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desenvolvimento de
competências sócio-emocionais
na transição para o 1ºciclo
Ana Miriam Barradas
Cátia Rego
Joana Hasse
Marli Godinho
Miriam Teixeira
Alunas de Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação -
Universidade de Lisboa
O presente trabalho teve como base um Workshop desenvolvido e realizado pelas autoras,
destinado a pais e filhos, sob o tema “Sensibilização de competências sócio-emocionais para a entrada
para o 1º ciclo”. Este artigo visa dar a conhecer as actividades promovidas no Workshop, fundamentando
a importância destas na estimulação de competências sócio-emocionais na referida transição escolar.
Assim, foi nossa convicção, implementar um Workshop com o objectivo de sensibilizar os pais
para as competências que a criança necessita que sejam estimuladas enquanto preparação para o seu
ingresso no primeiro ciclo. Paralelamente, pretendeu-se promover práticas “psicopedagógicas”, com base
no jogo, para o desenvolvimento dessas mesmas competências, dando a conhecer novas utilizações para
materiais quotidianos bem como materiais didácticos apropriados para esse fim.
A primeira etapa consistiu numa revisão bibliográfica, embora se tenha verificado que a maioria
da bibliografia diz respeito à importância das competências cognitivas na referida fase de transição, são
escassas as referências às competências sócio-emocionais. Ainda assim, foi possível fazer um primeiro
levantamento de competências que se revelou bastante extenso.
A voz de quem está envolvido
Deste modo, pedimos aos participantes para avaliarem o grau de importância da estimulação de
cada uma das trinta e oito competências para a entrada no primeiro ciclo, bem como o grau em que
consideravam que as mesmas estavam a ser efectivamente estimuladas (só para educadores e
professores). Disponibilizámos também, em frente a cada competência, um espaço para que fosse
possível expressarem algum comentário que considerassem relevante em relação à mesma. No sentido de
avaliar a possibilidade de existirem outras competências não contempladas, decidimos incluir uma
primeira secção de resposta aberta, onde solicitávamos aos docentes e educadores que enumerassem as
competências que consideravam mais importantes e, depois, as que estavam a ser estimuladas. Incluímos
para estes dois tipos de questionário uma última questão em que indagávamos sobre que competências
gostariam de vir a ter mais formação, pois considerámos que tal nos permitiria compreender quais as
competências a carecer de maior assistência.
Aplicámos os questionários a uma amostra total de vinte e oito indivíduos: catorze pais, com
idades compreendidas entre os trinta e um e os quarenta anos, dos quais sete tinham as crianças no
primeiro ano do primeiro ciclo e outros sete tinham as crianças na pré-primária; sete professores do
primeiro ciclo, com idades compreendidas entre os trinta e um e os cinquenta anos; e sete educadoras da
pré-primária, com idades entre os vinte e oito e os cinquenta e sete anos.
Relativamente à análise dos questionários dos professores é importante destacar que a amostra
continha um único docente do sexo masculino, a média de idades era de, aproximadamente, quarenta e
quatro anos e a média de anos de serviço de, aproximadamente, quinze anos.
Assim, através da análise das respostas a estes questionários, concluímos que os professores consideram
muito importantes as competências: integração da regra/disciplina, respeitar os outros, atenção,
concentração (todos com seis respostas assinalando muito importante), integração no grupo, motivação e
estabelecer relações com os outros (estas com cinco respostas muito importante). No que concerne a
resposta aberta sobre a mesma questão, destacámos as competências assinaladas que não constavam ou
não remetiam para as competências pré-definidas ou contempladas ou que visavam aspectos algo
diferentes destas: maturidade (social/psicológica), empenho, integração na escola e saber estar na sala
de aula (estar sentado, esperar a sua vez para intervir, …). Assim, no que diz respeito às competências
mais estimuladas, cinco professores consideraram a integração no grupo e o respeitar os outros e quatro
professores consideraram autonomia, auto-estima, auto-confiança, cooperação, responsabilidade
individual, responsabilidade colectiva, solidariedade, atenção, tomar decisões/fazer escolhas e
motivação. Da resposta aberta optámos por referir a relação com os pares e o cumprimento de regras.
Destas respostas podemos também afirmar que três dos professores consideraram a resistência à
frustração e dois professores o espírito crítico, distinguir necessidades de desejos, auto-avaliação e
hetero-avaliação como as competências, actualmente, menos estimuladas antes da entrada para o
primeiro ano do ciclo básico.
Podemos, então concluir, cruzando estas informações, que os professores consideram que
integração da regra/disciplina, concentração e estabelecer relações com os outros são competências
importantes que não são muito estimuladas e sobre as quais gostariam de receber mais formação.
Na análise dos questionários dos educadores de infância há que considerar como variáveis
potencialmente influentes nas respostas: a amostra ser exclusivamente do sexo feminino, cuja média de
idades se aproxima de quarenta e um anos e apresentam, sensivelmente, dezasseis anos de serviço.
As educadoras consideraram que auto-estima, auto-controlo, integração no grupo, percepção corporal,
autoconceito e cooperação são as competências mais importantes a estimular nas crianças antes desta
transição. No espaço da resposta aberta fomos confrontadas com uma multiplicidade de competências (ou
descrições destas), sendo que se destacam a título de exemplo: saber escutar, ter preferências, ter
capacidades organizativas e ter curiosidade. É importante referir que foi nesta secção que surgiu a única
observação realizada em frente da competência pela pessoa que a classificava: uma das educadoras
observou que a auto-estima é a “base para todas as aprendizagens e competências”.
Relativamente à formação adicional, a maioria das educadoras gostaria de saber mais sobre
resiliência e resistência à frustração e, em segundo lugar, sobre controlo emocional, integração da
regra/disciplina e lidar com o erro.
Tomando estas informações em conjunto podemos concluir que as educadoras consideram que a
estimulação da auto-estima e do autoconceito são muito importantes e nem por isso muito estimulados.
Paralelamente, o adiamento da gratificação foi apontado como uma das competências menos
estimuladas, assim como a resistência à frustração, a qual, em conjunto com a resiliência, se destacam
como áreas em que gostariam de ter mais informação.
A análise dos questionários a pais remete-nos para uma amostra equilibrada entre o número de
pais de crianças que frequentam a pré-primária e o ensino básico, sendo quase o dobro das respostas do
sexo feminino (nove para cinco do sexo masculino) e tendo cada pai, em média, trinta e seis anos.
Desta análise foi possível concluir que os pais consideram como muito importante a estimulação do
respeitar os outros (treze respostas muito importante), integração da regra/disciplina, integração no
grupo (onze respostas muito importante), atenção e concentração (dez respostas muito importante).
Perante esta recolha de informação e tendo em conta a selecção das competências consideradas
mais importantes e, simultaneamente, menos estimuladas segundo professores, educadores e pais
deparámo-nos com o seguinte conjunto: adiamento da gratificação, auto-estima, autoconceito,
concentração, estabelecer relações com os outros, integração da regra/disciplina, resiliência e
resistência à frustração. As competências respeitar os outros, integração no grupo e atenção não foram
incluídas, embora tivessem sido consideradas muito importantes para os pais, pois são muito estimuladas
segundo professores e educadores; paralelamente considerámos que qualquer actividade de grupo que
propuséssemos iria tê-las em conta.
Apesar do objectivo final da aplicação dos questionários ter sido seleccionar as competências
consideradas mais importantes e, simultaneamente, menos estimuladas; este critério foi posteriormente
extrapolado, de modo a permitir uma maior abrangência de materiais.
Passamos agora a uma breve apresentação das actividades sugeridas, constituindo-se estas por
dois jogos colectivos (todos os participantes intervinham em simultâneo – Atira a bola e O barco -) e seis
jogos rotativos (os restantes jogos - participando nestes uma, duas ou três crianças e respectivos
acompanhantes). Concretizando, o Workshop efectuou-se em duas salas distintas da loja, sendo que a
primeira foi usada para as actividades colectivas e a segunda, composta por três mesas distintas e
dispersas, utilizou-se para a realização dos jogos que requeriam uma atenção mais individualizada (em
dois blocos de três actividades cada, intercalados pelos jogos colectivos).
Actividades propostas
Atira a bola
Mikado
Tangram
Pensamentos mágicos
Considerando a avaliação como um processo que permite determinar o impacto e valor dos
resultados alcançados, salientou-se a sua importância desde o primeiro momento. Assim, recorreu-se às
crianças e aos pais para dar feedback da nossa intervenção. Cada criança avaliou a tarefa logo após a sua
realização, de acordo com o grau de satisfação que o jogo lhe proporcionou, segundo os parâmetros
gostei, assim assim e não gostei. No geral pode-se dizer que todas as crianças avaliaram de um modo
positivo (gostei) a maioria das actividades. A avaliação dos pais, realizada no final do Workshop, foi mais
diversificada. Assim, as actividades Os pensamentos mágicos, Brincar às emoções e O que podes fazer?
foram as que os pais referiram como mais importantes. Isto pode dever-se ao facto de os pais, mais
facilmente, compreenderem e identificarem as competências que estas actividades promovem (ex:
disciplina, expressão de emoções, etc.), tal como a saliência e aplicabilidade destas no quotidiano. O
mesmo não aconteceu com os jogos Mikado, O barco e Tangram, considerados como menos importantes.
Esta avaliação mais negativa pode ser compreendida se se atender à dificuldade de reconhecer e valorizar
o impacto destas actividades na promoção das competências que propunham atingir. Adicionalmente, o
Mikado e o Tangram são, para os pais, jogos e, como tal, podem não conseguir vê-los como
estimuladores de competências. Contudo, todos os pais gostaram de ter participado no Workshop,
considerando-o útil, e concordaram que o recomendariam a outras pessoas.
A avaliação do Workshop foi bastante positiva, contudo reconheceram-se algumas limitações que
permitiram realçar alterações necessárias para próximas implementações. Seria mais indicado dividir
estas actividades em dois blocos, isto é, realizar um jogo de apresentação (o qual é indispensável em
ambos os blocos) e mais três actividades. Isto porque as crianças, maioritariamente, não se contentam
apenas com a experimentação dos jogos, querendo terminar todas as actividades e experimentar todos os
materiais existentes em cada actividade. Esta divisão traria mais liberdade e flexibilidade para uma maior
exploração de cada uma das actividades, tornando-se mais adequada à realidade das crianças. É
necessário ter em atenção que há actividades em que um acompanhamento individualizado às várias
crianças presentes é essencial, uma vez que elas apresentaram níveis de desempenho e rapidez distintos
(ex. Eu sou único e especial). Uma possibilidade para estas tarefas é haver mais que um monitor na mesa.
Relativamente, aos aspectos positivos do Workshop destaca-se o facto de ter sido realizado numa casa da
material didáctico, num espaço amplo e apropriado para o efeito, constituindo um local de interesse quer
para os pais quer para as crianças. Tal permite dar a conhecer aos pais este tipo de lojas, onde podem
descobrir e se encantar com diversos materiais que conjugam o divertimento com a aprendizagem. Uma
particularidade, incluída no Workshop e que obteve bons resultados, foi o uso dos “passaportes” pelas
crianças, as quais se deliciaram com o ritual de carimbar a tarefa cumprida, demonstrando-se entusiastas e
incansáveis até completarem todas as actividades para terem o passaporte totalmente preenchido.
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