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CENTRO PRESBITERIANO DE TREINAMENTO E MISSÕES - CPTM

CURSO DE TEOLOGIA

ROGEFFERSON LOPES RAMOS

A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR


JESUS CRISTO À SUA IGREJA

MANAUS - AM
2018
ROGEFFERSON LOPES RAMOS

A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR


JESUS CRISTO À SUA IGREJA

Trabalho de Conclusão de Curso solicitado pelo Pastor-Mestre


Paulo Cezar Diniz de Araújo, Dr. para obtenção de nota parcial
do Centro Presbiteriano de Treinamento e Missões.

MANAUS - AM
2018
Ficha catalográfica

RAMOS, Rogefferson Lopes.


A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UM ORDEM
DO SENHOR JESUS CRISTO À SUA IGREJA - TEMA
FUNDAMENTADO EM LUCAS 22.39-46./ ROGEFFERSON
LOPES RAMOS 2018.
ORIENTADOR: PROFESSOR. PR. PAULO CÉZAR DINIZ
de Araújo, DR.
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - CENTRO
PRESBITERIANO DE TEOLOGIA E MISSÕES - CPTM
Agradeço a Deus por sua infinita misericórdia, pois tantas vezes tem perdoado os meus
pecados, Ele permanecerá fiel, ainda que eu esmoreça sua mão poderosa me sustentará. Em todas as
circunstâncias seu Santo Espírito tem sido meu auxílio, tem me conduzido ao seu perfeito caminho,
sendo eu sabedor que sou sempre passivo da graça do Senhor Jesus Cristo.
Louvo-o pelo apoio constante de minha companheira e amiga Martha Karynne Nascimento
Ramos, que é quem tem muito me ajudado a vencer os percalços oferecidos pela vida. Lado a lado
temos caminhado, convencidos de que o Senhor tem suprido nossas necessidades e limitações,
juntos temos suportado as leves e momentâneas tribulações que têm nos rodeado.
Graças dou ao Senhor por nosso filho querido e temente a Deus Áquila Refaías Nascimento
Ramos, como sendo prova viva do poder manifesto do Senhor, uma vez que ele padeceu de uma
enfermidade, a saber, leucemia. Contudo, coube ao Senhor conceder-lhe graça sobre graça,
curando-o e aperfeiçoando-o nesta caminhada árdua.
Exalto ao Senhor pelos meus familiares, minha amada mãe Jacilene Lopes, e meus irmãos
Rodrigo Lopes e Rillary Lopes. Gratidão expresso ao Soberano pela vida do sr. Antonio Ramos a
quem Deus concedeu a honra de ser meu pai, não poderia deixar de mencionar o sr. Antonio Birmar
com quem minha mãe se uniu com o objetivo de construir sua linda família.
Reconhecimento meu ao pastor José Nery Teixeira, não somente um amigo, mas um pai
cuidador, cheio das virtudes de Deus, com quem tenho aprendido a enxergar os valores
indispensáveis para a formação do caráter de um genuíno cristão. Valores não fundamentados na
religião, porém, na verdadeira religião. Isto é, um cristão adornado com o fruto do Espírito Santo.
Louvores a Deus pela vida do hospitaleiro pastor José João, alguém que não limita o
cristianismo a uma denominação ou instituição, antes reconhece verdadeiramente a igreja invisível
do Senhor Jesus Cristo.
Enalteço ao Senhor Jesus Cristo por todos os amigos que me apoiam nesta caminhada, dentre
eles, o médico amado Gefferson Ferreira.
Glorifico a Deus pela família dos santos irmãos que fazem parte da Igreja Presbiteriana de
Manaus, que direta ou indiretamente têm sido instrumentos para a nossa edificação e realização
nossa. Que Deus continue abençoado todos os Sínodos e Presbitérios, bem como ao Supremo
Concílio que dirigidos por Deus, nos ajudam a continuar com o Centro Presbiteriano de Teologia e
Missões, agora reconhecido como um Seminário da Igreja Presbiteriana do Brasil. Gratidão terna a
todos os pastores-mestres que dedicam-se a nos instruir na palavra da verdade.
Gratidão a Deus por estar produzindo amor pelo nosso pastor titular Francisco Chaves e sua
família, que dirigidos por Deus estão nos servindo e pastoreando.
RESUMO
A oração como um meio de graça e uma ordem do Senhor Jesus Cristo à igreja, é uma
afirmação que tem como objetivo clarificar o entendimento dos cristãos à pratica da oração. A tese
aborda como a oração fez parte da vida dos cristãos e defende que desde muito antes, a igreja do
Senhor se utiliza deste meio de graça, principalmente aqueles que demonstravam total reverência às
Escrituras Sagradas. Embora alguns teólogos não considerem a oração como um meio de graça, não
hesitam em reconhecer que a igreja não deve desprezar a oração, se assim o fizer, terá prejuízo
espiritual. A principal fundamentação utilizada é a Palavra de Deus considerada como infalível e
inerrante, frisando assim a oração como uma ordem do Senhor Jesus Cristo no texto de Lucas
22.39-46, é conivente que todos que obedecem as ordens de Cristo, jamais depreciarão a oração.
Jesus Cristo foi o exemplo magno do exercício da oração durante o seu ministério, e não ocultou a
validade da oração aos seus discípulos, porém com dedicação e aplicação os estimulou a terem uma
vida de oração.

Palavras-chave: Oração, Meio de graça, Ordem, Jesus Cristo, Igreja, Palavra de Deus, Discípulos.
ABSTRACT
Prayer as a means of grace and an order of the Lord Jesus Christ to the church is an affirmation that
aims to clarify the understanding of Christians in the practice of prayer. The thesis discusses how
prayer was part of the life of Christians and argues that long before the church of the Lord uses this
means of grace, especially those who showed total reverence to the Holy Scriptures. Although some
theologians do not consider prayer as a means of grace, they do not hesitate to acknowledge that the
church should not despise prayer, if it does, it will suffer spiritual loss. The main foundation used is
the Word of God considered as infallible and inerrant, thus emphasizing prayer as an order of the
Lord Jesus Christ in the text of Luke 22: 39-46, it is conniving that all who obey the orders of Christ
will never depreciate prayer. Jesus Christ was the great example of the exercise of prayer during his
ministry, and he did not hide the validity of prayer to his disciples, but with dedication and
application he encouraged them to lead a life of prayer.

Keywords: Prayer, Medium of grace, Order, Jesus Christ, Church, Word of God, Disciples
ÍNDICE
PREFÁCIO DO TUTOR................................................................................................................09
INTRODUÇÃO................................................................................................................................10
DESENVOLVIMENTO..................................................................................................................11
1. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NAS ESCRITURAS SAGRADAS....................................................11
2. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO FUNDAMENTADO NOS PAIS DA IGREJA...............................................................19
2.1 CRISTÃOS DOS PRIMEIROS SÉCULOS............................................................................19
2.2 POLICARPO.............................................................................................................................21
2.3 AGOSTINHO DE HIPONA.....................................................................................................22
3. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO NA PERSPECTIVA DOS PRÉ-REFORMADORES...................................................26
3.1 TOMÁS DE ÀQUINO SE UTIIZA DO PENSAMENTO DE AGOSTINHO- EMBORA
NÃO SEJA UM PRÉ-REFORMADOR.........................................................................................26
3.2 GUILHERME DE OCCAM E O CONCILIARISMO..........................................................26
3.3 OS GENUÍNOS PRÉ-REFORMADORES JOÃO WYCLIFFE..........................................27
3.4 JOHN HUSS...............................................................................................................................28
3.5 JERÔNIMO DE PRAGA.........................................................................................................29
3.6 JERÔNIMO SAVONAROLA..................................................................................................30
3.7 JOÃO WESSELUS E JOÃO DE WESSÁLIA.......................................................................30
4. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA ÓTICA DOS REFORMADORES..............................................31
4.1 MARTINHO LUTERO............................................................................................................31
4.2 ÚLRICO ZWINGLIO..............................................................................................................33
4.3 GUILHERME FAREL.............................................................................................................37
4.4 JOÃO CALVINO......................................................................................................................38
5. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA FUNDAMENTADO NOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL....................................................................................................42

5.1 CONFISSÃO DE FÉ DE WESTIMINSTER.........................................................................42


5.2 CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER.......................................................................44
5.3 BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER........................................................................46
6. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA
REFORMADA.................................................................................................................................48
6.1 HERMANN BAVINCK............................................................................................................48
6.2 LOUIS BERKHOF; HODGE; MCPHERSON......................................................................49
7. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA.......50
7.1 KARL BARTH..........................................................................................................................50
7.2 JOHN STOTT...........................................................................................................................51
8. EXEGESE DO TEXTO DE LUCAL 22.39-46.......................................................................51
8.1 TEXTO GREGO........................................................................................................................51
8.2 TRADUÇÃO LIVRE................................................................................................................52
8.3 ESTUDO DOS TERMOS – LUCAS 22. 39-36.......................................................................52
9. ESBOÇO HOMILÉTICO........................................................................................................68
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................76
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................77
PREFÁCIO DO TUTOR
Oração! Este é um assunto com certa facilidade de definir, muito necessário para a vida exitosa
da igreja, mas bastante desprezada por muitos crentes. Isto porque a oração como meio de graça que
é, também se trata de uma ordem do Senhor Jesus Cristo, para a Sua igreja, consoante ao que se
pode observar no texto contido no Evangelho, segundo Marcos, em seu capítulo 22.39-46 e em
tantos outros. Nesta perícope, quero destacar os dois primeiros versículos: “E, saindo ele, foi, como
de costume, para o monte das Oliveiras; e os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar
escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação.” (Vs. 39-40). Aqui logo se
percebe um estilo de vida – “como de costume” e um verbo no imperativo – “Orai,” e, em
sequência, Ele, o Senhor Jesus Cristo praticando este mandamento, ensinando-nos o modelo
absoluto de que é imprescindível uma vida de oração.
Quero ressaltar que nenhum salvo nega a importância da oração, mas não adianta somente
reconhecer que a oração é importante, é necessário orar para deleitar-se neste poderoso meio de
graça. O nosso irmão e teólogo, Dr Martyn Lloyd-Jones disse: “Não há nada que diga a verdade a
nosso respeito como cristãos, tanto quanto nossa vida de oração.” Aqui cabe uma pergunta: quanto
vale a oração? Para responder, precisamos olhar o valor da oração na vida de Jesus Cristo. Se para
ele que era um com o Pai, Jo 10.30, a oração tinha profundo valor, quanto mais deve ter para nós!
Os críticos dizem que a oração é válida porque é emocionalmente saudável para quem ora. Seria
este o único valor da oração para Jesus Cristo? O autor da Carta aos Hebreus afirma: “Ele, Jesus,
nos dias de sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e suplicas a quem o
podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade... (Hb 5.7). Certamente que,
para Jesus Cristo, a oração não somente proporcionava o benefício emocional, mas em grandeza
para a glória de nosso Pai Eterno, produzia efeitos concretos em Sua vida e na vida de outros que o
seguiam. Deus o tinha como filho amado e o atendia, concretamente, em suas orações. Não será
diferente conosco, também seus filhos – igualmente – amados, quando nos voltarmos para tão
sublime princípio, chave da alegria e da paz que excede a todo e qualquer entendimento.
O autor deste TCC, o seminarista Rogefferson Lopes Ramos, está muito bem direcionado em
sua tese, quando desafia aos seus leitores para que sejam despertados, não para olhar uma sugestão,
mas para serem obedientes à ordem do Senhor Jesus Cristo, de desenvolver uma vida de oração.
Quem nasceu de novo mesmo, não tem o direito de não orar nos dias de sua carne! Primeiro porque
é um mandamento do Senhor para a Sua igreja. Segundo, por ser um meio de graça estabelecido por
Deus Pai para os seus filhos, todos amados. Jesus termina seu ensino sobre a oração, em Lc 11.11-
13, comparando o pai terreno com o Pai celestial. Eugene Peterson contemporiza assim o texto:
“Não barganhem com Deus. Sejam objetivos. Peçam aquilo de que estão precisando. Não estamos
num jogo de gato e rato, nem de esconde-esconde. Se seu filho pedir pão, você o enganaria com
serragem? Se pedir peixe, iria assustá-lo com uma cobra viva servida na bandeja? Maus como são,
vocês não pensariam em algo assim, pois se portam com decência, pelo menos com seus filhos.
Não acham, então, que o Pai que criou vocês com todo amor não dará o Espírito Santo quando
pedirem?”. Pois bem, neste esmerado trabalho o nosso seminarista Rogefferson Lopes Ramos,
muito bem fundamentado na verdade das Escrituras Sagradas, leva-nos a entender que a oração
ouvida e respondida por Deus, não tem por base apenas os desejos ou as necessidades constantes,
mas a nossa filiação ao Pai Eterno. Somente quem é filho -...nos predestinou para ele, para adoção
de filhos...(Ef 1.5) - tem o prazer de clamar: Aba, Pai! A oração produzida, em sua essência, pelo
amor e a certeza do gozo de Sua presença, onde seus filhos satisfazem-se nEle, como primeira e
última necessidade.
Por fim, este trabalho em seus aspectos práticos garante à luz das Escrituras Sagradas que toda
oração, por ser um meio de graça, deve ser como o prazer de respirar e, por isso, feita no precioso e
perfeito nome de Jesus Cristo, sempre. Isto não significa que temos uma procuração infalível sobre
todos os aspectos de nossas vontades. Não é assim! A segurança é que o próprio Senhor Jesus
Cristo, nosso Salvador, é o nosso único Sumo Sacerdote, Mediador das nossas orações a Deus, dia e
noite, o tempo todo: “...Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus,
vivendo sempre para interceder por eles.” (Hb 7.25).
A minha oração é que no conteúdo desta obra, encontremos e adotemos a oração como estilo
prazeroso de vida como o nosso Pai Eterno deseja que seja e, portanto, nos aguarda para esta
intensa comunhão, em dimensões eternas, mesmo pisando sobre esta Terra em um corpo mortal.
Com gratidão ao Senhor pela vida de empenho e desempenho deste meu tutelado, quanto à sua
busca pelas coisas lá do alto, é que aqui firmo-me,
Pr. José Nery
Teixeira
INTRODUÇÃO
Os meios de graça são instrumentos pelos quais Deus transmite graça ao seu povo. De acordo
com a Catecismo Maior de Westminster Cristo transmite à sua Igreja os benefícios de sua mediação
através dos meios de graça. O Catecismo também responde à pergunta 178. Que é a oração? “É um
oferecimento dos nosso desejos a Deus, no nome de Cristo, com o auxílio do Espírito Santo, com a
confissão dos nossos pecados e o grato reconhecimento de suas misericórdias”. É justamente sobre
este meio de graça, isto é, a oração que estaremos desenvolvendo no decorrer deste trabalho, com o
objetivo de clarificar ainda mais o que vem ser a oração.
O presente trabalho abordará concepções de alguns dos pais da igreja no que diz respeito a
oração, como ela imiscui-se com outros meios de graça, bem como faz parte da liturgia cúltica da
igreja, este último é o que diz a Confissão de Fé de Westminster. Será exposto a visão de João
Calvino quanto a oração, em sua obra magna As Instituas da Religião Cristã. Alguns símbolos de fé,
a saber, Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior e o Breve Catecismo de Westminster
serão utilizados como fundamentação para a exposição do tema a ser trabalhado - A Oração como
um Meio de Graça e uma Ordem do Senhor Jesus Cristo à Igreja. Além deste material, a principal
ferramenta para fundamentar o tema será as Santas Escrituras, bem como outro livros que trabalham
a História da Igreja, Teologia Sistemática, Teologias Contemporâneas, e mais alguns outros livros
que enfatizam a oração.
A metodologia utilizada foi a Pesquisa Exploratória, Descritiva e Explicativa, bem como a
Análise de Documentos. O trabalho percorre na história da Igreja, iniciando pela Igreja Primitiva,
bem como contém algumas referência a igreja do Antigo Testamento. Depois, fundamenta com os
pais apostólicos, com os pré reformadores, os reformadores, os Símbolos de Fé da Igreja
Presbiteriana, teologia sistemática e finaliza fazendo referência à teologia contemporânea.
O principal argumento da oração ser um meio de graça e uma ordem do Senhor Jesus Cristo à
igreja se dá no apreço que as eras da igreja tiveram pela Palavra de Deus, ou melhor, no apreço que
os homens que Deus levantara tinham pela Palavra de Deus. A harmonia que há entre os
documentos e a reverência outorgada às Escrituras é uno, a soberania de Deus e sua providência
tornam-se evidentes na caminhada da fé dos cristãos, bem como os meios que ele (Deus) utiliza a
fim de abençoar seu povo.
Embora, a oração faça parte da vida da igreja ao longo dos séculos, ainda é desprezada por
alguns. Estes entendem que não é necessário orar, argumentam que Deus sabe de todas as coisas,
isto é, de todas as necessidades de seus servos, nisso não estão errados, entretanto, Deus também
ordena seus filhos a orarem. É com o objetivo de esclarecer sobre o assunto, que essa monografia
está fundamentada não somente nas Escrituras, embora ela seja autoridade absoluta sobre os demais
escritos, buscou-se outras fontes históricas que aludem ao tema em foco.
A passagem bíblica na qual o material foi elaborado encontra-se no Evangelho de Lucas 22.39-
46. Nesta perícope o Senhor Jesus Cristo não somente ora como ordena aos discípulos que orem
para que não caim ou entrem em tentação. A perícopo foi exetizada a fim de clarificar com
profundidade que esta ordem não deve ser desobedecida.
As citações do Antigo Testamento reforçam ainda mais a prática da oração pelo povo de Deus.
Uma vez que os cristãos genuínos consideram o Antigo e o Novo Testamento como a Palavra de
Deus, as referências bíblicas citadas ratificam a oração como um dever dos que foram prestigiados
pela graça eletiva do Senhor.
Com gratidão louvamos ao Senhor Deus por sua terna misericórdia de produzir em nós uma fé
vertical e horizontal, ou seja, que sendo ele transcendente, inacessível, também é imanente,
concedendo àqueles que são à sua imagem e semelhança de desfrutarem de momentos únicos com
ele, em que falam e são ouvidos, bem como são ministrados por ele.
A ideia deste trabalho acadêmico não é forçar alguém a crer e a ter uma vida de oração, mas
expor o apreço e ensinamento que Jesus Cristo atribuiu à oração. Como um mestre perfeito, ele não
somente ordenava como dava exemplos práticos através de sua vida e conduta, com o passar dos
séculos isso não foi diferente àqueles que tiveram acesso as Santas Escrituras e com os discípulos
que deram continuidade aos ensinamentos do Senhor. Sendo o Senhor soberano, certamente levará
os santos a terem uma constante de oração, mantendo um relacionamente saudável e sempre
recorrendo ao Senhor, seja em um momento de tristeza ou de alegria.
1. ORAÇÃO, UMA ORDEM DO SENHOR JESUS CRISTO À SUA IGREJA
Quando o termo orar é pronunciado em ambiente cristão ou não, as pessoas já imaginam uma
conversa com Deus, pelo menos no contexto brasileiro a grande maioria pensa assim. E não estão
errados, mas faremos uma análise mais acurada desse termo tão presente nos textos bíblicos.
No texto bíblico a seguir, o Senhor Jesus Cristo momentos antes de se entregar aos pecadores
por amor à sua igreja, se dirige juntamente com seus discípulos ao lugar que costumavam repousar
e consequentemente orar. Ordena aos discípulos que orassem para que não caíssem em tentação,
observe Lucas 22. 39-46:
39 E saindo, foi, como era de costume, para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram.40 Ao
chegarem neste lugar, disse-lhes: orai, para que não entreis em tentação. 41 E afastou-se deles a distância de
um arremesso de pedra e, de joelhos dobrados orava dizendo: 42 Pai, se queres afasta de mim este cálice,
todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua seja feita. 43Então, apareceu um anjo do céu que o
fortalecia. 44 E estando em agonia, orava intensamente, e o seu suor tornou-se como em gotas de sangue
descendo sobre a terra. 45Depois, levantando da oração, foi aos discípulos e os encontrou adormecidos de
tristeza 46e disse-lhes: Por que estais dormindo: Levantai-vos e orai para que não entreis em tentação.

Dos sete versículos desta perícope, o termo oração aparece em cinco versículos, em dois deles o
termo aparece no imperativo, o que significa que trata-se de uma ordem. Logo no início do texto,
mais precisamente no versículo 40, o Senhor Jesus Cristo verbaliza ‘orai” para que não entreis em
tentação, entretanto, no final da perícope, isto é, no versículo 46, novamente o Senhor os ordena
“orai” para que não entreis em tentação. Diante dessa ordem, fica explícito que a oração é um meio
de graça indispensável para a saúde da igreja, bem como para a sua permanência em não cair na
tentação.
O Senhor Jesus Cristo não somente ordena, como põe em pratica a sua ordem, veja o versículo
41, sua posição de humilhação (joelhos dobrados), orava ao Pai com uma expressão de submissão e
dependência, ou seja, o Deus que se humilhou a Deus. Um exemplo aos discípulos, à igreja. Se ele
(Jesus) sendo Deus orou, quanto mais a sua igreja que é composta de pecadores redimidos por ele -
Jesus Cristo - essa ação do Senhor soava como um modo de enfatizar a relevância de buscar
consolo ao Pai por meio da oração. Daí o porquê de a oração ser um meio de graça, abordaremos a
oração como um meio de graça com mais detalhes em um outro tópico deste trabalho.
Existe ainda outros textos correlatos nas Escrituras em que há a ordem explícita à igreja que
pratique a oração. Veja o que diz o texto de Lucas 6.28 “Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos
que vos caluniam.” Essa ordem expressa no evangelho de Lucas deixa visível o que um cristão deve
fazer para não cair na tentação, ou seja, em não fomentar ódio e rancor por aqueles que o caluniam,
pode-se inferir que o texto adverte que o cristão se poupe em não cair na tentação. O que ele, o
cristão, deve fazer é orar ao Pai pela vida daqueles que o caluniam, sendo assim a oração é uma
ferramenta útil que bloqueia pontes que levam a tentação.
A primeira ordem contida no versículo acima citado, é “bendizei os que vos maldizem” seguida
da ordem “orai pelos que vos caluniam”, a resposta de como bendizer aos maldizentes está pautada
na segunda ordem, isto é, orando por eles. Uma vez que Deus é rico em graça, amor, misericórdia e
perdão, é aceitável afirmar que quando o cristão ora - conversa com Deus - todas as virtudes divinas
sejam atreladas ao coração do fiel. Desta maneira, ele, o cristão, será desprovido de todas as
mazelas que o levariam a maldizer o caluniador.
O Senhor Jesus Cristo conhece o coração do homem, suas ordens são como um antídoto para
que a inclinação pecaminosa e vingativa presente no ser humano não o torne doente. As santas
Escrituras externam com veemência a pratica da oração no seio da igreja, pois é necessário para que
a mesma não se entrelace nas armadilhas do cotidiano, ver Tiago 5.16 “Confessai as vossas culpas
uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em
seus efeitos.” A eficácia da oração é presente neste versículo, entretanto, nos concentraremos na
segunda parte do versículo, em que a ordem é que os membros do corpo de Cristo, a igreja, orem
uns pelos outros. Para quê? Para serem sarados. Sarados de quê? De tudo aquilo que tem como
objetivo fazer o cristão e a igreja perderem o foco.
Voltemos ao primeiro texto bíblico citado, o de Lucas 22.39-46, após Jesus da a ordem aos seus
discípulos para orar, eles não obedeceram. O versículo 47 é enfático para descrever a atitude de
Pedro, que ao lançar mão de sua espada feriu o servo do sumo sacerdote cortando-lhe a orelha.
Obedecer a ordem expressa pelo Senhor Jesus Cristo é uma maneira de desfrutar deste meio de
graça, é uma maneira de se deliciar no que Cristo nos proporcionou, ou seja, é um meio que nos
transmite um relacionamento profícuo com o Criador através da oração. Perceba que Pedro foi
induzido a agir de uma maneira que o Senhor Jesus o repreendeu, isso não significa que legítima
defesa seja algo errado, o fato é que faltou discernimento por parte do discípulo Pedro, ele não
havia compreendido que o que estava escrito nas sagradas letras devia acontecer.
A oração não é mágica, acerca dessas minúcias tão importantes, esclareceremos com as
Confissões de Fé que possuem uma harmonia indelével e admirável. O texto de Lucas 22.39-46
explícita a situação emocional do Senhor Jesus Cristo, o que Ele faz é buscar auxílio no Pai, é
conversar com o Pai, um exemplo a ser seguido.
Nos atentaremos agora a outro texto das Escrituras que ordena aos cristãos que orem. Orai ao
Senhor; pois já bastam estes grandes trovões e a chuva de pedras. Eu vos deixarei ir, e não ficareis
mais aqui. O texto de Êxodo 9.28 é cômico e verdadeiro, pois quem dá esta ordem é Faraó, este
sabia que o Deus dos céus ouvia o seu povo, certamente os hebreus ou alguns dentre eles tinham
uma vida de oração. Moisés desfrutava deste meio de graça, os hebreus muitos dentre eles também
desfrutavam, e Faraó sabia disso, reconhecia que o transcendente também era imanente com seu
povo.
Por diversas vezes as infalíveis Escrituras vão mencionar a ordem à oração e a obediência do
povo a esta ordem, principalmente em momentos de angústia, vide Salmo 22.6 “Orai pela paz de
Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. A oração é uma expressão de reconhecimento que há
um Deus que domina tudo e todos e que não está limitado ao tempo e espaço, vide Jeremias 29.7
“Procurai pela paz da cidade para onde vos desterrei e orai ao Senhor; porque na sua paz vós tereis
paz.” Observe que o verbo procurar está no imperativo, bem como o verbo seguinte “orar”, a ideia
exposta é que a prática da procura por paz se sustenta em pedir a Deus pela paz, ou seja, por meio
da oração, do contato e da intimidade com o Senhor através da oração. Seria incoerente acreditar em
alguém ou em algo e não manter uma relação.
O apóstolo Paulo considerou relevantemente a ordem da oração, em suas cartas ele advertia à
igreja local a perseverarem na oração, a orarem uns pelos outros, por eles mesmos, e até pelo
próprio apóstolo. Escrevendo aos cristãos em Romanos 12.12 “regozijai-vos na esperança, sede
pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;” o apóstolo os ordena a se alegrarem na
esperança (volta de Cristo e redenção final), a serem pacientes nas aflições e enfatiza que eles
perseverem na oração. As palavras-chave deste versículo são: alegrem-se, esperem e orem.
Em Efésios 6.18 “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com
toda perseverança e súplica por todos os santos”, o apóstolo apenas no versículo 18 utiliza o termo
oração duas vezes e o termo orando duas vezes. O versículo finda com o apóstolo incumbindo o
cristão a orar por todos os cristãos.
E por fim citaremos um texto em que o apóstolo pede oração aos cristãos, vide 2
Tessalonicenses 3.1 “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e
seja glorificada, como também está acontecendo entre vós;” neste texto o pedido de oração do
apóstolo é a eficácia da pregação da palavra, a honra que ela merece dos ouvintes ao ser propagada.
O pedido de apoio dele por meio da oração discorre ainda em outros textos, isso significa que ele
mesmo sendo douto e habilidoso na palavra da verdade, não alijava o valor da oração. Pois ele sabia
do peso da oração em virtude de seu ministério. Vide Romanos 15.30-32:
Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente
comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que
este meu serviço em Jerusalém sejam bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de
Deus, chegue á vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.

Por diversas vezes em que o apóstolo Paulo pede oração, seu pedido está associado à eficácia
da Palavra de Deus e à aceitação do seu ministério pelos santos. Vide Colossenses 4. 2,3:
“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós,
para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo também estou
algemado; para que eu o manifeste como devo fazer.”
Já no final da primeira carta aos Tessalonicenses, capítulo 5.23 o apóstolo sucintamente pede
que os irmãos orem por eles (Paulo, Silvano e Timóteo) “Irmãos, orai, por nós.” Em Filemom 22 ele
expressa sua esperança quanto a prática da oração no meio dos irmãos, no término da carta “E, ao
mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que, por vossas orações, vos serei
restituído.”
A oração é uma ordem incontestavelmente, uma vez que por toda a Escritura ela está presente.
Até mesmo os homens mais vis reconheciam a oração como uma ferramenta do povo de Deus,
como citamos acima “Faraó”, ele sabia que Deus estava pronto a ouvir seu povo, mesmo que não
atendesse, Ele faria alguma coisa em favor de seu povo.
Os discípulos do Senhor Jesus Cristo estavam sendo preparados para serem líderes, para darem
continuidade ao que o Senhor havia ensinado, não é de se estranhar o porquê de Jesus ser exemplo
de um líder que orava pelos seus liderados. Moisés foi um líder, e manteve uma vida de oração
constante; Paulo foi líder, e nos textos acima vimos o quanto ele valorizava e reconhecia a oração.
Há alguns que tentam desconstruir a cultura da oração que foi fundamentada pelo próprio
Senhor Jesus Cristo, e não somente por ele, mais por aqueles que o sucederam e buscavam
preservar o que haviam aprendido com o Mestre. Uma das características da Igreja Primitiva era a
oração, uma virtude que fora externada por Estevão enquanto adormecia com as pedradas dos
judeus e de seus líderes religiosos, Atos 7.60 “Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor,
não lhes imputes este pecado! Com estas palavras adormeceu.” Diferentemente de Pedro, que
cortara a orelha do servo (Malco) do sumo sacerdote, Estevão não caiu em tentação no momento em
que injustamente estava sendo apedrejado, pois fora alvo de falsas testemunhas que alegaram que
ele havia blasfemado contra Deus e Moisés.
Falaremos agora sobre o dever de orar pelas autoridades, uma ordem que é responsabilidade de
todo cristão. Pois este crer ou deveria crer, que o Reino de Deus é agora e ainda não. Ao obedecer
esta ordem contida nas Escrituras, o cristão expressa compromisso com sua nação, bem como para
com os cidadãos que a compõe. Embora,o apóstolo sofresse perseguição por parte da maioria das
autoridades, e isto por causa do evangelho, ele instrui Timóteo a orar por todos os homens, inclusive
pelas autoridades, vide 1 Timóteo 2.1,3: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de
súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e
de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com
toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.”
No versículo 1, a princípio há um tom de compromisso com a criação, a saber, com os humanos
que são criados à imagem e semelhança de Deus. O apóstolo é categórico quando encoraja a
Timóteo que faça orações por “todos os homens”, certamente neste versículo está contido o amor
pelo próximo, a importância que o cristão deve dar ao seu semelhante, depois ele enfaticamente o
encoraja para que ore “inclusive pelo chefe de Estado (monarca) e por todos que são acometidos de
autoridade.
A consequência da oração, súplica, intercessões e ações de graças, são atitudes todas voltadas à
igreja, ou seja, ao relacionamento para com Deus. Observe, que há uma consequência da relação
Igreja-Deus refletida em toda a humanidade. “Para que vivamos vida tranquila e mansa...”, diante
desse encorajamento, Paulo está enaltecendo e transmitindo à igreja o domínio supremo de Cristo.
Infere-se que todas as autoridades estão sob o domínio do Senhor, é óbvio que isso não anula a
responsabilidade de cumprirem com o seu ofício. O notório nesse versículo é a valorização dada à
oração pelo apóstolo, não se trata apenas de o cristão ter boa conduta, mas também de interceder
por aqueles que julgam as condutas.
No início do primeiro versículo do capítulo abordado consta “...exorto que se use a prática...”,
no capítulo anterior ele enfatiza ao cristão que tenha boa consciência, evidentemente um cristão de
boa consciência não irá infringir a imposição das autoridades, a não ser que estas contrariem a
palavra de Deus. Se o cristão não infringe as leis, ele está contribuindo para uma sociedade mais
parecida com o seu Criador, porém isso não é suficiente, uma vez que o cristão precisa orar a Deus
por todos os homens, ele só gozará de uma vida tranquila fazendo o que a santa Escritura ordena em
1 Timóteo 2.1-2 “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões,
ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham
investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.
“Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” No versículo 3 Paulo ratifica que essa
prática é boa e aceitável diante de Deus nosso Salvador, se há a aprovação de Deus é porque todas
essas práticas são saudáveis não somente à igreja, mas a todos os homens. Não poderíamos falar das
autoridades e não clarificar no que consiste suas obrigações, vide Romanos 13.1-7:
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste a
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmo condenação. Porque os magistrados não são para
temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de
consciência. Por esse motivo, também pagas tributos, porque são ministros de Deus, atendendo,
constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto,
imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.

Neste trecho da Escritura vemos novamente o apóstolo exaltando e expondo a Soberania de


Deus, então alguns perguntam: e os atos impróprios das autoridades, Deus está no controle? Sim,
Deus está no controle de tudo, porém os atos impróprios dos homens é inerente ao homens,
portadores de uma natureza caída, contrária a Deus, daí o porquê da Igreja ter de fazer oração pelas
autoridades. Vide, Calvino Insitutas da Religião Cristã Livro IV, Capítulo XX: “Dentre todas,
porém, sumamente luminosa é a passagem de Paulo, onde, exortando a Timóteo a que na reunião
pública se oferecessem orações pelos reis, logo a seguir adiciona a razão: “Para que sob eles
levemos vida tranqüila, com toda piedade e honorabilidade” [1Tm 2.2], com cujas palavras
recomenda a seu patrocínio e tutela o estado da Igreja.”
Quanto a responsabilidade dos magistrados civis João Calvino disse:
E noutro lugar se diz que “Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses” [Sl 82.1], para
que sejam animados ao dever, enquanto ouvem que são legados de Deus, a quem importa um dia prestar
contas do cargo administrado. E entre eles, merecidamente, deve valer muito esta exortação, pois, se
cometem alguma falta, não só estão lesando aos homens, a quem celeradamente molestam, mas também estão
sendo injustos para com o próprio Deus, cujos sacrossantos juízos poluem [Is 3.14, 15]. Por outro lado, têm
também donde claramente se consolem, enquanto refletem consigo que não estão engajados em ocupações
profanas, nem alheias a um servo de Deus; pelo contrário, em um ofício santíssimo, visto que, de fato, a
desempenham por delegação de Deus. (INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, LIVRO IV, CAP.XX)

Ao falar dos magistrados João Calvino não deixa de mencionar o texto que Paulo escreveu a
Timóteo, a saber, que na reunião pública não deixassem de orar pelos reis, pois traria uma
consequência profícua à Igreja. Depois, Calvino externa a validade dos magistrados e se porventura
estes não responderem ao seus ofício honestamente para o bem do povo, certamente prestarão
contas com o Senhor, o juízo de Deus virá sobre eles. Poderíamos mencionar aqui que o mesmo
Calvino diz que se o magistrado civil não responder ao seu ofício o povo deve resisti-lo:
E como até aqui temos descrito o magistrado tal como deve ser, que verdadeiramente corresponda a seu título,
isto é, um pai da pátria e, como diz o poeta, pastor do povo, guardião da paz, defensor da justiça, vindicador
da inocência, com toda razão será tido por aquele a quem não se aprove tal governo. Mas, como de ordinário
acontece que a maioria dos príncipes anda bem longe do verdadeiro caminho; e, como este é o exemplo de
quase todas as eras, que uns dentre os príncipes, sem preocupar-se por nada de seu dever, se espojam em seus
prazeres e deleites, outros, dominados pela avareza, põem à venda todas as leis, privilégios, direitos, juízos;
outros saqueiam ao povo pobre, que, depois, esbanjam em insanas liberalidades; Outros, pilhando os lares,
“violando matronas e, matando inocentes, cometem meros assaltos; esses, porém, não é fácil ser reconhecidos
por príncipes, a cujo mando, até onde é possível, se lhes deve obedecer sem questionar. (CAP. XX; p.6).

Estes que receberam tal incumbência de zelar pela ordem social, caso não venham a comportar-
se devem ser respeitados e reconhecidos até onde seja possível, caso contrário todos quantos os
apoiam são coniventes com sua práticas. Dessarte, a Igreja tem um dever de constantemente orar
por esses a quem Deus lhes conferiu tal autoridade.
Sendo a oração um meio de graça que Deus concedeu ao seu povo, este dever ser exercitado
pelo corpo de Cristo, a fim de conseguir paz entre os homens e assim desfrutar de uma vida
tranquila perante a sociedade constituída. Todas essas citações contidas nas Escrituras e em
documentos de valia à Igreja devem ser usados como respaldo à pratica da oração entre os santos.
Aqueles que alijam tal ordenança, caem no desuso deste meio de graça proveitoso para o avanço e
eficácia do Reino de Deus entre os homens.
Este meio de graça pautado em toda a palavra de Deus, tem como objetivo aproximar o homem
caído de seu Criador, uma vez que Cristo padeceu por seus santos concedendo-lhes o privilégio de
estarem mais próximos de seu Senhor. Não obstante os cristãos devem ser cônscios de tal privilégio,
e assim praticarem com veemência a oração como um meio de graça, isto é, orando uns pelos
outros, pelas autoridades, pelos obreiros e por todos os homens.
No princípio o homem gozava de uma perfeita intimidade com o Senhor, tanto é que ao cair da
tarde o Senhor ia até o homem. Contudo, após a queda essa intimidade foi bloqueada pelo pecado,
mas ainda assim, Deus manifestou sua terna misericórdia externada em seu plano eterno e
redentivo, com a intenção de aproximar novamente a obra de suas mãos para junto dele. Cristo é o
centro de toda essa intimidade a ser resgatada, isso explica o porquê dele ordenar a prática da
oração entre os santos.
Os salvos do Antigo Testamento anunciavam e aguardavam a encarnação de Deus entre os
homens, e por meio da oração eram consolados e direcionados pelo Senhor Deus. Vide Daniel 6.10:
“Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu
quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e
orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.” Mesmo estando exilado, este
Daniel cria nas promessas do Senhor, e por meio da oração dava graças ao seu Deus, como também
buscava ser fiel ao seu Deus, embora os homens soubessem de sua lealdade para com os reis da
babilônia, neste caso ele preferiu honrar ao Senhor, valorizando e praticando a oração.
Deus por sua vez se manifestou guardando Daniel das ciladas que os inimigos haviam prepara a
ele. Com Daniel na cova dos leões, Deus manifestou sua misericórdia e engrandeceu seu nome
através da vida de Daniel, o Senhor mostrou que domina os animais e até mesmo a fome dessas
criaturas. Os reis compreenderam que não se pode bloquear a intimidade entre Deus e seus servos,
mesmo diante de ameaças de morte.
No Novo Testamento, na pessoa do Senhor Jesus Cristo, a prática da oração foi ainda mais
enfatizada, a fim de que aqueles que gozam da doce graça do Senhor possam estar confiantes em
seu Deus. O texto de Lucas 22.39-46 citado acima mostra o que o Senhor Jesus fez no momento de
extrema agonia, orou ao Pai.
A oração é um ato de fé, pois se o cristão não acreditar que há um Deus com os seus ouvidos
abertos e com suas mãos estendidas para abençoá-lo de que adiantaria ele orar? Os pecados
bloqueiam a oração, sim. Ver Isaías 59.1,2 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que
não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não
vos ouça.” Contudo, graças damos ao Senhor Jesus Cristo que nos purificou de todo pecado e que
advoga em nosso favor, vide 1João 2.1,2 “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a
propiciação pelos nosso pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo
inteiro.”
João não limita o perdão do Senhor a uma área geográfica, mas onde se encontrar um cristão lá
estará o perdão do Senhor. Sendo assim, os cristãos do mundo inteiro podem orar ao Senhor, o
apóstolo ratifica essa verdade no versículo nove do capítulo um de sua primeira carta “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecado e nos purificar de toda
injustiça.” João prossegue explicitando a necessidade do cristão orar humilhantemente diante do
Senhor, pois todos necessitam de seu perdão diariamente, mesmo sendo cristão, versículo 10 “Se
dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”
A oração é tanto uma ordem como um meio de graça, portanto, deve ser exercitada pelo povo
de Deus, para que os cristãos gozem de uma vida tranquila mesmo em meio ao caos em que o
mundo se encontra, pois é bem verdade que o Príncipe da paz concederá paz abundante ao seu
povo, “Deixo-vos a paz, a minha paz eu vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o
vosso coração nem se atemorize” (João 14.27). Em João 17 na oração sacerdotal, Jesus roga pelos
discípulos, um exemplo a ser seguido, é fato que todo bom pastor rogará ao Senhor Jesus Cristo por
suas ovelhas.
Lembremos também que Jesus rogou por Pedro, “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece a teus irmãos” (Lucas 22.32). Parafraseando a
fala do Senhor Jesus Cristo: Eu, porém, roguei por ti, para que te fortalecer, quando tu assim te
encontrares, ora também para que teus irmãos sejam fortalecidos. A ação é sempre do Senhor, se o
cristão ora a Deus, é porque Deus produziu tal fé no coração dele.
Poderíamos escrever ainda muitas páginas sobre o valor da oração nas santas Escrituras, porém
nos deteremos a seguir em outros documentos que fundamentam a oração como um meio de graça e
algo a ser praticado pelo corpo de Cristo.
2. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO FUNDAMENTADO NOS PAIS DA IGREJA.

2.1 CRISTÃOS DOS PRIMEIROS SÉCULOS


É fato que todo bom documento cristão é pautado nas Escrituras, pois ela está acima de todo e
qualquer documento, ela é inspirada e infalível. Sendo assim, todos os outros documentos
elaborados devem satisfação as sagradas Escrituras. No tópico um mostramos como a bíblia
respalda a oração como um meio de graça e uma ordem do Senhor Jesus Cristo. Vejamos o que
Tertuliano, um cristão do segundo século escreveu a respeito da oração e sua validade. Havia
aqueles que idolatravam a pessoa do Imperador e seus deuses, é a estes que Tertuliano contesta,
alegando que a saúde do Imperador depende de Deus. A pergunta que surge é: como encomendar a
saúde do Imperador ao Deus vivo? Tertuliano responde, “Encomendamos a saúde do Imperador ao
Deus eterno, verdadeiro, e vivo, precisamente Àquele que os mesmos imperadores, além de outros
deuses, desejam lhes seja propício. Pois não ignoram de quem eles têm recebido o império...”
(Tertuliano, Apologia, XXX apud Bettenson, p. 33, 1983).
Tertuliano foi um ferrenho combatente da heresias, nasceu por volta de 150 d.C. Muito
escreveu combatendo as heresias, algumas dessas obras são: Contra Práxeas; Contra Marcião;
Prescrição conta os hereges. E por fim Apologia onde ele foi um defensor do cristianismo ante os
governantes do Império Romano que costumavam perseguir os cristãos. (OLSON, Roger, p. 96,
2001).
Exorta aos cristãos a obedecerem as Escrituras, isto é, a orarem a Deus em favor das
autoridades mesmo que esses os perseguissem:
Mas direis que é para burlar a perseguição que agora estamos a adular o Imperador e a fingir essas soadas
preces... Examinai a Palavra de Deus, nossas Escrituras: não as dissimulamos: muitas casualidades têm-nas
colocado em mãos profanas. Delas, pois, aprendei que se nos faz preceito de sobreabundar em benignidade,
de rogar inclusive pelos inimigos e implorar por quem nos persegue. Ora, que maior inimigo e que maior
perseguidor de cristãos do que aqueles que nos acusam da traição? A Escritura, no entanto, manifesta e
imperiosamente nos manda: “Orai pelos reis, pelos príncipes e poderes, para que todas as coisas redundem em
vossa paz”. Na realidade, se o império fosse perturbado e seus membros abalados, nós também, por muito
alheios que nos guardássemos da desordem, não escaparíamos da calamidade. (Tertuliano, Apologia,
XXXI apud BETTENSON, 1983, p. 34).

Tertuliano via a oração como um instrumento dos cristãos, ele insistia que os cristãos fossem
leais aos imperadores, que não fossem desordeiros, mas que orassem pelo bem do Estado. Ele
acreditava corretamente que se o Estado gozasse de tranquilidade, a Igreja também gozaria. A época
em que escreveu Apologia, 197 d.C, contestou as autoridades que perseguiam o cristianismo, nem
por isso concordava com aqueles que arregimentavam rebeldia. O equilíbrio entre obediência a
Deus e Estado é algo de suma importância para a progresso do Reino de Deus entre os homens.
Tertuliano ratifica a oração como prática entre os cristãos:
Outra e maior necessidade compele-nos a orar pelos imperadores e, consequentemente, pelo Estado e pelos
interesses romanos. Sabemos que somente a continuidade do império adiará a revolução em marcha sobre o
mundo, a ruína das estrutura com seu espantoso séquito de pesares. Livre-nos Deus destas calamidades!
Assim, cada vez que oramos pela suspensão das ameaças , trabalhamos para a estabilidade de Roma... Nos
imperadores reverenciamos o próprio juízo de Deus que é quem os prepôs às nações... (Tertuliano,
Apologia, XXXII apud BETTENSON, 1983 p. 34).

O pensamento de Tertuliano não difere do pensamento do apóstolo Paulo, isto é, deve haver
harmonia entre a Igreja e o Estado. Assim como o apóstolo Paulo alegou que as autoridades foram
constituídas por Deus para a aplicação da Lei, vide Romanos 13.4 “...porque não é sem motivo que
ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.” Do mesmo
modo Tertuliano compreendia que as autoridades foram constituídas para efetuar o juízo e Deus
sobre os homens. Como citamos acima Calvino pensava da mesma maneira “em um ofício
santíssimo, visto que, de fato, a desempenham por delegação de Deus.” (INSTITUTAS, LIVRO IV,
CAP.XX)
Sendo assim, as Escrituras, Tertuliano e Calvino estão de comum acordo que as autoridades são
constituídas por Deus, e que os cristãos devem orar por elas. Observe que todo pensamento correto
deve está pautado nas santas Escrituras, todas as afirmações relacionadas à Igreja devem satisfação
à Palavra de Deus. Nas citações em que Tertuliano fora mencionado é visível a importância que ele
dá as referências bíblicas.

2.2 POLICARPO
Uma outra figura que muito contribuiu para o cristianismo foi Policarpo de Esmirna, nasceu
no primeiro século e supostamente foi discípulo de João, “Pç um dos três mais próximos de Jesus.
Tiago, Pedro e João sempre estavam presentes em eventos únicos com o Senhor Jesus Cristo, como
a ressurreição da filha de Jairo, bem como no monte da transfiguração. Em Gálatas 2.9 Paulo os
chama de as colunas da Igreja, “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as
colunas...” Policarpo recebera instrução direta de João, portanto era um bispo confiável.
No documento conhecido como O martírio de Policarpo, bispo de Esmirna, 155 Do Martytium
Polycarpi [Carta da Igreja de Esmirna; o primeiro martirológio] em um determina trecho conta qual
foi o pedido do bispo quando estava sendo levado ao destino que as autoridades haviam
determinado, ele se recusava a adorar e sacrificar aos deuses, bem como a prestar culto ao
Imperador.
...Não solicitou outra recompensa, senão uma hora para livremente orar, que lhe foi
concedida. Começou a orar, de pé, como um homem cheio da graça divina. Durante duas
horas, incontivelmente, perseverou orando em voz alta. Todos olhavam para ele
estupefatos; muitos lamentavam-se por aprisionarem ancião tão divino.
Terminada sua oração, na qual mencionara a todos, humildes e grandes, ricos e pobres,
familiares e amigos, toda a Igreja universal... ( Do Martyrium Polycarpi,VII, apud,
BETTENSON, 1983, p.37)

De acordo com Roger Olson (2001, p.50) este documento influenciou o culto aos mártires e não
tem relevância teológica. Entretanto, o que nos chama a atenção neste documento e possivelmente
escrito por uma testemunha ocular, é que Policarpo orou por pelo menos duas horas
incessantemente em voz alta. Não é de se estranhar que João tenha muitas vezes falado aos ouvidos
deste bispo o quanto Jesus orara no momento em que estava para ser entregue nas mãos dos
carrascos religiosos com sua comitiva militar. Policarpo não fizera diferente, rumo à morte, ele
preferiu orar ao Senhor e não se recusou em honrá-lo.
As mesmas palavras que o Senhor Jesus Cristo proferiu no Getsêmani, a saber, “todavia, não se
faça a minha vontade, mas a tua” Lucas 22.32. Compare com o relato do documento:
Assim levando consigo o jovem escravo, numa sexta-feira, na hora a ceia, policiais a pé e
outros montados empreenderam a marcha armados dos pés à cabeça como se fossem contra
ladrões. Entrada, já a noite, chegaram à casa onde se escondia Policarpo. Este, deitado num
quarto do andar superior, teria podido retirar-se para outra fazenda, mas não o quis,
declarando apenas: “Seja feita a vontade de Deus! ” Tendo ouvido à voz dos policiais,
desceu entrou em conversação com eles. Sua grande idade e calma causaram admiração:
não compreendiam que se fizesse tanto alarde para prender um homem tão velho ( Do
Martyrium Polycarpi,VII, apud, BETTENSON, 1983, p.37).

Policarpo entendera que a vontade de Deus estava conduzindo-o ao martírio. Somente Deus
pode produzir tamanha fé no coração do cristão para que ele não tenha medo, mesmo sabendo que
fogueira e espadas o esperam. Policarpo foi um dos pais apostólicos que fizera uso deste meio de
graça, da oração. Foi obediente à ordem do Senhor Jesus Cristo, pois não caiu em tentação, em
desespero, não foi tomado de pavor, mesmo diante do calafrio da morte.

2.3 AGOSTINHO DE HIPONA


Vejamos o que Agostinho de Hipona falou a respeito da Liberdade e graça e como destacou a
oração como um meio de graça, ou seja, se referiu a oração com uma ferramenta que o cristão pode
utilizar a fim de obter auxílio de Deus.
5. O livre arbítrio somente é útil para a realização das boas obras se recebe assistência de
Deus, que é concedida mediante oração e humildade no agir. Mas quem não tiver a
assistência de Deus, ainda que seu conhecimento da lei seja excelente, de maneira nenhuma
será sólido e firme na justiça, mas inchado de inchaço fatal de um irreverente orgulho. Isto
no-lo ensina a oração dominical, pois seria perfeitamente inútil a nós clamarmos a Deus
dizendo “não nos deixes cair em tentação” se o não cair estivesse em nosso poder, de modo
que pudéssemos, sem a ajuda divina, realizar tal petição... (Liberdade e graça, Ag. Ep.
CLVII (a Hilário) apud BETTENSON, 1983, p.93).

Agostinho reconhece a utilidade da oração e faz menção da oração modelo ensinada pelo
Senhor Jesus Cristo, vide Mateus 6.13. Ele afirma que o auxílio que recebemos de Deus é mediante
a oração, é fato que os cristãos oram a fim de receber assistência de Deus, seja uma orientação,
fortalecimento, paz, alegria, intercessão ou agradecendo. De alguma forma o cristão é assistido por
Deus quando pratica a oração. O trecho das Escrituras citado por Agostinho “não nos deixes cair em
tentação” é prova incontestável de que o cristão deve pedir a Deus que o mantenha de pé, isto é, que
não o deixe ser seduzido pelas tentações, uma vez que o homem é herdeiro do pecado, somente o
Santo Senhor pode livrá-lo de ser seduzido pelas tentações.
Súplica Quem me dera descansar em ti! Quem me dera que viesses a meu coração e que o
embriagasses, para que eu me esqueça de minhas maldades e me abrace contigo, meu único
bem! Que és para mim? Tem piedade de mim, para que eu possa falar. E que sou eu para ti,
para que me ordenes amar-te e, se não o fizer, irar-te contra mim, ameaçando-me com
terríveis castigos? Acaso é pequeno o castigo de não te amar? Ai de mim! Dize-me por tuas
misericórdias, meu Senhor e meu Deus, que és para mim? Dize a minha alma: Eu sou a tua
salvação. Que eu ouça e siga essa voz e te alcance. Não queiras esconder-me teu rosto.
Morra eu para que possa vê-lo para não morrer eternamente. Estreita é a casa de minha
alma para que venhas até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas; restaura-a. Há nela
nódoas que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém, quem haverá de purificá-
la? A quem clamarei senão a ti? Livra-me, Senhor, dos pecados ocultos, e perdoa a teu
servo os alheios! Creio, e por isso falo. Tu o sabes, Senhor. Acaso não confessei diante de ti
meus delitos contra mim, ó meu Deus? E não me perdoaste a impiedade de meu coração?
Não quero contender em juízos contigo, que és a verdade, e não quero enganar-me a mim
mesmo, para que não se engane a si mesma minha iniqüidade. Não quero contender em
juízos contigo, porque, se dás atenção às iniqüidades, Senhor, quem, Senhor, subsistirá?
(AGOSTINHO. CONFISSÕES, CAPÍTULO V)
Agostinho de Hipona escrevera uma obra em forma de oração, se humilhando diante do
Senhor e reconhecendo sua (Agostinho) pecaminosidade. Através da oração, o cristão expressa sua
humildade, dependência de Deus. É alguém que compreende que precisa do auxílio de Deus, e
justamente por amar as Escrituras aprecia a oração como um meio que Deus utiliza para abençoar
seu povo. É orando que o cristão clama por perdão de pecados, é na oração que o cristão reconhece
que através de Cristo é possível ter acesso direto ao trono de Deus. Orar é reconhecer a herança que
Adão deixou à humanidade, porém sem esquecer que através do segundo Adão (Jesus Cristo) a
humanidade possui uma nova herança, a saber, o Senhor Jesus Cristo. Os salvos do Antigo
Testamento esperavam o Cristo encarnado, os salvos do Novo Testamento conviveram com o Cristo
encarnado, e os posteriores o aguardam com grande alegria. Ver o que Agostinho escreveu acerca da
oração, como ela nos compeli a nos humilhar diante do Senhor:
8. Se alguém disser que os santos, orando a oração dominical “perdoa-nos nossas dívidas”,
não oram em seu próprio favor, pois lhes é desnecessária tal petição, mas a favor dos
pecadores do rebanho de Deus,... e por esta razão não dizem singularmente “perdoa-me
minhas dívidas”, mas no plural “perdoa-nos nossas dívidas”, - indício claro que não é para
si que oram, mas para os demais – seja anátema (MANSI, III.811 apud BETTENSON,
1983, p.95).

Embora o cristão profira – perdoa-nos nossas dívidas – ele está rogando não somente pelos
outros, mas principalmente por ele, está confessando que é um pecador, a não ser que rejeite o
pecado original, como fazia Pelágio.
Toda as coisas, boas e más, que nos tornam dignos de louvor ou de censura, são feitas por
nós e não nascidos conosco. Não temos nascido completamente desenvolvidos, mas
capacitados para o bem e para o mal; fomos tanto concebidos tanto sem virtude como sem
vício e, antes da atividade de nossa vontade pessoal, nada há em nós exceto aquilo que
Deus depositou em nós. (PELÁGIO e o pecado original Pro. Lib. Arbítrio, ap.
AGOSTINHO. De pecato originali, 14 apud BETTENSON, 1983, p.88)

Na citação acima, é visível que Pelágio concordaria com o influente filósofo do Iluminismo
Jean Jaques Rousseau, século XVIII. Este afirmava que o homem nascera bom, a sociedade que o
corrompe. Sem sombra de dúvidas Rousseau concordou com Pelágio, o que já era de se esperar,
pois Pelágio procurou centralizar o homem, com o iluminismo não foi diferente.
Lembremo-nos da oração do fariseu e do publicano parábola contada pelo Senhor Jesus
Cristo. Vide Lucas 18.9-14:
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem
justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com propósito de orar:
um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta
forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos
e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os
olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos
que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será
humilhado; mas o que se humilha será exaltado.

O publicano reconheceu sua natureza caída, humilhou-se diante de Deus, rogou por
misericórdia e foi justificado. Embora o fariseu fizesse o que as Escrituras aprovam, contudo, ele
estava pautado na sua santidade, não reconhecendo que as boas obras nos são auxiliadas por Deus,
ele esqueceu-se da herança que Adão lhe deixou, ou melhor, nos deixou.
Sendo assim, todas as afirmações que Agostinho fizera e que citamos acima tem fundamento
nos ensinamentos do Senhor. Quando oramos, seja por nós ou em favor dos outros, não devemos
esquecer que somos pecadores se dirigindo ao Criador, Santo e sublime Deus. Agostinho ratifica
“Se alguém disser que os santos dizem “Perdoa-nos nossa dívidas” puramente por humildade, não
expressando a verdade, seja anátema.”
A humildade precisa estar adornada de verdade, caso contrário o cristão estará cometendo um
grave delito diante de Deus, do qual é impossível seconder algo. O termo utilizado por Agostinho
àqueles que recitam a oração dominical apenas como uma ato de humildade, não crendo que é
pecador, é – seja amaldiçoado, condenado.
À quem acredite e defenda que não é mais necessário fazer orações, que esse tipo de atitude
transmite a ideia de ascetismo, geralmente alegam que o anseio pelas Escrituras é suficiente. No
entanto, é de esperar que aquele que anseia pelas escrituras obedeça as ordens nela contidas. Talvez
seja por isso que os eruditos do primeiro século e dos posteriores, tenham dado tanto importância à
oração.
Por que não citarmos o martírio do apóstolo Tiago? Que também orou por aqueles que lhe aos
poucos lhe tiravam a vida.
E começaram a apedrejá-lo, visto não ter morrido logo que caiu no chão, mas ele virando-
se ajoelhou-se dizendo: “Eu te rogo, ó Senhor Deus e Pai, que lhes perdoe, porque não
sabem o que fazem”.
Assim pois o estavam apedrejando, quando um dos sacerdotes dos filhos de Recabe, sendo
ele mesmo filho dos recabitas de quem o profeta Jeremias fala, gritou dizendo: “Mais o que
fazeis? O justo está orando por vós”. E então um deles que era lavandeiro bateu na cabeça
de Justo com o pau com que constumava bater roupa. Deste modo ele sofreu o martírio, e
enterraram-no perto do templo, do mesmo sítio onde a pedra do seu túmulo ainda hoje
existe (KNIGHT e ANGLIN, 1983, p.12,13).

De fato, a oração fora utilizada pelos cristãos quando se encontravam próximo de testemunhar
com a vida o nome do Senhor Jesus Cristo. Não é demais afirmar que ainda hoje, nos países que são
resistentes ao evangelho, cristãos que oram em momentos de perseguição e morte. Embora, a
oração deva ser praticada em todas as ocasiões.
O apóstolo Tiago era querido pelo povo, pois vivia de maneira simples e procurava velar pelos
desfavorecidos. Ver Kinight e Anglini, (1983, p.11) “Hegesipo, um escritor do II século, faz
algumas referências interessantes sobre o apóstolo Tiago, que acabou a sua carreira durante esse
período, e fornece um detalhado relatório do seu martírio, que podemos inserir aqui.” O historiador
relata como Tiago era um homem de oração.
Consta que o apóstolo tinha o nome de Oblias, que significava justiça e proteção, devido à
sua grande piedade e dedicação pelo povo. Também se refere aos seus costumes austeros,
que sem dúvida contribuíram para aumentar a sua fama entre o povo. Ele não bebia bebidas
alcoólicas de qualidade alguma, nem tampouco comia carne. Só ele licença de entrar no
santuário. Nunca vestiu roupa de lã, mas vestia-se somente de linho. Tinha o costume de
entrar no templo sozinho, e muitas vezes se encontrava de joelhos, intercedendo pelos
pecados do povo, a ponto de seus joelhos chegarem a ficar duros como os de um camelo,
em consequência das suas constantes orações a Deus (HEGESIPO apud KINIGHT e
ANGLINI, 1983, p.12,13).
O historiador Hegesipo que viveu no segundo século, registrou os atos de Tiago, é de se
imaginar que os cristãos sabiam de tudo isso, fosse por meio das obras ou através da tradição oral.
Sendo assim, é certo que homens com uma vida de oração como Tiago serviam de exemplo para os
demais.
Já mencionamos como as Escrituras e cristãos dos primeiros séculos ratificam a oração como
um meio de graça e uma ordem estabelecida pelo Senhor Jesus Cristo. Agora daremos um salto, a
fim de saber como os pré-reformadores compreendiam a oração.
3. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO NA PERSPECTIVA DOS PRÉ-REFORMADORES

3.1 TOMÁS DE ÀQUINO SE UTIIZA DO PENSAMENTO DE AGOSTINHO- EMBORA


NÃO SEJA UM PRÉ-REFORMADOR.
Não é salutar mencionar Tomás de Áquino como pré-reformador, uma vez que este foi
canonizado pela igreja católica, considerado como um dos maiores teólogos católicos de todos os
tempos. Entretanto, Áquino pendia ao monergismo, porém as autoridades católicas preferiram o
sinergismo. Áquino era a favor do monergismo proposto por Agostinho. De acordo com Roger
Olson (2001, p. 366) “ Mas está claro o firme posicionamento de Áquino ao lado de Agostinho em
favor do monergismo. Nenhuma vontade de Deus nasce da influência da atuação do ser humano ou
de outra criatura. A atuação das criaturas, como decidir orar e pedir algo a Deus, indiretamente, é
resultado do decreto eterno e da atuação de Deus. ”
Todas essas controvérsias preparam o cenário para a Reforma Protestante. Nem todos
concordavam como o posicionamento de Áquino quanto ao monergismo. Vide, Roger Olson (2001,
p.367) “Embora, Aquino tenha dominado o pensamento da igreja ocidental durante séculos depois
de sua morte, alguns teólogos católicos medievais desviaram-se de seu sistema teológico e
filosófico básicos e ajudaram a construir os alicerces para a Reforma.”

3.2 GUILHERME DE OCCAM E O CONCILIARISMO


Um outro nome que causou conflito entre os teólogos católicos foi Guilherme de Occam.
Segundo Roger Olson (2001, p.373) “Ajudou a inspirar e alimentar o conciliarismo, que pregava
que a igreja deveria ser governada por concílios e não por papas”. Ao fazer a distinção entre fé e
razão, Occam desconstruiu a teologia natural proposta por Áquino, e alegou que é impossível
chegar ao conhecimento de Deus através a filosofia, Olson (2001).
O que o pensamento de Áquino e Ocann tem haver com oração? O que eles tem haver com os
pré-reformadores? Acima foi citado que Áquino concordava com o monergismo proposto por
Agostinho. Com isso podemos concluir que para Áquino o desejo de orar é produzido por Deus no
coração do cristão. Quanto a Ocann que procurou descentralizar o poder da pessoa do papa, sugeriu
o conciliarismo, isto é, que a igreja deveria ser governada por concílios e não somente pelo vigário
de Deus (papa). O pensamento de Ocann abre espaço para a relação entre cristão e Deus, ou seja,
que a autoridade maior não é o papa, que em hipótese alguma ele deve ser considerado como o
único que fala em nome e com Deus.

3.3 OS GENUÍNOS PRÉ-REFORMADORES


JOÃO WYCLIFFE
Todas essas afirmações serviram de base para os nomes de maior influência antes da Reforma
Protestante, a saber, João Wycliffe e, John Huss que se inspirou nas obras de Wycliffe. Este,
divergia e Ocamm nas abordagens básicas da filosofia e teologia, Wycliff era realista, porém
concordava com Ocamm que a igreja deveria ser governada pelo seu povo e não pela estrutura
clerical, Olson (2001).
Vide, Olson (2001, P.382) “Wiccliff defendia a autoridade suprema das Escrituras para tudo que
tem relação com a vida e a fé.” Dessarte, é de se esperar que ele fosse um homem de oração.
Primeiro, porque dava o valor e a honra que as santas Escrituras merecem; Segundo, o cenário em
que ele se encontrava exigia que o cristão tivesse uma vida de oração, pois ele estava contestando
um dos maiores poderes centralizados jamais visto na história da humanidade, a saber, a cúria
papal. E por fim, traduziu a bíblia para o inglês, é improvável que alguém com um caráter como de
Wyclliff, apegado pelas Escrituras, não orasse a Deus pedindo graça para que tal obra fosse
concluída e aceita.
Quando houve o cisma na igreja católica por volta do século XIV, Wycliff se pronunciou a
respeito da providência de Deus; a maneira como ele se expressou denúncia que era um homem de
oração, ou que confiava que seus pedidos haviam sido atendidos por Deus.
Como era de esperar, este notável cisma ainda mais excitou o zelo de Wycliff contra o
papismo, e deu-lhe novos motivos para o atarcar. “Confiemos na ajuda de Cristo”,
exclamou ele, “porque ele já começou a ajudar-nos pela sua graça, fendendo a cabeça do
Anticristo em duas, e fazendo com que as duas partes comecem a guerrear uma contra a
outra”. Ele já tinha declarado que o papa, o soberbo padre mundano de Roma, era o
Anticristo, e o mais maldito dos exploradores da bolsa alheia, e agora Wycliff não teve
escrúpulos em afirmar que tinha chegado o momento oportuno para extinguir o mal
inteiramente. (KNIGHT e ANGLIN, 1983, p.183,184).

A maneira como Wycliffe exclama “Confiemos na ajuda de Cristo”, parece ser de alguém de
que de fato conhece o Senhor, a certeza com que pronunciou. Ele não temia fazer acusações ao
papa, e em chamá-lo de Anticristo, é óbvio que essas acusações eram merecidas, pois Wycliffe não
era conivente com as más obras do clero, isso explica porque ele foi excomungado mesmo depois
de morto. Vide, Roger Olson (2001, p.380) “...foi condenado como herege e oficialmente
excomungado pelo Concílio de Constança em 1415...” Depois de morto foi considerado herege e foi
excomungado, morreu no ano de 1384. Olson continua “Os restos mortais de Wycliffe foram
exumados, queimados e jogados no rio Swift pelo bispo de Lincoln em 1428.”
Nesse momento haviam dois papas, a saber, Urbano VI e Roberto conde de Genebra que
estabeleceu sua residência em Avignon, vide Knight e Anglin (1983). A coragem de Wycliffe de
enfrentar essas autoridades só pode ter sido proveniente de Deus, pois foi este que levantou outras
autoridades para o apoiar, dentre eles, a família real. Quando foi convidado a comparecer diante dos
bispos para se defender das suas afirmações contrarias a doutrina católica, foi a rainha-mãe quem o
defendeu firmemente, ver Olson (1983, p.380). Combateu a autoridade papal e seus abusos, bem
como a doutrina da transubstanciação.

3.4 JOHN HUSS


Tendo como pressuposto os ensinamentos de Wycliffe, John Huss se posiciona na Boêmia,
especificamente na cidade de Praga, e iniciou um movimento pré-protestante. Este contestava os
abusos do clero, isso lhe custou a vida, sendo queimado vivo na fogueira, sentença esta pelo
Concílio de Constança no dia 06 de julho de 1415. Diante das injúrias e acusações, Huss não
esmoreceu, mas bradou: “Eis aqui, bendito Salvador, como o concílio condena como erro o que Tu
tens prescrito e feito, quando, dominado pelos inimigos, entregaste a tua causa a Deus teu Pai,
mostrando-nos por este meio que quando estamos oprimidos podemos recorrer à justiça de Deus”
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.195).
As orações feitas por Huss foram constantes antes de sua morte, e porque não dizer que o
período em que ficou preso na masmorra, onde adoeceu, ele fazia orações ao Senhor, clamando por
justiça e força diante de seus acusadores. Tendo sido chamado de Judas, e humilhado diante dos
prelados, estes diziam: “Maldito Judas, que, tendo abandonado o conselho da paz, entraste no dos
judeus, arrancamos-te das mãos este santo cálix onde está o sangue de Cristo” (KINIGHT e
ANGLIN, 1983, p.195). Huss disse “pelo contrário” e continuou “confio pela graça de Deus ainda
hoje hei de beber dele no seu reino”. Os bispos pronunciaram ofensas a Huss, a saber, que estava
entregando sua alma aos demônios, mas ele mais uma vez retrucou em forma de oração “E eu
entrego o meu espírito nas tuas mãos, ó Senhor Jesus Cristo; a ti entrego a alma que tu salvaste!”
Enquanto o amarravam ele continuou orando ao Senhor, ver Kinight e Alnglin (1983, p.196)
“Senhor Jesus, eu sofro humildemente esta morte cruel por amor de ti, e rogo-te, Senhor, que
perdoe aos meus inimigos”. Ainda insistiram com ele, porém ele continuava orando enquanto as
chamas de fogo aumentavam a queimar o seu corpo, sufocado com a fumaça o sufocava”
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.196)
Os pré-reformadores de fato fizeram uso deste meio de graça, orando nos momentos mais
difíceis, perto ou longe da morte entendiam que o Senhor é soberano. Compreendiam que seus
ouvidos estão sempre atentos a ouvir seus servos, e assim concede-lhes coragem nas situações mais
deprimentes que enfrentam. Sendo eles homens que amavam as santas Escrituras, abraçavam a
ordem dada pelo Senhor Jesus Cristo. A fala de João Huss dirigida ao Senhor Jesus Cristo é prova
de que ele amava a palavra de Deus, ele lembrou do momento de aflição que Cristo passara diante
de seus acusadores, porém recorrera ao Pai, acreditando que sua justiça – do Pai – prevalece sobre
todos.
Ainda que a cúria papal junto com ele queimasse os homens de Deus, ameaçassem,
excomungassem e os fizessem prisioneiros, Deus em sua soberania não deixava de levantar outros
tementes a ele (Deus) e zelosos para com as Escrituras.

3.5 JERÔNIMO DE PRAGA


Após a morte de Huss, seu amigo de trabalho Jerônimo de Praga. Este diante das torturas, se
retratou, porém não durou muito tempo, e, Jerônimo foi fortalecido por Deus (KINIGHT e
ANGLIN, 1983, p.196).
Jerônimo se recusou a se retratar novamente, e sustentou as doutrinas propostas por Wycliffe e
Huss, assim foi condenado à morte, contudo, Deus o fez corajoso e com palavras que expressam
uma fé genuína confundiu seus acusadores “Vós tendes resolvido condenar-me injustamente”
prosseguiu “mas depois da minha morte ficar-vos-á um remorso na consciência que nunca há de
acabar. Apelo para o soberano juiz de toda terra, em cuja presença haveis de comparecer para
responderdes por este crime” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.197). Como Jerônimo apelaria a
Deus? Por meio da oração, inferir tal conclusão é razoável.
A intimidade que Jerônimo possuía com Deus é externada através de seu comportamento
defronte de seus acusadores e inimigos. Aquele que outrora se retratara, agora com avidez caminha
rumo a sua punição, morte, com alegria e satisfação, considerando-se não mais que os que o
antecederam.
Uma tal linguagem era mais que suficiente para promover a sua pronta condenação, mas ele
tinha agora perdido todo o medo da morte. Quando aquele momento penoso chegou, a sua
fisionomia radiante mostrou a sua boa vontade de sofrer; e dirigiu-se para o lugar do
martírio cantando hinos de alegria. Nisto pareceu-se com o amigo que o tinha precedido, e
esta semelhança não passou despercebida a um historiador católico-romano que depois foi
papa com o nome de Pio II: “Eles caminhavam para o suplício”, disse esse escritor, “como
se fossem para um banquete. Não proferiram uma única palavra que desse a perceber o
mais pequeno temor. Cantavam hinos nas chamas, sem cessar, até o último suspiro”.
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.197,198).

3.6 JERÔNIMO SAVONAROLA


Há ainda outros a serem mencionados como o Italiano Jerônimo Savonarola. “Ainda muito
novo, julgou ter recebido visões celestiais; isso levou-o a entrar no convento de Bolônia, onde seus
jejuns e penitências atraíra a atenção de seus superiores” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.201). O
que ele fez foi denuncia a imoralidade e abuso do clero, embora o papa tenha tentado suborna-lo
com a posição de cardeal, ele rejeitou. Sendo um homem que praticava penitências, certamente as
orações faziam parte de sua vida. O seu fim foi numa prisão e depois queimado.
Por fim foi apanhado e metido na prisão. Ali aproveitou o seu tempo a meditar e orar, e
escreveu uma meditação espiritual sobre o salmo 31, na qual descrevia as lutas íntimas do
homem convertido. Depois de ser cruelmente torturado, por ordem da Inquisição, foi
assinada a ordem da sua condenação por esse mesmo papa que queria fazê-lo cardeal, e foi
finalmente queimado no ano 1499 . (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p. 201).

3.7 JOÃO WESSELUS E JOÃO DE WESSÁLIA


Lutero se referiu ao admirável João Wesselus, amigo de João de Wessália que morreu na prisão
por não concordar com as doutrinas católica, era homem piedoso. Wesselus nasceu em Groningen,
Holanda em 1949. Este não buscava as cátedras, embora fosse o maior teólogo de sua época,
renunciou qualquer posição clerical, mesmo quando seu amigo Rovere fora elevado ao trono papal,
perguntou-lhe se desejava alguma coisa, o pedido de Wessel foi uma bíblia em grego e outra em
hebraico. (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.202, 203). Wessel buscava testemunhar de Cristo como os
apóstolos; os apóstolos eram homens de oração, é lógico que sim.
Tal era o espírito do homem que tinha de levar avante o testemunho de Deus, testemunho
que temos traçado desde a era dos apóstolos. Parece que não sofreu muita perseguição
durante a sua vida, apesar de todo teor do seu ensino ser contrário ao procedimento e às
máximas de Roma. Lutero no século seguinte, manifestou a sua surpresa de que os escrito
de Wessel fossem tão pouco conhecidos, e falou dele como sendo um homem de admirável
inteligência e espírito invulgar, evidentemente ensinado por Deus. “Se eu tivesse lido as
suas obras há mais tempo”, disse Lutero, os nossos inimigos poderiam supor que eu tinha
aprendido tudo com Wesseleus, tal é a perfeita coincidência nas nossas opiniões...
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.202,203).

Os cânticos proferidos por esses homens eram adornados de confiança no Senhor, que produzia
tamanha coragem e tirava-lhes o medo da morte, bem como das torturas e injúrias. A oração e o
louvor sempre estiveram presentes na vida dos homens de Deus. Os salmos demonstram isso,
cantavam após as vitórias, cantavam quando estavam angustiados; oravam quando queriam alcançar
algo e oravam quando recebiam algo do Senhor. Os pré-reformadores seguiram o exemplo dos
homens que as Escrituras mencionam, não foi diferente com os reformadores, a estes nos deteremos
no próximo tópico.
4. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA ÓTICA DOS REFORMADORES

4.1 MARTINHO LUTERO


Já falamos o quanto os pré-reformadores amavam às santas Escrituras. Os reformadores
tiveram acesso as obras daqueles, e o apreço pelas Escrituras não foi deferente. Martinho Lutero
combateu veementemente a salvação pelas obras, frisou que a salvação é por meio da fé e não das
obras. Contestou a venda de indulgências que era uma fonte de lucro à Igreja Católica. “A venda de
indulgências era necessariamente um grande incentivo ao pecado, e, na verdade, os ignorantes nada
podiam ver nesta doutrina senão uma licença absoluta para praticarem o mal, enquanto que os
padres, que aproveitaram cada vez mais tais ideias erradas, não tinham pressa em esclarecer o
povo.” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.206)
A situação dos fiéis era degradante, haviam sido orientados não à luz das Escrituras. De acordo
com Kinight e Anglin (1983) “Tal era a condição da igreja no começo do século dezesseis: tão
corrupta nas suas ações que era impossível continuassem as coisas assim por muito tempo como
estavam.” (p. 206).
Após ser excomungado, Lutero foi intimado a comparecer em Worms. Nessa ocasião iriam
felicitar o jovem Carlos V por sua subida ao trono. O rei já havia combinado que ali acabariam de
uma vez por todas com o herege, Lutero. Quando chegou à sala do concílio, diante das acusações e
questionamentos, Lutero tendo recebido mais um tempo para se retratar, dedicou maior parte de seu
tempo à oração.
Aquele espaço de tempo, exceto uns poucos momentos dedicados aos seus amigos, foi
empregado por Lutero em fervente oração a Deus, e assim animado apresentou-se pela
segunda vez perante o tribunal dos homens, mas esta vez forte e ousado; e quando o
chanceler lhe fez de novo a pergunta ele respondeu-lhe com tanta facilidade que arrancou
exclamações de admiração dos seus amigos, e confundiu seus inimigos. As suas censuras a
todo o sistema do papismo foram fortes e incontestáveis. (KINIGHT e ANGLIN, 1983,
p.218)

É perceptível que após um período de oração, Lutero fora fortalecido pelo Senhor. Confiou em
Deus, que o livrou de todos os que buscavam sua morte. A oração de fato servia como um meio de
graça, ou seja, os homens recebiam o que não mereciam. Através da oração Deus abençoou e
abençoa seu povo, embora Lutero fosse o homem das letras, tanto é que traduziu a Bíblia para o
alemão, ele era um também um homem de oração. Como já falamos anteriormente, o homem que
ama e obedece a palavra de Deus, certamente não desprezará a oração, pois as Escrituras ordenam
aos cristão que orem. “Segundo Lutero, se Deus deve ser conhecido de alguma maneira, ele mesmo
precisa se revelar. Portanto, a base de todo conhecimento genuíno a respeito de Deus só pode ser a
autorrevelação mediante sua Palavra e seu Espírito.” (OLSON, 2001, p. 409).
Lutero não se restringia em demonstra seu apreço pelas Escrituras , embora alguns o considere
contraditório em suas afirmações.
A abordagem de Lutero à Bíblia era um pouco ambígua e até paradoxal. Alguns críticos
diriam que é um exemplar perfeito de sua tendência à inconsistência ou mesmo à
contradição total. De um lado, contra a equiparação das autoridades da tradição e das
Escrituras feitas pelos católicos, ele colocou a Bíblia em um plano mais alto e insistiu que
nenhuma pessoa ou igreja tinha o direito de julgar as Escrituras. Em algumas ocasiões em
seus escritos, ele de fato equiparou a Bíblia com a Palavra de Deus e condenou todas as
críticas que lhe foram feitas e sua subordinação à autoridade da igreja. Referiu-se à Bíblia
como “a rainha” e declarou: “essa rainha deve reinar e todos devem obedecer-lhe e se
subordinar a ela. O papa, Lutero, Agostinho, Paulo, e mesmo os anjos do céu não devem ser
senhores, juízes ou árbitros, mas apenas testemunhas, discípulos e confessores das
Escrituras”. De outro lado, Lutero também foi capaz de declarar de modo bastante
inequívoco que nem tudo nas Escrituras tem igual valor e, sem cerimônia, depreciou alguns
livros da Bíblia afirmando que tinham pouco ou nenhum valor para a alma. (OLSON, 2001,
p.411).

Fica explícito na fala de Lutero que sua crítica estava embasada no mal uso que o papa e seus
clérigos faziam das Escrituras, utilizavam alguns livros para apoiar sua ganância e domínio sobre os
demais. Embora ele tenha se referido a Epístola de Tiago como não tendo nenhum valor, foi
categórico em dizer o porquê: “... a respeito da qual Lutero escreveu: ‘Fora com Tiago. [...] Ele não
tem autoridade suficiente para me fazer abandonar a doutrina da fé e desviar a autoridade dos
demais apóstolos e da Bíblia inteira’. (OLSON, 2001, p. 411)”.
Assim Lutero crente na Soberania de Deus, não se desvirtuou dela, isto é, acabou por
considerar a Epístola de Tiago, pois ela permaneceu no cânon. O contexto em que ele se encontrava
exigia tal posição. Deus na sua soberania, dirigiu o reformador e hoje temos a perfeita interpretação
da Epístola de Tiago, que contradiz as afirmativas da qual o papa e os clérigos faziam uso, ou seja,
as obras não expressam nossa fé, e sim a fé verdadeira que expressam nossas obras. Sendo assim, as
obras apenas são evidências da fé viva que Cristo gera no coração do cristão.
O fato é que Lutero foi um homem que amou as Escrituras e que buscava mostrar aos homens
seu verdadeiro significado. Lutero foi um homem que fez uso da oração, como citamos acima,
quando esteve diante do imperador Carlo V na corte imperial, na cidade de Worms. Teve o apoio do
princípe Frederico, o Sábio da Saxônia, com certeza essa providência foi de Deus, caso contrário,
Lutero seria mais um defunto herege condenado pela igreja católica. Os momentos que ele dedicara
a oração contribuiu muito para a continuação da reforma. Que bem sabemos, tratou-se de uma
magnífica de Deus.
4.2 ÚLRICO ZWINGLIO
Falaremos agora de Úlrico Zwinglio que atribuiu às Escrituras a honra devida, sem titubear na
autoridade total da Bíblia, sem fazer distinção do que é e do que não é importante, porém
considerou relevante tudo que está registrado nas santas Escrituras, não fez distinção entre o livro e
a Palavra de Deus como fizera Lutero.
Zwinglio, por outro lado, praticamente identificava a Bíblia inteira como Palavra de Deus.
Com Zwinglio e com a teologia reformada, a Bíblia assumiu condição privilegiada que
Lutero não lhe atribuía. Lutero fazia clara distinção entre o livro e a Palavra de Deus
dirigida a nós. Zwinglio não reconhecia nenhum cânon dentro do cânon e se recusava a
colocar uma parte das Escrituras acima de qualquer outra. Da mesma forma que Lutero, no
entanto, Zwinglio enfatizava que o poder e a clareza das Escrituras provêm do Espírito
Santo. (OLSON, 2001, p.427).

O texto acima mostra o quanto Zwinglio apreciava as Escrituras, o zelo que ele atribuía a
Palavra de Deus é suficiente para inferir que ele não abria mão da ordem contida nas Escrituras, a
saber, a ordem de o cristão ter uma vida de oração. Como estudioso da Palavra de Deus, Zwinglio
certamente se debruçava nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo. “Orai para que não entreis em
tentação” certamente não foi desprezado por Zwinglio que considerava a Bíblia como a Palavra de
Deus, digna de honra e respeito.
Ele desenvolveu um ministério profícuo para o avanço da Reforma. De acordo com Olson
(1983, p.426) “A veneração aos santos e a Maria foi proibida, da mesma forma que as indulgências,
as orações pelos mortos (Zwinglio negava o purgatório) e muitas outras práticas católicas
tradicionais.”
Fazer orações a Deus além de estar fundamentada nas Escrituras, também faz parte da tradição
da Igreja, contudo, para Zwinglio a tradição deve satisfação às Escrituras. Se porventura a tradição
não tiver em harmonia com as Escrituras, deve ser banida do meio do povo de Deus, pois a Palavra
de Deus está acima de qualquer tradição e por ela a tradição deve ser julgada. Olson (2001)“...a
Bíblia é a autoridade final para a fé e a prática cristãs e que se encontra em posição totalmente
superior a todas as tradições humanas, que por ela devem ser julgadas.” (p.427).
Zwinglio se tornou um pastor, e fez questão em abolir todas as tradições que eram contrarias à
Palavra de Deus. Prosseguiu com o batismo de crianças, mas fundamentou uma teologia coerente à
Palavra de Deus, vide Olson (2001, p.432)
Zwinglio equiparava o batismo à circuncisão na antiga aliança entre Deus e Israel”. E ainda “É a
cerimônia da iniciação do povo de Deus segundo a nova aliança. Na teologia reformada de
Zwinglio, pressupõe-se que as crianças que nascem de pais cristãos simplesmente já estão “na
aliança” com Deus como parte do seu povo eleito, a igreja. A eleição feita por Deus antecede a fé; a
fé é um dom outorgado por Deus aos eleitos. O batismo é simplesmente o sinal e o selo - como a
circuncisão - da eleição e da inclusão.
Daí se percebe o valor das Escrituras na visão de Zwinglio. Os anabatistas não concordavam
com o batismo de crianças, se batizavam novamente quando adultos, pois consideram nulo o
batismo que uma vez haviam recebido. Zwinglio externou seu zelo pelas Sagradas Letras, não se
tratava de agradar ou não aos homens, e sim, de fidelidade para com a Palavra de Deus. Isto, ratifica
que ele jamais lançaria fora a ordem expressa por Cristo “orai para que não entreis em tentação”; e
jamais depreciaria as parábolas contadas por Cristo a fim de estimular os discípulo a terem uma
vida de oração, vide Mateus 7.7-12:
Pedi, e dar-se-vos-à; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-à. Por isso todo o que pede
recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-à. Ou qual dentre vós é o homem
que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará
uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabei dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Tudo quanto, pois,
quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os
Profetas.

Todos os três verbos estão no imperativo, a saber: pedi; buscai, batei. Isto significa uma ordem,
um incentivo à oração. Observemos outro ensinamento do Senhor aos discípulos para que orassem
sem desanimar, Lucas 18.1-8:
Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer: Havia em
certa cidade um juiz não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Havia também,
naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa
contra o meu adversário. Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse
consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum; todavia, como esta
viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-
me. Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defende-los?
Digo-vos que, depressa, lhe fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará,
porventura, fé na terra?

Sendo Zwinglio um homem que apreciava as Escrituras como um todo, certamente ele não
desprezaria um texto como este, como estudioso e pregador do evangelho, não se pode descartar a
possibilidade que ele compreendesse a oração como uma ordem do Senhor Jesus Cristo. “Quando
ele pregava na catedral, reuniam-se milhares de pessoas para ouvir;” (KINIGHT e ANGLIN, 1983,
p. 223).
É possível imaginar Zwinglio com uma linguagem acessível expondo as Escrituras aos seus
ouvintes, de maneira que eles pudessem compreender e fazer do que ouviam um estilo de vida, ou
seja, aplicassem no seu dia-a-dia. Embora, eles não estivessem acostumados com esse estilo de
pregação, foram receptivos com a mensagem de Zwinglio. Ele buscava se concentrar precisamente
nas Escrituras, buscava pregar o que de fato edificava seus ouvintes, isto de acordo com o momento
que eles estava enfrentando, e Zurique estava precisando de uma mensagem a fim de mudar a
situação que estavam enfrentando, todos confusos, no entanto as Escrituras lhes abriram o
entendimento.
A sua linguagem era nova para os seus ouvintes, e expunha-a numa linguagem que todos
podiam compreender. Diz-se que a energia e novidade do seu estilo produziu impressões
indescritíveis, e muitos foram os que obtiveram bênçãos eternas por meio do Evangelho
puro e claro, enquanto que todos admiraram-se do que ouviram. Era a sua fé no poder da
Palavra de Deus para converter as almas sem explicações humanas. Não quis restringir-se
aos textos destinados às diferentes festividades do ano, que limitavam, sem necessidade, o
conhecimento do povo com respeito ao livro sagrado e declarou que era sua intenção
começar no evangelho de S. Mateus e segui-lo capítulo por capítulo, sem o comentário dos
homens. (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p. 223).

É plausível pensar que quando Zwinglío fora expor o evangelho de S. Lucas no capítulo 18,
tenha pregado o que exatamente consta no texto. Sendo ele um estudioso, expos os temas principais
apresentados pelo texto, a saber: Justiça e fé. Os termos neste texto levam a um caminho, isto é, a
orar sem desanimar acreditando sempre na bondade, justiça e cuidado de Deus. Zwinglio não
poupava palavras com o objetivo de denunciar as injustiças que o povo de Zurique sofria nas mãos
daqueles que faziam mau uso da Palavra de Deus. “No Púlpito, diz Myconius, não poupava
ninguém. Nem papa, nem prelados, nem reis, nem duques, nem príncipes, nem senhores, nem
pessoa alguma. Nunca tinham ouvido um homem falar com tanta autoridade. Toda a força e todo o
deleite de seus coração estava em Deus e em conformidade com isso exortava a cidade de Zurique a
confiar somente nele”. (KINIGHT e ALGLIN, 1983, p.223).
Ainda que os ouvintes considerassem nova a maneira como Zwinglio pregava, ele argumentava
com muita habilidade. “Não é maneira nova, respondia Zwinglio, como modos corteses e brandos,
pelo contrário é antiga. Recordem-se dos sermões de Crisóstomo sobre S, Mateus, e de Agostinho
sobre S. João.” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.233). A exposição das Escrituras feita por este
pregador, demonstra o quanto ele acredita em sua eficácia, tanto é que em alguns momentos ele se
quer considerava os comentários dos homens, embora abraçasse a filosofia. De acordo com Olson
(2001, p. 428):
Zwinglio acreditava que toda a verdade é verdade de Deus e que, contato que os filóSOfos
gregos pensassem e falassem verdades que favorecessem a teologia cristã, deviam ser
altamente respeitados e estimados. Sem dúvida, esse era um vestígio do seu período
erasmiano de pensamento. No livro Da providência, Zwinglio começa com a teologia
natural para explicar a existência e a natureza de Deus como determinante de toda a
realidade que governa de modo soberano a natureza e a história.

Há aqueles que acusam os reformadores de fundamentalistas, uma falácia de quem realmente


não conhece a história dos reformadores, tudo que eles tinham era o apreço devido pela Palavra de
Deus. Os argumentos de Zwinglio chegavam a desarmar e convencer os seus adversários. (OLSON,
2001). Dessarte, Zwinglio amava as Escrituras e buscava transmiti-las com clareza, sendo assim a
oração era apreciada por Zwinglio. Essa é uma marca indelével dos reformadores, prova
incontestável disso é que, embora séculos tenham se passado, os reformados continuam a zelar e
priorizar a Palavra de Deus. Nos concentraremos no próximo tópico na pessoa de Calvino, o gênio
sistematizador da teologia reformada, mas antes discorreremos um pouquinho sobre Guilherme
Farel.

4.3GUILHERME FAREL
Como falar de João Calvino e não mencionar Guilherme Farel. Este, foi um líder protestante
que convenceu Calvino de permanecer em Genebra. De acordo com T. H. L. Parker (1975, p.50
apud Olson, 2001, p.436), Calvino lembrou deste momento:
Depois de saber que eu queria, de todo coração, dedicar-me aos estudos particulares, motivo pelo
qual pretendia me manter livre de outras atividades, e vendo que as súplicas não dariam em nada,
[Farel] começou a proferir imprecação de que Deus amaldiçoaria a reclusão e tranquilidade de meus
estudos, se eu me recusasse a ajudar quando a necessidade era tão urgente. Fiquei tão aterrorizado
com essa imprecação, que desisti de viagem que havia empreendido.
Farel fora o instrumento utilizado por Deus para que Genebra evoluísse e se desprendesse na
pessoa de Calvino do julgo de Roma. Farel foi perseguido pelo zelo que atribuía às Escrituras, “Em
Genebra onde tinha ido duas vezes, seu trabalho foi cheio de dificuldades e perigos, e tanto monges
como padres fizeram várias tentativas para assassiná-lo.” (NIGHIT e ANGLIN, 1983, p. 252)
Esse pregador perseguido lutou de forma incansável para que a reforma continuasse, trabalhou
em muitos lugares da Suíça francesa, a saber, “Em Basiléia, Montbeliard, Agle, Vallengin, St. Blaise
e Neuchatel” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.252). Era um homem de fé fervorosa, que não temia
as ameaças, fortalecido pelo desejo de ver a igreja do Senhor centralizadas nas Escrituras. Segundo
Kinight e Anglin “... e tal foi o poder da sua pregação nessa última localidade, que o povo declarou
que queria viver na fé protestante...” (1983, p.252).
O que a vida de Farel tem haver com a oração? Com a ordem do Senhor Jesus Cristo à sua
Igreja? A vida de Farel externa piedade e apreço pela Palavra de Deus, doando-se e não temendo a
morte, como é comum na história dos reformadores, “Por muitas vezes foi apedrejado e espancado;
esteve quase para ser afogado no Reno em duas ocasiões, e uma vez foi milagrosamente salvo de
morte mais penosa causada por veneno. Mas a benção do Senhor estava sobre os seus trabalhos...”
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.252). Como alguém dedicado às Sagradas Letras, Farel, bem como
os demais soldados da reforma, faziam uso da oração como um meio de graça que não somente os
sustentava, como também fazia com que sua empreitada continuasse.
Deus prosperou o trabalho desse reformador, que preparava o terreno para que Calvino
acentuasse ainda mais a teologia reformada. “...e em breve a missa foi oficialmente suspensa por
um decreto do Concílio dos Duzentos, e apareceu um edito ordenando que os serviços de Deus
haviam de ser dali por diante feitos conforme os estudos do Evangelho; e que todos os atos de
idolatria papal haviam de cessar completamente.” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p. 252).
A influência que Guilherme Farel causou por onde passou foi um marco inesquecível na
história da Igreja protestante, pois por mais austero que ele tenha sido com Calvino, sua atitude é
digna de ser atribuída a uma consequência da vontade divina. Todas as prática das tradição católica
foram veementemente descartadas, entenderam à luz das Escrituras através das mensagens de
Farele que a Palavra de Deus condena tais práticas. Todo homem que ama as Escrituras, não
desfavorecerá a oração como uma ferramenta poderosa na vida de um cristão.

4.4 JOÃO CALVINO


João Calvino, o gênio sistematizador da teologia reformada, o jovem tímido com um capital
intelectual capaz de sacudir toda a Europa e ainda o mundo atual. Precisou ouvir as palavras
austeras e ascéticas do líder protestante Guilherme Farel “Que Deus amaldiçoe o seu descanso e o
seus estudos se por amor deles fugir da obra que Ele tem para lhe dar a fazer!” (KINIGHT e
ANGLIN, 1983, p.253). Porém, antes disso ele já havia publicado sua obra magna, Institutas, que
mais tarde daria continuidade.
De todos os pré-reformadores e reformadores que citamos até agora, quem mais se sobrepôs a
escrever sobre o valor da oração foi Calvino:
Pois, se nos apraz aquiescer ao simples ensino da Escritura, não haverá perigo de que
alguém nos ludibrie com mentiras desse gênero. Pois ali se prescreve uma forma de
confissão, a saber, uma vez que o Senhor é Aquele que perdoa, esquece, apaga os pecados,
que a ele confessemos nossos pecados no propósito de obter seu perdão. Ele é o médico:
então, apresentemos-lhe nossas feridas. Ele foi ultrajado e vilipendiado: dele, pois,
roguemos paz. Ele é o que esquadrinha os corações e está consciente de todos os
pensamentos: apressemo-nos a derramar nosso coração diante dele. Ele é, enfim, Aquele
que chama a si os pecadores: não nos demoremos a achegar-nos a ele. “Meu pecado”, diz
Davi, “te fiz conhecido, e minha injustiça não a escondi de ti. Eu disse: Contra mim
confessarei minha injustiça ao Senhor e tu remitiste a iniqüidade de meu coração” [Sl 32.5].
Tal é outra confissão do próprio Davi: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo tua grande
misericórdia” [Sl 51.1]. (CALVINO, AS ISNTITUTAS, LIVRO III, CAP. IV)

Ele enfatiza o efeito causado pela oração na vida do cristão. Contestava a maneira como o papa,
e os líderes católicos entendiam a confissão, isto é, valorizavam mais a pessoa de quem estava
ouvindo a confissão do que a própria confissão. Calvino cita vários textos da Palavra de Deus, a fim
de fundamentar suas colocações.

Tal é também a confissão de Daniel: “Temos pecado, Senhor, temos agido perversamente,
temos praticado impiedades e temos sido rebeldes, desviando-nos de teus preceitos” [Dn
9.5]. E outras que ocorrem por toda parte nas Escrituras, cuja enumeração quase encheria
um volume. “Se confessarmos nossos pecados”, diz João, “fiel é o Senhor para que nos
perdoe nossos pecados” [1Jo 1.9]. Confessamo-nos a quem? Evidentemente a ele
próprio, isto é, se de coração aflito e abatido, diante dele nos prostrarmos, se nos
acusarmos e nos condenarmos sinceramente perante ele, roguemos para que sejamos
absolvidos por sua bondade e misericórdia. (CALVINO, AS ISNTITUTAS, LIVRO III,
CAP. IV)

Em sua obra magna, Institutas, ele se dedicou a priorizar todos seus argumentos à luz da
Palavra de Deus. Via a oração como um meio de graça, um meio pelo qual Deus abençoava seu
povo perdoando-lhe os pecados, absolvendo-o da culpa.
E outras que ocorrem por toda parte nas Escrituras, cuja enumeração quase encheria um
volume. “Se confessarmos nossos pecados”, diz João, “fiel é o Senhor para que nos perdoe
nossos pecados” [1Jo 1.9]. Confessamo-nos a quem? Evidentemente a ele próprio, isto é, se
de coração aflito e abatido, diante dele nos prostrarmos, se nos acusarmos e nos
condenarmos sinceramente perante ele, roguemos para que sejamos absolvidos por sua
bondade e misericórdia. (CALVINO, AS ISNTITUTAS, LIVRO III, CAP. IV)

Calvino como todos os outros reformadores externanvam apreciação pela Palavra de Deus, e a
oração jamais seria uma prática não observada por eles. A oração não é um meio em que fazemos
Deus mudar de ideia, em que dizemos a ele o que deve fazer, Deus não precisa de orientações
humanas. A oração é um meio de o humano se humilhar diante de Deus, é um ato de hulilhaçao e
dependência, se a oração for desprovida de humilhação e dependência é perca de tempo e tolice. A
oração não é uma mágica, Calvino ratifica:
Não devemos pensar que a linguagem foi supérflua quando Ele repetiu as mesmas palavras.
Pois, é dito em outro trecho, que em oração a Deus, não devemos usar um longo murmúrio,
como aqueles que acreditam que por muito falar recebem muito mais, o que não implica
que não devemos continuar em nossas orações, mas isto é tributar a hipocrisia e superstição
dos que creem em romper os tímpanos de Deus (usando uma maneira de falar) para
convencê-lO do que eles querem. Assim podemos ver, como essa tolice tem prevalecido no
mundo! Mais uma vez, quantos existem entre nós que usam essa magia, como muitos que
não dizem mais do que a sua Ave Maria, a quem parece que eles ganharam um grande
acordo cada vez que eles dizem Oração do seu Senhor, e que Deus considerará todas as
suas palavras em que eles se envolvem quando oram! Agora, eu chamo isso de uma
verdadeira feitiçaria. Pois, eles miseravelmente profanam a oração que nos foi dada por
nosso Senhor Jesus Cristo, na qual Ele incluiu em um breve resumo tudo o que a podemos
pedir a Deus e o que é lícito que desejemos ou peçamos. (CALVINO, A oração e prisão de
Jesus no Getsêmani, Trad. Camila Almeida, 2015, p. 4).

Oração e vigilância são intrínsecas, ao buscar Deus em oração, o cristão está reconhecendo que
ele mesmo não pode fazer nada se primeiro o Senhor não fizer por ele. A confissão ao Senhor foi
algo que Calvino enfatizou, a fim de que o cristão não somente mantenha intimidade com o seu
Deus a fim de que este o livre das tentações, como também um reconhecimento de que o cristão não
pode se livrar das tentações por suas próprias forças.

...mas Jesus Cristo também nos ordena a vigiar. Além disso, Ele mostra que aqueles que
presumem de sua própria força serão conquistados por Satanás cem mil vezes antes de que
obtenham uma única vitória. O que é necessário, então? Que, confessando com toda a
humildade que não podemos fazer nada, nos acheguemos ao nosso Deus... (CALVINO, A
oração e prisão de Jesus no Getsêmani, Trad. Camila Almeida, 2015, p. 6).

A posição de Calvino em relação a Deus é sempre de humilhação, nunca deixando de


considerar a soberania do Senhor. Ele entedia que tudo que acontece está unicamente ligado a
vontade de Deus, porém jamais ele anulou a responsabilidade humana. A pessoa do Filho (Jesus
Cristo) sempre sendo mencionada por Calvino, pois ele sabia que sem Cristo, o homem continuaria
distante de Deus. Em seus estudos e antes de seus sermões, Calvino costumava orar a Deus, mesmo
sendo um erudito, ainda assim reconhecida que tudo provinha do Senhor. A oração de fato foi um
meio de graça que Calvino e os reformadores não depreciaram.

Concede, ó Deus onipotente, visto que em tua misericórdia te dignaste nos congregar à tua
Igreja, e nos cercaste nos limites da tua palavra, mediante a qual nos resguardas na
verdadeira e reta adoração à tua majestade, ó concede que permaneçamos contentados
nessa obediência a ti. E ainda que Satanás tente, de muitas maneiras, nos arrastar para cá e
para lá, e ainda também que sejamos por natureza inclinados ao mal, ó concede, que sendo
confirmados na fé e unidos a ti por esse laço sagrado, nos submetamos sempre à limitação
da tua palavra e assim nos liguemos a Cristo, teu filho unigênito, que nos uniu a si mesmo
para sempre, e que nunca, de modo nenhum, nos apartemos de ti, antes sejamos
confirmados na fé do evangelho de Cristo, até que finalmente ele nos receba a todos no seu
reino. Amém. (Devotions and prayers of John Calvin, 52 one-page devotions with selected
payers on facing pages. Org. Charles E. Edwards. Old Pathers Gospel Press. S/d. Pags. 14 e
15. Trad. Marcos Vanconcelo, maio/2009).

A oração é o meio pelo qual Calvino pede a Deus que confirme os cristãos na fé, unidos, uma
espécie de laço sagrado. Ele enaltece ao Deus Filho diante do Deus Pai, e roga para que o Senhor os
fizesse perseverar e confirmasse a fé do Evangelho de Cristo. Muitos falam de Calvino o que não
sabem, como se ele fosse um cristão que não orasse, um erudito limitado pelo humanismo. Não,
Calvino foi um cristão que se debruçava nas Escrituras, que amava a Palavra de Deus, que não
ousava pronunciar mais do que ela fornece. Em sua obra A verdadeira Vida Cristã, Calvino
surpreende àqueles que acham que ele era um cristão sem vida com Deus, que se concentram
apenas em ocorridos, e nem se quer consideram o contexto. “Pelo menos um herege foi condenado
à fogueira em 1533. Miguel Serveto...” (OLSON, 2001, p.436). Em “A Verdadeira Cristã” é
possível notar o verdadeiro Calvino que, geralmente os críticos não desejam relatar. A oração de
Calvino no ínicio da obra A Verdadeira Cristã é:
Deus e pai todo poderoso, nesta vida temos tido muitas lutas; dá-nos a força do teu Espírito,
para que possamos prosseguir em meio ao fogo, e às muitas águas com valor, e assim nos
submetermos às tuas normas, para irmos ao encontro da morte sem temor, com total
confiança na tua assistência.
Concede-nos também que possamos suportar todo o ódio e inimizade da humanidade, até
termos ganho a última vitória e podermos chegar ao bendito descanso que teu único filho
tem adquirido para nós, por meio de seu sangue. Amém. (CALVINO, A Verdadeira Vida
Cristã, Trad. Daniel Costa, 2000, p.19).

A teologia e a prática não eram dissociadas da vida de Calvino, e sim, intrínsecas. Ele
acreditava que a oração fortalece o cristão diante das dificuldades, e que se ódio do inimigo
perturba o cristão, este deve clamar ao Senhor a fim de que possa suportá-lo. Calvino não induzia a
ninguém à uma vida ascética, o que ele enfatizava era que os cristãos tivessem uma vida com Deus,
que agradasse a Deus.
O apóstolo Paulo, nos dá um breve sumário de uma vida bem regrada quando diz a Tito: “1.
Porque a graça de Deus se manifestou para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à
impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente,
enquanto aguardamos a bendita esperança;...” (Ibid, p.32). Calvino contiua a esclarecer que a vida
com Deus deve refletir em nosso relacionamento com a criação.
2.O apóstolo resume todas as ações da nova vida em três grupos: sobriedade, justiça e
piedade.
Indubitavelmente a sobriedade significa castidade e temperança, como também o uso
puro e frugal das bênçãos temporais, incluindo a paciência na pobreza.
A retidão inclui todos os deveres da justiça, de modo que cada homem receba o que
lhe é devido.
A piedade nos separa da contaminação do mundo e, por meio da verdadeira santidade,
nos une a Deus.
Quando as virtudes da sobriedade, justiça e piedade estão firmemente unidas,
produzem uma perfeita absoluta perfeição.
3.Nada é mais difícil do que deixar de lado os pensamentos carnais, submeter e
renunciar a nossos falsos apetites, e consagrarmo-nos a Deus e a nossos irmãos, vivendo
assim uma vida de anjo num mundo de corrupção. (Ibid, p.32,33).

Este é o Calvino que muitos não conhecem, que nunca anulou a responsabilidade humana e
jamais negou a Soberania de Deus, ou sugeriu um Deus que precisasse da cooperação do homem,
pelo contrario, sempre mencionou um Senhor que exerceu senhorio sobre toda sua criação. Jamais o
que às Escrituras ensinam, uma vez que ele também considerou a Palavra de Deus como única regra
de prática e fé. Buscou viver uma vida íntegra e mudou a história de Genebra e seus moradores.
Apesar do crescimento do comércio, a base da liderança e do impacto de Calvino sobre a
região não era principalmente econômico. A tradução da fé Reformada em prática é
testemunhada pela criação de estruturas sociais significativas que surgiram a partir da
liderança de Farel e Calvino. Um hospital foi inaugurado em 1535, e um fundo para os
refugiados franceses (Bourse Française) foi estabelecido pelos diáconos da igreja, em 1541.
A Academia de Calvino foi fundada em 1558. Com o tempo, milhares de refugiados
(principalmente franceses, ingleses e italianos) vieram a Genebra em busca de abrigo; e
muitos acabaram retornando aos seus países com novas ideias sobre o relacionamento entre
cidadãos e governo. (DAVID Hall. Calvino em praça pública / Trad. Claúdia Vassão
Ruggiero. _ SP : Cultura Cristã, 2017. P.59).

Diante disso da para saber o porquê Calvino se debruçava nas Escrituras e o porquê ele
valorizava e defendia uma vida devota a Deus. Ou seja, porque ele buscava ao Senhor em oração e
procurou deixar documentos que nos confirmam, como os que citamos acima.
5. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA FUNDAMENTADO NOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL

5.1 CONFISSÃO DE FÉ DE WESTIMINSTER


Agora nos concentraremos na Confissão de Fé de Westminster. “Assembleia de Teólogos
Sábios e Eruditos foi convocada em 12 de junho de 1643, pelo Parlamento da Inglaterra...”, ela tem
muito a nos falar da oração como um meio de graça.
I.A graça da fé, por meio da qual os eleitos são habilitados a
crer para a salvação da sua alma, é obra que o Espírito de
Cristo faz no coração deles, e é ordinariamente operado pelo
ministério da Palavra; por esse mistério, bem como pela
administração dos sacramentos e pela oração, ela é
aumentada e fortalecida. (Cap. XIV - Da Fé Salvadora)

De acordo com a citação acima, admite claramente que a oração fortalece a fé dos santos, ela
está intimamente ligada à administração dos sacramentos, batismo e santa ceia, é por consequência
admissível tal afirmação, uma vez que na cerimonia dos sacramentos a oração é inevitável. O texto
a seguir é utilizado como referência bíblica, Lucas 22.32 “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; tu pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.” Sendo assim, a Confissão
de Fé de Westminster considera a oração como um meio de graça que faz parte da vida do cristãos,
aumentando e fortalecendo a fé do cristão. Outra das referências Bíblicas em que a Confissão
fundamenta o capítulo XIV, seção I, é: Hebreus 10.39 “Nós, porém, não somos dos que retrocedem
para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” A Confissão de Westminster
também afirma que a oração deve fazer parte da liturgia cultica e ensina no nome de quem a oração
deve ser feita. Além de alertar que a oração deve ser feita de maneira que todos compreendam, isto
é, na língua conhecida dos que fazem parte do culto.
III.A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de
todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu
Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e
perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos presentes. (CAP. XXI,
SEÇÃO III).
A seção acima mostra que quem auxilia o cristão na oração é a pessoa bendita do Espírito Santo.
Sendo assim, a vontade do Espírito Santo é que prevalecerá, observe que de acordo com a
Confissão, a humildade deve estar presente na oração, o que já afirmamos veementemente nos
tópicos anteriores. A Constituição está em perfeita harmonia com as Santas Escrituras, isto não
significa que seja infalível, pois a mesma reconhece que somente a Palavra de Deus é infalível.
Uma das referências Bíblicas em que a Confissão fundamenta o capítulo XXI, seção III, é:
Filipenses 4.6 “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça.”
Segundo a Confissão de Fé de Westminster, a oração deve ser feita pelo que é lícito e por todos
os homens de agora e pelos que virão. Entretanto é vedada a oração pelos mortos e por aqueles que
é sabido que cometeram pecados para a morte. Vide Capítulo XXI, seção IV “A oração deve ser
feita por coisas lícitas,e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que
existirão no futuro; mas não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que se
saiba terem cometido o pecado para a morte.”
Dentre as referências que a Confissão fundamenta a seção IV do capítulo XXI. Vide, I Timóteo
2.1,2: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.” Outro texto que
corrobora é “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará
vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para a morte, e por esse não digo que rogue.”
Na seção IV do Capítulo XXI, a Confissão afirma que, a oração sendo um ato de culto
religiosos não está limitada a um lugar, seja para sua prática ou para sua resposta. Pois aquele a
quem os cristãos se dirigem não é limitado ao tempo e espaço, a saber, o Senhor Deus Todo
Poderoso.
IV.Agora, sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito a um certo
lugar, nem se torna mais aceitável por causa do lugar em que se ofereça ou para o qual se dirija; mas Deus
deve ser adorado em todo lugar, em espírito e em verdade, tanto em família, diariamente, e em secreto,
estando cada um sozinho, como também, mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser
descuidadas, nem voluntariamente negligenciadas ou desprezadas, sempre que Deus, pela sua providência,
proporcione ocasião. (IBID, CAPÍTULO XXI, SEÇÃO IV)

A oração como um ato cultico religioso pode ser feita individual ou coletivamente, e os que
compõem tal reunião devem aproveitar a oportunidade que Deus lhes concede. A Confissão oferece
algumas referências bíblicas a este assunto: “Mas, desde o nascente do sol até ao poente, é grande
entre as nações o meu nome; e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras;
porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos” (MALAQUIAS, 1.11).
Além deste texto, um outro serve de respaldo “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar,
levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” (I TIMÓTEO, 2.8).

5.2 O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER


O Catecismo Maior dedica dezoito perguntas acerca da oração, todas as perguntas são feitas e
respondidas à luz da Palavra de Deus. A partir da pergunta de número 178 o Catecismo concentra-se
nessa temática relevante com 18 perguntas e respostas, até o número 196, nem todas serão
abordadas aqui, porém as que serão são suficientes para o nosso entendimento da valorização à
oração que esta obra magna nos outorga. Nem todas as referências bíblicas serão mencionadas. O
Catecismo Maior “contrapõem a autoridade inerrante da Palavra de Deus. Da mesma maneira que a
Confissão de Fé, este Catecismo instrui o crente desde o princípio quanto à aceitação da Bíblia, as
Escrituras Sagradas. Afinal, não estamos livres do perigo do subjetivismo e do individualismo.”
(CATECISMO MAIOR, SP, CULTURA CRISTÃ, 2013, p.5)
A primeira pergunta relacionada a oração é a de número 178 - O que é a oração? “A oração é o
oferecimento dos nossos desejos a Deus 1, em nome de Cristo2 e com o auxílio do seu Espírito 3, com
a confissão de nossos pecados4 e um grato reconhecimento das suas misericórdias 5”. De início o
Catecismo afirma ser a oração um meio de graça à igreja. Isto é, aos salvos, santos e eleitos no
Senhor. Algumas das bases bíblicas utilizada pelo Catecismo, são: Salmo 62.8 “Confiai nele, ó
povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio 1”. E ainda, João
16.23-24 “Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo, se pedirdes
alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu
nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa2”.
O fato de o cristão expressar os seus desejos diante do Senhor, não significa que todos serão
atendidos, por isso o auxílio do Santo Espírito filtra o que agrada e não agrada a Deus, ou seja, o
que é e não da vontade de Deus.
Observemos a seguinte pergunta(179): Devemos orar somente a Deus? “Sendo Deus o único
que pode esquadrinhar o coração1, ouvir os pedidos2, perdoar os pecados3 e cumprir os desejos de
todos4, é o único em que se deve crer 5 e a quem se deve prestar culto religioso 6; a oração que é uma
parte especial do culto7, deve ser dirigida por todos a ele só 8, e a nenhum outro9”. Desta maneira
toda idolatria e oração aos “santos” são incontestavelmente condenada pelas Escrituras. As
referência bíblicas a seguir ratificam; 2Samuel 22.32 “Pois quem é Deus, senão o Senhor? E quem é
rochedo, senão o nosso Deus?5” E mais Isaías 8.13 “Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja
ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto.8”
A pergunta de número 179 exalta ao Senhor e induz o cristão a buscar a Deus em oração, uma
vez que ele é o único Deus, deve ser temido e reverenciado. A resposta ratifica que a oração é uma
parte especial do culto.
O Filho é a razão de nossa aceitação perante o Pai, pergunta de número 180 - O que é orar em
nome de Cristo? “Orar em nome Cristo é, em obediência ao seu mandamento e com confiança nas
suas promessas, pedir a misericórdia por amor dele 1; não por mera menção de seu nome 2, porém
obtendo de Cristo e sua mediação o nosso ânimo para orar e a nossa coragem, força e esperança de
sermos aceitos em oração3”. Segue as referências bíblicas; João 14.13-14 “E tudo quanto pedirdes
em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa
em meu nome, eu o farei1”. E também Hebreus 4.14-16 :
Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus,
conservemos firme a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se de nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de
recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.3
Com a pergunta de número 181 finalizaremos a fundamentação no Catecismo Maior de
Westminster da oração como um meio de graça e uma ordem do Senhor Jesus Cristo à sua igreja.
Por que devemos orar em nome de Cristo? “O homem em razão do seu pecado, ficou tão afastado
de Deus que a ele não se pode chegar sem ter um mediador1; e não havendo ninguém, no céu ou na
terra, constituído e preparado para essa gloriosa obra, senão Cristo só 2, o nome dele é o único em
que nós devemos orar.3” As referências bíblicas são: Isaías 59.2 “Mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados enconbrem o seu rosto de vós, para que
vos não ouça.1” E ainda, Efésios 3.12 “...pelo qual temos ousadia e acesso com confiança mediante
a fé nele”. Duas outras referências biblícas que dizem respeito ao nome de Cristo ser o único em
que devemos orar é: “ E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do
Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. 3” A segunda é Hebreus 13.15 “Por meio de Jesus,
pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu
nome.3”
5.3 BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER
Foi elaborado no século XVII pelos pelos teólogos ingleses e escoceses da Assembleia de
Westminster. Contém orientação calvinista e estar em harmonia com a Confissão de Fé de
Westminster e com o Catecismo Maior. É composto de 107 perguntas e respostas, a fim de conduzir
as crianças numa conduta coerente com a Palavra de Deus, porém também pode ser aplicado aos
adultos.
A primeira pergunta tem haver do objetivo com que o homem deve ter, ou seja, o seu objetivo
prinicipal, glorificar a Deus. É inegável não admitir que quando o cristão está orando está
gloricando a Deus, pois está reconhecendo tanto sua soberania quanto sua misericórdia. A primeira
pergunta é: Qual o fim principal do homem? “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e
gozá-lo para sempre. Uma das Referências bíblicas; Romanos 11.36 “Porque dele,e por meio dele, e
para ele são todas as coisas . A ele, pois, a glória eternamente. Amém”.
As perguntas voltadas à oração são a partir da 98 à 107, entretanto, aboradaremos alguams
perguntas e respostas. A Pergunta de número 98 - O que é a oração? “ A oração é um santo
oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conforme com a sua vontade, em nome de
Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas
misericóridias”. Referência bíblica, João 16. 23,24 “Naquele dia, nada me perguntareis. Em
verdade, em verdade vos digo; se pedirdes alguma coisas ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome;
pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa”.
Observe que a referência bíblica oferecidad pelo Breve Catecismo contém uma ordem do
Senhor Jesus Cristo “pedi” , e uma garantia “recebereis”. Na resposta do que vem a ser oração, o
Catecismo alega que são nossos desejos oferecidos a Deus, regrados por sua vontade, também é um
meio de confessarmos os pecados, bem como uma expressão de reconhecimento de sua bondade.
A pergunta de número 99 - Qual é a regra que Deus nos deu para nos dirigir em oração? “Toda
palavra de Deus é útil para nos dirigir em oração, mas a regra especial de direção é aquela forma de
oração que Cristo ensinou aos seus discípulos, e que geralmente se chama a Oração Dominical”.
Refeência bíblica; Romanos 8.26 “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa
fraqueza; porque não oramos como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira,
com gemidos inexprimíveis”.
A oração é algo tão signficativo que o Santo Espírito intercede pelo cristão com gemidos
inexprimíveis. A santa trindade age mutuamente para que a oração do cristão seja agradável, daí o
motivo da oração modelo a ser seguida. Tanto a Confissão de Fé como os Catecismos, Maior e
Breve, fragmentam de maneira explicativa as petições da Oração Dominical. São seis petições e a
conclusão, duas dessas petições são, a primeira consta na pergutna 101 - Pelo que oramos na
primeira petição? “Santificado seja o teu nome; pedimos que deus nos habilite a nós e aos outros a
glorificá-lo a tudo aquilo em que se dá a conhecer; e que disponha tudo para sua glória”. Vide,
Salmo 67.1-3 “Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o
rosto; para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. Louvem-te
os povos, ó Deus; lovem-te os povos todos”.
A segunda petição, pergunta 102 - Pelo que oramos na segunda petição? “Venha o eu reino;
pedimos que o reino de Satanás seja destruído e que o reino da graça seja adiantado; que nós e os
outros a ele sejamos guiados e nele guardados, e ques cedo venha o reino da glória”. Na referência
bíblica a seguir, vemos mais uma ordem do Senhor Jesus Cristo. Mateus 9.37,38 “Rogai, pois, ao
Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”. “Rogai” esta é a ordem.
Partindo dessas perguntas e respostas fica evidente que o Símbolos de Fé da Igreja Presbitriana
reconhecem a oração como um meio de graça e uma ordem do Senhor Jesus Cristo à sua igreja. Não
só reconhece, como também se debruçõu a esmiuçar como a oração deve ser aplicada na vida do
cristão.
6. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA
REFORMADA

6.1 HERMANN BAVINCK


Desde o ínicio este material busca fundamentar a oração como um meio de graça e uma ordem
do Senho Jesus Cristo à sua igreja. Primeiro, foi fundamentado com as Escrituras, segundo com os
pais apóstolicos, terceiro com os pré-reformadores, quarto com os reformadores, quinto com os
símbolos de fé da igreja presbiterina. Agora nos deteremos a teologia sistemática, e finalizaremos
com a perspectiva da teologia contemporânea quanto a este assunto. Em sua teologia sistemática
Hermann Bavinck assegura que:
Os discípulos de Jesus em Jerusalém, depois do Pentecoste, continuaram a encontrar-se no templo ou em uma
de suas dependências, com a finalidade de observar as horas de oração do código moral dos judeus e, ao
mesmo tempo, pregar o Evangelho ao povo. Essa pregação dos apóstolos no dia de Pentescoste e por muito
tempo depois dele, era ricamente abençoada. Milhares de pessoas eram acrescentada à igreja e eram salvas.
(BAVINCK, TEOLOGIA SISTEMÁTICA, 1977, p.567)

As referências bíblicas que Bavinck utiliza para fundamentar sua colocação são: Atos 2.46
“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas
refeições com alegria e singileza de coração”; 3.1 “Pedro e João subiam ao templo para a oração da
hora nona”; 5.12 “Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E
costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão”.
Bavinck também fundamenta a consequência dessa comunhão, da oração e da perseverança dos
discípulos. Atos 2.41 “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um
acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”; 2.47 “louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo
salvos”. E ainda, Atos 4.4 “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o
número de homens a quase cinco mil”. 5.14 “E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto
homens como mulheres, agregados ao Senhor”; e por fim, Atos 6.7 “Crescia a palavra de Deus, e,
em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitissímos sacerdotes obedeciam
a fé”.
É evidente como a igreja avançava quando orava e pregava o evangelho. Isso explica porque o
apóstolo Paulo pedia orações aos irmãos, isso tinha um objetivo. “Finalmente, irmãos, orai por nós,
para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre
vós;” (2 TESSALONICENSES 3.1). Bavinck ressalta o crescimento de um grupo que se iniciou
com poucos “Primeiramente, foi só o pequeno círculo dos discípulos que confessou Jesus como seu
Senhor, mas essas confissão uniu-os em uma comunhão de tal forma que, depois que o Mestre os
deixou, eles continuaram a perseverar em orações e súplicas (At 1. 14)”. O texto mencionado por
Bavinck explicita o estilo de vida da igreja; Atos 1.14 “Todos estes perseveravam unânimes em
oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”.

6.2 LOUIS BERKHOF; HODGE; MCPHERSON


Em sua teologia sistemática, Berkhof defini o que conceito a respeito dos meios de graça.
Apesar de haver outros conceitos, como o Luterano, Católico Romano, conceito dos místicos e o
conceito racionalista. O que citaremos abaixo é o conceito reformado, calvinista.
Enquanto a reação aos anabatistas levou os luteranos a mover-se em direção a Roma e a ligar a graça de Deus
aos meios no sentido mais absoluto – posição assumida também pelos anglicanos da Igreja Alta – as igrejas
reformadas (calvinistas) deram continuidade ao conceito originário da Reforma. Elas negam que os meios de
graça podem, por si mesmos, conferir graça, como se fossem dotados de poder mágico para produzir
santidade. Deus, e Deus somente, é a causa eficiente da salvação. E, na distribuição e comunicação da Sua
graça, Ele não está atado absolutamente aos meios divinamente ordenados pelos quais Ele age
ordinariamente, mas os utiliza para atenderem aos propósitos da Sua graça, de acordo com o Seu livre
arbítrio. Mas, apesar de não considerarem os meios de graça como absolutamente necessários e
indispensáveis, elas se opõem fortemente à idéia de que estes meios podem ser tratados como puramente
acidentais e indiferentes e podem ser negligenciados impunemente. Deus os designou para serem os meios
ordinários por meio dos quais Ele aciona a Sua graça nos corações dos pecadores, e negligenciá-los
voluntariamente só pode redundar em prejuízo espiritual. (LOUIS BERKHOF, TEOLOGIA SISTEMÁTICA,
1949, p.605)

Ele afirma que renunciar os meios de graça causará prejuízo espiritual. Sendo assim, a oração
que é um desses meio de graça não pode ser desprezada, pois assim causaria prejuízo espiritual ao
cristão.
É até possível incluir nos meios de graça tudo quanto de requer dos homens para o recebimento e o gozo
permanente das bênçãos da aliança, tais como a fé, a conversão, a luta espiritual e a oração. Todavia, não é
costumeiro nem desejável incluir tudo isso na expressão “meios de graça”. A igreja não é um meio de graça
lado a lado com a Palavra e os sacramentos, porque o seu poder de promover a obra da graça de Deus consiste
unicamente na administração deles. Ela não é instrumento de comunicação da graça, exceto por meio da
Palavra e dos sacramentos. Além disso, a fé, a conversão e a oração são, antes de tudo, frutos da graça de
Deus, embora possam tornar-se instrumentos para o fortalecimento da vida espiritual. Não são ordenanças
objetivas, mas condições subjetivas para a posse e o gozo das bênçãos da aliança. Conseqüentemente, é
melhor não seguir Hodge quando ele inclui a oração, nem McPherson quando acrescenta à Palavra e aos
sacramentos a igreja e a oração. Estritamente falando, somente a Palavra e os sacramentos podem ser
considerados como meio de graça, isto é, como os canais objetivos que Cristo instituiu na igreja, e aos quais
Ele se prende normalmente para a comunicação da Sua graça. (LOUIS BERKHOF, TEOLOGIA
SISTEMÁTICA, 1949, p.601)
A posição de Berkhof é que a oração não é propriamente um meio de graça. Ele prioriza a
Palavra e os sacramentos,o que é relevante. Entretanto, a oração não deprecia a oração como não
sendo um meio pelo qual Deus abençoa seu povo. Berkhof faz mençaõ de Hodge quando que
considera a oração um meio de graça, bem como mcPherson que acrescenta a Palavra, os
sacramentos, a igreja e a oração. O fato é que a posição adotada por esses três teólogos possui teor
de coerência com as Escrituras.
7. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

7.1 KARL BARTH


A teologia contemporânea fez surgir grandes pensadores no século XX e XXI. Dentre eles
destacaremos a pessoa de Karl Barth, frisaremos seu apreço pelas Santas Escrituras que de alguma
forma combatera a teologia liberal. E o que isso tem haver com oração como um meio de graça e
uma ordem do Senhor Jesus Cristo à sua igreja? Desde o início deste material temos fundamentado
esta tese nas Escrituras, os demais fundamentos temos se utilizado do seu apreço pelas Escrituras.
Esse apreço pelas Escrituras é válido, pois como alguém obedeceria a ordem de alguém que
não considera divino, que não é capaz de realizar milagres, ou de fundamentar dogmas? Foi esse
tipo de pensamento que Karl Barth teve de confrontar. Adolf von Harnack (1851-1930, teológo
liberal é um dos teólogos que adotava esse tipo de pensamento.
Em seus estudos sobre o cristianismo, parte da convicção de que o método histórico-crítico, elaborado pela
ciência no século XIX, é um instrumento perfeitamente idôneo, inclusive indispensável, para a interpretação
da Revelação. Harnack considera que não pode haver outra interpretação séria da sagrada Escritura e da
Tradição fora da interpretação científica. Mas, seguindo esse caminho, também chega, como Strauss e Ritschl,
a eliminar da vida de Cristo tanto os milagres como os dogmas. Segundo Harnack, os dogmas seriam fruto da
helenização do cristianismo, ao passo que os milagres seriam produto da mentalidade mágica e supersticiosa
dos primeiros discípulos. (MONDIN, 2003, p.28)

Karl Barth possuía outro pensamento quando o assunto era a Palavra de Deus. Segundo
Mondin, (2003, p.55) “Como também para Lutero e Calvino, para Barth a Palavra tem um
significado mais amplo do que aquele da Sagrada Escritura.” Barth não fora apenas um estudioso,
foi pastor, e como pastor teve contato com a comunidade e com o cotidiano.
Mas Barth nunca foi apenas um homem de estudo. Seus anos de vida pastoral haviam-lhe ensinado a grande
lição de que o Evangelho não deve servir só para pregar e regular nossas relações com Deus, mas também
para nos ensinar como nos comportamos com os outros homens; e isso não de maneira genérica e abstrata,
mas sim de modo concreto, de acordo com a variação das circunstâncias e das situações históricas. É preciso
voltar-se par ao Evangelho a fim de conhecer o juízo de Deus sobre as decisões, os empreendimentos e os
programas humanos.

É evidente que para Barth o Evangelho não é apenas teoria, deve ser sim praticado. “Barth
denunciou tanto os erros do nazismo como as aberrações da Igreja Evangélica da Nação Alemã”
(MONDIN, 2003, p.38).
A princípio Barth entendia Deus mais como um ser transcendente, o outro. Contudo, com os
passar dos anos ele acrescenta
...Como é em si o uno da unidade da sua vida, como Pai, Filho e Espírito Santo, assim, em relação à realidade
distinta de si, é de jure e de facto livre de estar não só ao seu lado ou acima do homem, mas também perto
dele e com ele, sobretudo de ser Deus para ele, não só como seu senhor, mas também como seu pai, irmão e
amigo, como seu Deus, isto é, do homem (MONDIM, 2003, p.59).

Dessarte, Barth possuía um certo apreço pela Palavra de Deus, cria em um Deus relacional, e
não negava a divindade de Cristo, muito menos seus milagres. Um teólogo que pense dessa maneira
dificilmente nega as ordens do Senhor Jesus Cristo, jamais desprezará as ordens contidas na Palavra
de Deus, e a oração como um meio de graça é uma delas.

7.2 JOHN STOTT


Não podíamos deixar de citar John Stott quando o assunto é oração. Ele comenta o texto de
ITimóteo 3.8 em que o apóstolo Paulo escreve ao jovem Timóteo para que os homens orem:
“Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem
discussões.
Aqui, há três características universais da oração nem público ou, expressando-as negativamente, há três
impedimentos à oração, a saber, o pecado, a ira e as contendas. A referência a “mãos santas” nos faz lembrar
do Salmo 24, no qual aquele que deseja subir ao monte do Senhor e permanecer no seu santo lugar tem de ser
“limpo de mãos e puro de coração”. ( JOHN STOTT, 2004, p.80)

Na fala de Stott percebe-se que a oração é algo que deve ser levado a sério pelos cristãos, pois
quando se colocam a orar estão diante do Senhor, conversando com o Senhor. Sendo assim, tudo o
que impede ou bloqueia a oração deve ser evitado. Isso não significa que se o cristão houver pecado
Deus não vai ouvir sua oração, desde que esta esteja adornada de arrependimento.
Comentando o texto de ITimóteo 2.1-3, John Stott reconhece a necessidade de a igreja do
Senhor ter uma vida de oração, não somente com a conduta, mas que erga a voz ao Senhor.
Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os
homens; pelos reis e por todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com
toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.

O apóstolo Paulo recomenda à igreja que por meio da oração busquem uma vida tranquila,
pacífica com toda a piedade e dignidade. Paulo neste trecho enaltece o valor da oração, ou seja,
como ela é fundamental para que haja paz entre os homens. A respeito disso Stott (2004, p.57)
comenta, “O que se destaca nesse parágrafo é a amplitude universal da responsabilidade da
igreja...Como o desejo de Deus e a morte de Cristo referem-se a todas as pessoas, então as orações e
a proclamação da igreja têm de ter o enfoque de alcançar o mundo também...” Com isso Stott não
quer dizer que todos serão salvos. Será que essa em “todos os homens”, tirando-nos do elitismo
(somente alguns serão salvos), nos levará ao extremo oposto do universalismo (todos serão salvos)?
Não. Que Paulo não era universalista, isso é evidente, não apenas nas suas outras cartas, mas
também nessa epístola.” (STOTT, 2004, p.61)
Portanto, para Stott a oração é um meio de graça e uma ordem que a igreja deve obedecer, a fim
de que todos gozem do fruto da oração.
8. EXEGESE DO TEXTO DE LUCAL 22.39-46
A exegese nesse texto tem como finalidade frisar o oração como uma ordem do Senhor Jesus
Cristo, bem como um meio que ele usa a fim de abençoar sua igreja. A perícope mostra a agonia de
Cristo no Getsêmani momentos antes de sua crucificação, o que ele preferiu fazer antes de os
pecadores colocarem as mãos nele. O texto explicita que ele (Jesus) orou ao Pai, proferindo diante
deste que sua vontade prevalecesse.

8.1 TEXTO GREGO

39 Καὶ ἐξελθὼν ἐπορεύθη κατὰ τὸ ἔθος εἰς τὸ ὄρος τῶν ἐλαιῶν, ἠκολούθησαν δὲ α
ὐτῷ [καὶ] οἱ μαθηταί. 40 γενόμενος δὲ ἐπὶ τοῦ τόπου εἶπεν αὐτοῖς· προσεύχεσθε μὴ ε
ἰσελθεῖν εἰς πειρασμόν.
41 καὶ αὐτὸς ἀπεσπάσθη ἀπ' αὐτῶν ὡσεὶ λίθου βολὴν καὶ θεὶς τὰ γόνατα προσηύχετ
ο. 42 λέγων· πάτερ, εἰ βούλει παρένεγκε τοῦτο τὸ ποτήριον ἀπ' ἐμοῦ· πλὴν μὴ τὸ θέλ
ημα μου ἀλλὰ τὸ σὸν γινέσθω. 43 [[ὤφθη δὲ αὐτῷ ἄγγελος ἀπὸ τοῦ οὐρανοῦ ἐνισχύ
ων αὐτόν. 44 καὶ γενόμενος ἐν ἀγωνίᾳ ἐκτενέστερον προσηύχετο· καὶ ἐγένετο ὁ ἱδρὼ
ς αὐτοῦ ὡσεὶ θρόμβοι αἵματος καταβαίνοντες ἐπὶ τὴν γῆν.]]. 45 καὶ ἀναστὰς ἀπὸ τῆς
προσευχῆς ἐλθὼν πρὸς τοὺς μαθητὰς εὗρεν κοιμωμένους αὐτοὺς ἀπὸ τῆς λύπης, 46 κ
αὶ εἶπεν αὐτοῖς· τί καθεύδετε ἀναστάντες προσεύχεσθε, ἵνα μὴ εἰσέλθητε εἰς πειρασμ
όν.

8.2 TRADUÇÃO LIVRE


39 E saindo, foi, como era de costume, para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o
seguiram.40 Ao chegarem neste lugar, disse-lhes: orai, para que não entreis em tentação. 41 E
afastou-se deles a distância de um arremesso de pedra e, de joelhos dobrados orava dizendo: 42
Pai, se queres afasta de mim este cálice, todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua seja feita.
43Então, apareceu um anjo do céu que o fortalecia. 44 E estando em agonia, orava intensamente, e
o seu suor tornou-se como em gotas de sangue descendo sobre a terra. 45Depois, levantando da
oração, foi aos discípulos e os encontrou adormecidos de tristeza 46e disse-lhes: Por que estais
dormindo: Levantai-vos e orai para que não entreis em tentação.
8.3 ESTUDO DOS TERMOS – LUCAS 22. 39-36.
39 Καὶ ἐξελθὼν ἐπορεύθη κατὰ τὸ ἔθος εἰς τὸ ὄρος τῶν ἐλαιῶν, ἠκολούθησαν δὲ αὐ
τῷ [καὶ] οἱ μαθηταί.

ἐξελθὼν – ezelthon: saindo – Verbo no particípio, aoristo, ativo, , nominativo, masculino,


singular.
O termo acima trata-se de um verbo, sendo assim indica ação, fenômeno natural, ocorrência,
desejo e outros processos (REGA, BERGMANN, 2004, p.25). Por estar no “modo partícipio”
contém traços tanto de adjetivo como de verbo (REGA, 2004, p.30). Estando ele no “tempo
aoristo”, de acordo com Rega, Bergmann (2004, p.28) “Faz referência ao fato ou evento em si,
geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes nem os resultados dele”. Uma vez que
a voz é “ativa”, o sujeito pratica a ação expressa pelo verbo. O “caso nominativo” indica quem é
que estava saindo.
O autor revela a ação praticada por Jesus Cristo como sendo um ato, um fato incontestável. O
verbo indica uma ação por parte do Senhor Jesus Cristo.
O termo aparece 21 vezes no Novo testamento, entretanto, dois textos serão mencionados, a
saber: Mateus 20.5; Marcos 1.45.

ἔθος – ethos: costume – Substantivo, acusativo, neutro, singular.

“O substantivo é uma palavra que especifica algo que possui existência, designando pessoas,
animais, lugares ou coisas” (REGA, Bergmann,2004, p.67). Na presente perícope, o substantivo é
abstrato “costume”. O caso genitivo diz Rega (2004, p.70) “Quando um substantivo indica a pessoa
ou coisa que diretamente sofre a ação do verbo aparece no caso do acusativo. É o caso do objeto
direto. Responde à pergunta ‘Que coisa...?’ ou ‘A quem’...”. Os autores acrescentam “O gênero
neutro nomeia fenônemos que, por si só não possuem gênero” (REGA, BERGMANN, 2004, p.71).
Em alguns casos o artigo contribui para a identificação do gênero de acordo com sua terminação.
O substantivo utilizado por Lucas, atribui tal costume a alguém. O artigo utilizado na perícope
também é neutro. Em seguida o autor deixa explícito qual era a local que Jesus e seus discípulos
costumavam frequentar.
O substantivo consta 6 vezes no Novo Testamento, porém há exceção com este termo, ele
aparece com a mesma classificação gramatical apenas no evangelho de Lucas: 1.9; 2.42. As outras
passagens o caso do termo está no Nominativo e não no Acusativo.

ὄρος - oros: monte - Aqui trata-se de um Substantivo, acusativo, neutro, singular.


“O substantivo é uma palavra que especifica algo que possui existência, designando pessoas,
animais, lugares ou coisas” (REGA, Bergmann,2004, p.67). Na presente perícope, o substantivo é
real, concreto “monte”, indicando um lugar. O substantivo aponta para a coisa de que se trata, isto é,
de um monte, por isso é acusativo. “O gênero neutro nomeia fenônemos que, por si só não possuem
gênero” (REGA, BERGMANN, 2004, p.71). Em alguns casos o artigo contribui para a
identificação do gênero de acordo com sua terminação.
Lucas faz uso do substantivo indicando o lugar onde Jesus e seus discípulos costumavam ir,
mostrando a existência do lugar.
O termo é utilizado 36 vezes no Novo Testamento, entretanto, dois textos serão citados: Mateus
5.1; João 6.3. Nestes dois textos a classificação do termo é a mesma.

ἐλαιῶν - elaion: Oliveiras - Substantivo, genitivo, feminino, plural.


O substantivo apresentado aqui, denota um lugar, porém, com um nome próprio. Em alguns
textos gregos as iniciais aparecem com letras maiúsculas, “Ελαιων Ορος”. O substantivo aqui está
especificando um determinado lugar, isso faz do termo um caso genitivo. Tratando-se de um lugar e
o termo encontrando-se no plural, há também a descrição do local como sendo um lugar adornado
de oliveiras.
O autor possui um característica única, ou seja, é detalhista. Com especifidade ele complementa
o termo anterior “Ορος” seguido do artigo no plural “των”, assim concordando em gênero, número
e caso. Dessa maneira, o autor identifica o lugar que Jesus e os discípulos estavam.
Por doze vezes o termo é utilizado no Novo Testamento, nas seguintes referências, a
classificação grammatical não difere em nada: Marcos 14.26; João 8.1.

ἠκολούθησαν - ekolouthesan: seguiram - Verbo, indicativo, aoristo, ativo, terceira pessoa do


plural.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O aoristo indica uma ação do passado, porém, seu valor é
contínuo. A voz ativa indica que os discípulos realizaram a ação de seguir ao Mestre.
O autor esclarece com veemência de como os discípulos seguiam os passos de Jesus Cristo. A
priori o termo do início do versículo mostra como Jesus foi o autor da ação, “ e saindo, foi”, os
discípulos prontamente seguiram o Mestre.
O verbo consta 21 vezes nos textos neotestamentários, e as duas referências seguintes dispõem
da mesma classificação grammatical: Mateus 4.20; Atos 13.43.

μαθηται - mathetai - discípulos: Substantivo, nominativo, masculino, plural.


O substantivo indica quem seguiu a Jesus, isto é, a existência dos discípulos. Nesse caso o
substantivo desempenha o papel do sujeito, e aponta quem foi que seguiu Jesus, sendo assim é um
genitivo. O gênero masculino nomeia os seres masculinos. O número no plural indica que tratava-se
de vários discípulos.
O autor clarifica quem foi que seguiu Jesus, e que todos eles costumavam seguir o Senhor Jesus
Cristo. O substantivo no plural indica como eles andavam em grupo. A ênfase nos seguidores de
Cristo neste momento de aflição do seu ministério, torna-se evidente a partir da análise dos termos
utilizados pelo autor.
O termo consta 55 vezes no evangelho de Mateus; 28 vezes em Marcos; 13 vezes em Lucas; 43
vezes no evangelho de João; e por fim 7 vezes no Livro de Atos. Sendo assim, o termo aparece 146
vezes em o Novo Testamento. Nos dois textos a seguir o termo possui a mesma classificação
gramatical, a saber: João 15.8; Atos 9.38.

40 γενόμενος δὲ ἐπὶ τοῦ τόπου εἶπεν αὐτοῖς· προσεύχεσθε μὴ εἰσελθεῖν εἰς πειρασμό
ν.

γενομενος - genomenos – chegaram: Verbo, particípio, aoristo, voz media depoente, nominativo,
masculino, singular.
Por estar no “modo partícipio” contém traços tanto de adjetivo como de verbo (REGA, 2004,
p.30). Estando ele no “tempo aoristo”, de acordo com Rega, Bergmann (2004, p.28) “Faz referência
ao fato ou evento em si, geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes nem os
resultados dele”. Uma vez que a voz é media depoente “expressa uma ação que o sujeito realiza em
si mesmo para si mesmo ou de si mesmo” (REGA, BERGMANN (2004, P.30), o sujeito pratica a
ação expressa pelo verbo. O “caso nominativo” indica quem é que estava chegando.
Pelo fato de o verbo está no plural, indica que Jesus não estava sozinho, ou seja, estava
acompanhado dos discípulos, o verbo que segue é “orai” que será detalhado mais abaixo também
está no plural, isto ratifica a ideia de que Jesus não estava sozinho.
Por 38 vezes o termo é citado em o Novo Testamento. Entretanto, dois textos possuem a mesma
classificação grammatical, os quais são: Filipenses 2.7; Tiago 1.12.

προσευχεσθε – proseuchesthe- orai: Verbo, imperativo, presente, voz media ou passiva depoente,
segunda pessoa do plural.
O verbo está no modo imperativo e no tempo presente, indicando uma ordem estabelecida não
somente para aquele momento pelo fato do verbo está no imperativo. Uma vez que a voz é media
depoente “expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo para si mesmo ou de si mesmo”
O autor enfatiza a importância que Jesus Cristo deu a oração, assim ordenou aos discípulos que
eles deviam estar em constante oração, isso não está restrito a apenas um momento a sós com Deus
em um determinado lugar, trata-se de uma vida que seja como uma agradável oração aos olhos de
Deus. A ordem expressa por Jesus estava associada à vigilância. Sendo assim, conclui-se que a
oração está relacionada também à conduta do cristão.
Em o Novo Testamento o termo aparece 15 vezes, duas passagens correlatas com a mesma
classificação gramatical são: Mateus 24.20; 1 Tessalonicenses 5.17.

πειρασμον – peirasmon - tentação , provação: Substantivo, acusativo, masculino, singular.


“O substantivo é uma palavra que especifica algo que possui existência, designando pessoas,
animais, lugares ou coisas” (REGA, BERGMANN,2004, p.67). Na presente perícope, o substantivo
é abstrato “tentação”. O substantivo aponta para a coisa de que se trata, isto é, momento de
provação, de tentação, por isso é acusativo.
Sendo assim, o autor está mostrando que em toda provação é necessário permanecer em oração,
o verbo “orai” no imperativo antecede o substantivo “provação”. Trata-se de um momento em que
Jesus está passando por um momento de provação, é diante dessa situação que ele ordena que os
discípulos orem.
O substantivo aparece 11vezes no Novo Testamento, dois textos serão mencionados: Galátas
4.14; 1 Pedro 4.12
41 καὶ αὐτὸς ἀπεσπάσθη ἀπ' αὐτῶν ὡσεὶ λίθου βολὴν καὶ θεὶς τὰ γόνατα προσηύχετ
ο.
θεις – theis - pondo, dobrando: Verbo, particípio, aoristo, ativo, nominativo, masculino, singular.
O detalhe com que o autor descreve o momento de Jesus com seus discípulos, é típico de
Lucas. O verbo no particípio, aoristo na voz ativa, significa que Jesus realizou a ação naquele
momento, porém por estar no aoristo, a ação é contínua. O caso é o nominativo, ou seja, Jesus se
põe de joelhos, dobra os joelhos. Pois o caso nominativo é acompanhado da pergunta “Quem é
que?”. Exemplo: Quem é que se pôs, que dobrou os joelhos? Jesus Cristo.
O autor detalha a maneira como Cristo se posiciona a fazer a oração, enfatiza a humilhação do
Filho diante do Pai. Isso não significa que está seja a posição única de se dirigir a Deus, em outros
textos é possível ver Jesus rogando ao Pai em pé, como acontece em João 11 na ressurreição de
Lázaro. O verbo antecede o substantivo a seguir “joelhos”.
De acordo com Strong “O termo é uma forma prolongada de uma palavra primaria θεω theo
(que é usada somente como substituto em determinados tempos)”. O termo sempre aparece unido a
outro termo, entretanto ele aparece 3 vezes solto no Novo Testamento, a saber, no Livro de Atos
20.36 e mais outros dois textos que são mencionadas ao final desta explicação. Aparece 75 vezes
em Mateus; em Marcos 41 vezes; 54 em Lucas; 5 em João; 34 em Atos; 8 vezes em Romanos; 3 em
1Coríntios e 5 vezes em 2Coríntios; 2 em Gálatas; Efésio 2, 1 em Filipenses; 1 vez em Colossenses;
1 em 1Tessalonicenses; 2 em 1 Timóteo e 3 vezes em 2 Timóteo; Tito 2 vezes; 11 vezes em Hebreus
e 2 em Tiago; 1 Pedro por 4 vezes; 2 Pedro consta 6 vezes; 1 João aparece 1 vez; e por fim em
Judas 1 vez. Totalizando 264 vezes. Destes, apenas dois textos serão citados os capítulos e
versículos, os quais são: Atos 7.60, 9.40.

γονατα – gonata – joelhos: Substantivo, acusativo, neutro, plural.


Quem sofre a ação do verbo? Jesus, pois é ele que se põe de Joelhos. Segundo Rega, Bergmann
(2004, p.70) “O substantivo no caso acusativo é quando a pessoa ou coisa sofre a ação do verbo”. O
gênero neutro nomeia fenômenos que não possuem gênero (REGA, BERGMANN, 2004, p.71).
O autor clarifica a reverência que o Filho concede ao Pai. Um ato, uma ação de humilhação, de
dependência, e de confiança. Os discípulos presenciam este ato do Senhor Jesus Cristo, o autor se
importa em descreve a maneira como Jesus se comportou diante da provação.
O termo aparece 8 vezes em o Novo Testamento. Dois textos serão sugeridos para consulta,
pois possuem a mesma classificação gramatical: Marcos 15.19; Hebreus 12.12.

προσηυχετο – proseucheto – orava: Verbo, indicativo, imperfeito, voz média ou passiva depoente,
terceira pessoa do singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O tempo está no imperfeito, ou seja, indica uma ação que foi
contínua no passado, porém já cessou, contudo o contexto determina se ação pode ser continuada,
habitual ou intermitente ((REGA, BERGMANN, 2004, p. 28). Diante dos termos que já foram
analisados, tudo indica que a ação é continuada, habitual e em alguns casos intermitente. A voz
média indica que o sujeito sofre a ação, neste caso Jesus estava orando, observe a classificação:
terceira pessoa do singular (Ele).
O autor focaliza a ação do Mestre diante dos discípulos, algo inerente a Cristo, isto é, fazer e
ensinar. Lucas utiliza esses dois termos na sua segunda obra, a saber, Atos 1.1. o autor explicita que
Cristo faz um discurso e após ele pratica este discurso, ou seja, orando ao Pai no momento de
provação.
Este verbo aparece apenas 5 vezes no Novo Testamento. Em todos os 5 textos, a classificação
gramatical é a mesma. Dois textos serão citados: Marcos 14.35; Lucas 18.11.
42 λέγων· πάτερ, εἰ βούλει παρένεγκε τοῦτο τὸ ποτήριον ἀπ' ἐμοῦ· πλὴν μὴ τὸ θέλ
ημα μου ἀλλὰ τὸ σὸν γινέσθω.

πάτερ – pater – pai: Substantivo, vocativo, masculino, singular.


Segundo Rega e Bergamnn (2004, p.70) O substantivo no caso vocativo traz o sentido de
invocação, exclamação. A expressão de Cristo é de clamor.
O autor identifica com precisão a quem Jesus está se dirigindo. E como ele está se dirige ao Pai.
O autor pontua de forma contundente como o Filho se dirige ao Pai, trata-se de uma atitude de
intimidade.
O termo aparece 19 vezes em Mateus; 8 em Marcos; 26 em Lucas; 46 vezes em João; 27 em
Atos e 9 vezes em Romanos; 2 vezes em 1 Coríntios e 1 vez em 2 Coríntios; 5 em Éfésios; 1 em
Colossenses; 1 vez em 1 Timóteo; 4 vezes em Hebreu e 1 vez em Tiago; 1 vez em 1 Pedro e 1 vez
em 2 Pedro; 6 vezes em 1 João; 1 vez em 2 João. Com a mesma classificação gramatical aparece 27
vezes, porém dois serão mencionados: Mateus 6.9; João 17.1.

βούλει – Boulei - desejas, queres: Verbo, indicativo, presente, nominativo, primeira pessoa do
singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O tempo no presente indica uma ação continua num estado
incompleto. Rega, Bergmann (2004, p.27) A ação é descrita com em progresso, em andamento,
durativa ou linear.
O autor mostra como Jesus sabia do desejo do Pai. Após a classificação gramatical dos termos,
percebe-se a confiança obediente que Cristo depositava no Pai, ele sabia que se o Pai quisesse
mudar a situação ele o faria sem nenhum problema, no entanto, ele conhecia a vontade do Pai, e
sabia que a missão a qual o Pai o designara ainda não havia terminado.
Esse termo não aparece outra vez em o Novo Testamento, ou seja, só consta no evangelho de
Lucas 22.42.

παρένεγκε – passar, remover, afastar: Verbo, imperativo, aoristo, ativo, segunda pessoa do
singular.
Nessa perícope o verbo no imperativo, indica súplica, pois o contexto deixa isso bem claro. O
tempo no aoristo indica uma ação pontilinear, ou seja, faz referência ao fato em si, no passado,
entretanto não especifica os antecedentes nem os resultados dele. Na voz ativa, indica que Jesus está
se dirigindo ao Pai na segunda pessoa do singular (Tu).
O autor novamente enfatiza a reverência prestada do Filho para com o Pai, ou seja, aquele
reconhece tanto a vontade como a soberania deste. O autor explicita o clamor, a súplica que o Filho
faz ao Pai. A expressão no modo imperativo também esclarece se aquilo que foi expresso se tornará
realidade ou não. Isso não significa que o Filho não soubesses a vontade do Pai, o que está em pauta
aqui é a expressão de obediência do Filho ao Pai.
Esse termo só aparece 2 vezes no Novo Testamento: Lucas 22,42; Marcos 14.36.

ποτήριον - poterion – cálice: Substantivo, acusativo, neutro, singular.


Segundo Rega, Bergmann (2004, p.70) “O substantivo no caso acusativo é quando a pessoa ou
coisa sofre a ação do verbo”. O gênero neutro nomeia fenômenos que não possuem gênero (REGA,
BERGMANN, 2004, p.71). O número no singular indica um cálice, a saber, um sofrimento.
O autor mostra que somente Jesus passaria por este sofrimento, pois na oração que o Filho faz
ao Pai, o termo aparece no caso acusativo, ou seja, o cálice aqui trata-se de sofrimento, quem
beberia este cálice? Ou melhor, Quem iria sofrer? Cristo, e somente Cristo.
O termo aparece 21 vezes no Novo Testamento: 5 vezes em Mateus, 5 em Marcos, 3 em Lucas,
1 em João, 1 Coríntios 5 vezes, Apocalipse 2 vezes. Dois textos serão apontados: Mateus 10.42;
João 18.11.

ἐμοῦ - emou – mim: Pronome pessoal, genitivo, primeira pessoa do singular.


Pronome pessoal “ de mim”, o caso no genitivo indica posse, a primeira pessoa do singular
“eu” indica de quem era o cálice.
O autor favorece a ideia de que Cristo sabia que essa missão pertencia a ele, e somente a ele. A
expressão para com o Pai externando intimidade, indica o quanto Cristo sabia dos momentos
agoniantes que se seguiriam e que ele seria o alvo central.
O termo aparece 20 vezes em Mateus, 12 em Marcos; 21 em Lucas; 27 em João; 8 em Atos; 7
em Romanos; 1 vez em 1Coríntios; 5 em 2 Coríntios; 3 em Gálatas, 1 vez Efésios; 1 em Filipenses;
4 vezes em 2 Timóteo; 1 em Tito; 1 em Filemon; 1 em Hebreus, 1 vez em 2Pedro e 16 vezes em
Apocalipse. Por se tratar de um pronome pessoal, em algumas passagens das Escrituras o termo
aparece junto a outro termo, por exemplo “τρεμουσα”. Contudo, as seguintes passagens apresentam
a mesma classificação gramatical: Marcos 7.6; João 5.46.

θέλημα – thelema – vontade: Substantivo, nominativo, neutro, singular.


O termo no substantivo indica que Cristo sabia que a vontade do Pai era importante naquele
momento, que ele sendo da mesma essência que o Pai, não poderia ir contra a vontade do Pai, pois a
vontade do Pai era também sua vontade.
O autor novamente demonstra a obediência do Filho ao Pai, bem como a natureza humana de
Cristo de recorrer ao Pai, e não somente isto, a natureza divina de Jesus é retratada quando sua
vontade parece ser a mesma que a do Pai. É fato que a vontade do Filho nunca destoou da vontade
do Pai.
O termo consta 60 vezes nos textos neotestamentários. Nos dois textos a seguir há a mesma
classificação gramatical: Mateus 6,10; 1 Coríntios 16.12.

σὸν – son – tua: pronome possessivo, nominativo, neutro, segunda pessoa do singular.
O pronome possessivo “tua” indica a quem o Filho está se dirigindo, pois o caso está no
nominativo, este responde a pergunta; “Quem é que?”
O autor destaca a submissão do Filho ao Pai. Embora a vontade deles não divergissem, a ação
do Filho nada mais é, que um modelo de obediência. Lembrando a oração ensinada aos discípulos,
Lucas 11, Jesus agora na prática os mostra que a vontade do Pai deve ser sempre a vontade de seus
filhos.
Em Mateus o termo aparece 71 vezes; Marcos 36; 62 vezes em Lucas; 27 em João; 47 em Atos;
17 em Romanos; 10 vez em 1Coríntios; 4 em 2Coríntios; 5 vezes em Gálatas; 1 em Éfesios; 2 em
Filipenses; 1 em 1Tessalonicenses; 1 em 1Timóteo; 13 em 2Timóteo; 1 em Tito; 1 em Filemon; 13 e
Hebreus ; 1 em 1Pedro; 7 vezes em 2Pedro; 1 vez em Judas; 27 em Apocalipse. O termo pode estar
acompanhado de um verbo, ou seja, pode se encontrar no meio ou no final de um verbo: σωσον -
soson . Apenas em João 18.35 o termo possui a mesma classificação gramatical, ou seja, aparece
como um pronome possessivo.

γινέσθω – ginéstho - seja feita: Verbo imperativo, presente, voz média ou passiva depoente,
terceira pessoa do singular.
O verbo no imperativo demonstra a sujeição da obediência de Cristo ao Pai, no tempo presente
indicando uma ação ainda não terminada da parte do Pai, ou seja, sua vontade estava em contínua
ação. Na voz média que a vontade do Pai seria realizada na pessoa do Filho, outra vez a divindade
de Cristo é descrita, a vontade do Pai se realizaria nele, ver o conceito quando o verbo está na voz
média “A voz média expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo, para si mesmo ou de si
mesmo” (REGA, BERGMANN, 2004, p. 30).
O autor clarifica, expressa, enfatiza a confiança que o Filho outorga ao Pai, estando verbo no
imperativo, este expressa total submissão, ou seja, faz a tua vontade Pai, isto é o que importa. O
autor mostra a disponibilidade de entrega do Filho ao que lhe estava preparado.
O termo consta 7 vezes no Novo Testamento. Os seguintes textos possuem a mesma
classificação gramatical: Atos 21.14; 1Coríntios 14.26.
. 43 [[ὤφθη δὲ αὐτῷ ἄγγελος ἀπὸ τοῦ οὐρανοῦ ἐνισχύων αὐτόν.

ὤφθη – ophte – apareceu: Verbo indicativo, aoristo, voz passiva, terceira pessoa do singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O aoristo indica uma ação do passado, porém, seu valor é
contínuo. De acorrdo com Rega e Bergmann (2004, p.30) “ A voz passiva indica que o sujeito sofre
a ação expressa pelo verbo”. Neste caso quem aparece, aparece para realizar alguma coisa. Sendo
assim, Jesus é quem sofre a ação por parte do anjo, ou seja, é confortado por ele.
A autor Lucas é o único que cita tal acontecimento, isto é, que apareceu um anjo do céu que
confortava Jesus Cristo. A passagem na bíblia encontra-se entre colchetes. O autor relata o cuidado
do Pai para com o Filho, pois os versículos que se seguem mostram os momentos de agonia que
Cristo estava enfrentando naquele momento. O consolo do anjo faz lembrar o doce consolo do
Espírito Santo para com os santos quando estes se encontram sob tentações e provações.
Por 20 vezes o termo é utilizado no Novo Testamento. Nesses dois textos não há diferença na
classificação gramatical: Marcos 9.4; 1Coríntios 15.6.

αὐτῷ - auto - ele: pronome pessoal, dativo, masculino, terceira pessoa do singular.
Este é um dos pronomes mais utilizados no Novo Testamento, portanto é necessário uma
análise cuidadosa do contexto para saber a quem esse “ele” está se referindo. Vale lembrar que em
muitas passagens o nome “Jesus” não aparece, e sim o pronome pessoal na terceira pessoa do
singular “ele”. O caso é o dativo, a definição do mesmo segundo Rega e Bergmann é “Indica a
pessoa ou coisa em quem recai o proveito ou o dano de uma ação, ideia que é expressa no português
mediante o objeto indireto ou pelas preposições a ou para. O caso responde à pergunta: “A
quem...?” ou “Para quem...?”
Tendo feito a classificação dos termos, é possível perceber a intenção do autor em responder a
pergunta “A quem o anjo está consolando?” ou “Para quem ele veio trazer consolo?” A resposta
está no pronome pessoal, a saber, “ele”. Quem é este “ele”? O contexto deixa explícito que é o
Senhor Jesus Cristo.
Em o Novo Testamento o termo aparece 1325 vezes: Mateus o termo aparece por 250 vezes;
150 em Marcos; 245 em Lucas; 178 em João; 166 em Atos; 41 em Romanos; 31 vezes em
1Coríntios; 21 em 2Coríntios; 3 em Gálatas; 15 em Efésios; 9 em Filipenses; 13 em Colossenses; 5
em 1Tessalonicenses; 3 em 2Tessalonicenses; 7 em 1Timóteo; 4 em 2Timóteo; 5 em Tito; 27 em
Hebreus; 8 em Tiago; 8 em 1Pedro; 13 em 2Pedro; 22 vezes em 1João; 2 em 2João; 1 em 1João; 5
em Judas; 93 em Apocalipse. Seguem dois textos com a mesmo sentido: Atos 16.32; Apocalipse
19.7.

ἄγγελος – aggelos - um anjo: Substantivo, nominativo, masculino, singular.


Estando o substantivo no caso nominativo, é regra que ele esteja desempenhando papel de
sujeito. O gênero é masculino, e o número está singular, isto indica que trata-se de um anjo.
O autor além de destacar o cuidado do Pai para com o Filho, também demonstra o serviço dos
anjos quanto aqueles que servem a Deus. Dessa maneira, o autor destroça qualquer teologia que
defenda a deificação dos anjos, eles não possuem outra função, a não ser a de executar as ordens do
Criador a a de servir aos santos eleitos.
O termo aparece 48 vezes no Novo Testamento. Nas seguintes referências possuem a mesma
classificação gramatical, a saber: Mateus 1.24; 2 Coríntios 12.7.

ἐνισχύων – enischuon – fortalecendo: Verbo, particípio, presente, voz ativa, nominativo,


masculino, singular.
Mais um termo de exclusividade lucana. O termo é um adjetivo verbal, isso mostra a
intensidade com o que o anjo o fortalecia, o tempo presente indica fortalecimento naquele momento
e depois, a voz ativa reitera a tese de que Jesus está sofrendo a ação, ou seja, o anjo fortalece ao
Senhor. O caso nominativo responde a pergunta “Quem está fortalecendo?”
O autor de maneira magnifica deixa evidente que Deus não abandona seus servos diante das
dificuldades. A entrega de Cristo em beber o cálice também fica evidente, o mesmo anjo que o
fortalecia poderia tirar-lhe daquela situação. Entretanto, o anjo o fortalecia para que ele continuasse
sua missão e a cumprisse. É fato que o fortalecimento do anjo ao Senhor Jesus Cristo não ficou
restrito a este episódio, uma vez que o tempo está no presente podemos afirmar que a ação foi e é
contínua.
Este termo só aparece em Lucas 22.43, ou seja, só nesta perícope.

44 καὶ γενόμενος ἐν ἀγωνίᾳ ἐκτενέστερον προσηύχετο· καὶ ἐγένετο ὁ ἱδρὼς αὐτοῦ


ὡσεὶ θρόμβοι αἵματος καταβαίνοντες ἐπὶ τὴν γῆν.]].
αγωνια – agonia
ἐκτενέστερον – ektenesteron - mais intensamente: adj, pronominal, comparativo, acusativo,
neutro, singular.
O termo é um adjetivo, de acordo com Rega e Bergmann (2004, p.313) “Da mesma forma que
no português, também no grego o adjetivo tem três graus ou níveis de comparação: o normal ou
positivo, o comparativo, e o superlativo”. Nesta perícope o termo o grau do termo é o comparativo,
por quê? Por causa da terminação τερον. O caso acusativo mostra quem é que sofre a ação do
verbo (REGA, BERGMANN, 2004, p.70).
Estamos diante de mais uma pérola única lucana. O termo enfatiza a agonia do Senhor Jesus
Cristo. O autor mostra que quanto mais aumentava a agonia de Cristo, mais ele orava intensamente.
O grau de comparação do adjetivo mostra que conforme a agonia ia aumentando mais intensamente
o Senhor orava.
Este termo é outro que só aparece nesta perícope.

προσηύχετο – proseucheto – orava: Verbo, indicativo, imperfeito, voz média ou passiva


depoente, terceira pessoa do singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O tempo está no imperfeito, ou seja, indica uma ação que foi
contínua no passado, porém já cessou, contudo o contexto determina se ação pode ser continuada,
habitual ou intermitente ((REGA, BERGMANN, 2004, p. 28). Os autores também dizem que “A
voz média expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo, para si mesmo ou de si mesmo”.
Neste caso se aplica a ação em si mesmo, ou seja, o indivíduo sofre os efeitos da ação.
O autor traz o sentido de verdade no acontecimento, e não somente isto, mostra o valor de orar
exemplificando na pessoa de Cristo. Enfatiza o contacto que o Filho estabelece com o Pai em
momentos de aflição, estando na voz passiva o termo utilizado pelo autor, fica evidente que Jesus
sofre os efeitos de sua própria ação, ou seja, ele é fortalecido ao orar intensamente.
Este termo aparece 2 vezes em Marcos e 3 vezes em Lucas. As 5 vezes que aparece nos textos
neotestamentários o termo possui a mesma classificação gramatical, duas serão mencionadas:
Marcos 1.35; Marcos 14.35
ἐγένετο – egeneto - tornou-se: Verbo, indicativo, aoristo, voz média depoente, terceira pessoa do
singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O aoristo indica uma ação do passado, porém, seu valor é
contínuo. A voz média indica que o sujeito sofre os efeitos da ação, a terceira pessoa do singular
“ele” refere-se a Cristo.
De maneira categórica o autor assegura que o suor de Cristo tornou-se em gotas de sangue, ele
destaca a intensidade da agonia do Senhor. O autor relata o momento de extrema agonia psicológica
e interior do Senhor. Sendo assim, fica evidente que Cristo sabia de tudo o que ele enfrentaria, sabia
do peso do pecado que carregaria.
O termo consta 200 vezes no Novo Testamento. Nessas duas referências possuem a
classificação gramatical: João 1.14; Atos 9.19.

ἱδρὼς – hidros – suor: Substantivo, nominativo, masculino, singular.


O substantivo no caso nominativo responde a pergunta “Quem é que?” e “O que é que?”
O autor ratifica que quem está suando é o Senhor Jesus Cristo, e de maneira concisa diz o que é
que ele está suando, a saber, sangue. O termo aparece somente no evangelho de Lucas, é fato que
como um pesquisador, Lucas não deixava os detalhes de lado, hoje a ciência sustenta que é possível
o indivíduo suar gosta de sangue quando muito angustiado ou ao fazer esforço físico extremo,
cientificamente o fenômeno é conhecido como hematidrose.
Esse termo aparece somente nesta perícope, ou seja, apenas 1 vez.

θρόμβοι – thromboi – gotas: Substantivo, nominativo, masculino, plural.


Com a mesma classificação do termo anterior, exceto no número, ou seja, este termo está no
plural. O substantivo no caso nominativo responde a pergunta “Quem é que?” e “O que é que?”
Ao relatar a intensa oração de Cristo, Lucas relata o que a agonia causa em Cristo. Mas ele não
se contenta apenas em relatar o suor que torna-se em sangue, de maneira clara o autor ratifica
“como gotas de sangue”. O fato de ele usar o termo gotas, torna o relato fidedigno, pois a
hematidrose acontece exatamente dessa maneira, ou seja, os capilares subcutâneos se dilatam e
rompem, misturando sangue com suor.
Este termo aparece somente nesta perícope.
αἵματος – haimatos - de sangue: Substantivo, genitivo, neutro, singular.
O substantivo no genitivo tem como objetivo especificar, definir e descrever com notoriedade o
fenômeno causado pela extrema agonia que Cristo enfrentava.
Típico de Lucas é relatar de maneira minuciosa os acontecimentos. O termo em análise
‘haimatos” é prova incontestável disso. Ele especifica que o que Cristo está suando é sangue, ou
seja, ele não deixa dúvidas ao leitor, a análise dos termos não deixa brechas para dúvidas quanto ao
acontecimento.
O termo aparece 29 vezes no Novo Testamento. Isto é, 4 vezes em Mateus, 2 em Marcos, 4 em
Lucas, 5 em Atos, 2 em 1Coríntios, 1 em Efésios, 1 vez em Colossenses, 7 em Hebreus, 1 vez em
1Pedro, 1 vez em 1João e 1 vez em Apocalipse. Os textos a seguir possuem a mesma classificação
gramatical: Atos 20.26; Colossenses 1.20.

καταβαίνοντες – katabainontes – descendo: Verbo, particípio, presente, voz ativa, genitivo,


neutro, singular.
Mais um termo de exclusividade lucana. O termo é um adjetivo verbal, isso mostra a
intensidade com o que o anjo o fortalecia, o tempo presente indica fortalecimento naquele momento
e depois, a voz ativa aponta o que está descendo.
O autor ao utilizar esse termo exclusivo na sua obra, e deixa evidente a extrema agonia do
Senhor resultou em não pouco suor misturado com sangue, uma vez que ele afirma que o sangue e o
suor desciam, caiam do corpo do Senhor sobre a terra.
Este termo aparece somente nesta perícope.

45 καὶ ἀναστὰς ἀπὸ τῆς προσευχῆς ἐλθὼν πρὸς τοὺς μαθητὰς εὗρεν κοιμωμένους
αὐτοὺς ἀπὸ τῆς λύπης,

ἀναστὰς – anastas - levantando-se: Verbo, particípio, aoristo, voz ativa, nominativo, masculino,
singular.
O verbo no particípio, aoristo na voz ativa, significa que Jesus realizou a ação naquele
momento, e por estar no aoristo, a ação é contínua. O caso é o nominativo, ou seja, Jesus se põe de
pé e vai até aos discípulos. Pois o caso nominativo é acompanhado da pergunta “Quem é que?”.
Exemplo: Quem é que se pôs de pé? Jesus Cristo.
O autor faz questão de narrar cada momento que ocorreu no Getsêmani, a ação de Cristo de ir
ter com os discípulos demonstra a preocupação de um mestre-líder para com os seus aprendizes,
pois a instrução de Jesus foi para que eles também orassem.
O termo aparece 27 vezes no Novo Testamento. Com a mesma classificação gramatical em:
Marcos 10.1; Atos 5.17.
κοιμωμένους – koimomenous – adormecidos: Verbo, particípio, presente, voz média ou passiva
depoente, acusativo, masculino, plural.
O termo é um adjetivo verbal, isso mostra como os discípulos estavam adormecidos, o termo
traz a ideia de tristeza e angústia, o tempo presente indica tristeza naquele momento e depois, a voz
passiva reitera a tese de que os discípulos estavam sofrendo a ação, ou seja, eles estão adormecidos.
O caso acusativo indica a coisa ou pessoa que está sofrendo a ação. Nesse caso são os discípulos.
O autor externa como os discípulos estava abatidos, tristes, desestimulados, apesar de não
terem a compreensão exata do que estava acontecendo e aconteceria. Eles estavam dormindo, pois
tamanha era a angústia, eles também estavam angustiados, não como Cristo.
O termo aparece somente uma vez no Novo Testamento, isto é, apenas na perícope em análise.

λύπης – lupes – tristeza: Substantivo, genitivo, feminino, singular.


O substantivo descreve a situação dos discípulos, por isso o caso está no genitivo. Este
substantivo abstrato, tornou-se concreto a partir do momento que eles presenciaram a dor que Cristo
estava sentindo.
O autor é categórico ao usar o termo ‘agonia” para Cristo, e “tristeza” para os discípulos, pois a
agonia era exclusiva de Cristo, pois só ele suou gosta como de sangue, já os discípulos
adormeceram.
O termo aparece 5 vezes no Novo Testamento. As duas passagens seguintes possuem a mesma
descrição gramatical: 2 Coríntios 9.7; Hebreus 12.11.

46 καὶ εἶπεν αὐτοῖς· τί καθεύδετε ἀναστάντες προσεύχεσθε, ἵνα μὴ εἰσέλθητε εἰς


πειρασμόν.
εἰσέλθητε – eiselthete – entreis: Verbo, subjuntivo, aoristo, voz ativa, segunda pessoa do plural.
O verbo no subjuntivo traz a ideia de incerteza, de acordo com Rega e Bergmann (2004, p.29)
“O subjuntivo é o modo da probabilidade, da incerteza, da dúvida, usa o subjuntivo quem fala com
hesitação, expressando um fato como possível. É também o modo que expressa desejo,
expectativa”. o tempo no aoristo indica uma ação e ordem pontilinear, isto é, ocorreu no passado,
porém ainda é válido para os dias de hoje e amanhã.
O autor enfatiza a importância de orar diante de situações delicadas, o termo em análise, indica
que era possível eles caírem em tentação, mas o termo também possui uma outra ideia, a saber, o
desejo do Senhor era que eles estivessem em oração junto a ele. Ao observar com cuidado os termos
que se seguem, ou seja, os verbos: levantai-vos e orai, entende-se que trata-se de uma ordem, pois
estão no imperativo e sentido imperativo.
O termo aparece 5 vezes em Mateus, 1 em Marcos e 4 vezes em Lucas, totalizando dez vezes.
Em lucas 10.5 e 10.10 que a classificação altera, nas demais passagens a classificação gramatical é
a mesma que na presente perícope exegetizada. Dois textos serão citados: Mateus 5.20; Marcos
6.10.
9. ESBOÇO HOMILÉTICO
TEXTO: LUCAS 22.39-46
TEMA: OS MOMENTOS DA AGONIA DE CRISTO

INTRODUÇÃO
Lucas foi o autor do terceiro evangelho, o apóstolo Paulo faz menção dele como o médico
amado. Lucas foi autor de duas obras extraordinárias, a saber, o evangelho segundo Lucas e o livro
Atos dos Apóstolos. Todas as obras das Escrituras são de fato magníficas, entretanto, o estilo
literário de Lucas demonstra a capacidade intelectual de um habilidosos pesquisador e escritor. No
início do evangelho, ele deixa pistas históricas, isto é, cita os nomes das principais autoridades da
época, isso aumenta ainda mais a credibilidade dos textos sagrados diante daqueles que tentam
negar suas verdades.
No presente texto, isto é, Lucas 22.39-46, Lucas narra os momentos de agonia que Jesus Cristo
passou antes da crucificação, alguns dos termos no original (grego) utilizados por Lucas são únicos
em todo o Novo Testamento. Os detalhes como o autor descreve os fatos são incontestáveis e
academicamente perfeitos. É exatamente no capítulo 22 do terceiro evangelho que os momentos
antes da crucificação são descritos.
Nos concentraremos nos versículos que delimitam a perícope, ou seja, do versículo 39-46.
Nesta perícope, Lucas informa o lugar onde Jesus e os discípulos estavam, as advertências do
Mestre aos discípulos, a oração profunda que o Filho faz ao Pai, a submissão como expressão de
obediência do Filho para com o Pai. Além disso ele descreve dois fatos encontrados somente no seu
evangelho: relata do anjo que apareceu para fortalecer Jesus e que o suor do Senhor tornou-se como
gotas de sangue. Lucas explicitou a fraqueza dos discípulos e o estado emocional que se
encontravam.
Os momentos da agonia de Cristo nos fornecem algumas respostas de como nos comportar em
momentos de agonia, mesmo sabendo que jamais alguém vai sentir o que Ele sentiu e passar pelo
que ele passou. Essas respostas serão expostas frente a perguntas nos tópicos abaixo. Cristo foi um
mestre excepcional, uma vez que ele ensinava, ele também praticava, seu discurso se concretizava
em suas ações. Alguém então pergunta: Como ele pôde ensinar sobre casamento se ele não era
casado? Amor não muda de significado e muito menos o perdão, a prudência será sempre
prudência, a justiça e a empatia permanecem as mesmas onde quer que sejam aplicadas, a
humildade e a sabedoria serão sempre virtudes que fazem dos seres humanos mais parecidos com o
seu Criador. Os ensinamentos de Cristo quando obedecidos, tornam qualquer casamento estável, e
não somente o casamento, seus ensinamentos organizam a sociedade.

I. Para onde Jesus foi em seus momentos de agonia, o que ele fez? 39 E saindo, foi, como era
de costume, para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram.40 Ao chegarem neste
lugar, disse-lhes: orai, para que não entreis em tentação.

a) Um lugar de tranquilidade e intimidade


O versículo 39 é auto-explicativo, Jesus foi ao lugar que costumeiramente eles frequentavam, a
saber, o monte das Oliveiras, mais precisamente no jardim Getsêmani (prensa de azeite), Este era
um lugar repleto de oliveiras, no alto da colina que fornecia a melhor vista panorâmica de
Jerusalém. Foi este lugar que ele escolheu a estar em um dos momentos mais intensos do seu
ministério, ele escolheu um lugar com características naturais e com certeza de muito silêncio, o
que proporcionava maior concentração e meditação durante as orações. A advertência que Jesus dá
aos discípulos é “orai” uma ordem no imperativo, isto significa que eles naquele exato momento
deveriam orar, não estavam indo ali como das outras vezes que oravam e descansavam, tentando
fugir das multidões por um momento. Jesus os instrui a orarem para que não entrem em tentação. O
termo “entreis” é um verbo e está no modo subjuntivo trazendo a ideia de incerteza, probabilidade,
ou seja, havia uma probabilidade de eles entrarem em tentação. O contra-ponto a esta advertência
era que se eles orassem não cairiam em tentação.
Aplicação: É saudável que nós como cristãos e que fazemos parte de uma comunidade cristã
tenhamos um lugar, no qual possamos orar coletivamente. Não precisa ser necessariamente um
jardim ou um lugar isolado, pode ser em uma casa, no prédio em que a igreja se reúne, entre outros.
A advertência que Cristo deu aos discípulos serve para nós, devemos obedecer aplicando esta
ordem. Em momentos de agonia não devemos buscar resolver as questões do nosso jeito, mas sim
recorrer a Deus sabendo que somos propensos a cair em tentação.

b) Um líder que vela pelos seus liderados


Neste momento Jesus é o exemplo aos discípulos, a confiança que eles depositavam no Senhor,
expressa que Cristo construira uma vínculo de confiança entre eles, no final do versículo 39 é
possível notar uma ação deles, isto é, o seguiram. Eles ainda não faziam ideia do que viria a seguir,
porém, o Senhor Jesus Cristo sabia de tudo, sendo assim os levou para um lugar seguro, um lugar
em que eles haviam ouvido muito de seus ensinamentos, onde haviam descansado e compartilhado
momentos de alegria.
O Filho, embora estivesse passando por aflições internas, ficou o mais próximo possível dos
discípulos, a preocupação maior de Jesus não era com ele e sim com os discípulos, ao ordenar que
orassem, Jesus estava os aproximando do Pai. Eles foram negligentes quanto a ordem, as fraquezas
nossas humanas foram expostas, porém o Deus-homem (Jesus Cristo) os fortalecia e os instruia.
Aplicação: Jesus foi um exemplo de líder eficaz, que se preocupa com seus liderados. Devemos
seguir este exemplo, pensando no outro, ajudando o outro, ensinando e fortalecendo nossos irmãos
na ora da tentação. A confiança entre os cristão deve ser um vínculo inquebrável. Vale ressaltar que
liderança não é somente o pastor ou os que ocupam cargos eclesiásticos, devemos lembrar que
todos os eleitos possuem uma função a cooperar no Reino de Deus.

II. A quem Jesus Cristo recorre no momento de angústia? Sua súplica foi ouvida? 41 E
afastou-se deles a distância de um arremesso de pedra e, de joelhos dobrados orava dizendo:
42 Pai, se queres afasta de mim este cálice, todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua
seja feita. 43Então, apareceu um anjo do céu que o fortalecia.

a) A Deus, contudo, isso não anula sua divindade.


O versículo 41 mostra a prudência de Jesus, ele se afasta dos discípulos com o objetivo de orar
ao Pai, sua posição corporal realça sua humildade, ou seja, uma posição de humilhação diante de
Deus, isso não significa que é regra orar de joelhos em momentos de agonia. O Filho recorre ao Pai,
como homem Jesus Cristo se humilha diante do Pai, um exemplo de simplicidade e humildade, bem
como de confiança em Deus e de obediência.
Infere-se que Cristo sabia de tudo que o esperava, isso externa sua Divindade. O fato de ele orar
ao Pai, não significa que ele era apenas homem como algumas heresias são apregoadas por parte de
algumas seitas. Recorrer a Deus no momento de angústia é a mais sabia das atitudes, pois nele o
homem encontra o que realmente sua alma precisa. Cristo é o único mediador entre o ser humano e
Deus, Cristo neste momento estava fazendo exatamente isso, mesmo em um momento de tensão,
ele leva os discípulos a comunhão com o Pai, de certa forma eles estavam protegidos e amados, pois
estavam com aquele que é a manifestação perfeita de Deus entre os homens, o Deus que se fez
homem, que encarnou. Nos consola que o veremos em carne no grande dia.
b) Recorrer a Deus com humildade reconhecendo sua Soberania.
Após ter se debruçado sobre o chão, ou seja, de joelhos, as palavras do Senhor Jesus Cristo são
eivadas de humildade e obediência. Ele reconhece o domínio do Pai sobre tudo e todos, os termos
utilizados denotam soberania Àquele a quem está se referindo, Cristo sabia que Deus tem domínio
do sofrimento e que ele outorga consolo àqueles que fazem dele o seu refúgio.
Outros textos das Escrituras explicitam como Deus se agrada de uma atitude humilde, o próprio
Jesus havia ensinado isso: “...porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha
será exaltado” Lucas 18.14. Jesus profere essas palavras na parábola do fariseu e publicano, esta
tem como objetivo conscientizar-nos de que somos pecadores e que diante de Deus, devemos nos
humilhar. A diferença é que nós nos humilhamos como pecadores dependentes de Deus, embora
redimidos, enquanto que Jesus Cristo se humilhou como um ato de reverência diante do Pai, ele não
orava pedindo perdão, mas sim, expressando obediência, “Pai, se queres afasta de mim este cálice,
todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua seja feita” (Lucas 22. 42).
Na primeira epístola petrina, o apóstolo enfatiza a prática da humildade “Humilhai-vos,
portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pedro 5.6).
Deus em sua soberania sabe o momento de agir em nosso favor. É necessário que o Cristão tenha
consciência plena da soberania de Deus, isto é, que nada foge do seu controle, que ele é magnífico.
Já ouvi muitos cristão orando da seguinte maneira: “Deus, que tu possas curar, libertar, salvar o
fulano”. Que tu possas? Ficaria melhor assim, Deus tu podes! Agora se ele vai realizar ou não, isso
pertence a ele.
Ratificando a afirmativa de que Deus pode, observe esse texto do jovem possesso, Marcos
9.21-24 “Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância,
respondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma
coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. Veja que o pai do garoto utiliza o verbo em hora
inadequada, a reação de Jesus demonstra que o pai do garoto não reagira da maneira devida, veja: “
Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê”. A atitude do pai do garoto
muda completamente: “E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágrimas]: Eu creio”.
Observe a diferença do clamor do leproso que fora curado, Marcos 1.40 “Aproximou-se dele
um leproso rogando-lhe, de joelhos: Se quiseres, pode purificar-me”, duas coisas há nesse homem
que Deus se agrada. A primeira, o leproso aproxima-se de joelhos, ou seja, uma posição de
humilhação. A segunda, ele é alguém que parece reconhecer a soberania do Senhor
Jesus Cristo. E isso agradou a Jesus, leia atentamente comigo: “Jesus, profundamente compadecido,
estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! No mesmo instante, lhe desapareceu a
lepra, e ficou limpo. O verbo queres antecede o pode, tendo em vista que o termo “pode” aqui tem
sentido positivo, de confiança, e não de dúvida como do texto que lemos em Marcos 9.21-24.
Aplicação: Nós como cristão devemos confiar em Deus com todas as nossas forças, tendo a plena
certeza de que ele “pode” todas as coisas. A dúvida quanto ao poder de Deus é algo que não
devemos deixar penetrar em nosso coração. Isso não significa que nossa fé manipule Deus. Ele
como soberano decide quando agir, independentemente de nossa fé. Portanto, nossa fé não deve ser
pragmática, mas uma fé genuína. Isto é, nossa confiança em Deus não deve estar atrelado ao que
somente Ele faz, mas também ao que Ele é. A confiança, a humildade e a obediência são um
triângulo pertinente na vida do cristão.

c) Deus é um Pai amoroso e reconfortante.


Ao lermos o versículo 43, vemos que um anjo é enviado com a missão de confortar Jesus
Cristo. Duas coisas são relevantes para nossa saúde espiritual nesse versículo. A primeira, é que o
texto deixa claro que Deus ouviu a oração de seu Filho, respondeu a oração que lhe fora feita. Como
um pai amoroso e cuidador, Deus envia um anjo para fortalecer seu Filho. Sendo assim, Deus é um
Pai que envia os anjos para agirem em favor de seus filhos.
Segunda, o fato de o anjo servir ao Senhor Jesus Cristo, desfaz toda a ideia daqueles que fazem
culto a anjos, que dão mais ênfase aos anjos que a Deus. Podemos ratificar essa verdade com um
outro texto bíblico, a saber, Apocalipse 19.10 “Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele,
porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho
de Jesus...”
Aplicação: Somos fortalecidos por Deus, somos reconfortados por Ele, é o Senhor quem nos
encoraja, quem nos faz perseverar. O quinto ponto do Calvinismo é a Perseverança dos Santos,
neste, os assunto é quem sofre a ação, ou seja, os santos são sustentado por uma ação de Deus, que
os faz ficar de pé, caso contrário todos estariam destinados ao eterno fogo ardente. Devemos
adoração somente a Santa Trindade. Qualquer um outro ensinamento que alegar reverência sacra a
não ser à Santa Trindade, seja considerado engodo de homem.
III. Buscar soluções e orar ou Orar e buscar soluções? 44 E estando em agonia, orava
intensamente, e o seu suor tornou-se como em gotas de sangue descendo sobre a terra.

a) A resposta inicial e final não está com os humanos.


Buscar soluções diante das circunstâncias é uma expressão de prudência, entretanto, devemos
saber por onde começar e a quem buscar. O cristão que possui uma fé genuína seguirá o exemplo do
Senhor Jesus Cristo, ou seja, em circunstâncias delicadas ou não, entende que Deus é o seu refúgio.
Não importa a intensidade da situação, sua fé permanece intacta, sem variações.
Mesmo que na ótica humana o problema não seja solucionada, o cristão deve atentar para o que
a Escritura nos diz: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos...” (Isaías 55.8),
embora Deus tenha se acomodado ao ser humano como dizia Calvino, ainda assim somos incapazes
de compreender seu agir, pois Ele é Deus, como soberano e infinito, sabe o que faz.
Jesus não estava atrás de soluções, estava sim, buscando agradar ao Pai e cumprir sua missão. A
solução não era para ele, era para nós, algo que parecia impossível ao homem, Jesus torna possível,
a saber, aproximou o homem de Deus, concedeu vida ao ser humano, e quanto aos eleitos, os livrou
da condenação eterna. Porém, tamanha era a angustia que o tomava, o peso de nossos pecados
estava nele, o nosso pecado e de todos os santos de antes e de depois. Nossos pecados de amanhã já
estavam nele, pois nos escolhera sabendo de nossas fraquezas e nos amou expressando sua terna
misericórdia.
Embora a obra salvífica de Cristo não seja universal, ou seja, nem todos serão salvos, mas
aqueles a quem ele decidiu salvar, ainda assim toda a criação goza do seu sofrimento, sua obra foi
eficiente e é eficiente para todos, contudo, no tocante a salvação apenas os eleitos gozam de sua
eficácia.

b) Orar e buscar soluções?


Sim, orar é necessário, recorrer a Deus, à sua santa palavra é ação inicial de um cristão que
procura seguir a Cristo. Nós precisamos de soluções, Jesus não precisava, Ele sabia que a solução
para o pecador estava nele e somente nele. Jesus tinha total compreensão que o sacrifício só seria
aceito pelo Pai, se fosse Ele, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ou melhor, dos
pecadores que habitam a terra.
A elucidação neste trecho das Escrituras é crucial. Não é porque somos cristãos que nossos
problemas todos serão resolvidos, solucionados, jamais. Diante de tudo isso algo nos alegra, a
condição do ser humano que parecia ser um problema impossível de resolver, foi de fato
solucionado na obra salvífica de Cristo. Portanto, devemos orar diante “...das leves e momentâneas
tribulações...” (2Cor 4.17). O problema maior do ser humano foi solucionado em Cristo, pois não há
nada que o aproxime de Deus, a não ser Cristo. O intelecto, a posição social, as amizades, as
habilidades, nada poderia aplacar a ira de Deus para com os pecadores.
Orar é confiar em Deus, a primeira coisa a ser feita pelo cristão quando angustiado deve ser
buscar o consolo no Senhor, o Espírito Santo o conduzirá. Com isso inferimos que cristão sofrem,
ficam angustiados, tristes, a até depressivos. O pecado fez isso conosco, foi por isso que a angustia
inflamou-se em Cristo, nossos pecados o colocaram na cruz, ele se doou por nossa causa.
Aplicação: Deus seja nosso refúgio primário e último, as coisas secundárias devemos sim fazer
uso, como as amizades, os profissionais da saúde, os bens materiais, e todas as outras habilidades
que a graça comum permite. Contudo, devemos sempre ter em mente que aquele que é o primeiro e
o último é nosso consolo maior e que tudo é proveniente dele, para a glória dele.

c) Intensidade do sofrimento de Cristo.


Alguém jamais sofreu pelos pecadores como Cristo sofreu, o que nos humilha é que ele sofreu
por pecadores indignos, uma expressão de amor formidável. Tamanho sofrimento o levou a suar
gotas como de sangue, isto é, seu suor misturado com sangue. Tendo em vista que a temperatura em
Jerusalém no mês de Abril é fria, ainda mais de madrugada, o suor em seu rosto mostra o quanto ele
estava tenso. O fenômeno conhecido como hematidrose (efusão de sangue pela transpiração - os
capilares subcutâneos se dilatam e rompem, misturando o sangue com o suor), é um outro fator que
comprova que ele estava tenso. A hematidrose ocorre também por angústias ou esforço físico
extremos. Quem já sofreu assim pelo outro?
Cristo foi nosso exemplo, neste momento exíguo, ele conversou com o Pai. Nós, jamais um dia
sentiremos o que ele sentiu, observe o que a tradição diz sobre Pedro: Que, preferiu ser crucificado
de cabeça para baixo do que morrer como o Mestre. Os apóstolos foram mártires, diferente de Jesus
que se doou, há uma outra diferença entre as mortes dos santos e do Santo. Jesus morreu por nós,
eles morreram como testemunhas de Cristo.
Aplicação: As tribulações que passamos não podem nos afastar de Deus, pelo contrário, se
seguirmos o exemplo do Senhor Jesus Cristo, elas nos aproximarão ainda mais do Senhor Nosso
Deus. Ore, busque, confie no Senhor que em nossas angustias nos fortalece.
IV. O que fazer para não ser engolido pelas circunstâncias da vida? 45Depois, levantando da oração,
foi aos discípulos e os encontrou adormecidos de tristeza 46e disse-lhes: Por que estais dormindo?
Levantai-vos e orai para que não entreis em tentação.
a) Um estado de desânimo e vulnerabilidade.
Ao terminar a oração, Jesus se dirigiu aos discípulos e os encontrou dormindo, a tristeza tomara
conta deles. O desânimo os entorpecera, eles estavam vulneráveis, a situação não era propícia para
que eles estivessem dormindo. Embora Jesus os tivesse avisado sobre o que aconteceria, ou seja,
que ele seria entregue nas mãos de pecadores (Lc 9.22), ainda assim não compreendiam, pois Deus
ainda não abrira o entendimento deles (Lucas 24.45). Este é um dos motivos pelo qual devemos
orar, pedir a Deus que nos abra o entendimento, que ilumine nossa mente para que entendamos as
Escrituras e a apliquemos em nosso cotidiano.
O que nos chama a atenção é que Jesus não esquece os discípulos, ele ora, conversa com o Pai,
sua gotas como de sangue, e vai até os discípulos que estão em profundo sono, vulneráveis aos
ataques que logo se iniciaria. Pedro é agressivo com o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a
orelha fora, Jesus o cura, ele não vigiou naquele momento, mesmo assim Jesus manifestou seu
poder e bondade para com Pedro e para com aquele fora até ali com o objetivo de levá-lo preso (Lc
22.50).
b) Uma ordem a ser obedecida, pois há a possibilidade de se cair em tentação.
Jesus ordena aos discípulo que fiquem de pé, vigilantes. O verbo “orai” está no imperativo, e
no tempo presente, indicando uma ordem estabelecida não somente para aquele momento, esta
ordem é para todos os cristãos, tanto para os discípulos do I século, como para os cristãos do século
XXI.
A condição para não se cair na tentação neste versículo, é obedecendo a ordem do Senhor Jesus
Cristo, observe: “orai para que não entreis em tentação”. O verbo “entreis” está no subjuntivo
trazendo a ideia de incerteza, ou seja, expressa um fato como possível, também expressa desejo,
expectativa . O tempo está no aoristo, o que significa que ocorreu no passado, porém ainda é válido
para os dias de hoje. A advertência se aplica para todos os cristãos de todas as épocas. O desejo de
Cristo é que não caiamos em tentação, por isso nos ordena que oremos. E ainda orando podemos
cair em tentação, isto se ele não velar por nós, pois o seu desejo é soberano. Precisamos estar
cônscios disso para que não atribuamos o mérito a nós.
Aplicação: Obedeçamos a ordem do Senhor Jesus Cristo, oremos, vigiemos para que não
caiamos em tentação. Nossa vida deve ser uma oração contínua ao Senhor sim, mas também é
preciso haver momentos de lágrimas e devoção diante dele. Deus nos ajude!

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Feita a análise bíblica, teológica e histórica, a oração não se ausenta de nenhuma destas três. O
texto abordado foi Lucas 22. 39-46 que narra Jesus orando no Getsêmani na companhia dos
discípulos, é neste momento que ele ordena a prática da oração. Em vários textos da bíblia seja no
Antigo ou no Novo Testamento a oração é uma prática presente no meio do povo de Deus, sendo
assim considerada como um meio de graça, isto é, uma meio pelo qual Deus abençoa seu povo e
contempla sua humilhação.
No texto abordado, a análise dos termos ratificou ainda mais a oração como um meio de graça e
uma ordem do Senhor Jesus Cristo. Um meio de graça porque a oração evita que o cristão caia em
tentação, uma vez que por meio da oração ele desfruta de uma intimidade com o Senhor, e uma
ordem porque o termo encontra-se no imperativo: “Orai para que não entreis em tentação”.
No desenrolar da história, a oração foi um meio pelo qual os homens de Deus buscavam forças
nele. Desde os pais apostólicos até os reformadores é possível notar o apreço que os homens de
Deus tinham pela oração. Os cristãos contemporâneos também consideram a oração um meio pelo
qual Deus os abençoa, fazendo assim parte da liturgia cultica. Os símbolos de fé adotados pela
igreja presbiteriana não deixaram de mencionar a oração, e deixaram ensinamentos consideráveis a
respeito da oração.
Vale lembrar que a oração na perspectiva bíblica, bem como na reformada não é mágica e
muito menos um meio de mostra soluções a Deus, ou de determinar o que ele deve fazer. A oração é
sim um meio de graça pelo qual o cristão se humilha e confessa seus pecados diante de Deus, faz
suas súplicas e Deus só respondera se assim for da sua vontade. Em nenhum momento a prática da
oração deve ofuscar ou se quer tentar obscurecer a soberania de Deus.
Nada revela mais Deus ao homem que a sua Palavra, portanto é necessário a priorização das
Escrituras Sagradas, jamais um cristão deve ater-se mais a oração do que a leitura da Palavra de
Deus, no entanto a primeira não deve ser desprezada, o equilíbrio é fundamental. Quanto aos que
não sabem ler deve ser instruídos por aqueles que sabem, portanto a educação é algo a ser
priorizado pelos ministros do Senhor. Deus nos ajude!
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