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CURSO DE TEOLOGIA
MANAUS - AM
2018
ROGEFFERSON LOPES RAMOS
MANAUS - AM
2018
Ficha catalográfica
Palavras-chave: Oração, Meio de graça, Ordem, Jesus Cristo, Igreja, Palavra de Deus, Discípulos.
ABSTRACT
Prayer as a means of grace and an order of the Lord Jesus Christ to the church is an affirmation that
aims to clarify the understanding of Christians in the practice of prayer. The thesis discusses how
prayer was part of the life of Christians and argues that long before the church of the Lord uses this
means of grace, especially those who showed total reverence to the Holy Scriptures. Although some
theologians do not consider prayer as a means of grace, they do not hesitate to acknowledge that the
church should not despise prayer, if it does, it will suffer spiritual loss. The main foundation used is
the Word of God considered as infallible and inerrant, thus emphasizing prayer as an order of the
Lord Jesus Christ in the text of Luke 22: 39-46, it is conniving that all who obey the orders of Christ
will never depreciate prayer. Jesus Christ was the great example of the exercise of prayer during his
ministry, and he did not hide the validity of prayer to his disciples, but with dedication and
application he encouraged them to lead a life of prayer.
Keywords: Prayer, Medium of grace, Order, Jesus Christ, Church, Word of God, Disciples
ÍNDICE
PREFÁCIO DO TUTOR................................................................................................................09
INTRODUÇÃO................................................................................................................................10
DESENVOLVIMENTO..................................................................................................................11
1. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NAS ESCRITURAS SAGRADAS....................................................11
2. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO FUNDAMENTADO NOS PAIS DA IGREJA...............................................................19
2.1 CRISTÃOS DOS PRIMEIROS SÉCULOS............................................................................19
2.2 POLICARPO.............................................................................................................................21
2.3 AGOSTINHO DE HIPONA.....................................................................................................22
3. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO NA PERSPECTIVA DOS PRÉ-REFORMADORES...................................................26
3.1 TOMÁS DE ÀQUINO SE UTIIZA DO PENSAMENTO DE AGOSTINHO- EMBORA
NÃO SEJA UM PRÉ-REFORMADOR.........................................................................................26
3.2 GUILHERME DE OCCAM E O CONCILIARISMO..........................................................26
3.3 OS GENUÍNOS PRÉ-REFORMADORES JOÃO WYCLIFFE..........................................27
3.4 JOHN HUSS...............................................................................................................................28
3.5 JERÔNIMO DE PRAGA.........................................................................................................29
3.6 JERÔNIMO SAVONAROLA..................................................................................................30
3.7 JOÃO WESSELUS E JOÃO DE WESSÁLIA.......................................................................30
4. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA ÓTICA DOS REFORMADORES..............................................31
4.1 MARTINHO LUTERO............................................................................................................31
4.2 ÚLRICO ZWINGLIO..............................................................................................................33
4.3 GUILHERME FAREL.............................................................................................................37
4.4 JOÃO CALVINO......................................................................................................................38
5. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA FUNDAMENTADO NOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL....................................................................................................42
Dos sete versículos desta perícope, o termo oração aparece em cinco versículos, em dois deles o
termo aparece no imperativo, o que significa que trata-se de uma ordem. Logo no início do texto,
mais precisamente no versículo 40, o Senhor Jesus Cristo verbaliza ‘orai” para que não entreis em
tentação, entretanto, no final da perícope, isto é, no versículo 46, novamente o Senhor os ordena
“orai” para que não entreis em tentação. Diante dessa ordem, fica explícito que a oração é um meio
de graça indispensável para a saúde da igreja, bem como para a sua permanência em não cair na
tentação.
O Senhor Jesus Cristo não somente ordena, como põe em pratica a sua ordem, veja o versículo
41, sua posição de humilhação (joelhos dobrados), orava ao Pai com uma expressão de submissão e
dependência, ou seja, o Deus que se humilhou a Deus. Um exemplo aos discípulos, à igreja. Se ele
(Jesus) sendo Deus orou, quanto mais a sua igreja que é composta de pecadores redimidos por ele -
Jesus Cristo - essa ação do Senhor soava como um modo de enfatizar a relevância de buscar
consolo ao Pai por meio da oração. Daí o porquê de a oração ser um meio de graça, abordaremos a
oração como um meio de graça com mais detalhes em um outro tópico deste trabalho.
Existe ainda outros textos correlatos nas Escrituras em que há a ordem explícita à igreja que
pratique a oração. Veja o que diz o texto de Lucas 6.28 “Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos
que vos caluniam.” Essa ordem expressa no evangelho de Lucas deixa visível o que um cristão deve
fazer para não cair na tentação, ou seja, em não fomentar ódio e rancor por aqueles que o caluniam,
pode-se inferir que o texto adverte que o cristão se poupe em não cair na tentação. O que ele, o
cristão, deve fazer é orar ao Pai pela vida daqueles que o caluniam, sendo assim a oração é uma
ferramenta útil que bloqueia pontes que levam a tentação.
A primeira ordem contida no versículo acima citado, é “bendizei os que vos maldizem” seguida
da ordem “orai pelos que vos caluniam”, a resposta de como bendizer aos maldizentes está pautada
na segunda ordem, isto é, orando por eles. Uma vez que Deus é rico em graça, amor, misericórdia e
perdão, é aceitável afirmar que quando o cristão ora - conversa com Deus - todas as virtudes divinas
sejam atreladas ao coração do fiel. Desta maneira, ele, o cristão, será desprovido de todas as
mazelas que o levariam a maldizer o caluniador.
O Senhor Jesus Cristo conhece o coração do homem, suas ordens são como um antídoto para
que a inclinação pecaminosa e vingativa presente no ser humano não o torne doente. As santas
Escrituras externam com veemência a pratica da oração no seio da igreja, pois é necessário para que
a mesma não se entrelace nas armadilhas do cotidiano, ver Tiago 5.16 “Confessai as vossas culpas
uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em
seus efeitos.” A eficácia da oração é presente neste versículo, entretanto, nos concentraremos na
segunda parte do versículo, em que a ordem é que os membros do corpo de Cristo, a igreja, orem
uns pelos outros. Para quê? Para serem sarados. Sarados de quê? De tudo aquilo que tem como
objetivo fazer o cristão e a igreja perderem o foco.
Voltemos ao primeiro texto bíblico citado, o de Lucas 22.39-46, após Jesus da a ordem aos seus
discípulos para orar, eles não obedeceram. O versículo 47 é enfático para descrever a atitude de
Pedro, que ao lançar mão de sua espada feriu o servo do sumo sacerdote cortando-lhe a orelha.
Obedecer a ordem expressa pelo Senhor Jesus Cristo é uma maneira de desfrutar deste meio de
graça, é uma maneira de se deliciar no que Cristo nos proporcionou, ou seja, é um meio que nos
transmite um relacionamento profícuo com o Criador através da oração. Perceba que Pedro foi
induzido a agir de uma maneira que o Senhor Jesus o repreendeu, isso não significa que legítima
defesa seja algo errado, o fato é que faltou discernimento por parte do discípulo Pedro, ele não
havia compreendido que o que estava escrito nas sagradas letras devia acontecer.
A oração não é mágica, acerca dessas minúcias tão importantes, esclareceremos com as
Confissões de Fé que possuem uma harmonia indelével e admirável. O texto de Lucas 22.39-46
explícita a situação emocional do Senhor Jesus Cristo, o que Ele faz é buscar auxílio no Pai, é
conversar com o Pai, um exemplo a ser seguido.
Nos atentaremos agora a outro texto das Escrituras que ordena aos cristãos que orem. Orai ao
Senhor; pois já bastam estes grandes trovões e a chuva de pedras. Eu vos deixarei ir, e não ficareis
mais aqui. O texto de Êxodo 9.28 é cômico e verdadeiro, pois quem dá esta ordem é Faraó, este
sabia que o Deus dos céus ouvia o seu povo, certamente os hebreus ou alguns dentre eles tinham
uma vida de oração. Moisés desfrutava deste meio de graça, os hebreus muitos dentre eles também
desfrutavam, e Faraó sabia disso, reconhecia que o transcendente também era imanente com seu
povo.
Por diversas vezes as infalíveis Escrituras vão mencionar a ordem à oração e a obediência do
povo a esta ordem, principalmente em momentos de angústia, vide Salmo 22.6 “Orai pela paz de
Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. A oração é uma expressão de reconhecimento que há
um Deus que domina tudo e todos e que não está limitado ao tempo e espaço, vide Jeremias 29.7
“Procurai pela paz da cidade para onde vos desterrei e orai ao Senhor; porque na sua paz vós tereis
paz.” Observe que o verbo procurar está no imperativo, bem como o verbo seguinte “orar”, a ideia
exposta é que a prática da procura por paz se sustenta em pedir a Deus pela paz, ou seja, por meio
da oração, do contato e da intimidade com o Senhor através da oração. Seria incoerente acreditar em
alguém ou em algo e não manter uma relação.
O apóstolo Paulo considerou relevantemente a ordem da oração, em suas cartas ele advertia à
igreja local a perseverarem na oração, a orarem uns pelos outros, por eles mesmos, e até pelo
próprio apóstolo. Escrevendo aos cristãos em Romanos 12.12 “regozijai-vos na esperança, sede
pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;” o apóstolo os ordena a se alegrarem na
esperança (volta de Cristo e redenção final), a serem pacientes nas aflições e enfatiza que eles
perseverem na oração. As palavras-chave deste versículo são: alegrem-se, esperem e orem.
Em Efésios 6.18 “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com
toda perseverança e súplica por todos os santos”, o apóstolo apenas no versículo 18 utiliza o termo
oração duas vezes e o termo orando duas vezes. O versículo finda com o apóstolo incumbindo o
cristão a orar por todos os cristãos.
E por fim citaremos um texto em que o apóstolo pede oração aos cristãos, vide 2
Tessalonicenses 3.1 “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e
seja glorificada, como também está acontecendo entre vós;” neste texto o pedido de oração do
apóstolo é a eficácia da pregação da palavra, a honra que ela merece dos ouvintes ao ser propagada.
O pedido de apoio dele por meio da oração discorre ainda em outros textos, isso significa que ele
mesmo sendo douto e habilidoso na palavra da verdade, não alijava o valor da oração. Pois ele sabia
do peso da oração em virtude de seu ministério. Vide Romanos 15.30-32:
Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente
comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que
este meu serviço em Jerusalém sejam bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de
Deus, chegue á vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.
Por diversas vezes em que o apóstolo Paulo pede oração, seu pedido está associado à eficácia
da Palavra de Deus e à aceitação do seu ministério pelos santos. Vide Colossenses 4. 2,3:
“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós,
para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo também estou
algemado; para que eu o manifeste como devo fazer.”
Já no final da primeira carta aos Tessalonicenses, capítulo 5.23 o apóstolo sucintamente pede
que os irmãos orem por eles (Paulo, Silvano e Timóteo) “Irmãos, orai, por nós.” Em Filemom 22 ele
expressa sua esperança quanto a prática da oração no meio dos irmãos, no término da carta “E, ao
mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que, por vossas orações, vos serei
restituído.”
A oração é uma ordem incontestavelmente, uma vez que por toda a Escritura ela está presente.
Até mesmo os homens mais vis reconheciam a oração como uma ferramenta do povo de Deus,
como citamos acima “Faraó”, ele sabia que Deus estava pronto a ouvir seu povo, mesmo que não
atendesse, Ele faria alguma coisa em favor de seu povo.
Os discípulos do Senhor Jesus Cristo estavam sendo preparados para serem líderes, para darem
continuidade ao que o Senhor havia ensinado, não é de se estranhar o porquê de Jesus ser exemplo
de um líder que orava pelos seus liderados. Moisés foi um líder, e manteve uma vida de oração
constante; Paulo foi líder, e nos textos acima vimos o quanto ele valorizava e reconhecia a oração.
Há alguns que tentam desconstruir a cultura da oração que foi fundamentada pelo próprio
Senhor Jesus Cristo, e não somente por ele, mais por aqueles que o sucederam e buscavam
preservar o que haviam aprendido com o Mestre. Uma das características da Igreja Primitiva era a
oração, uma virtude que fora externada por Estevão enquanto adormecia com as pedradas dos
judeus e de seus líderes religiosos, Atos 7.60 “Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor,
não lhes imputes este pecado! Com estas palavras adormeceu.” Diferentemente de Pedro, que
cortara a orelha do servo (Malco) do sumo sacerdote, Estevão não caiu em tentação no momento em
que injustamente estava sendo apedrejado, pois fora alvo de falsas testemunhas que alegaram que
ele havia blasfemado contra Deus e Moisés.
Falaremos agora sobre o dever de orar pelas autoridades, uma ordem que é responsabilidade de
todo cristão. Pois este crer ou deveria crer, que o Reino de Deus é agora e ainda não. Ao obedecer
esta ordem contida nas Escrituras, o cristão expressa compromisso com sua nação, bem como para
com os cidadãos que a compõe. Embora,o apóstolo sofresse perseguição por parte da maioria das
autoridades, e isto por causa do evangelho, ele instrui Timóteo a orar por todos os homens, inclusive
pelas autoridades, vide 1 Timóteo 2.1,3: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de
súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e
de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com
toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.”
No versículo 1, a princípio há um tom de compromisso com a criação, a saber, com os humanos
que são criados à imagem e semelhança de Deus. O apóstolo é categórico quando encoraja a
Timóteo que faça orações por “todos os homens”, certamente neste versículo está contido o amor
pelo próximo, a importância que o cristão deve dar ao seu semelhante, depois ele enfaticamente o
encoraja para que ore “inclusive pelo chefe de Estado (monarca) e por todos que são acometidos de
autoridade.
A consequência da oração, súplica, intercessões e ações de graças, são atitudes todas voltadas à
igreja, ou seja, ao relacionamento para com Deus. Observe, que há uma consequência da relação
Igreja-Deus refletida em toda a humanidade. “Para que vivamos vida tranquila e mansa...”, diante
desse encorajamento, Paulo está enaltecendo e transmitindo à igreja o domínio supremo de Cristo.
Infere-se que todas as autoridades estão sob o domínio do Senhor, é óbvio que isso não anula a
responsabilidade de cumprirem com o seu ofício. O notório nesse versículo é a valorização dada à
oração pelo apóstolo, não se trata apenas de o cristão ter boa conduta, mas também de interceder
por aqueles que julgam as condutas.
No início do primeiro versículo do capítulo abordado consta “...exorto que se use a prática...”,
no capítulo anterior ele enfatiza ao cristão que tenha boa consciência, evidentemente um cristão de
boa consciência não irá infringir a imposição das autoridades, a não ser que estas contrariem a
palavra de Deus. Se o cristão não infringe as leis, ele está contribuindo para uma sociedade mais
parecida com o seu Criador, porém isso não é suficiente, uma vez que o cristão precisa orar a Deus
por todos os homens, ele só gozará de uma vida tranquila fazendo o que a santa Escritura ordena em
1 Timóteo 2.1-2 “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões,
ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham
investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.
“Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” No versículo 3 Paulo ratifica que essa
prática é boa e aceitável diante de Deus nosso Salvador, se há a aprovação de Deus é porque todas
essas práticas são saudáveis não somente à igreja, mas a todos os homens. Não poderíamos falar das
autoridades e não clarificar no que consiste suas obrigações, vide Romanos 13.1-7:
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste a
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmo condenação. Porque os magistrados não são para
temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de
consciência. Por esse motivo, também pagas tributos, porque são ministros de Deus, atendendo,
constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto,
imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.
Ao falar dos magistrados João Calvino não deixa de mencionar o texto que Paulo escreveu a
Timóteo, a saber, que na reunião pública não deixassem de orar pelos reis, pois traria uma
consequência profícua à Igreja. Depois, Calvino externa a validade dos magistrados e se porventura
estes não responderem ao seus ofício honestamente para o bem do povo, certamente prestarão
contas com o Senhor, o juízo de Deus virá sobre eles. Poderíamos mencionar aqui que o mesmo
Calvino diz que se o magistrado civil não responder ao seu ofício o povo deve resisti-lo:
E como até aqui temos descrito o magistrado tal como deve ser, que verdadeiramente corresponda a seu título,
isto é, um pai da pátria e, como diz o poeta, pastor do povo, guardião da paz, defensor da justiça, vindicador
da inocência, com toda razão será tido por aquele a quem não se aprove tal governo. Mas, como de ordinário
acontece que a maioria dos príncipes anda bem longe do verdadeiro caminho; e, como este é o exemplo de
quase todas as eras, que uns dentre os príncipes, sem preocupar-se por nada de seu dever, se espojam em seus
prazeres e deleites, outros, dominados pela avareza, põem à venda todas as leis, privilégios, direitos, juízos;
outros saqueiam ao povo pobre, que, depois, esbanjam em insanas liberalidades; Outros, pilhando os lares,
“violando matronas e, matando inocentes, cometem meros assaltos; esses, porém, não é fácil ser reconhecidos
por príncipes, a cujo mando, até onde é possível, se lhes deve obedecer sem questionar. (CAP. XX; p.6).
Estes que receberam tal incumbência de zelar pela ordem social, caso não venham a comportar-
se devem ser respeitados e reconhecidos até onde seja possível, caso contrário todos quantos os
apoiam são coniventes com sua práticas. Dessarte, a Igreja tem um dever de constantemente orar
por esses a quem Deus lhes conferiu tal autoridade.
Sendo a oração um meio de graça que Deus concedeu ao seu povo, este dever ser exercitado
pelo corpo de Cristo, a fim de conseguir paz entre os homens e assim desfrutar de uma vida
tranquila perante a sociedade constituída. Todas essas citações contidas nas Escrituras e em
documentos de valia à Igreja devem ser usados como respaldo à pratica da oração entre os santos.
Aqueles que alijam tal ordenança, caem no desuso deste meio de graça proveitoso para o avanço e
eficácia do Reino de Deus entre os homens.
Este meio de graça pautado em toda a palavra de Deus, tem como objetivo aproximar o homem
caído de seu Criador, uma vez que Cristo padeceu por seus santos concedendo-lhes o privilégio de
estarem mais próximos de seu Senhor. Não obstante os cristãos devem ser cônscios de tal privilégio,
e assim praticarem com veemência a oração como um meio de graça, isto é, orando uns pelos
outros, pelas autoridades, pelos obreiros e por todos os homens.
No princípio o homem gozava de uma perfeita intimidade com o Senhor, tanto é que ao cair da
tarde o Senhor ia até o homem. Contudo, após a queda essa intimidade foi bloqueada pelo pecado,
mas ainda assim, Deus manifestou sua terna misericórdia externada em seu plano eterno e
redentivo, com a intenção de aproximar novamente a obra de suas mãos para junto dele. Cristo é o
centro de toda essa intimidade a ser resgatada, isso explica o porquê dele ordenar a prática da
oração entre os santos.
Os salvos do Antigo Testamento anunciavam e aguardavam a encarnação de Deus entre os
homens, e por meio da oração eram consolados e direcionados pelo Senhor Deus. Vide Daniel 6.10:
“Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu
quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e
orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.” Mesmo estando exilado, este
Daniel cria nas promessas do Senhor, e por meio da oração dava graças ao seu Deus, como também
buscava ser fiel ao seu Deus, embora os homens soubessem de sua lealdade para com os reis da
babilônia, neste caso ele preferiu honrar ao Senhor, valorizando e praticando a oração.
Deus por sua vez se manifestou guardando Daniel das ciladas que os inimigos haviam prepara a
ele. Com Daniel na cova dos leões, Deus manifestou sua misericórdia e engrandeceu seu nome
através da vida de Daniel, o Senhor mostrou que domina os animais e até mesmo a fome dessas
criaturas. Os reis compreenderam que não se pode bloquear a intimidade entre Deus e seus servos,
mesmo diante de ameaças de morte.
No Novo Testamento, na pessoa do Senhor Jesus Cristo, a prática da oração foi ainda mais
enfatizada, a fim de que aqueles que gozam da doce graça do Senhor possam estar confiantes em
seu Deus. O texto de Lucas 22.39-46 citado acima mostra o que o Senhor Jesus fez no momento de
extrema agonia, orou ao Pai.
A oração é um ato de fé, pois se o cristão não acreditar que há um Deus com os seus ouvidos
abertos e com suas mãos estendidas para abençoá-lo de que adiantaria ele orar? Os pecados
bloqueiam a oração, sim. Ver Isaías 59.1,2 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que
não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não
vos ouça.” Contudo, graças damos ao Senhor Jesus Cristo que nos purificou de todo pecado e que
advoga em nosso favor, vide 1João 2.1,2 “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a
propiciação pelos nosso pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo
inteiro.”
João não limita o perdão do Senhor a uma área geográfica, mas onde se encontrar um cristão lá
estará o perdão do Senhor. Sendo assim, os cristãos do mundo inteiro podem orar ao Senhor, o
apóstolo ratifica essa verdade no versículo nove do capítulo um de sua primeira carta “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecado e nos purificar de toda
injustiça.” João prossegue explicitando a necessidade do cristão orar humilhantemente diante do
Senhor, pois todos necessitam de seu perdão diariamente, mesmo sendo cristão, versículo 10 “Se
dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”
A oração é tanto uma ordem como um meio de graça, portanto, deve ser exercitada pelo povo
de Deus, para que os cristãos gozem de uma vida tranquila mesmo em meio ao caos em que o
mundo se encontra, pois é bem verdade que o Príncipe da paz concederá paz abundante ao seu
povo, “Deixo-vos a paz, a minha paz eu vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o
vosso coração nem se atemorize” (João 14.27). Em João 17 na oração sacerdotal, Jesus roga pelos
discípulos, um exemplo a ser seguido, é fato que todo bom pastor rogará ao Senhor Jesus Cristo por
suas ovelhas.
Lembremos também que Jesus rogou por Pedro, “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece a teus irmãos” (Lucas 22.32). Parafraseando a
fala do Senhor Jesus Cristo: Eu, porém, roguei por ti, para que te fortalecer, quando tu assim te
encontrares, ora também para que teus irmãos sejam fortalecidos. A ação é sempre do Senhor, se o
cristão ora a Deus, é porque Deus produziu tal fé no coração dele.
Poderíamos escrever ainda muitas páginas sobre o valor da oração nas santas Escrituras, porém
nos deteremos a seguir em outros documentos que fundamentam a oração como um meio de graça e
algo a ser praticado pelo corpo de Cristo.
2. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO FUNDAMENTADO NOS PAIS DA IGREJA.
Tertuliano via a oração como um instrumento dos cristãos, ele insistia que os cristãos fossem
leais aos imperadores, que não fossem desordeiros, mas que orassem pelo bem do Estado. Ele
acreditava corretamente que se o Estado gozasse de tranquilidade, a Igreja também gozaria. A época
em que escreveu Apologia, 197 d.C, contestou as autoridades que perseguiam o cristianismo, nem
por isso concordava com aqueles que arregimentavam rebeldia. O equilíbrio entre obediência a
Deus e Estado é algo de suma importância para a progresso do Reino de Deus entre os homens.
Tertuliano ratifica a oração como prática entre os cristãos:
Outra e maior necessidade compele-nos a orar pelos imperadores e, consequentemente, pelo Estado e pelos
interesses romanos. Sabemos que somente a continuidade do império adiará a revolução em marcha sobre o
mundo, a ruína das estrutura com seu espantoso séquito de pesares. Livre-nos Deus destas calamidades!
Assim, cada vez que oramos pela suspensão das ameaças , trabalhamos para a estabilidade de Roma... Nos
imperadores reverenciamos o próprio juízo de Deus que é quem os prepôs às nações... (Tertuliano,
Apologia, XXXII apud BETTENSON, 1983 p. 34).
O pensamento de Tertuliano não difere do pensamento do apóstolo Paulo, isto é, deve haver
harmonia entre a Igreja e o Estado. Assim como o apóstolo Paulo alegou que as autoridades foram
constituídas por Deus para a aplicação da Lei, vide Romanos 13.4 “...porque não é sem motivo que
ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.” Do mesmo
modo Tertuliano compreendia que as autoridades foram constituídas para efetuar o juízo e Deus
sobre os homens. Como citamos acima Calvino pensava da mesma maneira “em um ofício
santíssimo, visto que, de fato, a desempenham por delegação de Deus.” (INSTITUTAS, LIVRO IV,
CAP.XX)
Sendo assim, as Escrituras, Tertuliano e Calvino estão de comum acordo que as autoridades são
constituídas por Deus, e que os cristãos devem orar por elas. Observe que todo pensamento correto
deve está pautado nas santas Escrituras, todas as afirmações relacionadas à Igreja devem satisfação
à Palavra de Deus. Nas citações em que Tertuliano fora mencionado é visível a importância que ele
dá as referências bíblicas.
2.2 POLICARPO
Uma outra figura que muito contribuiu para o cristianismo foi Policarpo de Esmirna, nasceu
no primeiro século e supostamente foi discípulo de João, “Pç um dos três mais próximos de Jesus.
Tiago, Pedro e João sempre estavam presentes em eventos únicos com o Senhor Jesus Cristo, como
a ressurreição da filha de Jairo, bem como no monte da transfiguração. Em Gálatas 2.9 Paulo os
chama de as colunas da Igreja, “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as
colunas...” Policarpo recebera instrução direta de João, portanto era um bispo confiável.
No documento conhecido como O martírio de Policarpo, bispo de Esmirna, 155 Do Martytium
Polycarpi [Carta da Igreja de Esmirna; o primeiro martirológio] em um determina trecho conta qual
foi o pedido do bispo quando estava sendo levado ao destino que as autoridades haviam
determinado, ele se recusava a adorar e sacrificar aos deuses, bem como a prestar culto ao
Imperador.
...Não solicitou outra recompensa, senão uma hora para livremente orar, que lhe foi
concedida. Começou a orar, de pé, como um homem cheio da graça divina. Durante duas
horas, incontivelmente, perseverou orando em voz alta. Todos olhavam para ele
estupefatos; muitos lamentavam-se por aprisionarem ancião tão divino.
Terminada sua oração, na qual mencionara a todos, humildes e grandes, ricos e pobres,
familiares e amigos, toda a Igreja universal... ( Do Martyrium Polycarpi,VII, apud,
BETTENSON, 1983, p.37)
De acordo com Roger Olson (2001, p.50) este documento influenciou o culto aos mártires e não
tem relevância teológica. Entretanto, o que nos chama a atenção neste documento e possivelmente
escrito por uma testemunha ocular, é que Policarpo orou por pelo menos duas horas
incessantemente em voz alta. Não é de se estranhar que João tenha muitas vezes falado aos ouvidos
deste bispo o quanto Jesus orara no momento em que estava para ser entregue nas mãos dos
carrascos religiosos com sua comitiva militar. Policarpo não fizera diferente, rumo à morte, ele
preferiu orar ao Senhor e não se recusou em honrá-lo.
As mesmas palavras que o Senhor Jesus Cristo proferiu no Getsêmani, a saber, “todavia, não se
faça a minha vontade, mas a tua” Lucas 22.32. Compare com o relato do documento:
Assim levando consigo o jovem escravo, numa sexta-feira, na hora a ceia, policiais a pé e
outros montados empreenderam a marcha armados dos pés à cabeça como se fossem contra
ladrões. Entrada, já a noite, chegaram à casa onde se escondia Policarpo. Este, deitado num
quarto do andar superior, teria podido retirar-se para outra fazenda, mas não o quis,
declarando apenas: “Seja feita a vontade de Deus! ” Tendo ouvido à voz dos policiais,
desceu entrou em conversação com eles. Sua grande idade e calma causaram admiração:
não compreendiam que se fizesse tanto alarde para prender um homem tão velho ( Do
Martyrium Polycarpi,VII, apud, BETTENSON, 1983, p.37).
Policarpo entendera que a vontade de Deus estava conduzindo-o ao martírio. Somente Deus
pode produzir tamanha fé no coração do cristão para que ele não tenha medo, mesmo sabendo que
fogueira e espadas o esperam. Policarpo foi um dos pais apostólicos que fizera uso deste meio de
graça, da oração. Foi obediente à ordem do Senhor Jesus Cristo, pois não caiu em tentação, em
desespero, não foi tomado de pavor, mesmo diante do calafrio da morte.
Agostinho reconhece a utilidade da oração e faz menção da oração modelo ensinada pelo
Senhor Jesus Cristo, vide Mateus 6.13. Ele afirma que o auxílio que recebemos de Deus é mediante
a oração, é fato que os cristãos oram a fim de receber assistência de Deus, seja uma orientação,
fortalecimento, paz, alegria, intercessão ou agradecendo. De alguma forma o cristão é assistido por
Deus quando pratica a oração. O trecho das Escrituras citado por Agostinho “não nos deixes cair em
tentação” é prova incontestável de que o cristão deve pedir a Deus que o mantenha de pé, isto é, que
não o deixe ser seduzido pelas tentações, uma vez que o homem é herdeiro do pecado, somente o
Santo Senhor pode livrá-lo de ser seduzido pelas tentações.
Súplica Quem me dera descansar em ti! Quem me dera que viesses a meu coração e que o
embriagasses, para que eu me esqueça de minhas maldades e me abrace contigo, meu único
bem! Que és para mim? Tem piedade de mim, para que eu possa falar. E que sou eu para ti,
para que me ordenes amar-te e, se não o fizer, irar-te contra mim, ameaçando-me com
terríveis castigos? Acaso é pequeno o castigo de não te amar? Ai de mim! Dize-me por tuas
misericórdias, meu Senhor e meu Deus, que és para mim? Dize a minha alma: Eu sou a tua
salvação. Que eu ouça e siga essa voz e te alcance. Não queiras esconder-me teu rosto.
Morra eu para que possa vê-lo para não morrer eternamente. Estreita é a casa de minha
alma para que venhas até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas; restaura-a. Há nela
nódoas que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém, quem haverá de purificá-
la? A quem clamarei senão a ti? Livra-me, Senhor, dos pecados ocultos, e perdoa a teu
servo os alheios! Creio, e por isso falo. Tu o sabes, Senhor. Acaso não confessei diante de ti
meus delitos contra mim, ó meu Deus? E não me perdoaste a impiedade de meu coração?
Não quero contender em juízos contigo, que és a verdade, e não quero enganar-me a mim
mesmo, para que não se engane a si mesma minha iniqüidade. Não quero contender em
juízos contigo, porque, se dás atenção às iniqüidades, Senhor, quem, Senhor, subsistirá?
(AGOSTINHO. CONFISSÕES, CAPÍTULO V)
Agostinho de Hipona escrevera uma obra em forma de oração, se humilhando diante do
Senhor e reconhecendo sua (Agostinho) pecaminosidade. Através da oração, o cristão expressa sua
humildade, dependência de Deus. É alguém que compreende que precisa do auxílio de Deus, e
justamente por amar as Escrituras aprecia a oração como um meio que Deus utiliza para abençoar
seu povo. É orando que o cristão clama por perdão de pecados, é na oração que o cristão reconhece
que através de Cristo é possível ter acesso direto ao trono de Deus. Orar é reconhecer a herança que
Adão deixou à humanidade, porém sem esquecer que através do segundo Adão (Jesus Cristo) a
humanidade possui uma nova herança, a saber, o Senhor Jesus Cristo. Os salvos do Antigo
Testamento esperavam o Cristo encarnado, os salvos do Novo Testamento conviveram com o Cristo
encarnado, e os posteriores o aguardam com grande alegria. Ver o que Agostinho escreveu acerca da
oração, como ela nos compeli a nos humilhar diante do Senhor:
8. Se alguém disser que os santos, orando a oração dominical “perdoa-nos nossas dívidas”,
não oram em seu próprio favor, pois lhes é desnecessária tal petição, mas a favor dos
pecadores do rebanho de Deus,... e por esta razão não dizem singularmente “perdoa-me
minhas dívidas”, mas no plural “perdoa-nos nossas dívidas”, - indício claro que não é para
si que oram, mas para os demais – seja anátema (MANSI, III.811 apud BETTENSON,
1983, p.95).
Embora o cristão profira – perdoa-nos nossas dívidas – ele está rogando não somente pelos
outros, mas principalmente por ele, está confessando que é um pecador, a não ser que rejeite o
pecado original, como fazia Pelágio.
Toda as coisas, boas e más, que nos tornam dignos de louvor ou de censura, são feitas por
nós e não nascidos conosco. Não temos nascido completamente desenvolvidos, mas
capacitados para o bem e para o mal; fomos tanto concebidos tanto sem virtude como sem
vício e, antes da atividade de nossa vontade pessoal, nada há em nós exceto aquilo que
Deus depositou em nós. (PELÁGIO e o pecado original Pro. Lib. Arbítrio, ap.
AGOSTINHO. De pecato originali, 14 apud BETTENSON, 1983, p.88)
Na citação acima, é visível que Pelágio concordaria com o influente filósofo do Iluminismo
Jean Jaques Rousseau, século XVIII. Este afirmava que o homem nascera bom, a sociedade que o
corrompe. Sem sombra de dúvidas Rousseau concordou com Pelágio, o que já era de se esperar,
pois Pelágio procurou centralizar o homem, com o iluminismo não foi diferente.
Lembremo-nos da oração do fariseu e do publicano parábola contada pelo Senhor Jesus
Cristo. Vide Lucas 18.9-14:
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem
justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com propósito de orar:
um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta
forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos
e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os
olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos
que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será
humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
O publicano reconheceu sua natureza caída, humilhou-se diante de Deus, rogou por
misericórdia e foi justificado. Embora o fariseu fizesse o que as Escrituras aprovam, contudo, ele
estava pautado na sua santidade, não reconhecendo que as boas obras nos são auxiliadas por Deus,
ele esqueceu-se da herança que Adão lhe deixou, ou melhor, nos deixou.
Sendo assim, todas as afirmações que Agostinho fizera e que citamos acima tem fundamento
nos ensinamentos do Senhor. Quando oramos, seja por nós ou em favor dos outros, não devemos
esquecer que somos pecadores se dirigindo ao Criador, Santo e sublime Deus. Agostinho ratifica
“Se alguém disser que os santos dizem “Perdoa-nos nossa dívidas” puramente por humildade, não
expressando a verdade, seja anátema.”
A humildade precisa estar adornada de verdade, caso contrário o cristão estará cometendo um
grave delito diante de Deus, do qual é impossível seconder algo. O termo utilizado por Agostinho
àqueles que recitam a oração dominical apenas como uma ato de humildade, não crendo que é
pecador, é – seja amaldiçoado, condenado.
À quem acredite e defenda que não é mais necessário fazer orações, que esse tipo de atitude
transmite a ideia de ascetismo, geralmente alegam que o anseio pelas Escrituras é suficiente. No
entanto, é de esperar que aquele que anseia pelas escrituras obedeça as ordens nela contidas. Talvez
seja por isso que os eruditos do primeiro século e dos posteriores, tenham dado tanto importância à
oração.
Por que não citarmos o martírio do apóstolo Tiago? Que também orou por aqueles que lhe aos
poucos lhe tiravam a vida.
E começaram a apedrejá-lo, visto não ter morrido logo que caiu no chão, mas ele virando-
se ajoelhou-se dizendo: “Eu te rogo, ó Senhor Deus e Pai, que lhes perdoe, porque não
sabem o que fazem”.
Assim pois o estavam apedrejando, quando um dos sacerdotes dos filhos de Recabe, sendo
ele mesmo filho dos recabitas de quem o profeta Jeremias fala, gritou dizendo: “Mais o que
fazeis? O justo está orando por vós”. E então um deles que era lavandeiro bateu na cabeça
de Justo com o pau com que constumava bater roupa. Deste modo ele sofreu o martírio, e
enterraram-no perto do templo, do mesmo sítio onde a pedra do seu túmulo ainda hoje
existe (KNIGHT e ANGLIN, 1983, p.12,13).
De fato, a oração fora utilizada pelos cristãos quando se encontravam próximo de testemunhar
com a vida o nome do Senhor Jesus Cristo. Não é demais afirmar que ainda hoje, nos países que são
resistentes ao evangelho, cristãos que oram em momentos de perseguição e morte. Embora, a
oração deva ser praticada em todas as ocasiões.
O apóstolo Tiago era querido pelo povo, pois vivia de maneira simples e procurava velar pelos
desfavorecidos. Ver Kinight e Anglini, (1983, p.11) “Hegesipo, um escritor do II século, faz
algumas referências interessantes sobre o apóstolo Tiago, que acabou a sua carreira durante esse
período, e fornece um detalhado relatório do seu martírio, que podemos inserir aqui.” O historiador
relata como Tiago era um homem de oração.
Consta que o apóstolo tinha o nome de Oblias, que significava justiça e proteção, devido à
sua grande piedade e dedicação pelo povo. Também se refere aos seus costumes austeros,
que sem dúvida contribuíram para aumentar a sua fama entre o povo. Ele não bebia bebidas
alcoólicas de qualidade alguma, nem tampouco comia carne. Só ele licença de entrar no
santuário. Nunca vestiu roupa de lã, mas vestia-se somente de linho. Tinha o costume de
entrar no templo sozinho, e muitas vezes se encontrava de joelhos, intercedendo pelos
pecados do povo, a ponto de seus joelhos chegarem a ficar duros como os de um camelo,
em consequência das suas constantes orações a Deus (HEGESIPO apud KINIGHT e
ANGLINI, 1983, p.12,13).
O historiador Hegesipo que viveu no segundo século, registrou os atos de Tiago, é de se
imaginar que os cristãos sabiam de tudo isso, fosse por meio das obras ou através da tradição oral.
Sendo assim, é certo que homens com uma vida de oração como Tiago serviam de exemplo para os
demais.
Já mencionamos como as Escrituras e cristãos dos primeiros séculos ratificam a oração como
um meio de graça e uma ordem estabelecida pelo Senhor Jesus Cristo. Agora daremos um salto, a
fim de saber como os pré-reformadores compreendiam a oração.
3. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO NA PERSPECTIVA DOS PRÉ-REFORMADORES
A maneira como Wycliffe exclama “Confiemos na ajuda de Cristo”, parece ser de alguém de
que de fato conhece o Senhor, a certeza com que pronunciou. Ele não temia fazer acusações ao
papa, e em chamá-lo de Anticristo, é óbvio que essas acusações eram merecidas, pois Wycliffe não
era conivente com as más obras do clero, isso explica porque ele foi excomungado mesmo depois
de morto. Vide, Roger Olson (2001, p.380) “...foi condenado como herege e oficialmente
excomungado pelo Concílio de Constança em 1415...” Depois de morto foi considerado herege e foi
excomungado, morreu no ano de 1384. Olson continua “Os restos mortais de Wycliffe foram
exumados, queimados e jogados no rio Swift pelo bispo de Lincoln em 1428.”
Nesse momento haviam dois papas, a saber, Urbano VI e Roberto conde de Genebra que
estabeleceu sua residência em Avignon, vide Knight e Anglin (1983). A coragem de Wycliffe de
enfrentar essas autoridades só pode ter sido proveniente de Deus, pois foi este que levantou outras
autoridades para o apoiar, dentre eles, a família real. Quando foi convidado a comparecer diante dos
bispos para se defender das suas afirmações contrarias a doutrina católica, foi a rainha-mãe quem o
defendeu firmemente, ver Olson (1983, p.380). Combateu a autoridade papal e seus abusos, bem
como a doutrina da transubstanciação.
Os cânticos proferidos por esses homens eram adornados de confiança no Senhor, que produzia
tamanha coragem e tirava-lhes o medo da morte, bem como das torturas e injúrias. A oração e o
louvor sempre estiveram presentes na vida dos homens de Deus. Os salmos demonstram isso,
cantavam após as vitórias, cantavam quando estavam angustiados; oravam quando queriam alcançar
algo e oravam quando recebiam algo do Senhor. Os pré-reformadores seguiram o exemplo dos
homens que as Escrituras mencionam, não foi diferente com os reformadores, a estes nos deteremos
no próximo tópico.
4. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA ÓTICA DOS REFORMADORES
É perceptível que após um período de oração, Lutero fora fortalecido pelo Senhor. Confiou em
Deus, que o livrou de todos os que buscavam sua morte. A oração de fato servia como um meio de
graça, ou seja, os homens recebiam o que não mereciam. Através da oração Deus abençoou e
abençoa seu povo, embora Lutero fosse o homem das letras, tanto é que traduziu a Bíblia para o
alemão, ele era um também um homem de oração. Como já falamos anteriormente, o homem que
ama e obedece a palavra de Deus, certamente não desprezará a oração, pois as Escrituras ordenam
aos cristão que orem. “Segundo Lutero, se Deus deve ser conhecido de alguma maneira, ele mesmo
precisa se revelar. Portanto, a base de todo conhecimento genuíno a respeito de Deus só pode ser a
autorrevelação mediante sua Palavra e seu Espírito.” (OLSON, 2001, p. 409).
Lutero não se restringia em demonstra seu apreço pelas Escrituras , embora alguns o considere
contraditório em suas afirmações.
A abordagem de Lutero à Bíblia era um pouco ambígua e até paradoxal. Alguns críticos
diriam que é um exemplar perfeito de sua tendência à inconsistência ou mesmo à
contradição total. De um lado, contra a equiparação das autoridades da tradição e das
Escrituras feitas pelos católicos, ele colocou a Bíblia em um plano mais alto e insistiu que
nenhuma pessoa ou igreja tinha o direito de julgar as Escrituras. Em algumas ocasiões em
seus escritos, ele de fato equiparou a Bíblia com a Palavra de Deus e condenou todas as
críticas que lhe foram feitas e sua subordinação à autoridade da igreja. Referiu-se à Bíblia
como “a rainha” e declarou: “essa rainha deve reinar e todos devem obedecer-lhe e se
subordinar a ela. O papa, Lutero, Agostinho, Paulo, e mesmo os anjos do céu não devem ser
senhores, juízes ou árbitros, mas apenas testemunhas, discípulos e confessores das
Escrituras”. De outro lado, Lutero também foi capaz de declarar de modo bastante
inequívoco que nem tudo nas Escrituras tem igual valor e, sem cerimônia, depreciou alguns
livros da Bíblia afirmando que tinham pouco ou nenhum valor para a alma. (OLSON, 2001,
p.411).
Fica explícito na fala de Lutero que sua crítica estava embasada no mal uso que o papa e seus
clérigos faziam das Escrituras, utilizavam alguns livros para apoiar sua ganância e domínio sobre os
demais. Embora ele tenha se referido a Epístola de Tiago como não tendo nenhum valor, foi
categórico em dizer o porquê: “... a respeito da qual Lutero escreveu: ‘Fora com Tiago. [...] Ele não
tem autoridade suficiente para me fazer abandonar a doutrina da fé e desviar a autoridade dos
demais apóstolos e da Bíblia inteira’. (OLSON, 2001, p. 411)”.
Assim Lutero crente na Soberania de Deus, não se desvirtuou dela, isto é, acabou por
considerar a Epístola de Tiago, pois ela permaneceu no cânon. O contexto em que ele se encontrava
exigia tal posição. Deus na sua soberania, dirigiu o reformador e hoje temos a perfeita interpretação
da Epístola de Tiago, que contradiz as afirmativas da qual o papa e os clérigos faziam uso, ou seja,
as obras não expressam nossa fé, e sim a fé verdadeira que expressam nossas obras. Sendo assim, as
obras apenas são evidências da fé viva que Cristo gera no coração do cristão.
O fato é que Lutero foi um homem que amou as Escrituras e que buscava mostrar aos homens
seu verdadeiro significado. Lutero foi um homem que fez uso da oração, como citamos acima,
quando esteve diante do imperador Carlo V na corte imperial, na cidade de Worms. Teve o apoio do
princípe Frederico, o Sábio da Saxônia, com certeza essa providência foi de Deus, caso contrário,
Lutero seria mais um defunto herege condenado pela igreja católica. Os momentos que ele dedicara
a oração contribuiu muito para a continuação da reforma. Que bem sabemos, tratou-se de uma
magnífica de Deus.
4.2 ÚLRICO ZWINGLIO
Falaremos agora de Úlrico Zwinglio que atribuiu às Escrituras a honra devida, sem titubear na
autoridade total da Bíblia, sem fazer distinção do que é e do que não é importante, porém
considerou relevante tudo que está registrado nas santas Escrituras, não fez distinção entre o livro e
a Palavra de Deus como fizera Lutero.
Zwinglio, por outro lado, praticamente identificava a Bíblia inteira como Palavra de Deus.
Com Zwinglio e com a teologia reformada, a Bíblia assumiu condição privilegiada que
Lutero não lhe atribuía. Lutero fazia clara distinção entre o livro e a Palavra de Deus
dirigida a nós. Zwinglio não reconhecia nenhum cânon dentro do cânon e se recusava a
colocar uma parte das Escrituras acima de qualquer outra. Da mesma forma que Lutero, no
entanto, Zwinglio enfatizava que o poder e a clareza das Escrituras provêm do Espírito
Santo. (OLSON, 2001, p.427).
O texto acima mostra o quanto Zwinglio apreciava as Escrituras, o zelo que ele atribuía a
Palavra de Deus é suficiente para inferir que ele não abria mão da ordem contida nas Escrituras, a
saber, a ordem de o cristão ter uma vida de oração. Como estudioso da Palavra de Deus, Zwinglio
certamente se debruçava nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo. “Orai para que não entreis em
tentação” certamente não foi desprezado por Zwinglio que considerava a Bíblia como a Palavra de
Deus, digna de honra e respeito.
Ele desenvolveu um ministério profícuo para o avanço da Reforma. De acordo com Olson
(1983, p.426) “A veneração aos santos e a Maria foi proibida, da mesma forma que as indulgências,
as orações pelos mortos (Zwinglio negava o purgatório) e muitas outras práticas católicas
tradicionais.”
Fazer orações a Deus além de estar fundamentada nas Escrituras, também faz parte da tradição
da Igreja, contudo, para Zwinglio a tradição deve satisfação às Escrituras. Se porventura a tradição
não tiver em harmonia com as Escrituras, deve ser banida do meio do povo de Deus, pois a Palavra
de Deus está acima de qualquer tradição e por ela a tradição deve ser julgada. Olson (2001)“...a
Bíblia é a autoridade final para a fé e a prática cristãs e que se encontra em posição totalmente
superior a todas as tradições humanas, que por ela devem ser julgadas.” (p.427).
Zwinglio se tornou um pastor, e fez questão em abolir todas as tradições que eram contrarias à
Palavra de Deus. Prosseguiu com o batismo de crianças, mas fundamentou uma teologia coerente à
Palavra de Deus, vide Olson (2001, p.432)
Zwinglio equiparava o batismo à circuncisão na antiga aliança entre Deus e Israel”. E ainda “É a
cerimônia da iniciação do povo de Deus segundo a nova aliança. Na teologia reformada de
Zwinglio, pressupõe-se que as crianças que nascem de pais cristãos simplesmente já estão “na
aliança” com Deus como parte do seu povo eleito, a igreja. A eleição feita por Deus antecede a fé; a
fé é um dom outorgado por Deus aos eleitos. O batismo é simplesmente o sinal e o selo - como a
circuncisão - da eleição e da inclusão.
Daí se percebe o valor das Escrituras na visão de Zwinglio. Os anabatistas não concordavam
com o batismo de crianças, se batizavam novamente quando adultos, pois consideram nulo o
batismo que uma vez haviam recebido. Zwinglio externou seu zelo pelas Sagradas Letras, não se
tratava de agradar ou não aos homens, e sim, de fidelidade para com a Palavra de Deus. Isto, ratifica
que ele jamais lançaria fora a ordem expressa por Cristo “orai para que não entreis em tentação”; e
jamais depreciaria as parábolas contadas por Cristo a fim de estimular os discípulo a terem uma
vida de oração, vide Mateus 7.7-12:
Pedi, e dar-se-vos-à; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-à. Por isso todo o que pede
recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-à. Ou qual dentre vós é o homem
que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará
uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabei dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Tudo quanto, pois,
quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os
Profetas.
Todos os três verbos estão no imperativo, a saber: pedi; buscai, batei. Isto significa uma ordem,
um incentivo à oração. Observemos outro ensinamento do Senhor aos discípulos para que orassem
sem desanimar, Lucas 18.1-8:
Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer: Havia em
certa cidade um juiz não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Havia também,
naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa
contra o meu adversário. Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse
consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum; todavia, como esta
viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-
me. Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defende-los?
Digo-vos que, depressa, lhe fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará,
porventura, fé na terra?
Sendo Zwinglio um homem que apreciava as Escrituras como um todo, certamente ele não
desprezaria um texto como este, como estudioso e pregador do evangelho, não se pode descartar a
possibilidade que ele compreendesse a oração como uma ordem do Senhor Jesus Cristo. “Quando
ele pregava na catedral, reuniam-se milhares de pessoas para ouvir;” (KINIGHT e ANGLIN, 1983,
p. 223).
É possível imaginar Zwinglio com uma linguagem acessível expondo as Escrituras aos seus
ouvintes, de maneira que eles pudessem compreender e fazer do que ouviam um estilo de vida, ou
seja, aplicassem no seu dia-a-dia. Embora, eles não estivessem acostumados com esse estilo de
pregação, foram receptivos com a mensagem de Zwinglio. Ele buscava se concentrar precisamente
nas Escrituras, buscava pregar o que de fato edificava seus ouvintes, isto de acordo com o momento
que eles estava enfrentando, e Zurique estava precisando de uma mensagem a fim de mudar a
situação que estavam enfrentando, todos confusos, no entanto as Escrituras lhes abriram o
entendimento.
A sua linguagem era nova para os seus ouvintes, e expunha-a numa linguagem que todos
podiam compreender. Diz-se que a energia e novidade do seu estilo produziu impressões
indescritíveis, e muitos foram os que obtiveram bênçãos eternas por meio do Evangelho
puro e claro, enquanto que todos admiraram-se do que ouviram. Era a sua fé no poder da
Palavra de Deus para converter as almas sem explicações humanas. Não quis restringir-se
aos textos destinados às diferentes festividades do ano, que limitavam, sem necessidade, o
conhecimento do povo com respeito ao livro sagrado e declarou que era sua intenção
começar no evangelho de S. Mateus e segui-lo capítulo por capítulo, sem o comentário dos
homens. (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p. 223).
É plausível pensar que quando Zwinglío fora expor o evangelho de S. Lucas no capítulo 18,
tenha pregado o que exatamente consta no texto. Sendo ele um estudioso, expos os temas principais
apresentados pelo texto, a saber: Justiça e fé. Os termos neste texto levam a um caminho, isto é, a
orar sem desanimar acreditando sempre na bondade, justiça e cuidado de Deus. Zwinglio não
poupava palavras com o objetivo de denunciar as injustiças que o povo de Zurique sofria nas mãos
daqueles que faziam mau uso da Palavra de Deus. “No Púlpito, diz Myconius, não poupava
ninguém. Nem papa, nem prelados, nem reis, nem duques, nem príncipes, nem senhores, nem
pessoa alguma. Nunca tinham ouvido um homem falar com tanta autoridade. Toda a força e todo o
deleite de seus coração estava em Deus e em conformidade com isso exortava a cidade de Zurique a
confiar somente nele”. (KINIGHT e ALGLIN, 1983, p.223).
Ainda que os ouvintes considerassem nova a maneira como Zwinglio pregava, ele argumentava
com muita habilidade. “Não é maneira nova, respondia Zwinglio, como modos corteses e brandos,
pelo contrário é antiga. Recordem-se dos sermões de Crisóstomo sobre S, Mateus, e de Agostinho
sobre S. João.” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.233). A exposição das Escrituras feita por este
pregador, demonstra o quanto ele acredita em sua eficácia, tanto é que em alguns momentos ele se
quer considerava os comentários dos homens, embora abraçasse a filosofia. De acordo com Olson
(2001, p. 428):
Zwinglio acreditava que toda a verdade é verdade de Deus e que, contato que os filóSOfos
gregos pensassem e falassem verdades que favorecessem a teologia cristã, deviam ser
altamente respeitados e estimados. Sem dúvida, esse era um vestígio do seu período
erasmiano de pensamento. No livro Da providência, Zwinglio começa com a teologia
natural para explicar a existência e a natureza de Deus como determinante de toda a
realidade que governa de modo soberano a natureza e a história.
4.3GUILHERME FAREL
Como falar de João Calvino e não mencionar Guilherme Farel. Este, foi um líder protestante
que convenceu Calvino de permanecer em Genebra. De acordo com T. H. L. Parker (1975, p.50
apud Olson, 2001, p.436), Calvino lembrou deste momento:
Depois de saber que eu queria, de todo coração, dedicar-me aos estudos particulares, motivo pelo
qual pretendia me manter livre de outras atividades, e vendo que as súplicas não dariam em nada,
[Farel] começou a proferir imprecação de que Deus amaldiçoaria a reclusão e tranquilidade de meus
estudos, se eu me recusasse a ajudar quando a necessidade era tão urgente. Fiquei tão aterrorizado
com essa imprecação, que desisti de viagem que havia empreendido.
Farel fora o instrumento utilizado por Deus para que Genebra evoluísse e se desprendesse na
pessoa de Calvino do julgo de Roma. Farel foi perseguido pelo zelo que atribuía às Escrituras, “Em
Genebra onde tinha ido duas vezes, seu trabalho foi cheio de dificuldades e perigos, e tanto monges
como padres fizeram várias tentativas para assassiná-lo.” (NIGHIT e ANGLIN, 1983, p. 252)
Esse pregador perseguido lutou de forma incansável para que a reforma continuasse, trabalhou
em muitos lugares da Suíça francesa, a saber, “Em Basiléia, Montbeliard, Agle, Vallengin, St. Blaise
e Neuchatel” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.252). Era um homem de fé fervorosa, que não temia
as ameaças, fortalecido pelo desejo de ver a igreja do Senhor centralizadas nas Escrituras. Segundo
Kinight e Anglin “... e tal foi o poder da sua pregação nessa última localidade, que o povo declarou
que queria viver na fé protestante...” (1983, p.252).
O que a vida de Farel tem haver com a oração? Com a ordem do Senhor Jesus Cristo à sua
Igreja? A vida de Farel externa piedade e apreço pela Palavra de Deus, doando-se e não temendo a
morte, como é comum na história dos reformadores, “Por muitas vezes foi apedrejado e espancado;
esteve quase para ser afogado no Reno em duas ocasiões, e uma vez foi milagrosamente salvo de
morte mais penosa causada por veneno. Mas a benção do Senhor estava sobre os seus trabalhos...”
(KINIGHT e ANGLIN, 1983, p.252). Como alguém dedicado às Sagradas Letras, Farel, bem como
os demais soldados da reforma, faziam uso da oração como um meio de graça que não somente os
sustentava, como também fazia com que sua empreitada continuasse.
Deus prosperou o trabalho desse reformador, que preparava o terreno para que Calvino
acentuasse ainda mais a teologia reformada. “...e em breve a missa foi oficialmente suspensa por
um decreto do Concílio dos Duzentos, e apareceu um edito ordenando que os serviços de Deus
haviam de ser dali por diante feitos conforme os estudos do Evangelho; e que todos os atos de
idolatria papal haviam de cessar completamente.” (KINIGHT e ANGLIN, 1983, p. 252).
A influência que Guilherme Farel causou por onde passou foi um marco inesquecível na
história da Igreja protestante, pois por mais austero que ele tenha sido com Calvino, sua atitude é
digna de ser atribuída a uma consequência da vontade divina. Todas as prática das tradição católica
foram veementemente descartadas, entenderam à luz das Escrituras através das mensagens de
Farele que a Palavra de Deus condena tais práticas. Todo homem que ama as Escrituras, não
desfavorecerá a oração como uma ferramenta poderosa na vida de um cristão.
Ele enfatiza o efeito causado pela oração na vida do cristão. Contestava a maneira como o papa,
e os líderes católicos entendiam a confissão, isto é, valorizavam mais a pessoa de quem estava
ouvindo a confissão do que a própria confissão. Calvino cita vários textos da Palavra de Deus, a fim
de fundamentar suas colocações.
Tal é também a confissão de Daniel: “Temos pecado, Senhor, temos agido perversamente,
temos praticado impiedades e temos sido rebeldes, desviando-nos de teus preceitos” [Dn
9.5]. E outras que ocorrem por toda parte nas Escrituras, cuja enumeração quase encheria
um volume. “Se confessarmos nossos pecados”, diz João, “fiel é o Senhor para que nos
perdoe nossos pecados” [1Jo 1.9]. Confessamo-nos a quem? Evidentemente a ele
próprio, isto é, se de coração aflito e abatido, diante dele nos prostrarmos, se nos
acusarmos e nos condenarmos sinceramente perante ele, roguemos para que sejamos
absolvidos por sua bondade e misericórdia. (CALVINO, AS ISNTITUTAS, LIVRO III,
CAP. IV)
Em sua obra magna, Institutas, ele se dedicou a priorizar todos seus argumentos à luz da
Palavra de Deus. Via a oração como um meio de graça, um meio pelo qual Deus abençoava seu
povo perdoando-lhe os pecados, absolvendo-o da culpa.
E outras que ocorrem por toda parte nas Escrituras, cuja enumeração quase encheria um
volume. “Se confessarmos nossos pecados”, diz João, “fiel é o Senhor para que nos perdoe
nossos pecados” [1Jo 1.9]. Confessamo-nos a quem? Evidentemente a ele próprio, isto é, se
de coração aflito e abatido, diante dele nos prostrarmos, se nos acusarmos e nos
condenarmos sinceramente perante ele, roguemos para que sejamos absolvidos por sua
bondade e misericórdia. (CALVINO, AS ISNTITUTAS, LIVRO III, CAP. IV)
Calvino como todos os outros reformadores externanvam apreciação pela Palavra de Deus, e a
oração jamais seria uma prática não observada por eles. A oração não é um meio em que fazemos
Deus mudar de ideia, em que dizemos a ele o que deve fazer, Deus não precisa de orientações
humanas. A oração é um meio de o humano se humilhar diante de Deus, é um ato de hulilhaçao e
dependência, se a oração for desprovida de humilhação e dependência é perca de tempo e tolice. A
oração não é uma mágica, Calvino ratifica:
Não devemos pensar que a linguagem foi supérflua quando Ele repetiu as mesmas palavras.
Pois, é dito em outro trecho, que em oração a Deus, não devemos usar um longo murmúrio,
como aqueles que acreditam que por muito falar recebem muito mais, o que não implica
que não devemos continuar em nossas orações, mas isto é tributar a hipocrisia e superstição
dos que creem em romper os tímpanos de Deus (usando uma maneira de falar) para
convencê-lO do que eles querem. Assim podemos ver, como essa tolice tem prevalecido no
mundo! Mais uma vez, quantos existem entre nós que usam essa magia, como muitos que
não dizem mais do que a sua Ave Maria, a quem parece que eles ganharam um grande
acordo cada vez que eles dizem Oração do seu Senhor, e que Deus considerará todas as
suas palavras em que eles se envolvem quando oram! Agora, eu chamo isso de uma
verdadeira feitiçaria. Pois, eles miseravelmente profanam a oração que nos foi dada por
nosso Senhor Jesus Cristo, na qual Ele incluiu em um breve resumo tudo o que a podemos
pedir a Deus e o que é lícito que desejemos ou peçamos. (CALVINO, A oração e prisão de
Jesus no Getsêmani, Trad. Camila Almeida, 2015, p. 4).
Oração e vigilância são intrínsecas, ao buscar Deus em oração, o cristão está reconhecendo que
ele mesmo não pode fazer nada se primeiro o Senhor não fizer por ele. A confissão ao Senhor foi
algo que Calvino enfatizou, a fim de que o cristão não somente mantenha intimidade com o seu
Deus a fim de que este o livre das tentações, como também um reconhecimento de que o cristão não
pode se livrar das tentações por suas próprias forças.
...mas Jesus Cristo também nos ordena a vigiar. Além disso, Ele mostra que aqueles que
presumem de sua própria força serão conquistados por Satanás cem mil vezes antes de que
obtenham uma única vitória. O que é necessário, então? Que, confessando com toda a
humildade que não podemos fazer nada, nos acheguemos ao nosso Deus... (CALVINO, A
oração e prisão de Jesus no Getsêmani, Trad. Camila Almeida, 2015, p. 6).
Concede, ó Deus onipotente, visto que em tua misericórdia te dignaste nos congregar à tua
Igreja, e nos cercaste nos limites da tua palavra, mediante a qual nos resguardas na
verdadeira e reta adoração à tua majestade, ó concede que permaneçamos contentados
nessa obediência a ti. E ainda que Satanás tente, de muitas maneiras, nos arrastar para cá e
para lá, e ainda também que sejamos por natureza inclinados ao mal, ó concede, que sendo
confirmados na fé e unidos a ti por esse laço sagrado, nos submetamos sempre à limitação
da tua palavra e assim nos liguemos a Cristo, teu filho unigênito, que nos uniu a si mesmo
para sempre, e que nunca, de modo nenhum, nos apartemos de ti, antes sejamos
confirmados na fé do evangelho de Cristo, até que finalmente ele nos receba a todos no seu
reino. Amém. (Devotions and prayers of John Calvin, 52 one-page devotions with selected
payers on facing pages. Org. Charles E. Edwards. Old Pathers Gospel Press. S/d. Pags. 14 e
15. Trad. Marcos Vanconcelo, maio/2009).
A oração é o meio pelo qual Calvino pede a Deus que confirme os cristãos na fé, unidos, uma
espécie de laço sagrado. Ele enaltece ao Deus Filho diante do Deus Pai, e roga para que o Senhor os
fizesse perseverar e confirmasse a fé do Evangelho de Cristo. Muitos falam de Calvino o que não
sabem, como se ele fosse um cristão que não orasse, um erudito limitado pelo humanismo. Não,
Calvino foi um cristão que se debruçava nas Escrituras, que amava a Palavra de Deus, que não
ousava pronunciar mais do que ela fornece. Em sua obra A verdadeira Vida Cristã, Calvino
surpreende àqueles que acham que ele era um cristão sem vida com Deus, que se concentram
apenas em ocorridos, e nem se quer consideram o contexto. “Pelo menos um herege foi condenado
à fogueira em 1533. Miguel Serveto...” (OLSON, 2001, p.436). Em “A Verdadeira Cristã” é
possível notar o verdadeiro Calvino que, geralmente os críticos não desejam relatar. A oração de
Calvino no ínicio da obra A Verdadeira Cristã é:
Deus e pai todo poderoso, nesta vida temos tido muitas lutas; dá-nos a força do teu Espírito,
para que possamos prosseguir em meio ao fogo, e às muitas águas com valor, e assim nos
submetermos às tuas normas, para irmos ao encontro da morte sem temor, com total
confiança na tua assistência.
Concede-nos também que possamos suportar todo o ódio e inimizade da humanidade, até
termos ganho a última vitória e podermos chegar ao bendito descanso que teu único filho
tem adquirido para nós, por meio de seu sangue. Amém. (CALVINO, A Verdadeira Vida
Cristã, Trad. Daniel Costa, 2000, p.19).
A teologia e a prática não eram dissociadas da vida de Calvino, e sim, intrínsecas. Ele
acreditava que a oração fortalece o cristão diante das dificuldades, e que se ódio do inimigo
perturba o cristão, este deve clamar ao Senhor a fim de que possa suportá-lo. Calvino não induzia a
ninguém à uma vida ascética, o que ele enfatizava era que os cristãos tivessem uma vida com Deus,
que agradasse a Deus.
O apóstolo Paulo, nos dá um breve sumário de uma vida bem regrada quando diz a Tito: “1.
Porque a graça de Deus se manifestou para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à
impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente,
enquanto aguardamos a bendita esperança;...” (Ibid, p.32). Calvino contiua a esclarecer que a vida
com Deus deve refletir em nosso relacionamento com a criação.
2.O apóstolo resume todas as ações da nova vida em três grupos: sobriedade, justiça e
piedade.
Indubitavelmente a sobriedade significa castidade e temperança, como também o uso
puro e frugal das bênçãos temporais, incluindo a paciência na pobreza.
A retidão inclui todos os deveres da justiça, de modo que cada homem receba o que
lhe é devido.
A piedade nos separa da contaminação do mundo e, por meio da verdadeira santidade,
nos une a Deus.
Quando as virtudes da sobriedade, justiça e piedade estão firmemente unidas,
produzem uma perfeita absoluta perfeição.
3.Nada é mais difícil do que deixar de lado os pensamentos carnais, submeter e
renunciar a nossos falsos apetites, e consagrarmo-nos a Deus e a nossos irmãos, vivendo
assim uma vida de anjo num mundo de corrupção. (Ibid, p.32,33).
Este é o Calvino que muitos não conhecem, que nunca anulou a responsabilidade humana e
jamais negou a Soberania de Deus, ou sugeriu um Deus que precisasse da cooperação do homem,
pelo contrario, sempre mencionou um Senhor que exerceu senhorio sobre toda sua criação. Jamais o
que às Escrituras ensinam, uma vez que ele também considerou a Palavra de Deus como única regra
de prática e fé. Buscou viver uma vida íntegra e mudou a história de Genebra e seus moradores.
Apesar do crescimento do comércio, a base da liderança e do impacto de Calvino sobre a
região não era principalmente econômico. A tradução da fé Reformada em prática é
testemunhada pela criação de estruturas sociais significativas que surgiram a partir da
liderança de Farel e Calvino. Um hospital foi inaugurado em 1535, e um fundo para os
refugiados franceses (Bourse Française) foi estabelecido pelos diáconos da igreja, em 1541.
A Academia de Calvino foi fundada em 1558. Com o tempo, milhares de refugiados
(principalmente franceses, ingleses e italianos) vieram a Genebra em busca de abrigo; e
muitos acabaram retornando aos seus países com novas ideias sobre o relacionamento entre
cidadãos e governo. (DAVID Hall. Calvino em praça pública / Trad. Claúdia Vassão
Ruggiero. _ SP : Cultura Cristã, 2017. P.59).
Diante disso da para saber o porquê Calvino se debruçava nas Escrituras e o porquê ele
valorizava e defendia uma vida devota a Deus. Ou seja, porque ele buscava ao Senhor em oração e
procurou deixar documentos que nos confirmam, como os que citamos acima.
5. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA FUNDAMENTADO NOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL
De acordo com a citação acima, admite claramente que a oração fortalece a fé dos santos, ela
está intimamente ligada à administração dos sacramentos, batismo e santa ceia, é por consequência
admissível tal afirmação, uma vez que na cerimonia dos sacramentos a oração é inevitável. O texto
a seguir é utilizado como referência bíblica, Lucas 22.32 “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; tu pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.” Sendo assim, a Confissão
de Fé de Westminster considera a oração como um meio de graça que faz parte da vida do cristãos,
aumentando e fortalecendo a fé do cristão. Outra das referências Bíblicas em que a Confissão
fundamenta o capítulo XIV, seção I, é: Hebreus 10.39 “Nós, porém, não somos dos que retrocedem
para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” A Confissão de Westminster
também afirma que a oração deve fazer parte da liturgia cultica e ensina no nome de quem a oração
deve ser feita. Além de alertar que a oração deve ser feita de maneira que todos compreendam, isto
é, na língua conhecida dos que fazem parte do culto.
III.A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de
todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu
Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e
perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos presentes. (CAP. XXI,
SEÇÃO III).
A seção acima mostra que quem auxilia o cristão na oração é a pessoa bendita do Espírito Santo.
Sendo assim, a vontade do Espírito Santo é que prevalecerá, observe que de acordo com a
Confissão, a humildade deve estar presente na oração, o que já afirmamos veementemente nos
tópicos anteriores. A Constituição está em perfeita harmonia com as Santas Escrituras, isto não
significa que seja infalível, pois a mesma reconhece que somente a Palavra de Deus é infalível.
Uma das referências Bíblicas em que a Confissão fundamenta o capítulo XXI, seção III, é:
Filipenses 4.6 “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça.”
Segundo a Confissão de Fé de Westminster, a oração deve ser feita pelo que é lícito e por todos
os homens de agora e pelos que virão. Entretanto é vedada a oração pelos mortos e por aqueles que
é sabido que cometeram pecados para a morte. Vide Capítulo XXI, seção IV “A oração deve ser
feita por coisas lícitas,e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que
existirão no futuro; mas não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que se
saiba terem cometido o pecado para a morte.”
Dentre as referências que a Confissão fundamenta a seção IV do capítulo XXI. Vide, I Timóteo
2.1,2: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.” Outro texto que
corrobora é “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará
vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para a morte, e por esse não digo que rogue.”
Na seção IV do Capítulo XXI, a Confissão afirma que, a oração sendo um ato de culto
religiosos não está limitada a um lugar, seja para sua prática ou para sua resposta. Pois aquele a
quem os cristãos se dirigem não é limitado ao tempo e espaço, a saber, o Senhor Deus Todo
Poderoso.
IV.Agora, sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito a um certo
lugar, nem se torna mais aceitável por causa do lugar em que se ofereça ou para o qual se dirija; mas Deus
deve ser adorado em todo lugar, em espírito e em verdade, tanto em família, diariamente, e em secreto,
estando cada um sozinho, como também, mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser
descuidadas, nem voluntariamente negligenciadas ou desprezadas, sempre que Deus, pela sua providência,
proporcione ocasião. (IBID, CAPÍTULO XXI, SEÇÃO IV)
A oração como um ato cultico religioso pode ser feita individual ou coletivamente, e os que
compõem tal reunião devem aproveitar a oportunidade que Deus lhes concede. A Confissão oferece
algumas referências bíblicas a este assunto: “Mas, desde o nascente do sol até ao poente, é grande
entre as nações o meu nome; e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras;
porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos” (MALAQUIAS, 1.11).
Além deste texto, um outro serve de respaldo “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar,
levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” (I TIMÓTEO, 2.8).
As referências bíblicas que Bavinck utiliza para fundamentar sua colocação são: Atos 2.46
“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas
refeições com alegria e singileza de coração”; 3.1 “Pedro e João subiam ao templo para a oração da
hora nona”; 5.12 “Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E
costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão”.
Bavinck também fundamenta a consequência dessa comunhão, da oração e da perseverança dos
discípulos. Atos 2.41 “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um
acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”; 2.47 “louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo
salvos”. E ainda, Atos 4.4 “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o
número de homens a quase cinco mil”. 5.14 “E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto
homens como mulheres, agregados ao Senhor”; e por fim, Atos 6.7 “Crescia a palavra de Deus, e,
em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitissímos sacerdotes obedeciam
a fé”.
É evidente como a igreja avançava quando orava e pregava o evangelho. Isso explica porque o
apóstolo Paulo pedia orações aos irmãos, isso tinha um objetivo. “Finalmente, irmãos, orai por nós,
para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre
vós;” (2 TESSALONICENSES 3.1). Bavinck ressalta o crescimento de um grupo que se iniciou
com poucos “Primeiramente, foi só o pequeno círculo dos discípulos que confessou Jesus como seu
Senhor, mas essas confissão uniu-os em uma comunhão de tal forma que, depois que o Mestre os
deixou, eles continuaram a perseverar em orações e súplicas (At 1. 14)”. O texto mencionado por
Bavinck explicita o estilo de vida da igreja; Atos 1.14 “Todos estes perseveravam unânimes em
oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”.
Ele afirma que renunciar os meios de graça causará prejuízo espiritual. Sendo assim, a oração
que é um desses meio de graça não pode ser desprezada, pois assim causaria prejuízo espiritual ao
cristão.
É até possível incluir nos meios de graça tudo quanto de requer dos homens para o recebimento e o gozo
permanente das bênçãos da aliança, tais como a fé, a conversão, a luta espiritual e a oração. Todavia, não é
costumeiro nem desejável incluir tudo isso na expressão “meios de graça”. A igreja não é um meio de graça
lado a lado com a Palavra e os sacramentos, porque o seu poder de promover a obra da graça de Deus consiste
unicamente na administração deles. Ela não é instrumento de comunicação da graça, exceto por meio da
Palavra e dos sacramentos. Além disso, a fé, a conversão e a oração são, antes de tudo, frutos da graça de
Deus, embora possam tornar-se instrumentos para o fortalecimento da vida espiritual. Não são ordenanças
objetivas, mas condições subjetivas para a posse e o gozo das bênçãos da aliança. Conseqüentemente, é
melhor não seguir Hodge quando ele inclui a oração, nem McPherson quando acrescenta à Palavra e aos
sacramentos a igreja e a oração. Estritamente falando, somente a Palavra e os sacramentos podem ser
considerados como meio de graça, isto é, como os canais objetivos que Cristo instituiu na igreja, e aos quais
Ele se prende normalmente para a comunicação da Sua graça. (LOUIS BERKHOF, TEOLOGIA
SISTEMÁTICA, 1949, p.601)
A posição de Berkhof é que a oração não é propriamente um meio de graça. Ele prioriza a
Palavra e os sacramentos,o que é relevante. Entretanto, a oração não deprecia a oração como não
sendo um meio pelo qual Deus abençoa seu povo. Berkhof faz mençaõ de Hodge quando que
considera a oração um meio de graça, bem como mcPherson que acrescenta a Palavra, os
sacramentos, a igreja e a oração. O fato é que a posição adotada por esses três teólogos possui teor
de coerência com as Escrituras.
7. A ORAÇÃO COMO UM MEIO DE GRAÇA E UMA ORDEM DO SENHOR JESUS
CRISTO À SUA IGREJA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Karl Barth possuía outro pensamento quando o assunto era a Palavra de Deus. Segundo
Mondin, (2003, p.55) “Como também para Lutero e Calvino, para Barth a Palavra tem um
significado mais amplo do que aquele da Sagrada Escritura.” Barth não fora apenas um estudioso,
foi pastor, e como pastor teve contato com a comunidade e com o cotidiano.
Mas Barth nunca foi apenas um homem de estudo. Seus anos de vida pastoral haviam-lhe ensinado a grande
lição de que o Evangelho não deve servir só para pregar e regular nossas relações com Deus, mas também
para nos ensinar como nos comportamos com os outros homens; e isso não de maneira genérica e abstrata,
mas sim de modo concreto, de acordo com a variação das circunstâncias e das situações históricas. É preciso
voltar-se par ao Evangelho a fim de conhecer o juízo de Deus sobre as decisões, os empreendimentos e os
programas humanos.
É evidente que para Barth o Evangelho não é apenas teoria, deve ser sim praticado. “Barth
denunciou tanto os erros do nazismo como as aberrações da Igreja Evangélica da Nação Alemã”
(MONDIN, 2003, p.38).
A princípio Barth entendia Deus mais como um ser transcendente, o outro. Contudo, com os
passar dos anos ele acrescenta
...Como é em si o uno da unidade da sua vida, como Pai, Filho e Espírito Santo, assim, em relação à realidade
distinta de si, é de jure e de facto livre de estar não só ao seu lado ou acima do homem, mas também perto
dele e com ele, sobretudo de ser Deus para ele, não só como seu senhor, mas também como seu pai, irmão e
amigo, como seu Deus, isto é, do homem (MONDIM, 2003, p.59).
Dessarte, Barth possuía um certo apreço pela Palavra de Deus, cria em um Deus relacional, e
não negava a divindade de Cristo, muito menos seus milagres. Um teólogo que pense dessa maneira
dificilmente nega as ordens do Senhor Jesus Cristo, jamais desprezará as ordens contidas na Palavra
de Deus, e a oração como um meio de graça é uma delas.
Na fala de Stott percebe-se que a oração é algo que deve ser levado a sério pelos cristãos, pois
quando se colocam a orar estão diante do Senhor, conversando com o Senhor. Sendo assim, tudo o
que impede ou bloqueia a oração deve ser evitado. Isso não significa que se o cristão houver pecado
Deus não vai ouvir sua oração, desde que esta esteja adornada de arrependimento.
Comentando o texto de ITimóteo 2.1-3, John Stott reconhece a necessidade de a igreja do
Senhor ter uma vida de oração, não somente com a conduta, mas que erga a voz ao Senhor.
Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os
homens; pelos reis e por todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com
toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.
O apóstolo Paulo recomenda à igreja que por meio da oração busquem uma vida tranquila,
pacífica com toda a piedade e dignidade. Paulo neste trecho enaltece o valor da oração, ou seja,
como ela é fundamental para que haja paz entre os homens. A respeito disso Stott (2004, p.57)
comenta, “O que se destaca nesse parágrafo é a amplitude universal da responsabilidade da
igreja...Como o desejo de Deus e a morte de Cristo referem-se a todas as pessoas, então as orações e
a proclamação da igreja têm de ter o enfoque de alcançar o mundo também...” Com isso Stott não
quer dizer que todos serão salvos. Será que essa em “todos os homens”, tirando-nos do elitismo
(somente alguns serão salvos), nos levará ao extremo oposto do universalismo (todos serão salvos)?
Não. Que Paulo não era universalista, isso é evidente, não apenas nas suas outras cartas, mas
também nessa epístola.” (STOTT, 2004, p.61)
Portanto, para Stott a oração é um meio de graça e uma ordem que a igreja deve obedecer, a fim
de que todos gozem do fruto da oração.
8. EXEGESE DO TEXTO DE LUCAL 22.39-46
A exegese nesse texto tem como finalidade frisar o oração como uma ordem do Senhor Jesus
Cristo, bem como um meio que ele usa a fim de abençoar sua igreja. A perícope mostra a agonia de
Cristo no Getsêmani momentos antes de sua crucificação, o que ele preferiu fazer antes de os
pecadores colocarem as mãos nele. O texto explicita que ele (Jesus) orou ao Pai, proferindo diante
deste que sua vontade prevalecesse.
39 Καὶ ἐξελθὼν ἐπορεύθη κατὰ τὸ ἔθος εἰς τὸ ὄρος τῶν ἐλαιῶν, ἠκολούθησαν δὲ α
ὐτῷ [καὶ] οἱ μαθηταί. 40 γενόμενος δὲ ἐπὶ τοῦ τόπου εἶπεν αὐτοῖς· προσεύχεσθε μὴ ε
ἰσελθεῖν εἰς πειρασμόν.
41 καὶ αὐτὸς ἀπεσπάσθη ἀπ' αὐτῶν ὡσεὶ λίθου βολὴν καὶ θεὶς τὰ γόνατα προσηύχετ
ο. 42 λέγων· πάτερ, εἰ βούλει παρένεγκε τοῦτο τὸ ποτήριον ἀπ' ἐμοῦ· πλὴν μὴ τὸ θέλ
ημα μου ἀλλὰ τὸ σὸν γινέσθω. 43 [[ὤφθη δὲ αὐτῷ ἄγγελος ἀπὸ τοῦ οὐρανοῦ ἐνισχύ
ων αὐτόν. 44 καὶ γενόμενος ἐν ἀγωνίᾳ ἐκτενέστερον προσηύχετο· καὶ ἐγένετο ὁ ἱδρὼ
ς αὐτοῦ ὡσεὶ θρόμβοι αἵματος καταβαίνοντες ἐπὶ τὴν γῆν.]]. 45 καὶ ἀναστὰς ἀπὸ τῆς
προσευχῆς ἐλθὼν πρὸς τοὺς μαθητὰς εὗρεν κοιμωμένους αὐτοὺς ἀπὸ τῆς λύπης, 46 κ
αὶ εἶπεν αὐτοῖς· τί καθεύδετε ἀναστάντες προσεύχεσθε, ἵνα μὴ εἰσέλθητε εἰς πειρασμ
όν.
“O substantivo é uma palavra que especifica algo que possui existência, designando pessoas,
animais, lugares ou coisas” (REGA, Bergmann,2004, p.67). Na presente perícope, o substantivo é
abstrato “costume”. O caso genitivo diz Rega (2004, p.70) “Quando um substantivo indica a pessoa
ou coisa que diretamente sofre a ação do verbo aparece no caso do acusativo. É o caso do objeto
direto. Responde à pergunta ‘Que coisa...?’ ou ‘A quem’...”. Os autores acrescentam “O gênero
neutro nomeia fenônemos que, por si só não possuem gênero” (REGA, BERGMANN, 2004, p.71).
Em alguns casos o artigo contribui para a identificação do gênero de acordo com sua terminação.
O substantivo utilizado por Lucas, atribui tal costume a alguém. O artigo utilizado na perícope
também é neutro. Em seguida o autor deixa explícito qual era a local que Jesus e seus discípulos
costumavam frequentar.
O substantivo consta 6 vezes no Novo Testamento, porém há exceção com este termo, ele
aparece com a mesma classificação gramatical apenas no evangelho de Lucas: 1.9; 2.42. As outras
passagens o caso do termo está no Nominativo e não no Acusativo.
40 γενόμενος δὲ ἐπὶ τοῦ τόπου εἶπεν αὐτοῖς· προσεύχεσθε μὴ εἰσελθεῖν εἰς πειρασμό
ν.
γενομενος - genomenos – chegaram: Verbo, particípio, aoristo, voz media depoente, nominativo,
masculino, singular.
Por estar no “modo partícipio” contém traços tanto de adjetivo como de verbo (REGA, 2004,
p.30). Estando ele no “tempo aoristo”, de acordo com Rega, Bergmann (2004, p.28) “Faz referência
ao fato ou evento em si, geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes nem os
resultados dele”. Uma vez que a voz é media depoente “expressa uma ação que o sujeito realiza em
si mesmo para si mesmo ou de si mesmo” (REGA, BERGMANN (2004, P.30), o sujeito pratica a
ação expressa pelo verbo. O “caso nominativo” indica quem é que estava chegando.
Pelo fato de o verbo está no plural, indica que Jesus não estava sozinho, ou seja, estava
acompanhado dos discípulos, o verbo que segue é “orai” que será detalhado mais abaixo também
está no plural, isto ratifica a ideia de que Jesus não estava sozinho.
Por 38 vezes o termo é citado em o Novo Testamento. Entretanto, dois textos possuem a mesma
classificação grammatical, os quais são: Filipenses 2.7; Tiago 1.12.
προσευχεσθε – proseuchesthe- orai: Verbo, imperativo, presente, voz media ou passiva depoente,
segunda pessoa do plural.
O verbo está no modo imperativo e no tempo presente, indicando uma ordem estabelecida não
somente para aquele momento pelo fato do verbo está no imperativo. Uma vez que a voz é media
depoente “expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo para si mesmo ou de si mesmo”
O autor enfatiza a importância que Jesus Cristo deu a oração, assim ordenou aos discípulos que
eles deviam estar em constante oração, isso não está restrito a apenas um momento a sós com Deus
em um determinado lugar, trata-se de uma vida que seja como uma agradável oração aos olhos de
Deus. A ordem expressa por Jesus estava associada à vigilância. Sendo assim, conclui-se que a
oração está relacionada também à conduta do cristão.
Em o Novo Testamento o termo aparece 15 vezes, duas passagens correlatas com a mesma
classificação gramatical são: Mateus 24.20; 1 Tessalonicenses 5.17.
προσηυχετο – proseucheto – orava: Verbo, indicativo, imperfeito, voz média ou passiva depoente,
terceira pessoa do singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O tempo está no imperfeito, ou seja, indica uma ação que foi
contínua no passado, porém já cessou, contudo o contexto determina se ação pode ser continuada,
habitual ou intermitente ((REGA, BERGMANN, 2004, p. 28). Diante dos termos que já foram
analisados, tudo indica que a ação é continuada, habitual e em alguns casos intermitente. A voz
média indica que o sujeito sofre a ação, neste caso Jesus estava orando, observe a classificação:
terceira pessoa do singular (Ele).
O autor focaliza a ação do Mestre diante dos discípulos, algo inerente a Cristo, isto é, fazer e
ensinar. Lucas utiliza esses dois termos na sua segunda obra, a saber, Atos 1.1. o autor explicita que
Cristo faz um discurso e após ele pratica este discurso, ou seja, orando ao Pai no momento de
provação.
Este verbo aparece apenas 5 vezes no Novo Testamento. Em todos os 5 textos, a classificação
gramatical é a mesma. Dois textos serão citados: Marcos 14.35; Lucas 18.11.
42 λέγων· πάτερ, εἰ βούλει παρένεγκε τοῦτο τὸ ποτήριον ἀπ' ἐμοῦ· πλὴν μὴ τὸ θέλ
ημα μου ἀλλὰ τὸ σὸν γινέσθω.
βούλει – Boulei - desejas, queres: Verbo, indicativo, presente, nominativo, primeira pessoa do
singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O tempo no presente indica uma ação continua num estado
incompleto. Rega, Bergmann (2004, p.27) A ação é descrita com em progresso, em andamento,
durativa ou linear.
O autor mostra como Jesus sabia do desejo do Pai. Após a classificação gramatical dos termos,
percebe-se a confiança obediente que Cristo depositava no Pai, ele sabia que se o Pai quisesse
mudar a situação ele o faria sem nenhum problema, no entanto, ele conhecia a vontade do Pai, e
sabia que a missão a qual o Pai o designara ainda não havia terminado.
Esse termo não aparece outra vez em o Novo Testamento, ou seja, só consta no evangelho de
Lucas 22.42.
παρένεγκε – passar, remover, afastar: Verbo, imperativo, aoristo, ativo, segunda pessoa do
singular.
Nessa perícope o verbo no imperativo, indica súplica, pois o contexto deixa isso bem claro. O
tempo no aoristo indica uma ação pontilinear, ou seja, faz referência ao fato em si, no passado,
entretanto não especifica os antecedentes nem os resultados dele. Na voz ativa, indica que Jesus está
se dirigindo ao Pai na segunda pessoa do singular (Tu).
O autor novamente enfatiza a reverência prestada do Filho para com o Pai, ou seja, aquele
reconhece tanto a vontade como a soberania deste. O autor explicita o clamor, a súplica que o Filho
faz ao Pai. A expressão no modo imperativo também esclarece se aquilo que foi expresso se tornará
realidade ou não. Isso não significa que o Filho não soubesses a vontade do Pai, o que está em pauta
aqui é a expressão de obediência do Filho ao Pai.
Esse termo só aparece 2 vezes no Novo Testamento: Lucas 22,42; Marcos 14.36.
σὸν – son – tua: pronome possessivo, nominativo, neutro, segunda pessoa do singular.
O pronome possessivo “tua” indica a quem o Filho está se dirigindo, pois o caso está no
nominativo, este responde a pergunta; “Quem é que?”
O autor destaca a submissão do Filho ao Pai. Embora a vontade deles não divergissem, a ação
do Filho nada mais é, que um modelo de obediência. Lembrando a oração ensinada aos discípulos,
Lucas 11, Jesus agora na prática os mostra que a vontade do Pai deve ser sempre a vontade de seus
filhos.
Em Mateus o termo aparece 71 vezes; Marcos 36; 62 vezes em Lucas; 27 em João; 47 em Atos;
17 em Romanos; 10 vez em 1Coríntios; 4 em 2Coríntios; 5 vezes em Gálatas; 1 em Éfesios; 2 em
Filipenses; 1 em 1Tessalonicenses; 1 em 1Timóteo; 13 em 2Timóteo; 1 em Tito; 1 em Filemon; 13 e
Hebreus ; 1 em 1Pedro; 7 vezes em 2Pedro; 1 vez em Judas; 27 em Apocalipse. O termo pode estar
acompanhado de um verbo, ou seja, pode se encontrar no meio ou no final de um verbo: σωσον -
soson . Apenas em João 18.35 o termo possui a mesma classificação gramatical, ou seja, aparece
como um pronome possessivo.
γινέσθω – ginéstho - seja feita: Verbo imperativo, presente, voz média ou passiva depoente,
terceira pessoa do singular.
O verbo no imperativo demonstra a sujeição da obediência de Cristo ao Pai, no tempo presente
indicando uma ação ainda não terminada da parte do Pai, ou seja, sua vontade estava em contínua
ação. Na voz média que a vontade do Pai seria realizada na pessoa do Filho, outra vez a divindade
de Cristo é descrita, a vontade do Pai se realizaria nele, ver o conceito quando o verbo está na voz
média “A voz média expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo, para si mesmo ou de si
mesmo” (REGA, BERGMANN, 2004, p. 30).
O autor clarifica, expressa, enfatiza a confiança que o Filho outorga ao Pai, estando verbo no
imperativo, este expressa total submissão, ou seja, faz a tua vontade Pai, isto é o que importa. O
autor mostra a disponibilidade de entrega do Filho ao que lhe estava preparado.
O termo consta 7 vezes no Novo Testamento. Os seguintes textos possuem a mesma
classificação gramatical: Atos 21.14; 1Coríntios 14.26.
. 43 [[ὤφθη δὲ αὐτῷ ἄγγελος ἀπὸ τοῦ οὐρανοῦ ἐνισχύων αὐτόν.
ὤφθη – ophte – apareceu: Verbo indicativo, aoristo, voz passiva, terceira pessoa do singular.
O verbo indicativo tem como objetivo transmitir segurança, afirma fatos verossímeis.
Entretanto, não afirma se os fatos são verdadeiros ou falsos, quanto a isso este modo é limitado
(REGA, BERGMANN, 2004, p. 29). O aoristo indica uma ação do passado, porém, seu valor é
contínuo. De acorrdo com Rega e Bergmann (2004, p.30) “ A voz passiva indica que o sujeito sofre
a ação expressa pelo verbo”. Neste caso quem aparece, aparece para realizar alguma coisa. Sendo
assim, Jesus é quem sofre a ação por parte do anjo, ou seja, é confortado por ele.
A autor Lucas é o único que cita tal acontecimento, isto é, que apareceu um anjo do céu que
confortava Jesus Cristo. A passagem na bíblia encontra-se entre colchetes. O autor relata o cuidado
do Pai para com o Filho, pois os versículos que se seguem mostram os momentos de agonia que
Cristo estava enfrentando naquele momento. O consolo do anjo faz lembrar o doce consolo do
Espírito Santo para com os santos quando estes se encontram sob tentações e provações.
Por 20 vezes o termo é utilizado no Novo Testamento. Nesses dois textos não há diferença na
classificação gramatical: Marcos 9.4; 1Coríntios 15.6.
αὐτῷ - auto - ele: pronome pessoal, dativo, masculino, terceira pessoa do singular.
Este é um dos pronomes mais utilizados no Novo Testamento, portanto é necessário uma
análise cuidadosa do contexto para saber a quem esse “ele” está se referindo. Vale lembrar que em
muitas passagens o nome “Jesus” não aparece, e sim o pronome pessoal na terceira pessoa do
singular “ele”. O caso é o dativo, a definição do mesmo segundo Rega e Bergmann é “Indica a
pessoa ou coisa em quem recai o proveito ou o dano de uma ação, ideia que é expressa no português
mediante o objeto indireto ou pelas preposições a ou para. O caso responde à pergunta: “A
quem...?” ou “Para quem...?”
Tendo feito a classificação dos termos, é possível perceber a intenção do autor em responder a
pergunta “A quem o anjo está consolando?” ou “Para quem ele veio trazer consolo?” A resposta
está no pronome pessoal, a saber, “ele”. Quem é este “ele”? O contexto deixa explícito que é o
Senhor Jesus Cristo.
Em o Novo Testamento o termo aparece 1325 vezes: Mateus o termo aparece por 250 vezes;
150 em Marcos; 245 em Lucas; 178 em João; 166 em Atos; 41 em Romanos; 31 vezes em
1Coríntios; 21 em 2Coríntios; 3 em Gálatas; 15 em Efésios; 9 em Filipenses; 13 em Colossenses; 5
em 1Tessalonicenses; 3 em 2Tessalonicenses; 7 em 1Timóteo; 4 em 2Timóteo; 5 em Tito; 27 em
Hebreus; 8 em Tiago; 8 em 1Pedro; 13 em 2Pedro; 22 vezes em 1João; 2 em 2João; 1 em 1João; 5
em Judas; 93 em Apocalipse. Seguem dois textos com a mesmo sentido: Atos 16.32; Apocalipse
19.7.
45 καὶ ἀναστὰς ἀπὸ τῆς προσευχῆς ἐλθὼν πρὸς τοὺς μαθητὰς εὗρεν κοιμωμένους
αὐτοὺς ἀπὸ τῆς λύπης,
ἀναστὰς – anastas - levantando-se: Verbo, particípio, aoristo, voz ativa, nominativo, masculino,
singular.
O verbo no particípio, aoristo na voz ativa, significa que Jesus realizou a ação naquele
momento, e por estar no aoristo, a ação é contínua. O caso é o nominativo, ou seja, Jesus se põe de
pé e vai até aos discípulos. Pois o caso nominativo é acompanhado da pergunta “Quem é que?”.
Exemplo: Quem é que se pôs de pé? Jesus Cristo.
O autor faz questão de narrar cada momento que ocorreu no Getsêmani, a ação de Cristo de ir
ter com os discípulos demonstra a preocupação de um mestre-líder para com os seus aprendizes,
pois a instrução de Jesus foi para que eles também orassem.
O termo aparece 27 vezes no Novo Testamento. Com a mesma classificação gramatical em:
Marcos 10.1; Atos 5.17.
κοιμωμένους – koimomenous – adormecidos: Verbo, particípio, presente, voz média ou passiva
depoente, acusativo, masculino, plural.
O termo é um adjetivo verbal, isso mostra como os discípulos estavam adormecidos, o termo
traz a ideia de tristeza e angústia, o tempo presente indica tristeza naquele momento e depois, a voz
passiva reitera a tese de que os discípulos estavam sofrendo a ação, ou seja, eles estão adormecidos.
O caso acusativo indica a coisa ou pessoa que está sofrendo a ação. Nesse caso são os discípulos.
O autor externa como os discípulos estava abatidos, tristes, desestimulados, apesar de não
terem a compreensão exata do que estava acontecendo e aconteceria. Eles estavam dormindo, pois
tamanha era a angústia, eles também estavam angustiados, não como Cristo.
O termo aparece somente uma vez no Novo Testamento, isto é, apenas na perícope em análise.
INTRODUÇÃO
Lucas foi o autor do terceiro evangelho, o apóstolo Paulo faz menção dele como o médico
amado. Lucas foi autor de duas obras extraordinárias, a saber, o evangelho segundo Lucas e o livro
Atos dos Apóstolos. Todas as obras das Escrituras são de fato magníficas, entretanto, o estilo
literário de Lucas demonstra a capacidade intelectual de um habilidosos pesquisador e escritor. No
início do evangelho, ele deixa pistas históricas, isto é, cita os nomes das principais autoridades da
época, isso aumenta ainda mais a credibilidade dos textos sagrados diante daqueles que tentam
negar suas verdades.
No presente texto, isto é, Lucas 22.39-46, Lucas narra os momentos de agonia que Jesus Cristo
passou antes da crucificação, alguns dos termos no original (grego) utilizados por Lucas são únicos
em todo o Novo Testamento. Os detalhes como o autor descreve os fatos são incontestáveis e
academicamente perfeitos. É exatamente no capítulo 22 do terceiro evangelho que os momentos
antes da crucificação são descritos.
Nos concentraremos nos versículos que delimitam a perícope, ou seja, do versículo 39-46.
Nesta perícope, Lucas informa o lugar onde Jesus e os discípulos estavam, as advertências do
Mestre aos discípulos, a oração profunda que o Filho faz ao Pai, a submissão como expressão de
obediência do Filho para com o Pai. Além disso ele descreve dois fatos encontrados somente no seu
evangelho: relata do anjo que apareceu para fortalecer Jesus e que o suor do Senhor tornou-se como
gotas de sangue. Lucas explicitou a fraqueza dos discípulos e o estado emocional que se
encontravam.
Os momentos da agonia de Cristo nos fornecem algumas respostas de como nos comportar em
momentos de agonia, mesmo sabendo que jamais alguém vai sentir o que Ele sentiu e passar pelo
que ele passou. Essas respostas serão expostas frente a perguntas nos tópicos abaixo. Cristo foi um
mestre excepcional, uma vez que ele ensinava, ele também praticava, seu discurso se concretizava
em suas ações. Alguém então pergunta: Como ele pôde ensinar sobre casamento se ele não era
casado? Amor não muda de significado e muito menos o perdão, a prudência será sempre
prudência, a justiça e a empatia permanecem as mesmas onde quer que sejam aplicadas, a
humildade e a sabedoria serão sempre virtudes que fazem dos seres humanos mais parecidos com o
seu Criador. Os ensinamentos de Cristo quando obedecidos, tornam qualquer casamento estável, e
não somente o casamento, seus ensinamentos organizam a sociedade.
I. Para onde Jesus foi em seus momentos de agonia, o que ele fez? 39 E saindo, foi, como era
de costume, para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram.40 Ao chegarem neste
lugar, disse-lhes: orai, para que não entreis em tentação.
II. A quem Jesus Cristo recorre no momento de angústia? Sua súplica foi ouvida? 41 E
afastou-se deles a distância de um arremesso de pedra e, de joelhos dobrados orava dizendo:
42 Pai, se queres afasta de mim este cálice, todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua
seja feita. 43Então, apareceu um anjo do céu que o fortalecia.
Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2010. 2048
p. Texto Bíblico: Almeida Revista e Atualizada, 1998, Sociedade Bíblica do Brasil.
JOÃO CALVINO, A Verdadeira Vida Cristã. Trad. Daniel Costa, São Paulo, 2000,
Novo Século.
Hall, David W. Calvino em praça pública / David W. Hall; traduzido por Cláudia
Vassão Ruggiero. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2017 320 p.
O Novo Testamento Grego. Quarta edição revisada, 1993, 13a impressão, 2007,
Stuttgart, Alemanha.