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21 de Fevereiro de 2019
"Bom jornalismo”
deve ser a vacina
nais estiverem na situação O s j o r n a l i sta s ta mb é m quem "for atingido ou lesado" que não é apenas para o
periclitante em que estão, cometem erros, mas "uma pelo erro jornalístico tem ao negócio da informação, a
as notícias gratuitas podem coisa é o erro jornalístico, seu dispor instrumentos para ameaça é muito mais global,
ser falsas ou verdadeiras e outra coisa é uma mentira", se defender, como direito de a ameaça é para a sociedade
a rapidez pode ser falsa ou distingue o director da rádio resposta, entidades regula- onde vivemos e essa ameaça
verdadeira", alertou. TSF, reconhecendo que "as doras, tribunais. hoje em dia está organizada".
"Não sermos os primeiros pessoas não têm capacidade, "As pessoas hoje con- E explicou: "Há 'hackers'
a dar a notícia é sinónimo ainda, para as distinguir". fundem, de alguma forma, (piratas informáticos) pro-
de perder os cliques e é per- "Hoje é frequente ouvir aquilo que é a produção de fissionais que são contra-
der a publicidade e é perder as pessoas dizerem 'não, não, trabalho jornalístico com tados e bem pagos, quer para
a liberdade e o rigor", lamen- é verdade, porque eu ouvi algumas das informações atacarem pessoas, empresas
tou Catarina Carvalho. na net', que é uma coisa que circulam livremente e e instituições e tentarem
O deputado José Maga- muito difícil de desmontar. sem cumprirem qualquer destruí-las, quer para esta-
lhães, por sua vez, referiu As pessoas acreditam pia- critério jornalístico, no mun- rem ao serviço de políticas
que estamos perante "um mente naquilo, não perce- do 'online', em particular de grandes países".
problema intrincadíssimo", bendo que ler na 'net' no site nas redes sociais, como sabe- Para o patrão da SIC e do
sublinhando que "o pro- da TSF ou ler na 'net' num mos, mas também nalguns Expresso, as 'fake news' são
blema da desinformação é 'post' de Facebook são rea- sites, e em alguns delibe- "uma ameaça global" e uma JOÃO MELO *
só o pico do iceberg", que lidades completamente dife- radamente", aponta. "ameaça para o jornalismo,
tem por trás, nomeadamente,
"problemas de erosão da con-
rentes", realça Arsénio Reis.
"O grande problema é
Perante isto, só há uma
solução: "voltar aos princí-
porque é uma concorrência
completamente desleal". “Hoje, o bom jornalismo
fiança nos media", a perda
de rendimentos para os media
noticiosos, a crise dos ser-
que, de facto, as pessoas não
têm capacidade, ainda, para
as distinguir", lamenta, assi-
pios básicos", identifica.
"Não é verdade que tenha-
mos mudado (os procedi-
"Essa é, portanto, uma
grande ameaça para o jor-
nalismo e também uma
implica apurar melhor”
viços públicos, entre outros. nalando a "iliteracia" mediá- mentos internos). Admito grande oportunidade de "As chamadas 'fake news' são que, por ser recente, explica
Neste sentido, Luísa Mei- tica dos cidadãos. que tenhamos hoje mais cui- separar o trigo do joio e como um fenómeno e um problema a ingenuidade de muita gente,
reles referiu que na "luta das O responsável editorial dado com o contraditório do o joio é cada vez mais volu- a que Angola, obviamente, que "acredita em tudo o que
'fake news' e no combate às da rádio privada detida pelo que tínhamos. Admito que moso, mais mal cheiroso, não poderia estar imune. vê nas redes". O défice de edu-
notícias falsas ou falseadas Global Media Group diz que tenhamos hoje mais atenção está por toda a parte, é pior Nenhum país escapa hoje a cação da sociedade também
os jornalistas estão na pri- a discussão sobre o assunto a algum tipo de 'notícias' que as ilhas de plástico a essa realidade, que na verdade não ajuda. Temos, pois, muito
meira linha como alvos a "é diária" na redacção, mas menos 'normais', prevendo serem encontradas cada vez sempre existiu, na história trabalho a fazer para usar cor-
abater e como vítimas". tal não significa que as a possibilidade de elas serem, maior número nos oceanos", da humanidade, mas hoje é rectamente as novas tecno-
empresas e os jornalistas se efectivamente, uma anor- apontou, salientando que "o elevada à potência éne por logias de comunicação.
DR tenham sabido proteger de malidade. Mas a prática que joio é cada mais pestilento" força das incríveis alterações Concordo com aqueles
"um problema muito com- temos, jornalística, não e cresce em Estados que têm tecnológicas em curso, em que dizem que a melhor res-
plicado de resolver". mudou. E, aliás, acho que o poder e utilizam as novas especial a Internet. A verdade posta às 'fake news' é o bom
Recuando ao passado, um dos segredos da profissão tecnologias em campanhas. é que as novas tecnologias jornalismo. O problema é que,
Arsénio Reis não tem dúvidas é voltar aos princípios bási- Deu o exemplo da Repú- de comunicação, se, como se no mundo inteiro, o jornalismo
em dizer que o jornalismo cos. Se conseguirmos res- blica Democrática do Congo, diz, permitem que o conhe- tradicional ou não sabe como
perdeu crédito e que os pró- peitar esses, correremos que cortou o acesso à Internet cimento esteja hoje ao alcance enfrentar as redes ou, pior
prios jornalistas têm nisso menos riscos”, defende. para controlar o sistema polí- de um clique, também fazem ainda, está a reboque delas.
alguma responsabilidade. “O contraditório é, para tico e social, ou "como é o com que as falsas informações A tentação de concorrer com
"Devíamos ter-nos preocu- mim, a grande missão do jor- caso da China, que faz isso circulem planetária e instan- a velocidade das redes não
pado há mais tempo", admite. nalismo. Nós não defendemos quase abertamente", para taneamente. Recordo aqui dá certo. Hoje não basta noti-
Arsénio Reis assume que causas, ou raramente defen- explicar que a evolução tec- Umberto Eco, quando disse ciar os factos, pois todo o mun-
prefere falar em "intoxicação" demos causas, mas devemos nológica, que até inclui reco- que 'patetices' sempre houve, do, até diletantes e mesmo
do que em "fake news" sim- fornecer às pessoas as armas nhecimento facial, permite mas, agora, contam com uma verdadeiros criminosos o fa-
plesmente, porque é o mais para que elas possam tomar condicionar a actividade audiência global. zem, sejam eles verdadeiros
utilizado, mas que não deve as suas decisões. Isso implica política, a liberdade das pes- A crença nas 'fake news' ou falsos. Basta, para isso, ter
ser traduzido como "notícias ouvir versões opostas, ouvir soas, a liberdade de opinião e em todas as 'patetices', um telemóvel na mão. Hoje,
falsas", porque uma notícia várias opiniões e depois per- e até o acesso à informação. invencionices e perversões o bom jornalismo implica apu-
não pode, por natureza, ser mitir que as pessoas possam, No combate às 'fake news', que circulam no mundo vir- rar melhor, não ignorar o con-
falsa, mas como "notícias efectivamente, retirar as suas o presidente da Impresa teceu tual é tanto maior quanto traditório, enquadrar e explicar
falsificadas", o que já pres- conclusões”, sustenta. ainda críticas ao comporta- mais fechada e menos edu- correctamente os aconteci-
supõe uma intenção de Por outro lado, é hoje mais mento dos jornalistas nas cada for uma sociedade. O mentos. A sociedade tem
desinformar ou manipular. difícil para os órgãos de infor- redes sociais. nosso país está a viver um tempo para isso ou quer viver
"Não há notícias menti- mação "ter os meios essen- "Os jornalistas têm de período de abertura infor- em permanente estado de
rosas, as notícias mentirosas ciais para, em cada um dos ter um comportamento tal- mativa, inaugurado com a euforia e excitação social?"
são mentiras. Nem sequer casos, (...) apurar a veraci- vez um pouco diferente e eleição do Presidente João *Ministro da Comunicação
aceito o conceito e acho que dade de uma determinada deixar de se apresentarem Lourenço em Agosto de 2017, Social
Investigador Pablo Ortellado ninguém na profissão o informação", admite. constantemente nas redes
deveria aceitar", contesta o sociais, como se aquilo fosse
E a directora da Lusa co- director da TSF. Código de conduta uma espécie de clube de TEIXEIRA CÂNDIDO
mentou também que consi- As "notícias mentirosas" O fundador do Expresso, amigos", considerou.
dera "uma contradição o
termo 'fake news', porque se
é falsa não é notícia", mas
são "perigosas", porque "põem
todos os dias em causa" o tra-
balho dos jornalistas e das
Francisco Pinto Balsemão,
considerou que as 'fake news'
são uma ameaça global e não
Questionado se consi-
d e rava n e c e s s á r i o u m
código de conduta, Fran-
Fake News não é jornalismo
reconheceu o termo inter- empresas de informação, apenas para os 'media' e cisco Pinto Balsemão afir- Teixeira Cândido, secretário- fim, no actual contexto domi-
nacional como identificativo. reconhece. defendeu um código de con- mou: "Penso que sim, cada geral do Sindicato dos Jorna- nado pelas “fake news”, a
Fernando Esteves, director Porém, importa assinalar duta para os jornalistas nas vez mais acho que os jor- listas Angolanos (SJA) começa imprensa tradicional tem campo
do Polígrafo, comentou, por que todos cometemos erros, redes sociais. nalistas não devem intervir por recordar que, antes de tudo, para reforçar a sua utilidade e
sua vez, que o cérebro huma- incluindo os jornalistas. "Mas Questionado sobre se as nas redes sociais, muito “as fake news não são notícias servir de 'espelho corrector'
no está feito para acreditar, uma coisa é o erro jornalístico 'fake news' ameaçam os menos acerca de assuntos jornalísticas, mas informações das informações disponíveis
mesmo quando sabe que não e outra coisa é uma mentira media, o presidente do Con- que eles próprios tratam diversas, disponibilizadas pelos nas redes sociais”.
é verdade, antecipando que ou uma 'fake news'", dis- selho de Administração da nas redacções. Acho que se mais diversos cidadãos, movi- Acrescenta que o jorna-
"a dificuldade de distinguir tingue. No primeiro caso, Impresa afirmou: "Eu acho devem coibir disso". dos pelos mais diversos inte- lismo não devia concorrer
a realidade da ficção, que se resses. É, por assim dizer, uma com as redes sociais, arris-
vai massificar no futuro, vai demarcação necessária”. cando por isso o seu capital.
dificultar a tomada de deci-
sões informadas".
ERCA, enfrentar o fenómeno é um exercício desafiador Por outro lado, acrescenta,
"o espaço no qual mais cir-
“É necessário dar a consumir
ao cidadão uma informação
Para o director do Polí- A ERCA (Entidade Reguladora da comunicação no contexto mentos legais vigentes e a culam as 'fake news' não são jornalística, quer dizer, devi-
grafo, cabe às redes sociais da Comunicação Social Ango- deste fenómeno novo das adopção de legislação ade- órgãos de comunicação social damente tratada, observando
intervir para evitar a escalada lana) faz nota que o seu Con- 'fake news'. quada ao enfrentamento do (imprensa no sentido lato), os cânones deontológicos”.
do fenómeno e as suas con- selho Directivo entrou em Divisamos a necessidade de fenómeno (fake news) . mas as redes sociais e outras
MOTA AMBRÓSIO| EDIÇÕES NOVEMBRO
sequências negativas, mas funções num período em que um trabalho transversal e pro- Tendo em vista contribuir plataformas digitais”. Como
também aos cidadãos, que se observam novos desafios fundo que englobe de forma para o conhecimento real do terceiro elemento Teixeira
devem ser "mais responsáveis na Comunicação Social, com comum todos os sujeitos activos fenómeno 'fake news', miti- Cândido avança que "a notí-
e não podem partilhar con- a proeminência da imprensa e passivos do trabalho da Comu- gando os seus efeitos com a cia jornalística tem caracte-
teúdos de qualquer forma". online e do activismo nas Redes nicação Social na salvaguarda literacia mediática do cidadão rísticas próprias, que não
"Partilhar acriticamente Sociais, nem sempre coerente do respeito escrupuloso e defesa comum, a ERCA programou podem nem devem ser con-
é mais uma machadada na com os princípios éticos e deon- dos direitos de personalidade, para este ano um colóquio fundidas com as 'fake news'.
democracia", considerou tológicos que devem reger a nomeadamente o bom nome, sobre a matéria, em que par- Quarto à intensidade das
Fernando Esteves, acres- comunicação social. a honra, a imagem e intimidade ticiparão actores angolanos “fake news”, o responsável sin-
centando que os jornalistas, Por isso, vemos que é um da vida privada, protegidos e dos países membros da Pla- dical acredita ser uma conse-
por seu turno, "têm de ser exercício desafiador para a constitucionalmente e na legis- taforma das Entidades Regu- quência da necessidade de
corajosos e continuar a publi- ERCA, enquanto entidade lação ordinária. l a d o ra s d a C o m u n i ca çã o maior transparência dos actos
car o que os outros não que- reguladora que tem que fazer Em suma, torna-se neces- Social dos Países de Língua de gestão dos Estados. “Por Jornalista pede mais rigor
rem que se publique". a supervisão e a regulação sário a aplicação dos instru- Portuguesa.