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Curso de Especialização “Gestão Pública com ênfase em: Sistema Único da Assistência Social –
Residência Técnica” na modalidade à distância – 2ª edição.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Conceituar a população idosa não é um trabalho fácil, e isto por dois motivos.
Primeiro, pois o envelhecimento da população é um fenômeno ainda bastante recente (visto
que a expectativa de vida em 1960 era de 48 anos e, em 2010, passou a ser de 74 anos).
Segundo, pois a população idosa não é homogênea, passando por histórias de vida bastante
diversas, o que torna impossível conceituar uma velhice, sendo o correto dizer que existem
1
-Possui Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná. Pós-Graduando em Gestão Pública pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa.
2
-Possui Graduação em Serviço Social, Pós graduação na área da Educação e Mestrado em Ciências Sociais
Aplicadas. É tutora online do curso de Pós graduação em Gestão Pública e orientadora deste Trabalho de
Conclusão de Curso.
2
várias velhices. A velhice deixou de ser considerada o fim da vida, adquirindo um novo
sentido social e um novo campo de possibilidades pessoais (REIS, 2011). Até o século XX, a
população idosa era escassa, o que garantia certo status ao idoso que sobrevivia por muito
tempo, principalmente no seio da família. Entretanto, praticamente não participavam da vida
pública e só participavam da vida produtiva idosos de famílias pobres que precisavam
trabalhar no campo ou em indústrias (MUSCARO, 1998).
Durante toda a Antiguidade e a Idade Média, não haviam instituições sociais que se
responsabilizassem pelos cuidados com a pessoa idosa. O crescimento da Igreja enquanto
instituição social central permitia que esta se responsabilizasse pelos idosos e enfermos,
abrigando-os em mosteiros onde podiam “esperar a morte” (MUSCARO, 1998). Em suma,
era comum historicamente que o indivíduo mantivesse-se ocupado em cargos produtivos até
que não tivesse mais condições físicas, sendo a próxima etapa a espera pela morte.
O desenvolvimento social, a promoção de novas medidas de saúde e higiene, etc.,
foram fatores importantes tanto para o aumento da população quanto para o aumento da
expectativa de vida. É a partir de tais avanços que no século XX surgem corpos teóricos e
científicos a respeito da população idosa, no caso a geriatria e a gerontologia (REIS, 2011).
Entretanto, viver mais não necessariamente significa viver melhor. Um dos fatores que
evidenciam esta contradição é a alta taxa de suicídio entre a população idosa:
O suicídio entre pessoas idosas constitui hoje um grave problema para as sociedades
das mais diversas partes do mundo. Estudo realizado pela WHO/Euro Multicentre
Study of Suicidal Behaviour em treze países europeus mostra que as taxas médias de
suicídio entre pessoas com mais de 65 anos nessas sociedades chega a 29/3/100.000
e as tentativas de suicídio, a 61,4/100.000 (MINAYO & CAVALCANTE, 2010, p. 1)
entre a comunidade e o lugar que o indivíduo (especificamente no nosso caso, a pessoa idosa)
como fonte de sofrimento ou perda de sentido foi percebida por Émile Durkheim na sua obra
O Suicídio (1897/2000), especialmente no que o autor francês definiu por suicídio anômico,
no qual há uma desestabilização na vida do indivíduo, resultando na necessidade de uma
adaptação rápida que o sujeito não consegue acompanhar, decorrendo no ato do suicídio.
É evidente que a existência do suicídio como fenômeno social não é recente, seja
especificamente na população idosa, seja na população em geral. No entanto, não podemos
ignorar que a organização social modificou-se muito ao longo das últimas décadas
(evidenciado, por exemplo, pelo aumento da expectativa de vida nacional e mundial). Entre
estas mudanças, podemos destacar o cuidado com a própria pessoa idosa. Enquanto
antigamente era comum que as famílias e as instituições asilares (principalmente de cunho
religioso) se responsabilizassem pelos cuidados daqueles que atingissem a velhice, hoje os
deveres para com a pessoa idosa foram ampliados. Contudo, estas mudanças aconteceram de
forma gradual, com avanços e retrocessos.
A aposentadoria durante boa parte do século XX não era um direito de todos os
trabalhadores, privilegiando trabalhadores urbanos do setor privado e funcionários públicos
(SIMÕES, 2000), principalmente do setor ferroviário, bancário, etc. Um passo importante foi
a promulgação da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que uniformizou os benefícios
previdenciários – porém ainda excluindo trabalhadores urais, domésticas e outras categorias
(REIS, 2011). A LOPS sofreria alterações durante o período da ditadura militar, como no
artigo que se referia à aposentadoria por velhice, e foram finalmente incluídas as categorias
profissionais ainda não cobertas (autônomos, domésticos, profissionais liberais, trabalhadores
rurais, etc.).
As mudanças na estrutura da sociedade e do Estado, que desde a promulgação da
Constituição Federal de 1988 – especificamente em seu artigo 203 –, responsabiliza não só a
família, mas as instituições públicas pelos cuidados da assistência social, fornecem
instrumentos para que possamos pensar em alternativas que produzam um bem-estar social
para a população idosa.
Outro documento de suma importância é o Estatuto do Idoso, aprovado em 2003.
Este declara como responsabilidade sobre o idoso não só a família, mas a comunidade, a
sociedade civil como um todo e o Poder Público. O Estatuto do Idoso não deve ser visto como
uma demanda que veio do Estado sobre a população, mas sim uma demanda desta própria
4
população, das suas transformações nas últimas décadas, requerendo uma reorganização da
sociedade para lidar com esta nova situação.
Portanto, mesmo que o suicídio entre a população idosa não seja um fenômeno novo,
sua existência nos dias atuais revela uma problemática da organização social. Enquanto no
passado o ato de suicídio ou o “esperar a morte” era condizente com o desenvolvimento e as
relações sociais daqueles períodos, existem atualmente condições científicas e sociais para
promover uma nova forma de experienciar esta etapa da vida.
É por isto que compreender o fenômeno do suicídio na população idosa atualmente
significa compreender os aspectos sociais, econômicos e psicológicos que fazem despontar
tais tendências, assim como as possibilidades de intervenção pela sociedade e pelo Estado. É
através da percepção do suicídio como um comportamento social complexo, percebendo a
totalidade das relações que envolvem a pessoa idosa e o processo de adoecimento, que pode-
se atuar de forma mais eficiente sobre o contexto.
Este trabalho, portanto, visa compreender quais os fatores associados ao
comportamento suicida em pessoas idosas e quais as principais formas de intervenção e
políticas públicas encontradas que possam ampliar a qualidade de vida e a autonomia da
pessoa idosa. Para tanto, em um primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica
dos principais trabalhos referentes ao tema nos últimos cinco anos para sintetizar a realidade
da pessoa idosa atualmente. Posteriormente, foi investigada a relação entre esta realidade e a
produção da subjetividade da pessoa idosa, a partir do referencial da Psicologia Histórico-
Cultural. Por último, se buscou conhecer quais as principais formas de intervenção estatal ou
socioassistencial que poderiam impactar positivamente na realidade da pessoa idosa.
Desta forma, um primeiro passo é entender o lugar que a pessoa idosa ocupa na
sociedade atualmente. Isto significa compreender suas relações profissionais, comunitárias,
familiares, etc. Entre as diversas pesquisas, os principais fatores associados à ideação ou
tentativa de suicídio são a presença de doenças físicas ou degenerativas, a presença de
transtornos mentais (principalmente depressão), histórico de violência e abusos, fatores
socioeconômicos, histórico de perdas (emprego, morte do cônjuge ou de filhos, etc.),
abandono e conflitos familiares, entre outros (ALMEIDA, B, 2018).
É importante ressaltar que estes fatores não atuam isoladamente, mas possuem uma
influência mútua que torna a ideação e a tentativa de suicídio um fenômeno complexo de
múltiplas causas. Por exemplo, uma mudança profissional (aposentadoria) – que pode ser
resultado da degeneração física –, requer uma ressignificação do papel do sujeito na
organização familiar e comunitária, altera fatores econômicos, pode produzir tédio ou a perda
de sentido pessoal, desenvolvendo um transtorno depressivo, etc.
Outro fator importante é em relação às perspectivas de futuro que os idosos possuem.
No geral, existe uma preocupação constante com novas perdas, como perder outras funções e
habilidades físicas, de morrerem sozinhos, de problemas financeiros, etc. Entretanto, um dos
medos mais constantes em relação ao futuro é o de dar trabalho, ou seja, de depender cada
vez mais do cuidado de outra pessoa, de aos poucos perder sua autonomia (GIACOMIN &
FIRMO, 2015).
Independente das especificidades é comum a entrada nesta fase da vida humana
acarretar mudanças significativas no lugar que o idoso ocupa socialmente. As transformações
nos diversos aspectos da vida da pessoa idosa requerem também uma reorganização
psicológica que produza um sentido pessoal novo – elemento que será trabalhado no próximo
ponto.
Neste sentido, podemos sistematizar os determinantes sociais do suicídio nas
seguintes categorias: acúmulo de perdas; doenças degenerativas e transtornos psicológicos;
conflitos familiares, violência e abandono; aposentadoria e perda da atividade principal.
Para Silva et al. (2015), ainda há situações de conflito tais como a dificuldade de
convivência, o uso de substâncias por parte de algum membro, a desunião afetiva entre os
familiares, etc., o que pode resultar em um sentimento de angústia, pois “o idoso não sabe
lidar com essas novas situações, sente-se tolhido em seus desejos e modo de pensar” (p.
1707). Assim, os conflitos familiares criam sentimentos de não-pertencimento, com que se
sinta um “estorvo”, como se suas opiniões, valores e desejos não tivessem espaço na
organização familiar.
Esse sentimento de deslocamento é intensificado pelas mudanças na convivência
diária, como a mudança de residência. Não é incomum a pessoa idosa passar a residir mais
perto dos filhos, ou com um dos filhos, ou até mesmo em uma instituição de longa
permanência (ILPI) após a perda do cônjuge ou o avanço da degeneração física. Tal mudança
pode ser necessária para o idoso, devido às novas demandas de cuidado que surgem com o
envelhecimento. Entretanto, é um processo que requer atenção especial, pois pode intensificar
sentimentos de que o idoso é apenas um “objeto” a ser cuidado (SILVA et al.,2015).
Segundo Evangelista et al. (2014), os motivos que levam à institucionalização do
idoso variam. De acordo com a autora, em apenas 46% dos casos a decisão de mudar-se para
uma ILPI foi do próprio idoso, sendo os principais motivos a solidão, os problemas
financeiros e problemas de saúde. Nos casos em que a decisão foi tomada por filhos ou
parentes próximos, há possibilidade da decisão ser mal compreendida pelo idoso. A autora
relata que muitos idosos se sentiram abandonados e revoltados, percebendo nos filhos um
sentimento de “ingratidão”.
Os conflitos familiares podem escalar para situações de violência, seja ela física,
verbal ou patrimonial. Cavalcante et al. (2015) aponta que são registradas cerca de oito
queixas por dia de algum tipo de violência cometida contra o idoso, sendo que em 80% dos
casos o agressor é um familiar ou alguém próximo. Essa violência pode ocorrer tanto em
forma de ameaça ou insultos (psicológica), de agressões, empurrões, tapas (física) ou através
do uso da aposentadoria/benefício da pessoa idosa (financeira/patrimonial). A escalada de
uma situação de conflito para uma violência mais grave fragiliza ainda mais a vítima,
podendo incorrer no surgimento de transtornos depressivos e de ideações suicidas, como
opção para “interromper o sofrimento vivido” (CAVALCANTE et al., 2015, p. 82).
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coordenação motora, além da capacidade cognitiva, como memória, atenção, raciocínio, etc.
(PEREIRA et. al., 2016). É evidente que nem todo declínio das funções motoras e cognitivas
significa uma perda de autonomia para o idoso, ou que estes declínios funcionais são
irreversíveis. Entretanto, a perda destas funções pode acarretar uma maior dependência do
idoso em relação a pessoas próximas.
pessoa idosa, nos contextos socioeconômicos em que este se desenvolveu ao longo de sua
existência, tal como aponta Almeida, M. (2018) e Viapiana (2017). Da mesma forma, a busca
por uma melhora não se encontra simplesmente no indivíduo, mas em toda a rede de apoio
psicossocial e socioassistencial, em instrumentos como o Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), o Centro de Convivência, etc.,
assim como a partir de ações no âmbito da saúde de prevenção e promoção de saúde. Os
contextos de declínio de alguma função, ou do agravamento de alguma condição crônica é um
processo que se inicia muito antes da entrada nesta idade, sendo necessário esclarecer o que
são as mudanças inerentes ao processo de envelhecimento e o que são condições evitáveis ou
superáveis a partir do fortalecimento da rede de saúde e da assistência social.
3. METODOLOGIA
Trata-se de Pesquisa bibliográfica, qualitativa. Este estudo cobre a produção
científica referente à temática do suicídio na população idosa nos últimos cinco anos nos
principais bancos de artigos. Em um primeiro momento foi realizado busca bibliográfica na
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4. DISCUSSÃO
Com base na pesquisa bibliográfica, pudemos verificar que os fatores associados ao
comportamento suicida de pessoas idosas podem ser englobados em quatro grandes grupos,
discorridos acima. Desta forma, é perceptível que o surgimento da ideação ou do
comportamento suicida neste público está relacionado com as mudanças individuais,
familiares e sociais que a pessoa idosa atravessa no curso do envelhecimento.
Considerando isto, compreendemos a Psicologia Histórico-Cultural, tal como
proposta por autores como L.S. Vigotski, A.R. Luria e A.N. Leontiev, como o embasamento
teórico ideal para analisar a dinâmica entre as condições objetivas de vida e os processos
subjetivos decorrentes.
externa e modificando-a por meio desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua
própria natureza”. Logo, o trabalho não é só uma atividade com a qual nos ocupamos durante
a vida adulta. A colocação do autor revele um intercâmbio constante entre a realidade objetiva
sobre a qual atuamos e os impactos dessa atuação sobre a nossa subjetividade.
Neste sentido, a Psicologia Histórico-Cultural traz à luz a dinâmica entre a atividade
e a consciência e a personalidade, explicitando como estas são resultados da atividade que
realizamos. Entretanto, isto não é um caminho de via única, visto que a consciência e a
personalidade direcionam a própria atividade. Desta forma, devemos compreender a dinâmica
entre atividade, consciência e personalidade de forma dialética4.
Um dos conceitos fundamentais para entender essa dinâmica é a Atividade Principal,
tal como formulada por Leontiev (1987) e Vigotski (1996). Segundo os autores, a vida do
indivíduo pode ser separada em diferentes períodos, com atividades próprias, necessidades
específicas, motivações, específicas, etc.
Não se trata da atividade que ocupa mais tempo na vida do indivíduo naquele
período, mas daquela no interior da qual surgem e se diferenciam outros tipos de
atividade, na qual os processos psíquicos particulares tomam forma ou são
reorganizados e da qual dependem, de forma mais íntima, as mudanças mais
importantes, os processos psíquicos e traços psicológicos do indivíduo naquele
estágio (LEONTIEV, 1987, p. 68).
Logo, podemos definir a atividade principal a partir de três características principais:
1) é a atividade em cuja forma surgem outros tipos de atividade; 2) é aquela na qual processos
psíquicos específicos tomam forma ou são reorganizados; 3) é a atividade da qual dependem
as principais mudanças psicológicas na personalidade (LEONTIEV, 2010). Para o autor, a
atividade principal está intimamente vinculada à posição social que a pessoa ocupa e que guia
o desenvolvimento do seu psiquismo5, como por exemplo a atividade escolar durante a
infância ou a atividade de trabalho na vida adulta.
É importante ressaltar que a transição para uma nova etapa da vida do sujeito não
significa o desaparecimento da atividade principal, mas sim sua realocação para um plano
secundário (FACCI, 2004). Por exemplo, enquanto a atividade de estudo é dominante na
4
-Foge do escopo deste trabalho discorrer sobre as especificidades da estrutura da atividade, da consciência e da
personalidade, tais como a relação entre sentido e significado, a relação entre interesses, necessidades e motivos,
etc. Para uma maior compreensão desta dinâmica, ver Martins (2004)
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-Neste sentido, os autores discordam de autores que entendem o desenvolvimento psicológico como resultado
de uma maturação biológica, apesar de não negarem a importância da base física para o desenvolvimento do
psiquismo. O que autores como Leontiev e Vigotski defendem é que a base biológica não é suficiente para
promover este desenvolvimento, sendo necessário se atentar para a atividade social do sujeito e para sua relação
com o meio social em que este se insere, o que pode promover ou não o desenvolvimento de uma atenção
concentrada, do pensamento abstrato, do autocontrole da conduta, etc.
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A partir do texto Princípios das Nações Unidas em Favor da Pessoa Idosa (ONU,
1991), diversas diretrizes foram apontadas no sentido de promover a autonomia e
independência da pessoa idosa, tais como oportunidades de trabalho ou acesso a outras fontes
de renda, acesso a programas educativos e formação adequada, adaptação de ambientes
privados ou públicos às suas condições físicas, etc. Além disto, o documento reforça a
necessidade das pessoas idosas de permanecerem “integradas à sociedade, participando
ativamente na formulação e aplicação das políticas que afetam diretamente seu bem-estar, e
compartilhando seus conhecimentos e habilidades com gerações mais novas” (p. 1)
Neste sentido, é importante analisar e avaliar quais as instâncias socioassistenciais
voltadas para a pessoa idosa6 e de que forma esta pode ou não ser uma fonte de produção de
autonomia pro sujeito, ou se não é uma instância de dependência restritiva. A partir da
pesquisa bibliográfica, é possível vislumbrar quais as possibilidades de atuação e intervenção
junto à realidade da pessoa idosa.
As ILPIs e os Centros Dia são as principais instituições socioassistenciais voltadas
para este público. As Instituições de Longa Permanência são dispositivos para idosos em
situação de vulnerabilidade e que não possuem cuidados familiares – seja por
abandono/negligência, seja por dificuldade dos familiares de proverem os cuidados.
Geralmente são instituições filantrópicas, cujos residentes são idosos com algum grau de
dependência7.
Por serem instituições filantrópicas, sem muitos recursos ou equipe, as ILPIs acabam
sendo “lugares com pouca estimulação, rigidez nas regras e ambientes fechados com pouca
socialização” (ALCÂNTARA, 2018, p. 32), contribuindo para a perda de autonomia e
representação social destes idosos. Por um lado, pode resultar em retirada a autonomia dos
idosos de decidir por seus horários e atividades, tornando-se reféns das regras e da
disponibilidade da instituição. Por outro, a institucionalização e o contato mais direto com
6
- É evidente que não há espaço para analisar todas as organizações voltadas para a pessoa idosa. Para tanto,
recomendamos a leitura de Alcântara (2018),
7
- São definidos três graus de dependência: 1) idosos independentes, mas que usam equipamentos de autoajuda;
2) idosos com dependência em até três atividades de autocuidado, como alimentação, mobilidade, higiene, mas
sem comprometimento cognitivo; 3) idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades
e/ou com comprometimento cognitivo severo.
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Os CDI são dispositivos de cuidado e atenção à pessoa idosa durante o dia, sem a
institucionalização. Desta forma, os cuidados são providos durante o dia, assim como
realização de atividades com a pessoa idosa e com familiares, e o idoso retorna a sua própria
residência no fim do dia.
Outra possibilidade de atuação é junto às Universidades Abertas da Terceira Idade
(UNATI). Estas são espaços acadêmicos que desenvolvem atividades com a comunidade,
objetivando manter a pessoa idosa em contato com o meio social mais amplo. As atividades
possuem caráter educativo, científico e cultural, embora também as atividades sejam
desenvolvidas pensando na sociabilidade, a promoção da qualidade de vida, o autocuidado, a
atividade física, etc (FRANCO, 2017). Segundo a autora:
As atividades realizadas nas UNATIS contribuem para a socialização dos direitos do
idoso, geralmente são oferecidos cursos, oficinas que contribuem para vivência do
envelhecimento ativo e sustentável, com cargas horárias entre trinta e quarenta
horas; são desenvolvidas atividades de Arte e Cultura que objetivam a promoção da
consciência crítica, fortalecimento de identidades e do seu valor; os eventos são
pensados objetivando dinamizar a socialização, interação e lazer; os serviços
buscam oferecer cursos de cuidadores de idosos às comunidades e familiares. Os
cursos voltados à saúde da pessoa idosa, buscam, através de atividades motoras e de
lazer, estimular a aceitação das limitações motoras e superação de dificuldades
motoras através da consciência corporal (FRANCO, 2017, p. 78.
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Como aponta a autora em seu estudo, as UNATIs são espaços de reflexão sobre a
posição social da pessoa idosa. Para além da divulgação de conhecimento científico, as
UNATIs são locais de sociabilidade e de contato intergeracional, podendo ter consequências
positivas sobre a qualidade de vida dos sujeitos.
Por último, ressaltamos os Centros de Convivência como espaço de participação
social e de criação de vínculos. Estes são locais com função tanto de lazer, promovendo
diversas atividades culturais, artísticas e de convivência, quanto política, discutindo sobre
“como deve ser vivida a velhice e como deve ser a experiência de ser idoso” (SILVA, 2017, p.
84). Segundo a autora, o Centro de Convivência pode vir a compor uma rede de solidariedade,
com função de promoção do cuidado mútuo entre os participantes, referente tanto a questões
de convivência e conflitos familiares quanto a problemas de saúde ou financeiros.
Como dito anteriormente, não é objetivo deste trabalho exaurir todas as
possibilidades de atividade social que incluem ou podem vir a incluir a pessoa idosa. Para
além das ILPI, dos Centros Dia, das Universidades Abertas da Terceira Idade e os Centros de
Convivência, existem diversos dispositivos sociais que podem ser desenvolvidos para
promover uma maior sociabilidade. Vale lembrar que estas instituições não podem ser
reduzidas à função de “manter o idoso ocupado”. Pelo contrário, são instrumentos de
produção de novas atividades e novos sentidos pessoais, de fomento de novos interesses,
novos vínculos (ou manutenção dos já estabelecidos). Da mesma forma, estes dispositivos são
apenas uma parte das possibilidades de intervenção junto à pessoa idosa. Há de se considerar
outras possibilidades de intervenção envolvendo a família, o ambiente de trabalho, as
instituições de saúde, etc.
Considerando que, como visto anteriormente, que a ideação e a tentativa de suicídio
é resultado não só de uma má adaptação da pessoa idosa às suas novas condições sociais, mas
também uma má adaptação do meio social às necessidades específicas das pessoas idosas,
pensar em como as instâncias e políticas públicas podem atuar para inserir os sujeitos nos
espaços sociais é um trabalho essencial no combate ao crescente número de suicídios na
população idosa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção da autonomia e a ampliação dos espaços de convivência em que o idoso
pode se inserir é fundamental ao considerarmos as questões e conflitos que podem levar à
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ideação suicida. É evidente que alguns destes espaços já existem na rede socioassistencial,
sendo necessário reforçar sua importância e capacitar seus profissionais a enfrentarem esta
situação.
Porém, isto não significa que ações específicas voltadas para a prevenção do suicídio
de pessoas idosas não devam ser desenvolvidas, sendo neste caso urgente a parceria entre as
políticas públicas da assistência social, de saúde e educação, etc. O suicídio é um fenômeno
complexo de múltiplas causas. Associá-lo simplesmente à “depressão” ou “falta de vontade de
viver” reduz essa complexidade a aspectos individuais, colocando sobre o sujeito portador do
sofrimento o início e fim do fenômeno.
Neste sentido, revisar a produção científica a respeito do tema se torna fundamental
para compreender quais ações e instituições podem produzir um impacto positivo ou negativo
na qualidade de vida e bem-estar da pessoa idosa, quais contextos são produtores de
autonomia, e quais limitam suas capacidades e possibilidades de atuação e desenvolvimento
pessoal e social.
O estudo apresentado aqui revela um panorama geral da situação da pessoa idosa
com ideação suicida. Importante desta apresentação, em primeiro lugar, é pontuar que o
contexto no qual a ideação ou a tentativa de suicídio surge não é simplesmente uma situação
atípica, mas a realidade de uma boa parcela da população idosa. Situações como
aposentadoria, abandono ou negligência familiar, isolamento social, surgimento ou
agravamento de condições físicas, são acontecimentos frequentes dentre essa parcela da
população, ressaltando por que a pessoa idosa tem uma das maiores taxas de suicídio
atualmente (BRASIL, 2017). A heterogeneidade da população idosa não significa que não
existam experiências e vivências comuns que devam ser avaliadas e, se possível, alterada para
proporcionar uma melhor qualidade de vida.
O fortalecimento da rede socioassistencial e das organizações do terceiro setor
(instituições de longa permanência, associações de aposentados, etc.) é um caminho com
diversas possibilidades. Isto também porque a política do idoso é ainda bastante recente.
Porém, sua efetivação é de extrema urgência, visto a aceleração do envelhecimento
populacional no país e a inabilidade da sociedade de adaptar-se a essa nova realidade.
Este trabalho tinha como objetivo compreender os principais fatores associados à
ideação ou tentativa de suicídio na pessoa idosa, assim como os principais dispositivos
socioassistenciais que podem ser usados na promoção do envelhecimento ativo, da melhora na
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24
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São Paulo: Dissertação (mestrado) – Fundação Antônio Prudente, Curso de Pós-Graduação
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