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CORROSÃO NA ARMADURA DO CONCRETO ARMADO:

INFLUÊNCIA DOS AGENTES CLORETOS E DA


CARBONATAÇÃO
Lyttelton Rebelo Fortes
Engenheiro Civil, Prof. Adjunto 4 (M.Sc.)
Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará
José Carneiro de Andrade
Engenheiro Civil, Prof. Titular (PhD.)
Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará

RESUMO
A contaminação do concreto armado por cloretos ocorre com maior intensidade nas obras localizadas em
ambientes marítimos e é de especial interesse a adversa situação das estruturas de concreto localizadas nas
Praias do Futuro, Cofeco e Icaraí (Ceará - Brasil).
Este trabalho mostra que a ação agressiva dos íons cloreto e o mecanismo da carbonatação no concreto de
cobrimento são os principais fatores responsáveis pela iniciação do processo de corrosão da armadura.
Ademais, o fenômeno da corrosão no concreto é sucintamente discutido e os principais fatores influentes
são apresentados.

1. INTRODUÇÃO
O composto concreto, formado por cimento, água e agregados, é caracterizado estruturalmente pela alta
resistência à compressão. No entanto, é baixa sua resistência à tração. O concreto, de resistência moderada
(20 a 40 MPa), é o mais comumente utilizado nas estruturas. Atualmente, já existe produção de concreto
comercial de alta resistência, chegando até 130 MPa. (MEHTA & MONTEIRO, 1994).

Devido à baixa resistência do concreto à tração, este é associado à armadura de aço, constituindo-se o
concreto armado. O concreto e o aço são materiais de construção compatíveis, não apresentando problemas
quanto a dilatação térmica e são largamente usados na Construção Civil.

Com exceção dos metais nobres (ouro, prata e platina) que são encontrados na natureza sob a forma
estável, os outros existem na forma de minério (matéria prima) na condição de maior estabilidade em
relação ao metal já beneficiado.

Para extrair um certo metal é necessário aplicar, ao minério, energia num processo de redução. O metal
perdendo energia através de uma reação espontânea retorna, gradualmente, ao seu estado natural. Tal
fenômeno é chamado corrosão metálica que é a transformação dos materiais metálicos, pela ação
química ou eletroquímica do meio. Caso o aço não tenha proteção, entrando em contacto com o ar
atmosférico e umidade, volta ao seu estado original (minério) sofrendo corrosão.

O custo da corrosão é estimado em 3,5% do Produto Nacional Bruto (PNB) de países em desenvolvimento.
No Brasil, representou, em 94, cerca de 16 bilhões de dólares, sendo 18% deste valor creditado à
construção civil, o que importa um custo da ordem de 3 bilhões de dólares.
Quando corretamente executado, o concreto protege a armadura sobre dois aspectos: o físico e o químico.
Quanto ao primeiro, a proteção é devida à barreira física proporcionada pelo cobrimento, sobre a armadura,
cuja eficiência depende da qualidade e dimensão da espessura do concreto de cobrimento; a proteção
química resulta do elevado pH existente na solução aquosa presente nos poros do concreto, permitindo,
assim, a formação de uma fina película protetora, conhecida como camada de passivação.

Os poros do concreto, de dimensões relevantes, são ocupados pela fase aquosa do concreto, contendo
componentes iônicos como OH- , Na+, Ca2+, K+ e SO42- , liberados pelas reações de hidratação ou de
cura. Os íon Na+ e K+ são os principais responsáveis pela elevação da alcalinidade do concreto. A fase
líquida ou aquosa do concreto apresenta pH entre 12,5 a 13,5, favorecendo a formação de uma camada de
óxido férrico passivante, composta de -Fe2O3 (lepidocrocita) compacta e aderente à superfície da
armadura, protegendo-a, segundo Gouda, 1966; Page, 1983, citados por FIGUEIREDO (1994).

Pourbaix mostra em seu diagrama potencial-pH, Figura 1, que para valores de pH entre 10,5 e 12,6, bem
como para potenciais situados entre + 0.1 e - 0,5V, relativos ao potencial normal de hidrogênio, há
passivação do ferro/aço. (POURBAIX, 1987).

FIGURA 1. Diagrama de equilíbrio E-pH para o sistema ferro/água (Fe, Fe2O3 e Fe3O4) a 25ºC e 1 atm
(POURBAIX, 1987).

O concreto que envolve a armadura de aço, quando executado sem os devidos cuidados, pode não
funcionar como uma barreira perfeita, permitindo que os vergalhões sofram ataques de íons agressivos ou
de substâncias ácidas existentes na atmosfera, danificando a camada passivante ou protetora. Os principais
agentes responsáveis pela perda de proteção são: o dióxido de carbono (CO2) e os íons cloreto (Cl- ).
As armaduras podem sofrer as seguintes formas de corrosão eletroquímica (GENTIL, 1982):
- Corrosão uniforme: corrosão em toda a extensão da armadura quando esta fica exposta ao meio
corrosivo;

- Corrosão puntiforme ou por pite: os desgastes são localizados sob a forma de pequenas cavidades,
também chamadas alvéolos;

- Corrosão intragranular: é processada entre os grãos dos cristais do metal e quando os vergalhões sofrem,
principalmente, tensões de tração, podem fissurar ou fraturar perdendo sua estabilidade;

- Corrosão transgranular: que se realiza intragrãos da rede cristalina, podendo levar à fratura da estrutura,
quando houver esforços mecânicos;

- Fragilização pelo hidrogênio: corrosão originada pela ação do hidrogênio atômico na sua difusão pelos
vergalhões da armadura, propiciando a sua fragilização e, em conseqüência, a fratura.
São extremamente graves as quatro últimas formas de corrosão quando existe ação conjunta de solicitação
mecânica e meio corrosivo (o que é bastante provável) pois ocasionam a corrosão sob tensão fraturante,
possivelmente a mais grave, podendo provocar a ruptura da armadura do concreto, enquanto que, a menos
prejudicial, é a uniforme, pois se apresenta distribuída em toda a extensão da barra de aço e, portanto,
dificilmente traz conseqüências graves.

2. CORROSÃO EM MEIO AQUOSO


O mecanismo da corrosão da armadura é uma manifestação específica da corrosão eletroquímica em meio
aquoso, se bem que o eletrólito confinado a uma rede de poros existentes no concreto possui resistividade
elétrica bem mais elevada do que a verificada nos eletrólitos típicos ou comuns. Daí o mecanismo da
corrosão do aço, no concreto, só se desenvolver em presença de água ou ambiente com umidade relativa
elevada (U.R.> 60%). Por outro lado isto só ocorre nas três seguintes condições básicas, segundo
HELENE, (1993): 1) existência de um eletrólito; 2) deve existir uma diferença de potencial de eletrodo e 3)
presença de oxigênio.

É um processo desenvolvido de modo espontâneo como o de qualquer pilha eletroquímica onde existam
um anodo, um cátodo, um eletrólito e a presença de um condutor elétrico. A ausência de um destes
elementos impedirá o início da corrosão ou cessará o processo, caso já esteja em andamento.

Entre o anodo e o cátodo haverá uma ddp que pode dar origem à circulação de corrente elétrica, devido a
formação de uma certa pilha. Conforme a intensidade de corrente e a de acesso do oxigênio, haverá
corrosão que tanto poderá evoluir lentamente e, neste caso, ser desprezível para efeito de vida útil da
estrutura, como rapidamente, quando a corrosão deverá ser considerada.

O fenômeno eletroquímico da corrosão da armadura, desde que esta esteja despassivada, é ilustrada nas
Figuras 2 e 3 e está resumido como segue:
FIGURA 2. Formação de pilha de corrosão em concreto armado (Andrade,
1992 e Porrero, 1975, citado por HELENE, 1986).

- Primeiramente, a película passivante da armadura é destruída por ação combinada da umidade, do


oxigênio e de agentes agressivos, principalmente cloretos, que penetram no concreto. A concentração
destes elementos é variável ao longo da armadura, dando origem a uma pilha de corrosão, devido a ddp
entre trechos diferentes (anodo e cátodo). Surge uma corrente elétrica (fluxo de íons) que sai das áreas
anódicas para o concreto (eletrólito), corroendo-as, penetra nas áreas catódicas, protegendo-as e retorna à s
áreas anódicas, pelos ferros da armadura, fechando o circuito.

No anodo: há um fluxo de elétrons para o cátodo, (por convenção a corrente é no sentido inverso) através
da própria ferragem da armadura. Há também a transformação de Fe em Fe2+ que é transportado através
do eletrólito em direção ao cátodo e
No cátodo: graças ao ganho de elétrons, desenvolve-se uma combinação com o hidrogênio da água,
existente nos poros do concreto (eletrólito), gerando íons OH- que migram em direção ao anodo e se
encontram com os íons Fe2+, que estavam sendo atraídos pelo cátodo, formando o Fe (OH)2 que é o
hidróxido ferroso, fracamente solúvel, uma das formas de ferrugem.

- As reações típicas, mais simples, estão indicadas nas respectivas áreas (Figura 3). As reações anódicas
ocorrem no aço produzindo sua corrosão e nas áreas catódicas, as reações são processadas no meio, não
havendo, assim, dissolução do aço. Estas reações eletroquímicas são as mais simples, variando conforme as
condições do meio, para reações mais complexas.

Não há corrosão em concretos secos (ausência de eletrólito) e tampouco em concreto totalmente saturado,
devido não haver suficiente acesso de oxigênio. Em tais condições, só haverá dissolução do aço da
armadura, se houver intensidade de corrente suficiente para realizar a eletrólise da água gerando, assim,
oxigênio extra, pois sempre existe água no concreto e, geralmente, em quantitativo suficiente para atuar
como eletrólito, mormente quando este está em presença de climas úmidos.

Na armadura do concreto é comum a utilização dos aços de baixo teor de carbono, (geralmente com menos
de 0,4%) quando os vergalhões são usados em concreto armado. A pilha de corrosão não é, portanto, do
tipo galvânica pura. Outro ponto interessante é que a solução aquosa intersticial do concreto é capaz de
reagir com o aço, constituinte da armadura, não havendo eletrodeposição como é comum nas pilhas
galvânicas puras. Os produtos da corrosão são depositados nos poros capilares e fissuras existentes na
circunvizinhança da armadura do concreto e não no próprio metal.

A heterogeneidade na superfície do aço ou no concreto, na vizinhança da armadura, poderá justificar a ddp


entre regiões distintas, muito próximas ou com certa distância, formando as chamadas micro ou
macropilhas, respectivamente. As pilhas que ocorrem com mais freqüências no concreto armado, são dos
tipos: 1) Pilha de aeração diferencial; 2) Pilha de concentração salina diferencial; 3) Pilha de tensão
diferencial; 4) Pilha de temperatura diferencial e 5) Pilha imposta.

FIGURA 3. Pilha de corrosão em concreto armado com o anodo e cátodo em


barras distintas (LABRE & GOMES, 1989).
3.MODELO DE VIDA ÚTIL DE TUUTTI
O modelo clássico de vida útil da armadura do concreto, relativa à corrosão, está ilustrado na Figura 4.
Entende-se por vida útil o período de tempo no qual a estrutura é capaz de desempenhar as funções,
economicamente, para as quais foi projetada. A vida útil é dividida, geralmente, em dois períodos, um de
iniciação e outro de propagação:

3.1. PERÍODO DE INICIAÇÃO


É o tempo que demora para o agente agressivo atravessar o concreto de cobrimento atingindo a armadura
até sua despassivação. Isso não significa que, a partir desse momento, haverá corrosão importante.
Entretanto, pelo lado da segurança, é o período em que deve ser adotado no projeto da estrutura.

FIGURA 4. Modelo de vida útil de TUUTTI (ANDRADE, 1992).

A película passiva é a defesa e garantia de que a armadura não sofrerá corrosão, mas poderá ser destruída
pela presença de agentes agressivos, principalmente de íons cloretos, que podem vir tanto do meio externo
como podem estar presentes no seio do concreto, oriundos da água de amassamento, agregados ou de
aditivos à base de CaCl2 (Cloreto de cálcio). Outro fator é a diminuição da alcalinidade do concreto devido
à s reações de carbonatação do concreto ou havendo, neste, penetração de substâncias ácidas.

3.1.1. Ação dos íons cloreto (Cl- )


Tais íons têm o poder de destruir, de forma localizada, a película passivante sobre a armadura, provocando
a corrosão por pite. Estes pontos, ou pequenas crateras, formam o anodo da pilha de corrosão e, devido à
sua progressão em profundidade, podem provocar a ruptura da barra de aço. O restante da superfície
metálica torna-se o cátodo e como se sabe, a relação área anódica/área catódica, sendo muito pequena,
poderá dar motivo a uma intensa corrosão.
Há cloretos no concreto porque foram levados com seus componentes (aditivos, água, brita e areia) ou por
penetração, do exterior, através da rede de poros, como é o caso de ambientes marinhos (maresia ou névoa
salina) e de sais de degelo usados em estradas e estacionamentos nos países de climas frios. (ANDRADE,
1992).

As normas existentes limitam o conteúdo de cloretos totais no concreto fresco, em relação a massa de
cimento (%). Tal conteúdo depende de vários parâmetros, entre os quais, cita-se: tipo de cimento,
quantidade de cimento, relação a/c, conteúdo de umidade, agressividade do meio, adensamento, cura e
outros, havendo, portanto, dificuldade de ser estabelecido um limite seguro abaixo do qual não haveria
possibilidade de despassivação da armadura de aço.

Segundo, ainda, ANDRADE (1992), um valor médio aceito, geralmente, para o teor de cloreto é de 0,4%
em relação a massa de cimento ou 0,05% a 0,1% em relação a massa de concreto.
Já pela Norma Brasileira, NBR- 6118, o máximo teor de cloretos é de 500mg/l, em relação a água de
amassamento do concreto.

Parte dos cloretos fica ligada ao aluminato tricálcico (C3A) e formam principalmente o cloroaluminato de
cálcio, conhecido por sal de FRIEDEL (C3A.CaCl2.10H2O). Este sal se incorpora à s fases sólidas do
cimento hidratado, sendo que uma outra porção é adsorvida na superfície dos poros e, finalmente, uma
terceira porção fica dissolvida na fase aquosa dos poros, formando os cloretos livres que são perigosos.

"De todas as formas, as normas referem-se sempre ao limite de cloretos totais, porque os cloretos
combinados podem voltar à dissolução por efeito de processos como a carbonatação." (ANDRADE,
1992).

Segundo o relatório do ACI 2221, citado por HELENE (1993), existem modernamente três teorias que
explicam os efeitos dos íons cloretos na corrosão do aço:

- Teoria do Filme de Óxido: há penetração até o aço, dos íons Cl- , através dos poros ou defeitos existentes
no concreto, com maior facilidade do que a penetração de outros íons como o SO42- . Além disso, pode
haver a dispersão coloidal da película de óxidos, facilitando a sua penetração.

- Teoria da Adsorção2: os íons cloretos, em competição com o oxigênio dissolvido ou com íons hidroxila,
são adsorvidos na superfície do metal. É facilitada a dissolução dos íons metálicos, pela hidratação
promovida pelos íons cloreto.

- Teoria do Complexo Transitório: para a produção de compostos de corrosão, denominados complexos


transitórios, os íons cloreto (Cl- ) competem com os íons hidroxila (OH- ). É então formado o complexo
solúvel de cloreto de ferro que, ao difundir-se, partindo das áreas anódicas em direção ao cátodo provoca a
destruição da camada protetora de Fe(OH)2 permitindo, assim, o prosseguimento da corrosão. A certa
distância do anodo, o complexo de cloreto de ferro é rompido e, pela precipitação do hidróxido de ferro, o
Cl- fica livre para transportar mais íons ferrosos da área anódica. Como não há estanqueidade do processo
corrosivo, mais íons ferrosos migram no concreto, partindo do ponto de corrosão e reagindo, também, com
o oxigênio, formando óxidos que provocam aumento de volume da armadura de aço, de até 10 vezes maior
do que o inicial, ocasionando fissuras no concreto, na direção longitudinal as barras, por causa das tensões
internas de tração.

Alguns pesquisadores, citados por FIGUEIRO (1994), buscam uma relação de [ Cl- ] /[ OH- ] , onde se
inicia o processo de corrosão. Housmann (1967), trabalhando em solução alcalina, sugeriu o valor 0,6 para
aquela relação, a partir do qual ocorreria a despassivação da armadura, bem como Andrade; Goñi (1990)
pesquisando em soluções semelhantes, obteve valores de 0,3 a 0,8 para a mesma relação, isto é, valores
aproximados, quando a média dos dois últimos dados é adotada. A ação destruidora dos íons cloreto é de
alcance bastante amplo pois aumentam, consideravelmente, a condutividade elétrica do eletrólito, elevando
a ação corrosiva e participam, através das reações, na formação dos produtos de corrosão.

Os íons cloreto (Cl- ), em contato com a armadura, produzem uma redução do elevado pH do meio,
formado por valores ao redor de 12,5 a 13,5 para valores de até 5, segundo Rostam, 1993, citado por
RAMOS & HELENE (1995) destruindo, assim, geralmente de forma localizada, a camada passivadora,
resultando a corrosão por pite (pequena área anódica) que, após formado, permanece ativo sempre
reduzindo o diâmetro da barra.

Os cloretos que penetram através do concreto, até alcançar a armadura, na forma de cloretos livres,
desencadeiam o processo corrosivo. A penetração dos cloretos depende de muitos fatores como: tipo de
íons positivos (cátions) associados aos cloretos; se o acesso ao concreto é antes ou após seu endurecimento;
presença de outro íon negativo (ânion) como o sulfato; tipo de cimento usado na produção do concreto;
qualidade da produção e de cura do concreto; umidade ambiente relacionada com as condições de
saturação dos poros; relação água/cimento; estado de carbonatação e consumo de cimento por m3 de
concreto (Figura 5).Conforme ANDRADE (1992), a profundidade de penetração x (mm), em um tempo t
(anos), dos cloretos por difusão, é dada pela lei , onde K depende dos fatores recém-citados.

Mesmo que o concreto não possua cloretos, eles podem atingir a armadura de aço, oriundos do exterior,
através da rede de poros, caso a estrutura esteja em atmosfera marinha ou noutro ambiente que contenha
cloretos. A quantidade de Cl- é incrementada temporalmente chegando, até mesmo, a atacar toda a
superfície da armadura, podendo provocar velocidades de corrosão intensas e perigosas (ANDRADE,
1992).

Os cloretos agressivos podem ser encontrados na natureza, dissolvidos em água. Quando sólidos, podem
depositar-se na superfície do concreto. Em dissolução aquosa, por intermédio de chuvas ou umidade e
através da rede de poros, os agentes agressivos, tanto para o concreto como para a armadura, atingem as
regiões mais internas do concreto armado. Segundo HELENE (1993), tais agentes podem ser transportados
para dentro do concreto através dos mecanismos de absorção capilar, difusão, permeabilidade e
migração.

O mecanismo de difusão é bastante lento, porém os cloretos e geralmente os sais penetram bem mais
rápidos, através do transporte por forças capilares, muito apropriadas em climas quentes, quando há névoa
salina onde os cloretos estão em suspensão, nas gotículas de umidade do ar, como é o caso das Praias do
Futuro, Cofeco e Icaraí (Ceará - Brasil). A ação deste fenômeno é intensificada ou atenuada conforme a
velocidade, direção de incidência dos ventos e grau de insolação.

"De um modo geral, todos os elementos que, ao serem incorporados ao concreto, contribuem para o
aumento de sua permeabilidade poderão ser considerados agressivos à armadura. Entre esses pode-se
citar: teor elevado de matéria orgânica presente no agregado, teor elevado de materiais pulverulentos,
teor elevado de torrões de argila, matérias carbonosas, sulfetos e enxofre, eventualmente presentes em
excesso nas adições de escória". (HELENE, 1986).
FIGURA 5. Esquema de variação do teor crítico de cloretos em função da
qualidade do concreto e da umidade relativa do ambiente (ANDRADE, 1992).

3.1.2 Carbonatação
O concreto quando exposto aos gases como o gás carbônico (CO2), o dióxido de enxofre (SO2) e o gás
sulfídrico (H2S), pode ter reduzido o pH da solução existente nos seus poros. A alta alcalinidade da
solução intersticial devido, principalmente, à presença do hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, oriundo das
reações de hidratação do cimento, também poderá ser reduzida. Tal perda de alcalinidade, em processo de
neutralização, por ação, principalmente, do CO2 (gás carbônico) que transforma os compostos do cimento
em carbonatos é um mecanismo chamado de carbonatação.

O Ca(OH)2 dissolvido, na fase líquida do concreto, leva seu pH para valores entre 12,5 a 13,5.
Com o fornecimento de ar que contém CO2, ou mesmo água de chuvas com qualquer teor de CO2
dissolvido, possibilita o acesso desse composto à solução contida nos poros, onde há a reação simplificada:
Uma característica desse processo é a existência de uma frente de carbonatação, e não de uma
neutralização localizada ou puntiforme. A reação anterior se dará não a uma profundidade específica, mas
numa certa faixa de profundidade dependendo da disponibilidade de CO2.

Há proposições de vários autores para um valor crítico de pH entre 11,5 a 11,8, abaixo do qual não é
garantida a passivação do aço, embora segundo NOGUEIRA (1989), já tenham havido registros, sob certas
condições, de valores de pH inferiores, sem que tenha havido quebra de passivação.
A frente avança do exterior para o interior do concreto e separa duas zonas de pH, bastante diferentes; uma
com pH< 9 (carbonatada) e outra com pH > 12 (não carbonatada), ou seja, passivada (Fernandez, 1984,
citado por CASCUDO, 1991). É importante que a frente de carbonatação não atinja a armadura, sob
pena de despassivá-la. A Figura 6 esquematiza o avanço do processo.

FIGURA 6 Avanço do processo de carbonatação (Bakkér, 1988, citado por CASCUDO, 1991).

Os poros do concreto podem dispor de quantidades de água diferenciadas, em função da umidade relativa
do ar. A difusão de um gás (e. g. CO2) é bastante diferente quando o difusor é a água ou o ar
(FIGUEIREDO, 1994).

Conforme Bakkér ,1988, citado por CASCUDO (1991), a taxa de difusão do CO2 na água é cerca de 104
vezes mais baixa do que no ar.

Quando os poros estão secos (baixa U.R.) a difusão do CO2 é processada até as regiões mais internas, sem
dificuldades, e a reação de carbonatação não ocorre por ausência de água. A frente de carbonatação é lenta
quando os poros estão cheios d’água (saturados) devido à baixa velocidade de difusão do CO2, na água. No
entanto, se os poros estão parcialmente preenchidos com água, (alta U.R., sem haver saturação), existirá
avanço da frente de carbonatação até certa profundidade, porque os poros estão em condição favorável.
Tal situação é efetivamente prejudicial, podendo haver elevadas velocidades de corrosão pela destruição da
passivação do aço da armadura.

A velocidade de avanço da frente de carbonatação é lenta e ajusta-se a uma lei do tipo onde: x =
profundidade (mm); k é uma constante dependente de muitos fatores discutidos adiante e t = tempo da
estrutura (anos).

O teor de umidade relativa do ar (U.R.) é o fator que mais influi na velocidade de corrosão. A Figura 7
ilustra a variação da espessura de carbonatação do tempo e da umidade relativa do ar.

FIGURA 7. Espessura de carbonatação função do tempo e umidade relativa


(ANDRADE, 1992). A umidade ótima de avanço está entre 50 a 80%.

Em resumo, o fenômeno da carbonatação é ligado à permeabilidade aos gases devendo ser estudada a
composição ideal do concreto, de maneira a reduzir o risco e a velocidade de carbonatação, que dependem
de fatores como:
- Técnicas construtivas: transporte, lançamento, adensamento, cura etc. Daí a profundidade do fenômeno
tornar-se difícil de ser prevista, sendo variável em amplos limites (HELENE, 1986). Esta profundidade
aumenta, inicialmente, com certa rapidez e prossegue lentamente até estacionar, fato explicado pela
hidratação do cimento, que aumenta gradativamente, devido à liberação da água pela reação de
carbonatação do concreto;
- Tipo e consumo de cimento por m3 de concreto.
- Fator água/cimento (a/c).
"A bibliografia é praticamente unânime em afirmar que os cimentos com adição são inferiores aos
cimentos Portland comuns em igualdade de condições de ensaio, referente à resistência à carbonatação"
(Neville, 1982; Paillére et al, 1986; Lewis, 1987; Andes, 1989, citados por FIGUEIREDO, 1994).
A Figura 8 ilustra o progresso da carbonatação em função de algumas variáveis citadas.
FIGURA 8 Variação da espessura de carbonatação com: a) resistência do concreto;
b) consumo de cimento; c) U.R. exterior d) relação a/c (ANDRADE, 1992).
A frente de carbonatação poderá ser visualizada através de um indicador apropriado, como uma solução
de fenolftaleína, que indica mudança de cor entre valores de pH de 8,3 a 9,5. Para regiões carbonatadas de
pH inferior a 8,3 o indicador é incolor, sendo de cor vermelho-carmim para valores de pH superiores a 9,5,
caracterizando áreas não carbonatadas (alcalinas). Quando o pH está entre 8,3 a 9,5 a coloração é
transitória de incolor a vermelho-carmim. Deve-se quebrar uma pequena porção do concreto e,
imediatamente, aplicar o indicador, através de pulverização da solução de fenolftaleína a 1% em álcool
etílico, para se medir a espessura carbonatada. Tendo-se o tempo de vida da estrutura, determina-se o k e,
finalmente estima-se a vida útil da obra, usando-se a diferença de espessura do concreto de cobrimento
total e espessura carbonatada na fórmula.

A armadura, quando envolvida por concreto carbonatado, pode sofrer corrosão como se estivesse exposta à
atmosfera, sem qualquer tipo de proteção, com o agravante de que a umidade perdura, no interior do
concreto, por tempo bastante superior do que se estivesse exposta ao ar.

O concreto é um material que absorve a umidade do ambiente com muita facilidade e, em contrapartida,
seca muito devagar. No caso da umidade externa ser constante, pode haver um equilíbrio de umidade no
interior do concreto e a U.R. ambiental. No entanto, quando há oscilação da umidade exterior, a do interior
do concreto não acompanha. Portanto, somente a capa da estrutura adquire equilíbrio com a U.R. exterior.

3.2. PERÍODO DE PROPAGAÇÃO


Estando a armadura despassivada pela chegada da frente de carbonatação ou pela ação deletéria dos
cloretos (frente de cloretos) ou, ainda, pela ação conjunta de ambos os fatores indesejáveis, o aço
desprotegido fica vulnerável ao fenômeno da corrosão. Pelo modelo de TUUTTI, Figura 4, inicia-se a
propagação da corrosão, desde que hajam os elementos necessários. Como já visto, só haverá corrosão com
a presença dos três elementos: existência de um eletrólito; existência de uma diferença de potencial; e
existência de oxigênio.

Podem existir, também, agentes agressivos que contribuem sensivelmente para acelerar a corrosão pelo
aumento que provocam na condutividade elétrica do eletrólito. Entre eles citam-se: os íons cloretos (Cl- );
os íons sulfatos (S2- ); o dióxido de carbono (CO2); os nitritos (NO3- ); o gás sulfídrico (H2S); o cátion
amônio (NH4+); os óxidos de enxofre (SO2 e SO3) e fuligem (HELENE, 1986).

De uma maneira geral, qualquer substância sólida, líquida ou gasosa que venha a penetrar na estrutura
porosa do concreto ou depositar-se na superfície da armadura, contribui para a elevação do risco de
corrosão ou acelerar o processo, caso este já esteja iniciado.

No período de propagação, os cloretos (Cl-) atuam como catalisadores das reações que formam produtos
de corrosão, além de participarem no aumento da condutividade elétrica do eletrólito. É importante lembrar
que a ação dos agentes agressivos é limitada pelo teor de umidade do concreto, pois este teor fornece o
eletrólito para o processo corrosivo (HELENE, 1986).

A reação catódica básica, no caso da corrosão do aço no concreto, é a redução do oxigênio, possibilitando o
consumo de elétrons, oriundos das áreas anódicas, produzindo o íon OH- que reagirá com o íon de ferro
para formar produtos de corrosão. O processo eletroquímico é relacionado com a disponibilidade de O2 na
área catódica. Segundo o Comitê 222 do ACI (1990), citado por CASCUDO, 1991, embora os cloretos
estejam presentes, a taxa de corrosão será baixa se o concreto permanecer saturado com água, pela maior
dificuldade de difusão do oxigênio. Nestas condições, o processo corrosivo está controlado pelo acesso de
oxigênio.
O período de propagação vai até o momento em que aparecem manchas de coloração vermelho-marron-
acastanhado que, por serem relativamente solúveis, afloram na superfície, indicando o avançamento da
corrosão, ou ocorrem fissuras no concreto de cobrimento ou ainda quando há destacamento deste.

Nas regiões onde o concreto é de qualidade inadequada ou há cobrimento deficiente da armadura, há


progresso da corrosão com formação de óxido ou hidróxido de ferro, ocupando volumes bem maiores do
que o volume inicial da armadura causando, assim, pressões de expansão superiores a 15 MPa (150
kgf/cm2). Surgem fissuras no concreto, já em processo de corrosão, na direção paralela à armadura. Desse
modo, fica facilitada a penetração dos agentes agressivos, chegando a provocar o lascamento do concreto.

No período de iniciação, a velocidade de corrosão não é nula e nem constante no período de propagação.
Neste último, a velocidade de corrosão depende de vários fatores, como: ação dos cloretos em áreas
localizadas ou da carbonatação em regiões mais amplas; efeito da umidade; efeito da resistividade e do
acesso de oxigênio; efeito da temperatura; permeabilidade e efeitos da formação de macropilha que são
adicionados aos oriundos das micropilhas, dentre outros fatores.

4. CONCLUSÕES
A durabilidade das estruturas de concreto armado depende de vários fatores, alguns inerentes aos projetos,
outros vinculados aos materiais componentes como também à sua produção e, finalmente, aqueles que
dizem respeito a manutenção da obra.

Conforme os parâmetros descritos, nos itens anteriores, é possível apresentar as seguintes conclusões:
1. Os agentes mais agressivos da armadura do concreto são os cloretos e a carbonatação. Ao protegê-la,
contra esses agentes, é necessário um concreto de boa qualidade, visando sua durabilidade, através de
requisitos de fabricação como:
- Quantidade e tipo de cimento adequados ao meio em que a obra esteja inserida, independente das
resistências mecânicas de projeto;
- Relação água/cimento a mais baixa possível;
- Água de amassamento e agregados isentos de agentes agressivos;
- Compactação adequada, assegurando uma espessura compatível e uniforme do concreto de cobrimento da
armadura além da distribuição homogênea dos agregados;
- Cura demorada e contínua contribuindo para uma boa compacidade do concreto resultante, evitando-se
porosidade e
- Armadura isenta de produtos corrosivos.
2. Há carência de acompanhamento técnico, a fim de proporcionar uma fabricação de qualidade e
manutenção preventiva das obras de concreto armado.

5. RECOMENDAÇÕES
1. Divulgação, entre os profissionais da construção civil, das técnicas eletroquímicas no combate ao
fenômeno da corrosão, pois em não sendo destrutivas, permitem o monitoramento da estrutura e o
planejamento de sua manutenção de uma forma confiável, proporcionando uma economia sem par;
2. Parcerias entre os diversos níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal), Universidades e Centros
de Pesquisas e
3. Inter-relacionamento estreito entre projetistas, fabricantes, construtores, poderes concedentes, cedentes e
usuários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Corrosão de Armaduras". Tradução: Antonio Carmona e Paulo Helene. São Paulo/SP, PINI.

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3. CASCUDO, Oswaldo. (1991). "Contribuição ao Estudo e Emprego de Técnicas Eletroquímicas no


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7. GENTIL, Vicente (1982) "Corrosão". 2ª. ed., Rio de Janeiro/RJ, Gu anabara.

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