Sei sulla pagina 1di 10

Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015

ESTRUTURA E ESTABILIDADE DAS MICELAS DE CASEÍNA DO LEITE BOVINO

(Structure and stability of the casein micelles of bovine milk)

Rafaella Belchior BRASIL1*, Edmar Soares NICOLAU1, Jakeline Fernandes CABRAL2, Marco
Antônio Pereira da SILVA2
1
Universidade Federal de Goiás; 2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio
Verde - Goiás.

RESUMO
As proteínas do leite são veículos naturais, que fornecem micronutrientes essenciais, aminoácidos, assim
como componentes do sistema imune, além disso, possuem propriedades de fundamental importância
nas características de muitos produtos lácteos. As caseínas são as principais proteínas do leite,
compreendem cerca de 80% das proteínas do leite e consistem de quatro proteínas principais: αs1-, αs2-,
β- e κ-caseína, as quais possuem elevada estabilidade térmica, o que proporciona às indústrias de
laticínio realizar o tratamento do leite a temperaturas elevadas, como o leite Ultra Alta Temperatura
(UAT). No entanto, alguns fatores como a hidrólise enzimática da k-caseína, temperatura, pH, excesso
de Ca2+ e adição de etanol afetam a estabilidade dessas proteínas, que estão em grande parte presentes no
leite na forma de partículas coloidais, conhecidas como micelas. A estrutura interna da micela de caseína
é constituída predominantemente por αs1-, αs2-, β-caseína e de nanopartículas de fosfato de cálcio
coloidal, enquanto que a κ-caseína está localizada preferencialmente na superfície da micela, assumindo
importante papel na estabilidade micelar. O interesse na caseína micelar mantém-se constante ao longo
dos anos, e pesquisas sobre o assunto continuam a ser realizadas, por isso a relevância de se entender a
estrutura e os fatores que afetam a estabilidade micelar.
Palavras-chave: caseína; estabilidade térmica; estrutura micelar; hidrólise; proteínas.

ABSTRACT
Milk proteinsarenatural vehicles, which provides essential micronutrients, amino acids, and
componentsof the immune system, in addition, possess propertiescharacteristicof
fundamentalimportance inmanydairy products.The caseinsare the majormilk proteinscomprise
about80%of milk proteinandconsistsoffourmajor proteins: αs1-, αs2-, β-and κ-casein, which have high
thermal stability, which provides industriesdairymilkperform the treatmentat elevated temperatures, such
as milk UltraHigh Temperature(UHT). However, certainfactors such as theenzymatic hydrolysis ofk-
casein, temperature, pH, excessive addition ofCa2+ andethanolaffectthe stability of theseproteins,
whicharelargelypresent in milkin the form ofcolloidal particles, known as micelles. The internal
structure ofthe caseinmicelleconsists predominantly ofαs1-, αs2-, β-casein, nanoparticlecolloidalcalcium
phosphate, whereas κ-casein ispreferably locatedon the surfaceof the micelle, assuming an important
role inmicellestability. Interest in micellar casein remains constant over the years, and research on the
subject continue to be made, so the relevance of understanding the structure and the factors that affect
the micellar stability.
Key-words: casein;thermal stability; micellar structure; hydrolysis; protein.

INTRODUÇÃO proteínas, os lipídios, os glicídios, os


O leite é um alimento de alto valor minerais e as vitaminas.
biológico, por conter na sua composição O leite bovino normal contém
uma variedade de nutrientes como as cerca de 3,5% de proteína, que tem como
________________________________
*Endereço para correspondência: função natural, fornecer aos mamíferos,
rafaellabelchior@hotmail.com
aminoácidos essenciais necessários para o 2004). É composto de água, 87,3%, e
desenvolvimento, além disso, possuem sólidos totais, 12,7%, assim distribuídos:
propriedades de fundamental importância proteínas totais, 3,3% a 3,5%; gordura,
nas características de muitos produtos 3,5% a 3,8%; lactose, 4,9%; além de
lácteos, pois determinam o rendimento na minerais, 0,7%, e vitaminas (Sgarbieri,
fabricação de queijos e outros produtos, 2005).
além de seus benefícios nutricionais e As proteínas do leite são veículos
propriedades estruturais e físico-químicas naturais, que fornecem micronutrientes
únicas (Ye, 2011). essenciais (cálcio e fósforo), aminoácidos,
As proteínas, dentre os assim como componentes do sistema imune
componentes do leite são as de maior valor (imunoglobulinas e lactoferrina), para o
para a industrialização. A lucratividade das recém-nascido (Livney, 2010), essas
indústrias depende do rendimento proteínas são distribuídas em duas grandes
representado pelo extrato seco total e classes, 80% de caseína e 20% de proteínas
eficiência da transformação do leite em co- do soro, percentual que pode variar em
produtos e leite fluido, que por sua vez função da raça dos animais, da ração
dependem da qualidade da matéria-prima, fornecida e do País de origem. As principais
baseada nos parâmetros de sanidade do proteínas do leite encontram-se detalhadas
rebanho (contagem de células somáticas) e na Tab. 1.
higiene (contagem bacteriana total). As proteínas do soro são um grupo
Os tratamentos de alta temperatura de proteínas que permanecem solúveis no
que o leite é submetido, só é possível soro do leite após a preciptação da caseína a
devido à estabilidade elevada ao calor das pH 4,6 e temperatura de 20°C (Farrell Jr et
principais proteínas do leite, as caseínas al., 2006). A maioria dessas proteínas são
(Fox& Mcsweeney, 1998). No entanto, a globulares com elevada hidrofobicidade e
hidrólise enzimática da k-caseína, cadeias peptídicas densamente dobradas
2+
temperatura, pH, excesso de Ca e adição (Phadungath, 2005). Os dois componentes
de etanol estão entre os principais fatores principais das proteínas do soro são α-
que afetam a estabilidade coloidal das lactalbumina e β-lactoglobulina.
micelas de caseína (O’Connell et al., 2006). A β-lactoglobulina é o maior
Diante do exposto, objetivou-se peptídeo do soro (45% a 57%),
com esta revisão abordar a importância de representando, no leite bovino, cerca de
se entender a estrutura das micelas de 3,2g/L. Apresenta médio peso molecular
caseína e os fatores que controlam e afetam (18,4 a 36,8kDa), o que lhe confere
a estabilidade micelar, que são essenciais no resistência à ação de ácidos e enzimas
comportamento funcional de produtos proteolíticas presentes no estômago, sendo,
lácteos e estabilidade do leite. portanto, absorvida no intestino delgado. É
o peptídeo que apresenta maior teor de
DESENVOLVIMENTO aminoácidos de cadeia ramificada, com
Proteínas do leite cerca de 25,1%, sendo também importante
O leite, produto da secreção das carreadora de retinol (pró vitamina A)
glândulas mamárias é um fluido viscoso materno para o filhote (De Wit, 1998).
constituído de uma fase líquida e partículas Já a α-lactalbumina, em termos
em suspensão, formando uma emulsão quantitativos é o segundo peptídeo do soro
natural, estável em condições normais de (15% a 25%) do leite bovino (Shannon et
temperatura ou de refrigeração (Sgarbieri, al., 2003), com peso molecular de 14,2kDa,
72
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
caracteriza-se por ser de fácil e rápida conformação das moléculas expõe
digestão. Contém o maior teor de triptofano consideravelmente os resíduos hidrofóbicos,
(6%) entre todas as fontes protéicas o que resulta em forte associação entre as
alimentares, sendo, também, rica em lisina, caseínas e as tornam insolúveis em água
leucina, treonina e cistina (Markus et al., (Goff, 2009).
2002). Possui sequências fosforiladas
A α-lactalbumina é precursora da através das quais pode interagir com fosfato
biossíntese de lactose no tecido mamário e de cálcio, o que a torna capaz de sequestrar
possui a capacidade de se ligar a minerais, fosfato de cálcio, formando minúsculos
como cálcio e zinco, o que pode afetar agrupamentos de íons circundados por uma
positivamente sua absorção (Lönnerdal, camada de proteína (Holt, 2004).
2003). Segundo Smyth et al. (2004), além
As demais proteínas do soro são: da função nutricional, a caseína é o meio
albumina, imunoglobulinas, peptonas de pelo qual grande quantidade de cálcio pode
protease e pequenas quantidades de enzimas passar pelo epitélio mamário sem provocar
e proteínas com funções metabólicas problemas de calcificação.
específicas, como por exemplo a lisozima e Cerca de 95% das caseínas no leite
lactoferrina (Walstraet al., 1999). estão presentes na forma de partículas
As proteínas solúveis do soro do coloidais, conhecidas como micelas, que
leite apresentam um excelente perfil de são as responsáveis pela estabilidade
aminoácidos, caracterizando-as como térmica do leite (Fox& Brodkorb, 2008).
proteínas de alto valor biológico, e vem A estrutura interna da micela de
sendo muito utilizadas pelas indústrias de caseína é constituída predominantemente
alimentos em diferentes áreas, além de por αs1-, αs2-, β-caseína e de nanopartículas
serem amplamente disponíveis, de baixo de fosfato de cálcio coloidal, enquanto que
custo e naturais, matéria-prima de elevado a κ-caseína está localizada
valor nutricional e boas propriedades preferencialmente na superfície da micela
sensoriais. (Dalgleish, 2011).
Caseína A composição e estrutura das
A função biológica das caseínas na micelas de caseína têm sido estudadas por
glândula mamaria é transportar cálcio, mais de 40 anos, e as descrições disponíveis
fosfato e proteína para o neonato (Kruif& são bastante precisas, embora ainda
Holt, 2003), compreendem cerca de 80% controversas (Horne, 2006; Qi, 2007).O
das proteínas do leite e consistem de quatro consenso é que a estrutura das micelas de
proteínas principais: αs1-, αs2-, β- e κ- caseína é principalmente estabilizada por
caseína, representando cerca de 38%, 10%, interações hidrofóbicas e iônicas (Holt et
35% e 15%, respectivamente, as quais são al., 2003).
constituídas por 199, 207, 209 e 169 A caseína αs1 precipita com níveis
resíduos de aminoácidos, com pesos de cálcio muito baixos, enquanto a caseína
moleculares de 23, 25, 24 e 19kDa, αs2 é mais sensível à precipitação pelo Ca2+,
respectivamente (Goff, 2009) e 8% de diferentemente das outras caseínas, a κ-
fosfato de cálcio coloidal aproximadamente caseína é uma glicoproteína e possui apenas
(Dalgleish, 2011). um grupo fosfoserina, sendo, portanto,
A caseína tem atividade anfipática estável na presença de íons de cálcio e
por possuir regiões hidrofóbicas e assumindo importante papel na estabilidade
hidrofílicas (De Kruif& Grinberg, 2002). A da micela de caseína. Por ser mais
73
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
fosforilada que a κ-caseína, a β-caseína é de grupos hidrofóbicos que estavam
mais sensível a altas concentrações de sais protegidos na estrutura original da proteína.
de cálcio, embora seja menos sensível a Leite com alta contagem de células
precipitação com cálcio do que as caseínas somáticas (CCS) possui atividade
α (Walstra, 1999). enzimática elevada, o que contribui para o
O interesse na caseína micelar aumento da proteólise e lipólise, tanto antes
mantém-se constante ao longo dos anos, e da ordenha (no úbere) como após a ordenha,
pesquisas sobre o assunto continuam a ser durante o armazenamento (Deeth, 2006).
realizadas em todo o mundo, uma vez que Os lisossomos dessas células
muitas das propriedades tecnologicamente contêm enzimas proteolíticas, dentre as
importantes do leite, por exemplo, a cor quais a catepsina D, que pode produzir
branca, a estabilidade ao calor, ao etanol e a para-κ-caseína e caseínomacropeptídeo a
coagulação pelo coalho, são devidos às partir da κ-caseína e, em altas
propriedades das micelas de caseína (Fox& concentrações, pode causar a coagulação do
Brodkorb, 2008). Por isso, tem havido um leite (Hurley et al., 2000).
incentivo econômico e tecnológico para Com o armazenamento do leite em
caracterizar as propriedades e elucidar sua tanques refrigeradores e coleta da matéria-
estrutura. prima a cada 48 horas, aumentam as
Fatores que alteram a estabilidade das chances de multiplicação de bactérias
micelas de caseína psicrotróficas proteolíticas, que se
Hidrólise enzimática desenvolvem em baixas temperaturas (0ºC a
As micelas podem ser 15°C), produzindo enzimas termoestáveis
desestabilizadas por inúmeros fatores, que podem atuar sobre a κ-caseína,
alguns são industrialmente importantes, resultando na desestabilização do leite
como a hidrólise da κ-caseína por proteases (Nornberg et al., 2009).
selecionadas, como os coalhos, que é Micro-organismos psicrotróficos,
explorado na produção da maior parte das ao se multiplicarem no leite armazenado em
variedades de queijos (Fox& Brodkorb, baixas temperaturas, produzem enzimas
2008). proteolíticas termoestáveis, Tab. 2, a
A hidrólise enzimática da caseína é maioria das quais tem ação sobre a κ-
realizada por endopeptidases, que hidrolisa caseína, resultando na desestabilização das
a ligação peptídica entre a fenilalanina micelas e coagulação do leite. A ação das
(105) e a Metionina (106) da cadeia proteases de psicrotróficos é distinta entre
peptídica da κ-caseína, eliminando a as frações protéicas do leite, sendo a κ-
capacidade estabilizante e gerando como caseína, mais susceptível à ação dessas
produtos uma porção hidrofóbica, (para-κ- enzimas, enquanto que as proteínas do soro
caseína) e uma hidrofílica chamada são resistentes ao ataque das proteases
glicomacropeptídeo, ou mais (Gaucher et al., 2008).
apropriadamente, caseínomacropeptídeo, Deste modo, a hidrólise da κ-
provocando a desestabilização da micela caseína desestabiliza as micelas, que
com consequente precipitação da caseína do coagulam, e esta alteração bioquímica é
leite (Ordoñéz, 2005). associada à gelatinização do leite Ultra Alta
Segundo Panyam& Kilara (1996), Temperatura (UAT), que é considerado um
a hidrólise enzimática da proteína resulta dos principais problemas, que afetam a
em: diminuição do peso molecular, aumento qualidade do leite UAT (Nornberg et al.,
do número de grupos ionizáveis e exposição 2009).
74
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
Temperatura e pH lactação, o fator responsável por este efeito
A estabilidade térmica do leite se é o aumento no pH do leite, devido à maior
refere à resistência aos processamentos com permeabilidade do epitélio mamário a
temperaturas elevadas, sem coagulação pequenas partículas e íons, uma vez que a
visível ou gelatinização. A coagulação do mastite altera a permeabilidade vascular das
leite por aquecimento prolongado a altas células secretoras de leite, afetando o
temperaturas é uma consequência da perda equilíbrio salino do leite (Na, Cl, Ca, P e
de estabilidade das micelas de caseína, K).
como resultado de numerosas mudanças Concentrações de Ca2+ e etanol
físicas e químicas dos componentes (Singh, O aumento de Ca2+ no leite
2004). diminui consideravelmente a capacidade da
Em altas temperaturas a quantidade caseína em manter sua estrutura física,
de fosfato de cálcio associado às micelas causando uma desestruturação micelar e
aumenta e ocorre dissociação da κ-caseína, consequente aumento da hidrofobicidade, o
diminuindo a estabilidade (O’Connell et al., que determina maior agregação das micelas
2006). (Philippe et al., 2003).
Micelas de caseína de maior O aumento da força iônica ou a
tamanho são menos resistentes ao forte ligação de íons específicos a grupos
aquecimento do que micelas de menor carregados da proteína pode diminuir a
diâmetro, devido ao menor conteúdo de κ- repulsão eletrostática e favorecer a auto-
caseína, o que as torna mais susceptíveis ao associação das proteínas (Mikheeva et al.,
Ca2+ (O’Connell& Fox, 2000). 2003).
Glantz et al. (2010) demonstraram A prova do álcool pode ser usada
que coágulos formados a partir de leite com como um método rápido para estimar a
micelas de caseína de tamanhos menores estabilidade das proteínas do leite, esta
foram mais firmes quando comparados com prova verifica a estabilidade da caseína,
o coágulo formado a partir de micelas de criando uma situação de estresse à proteína
caseína de tamanho maior. Em relação ao por meio de uma solução alcoólica que
tempo de coagulação, para as moléculas de simula o efeito do aquecimento provocado
tamanho reduzido a coagulação foi mais pelo processamento térmico (O’Connell et
lenta. al., 2001).
O pH é um fator importante para se A adição de etanol ao leite induz
determinar a estabilidade do leite, em pH várias alterações nas micelas de caseína,
abaixo de 6,2 a estabilidade térmica do leite como o colapso da camada de κ-caseína, a
é mínima, uma vez que a quantidade de redução na carga micelar e a precipitação
cálcio iônico no leite se eleva, aumentando do fosfato de cálcio, que colaboram para a
a chance de ocorrer a precipitação, essa redução da estabilidade micelar da κ-
acidificação reduz a carga e a hidratação caseína (O’Connellet al., 2006).
das proteínas e as ligações que mantêm as O leite instável ao álcool é
micelas de caseína juntas são mais fracas e rejeitado pelo laticínio, pois sendo a caseína
escassas a pH 5,2 ou 5,3 (O’Connell et al., instável, o aumento da temperatura durante
2006). o processamento térmico pode promover a
De acordo com Holt (2004), o leite coagulação do leite, trazendo grandes
mastítico e do final da lactação têm três transtornos à indústria (Silva et al., 2012),
vezes mais probabilidade de ser instáveis do como deposição de proteínas nos
que leites de vacas no início ou meio da equipamentos, ocasionando maior número
75
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
de interrupções do funcionamento para aproximadamente metade dos sólidos totais
limpeza dos mesmos, o problema não do leite, incluindo proteínas solúveis, sais e
inviabiliza o processamento, mas gera principalmente lactose (Chaves et al.,
dificuldades e aumento de custos (Marques 2010).
et al., 2007). O soro é a porção aquosa liberada
Para a realização da prova do do coágulo durante a fabricação
álcool, atualmente a graduação mínima convencional de queijos, considerado um
obrigatória é de 72% (v/v) Brasil (2011), no efluente residual que pode acarretar graves
entanto, graduações de 76%; 78% e até 80% problemas ambientais associados ao alto
têm sido praticadas por diversas indústrias, teor de matéria orgânica, assim, o
na expectativa de selecionar leite de melhor reaproveitamento tem sido estudado e
qualidade. sugerido para melhorar a eficiência
econômica dos laticínios e minimizar os
Importância das proteínas do leite para a impactos ambientais (Bieger& Rinaldi,
indústria 2009).
Do ponto de vista da indústria, as A utilização industrial desse co-
caseínas são os componentes mais produto tem contribuído para o
importantes do leite. As propriedades enriquecimento e desenvolvimento de
nutricionais, sensoriais e de textura, dos novos produtos alimentícios, a exemplo
principais produtos lácteos, como leite cita-se a produção de bebidas lácteas
fluido, queijo e iogurte derivam das enriquecidas com proteínas e sais minerais
propriedades das caseínas (De Kruif et al., de soro de leite (Peregrine& Carrasqueira,
2012). 2008).
A capacidade do leite em suportar Além de aumentar o volume de
os tratamentos de alta temperatura sem pães e bolos e atuar como veículo anti-
perda da estabilidade é bastante singular e aglutinante em misturas secas (Zavareze et
torna possível a produção de muitos al., 2010). Nos sorvetes e sobremesas
produtos lácteos esterilizados e com vida- lácteas, o uso do soro doce é associado à
de-prateleira longa (Singh, 2004). formação de espumas estáveis e aumento da
A fabricação de queijos requer aeração do produto (Caldeira et al., 2010)
coagulação do leite e desenvolvimento de além de melhoria da textura de doces de
sinérese e a capacidade de coagulação do leite (Viotto& Machado, 2007).
leite tem recebido atenção das indústrias de As descobertas científicas têm demonstrado
laticínios, principalmente porque a nas últimas décadas as múltiplas e
quantidade de leite utilizado para a importantes propriedades funcionais das
produção de queijo está crescendo em todo proteínas do leite. As aplicabilidades são
o mundo (International Dairy Federation, variadas e os efeitos fisiológicos altamente
2011). benéficos. As condições que favorecem a
Na última década, a fração total de agregação das micelas de caseína são bem
leite destinado à produção de queijo conhecidas, no entanto, os fatores que
aumentou em cerca de 10% na União promovem a dissociação das micelas de
Européia e na América do Norte (Bittante et caseína ainda não são completamente
al., 2012). compreendidos (Ye& Harte, 2013). Sendo
Cerca de 90% a 95% do volume do assim, é necessária a continuidade de
leite usado para a fabricação de queijos pesquisas nesta área.
resultam em soro, que contém
76
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
TABELA 1. Principais proteínas do leite.
Proteínas Quantidade no leite (g/L)
CASEÍNAS 24 – 28
αs1 12–15
αs2 3–4
β 9 –11
κ 3–4
PROTEÍNAS DO SORO 5–7
β-lactoglobulina 2–4
α-lactalbumina 1 – 1,5
Albumina sérica 0,1 – 0,4
Imunoglobulinas 0,6 – 1,0
lactoferrina ∼0,1
PROTEÍNA DA MEMBRANA DOS ∼0,4
GLÓBULOS DE GORDURA
Total de proteínas do leite 30 - 35
Fonte: Adaptada de Livney (2010)

TABELA 2. Valores médios de contagens de bactérias psicrotróficas e atividade


proteolítica em leite cru refrigerado obtido de dois laticínios do Estado do Rio Grande do
Sul.
PsicrotróficosTotais Atividade Proteolítica
Laticínioa n b
(Log UFC/mL) (U/mL)c
L1 50 6,43 ± 0,35 12,3 ± 9,1
L2 A 20 6,36 ± 0,78 4,3 ± 7,3
L3 B 20 6,24 ± 0,63 3,3 ± 5,2
a
Foram coletadas 50 amostras do silo de armazenamento do laticínio L1, 20 amostras do tanque isotérmico de
caminhões (A) e 20 amostras do silo de armazenamento (B) do estabelecimento L2. bContagens de
psicrotróficos determinadas em placas de PCA incubadas por 10 dias, à 7°C. cAtividade proteolítica
determinada pela hidrólise de gelatina solúvel.
Fonte: Nornberg et al. (2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS extensivamente e são provavelmente, uma


As proteínas exercem diversas das melhores fontes de proteína alimentar.
funções básicas de nutrição, como fonte de A estabilidade das proteínas do
aminoácidos para síntese protéica e de leite é um fator importante para garantir
energia e tecnológicas devido as suas adequadas condições de processamento,
propriedades funcionais e sensoriais. aumentar o tempo de prateleira de derivados
Devido à importância comercial, as lácteos e proporcionar maior qualidade ao
proteínas do leite têm sido estudadas consumidor final, uma vez que a elevada
estabilidade térmica das principais proteínas
77
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
do leite, as caseínas, possibilitam a and possible improvements. Soft Matter, v.
produção de derivados lácteos submetidos 7, p. 2265–2272, 2011.
aos processamentos de alta temperatura. No DE KRUIF, C. G.; GRINBERG, V. Y.
entanto, alguns fatores causam a Micellisation of β-casein. Colloids and
desestabilização da estrutura micelar, com Surfaces A: Physicochemical and
consequente precipitação das caseínas do Engineering Aspects, v. 210, p. 183-190,
leite. 2002.
Nos trabalhos de pesquisa e análise DE KRUIF, C. G. HOLT, C. Casein
não há nenhuma imagem uniforme do que a Micelle Structure, Functions and
caseína micelar é, como sua estrutura é Interactions Advanced Dairy Chemistry,
formada e como ela se comporta. Este fato é Volume 1, Proteins, Third Edition A,
reconhecido e muitas vezes enfatizado em Chapter 5 Ed. P. F. Fox and P. L. H.
publicações sobre micelas de caseína. McSweeney Kluwer Academic, New York,
2003.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE KRUIF, C. G. et al. Casein micelles and
BRASIL. Ministério de Agricultura, their internal structure. Advances in Colloid
Pecuária e Abastecimento. INSTRUÇÃO and Interface Science, v. 171–172, p. 36–
NORMATIVA Nº 62, de 29 DE 52, 2012.
DEZEMBRO DE 2011. Diário Oficial da DE WIT, J. N. Nutritional and functional
União, 30 de dezembro de 2011. Disponível characteristics if whey proteins in foods
em: products. Journal of Dairy Science, United
http://www.jusbrasil.com.br/diarios/333950 States, v. 81, p. 597-608, 1998.
65/dou-secao-1-30-12-2011-pg-6. Acesso DEETH, H. C. Lipoprotein lipase and
em: 10 de Agosto de 2013. lipolysis in milk. International Dairy
BIEGER, A.; RINALDI, R. N. Reflexos do Journal, v. 16, p. 555–562, 2006.
reaproveitamento de soro de leite na cadeia FARRELL JR, H. M. et al. Casein micelle
produtiva de leite do oeste do Paraná. In: estructure: What can be learned from milk
CONGRESSO DA SOCIEDADE synthesis and structural biology? Current
BRASILEIRA DE ECONOMIA, Opinion in Colloid & Interface Science, v.
ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA 11, p. 135-147, 2006.
RURAL, 47., 2009, Porto Alegre. Anais FOX, P. F.; BRODKORB, A. The casein
eletrônicos... [CD-ROM], Porto Alegre, micelle: Historical aspects, current concepts
2009. and significance. International Dairy
BITTANTE, G.; PENASA, M.; Journal, Canada, v. 18, p. 677-684, 2008.
CECCHINATO, A. Invited review: FOX, P. F.; MCSWEENEY, P. L. H. Dairy
Genetics and modeling of milk coagulation Chemistry and Biochemistry. Blackie
properties. Journal of Dairy Science, United Academic & Professional, London, 1998.
States, v. 95, n. 12, p. 6843–6870, 2012. GAUCHER, I. et al. Effects of storage
CALDEIRA, L. A. et al. Desenvolvimento temperature on physico-chemical
de bebida láctea sabor morango utilizando characteristics of semi-skimmed UHT milk.
diferentes níveis de iogurte e soro lácteo Food Hidrocolloids, v. 22, p. 130-143,
obtidos com leite de búfala. Ciência Rural, 2008.
Santa Maria, v. 40, n.10, p. 2193-2198, GLANTZ, M. et al. Importance of casein
2010. micelle size and milk composition for milk
DALGLEISH, D. G. On the structural gelation. Journal of Dairy Science, United
models of bovine casein micelles – Review States, v. 93, p. 1444–1451, 2010.
78
72
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
GOFF, H. D. University of Guelph. Dairy MARQUES, L. T. et al. Ocorrência do leite
Science and Technology. [online], 2009. instável ao álcool 76% e não ácido (LINA)
Disponível em: e efeitos sobre os aspectos físico-químicos
https://www.uoguelph.ca/foodscience/dairy- do leite. Revista Brasileira de Agrociência,
science-and-technology/dairy-chemistry- Pelotas, v. 13, p. 91-97, 2007.
and-physics. Acesso em: 10 de Agosto de MIKHEEVA, L. M. et al. Thermodynamics
2013. of micellization of bovine α-casein studied
HOLT, C. An equilibrium thermodynamic by high-sensitivity differential scanning
model of the sequestration of calcium calorimetry. Langmuir, v. 19, p. 2913-2921,
phosphate by casein micelles and its 2003.
application to the calculation of the partition NORNBERG, M. F. B. L.; TONDO, E. C.;
of salts in milk. European Biophysics BRANDELLI, A. Bactérias psicrotróficas e
Journal, Germany, v. 33, p. 421-434, 2004. atividade proteolítica no leite cru
HOLT, C. et al. Substructure of bovine refrigerado. Acta Scientiae Veterinariae, v.
casein micelles by small-angle X-ray and 37, p. 157-163, 2009.
neutron scattering. Colloids and Surfaces A: O’CONNELL, J. E.; FOX, P. F. The two-
Physicochemical and Engineering Aspects, stage coagulation of milk proteins in the
v. 213, p. 275–284, 2003. minimum of the heat coagulation time-pH
HORNE, D. S. Casein micelle structure: profile of milk: effect of casein micelle size.
models and muddles. Current Opinion in Journal of Dairy Science, United States, v.
Colloid & Interface Science, v.11, p.148– 83, p. 378-386, 2000.
153, 2006. O’CONNELL, J. E. et al. Mechanism for
HURLEY, M. J. et al. The milk acid the ethanol dependent heat-induced
proteinase cathepsin D: a review. dissociation of casein micelles. Journal of
International Dairy Journal, v. 10, p. 673- Agricultural and Food Chemistry, v. 49, p.
681, 2000. 4424-4428, 2001.
INTERNATIONAL DAIRY O’CONNELL, J. E. et al. Influence of
FEDERATION. The world dairy situation. ethanol on the rennet- induced coagulation
Bulletin 451/2011. International Dairy of milk. Journal of Dairy Research, v. 73, p.
Federation, Brussels, Belgium 2011. 312-317, 2006.
LIVNEY, Y. D. Milk proteins as vehicles ORDOÑÉZ, J. A. Tecnologia de alimentos:
for bioactives. Current Opinion in Colloid Componentes dos alimentos e processos.
& Interfaces Science, Israel, v. 15, p. 73– Porto Alegre: Artmed, v. 1, p. 294, 2005.
83, 2010. PANYAM, D., KILARA, A. Enchanting
LÖNNERDAL, B. Nutritional and the functionality of food proteins by
physiologic significance of human milk enzymatic modification. Trends in Food
proteins. The American Journal of Clinical Science & Technology International,
Nutrition, v. 77, p.1537-43, 2003. Cambridge, v.7, n.4, p.120-125, 1996.
MARKUS, C. R.; OLIVER, B.; DE HAAN, PELEGRINI, D. H. G.; CARRASQUEIRA,
E. H. F. Whey Protein rich in alfa- R. L. Aproveitamento do soro do leite no
lactoalbumin increases the ratio of plasma enriquecimento nutricional de bebidas.
tryptophan to the sum of the other large Brazylian Journal Food Technology, v.62,
neutral amino acids and improves cognitive n.6, p.1004-11, 2008.
performance in stress-vulnerable subjects. PHADUNGATH, C. Casein micelle
The American Journal of Clinical Nutrition, structure: a concise review. Songklanakarin
v. 75, p. 1051-6, 2002.
73
79
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015
Journal Science Technology, v. 27, p. 201- Instituto de Laticínios “Cândido Tostes”, v.
212, 2005. 67, p. 55-60, 2012.
PHILIPPE, M. et al. Physicochemical SINGH H. Heat stability of milk.
characterization of calcium-supplemented International Journal of Dairy Technolog, v.
skim milk. Le Lait, Dairy Science and 57, 2004.
Technology, v. 83 p. 45-59, 2003. VIOTTO, W. H.; MACHADO, L. M. P.
QI, P. X. Casein micelle structure: the past Estudo sobre a cristalização da lactose em
and the present. Le Lait, Dairy Science and doce de leite pastoso elaborado com
Technology, v.87, p.363–383, 2007. diferentes concentrações de soro de queijo e
SGARBIERI, V. C. Propriedades amido de milho modificado. Revista do
fisiológicas-funcionais das proteínas do Instituto de Laticínios CândidoTostes, v.62,
soro de leite. Revista de Nutrição, n.4, p.16-21, 2007.
Campinas, v. 17, p. 397–409, 2004. WALSTRA, P. Casein sub-micelles: do
SGARBIERI, V. C. Revisão: Propriedades they exist? International Dairy Journal, v. 9,
Estruturais e Físico Químicas das Proteínas p. 189-192, 1999.
do Leite. Brazilian Journal of Food YE, A. Functional properties of milk
Technology, Campinas, v.8, p. 43-56, 2005. protein concentrates: Emulsifying
SHANNON, L. K. et al. properties, adsorption and stability of
Glycomacropeptide and alfa- lactoalbumin emulsions. International Dairy Journal, v.
supplementation of infant formula affects 21, p. 14–20, 2011.
growth and nutritional status in infant YE, R.; HARTE, F. Casein maps: effect of
rhesus monkeys. The American Journal of ethanol, pH, temperature, and CaCl2 on the
Clinical Nutrition, v. 77, p. 1261-8, 2003. particle size of reconstituted casein
SMYTH, E.; CLEGG, R. A.; HOLT, C. A micelles. Journal of Dairy Science, United
biological perspective on the structure and States, v. 96, p. 799–805, 2013.
function of caseins and casein micelles. ZAVAREZE, E. R.; MORAES, K. S.;
International Journal of Dairy Technology, SALASMELLADO, M. M. Qualidade
v. 57, p. 121-126, 2004. tecnológica e sensorial de bolos elaborados
SILVA, L. C. C. et al. Estabilidade térmica com soro de leite. Ciência e Tecnologia de
da caseína e estabilidade ao álcool 68, 72, Alimentos, v. 30, n.1, p. 102-106, 2010
75 e 78%, em leite bovino. Revista do

80
74
Ciência Animal 25 (2): 71-80, 2015

Potrebbero piacerti anche