Sei sulla pagina 1di 4

RECURSOS HÍDRICOS, SANEAMENTO E SAÚDE∗

Luís Sérgio Ozório Valentim


Diretor de Meio Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária

Garantir qualidade de vida requer contexto apropriado, no qual uma sociedade


politicamente organizada, democrática, é apoiada em instituições públicas bem estruturadas e
prontas a responder com eficácia a diferentes anseios sociais.

Se vista de modo abrangente, saúde é qualidade de vida, não apenas ausência de


doenças. Ao considerar o coletivo, o conceito de saúde amplia horizontes para além dos
desequilíbrios e desvios de ordem individual, que envolvem intervenções terapêuticas próprias
ao campo da medicina. Uma sociedade saudável é mensurada não somente por indicadores
epidemiológicos, mas também por condições de renda, educação, habitação, alimentação,
saneamento, entre outros.

No tocante ao saneamento, as relações com a saúde pública são bem conhecidas e


fartamente estudadas. Sabe-se que prover saneamento básico resulta na redução de mortes,
especialmente de crianças, em geral mais vulneráveis a um meio ambiente agressivo. A
situação de algumas de nossas cidades no início do século passado, quando dos primeiros
passos rumo à industrialização e urbanização não planejada, é emblemática dos transtornos
que a falta de saneamento causa à saúde pública. Embora possamos sempre nos valer de
imagens que inspirem arroubos saudosistas, ou ufanistas, difícil falar em qualidade de vida em
cidades como a São Paulo do início do Século XX, onde grande parcela da população
desconhecia o que fosse rede de esgoto ou água tratada e convivia com freqüentes surtos e
epidemias de cólera, febre tifóide, hepatite, disenterias, diarréias e outras doenças infecciosas
ou parasitárias causadas pelo contato com água contaminada, com esgoto e lixo a céu aberto.

Daquela época à atual, ocorreram avanços notórios e novos problemas se


impuseram. Atualmente, cerca de 99% dos domicílios urbanos paulistas, que abrigam em
torno de 39 milhões de pessoas, têm acesso à rede pública ou privada de água; água potável,
sujeita a controle de qualidade pelo operador e à vigilância do poder público. Diminuiu muito
também a percentagem dos cidadãos paulistas que não têm a rede como destino para o
esgoto doméstico: algo próximo a 90% dos domicílios urbanos contam com este benefício,
embora apenas 45% do esgoto coletado passe por tratamento antes de chegar aos corpos
d’água. Além disso, os serviços públicos de coleta de resíduos sólidos se expandiram e
aprimoraram, garantindo a coleta do lixo gerado na quase totalidade dos domicílios urbanos
nos 645 municípios do Estado, além de sensível melhora no tratamento e destinação final.


Publicado na Revista Diálogo, São Paulo, 3º edição, setembro de 2008.
Ao aprimorar políticas públicas e o acesso aos serviços de saneamento, habitação,
educação, saúde, entre outros, a sociedade garante maior bem-estar e diminui
vulnerabilidades a fatores de riscos de doenças. Cidadãos mais educados, conscientes e
integrados social e economicamente se sujeitam menos a adoecer por motivos que, em nosso
estágio de civilização, são passíveis de prevenção. Numa perspectiva histórica mais ampla, uma
série de questões precisaram ser compreendidas e enfrentadas para que, por exemplo, uma
em cada cinco crianças nascidas no Estado de São Paulo deixasse de morrer, em 1920, antes
de completar um ano de idade. Em 2007, com taxa de mortalidade infantil de 13,1 por mil
nascidos vivos (uma morte para cada 76 crianças nascidas vivas), São Paulo pode eleger outras
prioridades - que não apenas o saneamento - para reduzir ainda mais a mortalidade de suas
crianças.

Mas a estrada do progresso não é bem pavimentada. Desigualdades sociais e de


várias outras ordens sobrepõem riscos do passado e do presente, exigindo estratégias
particulares de vigilância para diferentes fatores ambientais de risco à saúde. Em termos de
saneamento, muitas áreas, especialmente as situadas nas bordas das grandes cidades,
configuram-se como aglomerados populacionais servidos – quando o são – de infra-estrutura
de água, esgoto, drenagem urbana, além de coleta de lixo, de baixa qualidade, sujeitando-as a
doenças bem conhecidas em nosso meio, como a dengue.

Há também o fator escala, que relativiza muitos avanços obtidos. Se na década de


1920 praticamente todo o esgoto gerado pelos cerca de 500 mil habitantes do estado era
despejado diretamente, sem nenhum tratamento, no meio ambiente, nos dias de hoje 45% do
esgoto doméstico é tratado. Vale lembrar, no entanto, que o Estado abriga atualmente quase
42 milhões de pessoas. Desta forma, mesmo tratando quase metade do efluente gerado, os
corpos d’água do estado recebem esgoto de 23 milhões de pessoas, uma pressão sobre o meio
ambiente quase 50 vezes superior ao que ocorria em 1920.

Importante levar em conta também a tecnologia química, que desde o nascer da


revolução industrial sintetizou centenas de milhares de novas substâncias de grande proveito
ao homem, mas cujas características toxicológicas são ainda pouco conhecidas. Exemplo
marcante das relações entre a química e a saúde pública são as 2.200 áreas cadastradas como
contaminadas pela Cetesb no Estado de São Paulo, passivos construídos ao longo de mais de
um século de processos produtivos não alinhados com a preservação do ambiente, só
recentemente tornadas públicas e gerenciadas em termos de impactos ambientais e riscos à
saúde.

Neste contexto, a agenda da saúde pública passou a priorizar outros problemas que
não só as doenças infecciosas e parasitárias, englobando novos fatores ambientais de risco à
saúde associados à exposição humana a substâncias químicas tóxicas, potencialmente
causadoras de transtornos neurológicos, reprodutivos e imunológicos, insuficiências renais e
hepáticas, doenças pulmonares e respiratórias, cânceres e outros males.

O cenário atual demanda novos desafios à sociedade e exige formas de gestão mais
elaboradas dos órgãos públicos que lidam com a regulação de riscos ambientais e sanitários.
Especialmente a partir de 1988, com o novo texto constitucional, a sociedade vem lapidando
formas de gestão integrada e participativa para gestão de seus problemas relacionados ao
meio ambiente, aos recursos hídricos, ao saneamento e à saúde.

A Política Estadual de Recursos Hídricos é bom exemplo deste aprimoramento, pois


adota o gerenciamento descentralizado, participativo e integrado da água e institui instâncias
regionalizadas, os Comitês de Bacia Hidrográfica, para lidar de forma democrática com os
conflitos pelo uso da água. Nesse mesmo sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem por
diretrizes a participação da comunidade, a descentralização político-administrativa e a
regionalização e hierarquização das ações. Alinhadas por princípios gerais, as políticas de
saúde e recursos hídricos se aproximam também pelo objeto, uma vez que, se a água é
elemento síntese da política de recursos hídricos, para o setor Saúde ela é fator condicionante
e determinante da saúde da população. É por este motivo que a Secretaria de Estado da Saúde
entende os Comitês de Bacia Hidrográfica como importantes fóruns para a promoção da
saúde.

Desta forma, as iniciativas do poder público para a gestão racional da água, o


controle ambiental e a promoção e prevenção da saúde não podem dispensar o olhar
integrado e o diálogo permanente. Passos importantes nesse sentido vêm sendo dados, como
o gerenciamento integrado – pelos setores de saúde, saneamento e meio ambiente - de
problemas relativos ao consumo de água subterrânea de poços tubulares profundos,
especialmente nas áreas densamente urbanizadas e industrializadas, muitas delas possuidoras
de passivos ambientais de diferentes origens.

Potrebbero piacerti anche