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Observatórios do Antropoceno:

Sobre outras Mundanidades

Luana do Vale Gomes


Luana do Vale Gomes

Observatórios do Antropoceno:
sobre outras Mundanidades

Orientador: Profº. Dr. Igor Guatelli

Trabalho Final de Graduação


Universidade Presbiteriana Mackenzie
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

São Paulo | 2017


“Graças à arte, em vez de se contemplar um só
mundo, o nosso, vemo-lo multiplicar-se, e dispo-
mos de tantos mundos quantos artistas originais
existem, mais diversos entre si do que os que ro-
lam no infinito”
- Marcel Proust, “Em Busca do Tempo Perdido,
vol.7: O Tempo Redescoberto”

Que e as aproximações ao conhecimento


e liberação de pensamento não tenham
limites, nem jaulas, nem amarras, nem
proibições.
Portanto, ofereço à todos que desejam
saber.

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AGRADEÇO:

À todos que fizeram parte da minha traje-


tória acadêmica: sem vocês não teria sido
possível.
Aos amigos: não citarei nomes, pois são
muitos os que me deram apoio e minha
memória poderia me colocar em débito.
Vocês estão em meu coração.
À minha família: também não cito nomes,
pois “somos” muitos; vocês são incríveis.
Aos docentes da FAU-Mackenzie pelas ins-
pirações, estímulos, boa vontade de sem-
pre ensinar e disposição de sempre apren-
“Diante da vastidão do espaço e da imen-
der.
sidade do tempo,
Ao meu orientador, pela inspiração, dedi-
é uma alegria para mim
cação, incentivo e apoio às minhas paixões,
que foram fundamentais para o desenvolvi- partilhar um planeta e uma época com
mento desse trabalho. vocês”

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APRESENTAÇÃO
“Se as coisas são inatingíveis... ora! qual curso universitário escolher; por fim, cla-
Não é motivo para não querê-las... ramente optei por Arquitetura e Urbanismo.
Que tristes os caminhos, se não fora Já na graduação, essas paixões – Arquitetu-
ra e Astronomia – me levaram a desenvolver
A presença distante das estrelas!”
uma interlocução entre elas, realizando uma
Mário Quintana iniciação científica denominada “Arquitetu-
ra de Observatórios Astronômicos no Brasil”
entre 2014 e 2015, sendo esse um estudo
Começarei falando sobre “desejo”. Essa pa-
histórico-tipológico dessas edificações locali-
lavra vem do latim “desiderare”. Descons-
zadas em solo nacional. Embora a relevância
truindo-a uma vez mais, “de sidere”, ou seja,
daquela pesquisa estivesse academicamente
“dos astros” ou “do céu” – esperar o que os
delimitada em termos de desenvolvimento
astros trarão. Não por acaso, quando vemos
de conteúdo a ser consultado por outros pes-
uma estrela cadente, costumamos fazer um
quisadores em uma temática pouco explora-
desejo, esperando que o céu nos traga sua re-
da por arquitetos, a verdade é que inicialmen-
alização. E foram os astros que “trouxeram”
te busquei pelo tema para suprir justamente
minha inspiração primeira.
o “desejo” de mergulhar em algo que me cau-
Olhar os astros é uma antiga paixão que tra- sava emoção. “Emoção”, que por sua vez tem
go da infância sem razões racionais conscien- como raiz o “emovere”, do latim, “o que põe
tes, o que me pôs em um dilema a respeito de em movimento”. Não à toa, sei essa etimolo-
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gia “de cor” (do latim “de coração”): temos
em nosso coração aquilo que nos põe em
constante movimento, que nos move, que
nos tira do nosso atual lugar – que nos des-
perta desejo.
Ao ingressar no Trabalho Final de Gradua-
ção, o objetivo era trabalhar com a arquite-
tura à serviço da divulgação científica, uma
vez que tomar conhecimento do trabalho
de divulgadores da ciência – tais quais Carl
Sagan, Philip Ball e Marcelo Gleiser – avi-
vou minha paixão também por essa te-
mática em arquitetura. Conforme foram
se formando os embasamentos teóricos
e em decorrência das conversas com meu
orientador, a filosofia pós-estruturalista e o
conceito do “observatório” – estimado por
mim ao ponto de realizar uma pesquisa a
seu respeito – passaram também a nortear
esse trabalho.
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SUMÁRIO

08 INTRODUÇÃO
11 1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA
12 1.1 - Pensamento Livre
25 1.2 - Conhecimento e Sociedade: Divulgação e Crítica
33 1.3 - A Experiência Total do Conhecimento
39 1.3.1 - Visões do Real: Clore Garden of Science
43 2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
44 2.1 - Compilação Histórica e Análise Urbana
57 2.2 - Interpretação Conceitual
64 2.3 - Visões do Real: Parc de La Villette
69 3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO
70 3.1 - Ver além do que se Vê
78 3.2 - Parque de Pesquisa e Divulgação Científica e Cultural
78 3.2.1 - Primeiras Investigações
82 3.2.2 - Estratégias Territoriais Conceituais
104 3.2.3 - Operação Urbana Bairros do Tamanduateí
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107 3.2.4 - Visões do Real: Paris Rive-Gauche
110 3.2.5 - Receptáculo do Pensamento
118 3.3 - Centro de Pensamento
118 3.3.1 - Primeiras Investigações
124 3.3.2 - Estratégias Projetuais
156 CONCLUSÃO
158 REFERÊNCIAS
164 CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS

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INTRODUÇÃO

Problemática por métodos, com início e objetivos finais de-


As edificações a serviço da divulgação cientí- limitados claramente.
fica, como centros e museus de ciência, são Desse modo, qual seria uma possibilidade de
relativamente comuns mundo afora, embora arquitetura que, além de ser observatório da
pouco se investigue em relação à arquitetura produção do conhecimento humano, incen-
como integrante e potencializadora do con- tivasse o desenvolvimento de uma capacida-
teúdo museográfico, sendo essa uma ideia de de pensamento livre e desimpedido? Ao
consideravelmente recente. Além disso, a longo do trabalho essa questão e seus em-
partir de uma breve investigação sobre a basamentos teóricos e projetuais são apro-
existência dessas edificações, foi possível ve- fundados, o que leva ao surgimento de mais
rificar que há poucas estruturas dedicadas a perguntas – e intenta-se constantemente
esse fim em solo nacional e, as existentes, se torná-las evidentes. Não há trabalho que se
encontram desconexas no território. feche em si mesmo: a produção do saber é
Essas edificações são voltadas principalmen- aqui vetor para liberação do pensamento,
te para o incentivo à aprendizagem, não po- que não cessa de levantar novas questões.
dendo substituir o ensino formal – ensino Objetivo
esse que, não raro, incentiva uma produção Partindo dessa questão, objetiva-se investi-
de saber utilitário (ou seja, cuja utilização na gar uma possibilidade de trabalhar essas ar-
sociedade seja clara ou óbvia), controlada quiteturas como vetores não apenas da pro-
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dução, incentivo e divulgação do saber, mas Metodologia
também do desenvolvimento de um pensa-
mento capaz de vagar pelo desconhecido + + =
de maneira não-controlada, livre – algo que, Diagramas Escrita Projeto Tripé metodológico
como será elucidado ao longo dos capítulos, A ação projetual arquitetônica foi enfrenta-
é essencial mesmo para a produção do saber da como uma pesquisa acadêmica. À parte
“utilitário”. o desenvolvimento inicial de qualquer pes-
Uma vez que as obras dos divulgadores já ci- quisa – seleção de referências bibliográficas,
tados não limitam a divulgação científica ao fichamentos e referências arquitetônicas –
que comumente se conhece como “Ciência”, foram essenciais, mesmo para o desenvolvi-
aqui busca-se propor uma arquitetura para mento da escrita, a elaboração de diagramas
“divulgação científica e cultural”, eviden- e esquemas que expressassem as estratégias
ciando sua qualidade pluridisciplinar e ten- projetuais, que aqui, em maioria, são inter-
do, nesse sentido, como base os conceitos pretações conceituais. A escrita, os diagra-
de Pensamento Científico, Pensamento Filo- mas/esquemas e o projeto foram desenvolvi-
sófico e Pensamento Artístico, de Deleuze e dos concomitantemente, sendo essa “tríade”
Guattari. a essência da metodologia.

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Estrutura Organizacional em 3 partes apresentada em conjunto com suas estraté-
1º parte - Especulações conceituais; gias projetuais.

2º parte - Escolha e análise territorial;


3º parte - Proposição urbana e arquitetô-
nica;

Inicia-se a pesquisa, portanto, apresentando


os conceitos e autores trabalhados. São apre-
sentadas suas possibilidades, des-limitando
a investigação e, em alguns momentos, to-
mando exemplos de outras manifestações
do espírito humano além do que comumen-
te se entende por arquitetura, mas que são
também base de inspiração para o projetar.
Tendo isso realizado, parte-se para a escolha,
investigação e análise do território estrategi-
camente selecionado para proposição urba-
nística e arquitetônica a partir das especula-
ções conceituais. Em seguida, a proposta é
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1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA
1.1 - Pensamento Livre
1.2 - Conhecimento e Sociedade: Divulgação e Crítica
1.3 - A Experiência Total do Conhecimento
ERVIL OTNEMASNEP

1.1 - Pensamento Livre

“Pelo espaço, o Universo me compreende sofia são formas de criação e desbravamento


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

e me engole como um ponto; pelo pensa- do caos.


mento, eu o compreendo”
A Filosofia seria a disciplina que consiste
— Blaise Pascal, Pensées.
em criar “conceitos”. Todo conceito remete
Uma vez que este trabalho se propõe a utili- a problemas sem os quais não teria sentido
zar a arquitetura como força motriz da libe- (DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 24). Mais di-
ração do pensamento, torna-se necessário retamente:
questionar: quais as formas de pensamento
O conceito é o contorno, a configuração, a
aqui em estudo? constelação de um acontecimento por vir.
Deleuze e Guattari, em seu livro intitulado Os conceitos, neste sentido, pertencem de
pleno direito à filosofia, porque é ela que
“O que é a Filosofia?”, discorrem sobre três os cria e não cessa de criá-los. O conceito é
dimensões do pensamento – a saber, a Filo- evidentemente conhecimento, mas conhe-
sofia, a Arte e a Ciência – entre as quais não cimento de si, e o que ele conhece é o puro
acontecimento, que não se confunde com
há hierarquia, mas cruzamentos e entrelaça- o estado de coisas no qual se encarna (DE-
mentos. Segundo esses filósofos, o pensar LEUZE; GUATTARI, 2010, p. 42).
pode se dar por meio dos conceitos (filoso-
fia), ou por funções (ciência lógica) ou por Assim sendo, a Filosofia seria a disciplina que
sensações (arte). Esses autores salientam se encarrega de recorrentemente levantar
que todo pensamento é uma relação com o questionamentos, problemas e ideias. Um fi-
caos e, tanto a Arte, como a Ciência ou a Filo- lósofo cria um conceito para responder a um
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PENSAMENTO LIVRE

problema, sendo que estes sempre remetem Desse modo, a Filosofia de Deleuze e Guat-

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


a outros conceitos. Segundo Deleuze e Guat- tari é uma filosofia localizada, que responde
tari (2010, p. 11), Nietzsche definiu a tarefa a um problema de um determinado lugar (ou
da filosofia ao escrever que os filósofos não plano), sendo impossível utilizar um concei-
devem se contentar em aceitar os conceitos to fora de seu plano de imanência, tornando
a eles dados, sendo necessário criá-los e afir- necessária a inserção da suspeita e do ques-
má-los. Para esses filósofos, a Filosofia é a tionamento recorrente, sem poder afirmar a
criação de conceitos e a instauração do plano existência de uma “verdade universal”.
de imanência, uma vez que o conceito não Já a Arte é um tipo de pensamento que ope-
pode ser criado “ao léu”, sendo o plano de ra por “perceptos” e “afectos”, tendo sempre
imanência um plano pré-filosófico do exer- um plano de composição. A arte conserva
cício do desejo que mobiliza o pensamento, “um bloco de ‘sensações’, isto é, um com-
condição necessária para que a filosofia exis- posto de ‘perceptos’ e ‘afectos’” (DELEUZE;
ta. GUATTARI, 2010, p. 193). Segundo Deleuze e
Segundo Deleuze e Guattari (2010, p. 46) “os Guattari (2010), o que se conserva na arte não
conceitos são acontecimentos, mas o plano é o material, mas o “percepto” ou o “afecto”.
é o horizonte dos acontecimentos, o reserva- As “sensações” são seres que valem por si
tório ou a reserva de acontecimentos pura- mesmos e excedem a passagem do tempo.
mente conceituais”. Para Deleuze e Guattari (2010, p. 197) “o ob-
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ERVIL OTNEMASNEP

jetivo da arte, como os meios do material, é enfrenta o caos. Em Ciência, as “funções”


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

arrancar o ‘percepto’ das percepções do ob- remetem a um “plano de referência”, atra-


jeto e dos estados de um sujeito percipiente, vés de um observador parcial, cuja tarefa é
arrancar o ‘afecto’ das afecções, como pas- “perceber” e “experimentar”, embora essas
sagem de um estado a um outro”. O campo percepções e afecções não sejam as de um
comum entre as diferentes manifestações homem, mas pertençam às coisas que ele es-
artísticas é justamente a busca por captar tuda. Esses observadores parciais são forças
forças, tornar apreensíveis (ou sensíveis) for- que percebem e experimentam (DELEUZE;
ças inapreensíveis no mundo, que nos afetam GUATTARI, 2010, p. 154).
e que nos tornam o que somos (DELEUZE; Ainda segundo Deleuze e Guattari (2010, p.
GUATTARI, 2010, p. 215). 147), “o percurso da ciência se faz na constru-
Por fim, a Ciência opera por “funções”, sendo ção de eixos que duram um certo tempo, de-
seus elementos os “functivos”, que desace- senvolvidos e reinventados por bifurcações
leram o caos permitindo criar “proposições” no plano de referência”, ou seja, o pensa-
– cujos elementos são os “prospectos”. Para mento científico busca comprovações teóri-
Deleuze e Guattari (2010), a ciência cria suas cas que podem ser superadas com o tempo e
“funções” entre variáveis que resultam da com novas descobertas. Da mesma maneira
desaceleração do caos, variáveis essas que que os “conceitos”, os “functivos” não pree-
compõem um “plano de referência” consti- xistem inteiramente prontos, sendo necessá-
tuído por limites ou bordas sob os quais ela rio criá-los no plano de referência a partir da
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PENSAMENTO LIVRE

observação do observador parcial. porque cada disciplina permanece sobre


seu próprio plano e utiliza seus elementos

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


O que define o pensamento, as três gran- próprios. Mas um segundo tipo de interfe-
des formas do pensamento, a arte, a ciên- rência é intrínseco, quando conceitos e per-
cia e a filosofia, é sempre enfrentar o caos, sonagens conceituais parecem sair de um
traçar um plano, esboçar um plano sobre o plano de imanência que lhes corresponde-
caos(...). Pensar é pensar por conceitos, ou ria, para escorregar sobre um outro plano,
então por funções, ou ainda por sensações, entre as funções e os observadores parciais,
e um desses pensamentos não é melhor ou entre as sensações e as figuras estéticas;
que um outro, ou mais plenamente, mais o mesmo vale para os outros casos (DELEU-
completamente, mais sinteticamente “pen- ZE; GUATTARI, 2010, p. 256)
sado” (DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 233)
Mas em quais situações pode-se perceber
Essas três maneiras de pensar possuem dife-
com clareza a interferência de um plano em
renças que entre elas pesam, mas esbarram
outro? A partir do que Deleuze e Guattari dis-
e deslizam uma na outra, convivendo, co-
sertam sobre o pensamento, busca-se aqui
nectando-se em seus devires. Nunca fazem
dilatar essas considerações e extrapolar o
“a mesma coisa”; traçam planos específicos,
campo da arquitetura para outras manifesta-
não raro até mesmo paralelos. A Filosofia
ções do espírito humano. Em “Mil Platôs: Ca-
traça o “plano de imanência”, a Arte traça o
pitalismo e Esquizofrenia”, Deleuze e Guat-
“plano de composição” e a Ciência traça o
tari (1995) dissertam sobre os conceitos de
“plano de referência”.
“liso” e “estriado”, interpretando-os não ape-
São portanto interferências extrínsecas, nas em territórios físicos, mas também em
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ERVIL OTNEMASNEP

relação ao pensamento, considerando um de civil) haja um certo desmerecimento em


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

“método” algo análogo ao “espaço estriado”, relação às ciências humanas ou às produções


traçando um caminho que deve ser seguido artística e filosófica, como se estas fossem
de um ponto a outro, sabendo de antemão o “ciências menores”, totalmente dispensáveis
ponto de partida e de chegada. ao desenvolvimento da sociedade.
O objetivo deste trabalho é questionar esse Essa suposição não se sustenta nem mesmo
modelo “estriado” de pensar por ter sido, ao quando a confrontamos com a popularmen-
longo dos anos, praticamente imposto como te conhecida “divulgação científica”, onde
o “meio correto” (previamente supondo que os divulgadores muitas vezes se utilizam de
os demais meios seriam “incorretos”) de pro- recursos comuns ao pensamento artístico ou
duzir conhecimento, sendo não raro possível ao pensamento filosófico para inserir nos es-
perceber um tipo de “supressão” às outras pectadores a capacidade de questionamento
formas de pensamento. Um caminho do cíclico e a emoção e reverência causadas pela
pensamento que é supostamente “correto e observação e estudo da natureza. Vide Carl
não questionável”, considerado (equivocada- Sagan, astrofísico e popularizador da ciência
mente) “exato”. cujos livros, entrevistas e trabalhos audiovi-
Não por acaso, não é raro que em grupos vol- suais estão constantemente munidos de re-
tados à pesquisa das ditas ciências exatas ou cursos artísticos e filosóficos (não apenas po-
ciências da natureza (ou mesmo na socieda- esia, literatura e música, mas também pela
utilização de um tom poético para transmitir
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PENSAMENTO LIVRE

conhecimentos científicos), sendo conside- denomina de pós-modernas2), afirma que o

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


rado por estudiosos do campo da divulgação saber é uma espécie de discurso, que é, nes-
como um “divulgador cultural”, uma vez que sas sociedades, produzido para ser vendido,
não limitava a ciência a ela mesma, consi- deixando de ser para o seu próprio fim. No
derando-a parte integrante da produção do final do século XVIII (época da Primeira Re-
conhecimento humano. Divulgadores como volução Industrial), percebe-se que não há
Sagan, consciente ou inconscientemente, técnica sem riqueza e não há riqueza sem
transmitiam o pensamento científico aliado técnica, haja visto que um dispositivo técnico
a um bloco de sensações – “afectos” e “per- exige investimento financeiro e que otimiza a
ceptos” – de modo a causar uma sensação performance à qual é aplicado, podendo ser
de veneração atemporal pela natureza ao aplicado à produção industrial, reforçando a
discorrer sobre “o oceano cósmico que nos circulação de capital (LYOTARD, 2006, p. 81-
circunda” 1. 82).
Lyotard (2006), em seu livro “A Condição Pós- O Estado e/ou a empresa abandona o relato
de legitimação idealista ou humanista para
-Moderna”, no qual discute a posição do sa- justificar a nova disputa: no discurso dos fi-
ber nas sociedades mais desenvolvidas (que nanciadores de hoje, a única disputa confi-

2 “Designa o estado da cultura após as transforma-


1 Cosmos: A Personal Voyage. Episode 1: The Shores ções que afetaram as regras dos jogos da ciência, da
of the Cosmic Ocean. literatura e das artes a partir do final do século XIX” –
LYOTARD, 2006, p. xv.
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ERVIL OTNEMASNEP

ável é o poder. Não se compram cientistas, capazes de assegurar convenientemente


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

técnicos e aparelhos para saber a verdade, seu papel junto aos postos pragmáticos de
mas para aumentar o poder (LYOTARD, que necessitam as instituições (LYOTARD,
2006, p. 83) 2006, p. 89)
Nesse sentido, poderíamos considerar que as Não apenas, o saber que pode ser “medido”
“ciências” mais “legitimadas” pela sociedade e “controlado”, que pode “servir a” algo es-
e pelo Estado podem ser as “estriadas”, cujo pecífico (no caso, servir à manutenção do po-
método se calca em saber seu ponto de par- der, à circulação do capital) é o mais procu-
tida e, de antemão, seu ponto de chegada, rado por financiadores, uma vez que permite
sendo essas as que muitas vezes reforçam a maior eficiência dos meios de produção ou
circulação de capital e a manutenção do po- podem ser ferramentas de pesquisas futuras
der? que permitam essa maior eficiência.
No contexto da deslegitimação, as univer- Segundo Lyotard (2006, p. 5), o saber se tor-
sidades e as instituições de ensino superior
são de agora em diante solicitadas a formar nou uma grande força de produção. Embora
competências, e não mais ideais: tantos Lyotard tenha escrito esse livro em 1979, o
médicos, tantos professores de tal ou qual “saber como meio de produção” ainda é bas-
disciplina, tantos engenheiros, administra- tante evidente, mesmo no meio acadêmico.
dores, etc. A transmissão dos saberes não
aparece mais como destinada a formar uma Não raro, instituições de ensino que bus-
elite capaz de guiar a nação em sua emanci- cam “cortar custos” baseiam-se em índices
pação. Ela fornece ao sistema os jogadores de medição de qualidade versus quantidade
18
PENSAMENTO LIVRE

(vide índice-h3) de maneira pouco criteriosa, professores que a dos cientistas (LYOTARD,
2006, p. 71-72)

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


colocando em cheque a seriedade da institui-
ção e desperdiçando pesquisadores com po- Quando se menciona no título do capítulo o
tencial de produção intelectual de qualidade “pensamento livre”, não se faz referência ao
com base em “economias financeiras” e em pensamento livre de sentimentos e individua-
“número de artigos publicados/citados em lidades, mas ao pensamento como uma “má-
menor tempo”. quina-de-guerra4”, que não pode ser medido
As antigas “faculdades” desmembram-se e nem controlado, tampouco “comprado” – e
em institutos e fundações de todo tipo, as mesmo quando “comprado”, é capaz de de-
universidades perdem sua função de legi- safiar a manutenção do poder que o “enco-
timação especulativa. Privadas da respon-
sabilidade da pesquisa que o relato espe- menda” por meio de suas proposições. Um
culativo abafa, elas se limitam a transmitir pensamento que tem a liberdade de vaguear
os saberes julgados estabelecidos e assegu- por caminhos variáveis de acordo com as ne-
ram, pela didática, mais a reprodução dos
cessidades que se abrem às investigações. O
3 O índice-h foi criado pelo 2005 pelo físico argenti- pensamento é uma viagem imóvel, realizada
no Jorge Hirsch, professor da Universidade da Califór-
nia. Para avaliar a produção do pesquisador, conside- 4 O objetivo não é a “guerra” em seu sentido literal,
ra-se o maior número de artigos científicos publicados mas sim a liberação do pensamento do modelo do Es-
que têm pelo menos o mesmo número de citações. Se tado (considerado o modelo de organização por exce-
um pesquisador publica muito, mas é pouco citado ou lência) ou de todos os poderes que o oprimem e o im-
se recebe muitas citações mas possui poucos artigos pedem de se exercer livremente, objetivando manter
publicados, terá um baixo índice-h uma maneira “única e correta” de pensar.
19
ERVIL OTNEMASNEP

CAPA DO LIVRO “FRONTEIRAS DO UNIVERSO”, EDITORA EVERYMAN


sem sair do lugar, imperceptível aos olhos e
1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

aos sentidos mais diretos, atividade lúdica,


reflexiva e perplexiva.
Intenta-se salientar a constante tensão e
correlação entre as diferentes maneiras de
pensar e produzir conhecimento. A produção
intelectual humana se dá muitas vezes por
meio do constante choque e tensão de ações
e modos de pensar.
Extrapolando os limites, poderíamos citar
trabalhos literários que, a partir do composto
de “perceptos” e “afectos”, isto é, das sensa-
ções, tornam notórios os pensamentos cien-
tífico e filosófico. Um exemplo relativamente
conhecido é a série “His Dark Materials” (em
português, “Fronteiras do Universo”), do es-
critor britânico Philip Pullmann, tratando de
temas tais quais emaranhamento quântico,
matéria escura e partícula elementar – obvia-
20
PENSAMENTO LIVRE

CAPA DO LIVRO “O HOMEM QUE CALCULAVA”, EDITORA RECORD


mente, envolvidos em um ambiente fictício e

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


fantástico, característico da série. O próprio
título da série, “His Dark Materials” é uma ci-
tação de um verso de “Paraíso Perdido”, de
John Milton, em um trecho do poema que
descreve a matéria que deus teria usado para
criar “outros mundos”.
Um exemplo brasileiro desse tipo de divulga-
ção científica por meio da literatura é o traba-
lho de Malba Tahan, pseudônimo do escritor,
professor, pedagogo e matemático brasileiro
Júlio César de Melo e Sousa. Escreveu “O Ho-
mem que Calculava”, que narra as aventuras
de um calculista persa, elucidando os proble-
mas lógico-matemáticos resolvidos por Be-
remiz Samir durante sua viagem de Samarra
a Bagdá. Essa obra é um exemplo literário da
relação ciência-imaginação como vetor de
aprendizagem.

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ERVIL OTNEMASNEP

ESCRITOS DA INSTALAÇÃO SONORA “PARA OUVIR ANTES DE MORRER”, DE


PRISCILA MAIA, UMA DAS INSPIRAÇÕES DESSE TRABALHO
Este trabalho propõe o exercício filosófico da
1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

digressão em relação às nossas pré-concep-


ções a respeito do “olhar” e do “ver”, que são
aqui pontos centrais e que serão constante-
mente extrapolados das percepções mais
óbvias e corriqueiras; de acordo com Deleu-
ze e Guattari (2010, p. 230) “a visão existe
pelo pensamento, e o olho pensa, mais ain-
da do que escuta”. Do mesmo modo, o olho
tem sua função tátil5. Ao considerar o ver e
o olhar, deve-se ter em mente que não será
limitado pelo tempo: ver/olhar além do tem-
po, ver no futuro, imaginar, ver o que ainda
está por vir ou, pensar em ainda não ver o que
se dá como visível.
Nublar ou escurecer concepções e obvieda-

5 A função tátil da visão é o háptico trabalhado por


Deleuze em “Francis Bacon: A Lógica da Sensação”
e tratado com mais profundidade em outro capítulo
deste trabalho
22
PENSAMENTO LIVRE

CENA DO FILME “A TEORIA DE TUDO”: NO MOMENTO EM QUE HAWKING ESTÁ


CONTEMPLANDO AS FAÍSCAS NA LAREIRA, O REFLEXO POR ELAS CAUSADO EM
SUA PUPILA SE TORNA UM BURACO NEGRO EXPELINDO FAÍSCAS.

energia de um buraco negro6.

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


Não se pretende com esse trabalho afirmar
que imaginar, por si só, é conhecimento pro-
duzido, verificado e científico, mas sim sa-
lientar que a imaginação aliada a constante
indagação podem ser bem-sucedidos moto-
res da produção de conhecimento científico,
posteriormente testado e comprovado. Vide
as especulações de Isaac Asimov7 e Júlio Ver-
des se torna muitas vezes necessário para 6 Trecho do filme “A Teoria de Tudo” que ilustra
ver o que está obscurecido ou ofuscado pelo uma situação corriqueira na qual Stephen Hawking,
mais óbvio - em um exemplo prático, nossos ao tentar vestir uma blusa de lã, foca o olhar na
lareira. As faíscas lhe causam lances intuitivos, como
olhos apenas veem as estrelas devido à es- o descrito no texto
curidão da noite. Nesse ponto, imaginação 7 Isaac Asimov, bioquímico e escritor estadunidense
seria uma das manifestações da liberdade de de origem russa, em 1964 aceitou o convite do jornal
pensamento. É necessário ter capacidade de The New York Times e realizou uma série de previsões
sobre o futuro dali à 50 anos, ou seja, como seria o
imaginação para associar a dispersão térmi- mundo em 2014, prevendo a criação do micro-ondas,
ca do fogo da lareira à possível dispersão de da fibra ótica, da internet, das TVs de telas planas,
dentre outros (embora não se utilizasse desses ter-
mos, mas descrevendo as situações).
23
ERVIL OTNEMASNEP

ne8, que em seus livros imaginaram diversos


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

instrumentos facilitadores das atividades hu-


manas e que foram, posteriormente, inven-
tados a partir de investigações técnico-cien-
tíficas.
Intenta-se trabalhar a imaginação e o ques-
tionamento recorrentes como motores do
pensamento não controlado, “máquina de
guerra”, que desafia os conhecimentos im-
postos como “corretos” e os modelos de pen-
samento (aparelhos de captura9).

8 Jules Gabriel Verne, escritor francês, “previu” em


suas obras de ficção o submarino elétrico (no livro
“Vinte Mil Léguas Submarinas, publicado 90 anos an-
tes da criação do equipamento); também descreve
uma arma que lança projéteis carregados de energia
estática (que muitos especulam ser o que hoje conhe-
cemos como teaser)
9 Aparelhos de captura são constituídos para se
apropriarem da máquina de guerra, buscando contro-
lar o nomadismo ao causar estriamento constante.
24
CONHECIMENTO E SOCIEDADE: DIVULGAÇÃO E CRÍTICA

1.2 - Conhecimento e Sociedade: Divulgação e Crítica

“Como podemos executar a política nacio- passemos ao desenvolvimento da divulgação


nal ou até mesmo tomar decisões inteli-

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


cientifica desde o século XVIII e seu papel no
gentes sobre nossas próprias vidas se não
compreendermos as questões subjacen- mundo atual.
tes?” – Carl Sagan, O Mundo Assombrado
pelos Demônios
Em uma videoconferência realizada em 2015
pela Universidade Federal de Minas Gerais,
A divulgação científica pode ser entendida Marcelo Gleiser11, se posiciona não apenas
como uma maneira de comunicar à diferen- sobre a importância da divulgação do conhe-
tes públicos um conhecimento específico cimento, mas também sobre suas origens.
produzido formalmente. De acordo com Sil- Gleiser conta brevemente história do estu-
va10 (2006, p. 53), é difícil dar uma resposta dioso Galileu Galilei, que teria sido o primeiro
ao que é divulgação científica, levando em a transcrever seus estudos para um idioma
conta que “o termo compreende um conjun- local, o italiano, em uma época na qual a pro-
to tão grande e diverso de textos, envolvidos dução formal do conhecimento se dava em
em atividades tão diferentes, que todas as
tentativas de definição e categorização his- 11 Astrofísico brasileiro, escritor de sete livros de
tóricas acabam malogradas”. Assim sendo, divulgação científica (entre eles “A Dança do Univer-
so”, “Poeira das Estrelas” e “A Simples Beleza do Ines-
10 Graduado (licenciatura) em Física e doutor em perado”), é professor na Dortmouth College (EUA).
Educação pela UNICAMP, Henrique César da Silva é Em 2006 teve um quadro no Fantástico (Rede Globo)
professor na Universidade Federal de Santa Catarina, denominado “Poeira das Estrelas”, dando-lhe noto-
sendo também pesquisador na área da circulação de riedade e atingindo amplo público com a divulgação
conhecimentos da física. científica.
25
1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA ACITÍRC E OÃÇAGLUVID :EDADEICOS E OTNEMICEHNOC

latim, língua não acessível ao povo de sua como Marat12 e Desaguliers13; não raro essas
época e local – tendo essa sido a primeira demonstrações atingiam ares de espetácu-
maneira documentada de divulgação cientí- los (como alguns atualmente, que “deificam”
fica no Ocidente. a ciência), podendo inclusive ser itinerantes
Embora atualmente a divulgação do conhe- (SILVA, 2006, p. 54).
cimento ganhe dimensões impossíveis an- A divulgação não se trata apenas de fazer
teriormente devido a rapidez dos meios de com que o receptor compreenda os assuntos
comunicação, já no século XVIII o público tratados, mas também de lhe despertar in-
enchia anfiteatros para ouvir e assistir a res- teresse em entender melhor a questão e dar
peito de novas máquinas e demonstrações 12 Um dos personagens centrais da Revolução Fran-
de fenômenos pneumáticos, elétricos, me- cesa, eleito um dos dirigentes da Comuna de Paris,
cânicos, exposições e palestras sobre física, tendo sido assassinado por outros revolucionários
posteriormente. Escreveu sobre ótica, calor e eletrici-
química ou medicina, dentre outros. Alguns dade, tendo proferido diversas palestras públicas com
divulgadores foram famosos nessa época, demonstrações e experimentos sobre esses temas
13 Curador de experimentos da Royal Society de
Londres, foi um dos mais influentes divulgadores de
ciência de sua época, foi assistente de Isaac Newton,
tendo recebido a Medalha Copley três vezes em con-
sideração à importância de seus experimentos para o
desenvolvimento da ciência de sua época.
26
CONHECIMENTO E SOCIEDADE: DIVULGAÇÃO E CRÍTICA

um “panorama” do funcionamento de de- são as melhores do mundo - vêm de outros


países. O corolário, que os Estados Unidos

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


terminados métodos e possibilidades de re-
às vezes deixam de compreender, é que
sultados que os estudos formais e suas apli- abandonar a ciência é o caminho de volta
cações acarretam. Cabe salientar que deve à pobreza e ao atraso (SAGAN, 2001, p. 58)
haver a consciência de que a ciência não é a
Sagan escreveu “O Mundo Assombrado pe-
“panaceia”, capaz de “curar” todos os males
los Demônios” em 1995. Embora 22 anos te-
da sociedade; é de fato uma ferramenta que
nham se passado desde então, e estarmos no
pode ser utilizada para quaisquer fins. Nesse
contexto brasileiro, essa colocação continua
sentido, a tomada de consciência dos cida-
atual. Como testemunha Sagan, não é ape-
dãos a respeito da produção e da possibilida-
nas no Brasil que políticos, e inclusive a so-
de de uso desses saberes se torna crucial para
ciedade, consideram que o desenvolvimento
a tomada de decisões políticas, econômicas e
socioeconômico se dá “apesar” dos investi-
sociais.
mentos em produção científica, em vez de
Apesar das inúmeras oportunidades de considerar que o desenvolvimento obriga-
mau emprego, a ciência pode ser o caminho
propício para vencer a pobreza e o atraso toriamente se dá “em conjunto” e em de-
nas nações emergentes. Ela faz funcionar corrência da produção do saber. Os excessos
as economias nacionais e a civilização glo- dos “porquês” quanto a liberação de verbas
bal. Muitas nações compreendem essa rea- (“por que gastar verbas com isso agora?” ou
lidade. É por isso que tantos estudantes de
pós-graduação em ciência e engenharia nas “qual a relevância do tema para a sociedade
universidades norte-americanas - que ainda atualmente?”) não apenas podem embargar
27
ACITÍRC E OÃÇAGLUVID :EDADEICOS E OTNEMICEHNOC

a busca por respostas a questões subjacen- rádio do meio de toneladas de uraninita;


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

tes que são essenciais para a posterior pro- Fleming não planejava salvar as vidas de
milhões com antibióticos quando obser-
dução de conhecimento que venha a afetar vou um círculo sem bactérias ao redor de
diretamente o desenvolvimento da socieda- uma formação de mofo; Watson e Crick não
de, como colocam uma barreira no caminho imaginavam a cura de doenças genéticas
quando tentavam decifrar a difratometria
de pesquisas que, à primeira vista podem ser dos raios X do DNA; Rowland e Molina não
consideradas “desperdício de verba”, mas planejavam implicar os CFCs na diminuição
que podem se mostrar essenciais para de- da camada de ozônio quando começaram a
senvolver técnicas que sejam de amplo uso estudar o papel dos halógenos na fotoquí-
mica estratosférica (SAGAN, 2001, p. 447).
no futuro.
Maxwell não estava pensando no rádio, Essas considerações buscam tornar mais
no radar e na televisão quando rabiscou evidente a importância de produzir conhe-
as equações fundamentais do eletromag- cimento com uma determinada “liberdade”
netismo; Newton nem sonhava com voos
espaciais ou satélites de comunicações
e que a liberação de verbas para essas pro-
quando compreendeu pela primeira vez o duções não são “desperdícios”, mas investi-
movimento da Lua; Roentgen não cogitava mentos futuros; investigações improváveis,
em diagnóstico médico quando investigou levadas muitas vezes pela pura curiosidade,
uma radiação penetrante tão misteriosa
que ele a chamou de raios X; Curie não pen- podem se demonstrar essenciais no desen-
sava na terapia do câncer quando extraiu volvimento de dispositivos que venham a ser
a duras penas quantidades diminutas de cruciais no desenvolvimento da sociedade.
28
CONHECIMENTO E SOCIEDADE: DIVULGAÇÃO E CRÍTICA

Nesse aspecto, a divulgação de como o co- financiado (uma vez que Lyotard realiza jus-

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


nhecimento é produzido e quais seus impac- tamente a discussão sobre como a relação da
tos [prováveis e improváveis] pode ser uma produção de conhecimento com a sociedade
ferramenta de tomada de consciência públi- pode tornar a ciência um empreendimento
ca dos “porquês” da importância desses in- comercial), mas que atualmente a produção
vestimentos, não apenas para aos cidadãos, de saber tem sido colocada em segundo pla-
mas também para aos que dirigem a política no nos orçamentos financeiros nacionais ou
nacional. bastante cerceada com base nas suas aplica-
Não se pretende aqui afirmar que o conhe- ções mais óbvias.
cimento legítimo é apenas aquele que é tra- A questão da divulgação científica passa não
duzido de maneira didática ao público, mas apenas pela “tradução” de termos científicos
justamente que tomar consciência da diver- complexos utilizados pelos acadêmicos, mas
sidade da produção do saber é fundamental não raro por adicionar “afectos” ao discurso
para respeitar e considerar que nenhuma da divulgação, despertando no espectador
maneira de produção de conhecimento é um “desejo” pelo conhecimento. Tomemos
independente em si mesma, tampouco dis- como exemplo a série Cosmos: A Personal
pensável. Também não se defende aqui o uso Voyage14 e, mais recentemente, Cosmos: A
irrestrito de verbas públicas pelos pesquisa-
14 Série estadunidense de TV idealizada por Carl
dores, muito menos o de que apenas o co- Sagan (que também a apresenta) e sua esposa Ann
nhecimento que “serve” a sociedade deva ser Druyan, produzida pela KCET e Carl Sagan Produc-
29
ACITÍRC E OÃÇAGLUVID :EDADEICOS E OTNEMICEHNOC

PÔSTER DA SÉRIE “COSMOS: A SPACETIME ODYSSEY”, DE 2014,


TRANSMITIDA PELA FOX E NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL
Spacetime Odyssey15. É comum que seus dis-
1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

cursos sejam apoiados não apenas nas fun-


ções científicas, mas também na “poetiza-
ção”: trabalha-se com a inserção de “afectos”
na linguagem científica. Tornar um conheci-
mento do interesse geral, fazer com que o
espectador se sinta atraído, questione, fique
intrigado e busque mais a respeito do tema é
mais eficiente em termos de divulgar conhe-
cimento que apenas “traduzir” a árida lingua-
gem acadêmica. Divulgar não se trata apenas
de “dar” informações: se trata, antes de tudo,
de seduzir o outro a ir além do conhecimento
que atualmente carrega consigo, de flexibi-
tions, veiculada pela PBS em 1980. A versão escrita
dessa série de trezes capítulos continua sendo um
dos maiores best-sellers da divulgação científica. lizá-lo como um sempre aprendiz de novas
15 Documentário idealizado por Ann Druyan e Ste- habilidades, pesquisador de novas maneiras
ven Soter, produzido como continuação da série de
1980, tendo como apresentador Neil DeGrasse Tyson. de fazer e saber.
Estreou simultaneamente em 10 canais estaduniden- Nas séries televisivas citadas, combinam-se
ses,
30
CONHECIMENTO E SOCIEDADE: DIVULGAÇÃO E CRÍTICA

explicações sobre astronomia, evolução das e Philip Ball17 – não são apenas best-sellers,

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


espécies, química, física, história da ciência e como também convocam o público a um de-
literatura com o tom poético e uma lingua- bate a respeito de como a ciência é produzi-
gem acessível, que evita jargões acadêmicos, da, como afeta diretamente a vida cotidiana
impactando amplo público não limitado à e como afetam a tomada das decisões em
comunidade científica de campos específicos sociedade.
do conhecimento. Dramatizações de aconte- Existem, entretanto, considerações quanto
cimentos históricos ligados à ciência são so- a produção e a divulgação do conhecimento.
brepostos por reflexões filosóficas. Mais do Produzir e divulgar não são necessariamen-
que “ensinar”, busca-se sensibilizar pessoas, te o mesmo processo; embora produção e
despertando-lhes afeição e necessidade de divulgação de conhecimento possam estar
questionamento diante da realidade e das diretamente conectados, produzir com lin-
coisas cotidianas.
e “Fashion, Faith and Fantasy in the New Physics of the
As publicações de diversos difusores da ciên- Universe” em 2016
cia – como Roger Penrose16, Marcelo Gleiser 17 Químico pela Universidade de Oxford e PhD em
Física pela Universidade de Bristol, é atualmente
16 Físico, matemático, filósofo da ciência e profes- escritor freelancer de ciência, tendo sido editor da
sor emérito da Universidade de Oxford, trabalhou o revista Nature por mais de 20 anos. Publicou diversos
Teorema de Singularidade Penrose-Hawking ao lado livros de divulgação, entre eles “Curiosity: How Scien-
de Stephen Hawking. Produziu livros de divulgação, ce Became Interested in Everything” em 2012 e “The
tais quais “A Mente Virtual” em 1997; “A Natureza do Music Instinct: How Music Works and Why We Can’t Do
Espaço e do Tempo” com Stephen Hawking em 1997; Without It” em 2010.
31
ACITÍRC E OÃÇAGLUVID :EDADEICOS E OTNEMICEHNOC

guagem simples, evitando o uso de jargões maneiras de comunicar esses conhecimentos


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

acadêmicos e se utilizando de frases curtas podem então ser várias e em diversos graus
(que, no geral, têm maiores chances de ser de dificuldade.
compreendidas) poderia diminuir a “preci- Considerando os ares de espetáculo e deifi-
são” ou qualidade da produção de um pes- cação da ciência que essa maneira de comu-
quisador. nicar o pensamento científico tem assumi-
Não raro, a divulgação científica trabalha do, faz-se necessário salientar que há aqui a
com o binômio “divulgador” (imbuído da busca por uma divulgação do “pensamento
autoridade de deter conhecimento e de ser científico” que fomente a liberdade do pen-
capaz de transmiti-lo) e “receptor” (aquele samento, que trabalhe a capacidade crítica
que pouco ou nada sabe de ciência). Como do público, tornando-o capaz de recorrente-
esclarece Silva (2006, p. 58), deve-se consi- mente questionar e permitir ser questionado.
derar que, no grau de especialização científi- Uma divulgação que potencialize o diálogo
ca que se estabeleceu na ciência atualmente, de pensamentos e conhecimentos.
todo cientista é relativamente leigo em ou-
tros campos do saber que não o seu próprio.
Nesse sentido, é importante enfatizar que a
divulgação não busca apenas esclarecer o co-
nhecimento para um público totalmente lei-
go, mas para uma diversidade de públicos. As
32
A EXPERIÊNCIA TOTAL DO CONHECIMENTO
1.3 - A Experiência Total do Conhecimento

Toda a questão da divulgação do saber gira O museu na Grécia antiga era uma instituição

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


em torno de alguma forma de conversa, de de estudo e pesquisa, onde se desenvolviam
comunicação. Torna-se inevitável, portanto, a capacidade de criação e imaginação, sendo
iniciar esse capítulo com o resgate da etimo- comum a criação de protótipos (raramente
logia da palavra “museu”, uma vez que a lin- utilitários, muito frequentemente aparenta-
guagem falada e escrita é fundamental para vam ser protótipos conceituais para demons-
comunicar ideias. Como verificado na tese de tração de fenômenos físicos). Apenas muito
Alberto Gaspar (1993, p. 7-8) o termo “mu- mais tarde esse termo veio a ser utilizado
seum” vem do latim, originando-se, por sua como local que guarda uma antiga coleção
vez, do grego “mouseion”, templo das Musas de algo.
na Grécia antiga. De acordo com a mitologia, Um aspecto bastante curioso chamou a aten-
as musas presidiam as artes da eloquência, ção na busca por referências de centros ou
história, poesia lírica, música, tragédia, músi- museus de ciências construídos mundo afora:
ca sacra, comédia, dança e astronomia. Esse são, majoritariamente, pensados para crian-
termo, “mouseion”, se referia mais a atmos- ças. Segundo Wagensberg18 (2005), em uma
fera de inspiração do ambiente do que às sucinta definição, um “museu de ciências é
suas características físicas, sendo muito mais
18 Professor, pesquisador e escritor espanhol, dou-
um lugar onde a mente poderia se desligar da tor em Física pela Universidade de Barcelona. Foi di-
realidade cotidiana e “viajar” por “lugares” retor científico da “Fundación La Caixa”, entre 1991
do saber conhecidos ou desconhecidos. e 2005, atualmente entre os museus de ciência mais
conceituados do mundo
33
OTNEMICEHNOC OD LATOT AICNÊIREPXE A

um espaço dedicado a fornecer um estímuloquando aqui se menciona “ciência”, não se


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

para o conhecimento, o método e a opiniãofala apenas das ciências “exatas20” ou bioló-


científica”. Mesmo em centros expositivos gicas, mas de todas as maneiras de produzir
conhecimento (as ciências sociais também
cujo público-alvo é o infanto-juvenil, os adul-
tos, que levam seus filhos, são não apenasbuscam compreender a realidade; da mesma
beneficiados, mas também, como ressalta forma o estudo da antropologia, da história,
Massabki19 (2011, p. 47 apud GASPAR, 1993),
das artes, etc). Como o antigo “mouseion”,
vistos animadamente interagindo com ex- busca-se criar uma atmosfera para libera-
perimentos concebidos para crianças. Assim
ção de diversos modos de pensar, uma vez
sendo, busca-se que o parque e as edifica-que é possível estudar e compreender a re-
ções nele contidas sejam integráveis a todos
alidade de diversas maneiras, abrindo espa-
os públicos que desejarem visitá-los, de fai-
ço até mesmo para criação de protótipos. E,
xas etárias variadas, sendo também uma ex-
de acordo com o que afirma Wagensberg em
tensão da cidade e da vida urbana. entrevista para a Revista Pesquisa Fapesp em
A ciência busca compreender a realidade, 2004, o método científico serve para buscar
composta por fenômenos ou objetos; e, respostas, mas não para criar perguntas. É a
emoção que auxilia a ter ideias, que é o dese-
19 Arquiteto pela FAU-Mackenzie (1998), mestre 20 Recorrentemente questiono o termo “ciências
pela FAU-USP (2011), atualmente arquiteto na Supe- exatas” uma vez que suas ideias são também recor-
rintendência do Espaço Físico da USP, tendo atuado 11 rentemente questionadas e reverificadas, não sendo
anos no Parque de Ciência e Tecnologia da USP. possível levar o termo ao pé da letra.
34
A EXPERIÊNCIA TOTAL DO CONHECIMENTO

jo que alimenta a força do pensamento e que com os visitantes. São objetos com eventos
associados, objetos vivos, objetos que mu-

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


impulsiona o desenvolvimento da curiosida-
dam. Apresentar uma pedra sedimentária
de necessária para produzir perguntas. simplesmente é uma coisa, associar a ela
um experimento que exibe o processo em
Museus e centros de ciências trabalham com tempo real que mostra como essa pedra
a produção do conhecimento que, mesmo foi formada é uma outra coisa (WAGENS-
aplicada ao estudo da realidade, é algo ima- BERG, 2005, p. 4)
terial. O método (ou a ausência dele) é imate- Assim sendo, o visitante deve sair com maior
rial. Como então trabalhar o imaterial como curiosidade sobre o tema vivido no ambiente
tema de exposição? Como potencializar a da divulgação.
emoção através da arquitetura?
Mais profundamente, Wagensberg (2005)
Intenta-se interpretar na arquitetura des- considera que tudo no museu é uma conver-
se projeto o conceito do “museu-total”, que sa; tudo se dá por meio de algum modo de
Wagensberg define como: comunicação e a capacidade de gerar con-
Uma museografia com objetos que são re- versas é o que mede a qualidade de um mu-
ais, mas capazes de se expressarem de uma
forma triplamente interativa: mutuamente
seu. A conversa alimenta o pensamento por
interativos (“na prática”, “hands-on”, no colocar contrapontos e questionamentos re-
linguajar atual de museu), mentalmente correntes, podendo ser individual (auto-con-
interativos (“minds-on”) e culturalmente in- versa, o pensamento); entre mais ou menos
terativos (“heart-on”). São objetos que con-
tam histórias, que se comunicam entre si e
35
OTNEMICEHNOC OD LATOT AICNÊIREPXE A

dez pessoas (tertúlia21, um grupo); mais ou Aqui, mais do que nunca, eles devem garan-
1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

menos cem pessoas (palestras em auditórios tir que parte da museologia é arquitetura e
parte da arquitetura do museu é museolo-
ou ao ar livre); mais ou menos mil (cerimônia, gia (WAGENSBERG, 2013, p. 2, tradução
palestra ou espetáculo). minha22)
Os objetos expositivos não foram abordados Ainda segundo Wagensberg (2013), a respei-
projetualmente nesse trabalho, sendo esse to do termo “observatório” ainda há que se
conceito, portanto, interpretado concomi- considerar que o centro de ciências se torna
tantemente ao conceito de “museu-obser- observatório da convivência entre humanos
vatório”, onde, também de acordo com Wa- e lugar que gera opinião pública, o que im-
gensberg: plica no planejamento de espaços para reu-
Primeiramente, devemos considerar que, nião de público, especialmente para troca de
no caso do Museu-Observatório, o desenho ideias e para lidar com temas atuais. Segun-
do conteúdo (museografia) e o desenho do
recipiente (arquitetura) são, mais do que
22 Do original “First, we must note that, in the case
nunca, interdependentes. O trabalho dos
of a Museum-Observatory, the design of the content
museólogos não começa onde o traba-
(museography) and the design of the container (ar-
lho dos arquitetos e construtores termina.
chitecture) are, more than ever, interdependent. The
21 A palavra ‘tertúlia’ se refere a um encontro ou cír- work of museologues does not begin where the work
culo informal mas regular de pessoas que pensam de of architects and builders ends. Here, especially, they
maneira similar e geralmente acontece em um café. must ensure that part of the museology of a museum
As tertúlias literárias de Madrid, por exemplo, são no- is architecture and that part of the museum’s architec-
tórias. ture is museology”.
36
A EXPERIÊNCIA TOTAL DO CONHECIMENTO

do ele, no cerne de um museu de qualidade Guattari, e do “rastro”, de Derrida); tanto a

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


há salas de atividades e auditórios, lugares arquitetura quanto a museografia são essen-
ideais para que os diferentes agentes e ato- ciais para instar o visitante a pensar, aspectos
res sociais criem e troquem ideias através de que serão esmiuçados com mais detalhes nos
debates, conferências, mesas redondas, den- capítulos referentes aos processos de desen-
tre outras atividades. Assim, o conhecimen- volvimento dos projetos do parque e do cen-
to passa a ser instrumento de pensamento e tro expositivo.
não apenas do saber. Voltando ao objetivo do projeto, que é pro-
Não foi possível realizar um trabalho em con- duzir um espaço para liberação do pensa-
junto com museólogos nesse projeto, mas mento e do movimento, como interpretar
há intenção de fazer com que o recipiente esses conceitos de modo artístico-arquitetô-
(arquitetura) do conteúdo (museografia) nico? Como levantar essas possibilidades em
não esteja dissociado um do outro, mas que conjunto com a capacidade de produzir um
sejam mutuamente potencializados. Isso é conhecimento que extrapole os limites do
explorado através do agenciamento espa- tempo-espaço, que permita ver ao longe no
cial e programático arquitetônico (tanto do espaço (observação) e no tempo (imagina-
parque quando do edifício desenvolvido ar- ção)?
quitetonicamente) e das estratégias projetu- Como foi ressaltado no capítulo anterior, De-
ais urbanas (através das interpretações dos leuze e Guattari (2010, p. 130) consideram
conceitos “liso” e “estriado”, de Deleuze e
37
OTNEMICEHNOC OD LATOT AICNÊIREPXE A

que o olho pensa, ainda mais do que escuta.


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

O conceito do “espaço háptico”, abordado


por Deleuze em “Francis Bacon: A Lógica da
Sensação”, se torna, portanto, essencial para
desenvolver o projeto arquitetônico. Segun-
do Deleuze (2007), o háptico seria a função
tátil da visão, na qual a percepção ótica leva o
sujeito a uma percepção tátil a partir da “de-
formação” causada pelo jogo de luz e sombra
na obra em questão. Busca-se explorar cons-
tantemente esse conceito através do jogo de
volumes proposto no parque e na edificação
em detalhamento, provocando o visitante
com interrupções e reentrâncias espaciais
amalgamados ao programa arquitetônico,
sendo esses os produtos das tensões causa-
das entre os conceitos estudados ao longo do
trabalho e das especulações conceituais.

38
VISÕES DO REAL: CLORE GARDEN OF SCIENCE
1.3.1 - Visões do Real: Clore Garden of Science

PANORÂMICA DO CLORE GARDEN OF SCIENCE

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


Uma referência projetual na qual se podem Studio De Lange, escritório multidisciplinar
verificar alguns desses preceitos é o Clore de arquitetura e design e conhecido em Israel
Garden of Science, primeiro “museu” de ci- por projetar espaços e objetos destinados a
ências a céu aberto do mundo, onde o usu- exposições.
ário é convidado a manusear os objetos para O parque possui 80 mil m² de área verde e
compreensão de funções científicas e estes abriga aproximadamente 80 objetos exposi-
só fazem sentido com a interação do usuá- tivos que demonstram leis da física, energia
rio. Administrado pelo Davidson Institute of solar, energia hidráulica e fenômenos natu-
Science Education, está localizado em Israel, rais cotidianos sobre os quais não costuma-
no Davidson Institute of Science, cidade de mos levantar questões. Uma vez que o ques-
Rehovot e foi inaugurado em 1998. O parque tionamento das coisas tidas como cotidianas
e seus equipamentos foram projetados pelo
39
ECNEICS FO NEDRAG EROLC :LAER OD SEÕSIV

e aceitas com naturalidade é necessário para


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

o desenvolvimento do pensamento científi-


co (e se Newton não tivesse se perguntado
por que caem as maçãs?) , o parque ganhou
notoriedade rapidamente e em 1999 foi pre-
miado com o Award for Innovation pela Asso-
ciation of Science-Technology Centers (ASTC)
em parceria com a BBH Exhibits, se tornan-
do uma referência mundial em exposições
hands-on (toque/tato/interação) na difusão
do pensamento científico.
Princípio científico: fenômeno de ressonân-
Esse parque é um exemplo evidente da inte- cia
ração e da emoção como meio de fomento
da aprendizagem. Os equipamentos traba- Os dois balanços idênticos estão conecta-
lham diretamente com a realidade, elucidan- dos entre si com cabos. O movimento de
do o método para se chegar a cada uma das um puxa o outro e, como ambos têm as
funções científicas. mesmas frequências, a energia se transfere
totalmente de um fazendo com que o outro
também balance, demonstrando, assim, o
fenômeno da ressonância.
40
VISÕES DO REAL: CLORE GARDEN OF SCIENCE

Princípio científico: Limites da velocidade

1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA


do som
Um visitante escuta em uma extremida-
de do tubo enquanto outro fala na outra
extremidade. As ondas sonoras viajam no
tubo atingindo a orelha do ouvinte após 1/3
de segundo, permitindo a percepção dos
limites da velocidade do som, o que não é
perceptível na vida cotidiana.

Princípio científico: Força centrífuga


Um fluido opaco, em um aquário fino, é
girado pelo usuário. A altura da coluna de
água varia de um ponto para outro depen-
dendo das forças centrífugas criadas em di-
ferentes raios formando uma parábola

41
ECNEICS FO NEDRAG EROLC :LAER OD SEÕSIV

Princípio científico: estroboscópio


1 - DIÁLOGOS: FILOSOFIA, DIVULGAÇÃO E ARQUITETURA

Dispositivo ótico, utilizado no parque du-


rante a noite, que permite estudar e regis-
tar o movimento contínuo ou periódico de
elevada velocidade de um corpo, com o
objetivo de fazer parecer estacionário por
meio de captura de imagens que represen-
tam o percurso que o corpo realiza.

Princípio científico: biológico-botânico


A Ecoesfera é uma instalação ecológica
e educacional em estrutura geodésica.
Temperatura e umidade são artificialmen-
te controlados para criar condições ideais
para formas de vida necessárias às de-
monstrações biológicas promovidas pelo
parque na cúpula.

42
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
2.1 - Compilação Histórica e Análise Urbana
2.2 - Interpretação Conceitual
2.3 - Visões do Real: Parc de La Villette
ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

2.1 - Compilação Histórica e Análise Urbana

São Paulo
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

Brasil
São Paulo
Bairros Tamanduateí
Situado na cidade de São Paulo, entre as da para análise urbana, que prevê diretrizes
subprefeituras da Sé e da Mooca, o terreno para revitalização dos bairros localizados às
escolhido para intervenção possui uso ma- margens do rio Tamanduateí.
joritariamente industrial e, atualmente, está Os bairros do Cambuci e da Mooca tiveram
em processo de esvaziamento. A área é cor- formação similar ao longo do desenvolvi-
tada pela Avenida do Estado e pela linha Tur- mento da cidade de São Paulo, sendo ambos
quesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens de formação inicial indígena e, posterior-
Metropolitanos). A área da Operação Urbana mente, imigrante.
Consorciada Arco Tamanduateí foi seleciona-
44
COMPILAÇÃO HISTÓRICA

A ocupação de ambos os bairros se iniciou no tificação dos rios que cortavam a cidade de
século XVI, com o aldeamento indígena rea- São Paulo. A retificação do Rio Tamanduateí
lizado pelos jesuítas. Por muitos anos, ambas e a construção de suas transposições impul-
as regiões possuíam atividade rural e eram sionaram ainda mais a ocupação da Mooca,
caminhos de bandeirantes e tropeiros para bairro à leste do Tamanduateí.
Santos. No século XIX, anos das grandes imi- A maioria dos imigrantes que chegaram a
grações e da construção da ferrovia – fatores essa região se dedicavam a produção indus-

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
esses impulsionados pela economia gerada trial e, já no início do século XX, suas manifes-
pela produção cafeeira paulista – os bairros tações culturais começam a dar vida a ambos
passam a ser mais ocupados, com residên- os bairros. Na década de 1910 eclode uma
cias, comércios e indústrias. Projetada em das primeiras grandes greves de São Paulo,
1867, a inauguração da Estação Ferroviária questionando e criticando os abusos dos pa-
da Mooca foi impulsionadora do desenvolvi- trões contra os operários e gerando debates
mento do bairro, além de ser uma das saídas entre a classe trabalhadora – debates e reu-
para equilibrar os prejuízos causados pelas niões essas que ocorriam no Cine-teatro Gua-
frequentes enchentes do Rio Tamanduateí rany, no bairro do Cambuci. Essas reuniões e
na região. Os rios, antes parte da paisagem, questionamentos foram cruciais para o acon-
do cotidiano e do transporte, passaram a ser tecimento da Greve Geral de 1917, que tinha
considerados barreiras para a expansão ur- como objetivo a reivindicação de melhores
bana, o que deu origem aos projetos de re- condições de trabalho para operariado.
45
ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

Série Cartográfica: processo


histórico de formação Urbana
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

Curso Natural do Rio Tamandua- Aumento da ocupação à leste


teí + Início da Retificação + Des- do Rio Tamanduateí + Canal
vios Ferroviários projetado para passagem do
rio retificado
Planta Geral da Capital - 1897
Planta Geral da Cidade de São
Paulo - 1905

46
COMPILAÇÃO HISTÓRICA

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
Loteamentos industriais + Des- Retificação finalizada Esvaziamento Industrial
vios Ferroviários para Indústrias
Ford VASP Cruzeiro - 1954 Ascenção do Rodoviarismo e
mudança na matriz econômi-
ca causam desindustrialização e
deslocamento das industrias para
Projeção hiperboloide da Cidade proximidades de rodovias.
de São Paulo - 1951
Ortofoto - 2004
47
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

Diagnósticos: planta de gabaritos do entorno imediato, topografia e corte urbano


3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

2 3

4
1

48
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Situação da área: eixos de transporte e equipamentos principais

Dados da área
TERRENO 1 57 843,4M²
TERRENO 2 108 000,1M²
TERRENO 3 50 211,2M²
TERRENO 4 21 993,4M²
TOTAL 237 993,4M²

MAQUETE DE DIAGNÓSTICO DO ENTORNO IMEDIATO 49


ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

Esse crescimento acelerado da cidade de São ção de imensas glebas nas áreas lindeiras às
Paulo, impulsionado pela produção cafeeira, ferrovias, tornando esses locais esvaziados
pelas levas de imigrantes e pelas indústrias, de vida urbana. Segundo Requeña (2016, p.
levou ao surgimento das companhias imo- 78) as exigências do traçado ferroviário pro-
biliárias na primeira metade do século XX – vocaram um formato irregular dos lotes que,
com destaque para as Companhias Imobiliá- associado ao escasso cruzamento do viário,
rias Parque da Mooca e São Bernardo – que deu origem a quadras de até 1800m de ex-
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

vieram a explorar o entorno das estradas de tensão sem sequer um cruzamento. Conse-
ferro. Essas companhias deram origem a um quentemente, tanto a circulação viária quan-
parcelamento urbano com características to a pedonal afetam os usuários do local,
próprias para o desenvolvimento das gran- estimulando o uso do veículo particular, uma
des indústrias que se instalaram nas áreas vez que as estações ferroviárias são distantes
lindeiras à linha férrea – principalmente pela e poucas são as linhas de ônibus que aten-
facilidade de recepção e despacho das cargas dem esses locais.
para o Porto de Santos – concedendo desvios
particulares para esses galpões (REQUEÑA,
2016, p. 71).
Esses desvios ferroviários e a complexidade
das operações industriais exigidas para re-
cepção e remessa de cargas levou a ocupa-
50
COMPILAÇÃO HISTÓRICA
Cartografia de Marcos Históricos no entorno imediato

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
51
ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

Série Cartográfica: Análise de características urbanas


2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

52
COMPILAÇÃO HISTÓRICA

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
TATUAPÉ, PENHA, ITAQUERA

BRÁS

RIO GRANDE
DA SERRA

CENTRO
S. CAETANO DO SUL

CONEXÕES

53
ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

Segundo Meyer e Grostein (2010, p. 112), a


partir de 1940 alguns bairros à leste do Ta-
manduateí, como Brás e Mooca, passaram
PLATAFORMA DA ESTAÇÃO JUVENTUS-MOOCA: VISÃO SENTIDO RIO
a perder a população de maior poder aqui- GRANDE DA SERRA
sitivo que não estava interessada em residir
em regiões ocupadas pela indústria e pelo
comércio – período esse que coincide com a
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

chegada dos migrantes nordestinos à região,


o encortiçamento de casarões e maior dete-
rioração do meio urbano e habitacional. Com
a ascenção do modelo rodoviarista e a cons-
trução das grandes avenidas (que se iniciou À PARTIR DA ESTAÇÃO JUVENTUS-MOOCA: VISÃO SENTIDO BRÁS
na década de 1920), diversas indústrias pas-
saram a se deslocar para regiões próximas
das rodovias, alterando novamente o terri-
tório ao dar início ao esvaziamento industrial
nos lotes lindeiros às ferrovias.
Atualmente, a Mooca ainda é o maior centro
industrial da cidade de São Paulo, também
possuindo variedade de comércio, mas ain SAÍDA DA ESTAÇÃO JUVENTUS-MOOCA PARA AV. PRES. WILSON
54
COMPILAÇÃO HISTÓRICA

da assim seus setores industriais vêm sen-


do esvaziados por conta das alterações na
matriz econômica da Região Metropolitana
AV. PRES. WILSON NA CALÇADA DO TERRENO DE INTERVENÇÃO de São Paulo, que vem abandonando seu
viés industrial e se especializando nos seto-
res terciário e financeiro (REQUEÑA, 2016,
p. 190)

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
Essa formação industrial do espaço urbano
no entorno das ferrovias no século XX eluci-
da a conformação da área em estudo, que
possui distâncias não-caminháveis entre
FRESTA NO MURO DO TERRENO DE INTERVENÇÃO transposições sobre a linha férrea e gran-
des quadras (muitas delas muradas pelas
indústrias, embora não raro abandonadas
ou subutilizadas), tornando esses locais es-
vaziados, degradados e desconexos no ter-
ritório.

CALÇADA DA AB AREIAS
55
ACIRÓTSIH OÃÇALIPMOC

AV. DO ESTADO PRÓXIMO À PRAÇA ALBERTO LION TAPUMES NA RUA BORGES DE FIGUEIREDO
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

PROXIMIDADES DA PRAÇA ALBERTO LION ENTRADA DE VILA NA RUA BORGES DE FIGUEIREDO

RUA SERRA DE PARACAÍNA INDÚSTRIAS NA RUA BORGES DE FIGUEIREDO


56
INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL

2.2 - Interpretação Conceitual

Uma vez que o objetivo do projeto em ques- espaço nômade é liso , marcado apenas por
tão é dar oportunidade para movimento e ‘traços’ que se apagam e se deslocam com o
atividade de pensamento livre e desimpedi- trajeto”.
do, como seria possível realizar uma apro- Um tecido apresenta em princípio um cer-
ximação do território na qual seus aspectos to número de características que permitem
pudessem ser analisados de modo a ques- defini-lo como espaço estriado. Em primei-
ro lugar, ele é constituído por dois tipos de
tionar e propor possibilidades de um espaço elementos paralelos: no caso mais simples,

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
que venha também a ser lugar de livre ação e uns são verticais, os outros horizontais,
pensamento? e ambos se entrecruzam perpendicular-
mente. Em segundo lugar, os dois tipos de
A linha férrea e a Avenida do Estado podem elementos não têm a mesma função; uns
ser consideradas elementos fixos criadores são fixos, os outros móveis, passando sob
e sobre os fixos(...). Em terceiro lugar, um
de estriamentos do território na microescala, tal espaço estriado está necessariamente
assim como os muros e as grandes quadras, delimitado, fechado ao menos de um lado:
comuns na conformação industrial dos en- o tecido pode ser infinito em comprimen-
tornos das linhas férreas, que impedem ou ao to, mas não na sua largura, definida pelo
quadro da urdidura; a necessidade de um
menos dificultam o movimento livre pelo ter- vai-e-vem implica um espaço fechado (e as
ritório, seja a pé ou de automóvel. Segundo figuras circulares ou cilíndricas já são elas
Deleuze e Guattari (1995, p. 43-44) “o espaço mesmas fechadas) (DELEUZE e GUAT-
sedentário é estriado, por muros, cercados TARI, 1995, p. 158).
e caminhos entre os cercados, enquanto o
57
LAUTIECNOC OÃÇATERPRETNI
Cartografia de Conexões Territoriais permitidas pelas Ferrovias
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

58
INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL

No espaço liso, o movimento torna-se contí- que de propriedades (DELEUZE e GUATA-


nuo, sem partida e nem chegada, ou seja, es- RI, 1995, p. 162).
paço de movimento livre e desimpedido em Todavia, ao observar atentamente a macro
oposição ao espaço estriado, controlado pela escala, tanto a ferrovia quanto a Av. do Esta-
propriedade privada ou pelo Estado. do podem ser consideradas elementos de ali-
No espaço liso, portanto, a linha é um ve- samento, uma vez que permitem conexões
tor, uma direção c não uma dimensão ou de territórios distantes e aumentando as

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
uma determinação métrica. É um espa- possibilidades de movimento no espaço, ain-
ço construído graças às operações locais
com mudanças de direção. Tais mudanças da assim não totalmente “lisa” pois conecta
de direção podem ser devidas à natureza pontos específicos, com destino e chegada.
mesma do percurso, como entre os nôma- Entende-se, portanto, que a questão do liso
des do arquipélago (caso de um espaço liso
“dirigido”); mas podem dever-se, todavia
e do estriado pode estar embasada em uma
mais, à variabilidade do alvo ou do ponto visão de escala: o liso transmuta-se em es-
a ser atingido, como entre os nômades do triado e o estriado transmuta-se em liso de
deserto, que vão em direção a uma vege- acordo com a escala abordada no território.
tação local e temporária (espaço liso “não
dirigido”). Dirigido ou não, e sobretudo no Importante ressaltar que o movimento em
segundo caso, o espaço liso é direcional, e questão não se propõe a ser movimento sem
não dimensional ou métrico. O espaço liso é
ocupado por acontecimentos ou hecceida- pausa, idas e vindas no território marcadas
des, muito mais do que por coisas formadas pelo exclusivo objetivo de partir de um local
e percebidas. É um espaço de afectos, mais e chegar a outro o mais breve possível. Trata-
59
LAUTIECNOC OÃÇATERPRETNI

-se do movimento do “nômade”, que ocupa e


habita o espaço liso, o mantém e aí reside. O
espaço nômade é localizado, mas não delimi-
tado, ao contrário do espaço estriado, que é
limitado e limitante (DELEUZE e GUATTARI,
1995).
Por isso é preciso distinguir a velocidade e
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

o movimento: o movimento pode ser mui-


to rápido, nem por isso é velocidade; a ve-
locidade pode ser muito lenta, ou mesmo
imóvel, ela é, contudo, velocidade. O movi-
mento é extensivo, a velocidade, intensiva.
O movimento designa o caráter relativo de
um corpo considerado como “uno”, e que
vai de um ponto a outro; a velocidade, ao
contrário, constitui o caráter absoluto de
um corpo cujas partes irredutíveis (áto-
mos) ocupam ou preenchem um espaço
liso, à maneira de um turbilhão, podendo
surgir num ponto qualquer. (Portanto, não
é surpreendente que se tenha invocado via- OBS: ALGUMAS “EDIFICAÇÕES EXISTENTES DESCONSIDERADAS” NO TERRENO
LOCALIZADO ENTRE A AV. DO ESTADO E A FERROVIA NÃO FORAM LOCALIZADAS
gens espirituais, feitas sem movimento re-
DURANTE A VISITA À CAMPO, EMBORA TENHAM SIDO MANTIDAS NAS CARTOGRAFIAS
lativo, porém em intensidades, sem sair do
POR ESTAREM REGISTRADAS NO MAPA DIGITAL DA CIDADE
lugar: elas fazem parte do nomadismo). Em
60
INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL

61

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
LAUTIECNOC OÃÇATERPRETNI

suma, diremos, por convenção, que só o nô- tensas decorrentes de pensamento intenso.
made tem um movimento absoluto, isto é, Seria possível buscar “nomadizar” o espaço
uma velocidade; o movimento turbilhonar
ou giratório pertence essencialmente à sua em questão, de modo a desafiar os aparelhos
máquina de guerra (DELEUZE e GUATTARI, de captura1 estatal, de controle? Seria possí-
1995, p. 43-44, grifo meu) vel tornar não apenas o espaço, mas também
Há na atividade do nômade, do movimento o pensamento em uma máquina de guerra,
absoluto, não apenas um “fluir” pelo territó- uma potência nômade, sem ponto inicial
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

rio, mas também um “fruir” de seus recursos, nem ponto final definidos, mas que desbra-
de suas características. Espaço onde o visitan- vam o caos sem poder medi-lo? Seria essa
te pode interagir e criar situações, esperadas uma “viagem imóvel”, feita no mesmo lugar,
ou não, dando possibilidade de movimento imperceptível aos olhos, atividade lúdica e
constante, velocidades e desvios, podendo reflexiva?
esses serem não apenas físicos, mas também Os nômades são considerados armas de
mentais. guerra por imporem movimento constante,
O movimento nômade difere do movimento introduzir ameaças, velocidades e desvios.
migrante, sendo o nômade o capaz de tam- Busca-se “nomadizar” esse espaço no senti-
bém permanecer no lugar. O seu movimento
pode se tratar sim de um movimento físico,e 1apropriarem
Aparelhos de captura são constituídos para se
da máquina de guerra, buscando contro-
também talvez um movimento de ações in- lar o nomadismo ao causar constante estriamento do
espaço.
62
INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL

do de ir contra a estabilidade de normas fixas


correntemente aceitas sem ou com pouco
questionamento. Claro que os espaços lisos
por si só não são liberadores do pensamento
e nem da cidade, mas é através do alisamen-
to de espaços que se inventam outros an-
damentos (DELEUZE e GUATTARI, 1995, p.

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
189). Segundo Tschumi (1999, p. 15), os espa-
ços gerados pela arquitetura não são capazes
de modificar a sociedade, mas através da ar-
quitetura e da compreensão de seus efeitos,
é possível acelerar processos já encadeados.
Todavia, devemos lembrar que não há mu-
dança social ou política sem os movimentos
e programas que transgridem a institucio-
nalidade supostamente estável, arquitetô-
nica ou de outra natureza; que não há ar-
quitetura sem vida cotidiana, movimento e
ação; e que são os aspectos mais dinâmicos
de suas disjunções que sugerem uma nova
definição de arquitetura (TSCHUMI, 1999,
p.23 – tradução minha)
63
ETTELLIV AL ED CRAP :LAER OD SEÕSIV

2.3 - Visões do Real: Parc de La Villette

Na arquitetura construída, o Parc de la Villet-


te, de Bernard Tschumi2, pode ser um exem-
plo de projeto que propõe uma estratégia
que permite livre apropriação dos espaços,
uma vez que os próprios usuários podem li-
vremente determinar seus usos a partir de
suas ações. O parque em si pode ser enten-
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

dido como um lugar de movimento livre e


desimpedindo, se inserindo diretamente
na cidade e atuando como elemento de ali-
samento do território. Diferentemente da
maioria dos parques onde a “natureza” (uma
natureza artificial, proposta pelo arquiteto) é
a “força dominante” do projeto, no Parc de la
Villette a natureza se conecta constantemen-
te com os equipamentos culturais metropo-
2 Bernard Tschumi (1944) é arquiteto, professor e
escritor suíço. Seu projeto, Parc de la Villete, localizado
em Paris, ganhou o concurso em 1982 para um “par-
que urbano para o século XXI”, concorrendo com 470
propostas.
64
VISÕES DO REAL: PARC DE LA VILLETTE

litanos e urbanos. Tschumi desconstrói o programa


a partir da criação dos Points du Folies (Pontos de
Loucura), uma malha de estruturas programadas ou
des-programadas, podendo ser responsáveis pelo
surgimento de acontecimentos inesperados ou inu-
sitados para um parque.
O arquiteto se baseia no cruzamento de camadas

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
conceituais sobrepostas, sendo elas as linhas (per-
cursos), os pontos (as Folies, formando uma malha),
e as superfícies (água, vegetação, espaços livres e
abertos). Cabe aqui salientar que, de acordo com
Deleuze e Guattari (1995, p. 162) tanto o espaço es-
triado como o espaço liso possuem pontos, linhas e
superfícies; entretanto, no espaço estriado as linhas
(trajetos) tendem a ficar subordinadas aos pontos (o
que levaria ao “ir de um ponto a outro”); já no espaço
liso, os pontos surgem a partir do trajeto. Tanto no
liso como no estriado há paradas e trajetos, mas no
liso é o trajeto que provoca a parada. Uma análise
atenta ao parque faz notar que os trajetos não são
65
ETTELLIV AL ED CRAP :LAER OD SEÕSIV

totalmente “livres”: o percurso não é realiza-estruturas em formato de cubo (10m x 10m


do ao acaso pelo usuário, pois os trajetos já de aresta), distribuídas de 120m em 120m,
foram previamente concebidos pelo arquite- criando uma malha que os torna referências
to. Todavia, a maioria dos caminhos não le- no parque, além de serem elementos de ati-
vam a pontos específicos: são os trajetos que vação territorial e de conexão entre os edi-
conformam a “promenade cinemática” e não fícios principais. Os edifícios principais abri-
necessariamente os pontos (Folies). gam programas variados, sendo eles a Cité
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

Mesmo nos trajetos é possível perceber o liso des Sciences et de l’Industrie (um dos maiores
e o estriado, uma vez que a estrutura é for- museus de ciências da Europa), La Geodé (te-
mada por alguns eixos rígidos, que conectam atro com cobertura esférica), Cité de la Mu-
pontos estratégicos no espaço, e vários per- sique (sede do conservatório de Paris) e Le
cursos sinuosos, dando ao usuário a sensa- Zénith (casa de concertos).
ção de ali estarem ao acaso, permitindo não No projeto original, Tschumi pretendia que
apenas ir de um lugar a outro, mas principal- as folies invadissem Paris, extrapolando os
mente de deambular no parque. A camada limites do parque e adentrando o meio ur-
de linhas, por si só, pode ser entendida como bano, de modo a alisar o território com es-
tensão e choque constantes entre o liso e o sas estruturas ativadoras de tensões e livres
estriado. ações. Essas estruturas são elementos de
A camada de pontos (Folies) é formada por alisamento no parque, uma vez abrem a pos-
sibilidade de diferentes percursos criados pe-
66
VISÕES DO REAL: PARC DE LA VILLETTE

o Grande Halle e o Zenith. As Folies tornam


os percursos entre esses pólos mais estimu-
lantes e mais enriquecidos, constantemente
surpreendidos pelos acasos que essas estru-
turas permitem. Pode-se considerar que essa
permissão de experiência de livre interpre-
tação e apropriação do espaço ao longo de

2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO
um percurso, sem objetivar uma síntese ou
sentido final, são ativadoras da imaginação
(GUATELLI, 2012).
Os canais, avenidas e ferrovia que antes po-
los próprios usuários, imprevisíveis, gerando
deriam ser, em microescala, considerados
também usos inusitados para algumas des-
elementos de estriamento, se tornam poten-
sas estruturas que são “desprogramadas”.
cialidades no projeto de Tschumi. Por meio
Mas as Folies em si não são necessariamente
de caminhos, criados com o objetivo de criar
capazes de se tornarem agentes de uma ocu-
conexões entre elementos estratégicos nes-
pação e apropriação intensa da área: nesse
se espaço, Tschumi alisa esses elementos fi-
sentido elas dependem do apoio dos pólos
xos e posiciona estrategicamente a malha de
que geram e atraem multidões, sendo eles as
folies, tornando o percurso direto não ape-
“cidades” da Música, da Ciência e Tecnologia,
nas em uma oportunidade de um breve pas-
67
ETTELLIV AL ED CRAP :LAER OD SEÕSIV

sar com único objetivo de ir de um ponto a aproximação do conceito de Rizoma, tam-


outro, mas também abrem a possibilidade e bém apresentado por Deleuze e Guattari em
convidam à pausa. Seria possível considerar “Mil Platôs”. O rizoma, conceito que remete à
um “choque” de conceitos? O arquiteto cria estrutura botânica, pode ser cortado e abrup-
elementos fixos (caminhos de conexão dire- tamente finalizado por outras estruturas,
ta) para alisar os elementos fixos existentes. mas sempre se reconecta e não perde a sua
Esses elementos criados podem ser interpre- lógica inerente de composição estrutural,
2 - APROXIMAÇÕES AO TERRITÓRIO

tados como elementos de estriamento, mas, dando origem à ou ligando pontos no espa-
ao mesmo tempo, alisam os elementos fixos ço, não se submetendo ao controle constan-
preexistentes no lugar, tornando evidente te do estriamento.
a constante contraposição de conceitos no Da mesma maneira que Tschumi no Parc de
projeto do parque. O arquiteto, portanto, la Villette, busca-se nesse trabalho a criação
funde conceitos e, ao mesmo tempo, os de- de forças articuladoras, as tensões entre
sestabiliza, colocando-os em constante cho- espaço liso e estriado, a liberdade de apro-
que e contraposição. priação, abertura ao inusitado, permissão de
Uma vez que todo conceito é uma multiplici- movimento e pensamento livre e o questio-
dade de limites imprecisos, sempre levando namento do modo mais aceito de produção
a outros conceitos3, pode-se considerar uma de espaço público voltado a livre ação e pro-
3 DELEUZE, G. & GUATTARI, Felix. O que é a Filoso-
dução de conhecimento.
fia? São Paulo, Ed. 34, 2010, p. 27
68
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO
3.1 - Ver além do que se Vê
3.2 - Parque de Pesquisa e Divulgação Científica e Cultural
3.2.1 - Primeiras Investigações
3.2.2 - Estratégias territoriais conceituais
3.2.3 - Operação Urbana Bairros do Tamanduateí
3.2.4 - Visões do Real: Paris Rive-Gauche
3.2.5 - Receptáculo do Pensamento
3.3 - Centro do Pensamento
3.3.1 - Primeiras Investigações
3.3.2 - Estratégias projetuais
ÊV ES EUQ OD MÉLA REV

3.1 - Ver além do que se Vê

“Divulgar a ciência - tentar tornar os seus Sionek (2016), nossos olhos têm um limite de
métodos e descobertas acessíveis aos que sensibilidade, no qual um número mínimo de
não são cientistas - é o passo que se segue
fótons de luz deve alcançar a retina do olho
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

natural e imediatamente. Não explicar a


ciência me parece perverso(...). A ciência é para que consigamos ver, de fato, um objeto
mais do que um corpo de conhecimento, é - ou seja, uma grande quantidade de objetos
um modo de pensar” – Carl Sagan, O Mun-
do Assombrado pelos Demônios.
presentes no universo (seja dentro ou fora de
nosso planeta) não nos são visíveis pois não
skopein (grego) = ver, observar, olhar somos capazes de captar fótons de luz sufi-
Por que construímos observatórios? O corpo cientes deles, uma vez que olho humano só
humano possui limites, e um dos mais per- consegue perceber uma estreita faixa do es-
ceptíveis no campo das sensações é o limi- pectro eletromagnético, conhecido como es-
te da visão. Construímos instrumentos para pectro visível ou óptico. Isso não significa, de
melhor ver e observar o que nossos olhos forma alguma, que os fótons de luz presen-
não são suficientemente sensíveis para cap- tes no Universo não cheguem até nós apenas
tar. André Sionek, editor da revista universi- porque não somos capazes de enxergá-los.
tária de divulgação científica e tecnológica Na verdade, eles estão sim aqui presentes.
“Polyteck”, elucida as limitações físicas do Eis o motivo pelo qual construímos telescó-
olho humano quanto à observação astronô- pios: o telescópio é o instrumento que, como
mica - que vou utilizar como exemplo para já nos mostra a etimologia da palavra (“tele”
iniciar essa especulação conceitual. Segundo = longe + “skopein” (grego) = ver, observar,
70
VER ALÉM DO QUE SE VÊ

olhar), nos permite ver ao longe, que permite instituições que buscam tornar possível, atra-
ver o que está presente (fótons), mas que não vés de diferentes meios, apreender o que não
somos sensíveis o suficiente para realmente somos inicialmente sensíveis para apreender

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


ver. de fato.
A mesma estrutura permeia diversas pala- Concentremo-nos em torno do conceito: tor-
vras com o sufixo grego “skopos”: microscó- nar visível o que está presente, mas que está
pio (que permite ver o que é demasiado pe- ocultado por outras coisas. Ocultado por nos-
queno), periscópio (que nos permite ver para sa limitada capacidade sensorial, intelectual
além das barreiras que nos impedem de ver ou por barreiras físicas. Esse conceito está
diretamente). Para acompanhar a evolução presente também nas manifestações artísti-
de um fenômeno, de um domínio ou de um cas:
tema estratégico no tempo e no espaço, nós Em arte, tanto em pintura quanto em mú-
humanos construímos observatórios (astro- sica, não se trata de reproduzir ou inventar
nômicos, sociais, metropolitanos, do turis- formas mas de captar forças. É por este viés
que nenhuma arte é figurativa. A célebre
mo, da imprensa, entre outros), lugares nos fórmula de Klee “não mais trazer o visível
quais vemos, observamos, analisamos; onde mas tornar visível” não significa outra coi-
diferentes instrumentos são utilizados para sa. A tarefa da pintura está definida como a
realizar tal atividade, sejam esses instrumen- tentativa de tornar visível as forças que não
são visíveis. O mesmo vale para a música,
tos telescópios, mirantes, reportagens, esta- de esforçar-se por tornar sonoras as forças
tísticas, entre outros. Os observatórios são que não o são (DELEUZE, 2007, p. 62)
71
ÊV ES EUQ OD MÉLA REV

A partir disso, como pensar na produção de divulgação. As arquiteturas voltadas para a


uma Arquitetura, como manifestação artís- divulgação científica lidam com o imaterial,
tica, que torna “visíveis” forças que não são trabalhando o campo das emoções e das
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

diretamente? Uma “arquitetura periscópio”, sensações; esses espaços, portanto, devem


que nos possibilita ver para além das barrei- ser hands-on [toque], minds-on [reflexão] e
ras que nos impedem de ver? heart-on [emoção] (WAGENSBERG, 2003). O
O objetivo desse trabalho é indagar sobre di- conhecimento que, na maior parte das vezes,
ferentes possibilidades arquitetônicas para sabemos de cor (do latim, “de coração”) é o
estimular o aprendizado do pensamento lúdi- que está ligado ao que nos causa emoção,
co-científico no indivíduo e, principalmente, que nos move (do latim, emovere, “o que põe
em quais ferramentas usar para atingir o ob- em movimento”)
jetivo. Pensando nesses “diferentes olhares” Pode-se argumentar que um parque de divul-
quanto à produção de espaços para divulga- gação científica não teria (ou, ao menos, não
ção científica, Wagensberg (2003), salienta necessitaria) de espaços que divulgassem ou-
que “é importante que, na saída, o visitante tras formas do conhecimento e pensamentos
tenha muito mais perguntas que ao entrar”, humanos, como observação das artes, do
ou seja, qualquer ambiente que se proponha meio urbano, da filosofia; ou que, ao menos,
a divulgar conhecimento deve provocar o não mereceria o título de “parque de divulga-
usuário de modo que levante mais questões ção científica”, uma vez que não se propõe a
a respeito do tema vivenciado no espaço de divulgar apenas ciência. Mas há suporte para
72
VER ALÉM DO QUE SE VÊ

dar esse título a um espaço que se dedique Busca-se a produção de um espaço para mo-
à divulgação do pensamento humano (seja vimento e atividade de pensamento livre e de-
ele artístico, científico ou filosófico), uma vez simpedido: que o visitante/usuário saia com

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


que, de acordo com as palavras de um dos ainda mais perguntas que quando entrou – a
maiores difusores científicos do Ocidente: inserção da dúvida recorrente, do questiona-
Na Universidade de Chicago, também tive mento cíclico. Espaço que instigue o pensa-
a sorte de participar de um programa de mento e a observação acerca não apenas do
educação geral planejado por Robert M. céu, mas também das atividades humanas,
Hutchins, em que a ciência era apresentada
como parte integrante da magnífica tape- o Antropoceno1. Produção de conhecimento
çaria do conhecimento humano. Conside- que não se dá apenas com conclusões, mas
rava-se impensável que alguém desejasse principalmente com indagações, suposições,
ser físico sem conhecer Platão, Aristóteles, imaginação: ver ao longe pode se tratar não
Bach, Shakespeare, Gibbon, Malinowski e
Freud - entre muitos outros (SAGAN, 1995, apenas do espaço físico (ver o que está dis-
p. 9) tante) mas também do tempo (ver no futuro,
imaginar). Busca-se, portanto, possibilitar a
Ainda assim, como o trabalho é amplamen-
te inspirado pela obra de Carl Sagan, que era 1 Termo criado por Paul Crutzen, Prêmio Nobel de
visto como divulgador científico e cultural, o Química de 1995. Junção do prefixo “antropo” (huma-
parque recebeu o nome de “parque de pes- no) e o sufixo “ceno” (eras geológicas). A Era dos Hu-
manos é a era na qual o Homo sapiens constata que a
quisa e divulgação científica e cultural”, evi- civilização se tornou uma força de alcance planetário
denciando sua vocação multidisciplinar. de duração geológica.
73
ÊV ES EUQ OD MÉLA REV

produção do conhecimento que extrapole os cepção ótica levaria, a partir das cores e do
limites do espaço-tempo. jogo de luz e sombra, a uma percepção tátil.
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

O espectador deve ser libertado da passivi- E quais programas arquitetônicos são possí-
dade do observador que fica fascinado pela
aparência a sua frente e se identifica com as veis a partir da observação dos conceitos que
personagens no palco. Ele precisa ser con- derrocam no observatório? Quais arquitetu-
frontado com o espetáculo de algo estra- ras, em conjunto com a especulação concei-
nho, que se dá como um enigma e demanda tual do observatório, são possíveis a partir da
que ele investigue a razão deste estranha-
mento. Ele deve ser impelido a abandonar observação do território e da sociedade?
o papel de observador passivo e assumir o Uma parcela significativa da produção de
papel do cientista que observa fenômenos
e procura suas causas (RANCIÈRE, 2010, conhecimento vem de meios acadêmicos, a
p.109) pesquisa formal. Nesse sentido, se propõe
Um espaço onde o visitante possa, efetiva- um edifício voltado a pesquisa relacionada a
mente, interagir (com o olho ou com o corpo) observação das atividades na Terra e fora da
com a arquitetura e as estruturas ali presen- Terra: observação das artes e cultura, da ci-
tes como estimuladoras da formação do pen- ência e tecnologia e da sociedade, com áreas
samento. Isso seria uma aproximação de um de convivência onde o objetivo é a troca de
espaço háptico onde, de acordo com Deleuze conhecimento humano, uma vez que todos
(2007), a função háptica seria a experiência os conhecimentos são conectados, porém,
tátil do olho humano na arte, na qual a per- ainda assim, independentes.
74
VER ALÉM DO QUE SE VÊ

Uma das formas de interação do corpo no es- -on e heart-on).


paço, além de um centro esportivo e acade- Também foi proposto um edifício que abri-
mias ao ar livre. Por estar em discussão um

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


ga um planetário e salas de cinema, onde
parque, foram propostos jardins temáticos o formato da edificação e o equipamento de
de ciências e jardins temáticos de artes, com projeção dão ao usuário a sensação de estar
esculturas e equipamentos ao ar livre para presente no Universo, fora do planeta Ter-
interação do público, similar ao verificado no ra, como se quase pudesse tocar as estrelas
estudo do The Clore Garden of Science, onde (heart-on). Fora dos horários de sessões de
diversos instrumentos distribuídos pelo par- apresentações, o edifício ficaria livre para ser
que exigem a interação dos usuários para um “dome lab”2, onde os visitantes poderiam
compreensão de funções científicas agendar horários para testar seus próprios
Outras maneiras de interação do usuário no trabalhos realizados em 360º, se transmutan-
espaço são os temas do Centro do Pensa- do em um espaço de experimentação virtual.
mento: Cidade e Sociedade, Artes e Cultura, Busca-se trazer parte da produção menos vi-
Ciência e Tecnologia – que buscam não ape- sível, de conhecimento humano não formal,
nas colocar peças expositivas, mas permitir com estruturas ao ar livre, de livre acesso, tal
espaços onde os usuários possam aprender qual o teatro ao ar livre, onde artistas de rua
(auditórios, “academia do olhar” e áreas ex- e a sociedade civil como um todo são convi-
positivas) e criar (experimentário, teatro de 2 Referência arquitetônica construída: Center of
arena, salas de debates – hands-on, minds- Science and Industry, em Ohio, EUA.
75
ÊV ES EUQ OD MÉLA REV

dados a se tornarem atores e espectadores, Estudo de pré-dimensionamento simplifi-


produtores de histórias a serem contadas e cado para elaboração dos estudos de mas-
encenadas. sas
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

A partir da análise do meio urbano, notou-se


a necessidade de articulações entre os bair- OBS: DE ACORDO COM OS CAMINHOS PERCORRIDOS NO ATO DE PROJETAR,
ros. E, uma vez que a especulação conceitual ALGUNS VALORES FORAM MODIFICADOS. O QUADRO APRESENTADO À SEGUIR
FOI APENAS UM ESTUDO BÁSICO DE PRÉ-DIMENSIONAMENTO.
partiu do “observatório”, as transposições,
por muitos consideradas apenas local de pas-
sagem, abrem a possibilidade de se tornarem Estudo dos HISs (ZEIS-3):
“observatórios da cidade”, com praças ele-
Térreo comercial ou institucional com 6
vadas que funcionem como mirante, local de
pavimentos de habitação. Volume tipologia
fruição e contemplação do meio urbano. Essa
“lâmina”, com corredor central, gabarito
especulação conceitual e análise territorial
máximo de 24m
deu origem a uma marquise, que permeia o
parque, conectando territórios, edificações e
eixos viários infraestruturais de intenso fluxo
urbano.

76
VER ALÉM DO QUE SE VÊ

Quadro de áreas para pré-dimensionamento


EDIFICACAÇÃO AMBIENTE ÁREA TOTAL

BIBLIOTECA RECEPÇÃO 50M²


ACERVO 5000M²

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


AUDITÓRIO 150M²
MÓDULOS E ESPAÇOS DE LEITURA 300M² 6100M²
SALAS DE ESTUDOS EM GRUPO 100M²
CAFÉ 100M²
ESTAR E CONVIVÊNCIA 400M²
PLANETÁRIO + SALA DE PROJEÇÃO DO PLANETÁRIO 300M² 1800M²
CINEMA 5 SALAS DE CINEMA 1500M²
TEATRO DE ARENA AO AR LIVRE 300M² 300M²
APOIO AO VISITANTE RECEPÇÃO 20M²
SANITÁRIOS 20M²
170M²
ENFERMARIA 30M²
ADMINISTRAÇÃO 100M²
CENTRO ESPORTIVO 2 QUADRAS POLIESPORTIVAS 864M²
VESTIARIOS 100M²
2514M²
PISCINA OLÍMPICA 1250M²
ACADEMIA 300M²
77
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

3.2 - Parque de Pesquisa e Divulgação Científica e Cultural


ORIENTADOR ATIVIDADE 2 (PROJETO): PROFº. DR. GILBERTO BELLEZA
3.2.1 - Primeiras Investigações
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

78
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


79
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

N N N
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

20 DE MARÇO 21 DE JUNHO 21 DE DEZEMBRO


ESTUDOS DE INSOLAÇÃO NO PARQUE

ANÁLISE DOS VENTOS NA REGIÃO


80
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


1ª MAQUETE ELETRÔNICA

2ª MAQUETE ELETRÔNICA

3ª MAQUETE ELETRÔNICA 81
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

3.2.2 - Estratégias Territoriais Conceituais


Diante do lançamento de hipóteses sobre o alisamento do território, mas um alisamento
território escolhido para estudo, onde foram de ações: nos parques surgem ações impre-
considerados sobretudo os conceitos “liso” visíveis, independentemente dessa questão
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

e “estriado” de Deleuze e Guattari (1995), e fazer parte ou não [conscientemente] da es-


da digressão conceitual do “observatório”, tratégia projetual adotada pelo projetista.
foi desenvolvido o projeto de um parque que Dessa maneira, a escolha do parque por si
buscasse se fundamentar nesses conceitos. A só já seria parte do incentivo à liberação de
partir dessas análises, a lógica na qual esses pensamento e de ações. Uma outra questão
conceitos se manifestam no território foi des- que foi levantada e que levou a escolha do
construída no projeto e utilizada de maneira parque como programa principal do projeto,
outra a [re]ativá-lo, uma vez que atualmente foi a respeito de como a produção de conhe-
encontra-se em processo de esvaziamento cimento é geralmente vista pela sociedade:
industrial e especulação imobiliária. como algo maçante, realizado através do
Contudo, é necessário realizar algumas ensino obrigatório formal, que um dia deve-
questões antes de partir para a descrição rá ser aplicado a alguma forma de produção,
das estratégias projetuais adotadas. Primei- seja essa produção mercadológica ou intelec-
ramente, por que a escolha de um parque tual. Mas por que a ciência tem de ser “chata”
para divulgar conhecimento? Um ponto for- por ser “séria”? Por que aprender e produzir
temente considerado para essa questão é o conhecimento tem de ter um fim específico,
de que parques já permitem não apenas um proposital? Vejamos, pois, a produção de co-
82
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

nhecimento não apenas como algo “progra- sua estratégia projetual, permitir uma “que-
mado”, mas como algo que pode (e, não raro, bra” do método, deslimitando pensamentos,
é) ser “des-programado”, não intencional, percursos e ações.

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


sem fins utilitários, em momentos e espaços Para iniciar a proposta foi necessário, portan-
de descontração e lazer, um ato performati- to, além de verificar os elementos principais
vo no território. da criação de estriamentos, as possibilidades
Deleuze e Guattari (1995) dissertam sobre o de alisamentos através de fluxos possíveis,
alisamento e o estriamento não apenas em mas que não eram factíveis por conta da con-
relação aos espaços, mas também a outras formação territorial da área. Dois eixos de
manifestações do espírito humano, como o infraestrutura viária que realizam conexão
pensamento. De acordo com esses autores, em macro escala – no caso, a Avenida do Es-
um “método” seria análogo a um espaço es- tado e a ferrovia (linha 10 Turquesa da CPTM)
triado, traçando um caminho que deve ser – podem ser considerados elementos fixos
seguido de um ponto a outro, sabendo de de estriamento em microescala, além dos
antemão o ponto de partida e de chegada. muros que fecham as grandes quadras esco-
Evidentemente, esse modelo de pensamen- lhidas para intervenção. Dois elementos são
to e produção de conhecimento é necessário importantes e podem receber pessoas que
para a sociedade, e inclusive tem sido ampla- busquem visitar e habitar a região: as esta-
mente disseminado (ou imposto) no sistema ções Juventus-Mooca (linha 10 – Turquesa da
de ensino formal. O parque busca, a partir de CPTM) e Alberto Lion (Expresso Tiradentes).
83
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

Esse fluxo possível (mas não existente atual- Também há a proposição do “percurso lúdi-
mente) foi um dos condicionantes para pro- co”, um caminho meândrico, que não conec-
jetar os caminhos do parque no nível do solo. ta pontos específicos e que continua mesmo
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

Os arruamentos existentes no terreno, ante- após a “interrupção” causada pelos percursos


riormente pertencentes à COMGÁS, foram determinados pelos elementos existentes,
considerados “linhas de força”, ou seja, ele- abrindo possibilidade para deambulação no
mentos mantidos tornados condicionantes território: embora seja um elemento de ali-
para a proposição dos caminhos propostos. samento territorial, também pode ser con-
Esses caminhos criados podem ser conside- siderado um elemento de estriamento, uma
rados vetores, pois são percursos motivados vez que foi predefinido no ato de projetar. Os
por elementos já existentes e, ao mesmo elementos propostos podem ser vistos como
tempo, elementos de alisamento, uma vez “ambíguos” quanto aos conceitos: de uma
que “alisam” o lugar e possibilitam percursos perspectiva se vê a interpretação de um con-
antes dificultados. ceito, mas de outra perspectiva torna-se pos-
Outras vezes ainda devemos lembrar que sível considerar outro conceito. Faz-se quase
os dois espaços só existem de fato graças às sempre necessário a busca de uma tensão
misturas entre si: o espaço liso não para de entre os conceitos para a ativação intensa do
ser traduzido, transvertido num espaço es-
triado; o espaço estriado é constantemente território e das arquiteturas projetadas - as-
revertido, devolvido a um espaço liso (DE- sociado ao exercício constante de revê-los,
LEUZE e GUATTARI, 1995, p. 158) reconsiderá-los e questionar sua lógica.
84
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Análise de fluxos
Proposição de caminhos
Os arruamentos existentes no terreno fo- A potencialidade dos caminhos existentes
ram considerados “linhas de força”, e tidos foi reforçada com novos caminhos surgidos
como potencial do projeto. a partir da análise de fluxos.

85
PLANTA DO TÉRREO N
20 50 100

A A

B
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

Segundo Deleuze e Guattari (1995), o nôma-


de também é capaz de permanecer e habitar
Constelação de Cassiopeia o lugar mesmo em movimento; dessa manei-

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


ra, os espaços de permanência são elemen-
tos importantes da estratégia do parque. Há
jardins temáticos pulverizados pelo projeto
que estimulam o visitante a interagir com o
lugar e com as estruturas ali presentes para
compreensão de funções científicas ou artís-
Constelação de Escorpião
ticas.
Com clara paixão pela astronomia, realizei
uma especulação de como seriam os obje-
tos desses jardins, nesse caso, esculturas que
permitissem ver no parque o que está no céu:
são materializações dos caminhos das estre-
Constelação de Câncer las de algumas constelações selecionadas
para as esculturas. Astronomia ressignificada
como arte para transmissão de saber.

87
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

Não se busca, com esse projeto, apagar a


história do lugar, mas utilizá-la como potên-
cia. A marquise proposta tem como base de
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

inspiração o arruamento preexistente no ter-


reno – arruamento este que já realiza uma
articulação entre a Avenida do Estado e a
Avenida Presidente Wilson –, “rastro” do pas-
sado industrial dos terrenos de intervenção,
se elevando do solo e se expandindo para
promover conexão territorial, transpondo
“barreiras” urbanas e conectando pontos do
parque, sendo dessa maneira possível cha- Proposta da marquise
má-la também de passarela. A marquise/passarela tem como base de
Uma arquitetura pensada como um meio inspiração o arruamento preexistente, se
de fortalecimento e enriquecimento de um elevando do solo e se expandindo para pro-
ser-passado, nem absolutamente ausente mover conexão territorial, transpondo as
nem absolutamente presente e, ao assumir “barreiras” urbanas e conectando os edifí-
o caráter conflituoso do próprio processo cios propostos.
de com-posição, de por-se e posicionar-se
com o outro, possibilitaria a emergência de
novos sentidos e da alteridade quando liga-
da, mais que isso, hibridizada, deformada,
88
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

amalgamada, quase fundida a algo além do-lhes acesso, conferindo maior dinâmica
dela própria, além-de-si-mesma. (GUA- ao projeto e estimulando percursos variados,
TELLI, 2010, p. 148)
com diferentes possibilidades de destino.

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


A marquise proporciona um novo significado Essa estrutura, além de articular elementos
para um elemento do espaço que não está propostos no parque, articula os territórios
mais em uso e que poderia mesmo ser es- da proposta e faz ligação direta entre as es-
quecido ou apagado (o que não raro vemos tações Juventus-Mooca (CPTM) e a Alber-
na produção arquitetônica brasileira), mas to Lion (Expresso Tiradentes). Os edifícios
é ressignificado e reforçado, assumindo um propostos, conectados à marquise, abrem
uso para a cidade, se elevando do solo e reco- possibilidades de paradas ao transeunte, de
nectando o território ao vetorializá-lo. habitar o território e de observar a cidade:
Sua conexão com o solo se dá através de essa estrutura é um “ponto de observação”
núcleos com elevadores e escadas rolantes, ou, como mais comumente chamamos, um
distribuídos em pontos estratégicos da estru- mirante. Lugar de conexão e fruição do meio
tura. urbano ao mesmo tempo que possibilita flu-
xos não possíveis anteriormente.
Os polos (edifícios propostos) foram estrate-
gicamente localizados nas extremidades do
parque e a relação entre essas edificações se
dá especialmente através da marquise, dan-
89
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

Estratégias de Ocupação
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

Pólos - edificações âncoras Catalisadores de acessos


Localizadas nas extremidades da marquise e ca- Estações Juventus-Mooca (Linha 10 - Tur-
minhos propostos e existentes: Biblioteca, HIS quesa da CPTM) e Alberto Lion (Expresso
(ZEIS-3), Centro Esportivo, Planetário + Cinema, Tiradentes)
Centro Expositivo e Centro de Pesquisas.

90
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Apoio ao Visitante Estacionamentos verticais
Com recepção, sanitários, enfermaria e Uma edificação para acesso via Avenida do Es-
administração do parque tado e outra para acesso via Avenida Presidente
Wilson, cada uma contando com 3 pavimentos
de estacionamentos.

91
PLANTA DA MARQUISE N
20 50 100

A A

B
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Circulações Verticais Platôs
Eixos de circulação vertical com elevadores e Parte da estratégia do Centro Expositivo, a ma-
escadas fixas lha quadrilátera modular de 6 x 6m (demais ta-
manhos são variações dessa modulação), de
concreto maciço, com altura máxima de 1,5 m,
pulverizada pelo parque para livre uso e apro-
priação dos usuários

93
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

ELEVAÇÃO DO PARQUE - INTERVENÇÃO E ENTORNO

CORTE A-A - ALTURAS MARQUISE/PASSARELA 20 50 100

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PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


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3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

96 CORTE B-B
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


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3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

98
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


99
100
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LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

3.2.3 - Operação Urbana Bairros do Tamanduateí


Embora a operação em questão tenha levan-
tado algumas polêmicas nos últimos meses,
possui pontos relevantes para a elaboração
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

do projeto aqui em desenvolvimento. A Ope-


ração Urbana Consorciada Bairros do Taman-
duateí tem como norte requalificar os bairros
localizados às margens do Rio Tamanduateí,
sendo eles os bairros do Cambuci, Mooca,
Parque da Mooca, Ipiranga, Vila Carioca, Vila
Prudente e Vila Zelina.
Tendo como lógica dinamizar os investi-
mentos imobiliários na região, a diretriz de
adensamento se torna ponto central de po-
lêmica, uma vez que a região possui patri-
mônio histórico industrial de baixo gabarito,
atualmente em processo de abandono e que,
em muitos casos, são comprados pela inicia-
tiva privada e demolidos ou desconectados
de sua história pelos projetos arquitetôni-
cos – cujo objetivo central é o lucro. Além, é
104
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

claro, da iminente possibilidade de expulsão


de moradores de renda mais baixa, causada
pela valorização financeira da região.

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Contudo, é necessário ressaltar que algumas
diretrizes dessa operação são de interesse
para este trabalho e para reativação do ter-
ritório. Entre as principais diretrizes da ope-
ração urbana que são adotadas no partido do
Parque de Pesquisa e Divulgação Científica e
Cultural, podem ser citadas:
1 – Construir moradias populares para suprir
o déficit habitacional da região; tando a área verde e permeável;
2 – Ampliar oferta de empregos; 6 – Entregar ciclovias nos bairros;
3 – Criar alças de acesso entre os bairros, com 7 – Minimizar áreas de alagamento;
intervenções na Av. do Estado;
Embora a maior parte do terreno em inter-
4 – Instalar equipamentos públicos, como venção seja de Zona Mista (ZM), foi consi-
centros de cultura, escolas e UBSs; derado como Zona de Ocupação Especial
5 – Criar novos parques municipais, aumen- (ZOE), devido a proposta ser um parque com
105
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

diversos equipamentos de uso científico, cul- do. Assim sendo, a marquise do parque atua
tural e esportivo. Na área que se encontra como articuladora entre os bairros do Cam-
demarcada como ZEIS-3, foi proposta a habi- buci e da Mooca, transpondo a linha férrea
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

tação de interesse social com térreo comer- e a Avenida do Estado, além das ciclofaixas
cial ou institucional, não apenas como meio propostas que permitem um transporte al-
de suprir o déficit habitacional na região, masternativo ao automóvel. O parque é equi-
de localizar moradias próximas à eixos infra- pamento público, cujo objetivo é divulgar
estruturais urbanos importantes em conjun- ciência e cultura, além de prover ampla área
to com equipamentos de cultura, lazer e ci- permeável às margens do Rio Tamanduateí.
ência. Os edifícios mais altos do parque são Nas proximidades das áreas verificadas como
justamente as habitações, contando com pontos de alagamento em visita ao local, fo-
24m de gabarito, respeitando o gabarito do ram propostos lagos, de modo a catalisar a
entorno que tende a ser baixo devido ao uso drenagem da região, prejudicada não apenas
industrial. pelo sistema de drenagem existente, que não
Como já mencionado, por conta da confor- supre as necessidades urbanas do local, mas
mação urbana industrial da área, da ferro- também pela localização geográfica (várzea
via e da Avenida do Estado, as conexões são do Tamanduateí) onde o relevo é bastante
precárias, sendo a região de difícil acesso e plano e de difícil escoamento.
locomoção - característica que praticamen-
te incentiva o uso do transporte motoriza-
106
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3.2.4 - Visões do Real: Paris Rive-Gauche


Um exemplo de operação urbana onde a re-
lação entre poder público e iniciativa privada
pode ser considerada bem-sucedida é o de

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Seine-Paris Rive Gauche, projeto desenvol-
vido a partir da instituição de uma ZAC3 e
uma PPP4, e que contou com a participação
dos arquitetos Christian Devillers, Roland
Schweitzer e Christian de Portzamparc (e
equipes). De acordo com Somekh e Marques
(2007), “o modelo francês entende que o pro-
jeto urbano faz parte de um processo políti-
co, com forte intervenção pública atuando
em um modo de gestão que prevê o consen-
3 Zone d’Aménagement Concerté é uma operação
pública (França) de administração do espaço urbano
sob o Código de Urbanismo, facilitando o diálogo en-
tre as autoridades públicas e investidores privados.
4 Parceria Público-Privada é um contrato de pres-
tação de serviços ou obras, firmado entre empresa
privada e o governo federal, estadual ou municipal.
Conta com valor financeiro mínimo para ser realizado,
tendo duração mínima e máxima em anos.
107
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

so de interesses”.
O projeto é dividido em 4 setores, sendo eles
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

Austerlitz (Nord, Sud e Gare), Tolbiac (Nord


e Chevaleret), Massena (Nord e Chevaleret)
e Bruneseau (Nord e Sud). O objetivo princi-
pal do projeto é requalificar uma ampla área
de passado industrial, sendo parte das ações
projetuais conferir novos usos aos antigos
edifícios reformados, ressignificando-os –
além da proposição de novas edificações.
A proposta considera uma mistura de usos,
recuperação de espaços públicos e a cons-
trução de habitações para os mais diferentes
níveis de renda, tendo sido uma iniciativa de-
sencadeada pelo investimento estatal para
construir a biblioteca nacional (projeto ân-
cora) e promover a cobertura da linha férrea.
(SOMEKH e MARQUES, 2007, p. 5).

108
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

fraestruturais sem apagar seus rastros, por


meio de uma operação urbana com consen-
so entre os interesses estatais e privados. De

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


mesmo modo, no projeto aqui desenvolvido,
intentou-se, a partir da seleção de uma loca-
lidade estratégica para a implantação de pro-
jetos âncoras (o parque com âncoras cientí-
ficas, culturais e esportivas), da diversidade
de usos e da reconexão territorial a ativação
e ressignificação de um território esvaziado
devido às mudanças na matriz econômica e
no meio urbano nas últimas décadas.
O projeto de requalificação de Paris Rive
Gauche é um exemplo da plausibilidade de
ressignificar uma área industrial em processo
de esvaziamento com novos e diversos usos,
projetos âncoras5 e valorização de eixos in-
5 Edifícios âncoras são projetos arquitetônicos “de paço público devido a sua capacidade de atração de
grife”, geralmente assinados por arquitetos renoma- visitantes (usuários, comerciantes, entre outros) que
dos, cujo objetivo e promover a requalificação do es- trazem “vida” ao lugar.
109
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

3.2.5 - Receptáculo do Pensamento


Um elemento projetual não inicialmente e, principalmente, provocando seu desejo de
previsto, mas que se fez necessário de acor- ação e movimento através dos platôs e dos
do com os caminhos abertos pela pesquisa e edifícios.
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

pelo desenvolvimento do projeto, é a praça Esse objeto em questão foi definido no ato
central do parque. Confluência principal da de projetar, mas não totalmente; há platôs
proposta, a praça abriga dois importantes na praça, mas para quê? Para sentar? Pular?
edifícios-âncoras: o Centro Expositivo e o Dançar? Exercitar? Encenar? São diversas as
Planetário + Cinema. possiblidades de apropriação dessa situação
A praça surgiu não apenas da confluência projetual. Claramente, seria possível apenas
criada entre dois edifícios-âncoras, mas prin- tomar a praça de “bancos de praça”, bem de-
cipalmente da necessidade de conectá-los finidos como objetos designados claramente
conceitual e fisicamente de modo mais evi- para sentar-se, em vez de criar platôs e de-
dente. Embora seja um elemento fisicamen- graus; ou mesmo mantê-la intacta e vazia,
te estático, possui dinâmica gerada pelo jogo sem intervenções. Esse programa “despro-
de volumes, criando mudança de percepção gramado” da praça, intencional, possibilita
com as luzes e sombras, que se modificam que ocorram acontecimentos inesperados
ao longo do dia devido ao movimento solar. – “alisamento” que se modifica para “estria-
Composta de platôs quadriláteros de alturas mento6” e vice-versa – busca ser provocati-
inconstantes, gera movimento em sua quie- vo, convidando o usuário a se apropriar do
tude, provocando a percepção dos visitantes 6 DELEUZE e GUATTARI, 1995, p. 158
110
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

espaço como melhor lhe convier o momen-


to, o desejo e a situação. Busca ser a ex-
pressão do desejo de criar (arte, ciência e

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


filosofia) através da liberação do desejo do
pensar e do agir.
Intenta-se que seja receptáculo do desejo
da livre ação, movimento e pensamento do
usuário, sem jamais se modificar.
Khôra recebe, para lhes dar lugar, todas
as determinações, mas a nenhuma delas
possui como propriedade. Ela as possui,
ela as tem, dado que as recebe, mas não
as possui como propriedade particular.
Ela não “é” nada além da soma ou do pro-
i = 1%

cesso daquilo que vem se inscrever “so-


bre” ela, a seu respeito, mas ela não é o
assunto ou o suporte presente de todas
essas interpretações, se bem que, toda-
via, não se reduza a elas (DERRIDA, 1995,
p. 25-26)

10 25 75 N Segundo Derrida (1995), Khôra não é nem


PRAÇA PRINCIPAL
111
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

inteligível e nem sensível, que não será in-


teiramente nem à noção, nem à percepção,
pertencendo a um terceiro gênero entre es-
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

ses; um lugar sem lugar, onde tudo se marca,


mas que, mesmo assim, não é marcado. In-
dependentemente do que vier a ocorrer nes-
sa praça, não pertencerá nem permanecerá:
se apagará assim que terminar, permitindo
que os tempos se sobreponham – ações ca-
pazes de extrapolar a dimensão temporal da
experiência do espaço, o “ter lugar” no lugar.
O lugar voltará a ser o lugar que era anterior-
mente, mesmo que não seja um lugar pas- ção (Phantasie). Mas o “conteúdo do mito
sível de definição. Um lugar criado para não é o pensamento” (ibid). A dimensão mítica
ter identidade específica, mas para abrigar permanece formal e exterior. Se os mitos
de Platão são “belos”, se a “apresenta-
diversas identidades, para possibilitar outras ção” (Darstellung) mítica do pensamento é
existências de outros lugares não pertencen- “bela”, incorreríamos em erro ao acreditar
tes àquele lugar. que os mitos são mais “primorosos” (vortre-
fflicher) do que o “modo abstrato de expres-
Os filósofos puderam se servir dos mitos são”. Na verdade, Platão só recorre ao mito
para aproximar os filosofemas da imagina- na medida de sua “impotência” (Unvermö-
112
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

gen) em se “exprimir na pura modalidade


do pensar” (DERRIDA, 1995, p. 28)
Mythós, do grego “contar” ou “narrar” algo,

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


é aqui visto como expressão do pensamento
na impossibilidade de exprimir-se totalmen-
te através do pensar. Lyotard (2006) elucida
o saber como uma narrativa nas sociedades
pós-modernas e, não por acaso, o formato de
teatro é insinuado em dois locais no parque,
locais de narrativas, sendo um deles na pra-
ça aqui em análise. Entretanto, busca-se não
apenas o narrar saberes, mas a expressão do
pensamento como conteúdo do mito: trans-
mitir pensamentos através de narrativas cê-
nicas.
O teatro já é utilizado como ferramenta de
transmissão de saber em centros e museus
de ciência mundo afora, sendo também uti-
lizado no Brasil para esse fim, de modo a “re-
criar” e “ressignificar” o conhecimento cientí-
113
LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

fico tornando-o acessível e interessante para


o público geral (MARANDINO e MOREIRA,
2015). Além de já ser uma ferramenta de di-
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

vulgação que está em acordo com o “heart-


-on” [emoção], é um caminho já notório que,
de acordo com o estudo de Martha Marandi-
no e Leonardo Moreira (2015), é eficaz para
transmitir o conhecimento e, justamente por
esse motivo, o Centro Expositivo contém um
teatro enclausurado, para peças que exijam
ambiente controlado para contar sua narra-
tiva.
Entretanto, como já salientado neste traba- quina de guerra7. Em termos de museologia
lho diversas vezes, aqui busca-se incentivar contemporânea, não apenas o heart-on, mas
não apenas a transmissão e absorção do sa- também o hands-on [interação]: um convite
ber, mas principalmente o desenvolvimento à ação e criação.
da capacidade do livre pensar, do criar, do
pensamento como algo incontrolável, inten-
7 DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Ca-
so, viagem imóvel do espírito humano, má- pitalismo e esquizofrenia, vol. 5. Editora 34, Rio de Ja-
neiro, 1995.
114
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

Assim sendo, esses teatros não são como dade de agir e criar novas possibilidades em
usualmente se imaginam teatros: seria total- consonância com o livre pensar.
mente possível criar palco e plateia comuns.

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Em vez disso, optou-se por unificar a lingua-
gem do partido: em ambos os teatros ex-
ternos, está definido um platô único abaixo,
que serviria como “palco de apresentação”,
mas a quantidade de pequenos platôs ao re-
dor pode servir para atividades outras que
não essa mais óbvia: liberação sem sugestão
(dançar durante apresentações musicais?
Encenar durante as peças?), uma [des]ordem
criada para ser ultrapassada, contaminada
pelo ato apropriativo.
Essa seria uma “insuficiência suficiente” para
o eventual, a criação de outros lugares nes-
se lugar já oferecido ao visitante. A recriação
e ressignificação da narrativa do saber, que
poderia permitir o desenvolvimento do pen-
samento como potência do devir, da capaci-
115
3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO LARUTLUC E ACIFÍTNEIC OÃÇAGLUVID E ASIUQSEP ED EUQRAP

116
PARQUE DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


117
OTNEMASNEP OD ORTNEC

3.3 - Centro de Pensamento

3.3.1 - Primeiras Investigações


3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

118
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


119
Evolução volumétrica OTNEMASNEP OD ORTNEC
1 2
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

MAQUETE ELETRÔNICA MAQUETE ELETRÔNICA

MAQUETE ELETRÔNICA MAQUETE ELETRÔNICA


3 4

120
CENTRO DO PENSAMENTO
3 3

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


MAQUETE FÍSICA MAQUETE FÍSICA

MAQUETE ELETRÔNICA ESTUDOS EM PLANTA


4 4

121
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO Experimentos de iluminância antes de tratamento de fachada OTNEMASNEP OD ORTNEC

Experimentos de iluminância após tratamento de fachada

122
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


123
OTNEMASNEP OD ORTNEC

3.3.2 - Estratégias Projetuais


O programa da edificação foi definido a partir teatros e os vazios (que podem ser apropria-
da especulação conceitual do “observatório”. dos livremente), estão no cerne do projeto e
Tensionado aos conceitos do “museu-obser- direcionam os demais espaços.
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

vatório”, “museu-total” e “espaço háptico”, O sistema estrutural (concreto) e a modula-


o projeto, enfrentado como uma experimen- ção (13m x 13m) foram predefinidos para en-
tação conceitual-arquitetônica, articula o caixar no espaço delimitado pela praça cen-
programa e a forma de modo a deformar a tral. Essa “malha” deu origem a um partido
percepção do usuário pelo jogo de reentrân- cúbico, que foi extrapolado dentro e fora do
cias, e objetivando ser parte da experiência edifício, sendo base para a criação das salas
de liberação de pensamento e aprendiza- de debates e para os elementos de concre-
gem. Uma tentativa de aproximação do que to que dão forma aos teatros externos e que
afirma Wagensberg (2013) sobre o “museu- conectam o centro expositivo ao planetário +
-observatório”: “o trabalho dos museólogos cinema, espalhando-se através da praça e do
não começa onde o trabalho dos arquitetos e parque por inteiro.
construtores termina”.
Essa malha possibilitou a criação de terraços
Como o conceito do “museu-observatório” que, além de conferir dinâmica visual ao pro-
considera que a edificação seja um verdadei- jeto, permitem observar a cidade, observar
ro “observatório da convivência entre huma- as atividades que ocorrem no parque e den-
nos e lugar que gera opinião pública”, os es- tro da edificação e observar o céu.
paços tais quais auditórios, salas de debates,
124
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Volume anterior - tipologia em L Revisão do estudo de massas
Criação de reentrâncias e terraços permitem
melhor iluminação interna, maior dinâmica
visual e volumétrica e causam deformação
da visão o usuário.

125
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC

Terraços Solução estrutural


Uma das facetas do conceito do “observató- Malha quadrilátera de 13 x 13m condiciona
rio”: Terraços com piso de vidro para obser- os espaços. Laje nervurada bidirecional de
var o solo, e terraços para observar o céu e a concreto moldado no local. Um trecho é de
cidade. 19.80 m para dar espaço aos auditórios, sala
de concerto e teatro. Pisos de vidro com es-
trutura metálica.

126
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Pulverização das salas de debates Platôs
Observatório da convivência entre humanos, Malha quadrilátera extrapola o edifício, de-
as salas de debates provocam os usuários e senhando o anfiteatro externo, fazendo o
os convidam a debater sobre o tema viven- caminho entre o Centro Expositivo e o Pla-
ciado no projeto, convidando à uma crítica netário + Cinema e contaminando o parque
da divulgação científica

127
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC

Acessos Marquise/passarela
Acessos de serviços A marquise/passarela é vista como poten-
Acessos principais cialidade para o edifício, que a abraça ao ter
um pavimento de livre uso e apropriação
para acesso.

128
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


Acesso via marquise/ passarela Núcleos de circulação
Pavimento de livre uso e apropriação para Emergência/serviços
acesso via marquise, conferindo uma pausa Principal
programática na edificação e sua contami-
nação pelo alisamento territorial

129
130
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


131
OTNEMASNEP OD ORTNEC

No térreo, temos a praça adentrando o edifí- se pede silêncio; aqui, provoca-se a conversa.
cio e o edifício sobrepondo-se a praça; a tran- As salas de debates, fisicamente delimitadas,
sição entre edifício e praça se dá de maneira são provocações conceituais, que chamam o
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

tênue, motivo pelo qual aqui se faz amplo público para a conversa e para a construção
uso do vidro como fechamento, convidando do pensamento crítico.
o usuário a adentrar. Esse é um pavimen-
to cujo foco é a interação da sociedade civil
como geradora e criadora de conhecimento
e consciência críticas em relação à produção
do saber. Por isso, foi denominado de “Cida-
de e Sociedade”.
No interior, logo na entrada e espalhadas pelo
edifício, há salas de debates. É óbvio que nem
sempre se faz necessário um espaço fechado
para debater; claramente, um grupo escla-
recido, que estiver visitando a edificação e
desejar debater, o fará mesmo nos vazios. O
objetivo dessas salas é estimular uma provo-
cação, um convite ao visitante a se expressar:
em museus e centros de exposição, não raro
132
CENTRO DO PENSAMENTO
N

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


2 3

PRINCIPAL
ACESSO PRINCIPAL

ACESSO
1 ACESSO RESTAURANTE

ACESSO MARQUISE 4 13-B 13-D

5 13-A
13-C LEGENDA
1 - SALA DE DEBATE
13-E 2 - LOJA
3 - RESTAURANTE
12 4 - HALL PRINCIPAL
5 - ARQUIBANCADA
1
1 6 - FOYER
1 7 - AUDITÓRIO (268 ASSENTOS)
6
8 - SALA DE VIDEOCONFERÊNCIA
9 - SALA DE CONFERÊNCIA
8 10 - DEPÓSITO
8 11 - HALL DE SERVIÇOS
9
9 12 - ANFITEATRO EXTERNO
8 10 13 - ILUMINAÇÃO DE PISO: DESENHOS DE CONSTELAÇÕES
6 7 11 9 9 A - CORONA AUSTRALIS
B - MUSCA
ACESSO SERVIÇOS ACESSO SUBSOLO C - CÃO MAIOR
D - CÂNCER
E - LEPUS
TÉRREO - CIDADE E SOCIEDADE 133
OTNEMASNEP OD ORTNEC

O pavimento 1 fornece acesso à edificação


através da passarela/marquise do parque. É
uma aproximação de uma continuidade do
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

“alisamento” territorial proposto através do


parque, que contamina a edificação. Em vez
de estar repleto de equipamentos para usu-
fruto, foi mantido vazio para livre apropria-
ção; é uma pausa programática e visual na
edificação, ausência que provoca presença,
ação e livre criação por parte dos usuários. O
acesso íntegro à edificação se dá através da
escadaria na lateral esquerda, acompanhada
de uma arquibancada que abre visão do edi-
fício para o parque e o abraça.

134
CENTRO DO PENSAMENTO

13.0 13.0 13.0 13.0 13.0 14.7

13.0
13.0

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


13.0
13.0
ACESSO TÉRREO

13.0
13.0
1

19.8
1
1

LEGENDA
1 - SALA DE DEBATE
PAV. 1 - ACESSO VIA PASSARELA/MARQUISE 135
OTNEMASNEP OD ORTNEC

No segundo pavimento, o diferencial é a sala que, o teatro é também bastante presente


de concertos, que faz parte do conceito do no programa, como meio de difundir conhe-
“observatório”, mas de modo menos óbvio. cimento e provocar a emoção no usuário (he-
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

Como já citado no primeiro capítulo, Deleu- art-on), motivo pelo qual, além dos teatros
ze e Guattari (2010, p. 230) consideram que ao ar livre presentes no parque, há aqui neste
“a visão existe pelo pensamento, e o olho pavimento um teatro de arena enclausurado,
pensa, mais ainda do que escuta”. Retomo abrindo possibilidades para peças que neces-
brevemente o que já foi dito na especulação sitem de ambiente controlado para expor sua
conceitual do “observatório”: os construímos narrativa.
para tornar possível apreender o que não so- Também é necessário salientar, como parte
mos suficientemente sensíveis para apreen- do programa do “observatório”, um espaço
der de imediato. A arte tem uma “função” programado para aprender a apreender: a
similar ao “observatório” nesse sentido; se- “academia do olhar” é aqui proposta como
gundo Deleuze, a música tenta tornar sono- uma área de oficinas (ou salas de aula). Uma
ras forças que não o são (DELEUZE, 2007). das limitações dos sentidos humanos é a li-
A música é aqui vista, portanto, como im- mitação intelectual e sensível: a educação
pulsionadora do “observar” com os ouvidos, sensível do sujeito é essencial para “aprender
sendo liberação do pensamento por meio da a ver” o que não se vê de imediato.
emoção (heart-on).
Como foi possível notar no projeto do par-
136
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


2
13

LEGENDA
13 13
1 - SALA DE DEBATE
1 2 - EXPOSITIVO
5 6 3 - ACADEMIA DO OLHAR
4 - HALL
7 5 - FOYER SALA DE CONCERTOS
6 - FOYER TEATRO
11
10
7 - SALA DE CONCERTOS (376 ASSENTOS)
8 - CONTROLE TÉCNICO
8 9 - DEPÓSITO DE INSTRUMENTOS
12
9 10 - ESTAR
11 - TEATRO (184 ASSENTOS)
12 - CAMARINS
13 - TERRAÇO
PAV. 2 - ARTES E CULTURA 137
OTNEMASNEP OD ORTNEC

Como no segundo pavimento há espaços de-


finidos para aprender, no terceiro pavimento
há um local definido para criar. O Experimen-
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

tário8 foi proposto para livre criação de protó-


tipos e experimentos, um espaço “hands-on”,
com divisórias baixas que permitem intera-
ção entre usuários – novamente convidando-
-os a conversar entre si. tante interagiria e selecionaria os objetos a
serem “observados”. É, portanto, um espaço
Os “observatórios interativos” foram inspira- proposto como uma especulação futurísti-
dos no “NASA’s Eyes9”, um aplicativo no qual ca: não foi possível encontrá-lo em uma re-
os usuários podem observar um corpo celes- ferência arquitetônica construída, mas sim
te presente no sistema solar, selecionando em uma referência cinematográfica, no filme
a data e a velocidade na qual gostariam de “Passengers10”, que simula uma situação si-
acompanhá-lo. Essas salas seriam espaços milar em um futuro não tão distante.
com telas touchscreen, com as quais o visi-

8 O nome foi inspirado no “Experimentarium”, cen- 10 Filme estadunidense de 2016, se passa em uma
tro de ciências localizado na cidade de Copenhague, nave espacial, na qual há uma sala literalmente deno-
Dinamarca. Projeto do escritório CEBRA. minada “Observatório”, onde os passageiros podem
9 Aplicativo da NASA disponível em: https://eyes. selecionar e escolher qual corpo celeste gostariam de
nasa.gov/ observar no universo.
138
CENTRO DO PENSAMENTO

10
1

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


1 1

10

9
1
4 1

11
LEGENDA
9 1 - SALA DE DEBATE
5 5
2 - EXPOSITIVO
5 5 5 3 - EXPERIMENTÁRIO
5 4 - HALL
6 5 9 5 9 5 - OBSERVATÓRIO INTERATIVO
8 6 - DEPÓSITO
7
7 - AUDITÓRIO (320 ASSENTOS)
8 - APOIO AUDITÓRIO
9 - TERRAÇO
10 - TERRAÇO TELESCÓPICO
PAV. 3 - CIÊNCIA E TECNOLOGIA 139
OTNEMASNEP OD ORTNEC

As áreas técnicas e de apoio à edificação fo- estrutural para o grande vão e dando partido
ram localizadas no subsolo, tais quais cura- estético para a edificação. Os fechamentos
doria, administração e segurança. Há apenas em vidro “eco lite” (que permitem passagem
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

vagas de serviço nesse pavimento, uma vez de luz barrando até 52% da entrada de calor),
que o parque possui estacionamentos verti- que compõem grande parte das fachadas,
cais, evitando a criação de mais subsolos em são sustentados por montantes metálicos de
um terreno próximo ao rio, o que criaria difi- seção 30 x 30mm, com os painéis presos por
culdades construtivas. Para aproveitamento parafusamento tipo “aranha”. O uso do vidro
das águas pluviais captadas pelas calhas da permite permeabilidade visual do exterior
edificação, há um reservatório de retenção, para o interior e do interior para o exterior,
cuja água pode ser utilizada nos sanitários sendo uma das facetas do partido do “obser-
que atendem a edificação. var”: ver a cidade através da arquitetura.
Com a estrutura em concreto moldado no
local, a cor da edificação é majoritariamen-
te cinza, sendo na estrutura aparente ou nas
placas cimentícias que dão revestimento às
alvenarias de blocos de concreto 14cm. De
modo a fazer parte do partido “cúbico” mo-
dulado em 13m x 13m, foi escolhida a laje
com nervura em dois sentidos como solução
140
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


2 3

LEGENDA
1 - DEPÓSITO DO ACERVO
2 - ADMINISTRAÇÃO E CURADORIA
3 - OFICINA DE MONTAGEM
6 8 4 - SEGURANÇA
5 - COPA
6 - CASA DE BOMBAS
6 7 9 7 - RESERV. INFERIOR
10 11 12 8 - RESERV. DE RETENÇÃO
9 - VAGAS DE SERVIÇOS
10 - GERADOR
11 - MEDICAÇÃO
12 - CABINE DE FORÇA
SUBSOLO - APOIO E ÁREAS TÉCNICAS 141
OTNEMASNEP OD ORTNEC

ILUMINAÇÃO ZENITAL
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

CORTE A-A

ACESSO AO PLANETÁRIO+CINEMA SE DÁ
PELO SUBSOLO ATRAVÉS DA TOPOGRAFIA
CRIADA PELA PRAÇA

142 CORTE B-B


CENTRO DO PENSAMENTO

CÚPULA DE FIBRA DE VIDRO E ACABAMEN-


TO ESPELHADO (PARA REFLETIR O CÉU),
SUSTENTAÇÃO POR MONTANTES METÁLICOS

FORRO DE GESSO PARA PROJEÇÕES

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


TERRAÇO “TELESCÓPICO”

143
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

144 CORTE C-C


OTNEMASNEP OD ORTNEC
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


ANTIGO BIRRIFÍCIO ANTARCTICA ESTAÇÃO JUVENTUS-MOOCA MOINHOS EVENTOS

TEATRO AO AR LIVRE
MARQUISE/PASSARELA
FACHADA TOMBADA

145
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC

ELEVAÇÃO NORDESTE

146 ELEVAÇÃO NOROESTE


CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


147
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC

ELEVAÇÃO SUDESTE

148 ELEVAÇÃO SUDOESTE


CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


149
OTNEMASNEP OD ORTNEC

IMPERMEABILIZAÇÃO
PLATIBANDA
LAJE NERVURADA (2 DIREÇÕES) DE CONCRETO
FECHAMENTO DE FACHADA EM PAINEIS DE VIDRO
ECO-LITE, COM ALTA PASSAGEM DE LUMINO-
SIDADE, BARRANDO ATÉ 52% DA PASSAGEM
DE CALOR
GUARDA-CORPO DE MONTANTES E BALAÚSTRES
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

METÁLICOS DE SEÇÃO QUADRADA, COM FECHA-


MENTO EM VIDRO. H= 0,9M

PISO ELEVADO
REVESTIMENTO INTERNO DE PLACAS DE GESSO PISO ELEVADO INTERNO DE
EXTERNO DE PETRUM COM
PETRUM CINZA REVESTIMENTO
ALVENARIA DE BLOCOS DE CONCRETO 14CM VINÍLICO

MONTANTES METÁLICOS: SUSTENTAÇÃO DOS


PAINEIS DE FACHADA
PAINEL DE PLACA CIMENTÍCIA PARA FACHADA
2,4 X 1,2 X 0,01M

IMPERMEABILIZAÇÃO
GUARDA-CORPO DE MONTAN-
TES METÁLICOS, H= 0,9M

MARQUISE COM TABULEIRO DE LAJE


DE CONCRETO MOLDADO NO LOCAL,
ARMADA EM DUAS DIREÇÕES

AMPLIAÇÃO DA ELEVAÇÃO SUDOESTE PALCO E PLATEIA DE MADEIRA DE IPÊ CERTIFICADA


1 2 5
AMPLIAÇÃO DO CORTE A-A
150
CENTRO DO PENSAMENTO

PLACA CIMENTÍCIA, MÓDULOS DE 1,2 X 2,4M


CAMADA DE SUSTENTAÇÃO METÁLICA

ALVENARIA DE BLOCOS DE CONCRETO 14

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


MONTANTES METÁLICOS
MONTANTES METÁLICOS DE
HORIZONTAIS TUBULARES
SEÇÃO QUADRADA 30MM
X 30MM
FECHAMENTO EM VIDRO
DUPLO
PAINEIS DE VIDRO “ECO
LITE ”, REDUÇÃO DE
ENTRADA DE CALOR DE
PLACA CIMENTÍCIA CINZA, MÓ-
ATÉ 52%, PERMITINDO
DULOS DE 1,20 X 2,40 M ,
PASSAGEM DA LUZ. MO-
INSTALADAS EM SENTIDO VERTICAL
DULAÇÃO DE 1,2 X 2,4
EM SENTIDO VERTICAL MONTANTE METÁLICO PARA SUS-
TENTAÇÃO POR MEIO DE PARAFU-
SAMENTO DAS PLACAS

CONEXÃO METÁLICA TIPO LAJE NERVURADA DE CONCRETO


ARANHA

MONTANTE METÁLICO PARA CO-


AMPLIAÇÃO PLANTA PAV. 3 NEXÃO DA ESTRUTURA DE SUS-
1 2 5 TENTAÇÃO DA PLACA À ALVENARIA

DETALHE DO CORTE C-C


0.1 0.2 0.5

151
OTNEMASNEP OD ORTNEC
Quadro de Áreas da Edificação
PAVIMENTO AMBIENTES ÁREAS TOTAL (COM CIRCULAÇÕES)
AUDITÓRIO (COM APOIO) 370,7M²
DEBATES 100M²
SANITÁRIOS 151,8M²
DEPÓSITO 42M²
SALAS DE CONFERÊNCIA 240M²
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO

TÉRREO: CIDADE E SALAS DE VIDEO-CONFERÊNCIA 181M²


SOCIEDADE RESTAURANTE 405,1M² 4430,6M2
LOJA 117,8M²
HALL PRINCPIAL 506,8M²
FOYER E EXPOSITIVO 1568M²
HALL DE SERVIÇOS 71,6M²
1º PAVIMENTO: DEBATES 100M²
ACESSO PASSARELA TERRAÇO 57,1M² 3097M²
SANITÁRIOS 151,8M²
DEBATES 100M²
SANITÁRIOS 160,8M²
EXPOSITIVO 1221,7M²
2º PAVIMENTO: ACADEMIA DO OLHAR 511,3M² 5561,1M²
ARTES E CULTURA HALL 490M²
FOYER DA SALA DE CONCERTOS 654,2M²
CONTROLE TÉCNICO 10,6M²
DEPÓSITO DE INSTRUMENTOS 22,2 M²
SALA DE CONCERTOS 763,6M²
152
CENTRO DO PENSAMENTO
PAVIMENTO AMBIENTES ÁREAS TOTAL (COM CIRCULAÇÕES)
ESTAR 66,6M²
2º PAVIMENTO: TEATRO 392,3M²
ARTES E CULTURA CAMARINS 26M² 5561,1M²
TERRAÇOS 514,6M²
DEBATES 125M²
EXPOSITIVO 921,5M²

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


EXPERIMENTÁRIO 428,2M²
SANITÁRIOS 151,8M²
3º PAVIMENTO: CI- HALL 540,3M²
ÊNCIA E TECNOLOGIA OBSERVATÓRIO INTERATIVO 5222,6M²
AUDITÓRIO (COM APOIO) 425,5M²
DEPÓSITO 45,2M²
TERRAÇOS 926,1M²
FOYER 515,6M²
DEPÓSITO DO ACERVO 1005M²
ADMINISTRAÇÃO E CURADORIA 142M²
OFICINA DE MONTAGEM 599,3M²
SUBSOLO 4621,8M²
SEGURANÇA 84,3M²
ÁREAS TÉCNICAS 223,4M²
COPA 82,3M²
ÁREA TOTAL DA EDIFICAÇÃO 22 933,1M²

- Capacidade da edificação (corpo de bombeiros): 5455 pessoas


- 14 vagas de serviços no Subsolo
153
VISÃO NOTURNA A PARTIR DE UM DOS “TERRAÇOS TELESCÓPICOS”
3 - ARQUITEURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO OTNEMASNEP OD ORTNEC

154
CENTRO DO PENSAMENTO

3 - ARQUITETURA DO PENSAMENTO: PROPOSIÇÃO


155
CONCLUSÃO

Esse trabalho foi realizado como um manifes- que ponto isso tem influência na qualidade
to por uma arquitetura “ativa”, um convite às de nosso trabalho, de nossa capacidade de
pessoas à ação e debate emancipatórios; um gerar perguntas? Quais outras possibilidades
brinde à imaginação, à deformação da visão, de utilizar a arquitetura como ferramenta
ao ver para além do que se vê de imediato. O para “deslimitar os limites” impostos pelas
que pode significar o exercício de ver além do instituições sociais?
que se vê ou se prevê? Evidentemente, algumas perguntas só po-
Uma vez que a busca por novas questões deriam ser respondidas com a construção e
seja indispensável para nos colocar em movi- uso do projeto proposto, mas o fato é que o
mento, não posso e nem deveria negar que, objetivo do projeto, enquanto construção ou
ao final do trabalho, mais perguntas foram enquanto investigação, é gerar perguntas.
criadas. Até que ponto somos livres para ex- Retomo brevemente ao que diz Tschumi
perimentar, tanto em pensamento quanto (1999, p. 23) ao afirmar que “não há mudança
CONCLUSÃO

em ações? Mesmo nesse projeto, a ação se- social ou política sem os movimentos e pro-
ria, de fato, livre? É realmente possível uma gramas que transgridam a institucionalidade
arquitetura que libere ação e pensamento? supostamente estável, arquitetônica ou de
Que seja vetor de imaginação? Até que ponto outra natureza1”. O convite à transgressão é
não estamos nós, pesquisadores, firmemen- realizado aqui de maneira sutil; claro que não
te atados às regras que impedem nosso pen-
samento de vagar pelo [des]conhecido? Até 1 Architecture and Disjunction, the MIT Press, 1999
156
é possível propor espaços totalmente “lisos” fiar o que gera limite. Espaços que recebem
e nem totalmente “estriados”; como pode ações que supostamente não seriam ade-
ser possível perceber na leitura do projeto, é quadas ou esperadas naquele lugar e que,
a tensão entre conceitos, entre espaços pro- em seguida, as apaga, não as guarda, não as
gramados, com funções óbvias, e espaços sinaliza como parte de si. Arquitetura como
[des]programados, com funções insinuadas receptáculo de experiências temporais, que
– ou mesmo sem função específica – que per- passam, que não marcam o lugar. Lugar que
mitem liberação de ação, de imaginação, que constantemente recebe novos tempos e per-
convidam e potencializam a transgressão, o mite sobreposições, tornando-se devir cons-
novo. tante.
Se toda linguagem sugere uma espacia- Uma arquitetura receptáculo do desejo2, aqui
lização, uma certa disposição no espaço
que, sem dominá-la, permite que dela nos encarado como possibilidade e convite a um
aproximemos, então devemos compará- pensamento que vaga sem permitir-se limi-

CONCLUSÃO
-la a uma espécie de desbravamento, de tar.
abertura de um caminho. Um caminho que
não tem de ser descoberto, mas inventado
(DERRIDA, 2006, p. 167)
O novo implica criar, inventar, ver além do
espaço e do tempo – não há invenção sem
transgressão e, para criar, é necessário desa- 2 Alusão à entrevista de Derrida à Eva Meyer, com
título “Uma Arquitetura onde o Desejo pode Morar”.
157
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VASP Cruzeiro e Ortofoto: < geosampa.prefeitura.sp.gov.br/>. Acesso em 26 mar. 2017
p. 48, 60, 61, 85, 88, 90, 91, 93: sobreposição da autora em trecho do Mapa Digital da Cidade
de São Paulo.

CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS
p. 49: sobreposição da autora em imagem do Google Earth (acima); maquete e captura de
imagem da autora (canto inferior direito)
p. 51: 3D elaborado a partir das informações do <geosampa.prefeitura.sp.gov.br> e imagens
capturadas pela autora em visita ao local de intervenção.
Fonte da imagem da Fachada da Antiga Indústria Matarazzo: < http://patrimonioindustrial-
brasil.blogspot.com.br/2012/06/diario-de-sao-paulo-demolicao-de-predio.html>. Acesso
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p. 52: sobreposições da autora em 3D elaborado a partir de informações do <geosampa.
prefeitura.sp.gov.br>.
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p. 58: sobreposição da autora em mapa do Centro de Estudos da Metrópole.
p. 64: < http://www.archdaily.com.br/br/01-160419/classicos-da-arquitetura-parc-de-la-vil-
lette-slash-bernard-tschumi>. Acesso em 10 fev. 2017
p. 65: sobreposição da autora em imagens do Google Earth.
p. 67: < http://www.cristinamello.com.br/?p=32368>. Acesso em 10 fev. 2017
p. 69, 78, 79, 80, 81, 86, 87, 88, 89, 96/97, 98/99, 100/101, 111, 112, 113, 114, 115/116, 117, 118,
119, 120, 121, 122, 123, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 133, 134, 135, 137, 139, 141, 142/143,
144/145, 146/147, 148/149, 150, 151, 154/155 : elaboração e captura das imagens pela autora.
CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS

p. 98: maquete desenvolvida pela autora e imagens gentilmente capturadas por Mônica
Hanna El Khouri
p. 102/103: projeto da autora com sobreposição em imagem 3D do Google Earth.
p. 104 e 105: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/
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