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CAPÍTULO 3
A) AS BASES DA TRANSIÇÃO
1. Generalidades
\
Como ao estudar a época colonial, também agora concentrare
mos preferencialmente nossa análi^énaquelas sociedades que tinham
na escravidão negra a base de suàs relações de produção.
Na década de 1940 se geraram duas correntes explicativas da
abolição, destinadas a exercer poderosa influência durante longos
anos. Uma delas é consequência lógica das idéias de F. Tannenbaum
quanto à existência de diferentes sistemas escravistas nas Américas
— teoria já mencionada em nosso capítulo sobre a Colônia. Nas
palavras do autor:1'
J'r
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1. Caracterização geral
J
A primeira constatação que resulta da comparação das econo
mias da América Espanhola com as do Brasil e do Caribe é de sua
relativa heterogeneidade. Celso Furtado formulou uma sugestiva hipó
tese explicativa do papel que havia cabido aos centros mineiros de
exportação em um e outro casos. O ciclo brasileiro do ouro, no
século X V III, seria o principal responsável pela relativa interde
pendência da economia brasileira no século X IX . A crise da prata, na
América Espanhola de 1650, havia decidido a fragmentação, as ten
dências desagregadoras, dos dois séculos seguintes, que são os de
constituição das identidades e dos Estados nacionais.™ Uma análise
160
histórica mais precisa não confirma, no entanto, esta linha de explica
ção. A mineração da prata também experimenta um auge notório no
século X V I11. Parecería que o mais decisivo no contraste é o fato de
que o sistema de p la n t a iio n escravista dominante no Brasil e nas Anti-
Ihas é, na diversidade de casos, muito mate homogêneo como estru
tura sócio-econômica. Em outras palavras, o sistema colonial estru
turado na base da exploração do trabalho indígena oferece muito mais
variantes e também muito mais possibilidades de transformação ao
longo do tempo; o sistema escravista, em troca, exige, para funcionar
como tal, um número limitado de restrições, como se acaba de mostrar.
Esta variedade de situações faz por certo difícil, e às vezes peri
goso, o estabelecimento de hipóteses explicativas gerais. O problema
maior deriva, porém, do conhecimento muito desigual com que con
tamos sobre os diversos casos. Com estas precauções em mente, deve
ficar claro que o que segue são hipóteses de trabalho, que a investi
gação dos anos vindouros deverá esclarecer, completar e muitas vezes
; dtcluir.
A constituição de um mercado de terras está presente em todos
os problemas básicos da transição nos casos que ora nos ocupam.
Isto implica que antes da reforma existiram grandes extensões de terra
geralmenle adequadas para os cultivos de exportação, que por meca
nismos institucionais estavam, desde a época colonial, "imobilizadas”,
significa dizer, não podiam ser compradas ou vendidas. A chamada
desamortização consistirá em trazer esses bens imóveis à circulação
econômica. A Igreja e as ordens monásticas por um lado, as comuni
dades indígenas e as propriedades municipais ( ejid os) por outro
serão afetadas por um processo de avanço inexorável da propriedade
privada. Mas o panorama ficaria incompleto se não se mencionasse
a venda de terras públicas; num lapso de tempo, geralmenle curto,
estas grandes extensões de terreno, às vezes desocupadas e inexplo
radas, outras apropriadas de fato, passariam ao domínio privado.
A constituição de um verdadeiro mercado de terras foi um pro
cesso geralmente violento. A Igreja conseguiu estruturar, em muitos
casos, uma sólida resistência conservadora, mas que na maioria das
vezes foi vencida num curto espaço de tempo. As comunidades indí
genas estabeleceram uma resistência muito mais tenaz e duradoura;
ein alguns casos chegaram a obter o reconhecimento legal que as
primeiras leis republicanas invariavelmente lhes negavam. Percebe-se
161
também, na evolução interna das próprias comunidades, uma erosão
lenta no funcionamento da propriedade e da organização do trabalho
coletivas.
Uma consequência maior das mudanças na estrutura agrária foi
a formação de um mercado dc trabalho adaptado às necessidades da
economia de exportação. O assalariado típico, o proletariado comple
tamente despossuído dos meios de produção, não foi, porem, na Amé
rica Latina do século X IX a forma de trabalho predominante. Entre
a peonagem próxima á servidão e o assalariado livre, sobrevive, e
em muitos casos aparece, toda uma gama de situações intermediá
rias. O efeito mais imediato de um mercado de trabalho deste tipo
c o fato de que o custo de reprodução da força de trabalho não estará
determinado pela economia mercantil, mas pelas características c dinâ
mica destes setores dc produção não capitalistas. Numa primeira fase
esta mesma situação obrigará à persistência de formas de coação para,v
o recrutamento da mão-de-obra. a/
,A' '
O estabelecimento de colonos europeus foi uma meta persegui
da por todos os governos da época. Porém, em nenhum dpi rasos
que estudamos a imigração teve importância numérica ijuànto ao
mercado de mão-de-obra. Sua significação é importante,, ém contra
partida, do ponto de vista empresarial, já que os imigplntes cumpri
ram um destacado papel como ativos promotores d^s''atividades agrí
colas e comerciais de exportação, as artesanais i|Tbanas, as relacio
nadas com a educação, etc.
A constituição de um mercado de terras teve também particular
importância como garantia para a obtenção de financiamento neces
sário, tanto para as ferrovias e o transporte em geral, como para as
próprias atividades de exportação. Em outras palavras, as terras
constituíram uma forma dc remuneração do Estado e também uma
garantia para as inversões em obras públicas. Por sua vez, o em
préstimo sobre hipotecas operou como um mecanismo básico de
financiamento agrícola.2
162
processos político da reforma havia sido concluído. Como dissemos,
a Igreja e as ordens religiosas acabaram por perder sua nada despre
zível fortuna territorial; a persistência de formas de propriedade co
munal refere-se então às comunidades indígenas e a variantes menos
freqüentes como os ejidos municipais. Podemos distinguir duas situa
ções fundamentais: 1?) uma, na qual estas formas comunais são
eliminadas quase por completo a ponto que, ao persistir, não se
constituíram em um setor chave para o funcionamento da economia
de exportação, como é o caso do México, El Salvador, Colômbia,
Venezuela e Chile; 2?) outra, na qual as comunidades subsistem
solidamente articuladas à expansão do setor exportador: Equador,
Peru, Bolívia e Guatemala exemplificam em graus diversos esta se
gunda variante.
México11
87. Cf. Mark Jefferson, Peopling the Argentina Pampa, American Geo
graphical Society, Nova York, 1926; Carl Solberg, Immigration and Nationa-
lisin, Argentina c Chile, 1890-1914, The University of Texas Press, Austin-
Londres, 1970; James R. Scobie, Revolución en Ias Pampas, trad. de F. Mazía,
Solar/Hachette, Buenos Aires, 1968; Torcuato S. Di Telia, et alii, Argentina,
Sociedad d e Masas, Eudeba, Buenos Aires, 1965; Torcuato S. Di Telia e Túlio
Halperin Donghi (eds.), L os fragmentos dei poder, Ed. Jorge Álvarez, Buenos
Aires, 1969; Tulio Halperin Donghi, "Argentina”, in Latin America, A gu ide...,
op. cit., in n.° 35, pp. 49-162.
transporte. A extensão geográfica das rotas comerciais e a precarie
dade das comunicações faziam a economia do Vice-Reinado depender
de um delicado equilíbrio inter-regional que se rompeu com desenvol
vimento muito rápido da região dos pampas. A hegemonia econômica
e política do litoral argentino começou com a própria criação do
Vice-Reinado em 1776, porém só adquiriu sua forma definitiva ao
final do século X IX , quando a estrada de ferro integrou as economias
do interior em um verdadeiro mercado nacional.
A pecuária da região platina se desenvolve em função das expor
tações de couro e sebo, e desde princípios do século X I X com a
difusão das charqueadas. Tratava-se de uma atividade totalmente ex
tensiva, na qual a inversão de maior valor era o gado.88 Como con-
seqüência da guerra de Independência está a ruína da pecuária de
Entre Rios e Uruguai, por volta de 1815; assim a zona rural de
Buenos Aires torna-se a principal beneficiária das perspectivas co
merciais favoráveis para estes produtos. A pecuária da charqueada
entra em crise na década de 1830: grandes secas em 1830-1832 e o
bloqueio francês de 1838-1839; em 1840 estabelece-se a competição
das charqueadas do sul do Brasil, de Santa Fé, Corrientes e Entre
Rios. É nesta conjuntura desfavorável que certos pecuaristas intro
duzem ovelhas de raça merino, abrindo o caminho para as expor
tações de lã.
O ciclo da lã muda radicalmente, desde meados do século, as
características do desenvolvimento da pecuária. A mestiçagem e o me
lhoramento genético dos animais, o cercamento e alambramento dos
campos e uma mão-de-obra com certo grau de especialização torna
ram-se requisitos indispensáveis. Entre 1865 e a década de 1880 a
lã representou quase 50% do total de exportações; o restante incluía
os couros, o charque e subprodutos.
Os dois processos de expansão que acabamos de resumir exigi
ram um crescente avanço da fronteira em direção ao sul e ao oeste
do pampa. A primeira expansão, manifestada nos anos de 1820, cul
mina com a “campanha de Rosas ao deserto” em 1833. As leis de
enfiteuse expedidas em 1822 e 1826 converteram-se, na prática, em um
92. Cf. Miguel Angel Cácano, op. cit.; Gastón Gori, Inmtgración y co-
lonización en ia R epública Argentina, F.udcba, Buenos Aires, 1964.
93. H. S. Ferns, Gran Bretana y Argentina en ei siglo XIX, trad. de A.
L. Bixio, Editorial Solar/Hachette, Buenos Aires, 1968, pp. 486 e seguintes.
94. Para uma descrição das economias regionais de fins do século X IX
até os anos de 1920, cf. Pierre Dcnis, L a R epublique Argentine, ia mise en
valeur du pays, Armand Colin, Paris, 1920.
196
Uruguai93
95. Cf. Juan Antonio Oddone, L a form ación d ei Uruguay m oderno, Eu-
deba, Buenos Aires, 1966; Simon Hanson, Utopia in Uruguay, Nova York,
1938; Luis Carlos Benvenuto, Breve historia dei Uruguay (Economia y So-
ciedad). Editorial Arca, Montevidéu, 1967; Raúl Jacob, “Algunas considera-
ciones acerca de la formación econômica dei Uruguay 1726-1930", comunica
ção apresentada ao V Sim posio d e Historia Econôm ica d e A m érica latina,
Comisión de Historia Econômica de CLACSO, Lima, 5-8 de abril de 1978
(mimeografado).
96. Cf. Nelson de la Torre, Júlio Rodríguez e Lucía Sala de Touron,
La Revolución agraria artiguista, Montevidéu, 1969 (2.‘ ed., Siglo X X I, Mé
xico, 1978).
se alingiu uma certa estabilidade institucional, que somente se com
pletaria a partir de 1904.
A apropriação efetiva do solo ocorrerá, depois da Guerra Gran
de, com a difusão do aíambramento9798e atingirá seu ritmo mais intenso
depois de 1871. Deve notar-se que como o aíambramento precedeu à
medição geral do país, não houve controle algum sobre as terras
fiscais. O Código Rural de 1876 definiu juridicamente as propriedades,
e através da reforma dc 1879, que estabeleceu a “medição forçosa"
na construção dos alambrados, prejudicou os pequenos proprietários,
que impossibilitados de arcar com os gastos do cercamento tiveram
que vender as terras e o gado. A pacificação da zona rural c a cen
tralização do poder, mais ou menos efetivas desde o governo de Lator-
re, constituíram a condição política destas mudanças, as quais refle
tem também a lenta agonia do charque e o auge crescente das expor
tações de lã.
Com a crescente penetração do capital britânico,!,s muito notável
depois de 1870, delineia-se uma equação de interesses, similar, por
outro lado, à que existia na outra margem do Prata, que envolvia
proprietário de terras e comerciante, porto e zona rural, Londres e
Montevidéu em um círculo estreito, que pode considerar-se completo
com o aparecimento do frigorífico no final do século X IX .
A imigração européia desempenhou uin papel preponderante na
configuração do Uruguai.'”' Na década de 1830 começa a chegada de
reduzidos contingentes de franceses, italianos e espanhóis. O censo
geral de 1852 arrolou um total de 131.969 habitantes, dos quais
22% eram estrangeiros. Os colonos europeus continuaram chegando,
em escala reduzida, durante a segunda metade do século. Muitos se
integraram às atividades da pecuária (sobretudo a criação de ove
lhas) e acabaram formando parte da classe dos proprietários de terras.
Note-se que ao constituir-se a “Associação Rural do Uruguai" em
J871 , da relação dos 165 fundadores cerca de 32% eram estrangeiros.
Mas uma vez delimitada a propriedade rural, uma expansão da pe
cuária extensiva como a uruguaia, que por razões ecológicas não podia
recorrer à associação com a agricultura, já não deixava lugar para
novos colonos.
97. Cf. Raúl facob. Consecuencias sociales dei alam bram ienlo (1872-1880).
Ediciones dc Ia Banda Oriental. Montevidéu. 1969.
98. Cf. Pelcr Winn. "Britisb Informal Empire in Uruguay ir. lhe Ni-
neteenth Century". in Pasl and Present. n." 73, novembro de 1976, pp. 100-126.
99. Cf. )uan Anlonio Oddone, c/p. cit.
Os saldos dos movimentos migratórios crescem com o novo
século até alcançar uma média anual de cerca de 2 0.000 entre os anos
de 1906 e 1914. "O censo de 1908 indicou que o Uruguai tinha um
milhão de habitantes, dos quais 17% eram estrangeiros. Montevidéu
contava com 309.231 habitantes, ou seja, uma terça parte do total
da população do país. Este fenômeno de macrocefalia não era novo,
pode dizer-se que existe desde a fundação de Montevidéu em 1726,
numa zona rural quase despovoada. Mas no momento em tela não
era só uma expressão passageira dos transtornos civis ou de uma
inesperada prosperidade portuária. Refletia, em verdade, um cresci
mento econômico extensivo, que só podia absorver mão-de-obra
adicional através de um setor de serviços cada vez mais hipertrofiado,
e de incipientes atividades industriais.
100. Cf. Caio Prado (unior. Historia Econôm ica dei Brasil, irad. de H.
Jufrc Barroso, Editorial Futuro, Buenos Aires, 1960; Affonso de E. Taunay,
Pequena História do Café no Brasil, Edição do Departamento Nacional do
Café, Rio de Janeiro, 1945; Carlos Guilherme Mola (ed.), Brasil em Perspec
tiva. Difusão Européia do Livro, São Paulo, t9734; Celso Furtado, Formación
Econôm ica dei Brasil, op. cit.; Pierre Monbeig, Pionniers et Planteurs de São
Paulo. Armand Colin, Paris, 1952.
101. Calculado segundo as cifras de Monbeig, op. cit., p. 14.
alcance nacional.,0T Por outro lado, São Paulo não foi a única região
com volume significativo de exportações, ainda que nepmima outra
região tenha conseguido um auge tão intenso e duradqúro. A Bahia
recebe, com o cacau, um novo impulso, sobretudo nos anos 1880-
1905, até que Gana supera o Brasil no mercado mundial do cacau
e a produção baiana é relegada a um lugar secundário. A borracha do
Amazonas oferece entre 1890 e 1912 outro exemplo de fugaz pros
peridade.
As imensas reservas brasileiras de seringueiras tornaram-se eco
nomicamente atraentes desde o momento em que houve utilizações
industriais da borracha em grande escala (processo de vulcanização,
1842). As primeiras exportações datam de 1827 e a partir de então
crescem continuamente, alcançando seu apogeu nos anos retromencio-
nados. A selva amazônica constituiu, nesta época,«uma pujante zona
de fronteira a que chegavam os migrantes procedentes do Nordeste
brasileiro (afetado pela grande seca de 1 8 77-1880). Mas a explora
ção foi meramente extrativa, razão pela qual a frente pioneira deslo
cou-se acompanhando o curso do Amazonas e de seus principais
afluentes (únicas vias de comunicação). Caio Prado Jr. afirma, com
razão, que em vez de “uma sociedade organizada, a Amazônia destes
anos de febre e de borracha terá o caráter de um acampamento”.107108109
A organização econômica da coleta do látex era tão primitiva
quanto a técnica empregada. A especulação, em benefício de uma
vintena de firmas exportadoras,100 constitüju um traço dominante em
uma cadeia de interesses que passava, sucessivamente, pelos aviado
res e os patrões e se encerrava nos seringueiro^ (trabalhadores dire
tos). Estes úlitmos' estavam invariavelmente endividados com os
patrões, que lhes compravam a goma e lhes vendiam o necessário
para a subsistência. Os aviadores eram os intermediários entre os
patrões e os exportadores, estes últimos residentes em Manaus ou
Belém. A distância dos centros povoados e os inevitáveis, problemas
de abastecimento faziam com que o custo de vida fosse extrêmamente
elevado e que os seringueiros não tivessem forma possível de\scapar
ao endividamento com os comerciantes.
Costa R ic a " 1
om
de 65.000 habitantes em 1824), na qual a herança colonial era, do
ponto de vista econômico, muito frágil. A população estava assentada
em núcleos dispersos, no fértil vale central, e se dedicava à agricul
tura de subsistência. Uma estrutura social pouco diferenciada, iguali
tária na pobreza geral, relacionava a vida e a fisionomia do país.
A expansão da cultura do café permitiu assegurar, desde a dé
cada de 1830, uma rápida e precoce integração ao mercado mundial.
A agricultura de exportação se desenvolve através de um lento pro
cesso de ocupação de novas terras (o limite ecológico da zona apta
para o café é atingido em 1930, numa região, o vale central, com
somente 2.700 knt- de extensão). A imigração européia, promovida
pelo governo, teve um escasso êxito. O fluxo migratório europeu
reduziu-se, em consequência, a um punhado de empresários e comer
ciantes que chegariam a dominar, precisamente, os negócios do café.
A colonização dependeu, então, exclusivamente do crescimento demo
gráfico interno; ainda que este fosse elevado (provavelmente cerca
de 2% ao ano a partir de 1 8 6 0 ), tanto o escasso núcleo inicial de
população como as exigências de mão-de-obra da cultura do café
impuseram um ritmo muito lento na expansão da frente pioneira.
Houve três mecanismos básicos na conformação da propriedade
territorial: a dissolução dos ejidos e terras comunais dos povoados de
criollos e das pouquíssimas comunidades indígenas, a apropriação das
terras devolutas, e as compras e vendas dc terras na zona de colo
nização mais amiga. O caráter de região vazia permitiu que se cons
tituísse com rapidez um mercado de terras sem que ocorressem signi
ficativas convulsões internas. O traço mais notório da estrutura agrá
ria gerada pelo café é a ausência de concentração na propriedade
da terra. A maior parte da produção estava nas mãos de camponeses
parcelários. Estes trabalhavam em suas próprias parcelas, e nas épocas
de colheita também o faziam nas grandes fazendas e no beneficia-
mento dos grãos.
Esta ausência de concentração fundiária — em 1935 o tamanho
medio de uma fazenda de café na região do planalto central era
inferior a 15 hectares; segundo Carolyn Hall, em 1933 as grandes
fazendas (superiores a 35 hectares) não ocupavam mais de 25%
das terras destinadas ao café — tez com que as relações de dominação
se estabelecessem na esfera da comercialização e beneficiamento do
café. Nestes setores os negócios estavam nas mãos de um reduzido
grupo de empresários, que mantinham estreitos vínculos com os inte
resses financeiros britânicos e que dominaram a vida política do país.
0f)0
I i Em resumo, no caso da Costa Rica as transformações estruturais
, 1 exigidas pelo auge cafeeiro ocorreram de forma gradual, sobretudo
entre 1840 e 1900. A expansão agrícola é resultante da colonização
interna, seu dinamismo dependeu internamente do crescimento vege-
‘ [ativo da população e da oferta abundante de terras com excelentes
condições (incluindo as facilidades de transporte) para o cultivo do
café.
I
V
Em vários países da América Latina o processo de transição
ao capitalisriK^ periférico não pode ser analisado de forma adequada,
com a tipologià\gue vimos utilizando ao longo desle capítulo.
' Porto Rico1,s passa, sem interrupção, de uma ^ituação colonial
; a outra. Espanha cede a ilha aos Estados Unidos pelo Tratado de
| Paris ( 1 8 9 8 ) . De população majoritariamente espanhola, a plantaúon
escravista não havia tidò na ilha um grande desenvolvimento. O
auge agroexportador virá dèjrois da anexação e estará centrado no
açúcar. Umas poucas empresas norte-americanas controlaram a maior
parte das terras próprias para o cultivo da cana-de-açúcar e, através
dos engenhos, subordinaram os pequenos produtores independeptes
que conseguiram subsistir. A monocultura implantou-se solidamente
na ilha, sob padrões puramente capitalistas.
A evolução da República Dom inicana"11 é rica em vicissitudes.
A revolução haitiana convulsionou a pobre e estagnada colônia espa
nhola, convertendo-a em campo de batalha e área de ocupação até
1844. A primeira república, organizada neste ano, precipitou-se num
período de instabilidade e confusão até que em 1861 o presidente
Pedro Santana solicita a anexação à Espanha. Mas a restauração
colonial foi efêmera, os gastos e as incessantes revoltas internas pro
vocaram a retirada espanhola em 1865. Em 1868, o caudilho Buena-
ventura Báez fez gestões visando à anexação pelos Estados .Unidos,
orto