros atrati- fotográfica da América Latina nas revistas semanais
vos, de modo que a meta de se retomar brasileiras (1954-1964). São Paulo: 1998, 181p.
o sucesso de vendagem parecia um sonho Dissertação (Mestrado em História Social) – FFLCH
muito distante. Nesta segunda fase, ini- – Universidade de São Paulo.
ciada e dirigida pelo jornalista Alexandre BOURDIEU, Pierre. As Regras da Arte. São Paulo:
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