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Nesse capítulo, Carlos Ari Sundfeld realiza uma análise sobre a atuação judicial
baseada em princípios, especialmente no que tange a matéria de Direito Público. O
principal ponto enfrentado nesse trabalho foi especificamente o da argumentação judicial
na aplicação dos princípios. A preocupação externada por Carlos Ari Sundfeld é a de que
as normas, por conta de sua grande indeterminação e seu conteúdo muito aberto, podem
e são, de maneira contumaz, aplicadas sem nenhum esforço argumentativo que possa
determinar o seu conteúdo para casos concretos, o que, afinal de contas permite usá-las
para justificar decisões diversas sobre um mesmo tema. O texto desde o início coloca-se
contra essa tendência de aplicação descomprometida de princípios, o autor é direto e duro
ao afirmar:
que envolva direitos, de acordo com a visão clássica da função judicial. Mas essa visão
está em total descompasso com a realidade contemporânea, em que o domínio da
legalidade foi expandido em muito, sendo muitos os direitos positivados em normas do
tipo princípio. Além disso, muitos desses princípios estão voltados ao legislador e ao
administrador, como normas programáticas para que estes implementes os direitos ali
contidos. Resumindo: - O autor chama a atenção para que não há nada que autorize o
judiciário a pensar que cabe sempre a ele a palavra final sobre os princípios, ou seja, a
competência para aplica-los não é sua a priori.
Diante disso, o ônus da competência impõe que o juiz, quando na aplicação de
princípios, trate de demonstrar sua competência em detrimento dos outros órgãos estatais,
é necessário um esforço argumentativo nesse sentido. Alguns temas que poderiam ser
abordados nesse esforço argumentativo são os seguintes: (i) existência de normas
complementares dos princípios editadas por algum outro poder; (ii) capacidade dos juízes
para resolverem problemas de justiça distributiva; (iii) a rigidez das normas que
eventualmente sejam criadas na atuação judicial; e (iv) a possibilidade de rever ou alterar
essas normas posteriormente.
Já o chamado “ônus regulador” decorre da premissa de que o julgamento sobre
matéria de direito público baseado em princípios geralmente implica o exercício de
regulação do poder judiciário. O autor procura demonstrar isso com exemplo de
problemas reais que foram judicializados e nos quais o judiciário afasta a solução dada
pelo legislador ou pelo regulador para fazer valer uma solução sua, para tanto, o juiz vale-
se, geralmente, de uma argumentação baseada em princípios. O grande problema é que,
na maioria das vezes, essa argumentação com princípios é superficial, sem uma
compreensão aprofundada da política legal/regulatória que está sendo afastada.
Remetendo-se a um dos exemplos apresentados, o autor afirma que: - “não importam o
arranjo de competências nem a política concebida pelo legislador ao instituir a
regulação de preços de medicamentos, desde que o juiz veja bons princípios no ato
praticado pelo regulador”.
Nesse contexto, o ônus do regulador significa a necessidade de que o juiz, quando
produzir regulação, assuma todas as responsabilidades que são inerentes a estas
atividades, o que vai muito além de desenvolver argumentos superficiais baseados em
princípios.
O autor sugere que a definição dos limites do controle judicial de atos regulatórios
deve passar por questões que não muito além daquelas sugeridas pelas teorias que se
restringem a problemas lógico-formais de legalidade. Deveriam fazer parte das
consideração do juiz que controla atos regulatórios os seguintes ponto: (i) questões
políticas, sociais e econômicas relacionadas à eventual alteração do marco regulatório
pelo judiciário; (ii) consequências, em geral, das decisões que possam alterar a regulação;
e (iii) a rigidez da norma ou regime que pode vir a ser criado pelo judiciário e
possibilidade de alterá-las posteriormente.