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FORMAÇÃO DO PROCESSO
SUSPENSÃO DO PROCESSO
Noções Gerais
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A suspenção do processo não gera a cessação dos seus efeitos jurídicos (exemplo:
litispendência, constituição em mora, litigiosidade da coisa, etc.), e, a menos que haja decisão
judicial em sentido contrário, a tutela antecipada continuará produzindo efeitos durante o período
de suspensão do processo (parágrafo único do art. 296 do CPC). Portanto, não se confunde a
suspensão do processo com a suspensão dos efeitos do processo. Assim, os atos processuais
anteriores à suspensão do processo permanecem válidos.
Os prazos iniciados antes da suspensão voltam a fluir de onde haviam parado tão logo o
processo retome o seu curso normal. De fato, o que há é a suspensão do processo e não a sua
interrupção.
Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz, todavia,
determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição
de impedimento e de suspeição (art. 314 do CPC). Exemplos de atos urgentes: citação para
interromper prescrição prestes a ocorrer; antecipação da prova cujo perecimento for iminente,
concessão de tutela de urgência, etc. No caso de suspensão por impedimento ou suspeição, porém,
a tutela de urgência deve ser requerida ao substituto legal do juiz (§ 3º do art. 140 do CPC), mas se
o relator não suspender o processo a tutela de urgência será apreciada pelo próprio magistrado
acusado de impedimento ou suspeição.
Quanto aos eventuais atos não urgentes que o juiz praticar durante o período da suspensão
do processo, em flagrante violação ao citado art. 314 do CPC, Pontes de Miranda os considera
juridicamente inexistentes e, portanto, insuscetíveis de convalidação. Outros, como Fredie Didier
Jr., partem do pressuposto que os atos são existentes, mas derivam de uma conduta ilícita, sujeitos
à invalidação se houver prejuízo e, caso não haja prejuízo, os atos serão ineficazes
temporariamente, apenas no período da suspensão, reputando-os praticados no exato momento
em que cessa a suspensão do processo.
A suspensão do processo sempre depende de decisão judicial, que retroage à data do feito
que ensejou a paralisação do procedimento. Trata-se, segundo a doutrina dominante, de decisão
meramente declaratória, posto que as causas de suspensão do processo emanam diretamente da
lei, limitando-se o juiz apenas a declarar a sua existência.
O processo suspenso, em algumas hipóteses, volta a fluir automaticamente,
independentemente de decisão judicial, tão logo cesse a causa de suspensão. Tal ocorre quando a
própria lei já prevê o término da suspensão (ex.: com o julgamento da arguição de impedimento ou
suspeição cessa automaticamente a suspensão do processo). Outrossim, nos casos em que o juiz,
na decisão que suspendeu o processo, já houver fixado o termo final dessa suspensão.
Se, porém, o termo final da suspensão for incerto, por exemplo, suspensão por motivo de
força maior, a retomada do processo dependerá de decisão judicial.
De acordo com o art. 313 do CPC, as causas de suspensão do processo são as seguintes:
a) suspensão por morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador.
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Entende-se por partes não apenas o autor e o réu, mas também todas as pessoas que
atuam no contraditório (exemplos: assistente, denunciado à lide e outros).
Se a parte for incapaz, o processo também se suspende pela morte ou incapacidade do seu
representante legal. Entretanto, a morte do representante da pessoa jurídica não provoca a
suspensão do processo, pois outra pessoa física, na forma do ato constitutivo, assumirá as suas
funções.
A morte ou perda da capacidade processual do procurador, isto é, do advogado de qualquer
das partes acarreta igualmente a suspensão do processo, salvo quando houver mais de um
advogado.
Nas ações personalíssimas, por exemplo divórcio, a morte do autor ou réu gera a extinção
do processo sem resolução do mérito, nas demais ações, que envolvem bens ou direitos
transmissíveis, haverá apenas a suspensão do processo nos termos do art. 689, para que se
providencie a habilitação dos sucessores ( art. 313, § 1º, do CPC).
Se ninguém mover a ação de habilitação, o juiz determinará que a habilitação se proceda
nos próprios autos e, no caso, falecido o réu, o juiz intimará o autor para que promova a citação do
respectivo espólio, sucessores ou herdeiros, conforme a hipótese, no prazo que designar, de no
mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses, sob pena de extinção do processo sem resolução do
mérito. Falecido o autor e não sendo movida a ação de habilitação, o juiz também ordenará a
habilitação nos próprios autos e determinará a intimação do espólio, sucessores ou herdeiros, pelos
meios de divulgação que reputar mais adequados, para que se habilitem nos autos no prazo
designado, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito (art. 313, §2º, do CPC).
Por outro lado, verificada a morte ou perda da capacidade processual do representante
legal da parte, o juiz também suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja
sanado o vício. Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária, haverá
extinção sem resolução do mérito, se a providência couber ao autor; se couber ao réu, ele será
considerado revel e se couber ao terceiro, que havia ingressado no polo ativo, ele será excluído do
processo, que prosseguirá com os demais autores; se o terceiro tinha ingressado no polo passivo
será considerado revel.
Descumprida a determinação em fase recursal perante o tribunal, o relator não conhecerá do
recurso, se a providência couber ao recorrente; se competia ao recorrido, o relator determinará o
desentranhamento das suas contrarrazões (§§ 1º e 2º, do art. 76 do CPC).
No caso de morte ou perda da capacidade civil do advogado de qualquer das partes, o juiz
suspenderá o processo e fixará o prazo de 15 (quinze) dias para que a parte constitua novo
procurador, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução do mérito, se a providência
competia ao autor; se competia ao réu, o processo prosseguirá à sua revelia (§ 3º do art. 313 do
CPC). Se havia mais de um autor e um deles não constituir advogado, ele será excluído do processo,
que prosseguirá com os demais autores.
No caso de morte do advogado de qualquer das partes, o § 3º do art. 313 do CPC destaca que o
juiz suspenderá o processo ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento.
As partes podem celebrar acordo para suspender o processo pelo prazo máximo de (seis)
meses, desde que a ação verse sobre direito disponível. A suspensão, porém, depende de decisão
judicial. Todavia, essa decisão, segundo Humberto Theodoro Junior, é ato vinculado e não
discricionário, pois não é dado ao juiz o poder de vetá-la.
Trata-se de um negócio jurídico processual em que as partes não precisam sequer mencionar
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O incidente de impedimento ou suspeição do magistrado pode ser arguido pela parte, no prazo
de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, em petição específica dirigida ao juiz do
processo (art. 146 do CPC).
Se, ao receber petição, o juiz reconhecer o impedimento ou a suspeição, ele fará a remessa dos
autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição,
apresentará suas razões, acompanhadas das respectivas provas, se houver, ordenando a remessa
do incidente ao tribunal. Este incidente é sempre da competência originária do tribunal.
Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente for
recebido sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr, mas se recebido com efeito
suspensivo, o processo permanecerá suspenso até o julgamento do incidente (§ 2º do art. 146 do
CPC).
Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou quando este for recebido
com efeito suspensivo, a tutela de urgência será requerida ao substituto legal (§ 3º do art. 146 do
CPC).
Por fim, o incidente de impedimento ou suspeição do perito ou membro do Ministério Público
não suspende o processo.
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Questão prejudicial é aquela que pode ser objeto principal de um processo autônomo, cuja
solução é indispensável para o julgamento de um outro pedido. Referida questão, por se
apresentar como antecedente lógico de outro pedido, deve ser decidida com precedência.
Exemplo: numa ação de alimentos movida pela companheira em face do companheiro é necessário
que primeiro se decida se houve ou não união estável entre eles.
A questão prejudicial interna, que é aquela suscitada dentro da mesma ação em que vai ser
proferida a sentença de mérito, não é causa de suspensão do processo, pois ela será julgada
simultaneamente na própria sentença que apreciará o pedido principal. Exemplo: na contestação
da ação de despejo, o réu alega que o contrato é de comodato, e não de locação.
Por outro lado, a questão prejudicial externa, que é aquela que é objeto principal de uma outra
ação, figura como causa de suspensão de processo. Exemplo: na contestação da ação de despejo, o
réu comunica que encontra-se pendente ação declaratória da existência do contrato do comodato
movida por ele em face do autor. Outro exemplo: numa ação de indenização por acidente de
trabalho movida em face do empregador, o juiz pode suspender o processo se houver uma ação
trabalhista em que as partes discutem a existência de vínculo empregatício.
Com efeito, o art. 313, IV, a, do CPC dispõe que suspende-se o processo quando a sentença de
mérito depender do julgamento de outra causa ou da declaração da existência ou inexistência de
relação jurídica que constitui o objeto principal de outro processo pendente .
A suspensão do processo por prejudicialidade externa poderá ser determinada de ofício ou a
requerimento da parte, mas o prazo dessa suspensão nunca poderá exceder 1 (um) ano (§ 4º do
art. 313 do CPC). Findo esse prazo, o juiz mandará prosseguir o processo e decidirá, na motivação
da sentença, a questão prejudicial.
Na verdade, a suspensão do processo por questão prejudicial externa tem caráter subsidiário,
porque entre as ações, há evidentemente conexão, impondo-se, destarte, a reunião dos processos
para julgamento simultâneo, por força do § 1º do art. 55 do CPC.
Força convir então que a suspensão do processo só ocorrerá quando não for possível reunir as
ações conexas, ou seja, as competências forem diferentes em caráter absoluto. Exemplos: ação
penal e ação civil; ação da Justiça Estadual e da Justiça Trabalhista, etc.
Por fim, se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato criminoso,
o juiz pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal (art. 315 do
CPC). Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do ato de
suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentalmente a questão
prévia (§ 1º do art. 315 do CPC). Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo
máximo de 1 (um) ano (§ 2º do art. 315 do CPC).
f) Suspensão por verificação de um fato ou produção de uma prova, requisitada a outro juízo
Suspende-se o processo quando a sentença de mérito só puder ser proferida após a verificação
de determinado fato ou a produção de certa prova, apresentada a outro juízo (art. 313, V, b, do
CPC).
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Todavia, a prova apresentada a outro juízo através de carta precatória, carta rogatória e auxílio
direto só suspenderão o julgamento da causa quando, além de ser imprescindível, houver sido
requerida antes da decisão de saneamento (art. 377 do CPC). Se requerida antes do saneamento,
mas for prescindível, não há falar-se em suspensão do processo, que igualmente não se suspenderá
quando a prova, conquanto imprescindível, tiver sido requerida após o saneamento, mas alguns
autores proclamam pela suspensão quando a testemunha mudou de comarca após o saneamento,
obrigando o juiz a expedir a carta precatória.
O prazo da suspensão do processo, nesses casos, nunca poderá exceder a 1 (um) ano (§ 4º do
art. 313 do CPC).
De conformidade com o art. 313, VII, do CPC, suspende-se o processo quando se discutir em
juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo.
O Tribunal Marítimo é um órgão administrativo vinculado ao Ministério da Marinha, regulado
pela lei 2.180/1954, com atribuição para julgar os acidentes e os fatos da navegação. Suas decisões
não se sujeitam à coisa julgada material nem constituem título executivo judicial, mas, consoante
art. 21 da citada lei, geram presunção relativa de veracidade quanto às questões técnicas, sendo,
porém suscetíveis de reexame pelo poder judiciário.
Portanto, movida a ação judicial para se discutir o acidente ou fato da navegação, o juiz
suspenderá o processo para aguardar a decisão administrativa do Tribunal Marítimo que, a rigor,
funcionará como órgão auxiliar do Poder Judiciário.
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PERGUNTAS:
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31) Por que se diz que a suspensão do processo por questão prejudicial tem caráter
subsidiário?
32) Se o conhecimento do mérito depender de existência de fato criminoso, o juiz pode
suspender o processo? Em caso positivo, qual a duração dessa suspensão?
33) A prova requisitada a outro juízo é causa de suspensão do processo? Em caso positivo,
qual a duração dessa suspensão?
34) A greve dos funcionários do fórum suspende o processo?
35) Se a questão discutida no processo também estiver sendo discutida perante tribunal
marítimo, haverá a suspensão do processo?
36) Qual o efeito dessa decisão do tribunal marítimo?
37) O rol do art.313 do CPC é taxativo?
38) Cite sete hipóteses de suspensão do processo que não se encontram previstas no rol do
art. 313.
39) O que é sentença terminativa?
40) O ato judicial que se enquadra no art.485 do CPC, mas que não extingue o processo,
classifica-se como sentença?
41) O que é sentença definitiva ou de mérito?
42) O mero enquadramento no art. 487 do CPC torna o ato judicial uma sentença de mérito?
43) Explique o princípio da primazia da decisão de mérito, previsto no art.488 do CPC. Dê
exemplos.
44) A sentença terminativa impede a propositura da mesma ação?
45) Para se propor novamente a ação, quais os dois requisitos?
46) A sentença terminativa anterior faz coisa julgada material em relação a qual tipo de
questão?
47) Diante de uma sentença terminativa, cite as hipóteses em que a ação pode ser proposta
novamente com os mesmos elementos, mas não nos mesmos termos. Cite também as
hipóteses em que a ação pode ser proposta novamente com os mesmos elementos e nos
mesmos termos. Cite também as hipóteses em que a ação não poderá ser novamente
proposta.
48) Em caso de propositura da mesma ação, qual será o juízo competente?
49) Em caso de apelação interposta contra uma sentença terminativa, o juiz poderá se
retratar? E se a apelação for intempestiva?
50) Quais as diferenças entre a sentença que indefere a petição inicial e a sentença prolatada
com base no art. 485, IV, V ou VI do CPC?
51) O que se entende por indeferimento da petição inicial?
52) O que é o despacho liminar ordinatório? Quando ele deve ser prolatado?
53) Se o juiz reconhece a prescrição ou decadência antes da citação ele deverá indeferir a
petição inicial?
54) Qual a diferença entre os incisos II e III do art.487 do CPC?
55) Explique o inciso II do art. 487 do CPC. Quem pagará as custas processuais? Haverá
condenação aos honorários advocatícios? Quem é intimado para dar andamento ao
processo? Se o processo ficar paralisado por mais de um ano por vício transponível, aplica-
se o inciso III do art.487? se não houve culpa de ambas as partes pela paralisação do
processo, aplica-se o art.487, III, do CPC?
56) O que é o abandono do processo?
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EXTINÇÃO DO PROCESSO
INTRODUÇÃO
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De acordo com o art. 485 do CPC, o juiz não resolverá o mérito quando:
a) despacho liminar positivo: é o que ordena a citação do réu, significa que houve o
deferimento da inicial, de modo que se o juiz constatar posteriormente que a hipótese deveria ser
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de indeferimento da petição inicial, o fundamento da sentença terminativa será o art. 485, incisos
IV, V ou VI. O que distingue o inciso I (indeferimento liminar) dos incisos IV, V e VI do art. 485 não é
o seu conteúdo, que se repete nesses incisos, e, sim, o momento da extinção do processo, que é
ordenado liminarmente.
Assim, a falta de pressuposto processual, de legitimidade ou de interesse processual ensejará
a sentença terminativa do inciso I do art. 485 se prolatada liminarmente, sem que antes houvesse
sido ordenada a citação do réu, bem como a sentença terminativa dos incisos IV, V e VI, conforme a
hipótese, quando prolatada após já houver sido ordenada a citação do réu. Na sentença do art.485,
I, do CPC, o juiz não condena o autor aos honorários advocatícios, mas esta condenação se
verificará nas sentenças dos incisos IV, V e VI.
b) despacho liminar negativo: é o indeferimento da petição inicial, com base num dos
incisos do art. 330 do CPC. Trata-se, na verdade, de sentença terminativa do art. 485, I, do CPC,
posto que se determinará a extinção do processo sem resolução do mérito. O termo indeferimento
da petição inicial é reservado exclusivamente às hipóteses de sentenças terminativas prolatadas
sem que antes se houvesse ordenado a citação do réu.
c) despacho liminar ordinatório: é o que ordena o autor a sanar os vícios supríveis da
petição inicial. Nesse caso, o autor terá 15 (quinze) dias para emendá-la ou complementá-la, sob
pena de indeferimento da petição inicial (art. 321 e parágrafo único do CPC). Quando o vício for
sanável, o juiz, antes de indeferir a inicial, deverá conceder ao autor oportunidade para corrigi-lo
(art. 317 do CPC).
Acrescente-se, ainda, que a decadência ou prescrição, quando detectadas desde logo, não é
caso de indeferimento da petição inicial e, sim, de julgamento liminar improcedente, que é
considerado sentença de mérito (§ 1º do art. 332 e art. 487, II, ambos do CPC).
II – o processo ficar parado por mais de 1 (um) ano por negligência das partes.
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III – por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa
por mais de 30 (trinta) dias.
Abandono do processo é o fato do autor abster-se de praticar os atos e as diligências que lhe
incumbir.
Nesse caso, a extinção do processo depende de três requisitos cumulativos:
a) que o abandono persista por mais de 30 (trinta) dias;
b) que o réu, após o prazo acima, requeira a extinção do processo por abandono (§ 6º
do art. 485 do CPC e súmula 240 do STJ). O juiz não deve intimar o autor de ofício, mas somente
mediante requerimento do réu, que poderá optar pelo prosseguimento do processo a fim de se
obter uma sentença de mérito que lhe seja favorável. Entretanto, se o réu ainda não ofereceu
contestação, é desnecessário o seu requerimento ou consentimento para a extinção do processo
por abandono, podendo, nesse caso, o juiz agir de ofício. Exemplo: o autor não paga as custas
necessárias à citação do réu.
c) que o autor, após o requerimento do réu, seja intimado pessoalmente para suprir a
falta no prazo de 5 (cinco) dias. Intima-se pessoalmente o autor e não o seu advogado. Se persistir a
inércia, o juiz prolata sentença terminativa, que extingue o processo sem resolução do mérito e
ainda condena o autor ao pagamento das despesas processuais e dos honorários do advogado do
réu (§ 2º do art. 485 do CPC).
Não é qualquer abandono do autor que pode levar à extinção do processo sem resolução do
mérito, mas apenas aquelas omissões que inviabilizam o julgamento do mérito. A falta de depósito
dos honorários periciais, por exemplo, fará com que o juiz dispense a produção dessa prova.
No inventário, o eventual abandono do processo pelo inventariante ensejará a sua
destituição. Igualmente nos processos de falência e insolvência civil que são abandonados pelo
administrador judicial. Nesses casos, o abandono não gera a extinção do processo e, sim, a
destituição do representante judicial (inventariante ou administrador judicial).
No incidente de demandas repetitivas, se o requerente desistir ou abandonar o processo, o
Ministério Público deverá assumir a sua titularidade e, por consequência, o abandono ou
desistência não impedirá exame de mérito do incidente (§§ 1º e 2º do art. 976 do CPC).
Por fim, sobre a distinção entre abandono e desistência, cumpre destacar que o abandono é
tácito e não exige procuração com poderes expressos para abandonar, classificando-se, ainda,
como ato-fato processual à medida que não se investiga o elemento subjetivo, isto é, se houve ou
não a vontade de abandonar, ao passo que a desistência deve ser expressa e se exige procuração
com poderes especiais para desistir, conforme art. 105 do CPC, classificando-se como negócio
jurídico processual unilateral ou bilateral, conforme o pedido de desistência tenha sido formulado
antes ou depois da contestação. Ressalte-se, ainda, que o abandono do processo, por três vezes,
gera a perempção que, entretanto, nunca poderá ocorrer na desistência da ação.
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extinguir o processo, o juiz deve intimar o autor para providenciar a outorga do seu cônjuge.
A falta de determinados pressupostos processuais não geram a extinção do processo e, sim,
outra solução legal. Exemplo: a falta de capacidade processual e de capacidade postulatória do réu,
caso o vício não seja sanado, o processo prosseguirá à sua revelia (arts. 76, § 1º, II e 313, § 3º do
CPC). Outro exemplo: a suspeição ou impedimento do juiz não acarreta a extinção do processo e
sim a sua remessa ao juiz substituto legal (§ 5º do art. 145 do CPC).
Mais um exemplo: a incompetência do juízo, salvo no juizado especial, não gera a extinção do
processo, mas a remessa dos autos ao juízo competente (§ 2º do art. 64 do CPC e art. 51, III, da lei
9.099/95).
PERGUNTAS:
PROCEDIMENTO COMUM
O procedimento comum tem função subsidiária, pois aplica-se a todas as causas não regidas
pelos procedimentos especiais (art.318 do CPC).
Diante da possibilidade de abranger uma série indefinida de lides, o legislador lhe conferiu
uma estrutura mais detalhada que os outros procedimentos. É, pois, caracterizado por um número
maior de atos processuais.
Didaticamente, visualiza-se quatro fases no procedimento comum, que são as seguintes:
1) fase postulatória;
2) fase ordinatória;
3) fase instrutória ou probatória;
4) fase decisória.
A fase postulatória é complexa, pois envolve a prática dos seguintes atos processuais:
a) petição inicial;
b) despacho que recebe a inicial e ordena a citação;
c) citação;
d) audiência preliminar de tentativa de conciliação ou mediação;
e) resposta do réu;
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f) providências preliminares.
As providências preliminares dilatam a fase postulatória, nela inserindo novos atos. Pode
ocorrer de a fase postulatória se encerrar com a resposta do réu ou então estender-se até as
providências preliminares. Na fase postulatória, como se vê, há o predomínio de atos processuais
praticados pelas partes, apenas alguns atos são praticados pelo juiz. É uma fase complexa, pois
envolve a prática de diversos atos processuais.
A fase ordinatória, por sua vez, é caracterizada por um único ato, que é a decisão de
saneamento, cuja finalidade é preparar o processo para a instrução probatória. É uma fase simples
ou unitária, isto é, registra apenas um ato processual, que é praticado exclusivamente pelo juiz. Não
é possível a fase instrutória sem a decisão de saneamento e não é possível que após o saneamento
haja imediatamente a sentença. Em suma, se há saneamento necessariamente haverá a fase
instrutória. O saneamento só é necessário quando houver questão de alta indagação, que é o ponto
fático impugnado, controvertido, que não está comprovado por documento. Questão jurídica e
questão comprovada por documento dispensam o saneamento e, por consequência, a fase
instrutória, ensejando o julgamento antecipado do mérito. Assim enquanto a prova documental é
produzida na fase postulatória, juntamente com a petição inicial ou contestação, a fase instrutória é
reservada para as questões fáticas que envolvam outras provas, como a testemunhal e a pericial.
Por outro lado, a fase instrutória ou probatória é aquela em que se produz as provas
testemunhais, periciais e outras. É uma fase em que predomina os atos das partes.
Por fim, a fase decisória é a sentença. É uma fase simples, que tem apenas um único ato, que
é praticado exclusivamente pelo juiz.
Vê-se assim que há a alternância de quem pratica os atos processuais. Na primeira fase,
predomina os atos do autor e réu, na segunda o ato é exclusivamente do juiz, na terceira
predomina novamente os atos do autor e réu e na quarta o ato é novamente exclusivo do juiz.
As fases constantes, que necessariamente ocorrem em todo procedimento comum, são as
postulatória e decisória.
As fases contigenciais ou relativas, que podem ou não ocorrer, são as ordinatória e
probatória. Assim, as fases de ponta, que são a postulatória e a decisória, sempre se verificam. As
fases intercalares, que são as ordinatória e instrutória, nem sempre ocorrem, pois às vezes há a
compactação do procedimento comum, a derrogação das fases intercalares.
O procedimento comum é pleno quando se desenvolve as quatro fases e compactado quando
tem apenas duas fases. Não há procedimento comum com três fases, isto é, postulatória,
ordinatória e decisória, pois a fase ordinatória é a que ordena a fase instrutória.
O procedimento comum compactado ocorre nas seguintes hipóteses:
a) julgamento de improcedência liminar do pedido (art.332 do CPC).
b) julgamento antecipado do mérito (art. 335 do CPC).
c) extinção do processo por indeferimento da inicial (art.485, I, do CPC).
d) sentenças homologatórias do reconhecimento do pedido, da renúncia e da transação
(art.487, II, do CPC).
PETIÇÃO INICIAL
CONCEITO
Petição Inicial, sob o aspecto finalístico ou funcional, é a peça inaugural do processo através
da qual o autor formula o pedido, provocando o Estado-Juiz a prolatar o provimento jurisdicional.
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NATUREZA JURÍDICA
FUNÇÕES
EFEITOS PROCESSUAIS
FORMA
REQUISITOS
A petição inicial é um ato processual solene, que deve conter os seguintes requisitos previstos
no art. 319 do CPC:
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Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial,
requerer ao juiz diligências necessárias à sua obtenção (§ 1º do art. 319 do CPC).
A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o
inciso II, for possível a citação do réu (§ 2º do art. 319 do CPC).É a aplicação do princípio da
instrumentalidade das formas.
Igualmente, a petição inicial não será indeferida pelo não atendimento do inciso II se a
obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça (§ 3º
do art. 319 do CPC). Nas invasões de terras por um grande número de pessoas, por exemplo, torna-
se impossível ao autor saber o nome e endereço de todos os invasores, nesse caso, o oficial de
justiça citará todos os supostos invasores, procurando, se possível, identificá-los por ocasião do ato
citatório.
V – o valor da causa.
Toda ação e reconvenção, inclusive a ação de oposição, deve conter o valor da causa certo,
ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível (art. 291 do CPC).
O valor da causa deve ser certo e fixado em moeda corrente nacional. Não há assim causa de
valor inestimável ou mínimo.
O valor da causa é importante para se determinar a competência do juizado especial e dos
foros regionais da Capital de São Paulo, além de servir de base de cálculo das custas processuais e
da caução de 5% (cinco por cento) exigida para a propositura da ação rescisória.
O juiz, de ofício, pode ordenar a correção do valor da causa, caso em que se procederá ao
recolhimento das custas correspondentes (§ 3º do art. 292 do CPC). Nada obsta que a correção seja
também para reduzir o valor quando manifestamente excessivo a ponto de violar o direito de
defesa, à medida que a prática de alguns atos processuais dependem do pagamento de custas, que
são calculadas com base no valor da causa.
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O valor da causa deverá constar na petição inicial, ainda que se trate de ação indenizatória
fundada em dano moral (art. 292, V, do CPC).
Na ação em que há cumulação própria de pedidos, o valor da causa será a soma de todos
eles, mas na cumulação imprópria, em que os pedidos forem alternativos, o de maior valor, e, na
ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal (art. 292, VI, VII e VIII do CPC).
Na ação de cobrança, o valor da causa será a soma corrigida até a propositura da ação,
incluindo juros, correção monetária e outras penalidades (art. 292, I, do CPC).
Na ação em que se discute a existência, validade, cumprimento, modificação ou extinção do
negócio jurídico, será o valor do ato ou o de sua parte controvertida (art. 292, II, do CPC).
Na ação de alimentos, a soma das 12 (doze) prestações mensais pretendidas pelo autor (art.
292, III, do CPC).
Na ação de divisão e demarcação, o valor da averbação da área e na ação reivindicatória o
valor do bem objeto do pedido (art. 292, IV, do CPC).
Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, corresponderá ao valor pretendido
(art. 292, V, do CPC).
Quando se pedir prestações vencidas e vincendas a menos de 1 (um) ano, considerar-se-á a
soma das prestações (§ 1º do art. 292 do CPC). Todavia, o valor das prestações vincendas será igual
a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1
(um) ano (§ 2º do art. 292 do CPC).
VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados.
Na verdade, basta a petição inicial indicar genericamente as provas que pretende produzir,
não é preciso apresentar o rol de testemunhas nem formular quesitos ou indicar assistente técnico
no bojo da petição inicial.
Quanto à prova documental, o autor deverá juntá-la com a petição inicial, sob pena de
preclusão (art. 434 do CPC).
A petição inicial ainda deverá vir instruída com os documentos indispensáveis à propositura
da ação (art. 320 do CPC). Exemplo: a petição inicial da ação movida por pessoa jurídica deve ser
instruída com cópia do contrato social. Outro exemplo de documento indispensável é a procuração.
No rito comum, antes do saneamento o juiz prolata um despacho para que as partes
especifiquem as provas que pretendem produzir, justamente porque na petição inicial não há
propriamente especificação das provas e, sim, a menção genérica das provas que se pretende
produzir.
Se a petição inicial protestou genericamente pela produção de provas periciais, testemunhais,
etc, mas o autor não as reiterou quando se manifestou sobre o despacho que ordenou a
especificação das provas, ocorrerá a preclusão.
Em contrapartida, caso a petição inicial nem proteste genericamente sobre a produção das
provas, entende-se que não há preclusão, desde que as provas sejam enumeradas após o despacho
que ordenou a sua especificação.
17
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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334 do CPC).
Esta audiência somente não se realizará quando, além do autor, o réu, de forma expressa, por
petição, também manifestar o seu desinteresse na autocomposição, nos dez dias anteriores à data
da audiência.
PERGUNTAS:
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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17) Como deve ser a qualificação das partes na petição inicial? Exige email do autor e do réu?
18) Como o nascituro se qualifica?
19) A falta de informações sobre a qualificação gera o indeferimento da inicial?
20) Na petição inicial precisa constar a fundamentação legal? E a fundamentação jurídica?
21) O que é a teoria da substanciação?
22) Qual a diferença entre pedido imediato e mediato?
23) É preciso ações consultivas?
24) Existe alguma ação sem valor da causa?
25) Qual a importância do valor da causa?
26) O juiz pode corrigir de ofício o valor da causa?
27) Como é o valor da causa na cumulação própria de pedidos?
28) E na cumulação imprópria com pedidos alternativos?
29) E na cumulação imprópria com pedidos subsidiários?
30) E na ação de cobrança?
31) E na ação de nulidade do negócio jurídico?
32) E na ação de alimentos?
33) E na ação divisória e demarcatória?
34) E na ação reivindicatória?
35) E na ação de indenização?
36) E na ação em que se cobra prestações vencidas e vincendas?
37) Na petição inicial o autor apenas requer ou tem que produzir provas?
38) Qual é a prova que deve ser produzida na petição inicial?
39) A petição inicial deve especificar as provas ou mencioná-las genericamente?
40) Se a petição inicial sequer mencionar genericamente as provas, o autor pede o direito de
produzi-las?
41) Em que momento se verifica a audiência preliminar de conciliação ou de mediação?
42) Se a petição inicial é omissa sobre essa audiência, o juiz deve mandar o autor emendá-la?
43) Para que não se realize essa audiência basta que o autor ou réu requeira a sua dispensa?
44) Quais os documentos que devem ser juntados com a petição inicial?
45) Quando o advogado postula em causa própria, o que a petição inicial deve conter?
46) Estes dados, quando ele não atua em causa própria, também devem constar na petição
inicial?
O juiz ainda pode conhecer de ofício a incompetência absoluta e remeter os autos ao juízo
competente, mas no juizado especial, ao declara-se incompetente, o juiz deve extinguir o processo
sem resolução do mérito. Se houver cláusula de foro de eleição abusiva, o juiz ainda pode, desde
que antes da citação, reconhecer de ofício a incompetência relativa e remeter os autos ao foro do
domicílio do réu ou, quando se tratar de juizado especial, extinguir o processo (§§ 3º e 4º do art. 63
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do CPC).
EMENDA DA INICIAL
Indeferimento da petição inicial é o ato judicial que extingue o processo sem resolução do
mérito sem que se tenha ordenado a citação do réu.
É, pois, a juízo negativo de admissibilidade, que nega, desde o início, antes da citação do réu,
o processamento da petição inicial.
O indeferimento da petição inicial é cabível em duas situações:
a) vícios insanáveis da petição inicial;
b) vícios sanáveis, mas o autor se nega a emendá-la no prazo que o juiz lhe fixou.
No indeferimento da petição inicial, o réu não é sequer citado e, por isso, o autor não será
condenado ao pagamento dos honorários advocatícios.
Se, no entanto, o juiz ordenou a citação do réu, a hipótese não será mais de indeferimento
liminar. Nesse caso, ao extinguir o processo sem resolução do mérito, o fará com fundamento no
art. 485, incisos IV, V ou VI, e não com base no inciso I, embora os vícios sejam os mesmos,
diferenciando-se apenas quanto ao momento da decretação e também quanto ao fato de a
sentença condenar o autor ao pagamento dos honorários advocatícios a favor do réu.
O indeferimento da petição inicial nem sempre se reveste da natureza jurídica de sentença.
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Só será sentença quando se tratar de indeferimento total pelo juízo de primeiro grau, impugnável
através do recurso de apelação. Se, no entanto, o juízo de primeiro grau indeferir apenas parte da
petição inicial, o ato judicial será uma decisão interlocutória, nesse caso, não há falar-se em
sentença, pois o processo não é extinto, sendo cabível o recurso de agravo de instrumento, com
base no parágrafo único do art. 354 do CPC.
Nos processos de competência originária do tribunal, o ato judicial do relator que indefere a
petição inicial, no todo ou em parte, é uma decisão monocrática, unipessoal, de segundo grau, da
qual caberá o recurso de agravo interno. Se, no entanto, nesses processos de competência
originária do tribunal, o indeferimento, total ou parcial, da petição inicial for proferido por órgão
colegiado do tribunal, o ato judicial terá a natureza jurídica de acórdão, do qual caberá, conforme a
hipótese, recurso especial ou recurso extraordinário.
Indeferida totalmente a inicial pelo juízo de primeiro grau, o autor poderá apelar,
facultando-se ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se (art. 331 do CPC). Se não houver
retratação, juiz mandará citar o réu para responder ao recurso (§ 1º do art. 331 do CPC). Sendo a
sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do
retorno dos autos (§ 2º do art. 331). Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em
julgado da sentença (§ 3º do art. 331).
O juízo de retratação só será possível se houver recurso. No agravo interno e no agravo de
instrumento, também haverá o juízo de retratação.
Se a apelação for intempestiva, o juiz não poderá se retratar nem rejeitar a apelação, pois o
juízo de admissibilidade do recurso compete ao tribunal.
Por outro lado, no tocante às hipóteses de indeferimento da petição, previstas
taxativamente no art. 330 do CPC, são os seguintes:
I – INÉPCIA
Petição inepta é a que contém vícios atinentes ao pedido ou causa de pedir que inviabilizam
o julgamento do mérito.
De acordo com o § 1º do art. 330 do CPC considera-se inepta a inicial quando:
a) lhe faltar o pedido ou a causa de pedir. Sem o pedido não há o que se julgar e a
ausência da causa de pedir, por sua vez, inviabiliza a ampla defesa do réu. Se o pedido ou a causa
de pedir forem obscuros, ininteligíveis, também haverá inépcia.
b) o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o
pedido genérico.
c) da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão. Trata-se da contradição
entre o pedido e a causa de pedir.
d) contiver pedidos incompatíveis entre si. É o fato de um pedido excluir o outro. É,
pois, a contradição entre os pedidos. Trata-se da chamada petição suicida. Exemplo: o autor requer
a anulação do contrato de pós-graduação e, ao mesmo tempo, pleiteia a entrega do diploma. Nesse
caso de petição suicida, o juiz, antes de indeferir a inicial, deve dar oportunidade para que o autor a
retifique, mediante escolha de apenas um dos pedidos.
e) lhe faltar a especificação do valor da parte incontroversa e da parte controvertida
nas ações de revisão de revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de
alienação de bens (§ 2º do art. 330 do CPC). Não especificados esses valores, o juiz mandará o autor
emendar a inicial, sob pena de indeferi-la por inépcia. De acordo com o enunciado 290 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis a enumeração das espécies de contratos previstas no § 2º do
art. 330 é exemplificativa, aplicando-se, portanto, a outros contratos em que se pretende rever o
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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valor da dívida. Não se aceita assim o pedido genérico de revisão de dívida,pois é preciso que a
petição inicial especifique o valor que entende correto.
Frise-se, por fim, que a inépcia da petição inicial não é a única causa do seu indeferimento,
pois ainda há outras hipóteses, conforme se verá logo abaixo.
II - ILEGITIMIDADE DA PARTE
Nesse caso a inicial é indeferida sem que seja dada oportunidade para corrigenda, posto que
se trata de vício insanável.
O art. 106, I, estipula que o advogado, quando postular em causa própria, deve declarar na
petição inicial o endereço, o número de inscrição na OAB e o nome da sociedade de advogados da
qual, eventualmente, faça parte. Se o advogado descumprir essa exigência, o juiz ordenará que se
supra essa omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de indeferimento da petição. Quando não
postular em causa própria, esses endereços devem constar na procuração (§§ 2º e 3º do art. 105 do
CPC).
O art. 321, por sua vez, prevê que, nas demais hipóteses, o autor deve emendar a inicial no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de o juiz indeferi-la.
A improcedência liminar do pedido é a decisão judicial de mérito que, antes da citação do réu,
julga improcedente a ação.
É, pois, sentença de mérito, faz coisa julgada material, sendo passível, após o trânsito em
julgado, de ação rescisória.
O juiz prolata essa sentença sem que o réu seja ouvido, mas a decisão lhe é favorável e,
diante disso, não há qualquer prejuízo.
Tendo em vista que o réu não é sequer citado, não haverá condenação aos honorários
advocatícios.
São dois os requisitos cumulativos para o julgamento de improcedência liminar:
1) que a causa dispense a fase instrutória. A fase instrutória é onde se produz as provas
testemunhais e periciais. Portanto, o julgamento de improcedência liminar só é possível quando se
tratar de matéria fática comprovada por documento ou então de questão exclusivamente jurídica.
2) que o pedido se enquadre numa das hipóteses do art. 332 do CPC, que são as seguintes:
a) pedido que contraria súmula do STF ou STJ.
b) pedido que contraria acórdão do STF ou STJ proferido em julgamento de recursos
repetitivos.
c) pedido que contraria entendimento firmado em resolução de demandas repetitivas ou de
incidente de assunção de competência.
d) pedido que contraria súmula do tribunal de justiça sobre direito local (estadual ou
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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municipal).
e) prescrição e decadência. De fato, o § 1º do art. 332 acrescenta que o juiz também poderá
julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou
prescrição. Entretanto, a decadência convencional, cujo prazo é fixado por vontade das partes, não
pode se decretada de ofício pelo juiz, pois depende de provocação da parte interessada (art. 210 do
CC). Ao admitir que o juiz reconheça de ofício a prescrição o legislador entrou em franca
contradição, pois a prescrição é renunciável, inclusive tacitamente, pelo devedor que pode abrir
mão do direito de argui-la. Uma corrente, em razão disso, sustenta que a prescrição, quando versa
sobre direito disponível, não pode ser conhecida de ofício pelo juiz, sob pena de ofensa ao princípio
da autonomia privada. Outra corrente, com base no texto da lei, admite o reconhecimento de
ofício. Creio que o juiz possa sim conhecê-la de ofício, mas antes deve ouvir o réu sobre o desejo de
ele renunciar ou não ao direito de argui-la. Entendo também correto o posicionamento de Fredie
Didier Jr., de que em nenhuma hipótese o juiz deve reconhecer de ofício a prescrição quando a
decisão prejudicar aqueles sujeitos protegidos pela Constituição Federal (consumidor, índio, idoso e
trabalhador).
Fora das hipóteses acima, diante da falta de previsão legal para o julgamento de
improcedência liminar, restará ao juiz, quando não houver necessidade de outras provas, estando,
pois, o processo em condições de imediata decisão, prolatar o julgamento antecipado do mérito
que, no entanto, é realizado somente após a citação do réu e, nesse caso, o autor será condenado a
pagar os honorários advocatícios do procurador do réu.
A meu ver, porém, nesses casos atípicos, não contemplados por lei, será também possível,
por aplicação analógica e também pela incidência dos princípios da eficiência, boa-fé e duração
razoável, o julgamento de improcedência liminar do pedido. Exemplos: pedido de herança de
pessoa viva e outras situações de pedidos juridicamente impossíveis (Enunciado 36 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis).
Por outro lado, a improcedência liminar total do pedido gera a extinção do processo, tendo
pois natureza jurídica de sentença impugnável por apelação. Não interposta a apelação o réu será
intimado do trânsito em julgado da sentença (§ 2º do art. 332 do CPC). Interposta a apelação, o juiz
poderá retratar-se em 5 (cinco) dias (§ 3º do art. 332). Se houver retratação, o juiz determinará o
prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, também
determinará a citação do réu para apresentar as contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias (§ 4º
do art. 332).
Não interposta a apelação ou se ela for intempestiva, o juízo a quo não poderá se retratar
(Enunciado 293 do Fórum Permanente de Processualistas Civis).
É também possível a improcedência liminar parcial do pedido nas demandas em que há mais
de um pedido cumulativo ou quando o pedido for único mas fracionável, e, nesses casos, o
processo prosseguirá quanto aos demais pedidos ou quanto ao pedido remanescente, de modo
que o ato judicial terá a natureza jurídica de decisão interlocutória, impugnável através de agravo
de instrumento (art. 1.015, II, do CPC).
A improcedência liminar do pedido também é cabível nos processos de competência
originária dos tribunais mediante decisão monocrática do relator, impugnável por agravo interno,
bem como através de acórdão do órgão colegiado, passível de recurso ordinário constitucional,
recurso especial ou recurso extraordinário, conforme a hipótese.
Em caso de improcedência liminar do pedido os juízes e os tribunais não precisarão observar
a ordem cronológica dos processos (art. 12, § 2º, I, do CPC).
Por fim, o enunciado 294 do Fórum Permanente de Processualistas Civis dispõe que:
O julgamento liminar de improcedência, disciplinado no artigo 332, salvo com relação ao §
1º, se aplica ao processo do trabalho quando contrariar: a) enunciado de súmula ou de orientação
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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PEDIDO
Pedido é a pretensão que se pede ao Poder Judiciário. É, pois, o objeto imediato e mediato
da ação.
Sobre a sua natureza jurídica, trata-se de um dos elementos da ação.
EFEITOS
Do pedido se extrai o princípio da congruência, segundo o qual o juiz não pode julgar fora do
pedido. Além disso, o pedido é importante na compreensão dos institutos da litispendência,
conexão, continência, coisa julgada e valor da causa.
ESPÉCIES
CARACTERÍSTICAS DO PEDIDO
O pedido deve ser certo, determinado, claro e coerente (arts. 322 e 324).
Pedido certo é o que consta expressamente na petição inicial. É vedado pedido implícito,
mas há, dentre outras, as seguintes exceções:
a) juros, correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários
advocatícios. Estes pedidos compreendem-se no principal independentemente de menção expressa
(§ 1º do art. 322do CPC).
b) na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas,
essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do
autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do
processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las (art. 323 do CPC).
c) na ação de investigação de paternidade movida por menor ou incapaz encontra-se
implícito o pedido de alimentos (art. 7º da lei 8.560/92).
d) Astreinte, isto é, multa diária nas ações que envolvem obrigação de entrega de coisa,
fazer ou não fazer.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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Pedido determinado, por sua vez, é o pedido que descreve o bem ou serviço e o valor. É, pois,
o pedido líquido, delimitado na qualidade e quantidade do bem ou serviço que se pede. O pedido
imediato (tipo de provimento jurisdicional) é sempre determinado, mas o pedido mediato, embora
em regra também deva ser determinado, em algumas situações previstas em lei pode ser genérico,
isto é, ilíquido.
De fato, o § 1º do art. 324 do CPC permite, como exceção, o pedido genérico nas seguintes
hipóteses:
a) ações universais: são aquelas em que se pleiteia uma universalidade ou parte dela.
Exemplo: ação de petição de herança. Ações universais são que têm por objeto um bem coletivo de
direito (exemplos: herança, patrimônio) ou coletivo de fato (exemplo: biblioteca, coleção de selos,
etc.). Se o autor não puder individuar os bens demandados, ser-lhe-á lícito formular pedido
genérico, isto é, que não especifica os bens que se visa obter, limitando-se a indicar o percentual
deles.
b) quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou fato, isto é,
os danos ainda não cessaram e se encontram em evolução. Trata-se das ações indenizatórias, sejam
elas decorrentes de ato ilícito ou de ato lícito (exemplo: indenização por dano oriundo de estado de
necessidade agressivo), em que as consequências do dano ainda não cessaram por ocasião do
ajuizamento da ação. Quanto ao dano moral, o pedido deve ser determinado, a petição inicial tem que
especificar o valor pleiteado, conforme art. 292, IV, do CPC, mas se o dano moral for contínuo é possível
se aplicar a hipótese em apreço que admite o pedido genérico.
c) quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que
deva ser praticado pelo réu. Exemplo: ação de cobrança de comissão baseada em negócio jurídico
celebrado entre o réu e terceiro, cujo documento encontra-se em poder do réu.
O pedido ainda deve ser claro e coerente. Pedido claro é o inteligível. Pedido coerente é o
formulado com fundamento na causa de pedir.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
Admite-se a cumulação de pedidos, que é o fato da petição inicial conter mais de um pedido.
É, pois, lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos ainda que
entre eles não haja conexão (art. 327 do CPC).
A cumulação de pedidos pode ser:
1) própria: quando, no mesmo processo, se formula mais de um pedido, em face do
mesmo réu, e se visa o acolhimento de todos eles. Se os pedidos forem autônomos, isto é, o
acolhimento de um não depender do acolhimento do outro, fala-se em cumulação simples
(exemplo: as súmulas 37 e 387 do STJ admite a cumulação dos pedidos de indenização pelos danos
materiais, morais e estéticos oriundos do mesmo fato). Se, no entanto, entre os pedidos houver
uma relação de prejudicialidade, de dependência, de modo que o segundo só poderá ser acolhido
se o primeiro também for, fala-se cumulação sucessiva (exemplo: ação de investigação de
paternidade cumulada com alimentos).
2) imprópria: quando, no mesmo processo, se formula mais de um pedido, em face do
mesmo réu, mas se pleiteia o acolhimento de apenas um deles.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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improcedente. Acolhido o pedido principal, o juiz nem analisará o pedido subsidiário que, em razão
disso, não será acobertado pela coisa julgada. Se o juiz examinar apenas o pedido subsidiário, a
sentença será nula por error in procedendo . Rejeitado o pedido principal e acolhido o subsidiário,
o autor poderá recorrer, diante da primazia que a petição inicial conferiu ao pedido principal. Se a
sentença acolhe o pedido principal, o tribunal, em recurso do réu, poderá, após julgar
improcedente o pedido principal, apreciar o pedido subsidiário, por força do art. 1.013, § 3º, III, do
CPC.
b) alternativa: quando o autor formula mais de um pedido, mas pede que apenas um seja
acolhido sem mostrar preferência por qualquer deles. Está prevista no parágrafo único do art. 326
do CPC. Exemplo: ação que objetiva condenar o réu a restituir a mercadoria ou a indenizar o valor
correspondente. Note-se que, na cumulação subsidiária, o autor demonstra preferência por um dos
pedidos, ao passo que, na cumulação alternativa, ele se satisfaz por igual pelo acolhimento de
qualquer dos pedidos, tanto é que, desde que um dos pedidos seja acolhido, não haverá interesse
em recorrer. Na cumulação alternativa, o valor da causa será o do pedido de maior valor e na
subsidiária, o valor do pedido principal (art. 292, VII e VIII, do CPC). Ainda que a obrigação não seja
alternativa, o autor pode formular pedido alternativo.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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o processo sem resolução do mérito em relação a esse pedido (§§ 1º e 2º do art. 45 do CPC). A
propósito, dispõe a súmula 170 do STJ: Compete ao juízo onde primeiro for intentada a ação
envolvendo acumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites de sua jurisdição,
sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com o pedido remanescente no juízo próprio .
c) que seja adequado, para todos os pedidos, o tipo de procedimento. Se um pedido exigir
procedimento especial e outro pedido o procedimento comum ou ambos os pedidos tramitarem
em procedimentos especiais diferentes, só será admitida a cumulação se o autor empregar o
procedimento comum, sem prejuízo do emprego de técnicas processuais diferenciadas previstas
nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem
incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum (§ 2º do art. 327 do CPC). Se o
procedimento comum não for adequado para todos os pedidos, o juiz vedará a cumulação. São
exemplos de procedimentos incompatíveis com a cumulação de pedidos: inventário, interdição,
ação direta de inconstitucionalidade, desapropriação, etc.
O autor poderá, até antes da citação, aditar, isto é, acrescentar um novo pedido ou causa de
pedir, ou alterar-lhe, independentemente de consentimento do réu, mas após a citação será
necessária a concordância do réu, que terá um novo prazo de 15 (quinze) dias para resposta.
Após o saneamento, ainda que o réu concorde, o autor não poderá mais aditar ou alterar o
pedido ou a causa de pedir (art. 329, I e II, do CPC).
O princípio da estabilização da relação processual é o que proíbe, após o saneamento,
qualquer aditamento ou alteração do pedido, ainda que haja o consentimento do réu.
Este princípio, entretanto, comporta as seguintes exceções:
a) inclusão de pedido conexo: se for proposta uma nova ação, ainda que após o
saneamento, elas serão reunidas para decisão conjunta por força de conexão, conforme § 1º do art.
55 do CPC, por consequência, o aditamento deve também ser admitido, após o saneamento, por
uma questão de interpretação lógica.
b) inclusão de novo pedido na autocomposição judicial. De fato, é possível, na
autocomposição, se incluir um novo pedido que não tenha sido deduzido em juízo (§ 2º do art. 515
do CPC).
c) incidente de desconsideração da personalidade jurídica: é cabível em todas as fases
do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial (art. 134 do CPC).
d) fato superveniente constitutivo, modificativo ou extintivo de direito do autor: trata-
se de alteração superveniente da causa de pedir remota, nesse caso, o juiz poderá levá-la em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte (art. 493 do CPC). Entretanto, uma corrente
sustenta que, após o saneamento, não será possível a alteração da causa de pedir por fato
superveniente.
Na obrigação alternativa, o devedor pode cumprir a prestação de mais de um modo (art. 325
do CPC).
Se a escolha, pela lei ou pelo contrato, compete ao devedor, ainda que o autor tenha feito a
escolha na petição inicial, formulando pedido fixo, o juiz assegurará ao réu o direito de cumprir
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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prestação de um ou outro modo (parágrafo único do art. 325 do CPC). Ainda que o réu seja revel
esse direito de escolha lhe será assegurado. Por analogia, aplica-se também esse dispositivo legal às
obrigações facultativas. Se, no entanto, a escolha competir ao autor, ele a fará na própria petição
inicial, formulando pedido fixo.
Obrigação indivisível ativa é a que tem mais de um credor e envolve uma prestação que não
pode ser fracionada. Exemplo: A, B e C têm o direito de receber um cavalo árabe de D.
A ação, nesse caso, pode ser movida por qualquer dos credores, mediante caução ou
autorização dos demais.
Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, dispõe o art. 328 do CPC que aquele
que não participou do processo receberá sua parte, deduzida as despesas na proporção de seu
crédito . Estes credores que não moveram a ação devem receber as respectivas partes em dinheiro,
por força do art. 261 do Código Civil, que atribui a prestação, por inteiro, ao credor que moveu a
ação, que, por sua vez, deverá ressarcir os demais em dinheiro, pagando a quota de cada um.
INTERPRETAÇÃO DO PEDIDO
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PERGUNTAS:
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
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1) O que é pedido?
2) Qual a sua natureza jurídica?
3) O que é o princípio da congruência do pedido?
4) Qual a diferença entre pedido mediato e imediato?
5) Quais as quatro características do pedido?
6) O que é pedido certo?
7) Cite cinco hipóteses de pedidos implícitos.
8) O que é pedido determinado?
9) Cite três hipóteses de pedidos ilíquidos ou genéricos.
10) O que é pedido claro?
11) O que é pedido coerente?
12) A cumulação de pedidos em face do mesmo réu exige conexão entre os pedidos?
13) O que é cumulação própria?
14) Qual a diferença entre a cumulação simples e a cumulação sucessiva?
15) O que é cumulação imprópria?
16) O que é cumulação subsidiária ou eventual? Se o juiz acolher o pedido subsidiário, o autor
poderá recorrer?
17) O que é cumulação alternativa?
18) Quais as diferenças entre cumulação subsidiária e alternativa?
19) Explique as cumulações de pedidos inicial, ulterior, homogênea e heterogênea.
20) Quais os três requisitos da cumulação de pedidos?
21) É possível cumular pedidos incompatíveis?
22) Se a incompetência para um dos pedidos for relativa, o que acontece? E se for absoluta?
23) Se um dos pedidos deve tramitar perante a justiça federal e outro perante a justiça
estadual ou trabalhista, o que o juiz deve fazer em relação ao pedido pelo qual não tem
competência?
24) Qual o procedimento que deve ser adotado na cumulação de pedidos?
25) O que é o princípio da estabilização da demanda?
26) Cite quatro exceções a esse princípio.
27) Como o pedido deve ser interpretado?
CITAÇÃO
CONCEITO
Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a
relação processual (art. 238 do CPC).
É, pois, o primeiro ato que chama o réu ou executado a juízo, comunicando-lhe sobre a
existência do processo.
FUNÇÕES
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NATUREZA JURÍDICA
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do ato citatório, acabou sendo prejudicado pela redução do prazo, sendo que, nesse caso, o juiz, ao
reconhecer a nulidade ou inexistência da citação, lhe reabrirá o prazo para a defesa.
EFEITOS DA CITAÇÃO
De acordo com o art. 240 do CPC, a citação válida, ainda que ordenada por juízo
absolutamente incompetente, produz os seguintes efeitos:
a) litispendência;
b) torna litigiosa a coisa;
c) constitui em mora o devedor.
Outro efeito da citação, previsto no art. 329, I, do CPC, é a estabilização da relação processual,
pois impede a modificação do pedido ou da causa de pedir sem o consentimento do réu.
Quanto à citação nula, ainda que ordenada por juízo competente, não produz nenhum
desses efeitos.
A litispendência e a estabilização da relação processual são efeitos processuais da citação,
pois só repercutem dentro do processo, ao passo que a constituição do devedor em mora, por
gerar também consequências fora do processo, classifica-se como efeito material da citação.
Quanto à litigiosidade da coisa, gera efeitos materiais e processuais. Com efeito, no âmbito
material, isto é, fora do processo, vale lembrar que a sentença será eficaz ao terceiro que adquirir o
bem, ainda que não tenha ingressado no processo (§ 3º do art. 109 do CPC), outrossim, o fato de
configurar crime de estelionato a venda dessa coisa, após a citação, silenciando o alienante sobre a
existência do litigio que recai sobre ela (art. 171, § 2º, II, do CP). No aspecto processual, a citação
impede que o adquirente ingresse em juízo, sucedendo o alienante, sem que o consinta a parte
contrária (§ 1º do art. 109 do CPC) e, ao mesmo tempo, o autoriza a ingressar como assistente
litisconsorcial (§ 2º do art. 109 do CPC). Em razão disso, a doutrina diverge na classificação da
litigiosidade da coisa como efeito material. Penso que gera ambos os efeitos e a classifico como
efeito híbrido.
Passo agora a uma análise desses efeitos:
a) litispendência: é o fato do autor, no curso do processo, propor novamente a mesma ação.
Antes da citação já há litispendência em relação ao autor que propôs duas vezes a mesma ação, e,
nesse caso, extingue-se sem resolução do mérito a segunda ação, conferindo-se a primazia à que foi
protocolada primeiro (art. 312 do CPC). Se, no entanto, o fato não for detectado e houver a citação,
a primazia será para a ação em que ocorrer primeiro a citação, extinguindo-se sem resolução do
mérito o processo cuja citação ocorreu depois ainda que a petição inicial tenha sido protocolada
antes. Em suma, em relação ao autor, a litispendência existe desde a propositura da ação, ou seja,
com o protocolo da petição inicial (art. 312 do CPC), mas em relação ao réu ela só se verifica a partir
da citação (art. 240 do CPC).
b) litigiosidade da coisa: a partir da citação, o bem ou o direito disputados entre autor e réu
torna-se sub-judice e, diante disso, a sua alienação a terceiro de boa-fé, silenciando sobre esse
fato, configura crime de estelionato (art. 171, § 2º, II, do CP), outrossim, a posse do bem pelo réu
deixa de ser mansa e pacífica em relação ao autor, obstando-lhe a completude do prazo necessário
à sua aquisição pela via da usucapião.
c) constituição do devedor em mora: entende-se por mora solvendi ou do devedor o
descumprimento culposo da obrigação cujo efeito é fazê-lo responder pelo cumprimento da
prestação devida, além das perdas e danos, juros moratórios e honorários advocatícios. Nas
obrigações líquidas com data certa de vencimento, a mora opera-se automaticamente a partir do
vencimento, conforme art. 397 do CC, antes mesmo da citação ou de qualquer notificação.
Acrescente-se ainda que em duas situações, a mora é presumida: obrigação por ato ilícito e
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obrigação de não fazer. Na primeira a mora se verifica a partir da prática do ato ilícito (art. 397 do CC) e
na segunda desde o dia em que o devedor executa o fato que se devia abster (art. 390 do CC). Nessas
duas hipóteses, a configuração da mora também ocorre muito antes da citação. Por fim, nas obrigações
líquidas de dar ou fazer, sem data certa de vencimento, oriundas de ato lícito, a mora é ex persona ,
para configurar-se depende de interpelação judicial ou extrajudicial ou ainda da citação (art. 397,
parágrafo único, do CC e art. 240 do CPC). Vê-se assim que a citação só constitui o devedor em mora
nessas obrigações de dar ou fazer, oriundas de ato lícito, sem data certa de vencimento, desde que a
configuração da mora não tenha se verificado antes através da notificação judicial ou extrajudicial.
Força, portanto, convir que esse efeito da citação, de constituir o devedor em mora, é de pouca
aplicação prática, pois, via de regra, a mora se configura antes da citação.
d) estabilização da relação processual: é a proibição de se aditar ou alterar o pedido ou a
causa de pedir. Antes da citação, não há qualquer estabilização, pois o autor é livre para aditar ou
alterar o pedido ou a causa de pedir sem o consentimento do réu. Após a citação, vigora uma
estabilidade relativa, pois esse aditamento ou alteração ainda será possível, mas mediante
concordância do réu. A partir do saneamento, é vedado qualquer alteração ou aditamento do
pedido ou da causa de pedir, ainda que o réu concorde (art. 329 do CPC). Lembro, contudo, o leitor
que, no estudo do pedido, feito no módulo anterior, abordei algumas hipóteses excepcionais de
modificação do pedido ou causa de pedir mesmo após o saneamento.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
Em regra, a interrupção da prescrição não se verifica com a citação e, sim, com o despacho
que ordena a citação, ainda que proferido por juízo absolutamente incompetente.
A data da interrupção, contudo, será a da propositura da ação, que é o protocolo da petição
inicial, à qual esse despacho retroagirá.
Com efeito, dispõe o § 1º do art. 240 do CPC:
A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data da propositura da ação .
É, no entanto, essencial para a aplicação do § 1º do art. 240 que o autor, no prazo de 10
(dez) dias, adote as providências necessárias para viabilizar a citação. Estas providências
basicamente consistem no pagamento das despesas com a citação e indicação do correto endereço
do réu. Caso contrário, o que interromperá a prescrição será a efetiva citação, e não o despacho
que a ordenou.
O § 3º do art. 240 do CPC acrescenta que a parte não pode ser prejudicada pela demora
imputável exclusivamente ao serviço judiciário . É o que já dizia a súmula 106 do STJ. É claro então
que se o prazo de 10 (dez) dias se excedeu por culpa exclusiva do serviço judiciário a interrupção da
prescrição ocorrerá com o despacho que ordenou a citação e ainda retroagirá à data da propositura
da ação.
A prescrição, por outro lado, não é interrompida pelo despacho que ordena a emenda da
petição inicial e nem pela sentença que indefere a inicial para julgar extinto o processo sem
resolução do mérito. Todavia, se após a citação o juiz prolatar sentença terminativa e extinguir o
processo sem resolução do mérito a prescrição considerar-se-á interrompida pelo despacho que
ordenou o ato citatório, retroagindo o efeito interruptivo à data de propositura da ação.
O efeito retroativo a que se refere o § 1º do art. 240 aplica-se à decadência e aos demais
prazos extintivos previstos em lei (§ 4º do art. 240 do CPC). Não é correto, no entanto, se falar em
interrupção do prazo decadencial pois este não se interrompe. O que ocorre na verdade é que se
considera obstada a decadência com a propositura da ação, desde que o autor tome, no prazo de
dez dias, as providências necessárias para se viabilizar o ato citatório.
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PESSOALIDADE DA CITAÇÃO
A citação, em regra, será pessoal, isto é, na pessoa do próprio citando (art. 242 do CPC).
Abre-se, no entanto, as seguintes exceções.
A primeira é a citação do absolutamente incapaz, que será feita na pessoa do seu
representante legal.
A segunda é a possibilidade de se realizar a citação na pessoa do procurador com poder
especial para recebê-la (art. 105 e 242 do CPC).
A terceira encontra-se no § 1º do art. 242 do CPC ao dispor que na ausência do citando, a
citação será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a ação
se originar de atos por eles praticados .
A quarta ocorre em relação ao locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário
de que deixou, na localidade onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para receber
citação. Nesse caso, o locador será citado na pessoa do administrador do imóvel encarregado do
recebimento dos aluguéis, que será considerado habilitado para representar o locador em juízo (§
2º do art. 242 do CPC). Trata-se de um mandatário presumido por força da lei.
Por fim, a citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público, não pode realizar-se na pessoa do
funcionário público, pois o único autorizado por lei a receber a citação nesses casos é o órgão da
Advocacia Pública responsável por sua representação judicial (§ 3º do art. 242 do CPC).
LUGAR DA CITAÇÃO
A citação pode ser feita em qualquer lugar em que se encontre o citando (art. 243 do CPC).
Todavia, o militar em serviço ativo, em regra, não pode ser citado na unidade em que estiver
servindo, salvo se não for conhecida a sua residência ou nela não for encontrado (parágrafo único
do art. 243 do CPC).
RESTRIÇÕES À CITAÇÃO
De acordo com o art. 244 do CPC, não se fará a citação, salvo para evitar perecimento do
direito:
I – de quem estiver participando de ato de culto religioso;
II – de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em
linha reta ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias
seguintes;
III – de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento;
IV – de doente, enquanto grave o seu estado.
Também não se fará a citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou
está impossibilitado de recebê-la (art. 245 do CPC). Nesse caso, o oficial de justiça descreverá e
certificará minuciosamente a ocorrência. Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, que
apresentará laudo no prazo de 5 (cinco) dias, mas se dispensará essa nomeação se a família
apresentar declaração do médico do citando, que ateste a incapacidade deste. Reconhecida a
impossibilidade, o juiz nomeará curador ao citando, quanto à sua escolha, a preferência
estabelecida em lei e restringindo a nomeação à causa. A citação será feita na pessoa desse curador
a quem incumbirá a defesa dos interesses do citando (§ 5º do art. 245 do CPC).
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PERGUNTAS:
MODALIDADES DE CITAÇÃO
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A regra é que a citação é feita pelo correio tanto no processo de conhecimento quanto no
processo de execução, salvo quando a lei a proibir ou o autor, justificadamente, requerer outra
forma de citação (art. 247, IV, do CPC).
Portanto, a citação pelo correio tem preferência sobre as demais modalidades de citação,
exceto sobre a citação eletrônica, e pode realizar-se em qualquer comarca do país, devendo a carta
ser encaminhada através de AR (aviso de recebimento). Trata-se de exceção ao princípio da
aderência territorial, que proíbe o juiz de praticar atos fora da sua comarca.
A citação será feita pelo correio para qualquer comarca do país (art. 247 do CPC). Ainda que o
réu resida fora da comarca ele será citado pelo correio e não por carta precatória.
São requisitos da citação pelo correio:
a) que o citando receba a contrafé (cópia da petição inicial). Todavia, nas ações de família a
citação será desacompanhada da contrafé, assegurando-se ao réu o direito de examinar seu
conteúdo a qualquer tempo, conforme art.695 do CPC. De acordo com uma parcela significativa da
doutrina, este dispositivo legal, que elimina a contrafé, é inconstitucional, pois viola o direito à
informação, induzindo o réu a comparecer à audiência preliminar de mediação ou conciliação sem
pleno conhecimento dos fatos, comprometendo-lhe a liberdade de autodeterminação.
b) que o citando também receba a cópia do despacho do juiz que ordenou o ato citatório;
c) que contenha os requisitos do art. 250 do CPC, sobretudo, a menção do prazo para
contestar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução, conforme a hipótese ou, se for caso,
a intimação do citando para comparecer, acompanhado de advogado ou defensor público, à
audiência de conciliação ou de mediação. É preciso ainda que o mandado de citação pelo correio
contenha a assinatura do escrivão ou do chefe da secretaria e a declaração de que o subscreve por
ordem do juiz.
d) a carta deve ser registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a
entrega, que assine o recibo, isto é, o A.R. (aviso de recebimento). Assim, a citação pelo correio
exige a colaboração do citando, que ele assine o aviso de recebimento, pois o carteiro não tem fé
pública (súmula 429 do STJ). Caso o citando se recuse a assinar, a citação pelo correio não se
realizará e o carteiro não precisará fazer constar qualquer consideração sobre essa recusa, restando
ao autor requerer a citação por mandado, cobrando-se do réu as custas da diligência fracassada.
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Não basta, assim, a assinatura dos familiares ou vizinhos, sob pena de nulidade da citação.
Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de
gerência geral ou de administração ou, ainda, ao funcionário responsável pelo recebimento de
correspondências (§ 2º do art. 248 do CPC). Vê-se assim que a citação pelo correio não precisa ser
recebida pelo representante legal da pessoa jurídica, ao contrário do que ocorre com a citação
realizada pelo oficial de justiça.
Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega da
citação pelo correio à funcionário da portaria responsável pelo recebimento da correspondência, que
somente poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário
da correspondência está ausente (§ 4º do art. 248 do CPC). Trata -se de uma norma específica da
citação pelo correio, que não se aplica à citação feita pelo oficial de justiça.
A citação postal só se completa quando o aviso de recebimento é juntado aos autos do
processo, somente a partir desta data é que se inicia o prazo para a resposta do réu (art. 231, I, do
CPC).
Nas hipóteses legais de não cabimento ou de frustração da citação pelo correio, a citação será
feita através de oficial de justiça.
O mandado de citação deve constar os seguintes requisitos, previstos no art. 250 do CPC:
I – os nomes do autor e do citando e seus respectivos domicílios ou residências;
II – a finalidade da citação, com todas as especificações constantes da petição inicial, bem
como a menção do prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução;
III – a aplicação de sanção para o caso de descumprimento da ordem, se houver;
IV – se for o caso, a intimação do citando para comparecer, acompanhado de advogado ou de
defensor público, à audiência de conciliação ou de mediação, com a menção do dia, hora e lugar do
comparecimento.
V – a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão que deferir tutela provisória;
VI – a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a declaração de que a subscreve por
ordem do juiz.
A ausência de um ou alguns desses requisitos não gera a nulidade da citação, pois o que
prevalece é o princípio da instrumentalidade das formas, mas se no mandado de citação não
constar o prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução , impõe-se a
nulidade, à medida que se trata de formalidade essencial.
De acordo com o art. 251 do CPC, incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e, onde o
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Ao lado da citação real efetuado pelo oficial de justiça, através da qual se tem a certeza que o
réu tomou conhecimento da demanda, a lei ainda prevê a citação ficta realizada também pelo
oficial de justiça, que é denominada de citação com hora certa.
Esta citação depende dos seguintes requisitos:
a) que, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça tenha procurado o citando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar.
b) que, nessas duas oportunidades, haja suspeita que o citando vem se ocultando
maliciosamente. Não basta assim procurá-lo por duas vezes, é preciso ainda a suspeita que ele se
oculte.
c) na segunda vez que se dirige ao local, o oficial de justiça, diante da suspeita de ocultação
do citando, intimará qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia
útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Este terceiro, que é intimado,
deve ser capaz, se for menor ou interdito haverá nulidade. Nos condomínios edilícios ou nos
loteamentos com controle de acesso, será válida esta intimação feita à funcionário da portaria
responsável pelo recebimento de correspondência (parágrafo único do art. 252 do CPC).
d) o dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho,
retornará ao local pela terceira vez, a fim de realizar a citação.
e) se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da
ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outro foro (comarca,
seção ou subseção judiciária). A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da
família ou vizinho que houver sido intimado esteja ausente ou se, embora presente, se recusar a
receber o mandado.
f) o oficial de justiça certificará o ocorrido, isto é, o número de vezes, os dias e horários em
que procurou o citando e o motivo da suspeita da ocultação, consignando inclusive a hora da
citação.
g) o oficial de justiça ainda deixará a contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho,
conforme o caso, declarando-lhe o nome na certidão.
h) p oficial de justiça ainda fará constar do mandado a advertência de que será nomeado
curador especial se houver revelia. Este curador especial poderá contestar por negação geral e, se
for processo de execução, terá legitimidade para apresentar embargos à execução (súmula 196 do
STJ). Assim, o réu citado fictamente, a rigor, não pode ser chamado de revel, pois o curador especial
terá que apresentar contestação.
Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao citando, no prazo
de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou
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correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência (art.254 do CPC). A expedição desta carta, e
não o seu recebimento, é requisito de validade da citação com hora certa.
O prazo para o réu apresentar a contestação se inicia a partir da juntada aos autos do
mandado de citação cumprido, conforme art. 231, II, do CPC, e não da juntada da carta, telegrama
ou correspondência eletrônica a que se refere o art. 254 do CPC.
A citação realizada pelo escrivão ou chefe da secretaria só será possível quando o citando
comparecer em cartório (art. 246, III, do CPC). Nesse caso, o prazo para contestação começa a fluir
da data da ocorrência da citação (art. 231, III, do CPC).
Ao lado da citação com hora certa, a citação por edital é a outra modalidade de citação ficta
prevista no ordenamento jurídico brasileiro.
A citação por edital é uma medida excepcional e através dela se presume que o citando teve
ciência da demanda. Só é admitida após o esgotamento dos outros meios de citação.
De acordo com o art. 256 do CPC, a citação por edital só poderá ser feita nas seguintes
hipóteses:
I – quando desconhecido ou incerto o citando. Exemplo: ação de consignação movida contra
os herdeiros do credor morto, todos eles desconhecidos.
II – quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontra o citando.
Lugar ignorado: quando não se tem noção de onde o citando se encontra.
Lugar incerto: quando o citando pode se encontrar em inúmeros locais, mas não é possível
se apurar o local exato de seu paradeiro.
Lugar inacessível geograficamente ou fisicamente: é aquele onde normalmente não se pode
chegar por ser perigoso. Exemplos: floresta, locais de guerra, de terremoto, local controlado por
organizações criminosas.
Lugar inacessível juridicamente: é o país que se recusa ao cumprimento de carta rogatória (§
1º do art. 256 do CPC).
No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será
divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão (§ 2º do art. 256 do
CPC).
O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua
localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos
cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos (§ 3º do art. 256 do CPC).
III. nos casos expressos em lei. O art. 259 do CPC, por exemplo, exige a publicação de editais:
a) na ação de usucapião de imóveis;
b) na ação de recuperação ou substituição de título ao portador;
c) em qualquer ação em que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para
participação no processo, de interessados incertos e desconhecidos.
Por outro lado, o art. 257 do CPC acrescenta que são requisitos da citação por edital:
I. a afirmação do autor ou a certidão do oficial informando a presença das circunstâncias
autorizadoras, previstas no art. 256 do CPC;
II. a publicação do edital na rede mundial de computadores, no site do respectivo tribunal e
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na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, que deve ser certificada nos autos;
III. a determinação pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 (vinte) a 60 (sessenta) dias,
fluindo da data da publicação única ou, havendo mais de uma, da primeira. Assim, o juiz deve fazer
constar no edital o prazo para o réu tomar conhecimento da demanda, que pode variar entre 20
(vinte) a 60 (sessenta) dias.
IV. a advertência de que será nomeado curador especial em caso de revelia.
O juiz ainda poderá determinar que a publicação do edital seja feita também em jornal local
de ampla circulação ou por outros meios, considerando-se as peculiaridades da comarca, seção ou
subseção judiciárias (parágrafo único do art. 257 do CPC).
Na citação por edital, o prazo para apresentar resposta começa a correr do dia seguinte ao
fim do prazo fixado pelo juiz (art. 231, IV, do CPC). Se o juiz fixou o prazo dos editais em 60
(sessenta) dias, o início será no primeiro dia útil após o sexagésimo dia.
Por fim, a parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente a ocorrência das
circunstâncias autorizadas para sua realização, incorrerá em multa de (cinco) vezes o salário
mínimo, que se reverterá em benefício do citando (art. 258 e parágrafo único do CPC). Prevalece o
entendimento que, para incidência dessa multa, não basta o autor requerer maliciosamente a
citação por edital, sendo ainda necessária a efetiva realização indevida dessa modalidade de
citação.
A citação por meio eletrônico encontra-se regulada pela lei 11.419/2006, que disciplina o
processo em autos eletrônicos ou digitais.
No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda
Pública, serão feitas por meio eletrônico, na forma da referida lei (art. 9º da lei 11.419/2006).
Todavia, as citações só poderão ser feitas se a íntegra dos autos estiver disponível ao citando (art.
6º da lei 11.419/2006).
A transmissão eletrônica compreende toda forma de comunicação a distância com a
utilização de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores (art. 1º, §
2º, II, da lei 11.419/2006).
É, no entanto, necessário para a viabilização da citação por meio eletrônico o cadastramento
prévio perante o Poder Judiciário (art. 2º da lei 11.419/2006). Entretanto, a lei não prevê nenhuma
consequência pela omissão em aderir ao referido cadastro.
Com exceção das microempresas e empresas de pequeno porte, as empresas públicas e
privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para
efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por
esse meio (§ 1º do art. 246 do CPC). Este prévio cadastro é obrigatório inclusive à União, aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da administração indireta (§ 2º do art.
246 do CPC).
Vê-se assim que, à exceção das microempresas e empresas de pequeno porte, a citação por
meio eletrônico é a modalidade preferencial.
O prazo para esse cadastro prévio perante a administração do tribunal no qual atuem é de
30 (trinta) dias, a contar da entrada em vigor do CPC, em relação à União, Estados, Distrito Federal,
Municípios, entidades da administração indireta, Ministério Público, Defensoria Pública e Advocacia
Pública (art. 1.050 do CPC).
Quanto às empresas públicas e privadas, devem ser cadastradas previamente, perante o
juízo onde tenham sede ou filial, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de inscrição do ato
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A citação eletrônica será feita em portal próprio aos que se encontram cadastrados,
dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico (art. 5º, caput, da lei
11.419/2006). Note-se que a citação eletrônica não é realizada através de email. É essencial, no
entanto, que haja o envio da citação, através de meios eletrônicos, ao citando, caso contrário a
citação eletrônica seria ficta, similar à citação por edital e, por consequência, inconstitucional por
violar o princípio da ampla defesa. Envio de email, contudo, não é nada confiável.
Após 10 (dez) dias corridos, contados da data do envio da citação, considerar-se-á
automaticamente realizada a citação (art. 5, § 3º). Todavia, considerar-se-á realizada a citação se o
citando, antes desse prazo de dez dias, efetivar a consulta eletrônica do teor da citação,
certificando-se nos autos a sua realização (§ 1º do art. 5º). Nos casos em que essa consulta ocorrer
em dia não útil, a citação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte (§ 2º do art.
5º).
Vê-se assim que o prazo para o réu apresentar a resposta começa a fluir do dia seguinte à
consulta ou do término do prazo de 10 (dez) dias para que a consulta se realize (art. 231, V, do
CPC).
Nos casos urgentes em que a citação eletrônica puder causar prejuízo a qualquer das partes
ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual
deverá realizar-se por outro meio, conforme determinado pelo juiz (§ 5º do art. 5º).
PERGUNTAS:
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