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23/08/2018 Resenha: “O que é o Contemporâneo?

”, de Giorgio Agamben

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Cientista Social e Jornalista.
Apr 5, 2017 · 5 min read

Resenha: “O que é o Contemporâneo?”, de


Giorgio Agamben
O texto “O que é o contemporâneo?” foi escrito a partir da lição
inaugural para o curso de Filoso a Teorética, ministrado por Giorgio
Agamben entre 2006 e 2007. Sua intenção foi a de demonstrar aos
alunos que a capacidade de cada um deles de se fazer contemporâneo
ao seu tempo, assim como ao de autores e textos que ali analisariam,
era essencial para o sucesso do curso. O que encontramos nesse texto,
portanto, é uma compreensão mais ampla do conceito de
contemporaneidade.

Diferente da palavra — e do seu signi cado inscrito nos dicionários


gramáticas — , Agamben se preocupa aqui com o conceito.
Contrariando o que mais comumente pensamos, aquele que adere sem
atritos ao seu próprio tempo, sentindo-se em harmonia total com ele e
com seus elementos, não poderia ser contemporâneo. É com o conceito
de intempestividade de Nietzsche que o autor começa a delimitar sua
concepção. Mas como poderia o intempestivo, o inoportuno, de nido
como aquele que está “fora do tempo próprio”, “imprevisto, súbito”, ser
tomado como uma característica do contemporâneo? Pois é. Assim é
(ou deveria ser) a loso a e a ciência: rejeitando as mais óbvias

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23/08/2018 Resenha: “O que é o Contemporâneo?”, de Giorgio Agamben

constatações, nos provam que aparências opostas podem constituir


conceitos complementares.

Em suas “Considerações Intempestivas” Nietzsche declara que


“Intempestiva essa consideração o é porque procura compreender
como um mal, um inconveniente e um defeito algo do qual a época
justamente se orgulha” (NIETZSCHE apud AGAMBEN, p.58). Nesse
sentido, é por não se adequar perfeitamente a seu tempo que o lósofo
poderia melhor compreendê-lo.

Ofereço novo exemplo: é muito comum a frase “quem está de fora


enxerga melhor”; diria até que esse princípio é a base e legitimação
para que procuremos ou aceitemos qualquer tipo de conselho. A mesma
lógica perpassa a concepção de que a intempestividade é característica
indispensável ao contemporâneo. Quando buscamos conselhos ou
opiniões externas, recorremos não a qualquer um, mas ao amigo,
aquele que trará o olhar de fora mas que só pode fazê-lo por conhecer
os elementos envolvidos; ele é externo, mas nunca alheio. É também
assim com a contemporaneidade. O contemporâneo não é aquele que
deseja viver em outro tempo, um nostálgico que sente-se pertencente
mais à Rússia de 17 ou ao Brasil de 64 do que ao período em que vive.
Como de ne Agamben:

“A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio


tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; mais
precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de
uma dissociação e um anacronismo. Aqueles que coincidem muito
plenamente com a época, que em todos os aspectos a esta aderem
perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não
conseguem vê-la, não podem manter xo o olhar sobre ela” (AGAMBEN,
p.59).

O autor prossegue dizendo, com a ajuda de Osip Mandel’stam*, que o


contemporâneo é aquele que mantém xo o olhar em seu próprio
tempo, para nele enxergar não as luzes, mas sua escuridão. O que seria
essa escuridão? O que encontra o contemporâneo ao encará-la?

. . .

O Escuro
Segundo a neuro siologia da visão, a ausência de luz desinibe as o -
cells, células periféricas da nossa retina. Elas, quando em atividade,
produzem uma forma especí ca de visão a que chamamos “escuro”.

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23/08/2018 Resenha: “O que é o Contemporâneo?”, de Giorgio Agamben

Nesse sentido, o escuro não é apenas “ausência de luz” ou uma “não-


visão”, mas resultado de uma atividade especial da nossa retina.

Nesse sentido, perceber o escuro não é passividade. Implica a


capacidade de neutralizar as luzes do seu tempo e enxergar as suas
trevas, com a consciência de serem elas partes indissociáveis.

Já para a astrofísica contemporânea o escuro que enxergamos ao


observar o céu noturno nada mais é do que a luz que não pode nos
alcançar, ainda que sua viagem em nossa direção seja incansável. Isso
porque ela provém de galáxias que se distanciam de nós a uma
velocidade superior à da luz. O presente é como essa luz. O presente
nunca pode nos alcançar.

“Perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar mas não
pode fazê-lo, isso signi ca ser contemporâneo. Por isso os contemporâneos
são raros. E por isso ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de
coragem: porque signi ca ser capaz não apenas de manter xo o olhar no
escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que,
dirigida para nós, distancia-se in nitamente de nós. Ou ainda: ser pontual
num compromisso ao qual se pode apenas faltar” (AGAMBEN, p.65).

A contemporaneidade possui particular relação também com o arcaico.


Isso porque é preciso, para ser contemporâneo, enxergar no que há de
mais recente os vestígios de sua origem. Pois, assim como a infância se
faz presente e atuante na vida adulta, o passado — a origem —
permanece ligado ao caminho da história (ao seu devir) e agindo sobre
ele.

Aqueles que se dedicaram a pensar a contemporaneidade só puderam


fazê-lo pois introduziram no tempo uma cisão, uma ruptura, retirando
o presente da “homogeneidade inerte do tempo linear”, de forma a ter
um olhar renovado diante da relação entre os tempos (como entre o
arcaico e o atual). Quando o indivíduo consegue se referir ao seu tempo,
necessariamente deve enxergar um ponto de cisão, uma fratura no
desenrolar da história. E é desse ponto de ruptura que pode lançar um
novo olhar não só para o seu tempo, como também para o passado.

“Isso signi ca que o contemporâneo não é apenas aquele que, percebendo o


escuro do presente, nele apreende a resoluta luz; é também aquele que
dividindo e interpolando o tempo, está à altura de transformá-lo e de
colocá-lo em relação com os outros tempos, de nele ler de modo inédito a
história, de ‘citá-la’ segundo uma necessidade que não provém do seu
arbítrio, mas de uma exigência à qual ele não pode responder. É como se

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aquela invisível luz, que é o escuro do presente, projetasse a sua sombra


sobre o passado, e este, tocado por esse facho de sombra, adquirisse a
capacidade de responder às trevas do agora” (AGAMBEN, p.72).

A contemporaneidade, portanto, pode ser compreendida como uma


relação que o indivíduo assume com o seu tempo (ou com qualquer
outro tempo sobre o qual lance seu olhar), por meio da qual produz ou
identi ca no desenrolar da história pontos de cisão e, a partir deles
pode neutralizar o brilho que tudo aquilo que é novo e moderno emite,
para enxergar suas trevas. É também o contemporâneo que,
conhecendo o escuro do seu tempo, pode voltar-se para a origem (para
o passado) e questioná-la quanto às suas consequências.

*Agamben coloca trechos do poema A Era, datado de 1923,


demonstrando a relação que assumo o poeta com o próprio tempo.

Bibliogra a

AGAMBEN, GIORGIO. “O que é o Contemporâneo?” In: O que é o


Contemporâneo? e outros ensaios; [tradutor Vinícius Nicastro
Honesko]. — Chapecó, SC: Argos, 2009.

. . .

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