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Resumo
Este trabalho tem como finalidade averiguar o processo de inclusão Bruna Ticiane Vicente
de alunos com deficiência nas escolas da rede municipal de ensino de Universidade Federal do Mato
uma cidade localizada ao sul do estado de Mato Grosso do Sul, tendo Grosso do Sul – UFMS – Brasil
como foco a relação do estagiário com o professor regente. Para bticiane@hotmail.com
isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa, com base em estudos
bibliográficos e em um estudo de caso, para a investigação de Giovani Ferreira Bezerra
algumas faces desse processo de inclusão. Como instrumento de Universidade Federal do Mato
coleta de dados, empregou-se entrevista semiestruturada gravada Grosso do Sul – UFMS – Brasil
com cada um dos participantes, sendo seis professores e seis gfbezerra@gmail.com
estagiários que atuaram juntos no ano de 2014 na rede municipal de
ensino. Com a análise preliminar das falas, percebeu-se a necessidade
de entrevistar a coordenadora técnica da inclusão do município, em
função da quantidade de vezes que foi citada pelos entrevistados. Os
resultados demonstraram que os professores e os próprios
estagiários desconhecem a função destes em relação ao aluno com
deficiência. Como resultado, o aluno que deveria estar incluído acaba
sendo excluído dentro da sala de aula comum. Assim, defende-se que
todos os envolvidos com o aluno com deficiência deveriam exercer
um trabalho articulado, pelo qual os agentes escolares se apoiem em
prol dos alunos, sejam eles com ou sem deficiência, possibilitando
práticas que visem à superação das dificuldades dos alunos e não
apenas enfatizem sua deficiência.
DOI: 10.5965/1984723818382017214
http://dx.doi.org/10.5965/1984723818382017214
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Por critérios éticos e para garantir o anonimato dos sujeitos, o nome do município não é revelado neste
texto.
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A primeira autora deste artigo atuou como estagiária na Reme, tendo trabalhado no apoio aos estudantes
com deficiência. O segundo autor trabalhou com formações continuadas aos professores da cidade, por
meio de projeto de extensão e/ou de pesquisa, além de ter sido docente de muitos desses estagiários.
1. Revisão de literatura
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Termo utilizado na época para as pessoas com deficiência.
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Pletsch (2010) pauta-se no texto “As políticas de inclusão escolar: uma prerrogativa da Educação
Especial?”, de BUENO, J. G. S. In: BUENO, J. G. S.; MENDES, G. M. L.; SANTOS, R. A. dos (Orgs.). Deficiência e
Escolarização: novas perspectivas de análise. Brasília: Junqueira & Marin, 2008. p. 43-66.
2. Procedimentos metodológicos
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Andrade e Holanda (2010) recorreram, para formular suas considerações, a esta obra: MARTINS, J.;
BICUDO, M. A. V. A pesquisa qualitativa em Psicologia: fundamentos e recursos básicos. 5. ed. São Paulo:
Centauro, 2005.
Para coletar as entrevistas, foram elaborados dois roteiros com oito questões
abertas cada, um deles direcionado aos professores regentes e outro, aos estagiários.
Tais questões tinham um caráter exploratório e investigativo para que, assim, os
pesquisadores conseguissem entender, por meio dos relatos dos entrevistados, como
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Entre os sessenta estagiários da cidade pesquisada, escolheram-se, na ocasião, apenas seis deles pelo fato
de terem vivenciado todo o processo de inclusão escolar dos alunos com deficiência, acompanhando-os
durante dois anos, nas classes comuns. Dessa forma, esses estagiários selecionados poderiam ter uma visão
geral do processo de inclusão escolar, já que o tempo limite para o estágio havia se encerrado. Assim, a
pesquisa não se preocupou com números, mas sim em entender a relação entre os agentes escolares
implicados nesse processo de inclusão.
De início, foi feito contato com os sujeitos, pessoalmente ou pela internet, para
marcar as datas e os locais das entrevistas, caso aceitassem. Explicava-se que estas
seriam usadas para um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e que o assunto era seu
trabalho em relação ao aluno com deficiência no ano de 2014. Também deixava-se claro
que a conversa ficaria gravada em áudio. Antes de realizar a gravação, todos os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e ficaram
com uma cópia do documento para si, sendo-lhes garantido anonimato na publicação dos
resultados da pesquisa.
Também foi utilizado, para melhor entendimento das atribuições dos profissionais
de apoio, um contrato, escolhido aleatoriamente, celebrado entre o IEL e um dos
estagiários da Educação Especial participante deste estudo, que, como os demais,
prestara serviço em 2014. Para isso, foi feita uma carta à Gerência Municipal de Educação,
que faz o intermédio dos contratos, solicitando autorização para o acesso a esse
documento, sendo tal pedido aceito.
3. Resultados e discussão
3.1 O trabalho dos estagiários que atuam no apoio aos alunos com
deficiência
Sendo este o único requisito adotado pela Reme para a contratação dos
profissionais de apoio que atuam junto ao público-alvo da Educação Especial, nota-se, em
geral, a falta de preparo desses sujeitos, pois estão em processo de formação. Além
disso, muitos deles iniciam tal estágio já no início da graduação em Pedagogia, antes
mesmo de ter qualquer contato com os conteúdos de Educação Especial, uma vez que
não há esse pré-requisito. Como citam Cunha et al. (2012, p. 06-07):
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Nome fictício escolhido para preservar a identidade do funcionário citado por G.
[...] devido eles [os estagiários] ainda não terem a formação, é, devido
eles entrarem dentro da escola e também não terem uma orientação
necessária, tanto da parte pedagógica como a conduta dentro da sala de
aula, como agir com esse aluno, a forma de agir. Então, eu acho assim
que eles estão num processo difícil, para o estagiário é difícil, porque ele
é colocado lá, principalmente da inclusão, ele é colocado lá pra trabalhar
com o aluno portador de necessidades especiais, que não é um aluno
dito normal. Ele tem deficiências e que têm que ser supridas. Então, a
maioria dos estagiários se perdem, mas não porque eles são culpados,
porque eles não têm essa capacitação, eles não têm esse auxílio.
(Coordenadora G)
A esse respeito, vale mencionar que, de acordo com o contrato do IEL com os
estagiários da Educação Especial, normatiza-se que a função destes é “auxiliar de
professor em sala de aula”. Consoante ao disposto no contrato, pensava-se que esta
deveria ser a função seguida pelos estagiários. Contudo, a prática deles revela
[...] o estagiário está ali para auxiliar nas dificuldades, tá auxiliando ele [o
aluno com deficiência] no que ele não entende, no convívio com as
outras crianças, mas, em questão de aprendizado, ele é aluno do
professor. (Estagiário A1)
[...] Mas, assim, minha função é, assim, ao meu ver, o que eu for aplicar
pro aluno, é claro que vai além do que eles passam pra gente. Tipo assim,
que minha função lá é auxiliar o aluno [...] (Estagiário E1)
Nas falas dos professores, por sua vez, nota-se omissão ou não compreensão de
seu papel no que tange ao atendimento do estudante com deficiência na classe comum,
embora este seja de responsabilidade do professor regente, cabendo ao estagiário dar
apoio a esse professor, não substituí-lo. Eis alguns relatos:
Eu via ela [sic] [a estagiária] como uma ajudante daquele aluno com
deficiência. Daí, a gente trocava conversas a respeito do conteúdo,
conversávamos sobre o aluno, se ele estava conseguindo aprender, se
ele estava conseguindo copiar. É, eu ia lá, olhava o caderno dele, dava
uma olhada, e era isso, mas a gente se entendia bem assim em relação ao
conteúdo. (Professor A)
A prática que vem sendo naturalizada de que todo aluno com deficiência
deve ter um mediador pode retirar da professora regente em sua classe a
responsabilidade sobre ele, que é seu aluno como o restante da turma, e
reduzir o desenvolvimento da autonomia da criança.
Destarte, a partir do que foi exposto, nota-se, ainda, que o professor nem sempre
possui esclarecimento sobre as atribuições do estagiário, o que leva à existência e à
perpetuação das práticas supracitadas. Essa constatação fica patente nas falas dos
Professores A e E, os quais afirmam que:
A única coisa que foi nos passado foi pela coordenadora da escola, que
falou pra nós que teríamos um aluno com laudo e que é..., ia ter a
estagiária pra acompanhar esse aluno e o restante dos alunos. (Professor
A)
Com base nas falas expostas, esses estagiários, de modo geral, encontram-se
perdidos, exercendo uma função que não é deles, e sim do professor. Conforme o relato
do Estagiário D1, “o professor da escola teria que ajudar a gente na questão de como
ensinar essa criança, de como fazer [com] que ela desenvolva. No meu caso, que foi com
uma criança hiperativa8, era a forma de ensinar mesmo a ler, a escrever [...]”. Ora,
depreende-se, nesse caso, que o estagiário ficava encarregado de ensinar e alfabetizar
determinado aluno, sentindo-se isolado em seu trabalho. Logo, mesmo sem condições
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A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva menciona como público-
alvo alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
Assim, quando o estagiário relata, em sua fala, “criança hiperativa” demonstra que, no município
pesquisado, alunos nessa condição também recebem atendimento especializado na classe comum,
possuindo um estagiário para auxiliá-lo.
A partir das falas dos sujeitos, no que tange aos papéis, tanto do professor quanto
do estagiário, notamos que, dos seis casos, em três deles (Professor B – Estagiário B1,
Professor C – Estagiário C1, Professor E – Estagiário E1), o estagiário e o professor
entendem seu papel em relação aos alunos com deficiência, beneficiando, assim, a
aprendizagem destes. Para ilustrar, escolheu-se somente um relato mais esclarecedor
dessa relação:
Eu enxergo o estagiário como um apoio para o aluno, mas eu sei que esse
papel de ensinar, de passar o conhecimento com o aluno, de fazê-lo
entender no processo de aprendizagem é meu. Eu sou a professora. A
estagiária é o apoio. Ela vai usar de alguns objetos, alguns jogos para que
o aluno possa alcançar o entendimento daquele conteúdo ministrado.
Mas eu tenho consciência do meu papel como professora. Eu também
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Os autores dessa citação se basearam neste texto: BATISTA, C. A. M.; MANTOAN, M. T. E. Atendimento
Educacional Especializado em Deficiência Mental. In: GOMES, A. L. L. et al. Atendimento Educacional
Especializado: Deficiência Mental. São Paulo: MEC/SEESP, 2007.
Eu não penso que meu papel dentro da sala de aula mude em relação ao
estagiário, assim, eu acredito que tem que ter uma parceria entre eu [sic]
e ela, para que o trabalho corra bem, porque se ela não for é ...é com
meu jeito e eu não for com o jeito dela? Acho que aí quem tem mais a
perder sou eu, e não ela. Porque aí, no caso, se eu não aceitar ela como
ela é, e eu começar a achar que tem alguma coisa [de] errado com ela, eu
posso pegar no pé dela e ela pode também cansar e me largar. E é uma
coisa assim, que tem que ter uma troca de... amizade, responsabilidade,
de nós duas, eu com ela e o aluno, e ela comigo e com o aluno, eu vejo
assim, entendeu? (Professor F)
Com o estagiário, foi muito boa, não vi problema nenhum, é foi uma,
assim, ajuda a mais que eu tive. É em poder tá ajudando a criança que
naquele momento precisaria daquele apoio da estagiária, ou seja, pra
copiar, não conseguia copiar, não conseguia acompanhar os colegas.
Então, assim, ela copiava e pegava na mão, o qual esse tempo eu não ia
ter pra poder ficar pegando na mãozinha dele, devido ao número de
alunos que é muito maior, 42 alunos, na sala de aula, pra você estar
pegando na mãozinha de uma criança só. Então, não tinha esse tempo,
enquanto ela já tinha, porque ela só tinha ele pra poder orientar.
(Professor D)
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Estef (2013) alude ao seguinte texto: RODRIGUES, D. Educação inclusiva: as boas notícias e as más
notícias. In: RODRIGUES, D. (Org.). Perspectivas sobre inclusão: da educação à sociedade. p. 89-101. Portugal:
Porto Editora, 2003.
Para o benefício do aluno com deficiência, deve haver contribuição das duas
partes, pois tanto o professor quanto o estagiário são responsáveis por planejar, avaliar e
resolver os problemas relacionados ao aluno. É imprescindível existir uma troca de
experiências e saberes, porque mesmo que o estagiário ainda esteja em processo de
formação, na maioria das vezes, é ele quem permanece mais tempo na sala, em todas as
aulas, observando, conhecendo e ajudando os alunos. Dessa maneira, o estagiário pode
contribuir com a prática desse professor, auxiliando-o a organizar estratégias de inclusão
mais adequadas para o aluno com deficiência. Nessa direção, é preciso partir do
pressuposto de que:
Muito boa, a gente sempre teve uma relação muito boa, graças a Deus,
nunca tivemos assim é... posso dizer, desentendimento. A gente sempre
teve, quando, às vezes eu via que o menino estava com algum
probleminha, entre ela e a matéria, às vezes eu ia lá. Não deixava o
menino é... reagir, fazer alguma coisa errada, e ela também. Então a
gente sempre teve assim, tanto é que a nossa conversa com a mãe
sempre foi a mesma, a gente falava assim oh: “O que você falar com a
mãe, tem que ser uma coisa que eu e você falamos a mesma língua pra
não dar problema depois”. Entendeu? (Professor F)
Observando outras falas dos seis professores entrevistados, quatro relatam a falta
de “preparo”, ressaltando o quão difícil é ministrar aulas em uma sala de aula com aluno
com deficiência, conforme suas percepções. Para demonstrar a afirmação, escolheram-se
dois relatos, respectivamente do professor A e do professor F:
Ah, eu vejo muito difícil, se não tivesse elas, as estagiárias pra ajudar
dentro da sala, seria muito difícil, porque eu não sei lidar com as
Tais situações relatadas pelos professores estão muito próximas das queixas já
identificadas por Capellini e Mendes (2007), que investigaram essa dificuldade dos
professores em trabalhar com alunos com deficiência dentro da sala de aula, concluindo
que:
Apesar de quatro professores terem mencionado essa falta de preparo, dois deles
mencionam que, mesmo com as dificuldades, esse aluno com deficiência deve ser tratado
igual aos outros e que cabe aos professores buscar conhecimento e práticas para se
trabalhar com todos os alunos, sejam com deficiência ou não:
Considerações finais
Nesse caso, seria necessário que a citada coordenadora e demais envolvidos com a
Educação Especial no município em questão promovessem formações para os estagiários
já em serviço. Seria interessante, por exemplo, criar grupos de estudos para tratar das
deficiências encontradas no município, das leis que regem a Educação Especial e do
trabalho dos próprios estagiários enquanto profissionais de apoio à inclusão escolar,
discutindo-se com clareza qual seria o trabalho de cada um e quais os direitos e deveres
dos profissionais. Outra ideia, ainda, seria realizar reuniões para sanar as dúvidas que
viessem a surgir ao longo do ano, possibilitando que participassem professores e
coordenadores das escolas que trabalham com esses estagiários, para que todos
consigam entender suas funções, tirem suas dúvidas e trabalhem juntos.
Referências
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da pessoa com deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015. Disponível
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<http://erevista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/download/1659/1346>.
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