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CAPÍTULO 10

ACÚSTICA DE EDIFÍCIOS

Índice
10.1 Introdução ....................................................................................................................... 1
10.2 Sons de Condução Aérea .............................................................................................. 5
10.2.1 Situação Ideal – Sem Influência da Transmissão Marginal .................................... 6
10.2.2 Situação Real – Com Influência da Transmissão Marginal................................... 15
10.2.3 Situação Real – Entre o Exterior e um Espaço Interior ......................................... 20
10.2.4 Critérios de Desempenho Acústico ....................................................................... 22
10.3 Sons de Condução Sólida (ou de Percussão)........................................................... 24
10.3.1 Situação Ideal – Sem Influência da Transmissão Marginal .................................. 24
10.3.2 Situação Real – Com Influência da Transmissão Marginal................................... 30
10.3.3 Critérios de Desempenho Acústico ....................................................................... 34
10.4 Lei da Massa ................................................................................................................. 34
10.5 Previsão do Isolamento Sonoro ................................................................................. 50
10.5.1 Previsão do isolamento sonoro a sons de condução aérea.................................. 50
10.5.2 Método Gráfico ...................................................................................................... 50
10.5.3 Modelo Misto ......................................................................................................... 52
10.5.4 Previsão do isolamento sonoro a sons de percussão ........................................... 74
ANEXOS ..................................................................................................................................... 82

CAPÍTULO 4 4
CAPÍTULO 5 5
CAPÍTULO 6 6
CAPÍTULO 7 7
CAPÍTULO 8 8
CAPÍTULO 9 9
CAPÍTULO 10 10
Física das Construções

10.1 Introdução

O conceito de isolamento sonoro pressupõe a existência de dois espaços: um espaço emissor


(que pode ser um local fechado ou o ambiente exterior) e um espaço receptor no qual o “som”
percebido seja entendido como “ruído”. Deste modo, uma primeira classificação na análise de
um problema de isolamento sonoro pode basear-se na localização do espaço emissor, ou seja,
a proveniência da fonte de ruído:
1
- Isolamento sonoro a sons provenientes de um espaço interior ao edifício;

- Isolamento sonoro a sons provenientes do exterior.

Por outro lado, um problema de isolamento sonoro pode ser também classificado de acordo
com o modo como se processa a emissão e propagação do ruído no espaço emissor, uma vez
que a transmissão do ruído se processará sempre pela vibração dos elementos construtivos do
edifício (a diferença reside apenas no modo como esses elementos são excitados), sobretudo
os confinantes com o espaço receptor (no caso dos dois espaços serem contíguos).

Quando a emissão e propagação do ruído se processa unicamente através da vibração do ar


contido no espaço emissor por solicitação de uma dada fonte (por exemplo uma televisão em
funcionamento), trata-se de um problema de isolamento sonoro a sons de condução aérea. No
caso da emissão e propagação do ruído resultar apenas da vibração de elementos sólidos por
acção directa da fonte sonora (por exemplo o arrastar de móveis sobre uma laje), trata-se de
um problema de isolamento sonoro a sons de condução sólida (habitualmente designado por
isolamento sonoro a sons de percussão) (Figura 10.1).

Figura 10.1 – Diferença entre sons de condução aérea e sons de condução sólida ao nível da
geração e propagação do ruído (Patrício 2003)

Note-se, contudo, que a geração dos sons de percussão implica também, por vibração dos
elementos construtivos, a transmissão de energia sonora por via aérea para o compartimento
emissor, que por sua vez se poderá propagar por esta mesma via para o espaço receptor
(embora na prática, na maioria das situações, esta componente possa ser desprezada).

1
Refere-se neste capítulo “isolamento sonoro a sons…” e não “isolamento sonoro a ruídos…”, bem como
“sons de condução aérea/percussão” e não “ruídos…” em consonância com a legislação em vigor
(Decreto-Lei n.º 129/2002) e toda a normalização neste domínio, apesar da segunda designação ser
mais condizente com a distinção som/ruído.

10.1
Física das Construções

A Figura 10.1 permite também ilustrar o facto de que enquanto os sons de condução aérea
aére são
sobretudo condicionantes para as condições acústicas
ústicas dos espaços adjacentes ao local da
emissão, os sons de percussão são passíveis de fazer sentir a sua acção em espaços mais
distantes, consequência do tipo de propagação das ondas sonoras e do amortecimento interno
dos meios de propagação correntes (paredes de alvenaria e lajes em betão armado) ser muito
reduzido
eduzido (da ordem de 0,5 a 1%).

Quer os sons de condução aérea quer os de percussão podem ser provenientes do exterior do
edifício (Figura 10.2). Contudo,
Contudo e exceptuando algumas situações particulares (por
( exemplo o
metropolitano), a análise dos sons de percussão centra-se em regra naqueles que têm origem
no interior dos edifícios e, em situações correntes, apenas nos associados à excitação de
elementos horizontais (pavimentos), visto que se admite ser possível evitar a excitação de
elementos verticais sem prejudicar ou sequer limitar a sua utilização quotidiana. Já no caso dos
sons de condução aérea devem considerar-se fontes interiores e exteriores aos edifícios.

Figura 10.2 – Exemplos de sons de condução aérea e de percussão com origem no exterior
dos edifícios (Souza et al. 2003)

Exceptuando
ptuando em situações de ensaios laboratoriais,
laboratoriais, a transmissão sonora entre dois espaços
por via aérea ou sólida efectua-se
efectua se sempre através da vibração quer do elemento separador
entre os espaços emissor e receptor (transmissão directa), quer dos demais elementos
eleme que
delimitam os dois espaços (transmissão marginal) (Figura
( 10.3).

A análise (e resolução) de um problema de isolamento sonoro implica a consideração destes


dois aspectos, sob pena de se revelar ineficaz (Figura
( 10.4),
), exceptuando eventuais casos em
que a transmissão marginal possa ser considerada desprezável – por exemplo uma situação
de isolamento sonoro a sons aéreos entre dois espaços em que os elementos
mentos construtivos
construtiv de
contorno possuam um desempenho (índice de redução sonora Rw – ver §10.2.1
10.2.1) muito superior
(da ordem dos 10 dB) ao do elemento de separação.

10.2
Física das Construções

Figura 10.3 – Processos de transmissão sonora directa e marginal entre um espaço emissor
(E) e espaços receptores contíguos (R) (Hawaphon)

Figura 10.4 – Exemplo de uma proposta de resolução ineficaz de um problema de isolamento


sonoro por omissão da contribuição da transmissão marginal (Acústica Integral)

Na prática importa ainda considerar eventuais transmissões por via aérea indirecta (também
designadas por transmissões “parasitas”) em consequência por exemplo da existência de um
sistema de ventilação comum entre dois espaços (Figura 10.5).

Refira-se a propósito que uma análise detalhada de um problema de isolamento sonoro poderá
implicar a consideração da emissão de ruído associado ao funcionamento de equipamentos e
instalações, incidindo particularmente nos seguintes pontos:

- Transmissão de ruído em condutas de AVAC;

- Isolamento de vibrações.

10.3
Física das Construções

Figura 10.5 – Transmissão “parasita” através de uma conduta de ventilação (fenómeno


também designado como interfonia) (Hamayon 1996)

Na ausência de ensaios de caracterização laboratorial, a previsão do isolamento sonoro a sons


de condução aérea de elementos construtivos (simples, duplos ou triplos) é um processo muito
complexo, cuja modelação fiável depende de inúmeros factores. Apresentam-se de seguida os
principais aspectos que condicionam desempenho de um elemento construtivo corrente (por
exemplo uma parede de alvenaria, uma laje em betão armado, um vidro, etc.):
- Frequência da onda sonora incidente;
- Ângulo de incidência da onda sonora;
2
- Massa superficial (kg/m ) do elemento construtivo;
2
- Rigidez do elemento construtivo – módulo de Young (N/m ) e coeficiente de Poisson (-);
- Amortecimento interno do elemento construtivo;
- Dimensões do elemento construtivo.

No caso da existência de uma caixa-de-ar (elementos duplos ou triplos) o isolamento a sons


aéreos será ainda influenciado por outros factores, dos quais se destacam:
- Dimensão da caixa-de-ar;
- Presença ou não de material de absorção sonora na caixa-de-ar;
- Existência e forma de ligação entre os panos dos elementos construtivos.

Por conseguinte, sempre que existam ensaios de caracterização laboratorial disponíveis para
uma dada solução construtiva, a sua utilização deverá ser preferida face aos resultados obtidos
através de modelos de cálculo (recomendação também válida no caso dos sons de percussão).

Ao nível dos sons de percussão, a complexidade associada a este fenómeno de transmissão


sonora é também elevada, sendo a sua modelação função de alguns factores comuns ao caso
anterior (sons aéreos) como a massa superficial, rigidez, amortecimento interno e dimensões
do elemento construtivo.

10.4
Física das Construções

Porém, no caso dos sons de percussão existe um elemento cuja acção pode ser determinante
para um desempenho adequado: os revestimentos de pavimento. Note-se aliás que para as
lajes estruturais utilizadas na construção corrente não é em geral possível verificar os valores
de referência (regulamentares ou de conforto) de isolamento sonoro a sons de percussão sem
a consideração do efeito dos revestimentos de pavimento.

Na prática é possível enquadrar estes tipos de revestimento em pelo menos dois grupos:
- Revestimentos resilientes – a redução da transmissão sonora por percussão deriva do
aumento do tempo de impacto da acção de percussão em relação à situação do
elemento não revestido (por exemplo uma alcatifa).
- Sistemas flutuantes – a redução da transmissão sonora por percussão é modelada por
um sistema reológico massa/mola, sendo o elemento “massa” materializado através de
uma lajeta flutuante (por exemplo em betão armado) e o elemento “mola” consistindo
nas características elásticas da camada de material resiliente colocada entre aquele e
o elemento laje estrutural (Figura 10.6).

Revestimento de piso final


Cola
Lajeta (e = 0,04m) armada com
rede electrossoldada

Teia impermeabilizante aplicada


com cola asfáltica (e = 2 mm)

Elemento resiliente
Cola de contacto

Laje de Piso

Figura 10.6 – Exemplo de um sistema de revestimento de pavimento com um efeito importante


na redução da transmissão sonora por via sólida (Patrício 2003) (o revestimento superficial não
deve contratar directamente com a envolvente vertical)

10.2 Sons de Condução Aérea

Apresentam-se neste ponto os principais parâmetros descritores de isolamento sonoro a sons


de condução aérea, inicialmente numa situação ideal sem influência da transmissão marginal
(correspondente a condições laboratoriais), e posteriormente já com a consideração da sua
influência, ou seja, representando uma situação real num edifício.

10.5
Física das Construções

10.2.1 Situação Ideal – Sem Influência da Transmissão Marginal

Quando uma onda sonora incide num elemento construtivo, uma parte da sua energia é
reflectida, outra parte é absorvida, e a restante é transmitida para o espaço receptor (num caso
ideal considerando apenas um espaço receptor) mediante a vibração do elemento construtivo
(no caso de existir transmissão indirecta ou marginal, parte da energia será também transferida
para os elementos adjacentes). O isolamento sonoro a sons de condução aérea resulta assim
da capacidade de dissipação da energia sonora incidente no elemento construtivo.

Índices de transmissão sonora (τ) e de redução sonora (R)

O conceito de índice de transmissão sonora (τ) traduz o quociente entre a potência sonora
transmitida por um elemento construtivo e a potência sonora nele incidente, quantificando a
sua capacidade de dissipação de energia sonora (Equação (10.1)).

W2
τ= (10.1)
W1
Onde:
τ – índice de transmissão sonora (-)
W1 – potência sonora incidente no elemento construtivo (dB)
W2 – potência sonora transmitida pelo elemento construtivo (dB)

No entanto, e visto que os valores do índice de transmissão sonora são normalmente muito
reduzidos (para além do facto do ouvido humano não responder a um estímulo sonoro de uma
forma linear), é habitual caracterizar-se o desempenho de isolamento sonoro a sons aéreos de
um elemento construtivo através do parâmetro índice de redução sonora (R) (Equação (10.2)).
Trata-se do parâmetro utilizado na avaliação laboratorial de soluções construtivas correntes,
sendo de grande utilidade prática na medida em que pode ser considerado constante para um
dado elemento construtivo.

1
R = 10 log   = −10 log (τ ) (10.2)
τ 
Onde:
R – índice de redução sonora (dB)
τ – índice de transmissão sonora (-)

Tal como já referido, o valor do índice de redução sonora (R) de um elemento construtivo varia
consoante a frequência e o ângulo de incidência das ondas sonoras. É pois necessário definir a
banda de frequências (tipicamente de 1/1 oitava ou 1/3 oitava) a que o valor se refere, sendo
que se nada for dito em relação ao ângulo de incidência das ondas sonoras (situação típica por
exemplo de um ensaio laboratorial corrente) se assume que o valor apresentado diz respeito a
uma incidência sonora difusa.

10.6
Física das Construções

Com base na Equação (10.2) conclui-se que quanto maior for o índice de redução sonora (R)
de um elemento construtivo melhor será o seu isolamento sonoro a sons de condução aérea.

Isolamento sonoro bruto (D)

De todo o modo, a noção intuitiva de isolamento sonoro não corresponde ao índice de redução
sonora (R), mas sim à diferença aritmética que, para uma situação concreta, se verifica entre
os níveis de pressão sonora nos espaços emissor e receptor. Ao parâmetro assim obtido
denomina-se isolamento sonoro bruto (D) (Equação (10.3)).

D = L1 − L2 (10.3)
Onde:
D – isolamento sonoro a sons de condução aérea bruto (dB)
L1 – nível médio de pressão sonora no espaço emissor (dB)
L2 – nível médio de pressão sonora no espaço receptor (dB)

No entanto, e como L2 é em geral a incógnita do problema, para a avaliação do isolamento


sonoro bruto é imperativo conhecer o isolamento conferido pelo elemento de separação, pelo
que se torna necessário relacionar os parâmetros D e R.

Influência da área do elemento construtivo (S) e da absorção sonora do espaço receptor (A)

Assumindo a hipótese de campo difuso nos espaços emissor e receptor, é possível estabelecer
uma relação entre os parâmetros D e R apenas em função da área de absorção sonora
equivalente do espaço receptor (A) e da área do elemento construtivo de separação entre os
espaços emissor e receptor (S) (Equação (10.4)). Verifica-se que o isolamento sonoro bruto
aumenta proporcionalmente à absorção sonora do espaço receptor (A), diminuindo com o
aumento da área de radiação sonora (S).

 A
D = R + 10 log   (10.4)
S
Onde:
D – isolamento sonoro a sons de condução aérea bruto (dB)
R – índice de redução sonora (dB)
2
A – área de absorção sonora equivalente do espaço receptor (m )
2
S – área do elemento construtivo de separação entre os espaços emissor e receptor (m )

10.7
Física das Construções

Caracterização experimental do índice de redução sonora

A avaliação laboratorial do índice de redução sonora de um elemento construtivo é realizada


em câmaras reverberantes (construídas conforme os requisitos definidos na ISO 140-1), de
acordo com a metodologia definida na ISO 140-3 (Figura 10.7).

Figura 10.7 – Representação esquemática da caracterização experimental do índice de


redução sonora de um elemento construtivo em câmaras reverberantes (Patrício 2003)

De uma forma resumida, o procedimento de ensaio consiste na criação de um campo sonoro


(que se pode assumir como difuso) no interior do espaço emissor (câmara reverberante)
através de uma fonte sonora com características normalizadas, e a medição dos níveis médios
de pressão sonora nos espaços emissor e receptor. Conhecida a área do provete do elemento
construtivo em análise, e a área de absorção sonora equivalente do espaço receptor (câmara
reverberante), é então possível determinar o valor de R.

A avaliação laboratorial do índice de redução sonora efectua-se por bandas de frequências de


1/3 oitava (no mínimo entre as bandas centradas nos 100 Hz e nos 3150 Hz, sendo também
comum a utilização de bandas de frequências entre os 50 e os 5000 Hz), com os resultados
expressos sob a forma de um boletim de ensaio (Figura 10.8).

Em anexo apresentam-se alguns valores característicos do isolamento sonoro a sons aéreos


de algumas soluções construtivas (EN 12354-1), recomendando-se sempre, no âmbito de uma
aplicação prática, a consulta dos boletins laboratoriais de ensaio das soluções a utilizar.

10.8
Física das Construções

Figura 10.8 – Excerto de um boletim de ensaio laboratorial relativo à avaliação do Índice de


redução sonora de uma divisória em gesso cartonado (BPB Iberplaco)

Caracterização experimental do índice de redução sonora de outros elementos construtivos

Existem todavia componentes utilizados na construção para os quais a avaliação do isolamento


sonoro a sons aéreos não se adequa ao procedimento proposto na ISO 140-3, como é por
exemplo o caso de tectos falsos (ISO 140-9) e de elementos de pequena dimensão como
grelhas de ventilação e caixas de estore (ISO 140-10), para os quais foram adoptados novos
índices de caracterização em laboratório:
- Isolamento sonoro (a sons de condução aérea) normalizado de tectos falsos, Dn,c;
- Isolamento sonoro (a sons de condução aérea) normalizado de um componente
construtivo de pequena dimensão, Dn,e.

Na Figura 10.9 apresenta-se um excerto de um boletim de ensaio laboratorial relativo a uma


solução de uma grelha de admissão de ar a integrar numa fachada.

10.9
Física das Construções

Figura 10.9 – Excerto de um boletim de ensaio laboratorial do isolamento sonoro a sons de


condução aérea de uma grelha de ventilação (elemento de pequena dimensão) (Anjos)

Homogeneização de componentes construtivos distintos

É comum um elemento construtivo ser constituído por vários componentes (por exemplo uma
parede exterior com zona opaca, vãos envidraçados, caixas de estore e grelhas de ventilação
natural) com características distintas de isolamento sonoro, para o qual importa conhecer o
índice de isolamento sonoro global, homogeneizando o desempenho dos vários componentes.

Atentando ao conceito de índice de redução sonora (R), e admitindo um elemento constituído


por um componente 1 (por exemplo alvenaria), com uma área S1 e uma redução sonora R1, e
por um componente 2 (por exemplo vidro), com uma área S2 e uma redução sonora R2, o
desempenho homogeneizado R não poderá ser obtido através de uma média ponderada da
área de cada um dos componentes.

Esse mesmo procedimento será porém correcto se se recorrer ao conceito de índice de


transmissão sonora (τ), que não depende de nenhum factor logarítmico. Através deste conceito
é possível relacionar as potências sonoras incidente e transmitida pelo elemento construtivo
com base na referida média ponderada (Equação (10.5)).

10.10
Física das Construções

∑τ S i i
W2 = i
W1 (10.5)
∑S i
i

Onde:
W1 – potência sonora incidente no elemento construtivo (dB)
W2 – potência sonora transmitida pelo elemento construtivo (dB)
τi – índice de transmissão sonora do componente i (-)
2
Si – área do componente i (m )

É então possível calcular o índice de redução sonora (R) do elemento construtivo:

 ∑ Si 
1  
R = 10 log   = 10 log  i  (10.6)
τ   ∑τ i S i 
 i 
Onde:
R – índice de redução sonora homogeneizado (dB)
τ – índice de transmissão sonora homogeneizado (-)
τi – índice de transmissão sonora do componente i (-)
2
Si – área do componente i (m )

A equação anterior pode ser igualmente expressa em função dos índices de redução sonora de
cada componente do elemento construtivo (Ri):

 
 ∑ Si 
R = 10 log  i 
(10.7)
 Si 
 ∑ Ri 10 
 i 10 
Onde:
R – índice de redução sonora homogeneizado (dB)
Ri – índice de redução sonora do componente i (-)
2
Si – área do componente i (m )

Sempre que o elemento construtivo em estudo incluir componentes cuja avaliação laboratorial
do isolamento a sons aéreos não é efectuada segundo a ISO 140-3 (na qual é utilizada como
parâmetro de desempenho o índice de redução sonora), o processo de homogeneização será
distinto. A Equação (10.8) permite determinar o valor homogeneizado no caso mais corrente de
um componente construtivo de pequena dimensão estar integrado no elemento em análise.

10.11
Física das Construções

 
 
1 1
R = 10 log   = 10 log  
(10.8)
τ  1 A0 
∑ S i 10 −Ri 10 + ∑10
− Dn , e , j 10
 
S i S j 
Onde:
R – índice de redução sonora homogeneizado (dB)
τ – índice de transmissão sonora homogeneizado (-)
2
S – área do elemento construtivo (m )
2
Si – área do componente i (m )
Ri – índice de redução sonora do componente i (-)
2 2
A0 – área de absorção sonora equivalente de referência (m ), tomando um valor igual a 10 m no caso
de edifícios residenciais e situação análogas
Dn,e,j – isolamento sonoro normalizado do componente de pequena dimensão j (dB)

Conceito de valor ponderado (índice único)

O isolamento sonoro a sons de condução aérea conferido por um dado elemento construtivo
depende da frequência da onda sonora incidente, pelo que os resultados de uma avaliação
laboratorial são obtidos em bandas de frequências de 1/3 oitava (para uma utilização corrente
admite-se também uma caracterização em bandas de 1/1 oitava – mas não em ensaios
laboratoriais – por exemplo no caso de se utilizarem modelos de previsão).

No entanto desta imposição resulta que qualquer elemento construtivo seria caracterizado por
um conjunto de valores de índice de redução sonora (R) distintos em função da banda de
frequências em questão, o que embora rigoroso (e nalguns casos necessário), se revela pouco
prático para o utilizador corrente.

Por conseguinte foi criado um índice único que pondera o desempenho de isolamento sonoro
para as diversas bandas de frequências (1/1 oitava ou 1/3 oitava), de acordo com uma situação
padrão (que se designa por “curva” de referência) definida na ISO 717-1 (Figura 10.10 e Figura
10.11, Tabela 10.1).

Na Figura 10.10 e na Figura 10.11 (e também na Tabela 10.1) os diversos valores de


referência correspondem a um exemplo de uma curva de referência iniciada nas bandas de 1/1
oitava ou de 1/3 oitava centradas respectivamente nas frequências de 125 Hz e de 100 Hz,
sendo que o seu valor inicial pode ser qualquer inteiro (e não só 36 ou 33). Apenas se mantém
sempre constante a variação relativa dos valores da curva de referência entre bandas de
frequências, correspondente ao declive dos vários troços que a compõem.

10.12
Física das Construções

Valores de referência, dB

Frequência, Hz

Figura 10.10 – Curva de referência definida na ISO 717-1 para a avaliação do isolamento
sonoro a sons de condução aérea por bandas de 1/3 oitava (16 bandas entre 100 e 3150 Hz)
Valores de referência, dB

Frequência, Hz

Figura 10.11 – Curva de referência definida na ISO 717-1 para a avaliação do isolamento
sonoro a sons de condução aérea por bandas de 1/1 oitava (5 bandas entre 125 e 2000 Hz)

10.13
Física das Construções

Tabela 10.1 – Descrição paramétrica das curvas de referência (ISO 717-1) para a avaliação do
isolamento sonoro a sons de condução aérea por bandas de 1/3 oitava e de 1/1 oitava

Frequência Valores de referência


Hz Bandas 1/3 oitava Bandas 1/1 oitava
100 33
125 36 36
160 39
200 42
250 45 45
315 48
400 51
500 52 52
630 53
800 54
1000 55 55
1250 56
1600 56
2000 56 56
2500 56
3150 56

A comparação entre os valores de isolamento sonoro referentes ao elemento construtivo em


análise (curva real) e os valores de referência definidos na ISO 717-1 (curva de referência)
efectua-se por um processo de ajuste entre ambas, utilizando como critério a limitação do
somatório das diferenças aritméticas dos valores relevantes. Visto que o objectivo deste
processo é passar a representar a curva real através da curva de referência, só quando o valor
medido do isolamento sonoro é inferior ao valor de referência é que a diferença é
relevante - conceito de desvio desfavorável para sons aéreos (Figura 10.12).

10.14
Física das Construções

Figura 10.12 – Desvios desfavoráveis num processo de ajuste entre valores de isolamento
sonoro medidos (índice de redução sonora) e valores de referência (Patrício 2003)

Na prática começa-se por se arbitrar um valor (inteiro) para uma dada banda de frequências da
curva de referência, a partir do qual é possível construir toda a curva e calcular os desvios
desfavoráveis face à curva real. Considera-se que o ajuste está terminado (trata-se de um
processo iterativo) quando o somatório dos desvios desfavoráveis a dividir pelo número total de
bandas de frequências envolvidas (5 no caso de 1/1 oitava, 16 no caso de 1/3 oitava) seja o
valor mais próximo possível de 2, sem o ultrapassar (mas podendo igualá-lo), ou seja, o
somatório dos desvios desfavoráveis deve ser inferior a 10 ou a 32 para bandas de 1/1 oitava
ou de 1/3 de oitava, respectivamente.

O índice único proveniente deste processo de ajuste corresponde ao valor da banda centrada
nos 500 Hz, passando a adoptar para além do nome do descritor de isolamento sonoro em
causa (por exemplo D, R, …), a designação w (“weighted” – ponderado) – Dw, Rw, …– tal como
se pode observar na Figura 10.12 (no caso Rw).

10.2.2 Situação Real – Com Influência da Transmissão Marginal

No caso da existência de transmissão marginal, não faz sentido falar no isolamento sonoro a
sons de condução aérea de um elemento construtivo, uma vez que o que passa a estar em
causa é o isolamento sonoro entre dois espaços. Este é em geral o caso de um edifício real
para o qual o desempenho de isolamento não depende apenas do elemento de separação mas
também (em alguns casos até em maior medida) dos elementos construtivos de contorno.

No caso do projecto de acústica de edifícios ou de uma avaliação prática do isolamento sonoro


é então necessário considerar o efeito da transmissão marginal. Quando esta é considerada,
os parâmetros descritores de isolamento sonoro a sons de condução aérea (com a excepção
2
do índice D, que se aplica em regra a situações com transmissão marginal ) passam a utilizar
na sua designação uma “plica” (´), de modo a indicar a existência de transmissão marginal (por
exemplo τ´, R´; no caso do parâmetro D não existe a designação D´).

A medição do isolamento sonoro a sons de condução aérea entre dois espaços interiores de
um edifício processa-se de forma similar à avaliação laboratorial, ainda que com um conjunto
de directrizes técnicas específicas definidas na norma ISO 140-4.

Índices de transmissão sonora (τ´) e de redução sonora (R´) aparentes

No caso da existência de transmissão marginal no processo de transmissão sonora entre dois


espaços, embora a potência sonora incidente no elemento construtivo seja sob um ponto de
vista conceptual a mesma (W 1), a potência sonora transmitida para o espaço receptor não é

5
Apesar de em teoria ser correcto recorrer-se ao conceito de isolamento sonoro bruto D para uma
situação sem transmissão marginal (laboratório), só no caso de medições “in situ” é que o conceito
possui efectivamente sentido (estando neste caso implícita a existência de transmissão marginal).

10.15
Física das Construções

igual a W 2, mas sim ao somatório das potências sonoras radiadas pelos diversos elementos
construtivos que separam os dois espaços (W tot). Assim, os índices de transmissão sonora e de
redução sonora passam a ter a designação de índices aparentes.
Wtot
τ´ = (10.9)
W1
Onde:
τ´ – índice de transmissão sonora aparente (-)
W1 – potência sonora incidente no elemento construtivo de separação (dB)
Wtot – potência sonora transmitida pelos diversos elementos construtivos (dB)

1
R ´ = 10 log  ´  = −10 log (τ ´ ) (10.1
τ  0)
Onde:
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
τ´ – índice de transmissão sonora aparente (-)

Isolamento sonoro a sons de condução área normalizado ou padronizado

Embora o valor do isolamento sonoro a sons de condução aérea bruto (D) seja dependente da
área de absorção sonora equivalente do espaço receptor (A), interessa (por vezes) definir um
espaço receptor com características de absorção sonora constantes de forma a ser possível
comparar valores de isolamento sonoro garantidos por configurações construtivas distintas sem
ter que analisar sempre as suas características de absorção. Foi assim definido um termo de
correcção que permite “normalizar” o isolamento sonoro bruto entre dois espaços para um
dado valor de área de absorção sonora equivalente (Equação (10.11)).

A  (10.1
Dn = D + 10 log  0 
 A 1)

Onde:
Dn – isolamento sonoro a sons de condução aérea normalizado (dB)
D – isolamento sonoro a sons de condução aérea bruto (dB)
2 2
A0 – área de absorção sonora equivalente de referência (m ), tomando um valor igual a 10 m no caso
de edifícios residenciais e situações análogas
2
A – área de absorção sonora equivalente real do espaço receptor (m ), obtida através da medição do
tempo de reverberação

Refira-se a propósito que a utilização de um índice normalizado possui também a vantagem de


permitir efectuar ensaios em locais não mobilados, bem como prevenir a hipótese de criação
de condições de absorção sonora superiores às reais durante um ensaio de avaliação com o
intuito de aumentar artificialmente o isolamento sonoro (bruto) medido.

Por vezes é também utilizado, como alternativa ao parâmetro isolamento sonoro normalizado
Dn, o parâmetro isolamento sonoro padronizado DnT (Equação (10.12)), que possui desde logo
uma vantagem para ensaios “in situ” – ao contrário do parâmetro Dn, não é necessário medir o

10.16
Física das Construções

volume do espaço receptor e aplicar posteriormente a equação de Sabine para estimar o valor
de área de absorção sonora equivalente (A).

T  (10.1
DnT = D + 10 log  
 T0  2)

Onde:
DnT – isolamento sonoro a sons de condução aérea padronizado (dB)
T – tempo de reverberação no espaço receptor, medido (s)
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas

Índices de isolamento sonoro a sons de condução aérea

Quando se considera a existência de transmissão marginal continua a ser válido o conceito de


descritor único. Aplicando este conceito aos parâmetros de isolamento sonoro normalizado ou
padronizado, obtêm-se os dois índices de isolamento sonoro a sons de condução aérea mais
utilizados na legislação europeia:
- Dn,w – índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea normalizado;
- DnT,w – índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea padronizado.

O índice DnT,w foi adoptado pela regulamentação Portuguesa (Regulamento dos Requisitos
Acústicos dos Edifícios, Decreto-Lei n.º 96/2008) para a quantificação do isolamento sonoro a
sons aéreos entre dois espaços interiores de um edifício.

Saliente-se de igual modo a utilização em alguns países do índice de redução sonora aparente
ponderado (R´w) para o mesmo efeito.

É também comum serem ainda adicionados a estes índices dois termos de correcção (C e Ctr)
que permitem corrigir o valor do índice ponderado para o caso de uma fonte sonora com um
conteúdo espectral típico de um ruído rosa ou de tráfego, respectivamente (Tabela 10.2).

Tabela 10.2 – Termo de adaptação (C ou Ctr) em função do tipo de fonte sonora (ISO 717-1)

Ruído Rosa – Adaptação C Ruído de Tráfego – Adaptação Ctr

- Actividades humanas (palavra, música, rádio, TV) - Tráfego rodoviário urbano


- Brincadeiras de crianças - Tráfego ferroviário a velocidade reduzida
- Tráfego ferroviário a velocidade média ou elevada - Avião a hélice
- Tráfego rodoviário (< 80 km/h) - Avião a reacção a grande distância
- Aviação a reacção a curta distância - Música de discoteca
- Oficinas (ruído médias e altas frequências) - Oficina (ruído baixas e médias frequências)

Sempre que se utilizam estes termos de correcção os valores de isolamento sonoro resultantes
correspondem a um valor global incluindo todas as bandas de frequências (e não a um valor
ponderado), sendo os resultados expressos em dB(A). É também comum a sua utilização no

10.17
Física das Construções

caso da caracterização laboratorial de um elemento construtivo – por exemplo admitindo que


uma parede apresenta um índice de redução sonora ponderado Rw (C ; Ctr) = 64 (-2 ; -7) dB
significa então que Rw (+C) = 62 dB(A) e que Rw (+Ctr) = 57 dB(A) (Figura 10.8).

Quantificação da transmissão marginal

Para a quantificação da componente marginal no processo de transmissão sonora aérea entre


dois espaços interiores de um edifício deve recorrer-se à metodologia de cálculo definida na
normalização europeia aplicável (EN 12354-1). No entanto, e face à sua complexidade, é
possível recorrer-se a um procedimento simplificado de análise (embora menos fiável) que visa
alertar para a problemática associada à sua ocorrência.

Se se designar a influência da transmissão marginal pela sigla ∆TM, então a sua influência no
valor do índice de redução sonora ponderado (Rw) será:

(10.1
Rw´ = Rw − ∆TM
3)
Onde:
Rw´ – índice de redução sonora ponderado aparente (dB)
Rw – índice de redução sonora ponderado (dB)
∆TM – factor de correcção relativo à influência da transmissão marginal (dB)

Ainda que de forma simplificada, podem-se definir alguns valores para os factores de correcção
relativos à influência da transmissão marginal (Patrício 2003), admitindo que as soluções
construtivas do elemento de separação entre os espaços e dos elementos adjacentes são da
mesma natureza (Figura 10.13), sendo, portanto, possível assumir que o isolamento sonoro
2
será tanto maior quanto mais elevada for a massa por unidade de superfície (kg/m ) dos
elementos:
- Se a massa superficial do elemento de separação é semelhante às dos elementos
adjacentes, a transmissão que ocorre por via marginal (W i) é equivalente à directa
(W d), podendo-se assumir um valor de ∆TM = 3;
- Se a massa superficial do elemento de separação é muito inferior às dos elementos
adjacentes, a propagação da energia sonora ocorre fundamentalmente pelo elemento
de separação (W d), podendo-se assumir um valor de ∆TM = 0;
- Por último, quando a massa superficial do elemento de separação é muito superior às
dos elementos adjacentes então a propagação da energia sonora dar-se-á sobretudo
por via marginal (W i); neste caso, o valor de ∆TM pode variar de 3 dB a um máximo da
ordem de 10 dB para casos particulares, sendo prudente a consideração de 5 dB para
as situações e soluções construtivas típicas em edifícios correntes.

Trata-se de um procedimento muito simplificado de análise, devendo apenas servir para a


quantificação da ordem de grandeza do isolamento sonoro entre dois espaços, mas podendo
não ser suficiente para a elaboração de um projecto de condicionamento acústico por exemplo
de um edifício habitacional (a não ser que seja adoptado um valor muito conservativo para a

10.18
Física das Construções

influência da transmissão marginal, naturalmente em prejuízo da relação custo/benefício das


soluções construtivas a implementar).

Figura 10.13 – Avaliação simplificada da influência da transmissão marginal no caso dos vários
elementos que definem a envolvente serem da mesma natureza (Patrício 2003)

Relação entre redução sonora aparente e isolamento sonoro normalizado ou padronizado

Para a previsão do desempenho de isolamento sonoro a sons de condução aérea em edifícios


é fundamental relacionar o parâmetro que é obtido em situação de projecto (R´ ou R´w) com o
índice utilizado como exigência regulamentar (no caso Português, o índice DnT,w).

Atendendo a que as Equação (10.4) pode ser considerada válida numa situação “in situ”,
através da sua conjugação com as Equações (10.11) e (10.12), é possível deduzir as
Equações (10.14) e (10.15) (de grande utilidade para a actividade de projecto).

A  (10.1
Dn = R ´ + 10 log  0 
 S  4)
Onde:
Dn – isolamento sonoro a sons de condução aérea normalizado (dB)
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
2 2
A0 – área de absorção sonora equivalente de referência (m ), tomando um valor igual a 10 m no caso
de edifícios residenciais e situação análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )

 0,16 V  (10.1
DnT = R ´ + 10 log  
 T0 S  5)

Onde:
DnT – isolamento sonoro a sons de condução aérea padronizado (dB)
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
3
V – volume do compartimento receptor (m )
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )

10.19
Física das Construções

Ambas as equações ((10.14) e (10.15)) podem, ainda que de forma aproximada, ser também
formuladas a partir dos índices de isolamento sonoro ponderados R´w, Dn,w e DnT,w.
10.2.3 Situação Real – Entre o Exterior e um Espaço Interior

Um caso particular de isolamento sonoro a sons aéreos entre dois espaços ocorre quando o
espaço de emissão corresponde ao ambiente exterior, embora ao nível da quantificação do
isolamento sonoro conferido pela envolvente exterior o procedimento seja similar.

A principal diferença é que neste caso o nível de pressão sonora característico do espaço
emissor (designado nos pontos anteriores por L1) corresponde ao nível médio de pressão
sonora exterior, medido a 2 m da fachada (L1,2m) (Figura 10.14), pelo que o isolamento sonoro
bruto entre o exterior e o interior se passa a designar D2m (Equação (10.16)).

D2 m = L1, 2 m − L2 (10.1
6)
Onde:
D2m – isolamento sonoro bruto a sons de condução aérea entre o exterior e o interior (dB)
L1,2m – nível médio de pressão sonora exterior medido a 2 m da fachada do edifício (dB)
L2 – nível médio de pressão sonora no espaço receptor (dB)

Figura 10.14 – Representação esquemática do processo de avaliação do isolamento sonoro a


sons de condução aérea provenientes do exterior (Patrício 2004)

Tal como no caso geral atrás apresentado, poderão obter-se neste caso valores de isolamento
sonoro normalizados/padronizados, mantendo-se válidas as Equações (10.11) e (10.12). Se
estes valores forem combinados com o conceito de descritor único, é possível definir os dois
índices de isolamento sonoro a sons de condução aérea mais utilizados na legislação europeia
para quantificar o isolamento entre o exterior e um espaço interior de um edifício:
- D2m,n,w – índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o
interior, normalizado;
- D2m,nT,w – índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o
interior, padronizado.

O índice D2 m, nT, w foi adoptado pela regulamentação Portuguesa (Regulamento dos Requisitos
Acústicos dos Edifícios, Decreto-Lei n.º 96/2008) para a quantificação do isolamento sonoro a
sons de condução aérea entre o exterior e um espaço no interior de um edifício.

10.20
Física das Construções

Quantificação da transmissão marginal

Para a quantificação da componente marginal (já incluída no parâmetro D2m) no processo de


transmissão sonora aérea entre o exterior e um espaço interior deve recorrer-se à metodologia
de cálculo definida na normalização europeia aplicável (EN 12354-3).

No entanto, e dado que normalmente o efeito da transmissão marginal no caso do isolamento a


sons aéreos provenientes do exterior é, para sistemas construtivos correntes, inferior ao que se
verifica entre dois espaços interiores, a EN 12354-3 aconselha a que se considere um valor
∆TM = 2 dB para a quantificação do índice R´w a partir do índice Rw.

Relação entre redução sonora aparente e isolamento sonoro normalizado ou padronizado

Neste caso continuam a ser válidas as equações (10.14) e (10.15), embora tenham que ser
afectadas de um factor de correcção devido à forma da fachada – ∆Lfs. Os valores deste factor
para diversas situações de referência são definidos na EN 12354-3 (Figura 10.15), em função
da absorção média da superfície de reflexão exterior, e da altura da linha visível entre a fonte
de ruído e o espaço interior em estudo (Equação (10.17) e Equação (10.18)).

A  (10.1
D2 m ,n = R ´ + 10 log  0  + ∆L fs
 S  7)

Onde:
D2m,n – isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o interior normalizado (dB)
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
2 2
A0 – área de absorção sonora equivalente de referência (m ), tomando um valor igual a 10 m no caso
de edifícios residenciais e situação análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )
∆Lfs – factor de correcção devido à forma da fachada (dB)

 0,16 V  (10.1
D2 m, nT = R ´ + 10 log   + ∆L fs
 T0 S  8)

Onde:
D2m,nT – isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o interior padronizado (dB)
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
3
V – volume do compartimento receptor (m )
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )
∆Lfs – factor de correcção devido à forma da fachada (dB)

10.21
Física das Construções

Absorção
sonora
média %

Altura da
linha visível

Plano de fachada

Fonte de ruído

∆Lfs
(dB)

Absorção
αw Não se aplica ≤ 0,3 0,6 ≥ 0,9 ≤ 0,3 0,6 ≥ 0,9 ≤ 0,3 0,6 ≥ 0,9 ≤ 0,3 0,6 ≥ 0,9

Altura
0 -1 -1 0 -1 -1 0 0 0 1
<1,5 m

Não se aplica

Altura
0 -1 0 2 0 1 2
(1,5-2,5) m

Não se aplica

Altura
0 1 1 2 2 2 3 3 4 6
>2,5 m

Figura 10.15 – Exemplos de valores definidos na EN 12354-3 para o factor de correcção ∆Lfs

10.2.4 Critérios de Desempenho Acústico

Tal como havia sido já enfatizado no capítulo anterior, os critérios de desempenho acústico a
especificar numa dada situação (por exemplo num edifício de habitação) devem abranger quer
as exigências regulamentares aplicáveis, quer critérios complementares que assegurem as
condições de conforto acústico compatíveis com a situação em causa.

10.22
Física das Construções

A regulamentação Portuguesa relativa às exigências acústicas (mínimas) em edifícios


(Decreto-Lei n.º 96/2008) define um conjunto de valores de isolamento sonoro a sons de
condução aérea, em função do tipo de edifício e da natureza dos espaços emissor/receptor.

Apresentam-se de seguida, como referência, os valores referentes a edifícios habitacionais e


3
mistos (Tabela 10.3 e Tabela 10.4).

Tabela 10.3 – Requisitos regulamentares de isolamento sonoro a sons aéreos entre espaços
interiores de edifícios habitacionais e mistos (Decreto-Lei n.º 96/2008)

Índice de Isolamento Sonoro a Sons de Condução Aérea, DnT, w

Entre o espaço abaixo indicado (emissão) e quartos ou zonas de estar dos fogos (recepção)

Compartimentos de um fogo ≥ 50 dB

Locais de circulação comum do edifício ≥ 48 dB

Garagem de parqueamento automóvel ≥ 50 dB

Caminho de circulação vertical (edifício com elevadores) ≥ 40 dB

Locais de comércio, indústria, serviços ou diversão ≥ 58 dB

Tabela 10.4 – Requisitos regulamentares de isolamento sonoro a sons aéreos entre o exterior
e quartos ou zonas de estar de edifícios habitacionais e mistos (Decreto-Lei n.º 96/2008)

Índice de Isolamento Sonoro a Sons de Condução Aérea, D2m,nT,w

Entre o exterior (emissão) e quartos ou zonas de estar dos fogos (recepção)

4
Zonas Sensíveis ≥ 28 dB

17
Zonas Mistas ≥ 33 dB

A definição de critérios complementares de isolamento sonoro a sons de condução a depende


da relação entre a produção de ruído no espaço emissor e do nível ruído de fundo expectável
no espaço receptor, não sendo portanto fácil definir valores de referência, recomendando-se a
análise de cada caso em particular.

Note-se que estes critérios podem ser apenas baseados em valores mais exigentes do que os
constantes na regulamentação (que como referido exige apenas valores mínimos de conforto),
e/ou propondo requisitos nela não contemplados.

3
Edifícios que para além do uso habitacional integram também comércio, indústria, serviços ou diversão.
4
De acordo com a classificação do Decreto-Lei n.º 9/2007.

10.23
Física das Construções

Apenas a título de exemplo, indica-se de seguida um critério de conforto que poderá ser
desejável garantir em edifícios de habitação: DnT,w ≥ 40 dB entre quartos do mesmo fogo
(situação que não está contemplada no Decreto-Lei n.º 96/2008).

10.3 Sons de Condução Sólida (ou de Percussão)

Os principais descritores de isolamento sonoro a sons de percussão são também baseados


nas seguintes situações-tipo:

- Situação ideal – sem influência da transmissão marginal (avaliação em laboratório);


- Situação real – com influência da transmissão marginal (avaliação num edifício).

Note-se que pelas razões já expostas se limitará a análise dos sons de percussão a elementos
horizontais (lajes), pelo que nos pontos seguintes, e desde que nada seja dito em contrário,
sempre que se aludir ao termo elemento construtivo deverá subentender-se que se trata de
uma laje de separação entre dois espaços interiores.

10.3.1 Situação Ideal – Sem Influência da Transmissão Marginal

No caso das transmissão sonora por percussão, e ao contrário do que acontecia no caso de
sons aéreos, já não se verifica a incidência de uma onda sonora no elemento construtivo mas
sim a solicitação directa da fonte de ruído (por exemplo passos) originando a sua vibração, cuja
energia será em parte dissipada no seio do elemento, e a restante transmitida para o espaço
receptor onde, tal como no caso dos sons aéreos, fará vibrar o ar contido no espaço e assim
determinará a sensação sonora ao nível do receptor.

Nível de pressão sonora de percussão – conceito e caracterização experimental

Considere-se uma fonte sonora de percussão normalizada (também designada por máquina de
percussão normalizada, Figura 10.16) actuando em laboratório (câmaras reverberantes) sobre
um elemento construtivo. Trata-se de um equipamento que percute o pavimento à razão de 10
choques por segundo, produzidos por 5 martelos de 500 g (cada) que caem de uma altura de
4cm sobre o elemento construtivo a ensaiar. O procedimento de ensaio deverá obedecer às
directrizes técnicas definidas na ISO 140-6.

10.24
Física das Construções

Figura 10.16 – Ilustração de uma máquina de percussão normalizada (Hamayon 1996)

Medindo no espaço receptor o nível médio de pressão sonora resultante da solicitação no


espaço emissor obtém-se o designado nível de pressão sonora de percussão (L, medido em
dB), normalmente avaliado por bandas de frequências de 1/3 oitava (para as mesmas bandas
que no caso dos sons aéreos) (Figura 10.17).

L (dB)

Figura 10.17 – Conceito de nível de pressão sonora de percussão (condições laboratoriais)


(Hamayon 1996)

Um aspecto fundamental em toda a análise dos sons de percussão assenta no facto de que,
atendendo a que o desempenho medido para uma solução construtiva é o nível de pressão
sonora no espaço receptor (L), quanto menor for o seu valor melhor será o isolamento sonoro a
sons de percussão, pois a energia sonora que atinge o espaço receptor é menor.

Influência das características de absorção sonora do espaço receptor

O valor do nível de pressão sonora de percussão depende das características de absorção


sonora do espaço receptor. Assim, e tal como no caso do isolamento sonoro a sons aéreos,
utiliza-se em geral um parâmetro de avaliação normalizado (Equação (10.19)) ou padronizado

10.25
Física das Construções

(Equação (10.20)), consoante o valor característico da absorção sonora do espaço receptor


seja a área de absorção equivalente ou o tempo de reverberação.

 A  (10.1
Ln = L + 10 log  
 A0  9)

Onde:
Ln – nível de pressão sonora de percussão normalizado (dB)
L – nível de pressão sonora de percussão (dB)
2 2
A0 – área de absorção sonora equivalente de referência (m ), tomando um valor igual a 10 m no caso
de edifícios residenciais e situações análogas
2
A – área de absorção sonora equivalente real do espaço receptor (m ), obtida através da medição do
tempo de reverberação

T  (10.2
LnT = L + 10 log  0 
T  0)

Onde:
LnT – nível de pressão sonora de percussão padronizado (dB)
L – nível de pressão sonora de percussão (dB)
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas
T – tempo de reverberação no espaço receptor, medido (s)

Refira-se que os parâmetros normalizados e padronizados são igualmente utilizados em


situações de avaliação “in situ”.

Caracterização experimental da redução de transmissão de sons de percussão

O tipo de revestimento do elemento construtivo possui um efeito normalmente não desprezável


no nível de pressão sonora de percussão medido no espaço receptor. Deste modo, importa
definir um parâmetro que permita quantificar a eficácia de um dado revestimento na redução da
transmissão de sons de percussão (Equação (10.21)).

∆L = L n , 0 − L n (10.2
1)
Onde:
∆L – redução da transmissão sonora a sons de percussão conferida por um revestimento de piso (dB)
Ln,0 – nível de pressão sonora de percussão, normalizado, do pavimento não revestido (dB)
Ln – nível de pressão sonora do percussão, normalizado, do pavimento revestido (dB)

No entanto, e uma vez que a redução da transmissão sonora conferida pelo revestimento de
piso depende até certo ponto da laje de pavimento não revestida utilizada em laboratório (a
solução pode variar), é necessário reportar os valores de ∆L medidos a um pavimento de
referência (ISO 717-2), permitindo assim obter valores comparáveis entre laboratórios.

10.26
Física das Construções

Conceito de valor ponderado (índice único)

Pelas mesmas razões mencionadas para os sons de condução aérea, também para os sons de
percussão se recorre na prática a um índice único de avaliação que pondera o desempenho de
isolamento sonoro para as diversas bandas de frequências (1/1 oitava ou 1/3 oitava), de acordo
com uma situação padrão (que se designa por “curva” de referência) definida na ISO 717-2
(Figura 10.18, Figura 10.19, Tabela 10.5).
Valores de referência, dB

Frequência, Hz

Figura 10.18 – Curva de referência definida na ISO 717-2 para avaliação do isolamento sonoro
a sons de percussão por bandas de 1/3 oitava (16 bandas entre 100 e 3150 Hz)
Valores de referência, dB

Frequência, Hz

10.27
Física das Construções

Figura 10.19 – Curva de referência definida na ISO 717-2 para avaliação do isolamento sonoro
a sons de percussão por bandas de 1/1 oitava (5 bandas entre 125 e 2000 Hz)
Tabela 10.5 – Descrição paramétrica das curvas de referência (ISO 717-2) para a avaliação do
isolamento sonoro a sons de percussão por bandas de 1/3 oitava e de 1/1 oitava

Frequência Valores de referência


Hz Bandas 1/3 oitava Bandas 1/1 oitava
100 62
125 62 67
160 62
200 62
250 62 67
315 62
400 61
500 60 65
630 59
800 58
1000 57 62
1250 54
1600 51
2000 48 49
2500 45
3150 42

Na Figura 10.18 e na Figura 10.19 (e também na Tabela 10.5) os diversos valores de


referência correspondem a um exemplo de uma curva de referência iniciada nas bandas de 1/1
oitava ou de 1/3 oitava centradas respectivamente nas frequências de 125 Hz e 100 Hz, sendo
que o seu valor inicial pode ser qualquer inteiro (e não só 67 ou 62). Apenas se mantém
sempre constante a variação relativa dos valores da curva de referência entre bandas de
frequências, correspondente ao declive dos vários troços que a compõem.

A comparação entre os valores de nível de pressão sonora referentes ao elemento construtivo


em análise (curva real) e os valores de referência definidos na ISO 717-2 (curva de referência)
efectua-se por um processo de ajuste entre ambas, utilizando como critério a limitação do
somatório das diferenças aritméticas dos valores relevantes. Visto que o objectivo deste
processo é passar a representar a curva real através da curva de referência, só quando o valor
medido do nível de pressão sonora de percussão é superior ao valor de referência é que a
diferença é relevante – conceito de desvio desfavorável para sons de percussão (Figura 10.20).

10.28
Física das Construções

Figura 10.20 – Desvios desfavoráveis num processo de ajuste entre valores de níveis de
pressão sonora de percussão medidos e valores de referência (Patrício 2003)

Na prática começa-se por se arbitrar um valor (inteiro) para uma dada banda de frequências da
curva de referência, a partir do qual é possível construir toda a curva e calcular os desvios
desfavoráveis face à curva real. Considera-se que o ajuste está terminado (trata-se de um
processo iterativo) quando o somatório dos desvios desfavoráveis a dividir pelo número total de
bandas de frequência envolvidas (5 no caso de 1/1 oitava, 16 no caso de 1/3 oitava) seja o
valor mais próximo possível de 2, sem o ultrapassar (mas podendo igualá-lo, ou seja, o
somatório deve ser inferior a 10 ou a 32 caso se utilizem bandas de 1/1 oitava ou de 1/3 oitava,
respectivamente (o processo de ajuste é equivalente ao caso dos sons aéreos, exceptuando
apenas o conceito de desvio desfavorável).

O índice único proveniente deste processo de ajuste corresponde ao valor da banda centrada
nos 500 Hz, passando a adoptar para além do nome do descritor de isolamento sonoro em
causa (por exemplo L, Ln, …), a designação w (“weighted” – ponderado) – Lw, Ln,w, …– tal como
se pode observar na Figura 10.20 (no caso Ln,w).

Em anexo apresentam-se valores característicos do isolamento sonoro a sons de percussão de


algumas soluções construtivas (EN 12354-2), recomendando-se sempre para uma aplicação
prática a consulta de boletins laboratoriais de ensaio das soluções a utilizar.

Importa ainda explicar o processo associado à avaliação da redução de transmissão de sons


de percussão conferida por um revestimento de piso, após correcção para um pavimento de
referência (índice ∆Lw).

Trata-se apenas de estimar o nível de pressão sonora de percussão normalizado do pavimento


de referência revestido (Equação (10.22)), e de seguida aplicar a Equação (10.23) (diferença
aritmética entre valores ponderados).

10.29
Física das Construções

L n , r = L n , r , 0 − ∆L (10.2
2)
Onde:
Ln,r – nível de pressão sonora de percussão, normalizado, do pavimento de referência revestido
(utilizando o valor de ∆L determinado no laboratório onde se realizou o ensaio) (dB)
Ln,r,0 – nível de pressão sonora de percussão, normalizado, do pavimento de referência não revestido
(valores definidos na ISO 717-2) (dB)
∆L – redução de transmissão sonora a sons de percussão conferida por um revestimento de piso (dB)

∆L w = L n , r , 0 , w − L n , r , w (10.2
3)
Onde:
∆Lw – redução da transmissão sonora (valor ponderado) a sons de percussão conferida por um
revestimento de piso (dB)
Ln,r,0,w – nível de pressão sonora de percussão, normalizado e ponderado, do pavimento de referência
não revestido (valor definido na ISO 717-2) (dB)
Ln,r,w – nível de pressão sonora de percussão, normalizado e ponderado, do pavimento de referência
revestido (dB)

Na Figura 10.21 apresenta-se um exemplo de um boletim de ensaio relativo ao parâmetro ∆Lw


para um material a integrar numa solução de revestimento de pavimento (neste caso um
elemento resiliente a colocar sob o revestimento). Refira-se a propósito que a utilização deste
parâmetro apenas é valida para lajes de massa superficial elevada.

10.3.2 Situação Real – Com Influência da Transmissão Marginal

Tal como para os sons de condução aérea, não faz sentido para uma situação real num edifício
falar no isolamento sonoro a sons de percussão de um elemento construtivo, mas sim do
isolamento a sons de percussão entre dois espaços.
Quando se considera a transmissão marginal no caso dos sons de percussão, os parâmetros
descritores de isolamento sonoro passam a utilizar na sua designação uma “plica” (´) (por
exemplo L´, L´n, L´nT, entre outros).

A medição do isolamento sonoro a sons de percussão entre dois espaços interiores de um


edifício processa-se de forma similar à avaliação laboratorial, ainda que com um conjunto de
directrizes técnicas específicas definidas na norma ISO 140-7.

Nível de pressão sonora de percussão (in situ)

Neste caso o nível de pressão sonora de percussão não é originado apenas pela vibração da
laje de pavimento, mas também pelos elementos construtivos a ele ligados, sendo que no caso

10.30
Física das Construções

geral (avaliação no espaço subjacente ao local emissor) estes correspondem às paredes da


envolvente entre os dois espaços em análise (Figura 10.22).

Figura 10.21 – Excerto de um boletim de ensaio laboratorial relativo à redução sonora a sons
de percussão de um material a integrar numa solução de revestimento de pavimento (descrição
dos valores de ∆L por bandas de frequências de 1/3 oitava), com um ∆Lw = 20 dB (Velaphone)

L´ (dB)

TM TM

10.31
Física das Construções

Figura 10.22 – Conceito de nível de pressão sonora de percussão (medido”in situ”)


(Hamayon 1996)

Por conseguinte a avaliação no espaço receptor do nível médio de pressão sonora de


percussão passa a realizar-se através do parâmetro L´ – nível de pressão sonora de percussão
(medido “in situ”). Note-se que na prática não é necessário referir que o parâmetro L´ diz
respeito a uma medição num edifício, visto que tal como já explicado, a “plica” utilizada na
denominação do parâmetro permite identificar imediatamente a situação em causa.

Nível de pressão sonora de percussão (“in situ”) normalizado ou padronizado

Refira-se novamente que para situações de avaliação “in situ” continuam a ser aplicáveis os
parâmetros normalizado e padronizado atrás referidos (Equações (10.19) e (10.20)), passando
neste caso a apresentar a designação L´n e L´nT.

Índices de isolamento sonoro a sons de percussão

Tal como explanado no caso dos sons de condução aérea, quando se considera a existência
de transmissão marginal continua naturalmente a ser válido o conceito de parâmetro descritor
único. Aplicando de novo este conceito aos parâmetros de isolamento sonoro normalizado ou
padronizado, obtêm-se os dois índices de isolamento sonoro a sons percussão mais utilizados
na legislação europeia:
- L´n,w – índice de isolamento sonoro a sons percussão normalizado;
- L´nT,w – índice de isolamento sonoro a sons percussão padronizado.

O índice L´nT,w foi adoptado pela regulamentação Portuguesa (Regulamento dos Requisitos
Acústicos ddos Edifícios, Decreto-Lei n.º 98/2008) para a quantificação do isolamento sonoro a
sons de percussão entre dois espaços interiores.

No caso dos sons de percussão há que referir se a avaliação é efectuada em bandas de 1/1
oitava ou de 1/3 oitava pois, como o que está em causa é apenas um nível de pressão sonora
(e não a diferença entre dois níveis como no caso dos sons aéreos), caso se utilizem bandas
de 1/1 oitava o valor medido excederá normalmente em cerca de 5 dB o respectivo valor em
bandas de 1/3 oitava (o mesmo se mantém válido para uma situação de avaliação laboratorial).

Quando nada é referido em contrário assume-se que o índice L´n,w (ou outro) corresponde ao
valor medido em bandas de 1/3 oitava. Caso se pretenda exprimir um resultado em bandas de
1/1 oitava então os resultados deverão aparecer expressos em dB/oit. – por exemplo L´n,w =
65 dB/oit (que corresponde aproximadamente a um L´n,w = 60 dB).

Quantificação da transmissão marginal

10.32
Física das Construções

Para a quantificação da componente marginal no processo de transmissão sonora de


percussão entre dois espaços interiores de um edifício deve recorrer-se à metodologia de
cálculo definida na normalização europeia aplicável (EN 12354-2). A aplicação da metodologia
simplificada da referida norma permite escrever a Equação (10.24).

L´ n , w = Ln , w − ∆Lw + ∆TM (10.2


4)
Onde:
L´n,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão normalizado (dB)
Ln,w – nível de pressão sonora de percussão ponderado (dB)
∆Lw – redução da transmissão sonora (valor ponderado) a sons de percussão conferida por um
revestimento de piso (dB)
∆TM – influência da transmissão marginal (dB)

Note-se que uma vez que quanto maior for o índice de isolamento sonoro a sons de percussão
pior é o desempenho, a influência da transmissão marginal ∆TM afecta positivamente o valor
relativo à caracterização laboratorial da solução construtiva.

Para uma situação específica é possível através da consulta da EN 12354-2 obter o valor do
parâmetro ∆TM em função da massa superficial da laje de pavimento e da massa superficial
média dos vários elementos marginais (paredes) não revestidos, sendo que para soluções
construtivas tradicionais um valor de ∆TM = 3 pode ser considerado conservativo (o seu valor
pode variar na prática de 0 a 6 dB – método simplificado da EN 12354-2).

Visto que a metodologia de quantificação da transmissão marginal apresentada apenas diz


respeito ao índice ponderado (L´n,w), importa apresentar a relação entre o valor obtido e o do
índice padronizado (L´nT,w) correspondente (Equação (10.25)).

 30  (10.2
L´nT , w = L´n , w +10 log  
V  5)
Onde:
L´nT,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão padronizado (dB)
L´n,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão normalizado (dB)
3
V – volume do espaço receptor (m )

Por último deve notar-se que a metodologia apresentada apenas é válida para o caso em que a
avaliação do isolamento sonoro a sons de percussão se efectua no espaço subjacente àquele
em que actua a máquina de impactos. Caso não seja esta a situação (o que na prática é um
caso vulgar, atendendo às exigências regulamentares – ver §10.3.3) (Figura 10.23) devem
utilizar-se métodos de previsão mais detalhados.

10.33
Física das Construções

Figura 10.23 – Exemplo de transmissão de sons de percussão para um caso em que o espaço
receptor não se encontra subjacente ao espaço emissor (Patrício 2003)

10.3.3 Critérios de Desempenho Acústico

A regulamentação Portuguesa referente aos requisitos acústicos (mínimos) em edifícios


(Decreto-Lei n.º 96/2008) define um conjunto de valores de isolamento sonoro a sons de
percussão, em função do tipo de edifício e da natureza dos espaços emissor/receptor.

Apresentam-se de seguida, como referência, os valores referentes a edifícios habitacionais e


mistos (Tabela 10.6).

Tabela 10.6 – Requisitos regulamentares de isolamento sonoro a sons de percussão entre


espaços interiores de edifícios habitacionais e mistos (Decreto-Lei n.º 96/2008)

Índice de Isolamento Sonoro a Sons de Percussão, L´nT,w

Entre o espaço/situação abaixo indicada (emissão) e quartos ou zonas de estar dos fogos (recepção)

Pavimentos de outros fogos


≤ 60 dB
ou locais de circulação comum *

Locais de comércio, indústria, serviços ou diversão ≤ 50 dB

* Exceptuando se o local emissor for um caminho de circulação vertical, num edifício servido por ascensores.

A definição de critérios complementares de isolamento sonoro a sons de percussão depende,


tal como no caso dos sons aéreos, da relação entre a produção de ruído no espaço emissor e
do nível de ruído de fundo expectável no espaço receptor, não sendo por isso fácil definir
valores de referência, recomendando-se a análise de cada caso em particular.

Apenas a título de exemplo, indica-se de seguida um critério de conforto que poderá ser
desejável garantir em edifícios de habitação: L´nT,w ≤ 60 dB entre qualquer compartimento de
um fogo e um escritório de outro fogo.

10.4 Lei da Massa

Da energia sonora absorvida por uma parede, uma parte é dissipada sob a forma de calor
sendo a restante transmitida pela parede, para outros locais. A transmissão de energia sonora
pela parede depende de muitos factores, entre os quais se pode destacar:
- frequência do som incidente na parede;
- massa da parede;
- ângulo de incidência das ondas sonoras;
- porosidade da parede;

10.34
Física das Construções

- rigidez das paredes

No caso de sons aéreos, os parâmetros com maior influência na transmissão de sons são,
como já se viu, a massa da parede e a frequência do som incidente.

O índice de redução sonora de uma parede, que caracteriza a aptidão do elemento de


separação para isolar o meio emissor do meio receptor, é tanto maior quanto maior for a massa
do elemento. Para um hipotético elemento, de rigidez nula, o índice de redução sonora para um
som com uma determinada frequência, está directamente relacionado com
com a massa desse
elemento. Esta relação é conhecida por Lei da Massa,, representada de forma gráfica na
Figura 10.24.

Figura 10.24 – Lei da massa teórica

O índice de redução sonora para um som com uma determinada frequência aumenta de
6dB/oitava sempre que a massa da parede duplica, segundo a Lei da Massa Teórica.
Teórica

Na prática, em termos médios, verifica-se


verifica que o aumento é de cerca de 4dB/oitava - Lei da
Massa Experimental.

Por outro lado, o índice da redução sonora de uma parede, com uma determinada massa, é
tanto maior quanto maior for a frequência do som incidente. Esta relação é conhecida por Lei
da Frequência.

Para uma parede simples com uma determinada massa, o índice de redução sonora aumenta
6dB/oitava, isto é, quando a frequência aumenta para o dobro - Lei da Frequência Teórica.
Teórica

Na prática, em termos médios, verifica-se


v que o aumento é de cerca de 4dB/oitava - Lei da
Frequência Experimental

No entanto, na realidade, todos os elementos de construção possuem rigidez.


Consequentemente, cada um deles terá um modo de vibração e uma frequência de
ressonância que provoca
oca quebras no isolamento acústico, impedindo, deste modo, que se
estabeleçam relações directas entre a massa e o isolamento sonoro, para uma determinada

10.35
Física das Construções

frequência do som, bem como entre a frequência do som e o isolamento, para um determinado
elemento de separação.

Por outro lado, verifica-se


se que as ondas sonoras quando incidem no elemento separador com
um ângulo θ tal que a projecção do comprimento de onda do som coincida com o modo de
vibração dessa parede, as oscilações da parede são amplificadas e a transmissão
ansmissão do som
faz-se quase sem atenuação.
atenuação

Este fenómeno aparece a frequências mais elevadas e é conhecido por Efeito de


Coincidência,, representado de forma esquemática na Figura 10.25.

Figura 10.25 - Efeito de coincidência

A frequência mais baixa a que este efeito ocorre, para um dado elemento, é designada de
Frequência Crítica.

Se for considerada a influência de todos os efeitos responsáveis pela não verificação da Lei da
Massa ou da Lei da Frequência, em determinadas zonas da frequência do som, o índice de
redução sonora de um elemento de construção segue aproximadamente a curva representada
na Figura 10.26,, que traduz o comportamento real.

10.36
Física das Construções

Índice de Redução Sonora [dB]

Frequência [Hz]

Figura 10.26 - Efeitos responsáveis pela não verificação da Lei da Massa ou da Lei de
Frequência

Como se pode verificar, existem quebras do índice de redução sonora devidas à ressonância
2
da parede. No entanto, verifica-se que para paredes com área superior a 10 m a sua
frequência de ressonância situa-se, em geral, a frequências muito baixas (abaixo dos 100 Hz),
onde a aptidão do ouvido humano para captar esses sons é muito baixa, se não afectar as
frequências superiores a 100 Kg.
2
No caso de superfícies com áreas inferiores a 10 m é necessário prever uma quebra no
isolamento sonoro.

As quebras devidas ao efeito de coincidência (e à frequência crítica) poderão ser evitadas se


os elementos forem escolhidos de forma a que estes efeitos se situem fora da gama de
frequência onde o nível de isolamento sonoro é considerável. Em geral deve evitar-se que o
efeito de coincidência ocorra na gama de 100 - 3 150 Hz.
A frequência crítica de um elemento de construção pode ser calculada de forma aproximada
pela Equação (10.25):
2 ρ (10.2
f c = 1c,8h Ε 6)
Onde:
c - velocidade de propagação do som
h - espessura do elemento
ρ - densidade do material constituinte do elemento
2
E - módulo de elasticidade do material (kN/m )

A partir da expressão anterior verifica-se que a frequência crítica do elemento aumenta com a
diminuição da espessura, como se pode ver na Figura 10.27, para alguns materiais correntes.

10.37
Física das Construções

1 - placa de fibra
2 - placa de chumbo
3 - parede de
fibrocimento
4 - parede de tijolo
5 - placa de amianto
6 - placa de cimento
7 - chapa de aço

8 - vidro

Figura 10.27 - Aumento da frequência crítica com a diminuição da espessura

Os valores das frequências críticas de alguns materiais encontram-se tabelados, para


elementos com 1 cm de espessura. A partir destes valores é possível determinar
aproximadamente a frequência crítica de um elemento do mesmo material mas com espessura
diferente, bastando para isso dividir o valor tabelado pela espessura real do elemento.
Verifica-se, assim, que aumentando a espessura a frequência crítica diminui.
Deste modo, o ideal seria que o efeito de coincidência se desse fora da área de frequências na
qual se exige isolamento sonoro elevado, ou seja, que a frequência critica esteja fora do
intervalo de frequências que se estende dos 100 Hz aos 3 150 Hz.

Um modo de aumentar a frequência crítica e assim aumentar o valor do isolamento sonoro


será o de reduzir a rigidez do painel sem mudar significativamente o valor da massa.

Um método eficaz de melhorar o isolamento sonoro de um elemento de construção é


recorrer a um elemento duplo em vez de um elemento simples, tal como mostra a Figura
10.28, sendo normalmente o isolamento sonoro de um elemento duplo superior ao de um
elemento simples com a mesma massa, pois a camada separadora de ar ou de material
absorvente contribui para isso.

Neste caso, a frequência critica é determinada pela espessura de cada elemento e por isso é
vantajoso optar por dois elementos de espessura diferente de forma a evitar que o efeito de
coincidência de ambos os elementos ocorra à mesma frequência.

10.38
Física das Construções

Figura 10.28 - Atenuação sonora para elementos simples e duplos

No entanto, à frequência de ressonância, o isolamento não melhora nada devendo, por isso,
utilizar-se
se soluções cuja frequência de ressonância
ressonância se situe abaixo dos 100 Hz.

Na Figura 10.29 pode observar-se


observar se a curva de isolamento sonoro para duas soluções com a
mesma massa, uma simples e outra dupla.

Figura 10.29 - Curva de isolamento sonoro para um elemento simples e para um elemento
duplo

Para que um elemento duplo ofereça um bom comportamento acústico é necessário que os
dois panos da parede não sejam solidários, pois os elementos estruturais para amarração entre
paredes duplas, por exemplo, tendem a diminuir a eficiência do isolamento acústico
acú do

10.39
Física das Construções

conjunto e, quanto mais inflexíveis ou rígidos forem esses elementos, menor é a atenuação do
ruído.

Na Tabela 10.7 apresenta-se


se o isolamento acústico de algumas soluções construtivas.

Tabela 10.7
10 - Soluções construtivas e seu isolamento

A aplicação de materiais absorventes no interior do espaço de ar numa parede dupla, é


indicada, uma vez que, apesar destes não serem por si só bons isolantes, devido às suas
características absorvem parte da energia sonora incidente e diminuem as reflexões que
ocorrem na caixa-de-ar
ar e, quando aplicados em conjunto com materiais isolantes, pesados,
conduzem à melhoria do comportamento
compo acústico do conjunto.

Na redução dos ruídos aéreos, os materiais absorventes podem ser também utilizados como
controladores do tempo de reverberação e redutores do ruído de fundo. A aplicação destes
materiais no ambiente de geração do ruído promove
promove a atenuação das reflexões ocorridas
dentro do ambiente, controlando a intensidade sonora no interior do recinto.

Estes materiais podem ser colocados na superfície de paredes e tectos ou em painéis


suspensos, que podem permitir a absorção nas duas faces, em função da zona onde ocorrem
as reflexões e da área necessária para a absorção ser garantida, tal como mostra a Figura
10.30.

10.40
Física das Construções

Figura 10.30 - Aplicação de materiais absorventes para reduzir as reflexões no ambiente

Por outro lado elementos mais prejudiciais ao isolamento acústico de um edifício são as
aberturas, portas e janelas, pois sempre que uma superfície apresenta
apresenta aberturas, a sua
capacidade de isolamento é reduzida de forma significativa.

Para condições óptimas, isto é, quando se testam provetes em câmaras de ensaios, os


elementos construtivos apresentam melhor comportamento acústico do que quando se aplicam
apli
estas soluções em construção, o que é devido a inúmeros factores tais como:

- juntas imperfeitas;

- pontes acústicas entre dois elementos que deveriam ser independentes;

- portas;

- janelas;

- transmissões marginais;

- etc..

Uma pequena abertura provoca


provoca reduções drásticas no isolamento sonoro de um elemento
construtivo, como se pode facilmente observar na Figura 10.31.. Por exemplo, uma abertura
com uma área correspondente a 0,1% da área da parede onde está inserida, pode levar a uma
redução de 30 dB no seu isolamento.

10.41
Física das Construções

Figura 10.31 - Influência da existência de aberturas na transmissão sonora de em elemento


construtivo

Em termos gerais os pontos débeis numa construção corrente em relação ao isolamento


sonoro são as aberturas existentes, quer dizer, portas, envidraçados,
açados, caixas de estores, etc.,
sendo que os mais usuais na composição de paredes de separação resultam da inclusão de
portas ou janelas.

Na Tabela 10.8 apresenta-se


se o isolamento global calculado para um elemento construtivo com
uma porta que ocupa cerca de 7% da área total do elemento, que pode ser utilizada para
estimar o valor do isolamento sonoro global.

10.42
Física das Construções

Tabela 10.8 - Isolamento global, para um elemento construtivo com uma porta que ocupa cerca
de 7% da área total do elemento

Índice de isolamento sonoro da divisória (dB) – sem porta 25 30 35 40 45 50

Com qualquer porta, com frinchas bem aparentes no


23 25 27 27 27 27
contorno

Com porta leve, com vedante de frincha de contorno 24 28 30 32 32 32

Com porta pesada, com vedante de frincha de contorno 25 29 33 35 37 37

Com porta dupla, com tratamento acústico do espaço entre


25 30 35 40 44 49
portas

A Figura 10.32 mostra o efeito da inclusão de uma porta para o comportamento acústico de
uma parede.

Figura 10.32 - Redução do isolamento sonoro em superfícies


superfícies heterogéneas

Para elementos do tipo das portas, o isolamento alcançado depende em grande parte da
massa da folha da porta e da forma de montagem. A vedação das bordas e orifícios é
primordial, uma vez que os espaços deixados entre portas e soleira são pontos de transmissão
do som, como mostra a Figura 10.33.

Figura 10.33 - Transmissão sonora por falta de vedação e detalhe da vedação do contorno de
uma porta

10.43
Física das Construções

A distribuição das aberturas dos compartimentos adjacentes e das actividades internas deve
ser realizada com cuidado, tal como mostra a Figura 10.34, pois quanto mais próximas forem
as aberturas maior é a influência sonora de um sobre o outro.

Figura 10.34 - Interferência sonora entre ambientes devido à proximidade de aberturas e da


distribuição adequada dos ambientes no edifício

Obviamente, a optimização do isolamento sonoro passa pelo tratamento do elemento de menor


índice de isolamento sonoro, a abertura,
abertura, e não do elemento que possui melhor índice de
isolamento sonoro, a parede. O princípio do tratamento acústico adoptado para ambos os
elementos, aberturas e parede, é idêntico, ainda que, os pormenores de execução possam ser
bastante diferentes.

A primeira
ra condição a que se deve obedecer é que o seu fecho seja hermético. Não sendo
possível, os inconvenientes podem ser minorados usando bandas resilientes no revestimento
dos batentes e das juntas. Materiais resilientes, como borrachas, quando aplicadas nas juntas
ajudam a amortecer a vibração do painel e a vedar as pequenas frestas que permitem a
passagem do som. Sempre que possível as janelas devem apresentar vedações resilientes
para aumentarem a sua capacidade de isolamento, como o caso apresentado na Figura
Fig 141.

Figura 10.35 - Vedação de janelas

Tal como no caso das paredes podem ser utilizadas janelas com vidro duplo, como o caso
representado na Figura 10.36
36,, ou podem mesmo possuir caixilharia dupla. Para este caso a
melhoria de atenuação sonora em relação a uma janela de vidro simples depende do
isolamento dos painéis, devendo estes ter espessuras diferentes e devem estar
es afastados no

10.44
Física das Construções

mínimo 10 mm. O aumento do espaço de ar entre os painéis, bem como a eliminação das
juntas rígidas, aumenta o isolamento acústico do elemento.

É igualmente aconselhável a utilização de caixilharia, vulgarmente denominada como de rotura


térmica,
mica, que se distingue pela montagem de um material isolante, normalmente poliamida,
separando os perfis, normalmente de alumínio, e interrompendo assim a transmissão
transmis acústica
e térmica.

Figura 10.36 - Janelas com vidro duplo

Na Figura 10.37 apresentam--se


se cortes legendados das soluções referidas atrás.

Figura 10.37 - Isolamento acústico em janelas

10.45
Física das Construções

A atenuação conferida por janelas depende da espessura e do tamanho do painel, do material


utilizado e da forma de montagem. Em geral as janelas apresentam baixo isolamento acústico,
acú
tal como se pode ver nas Tabela 10.9 e Tabela 10.10.

Tabela 10.9
9 - Isolamento global, para vários tipos de janelas

Índice de isolamento sonoro


Descrição
(dB)
Qualquer tipo de janela, quando aberta ≅ 10
Janelas comuns
omuns (qualquer tipo de vidro), sem vedação de frincha de
até 20
contorno
Janela com vedação de frincha de vidro de 6 mm de espessura até 25
Janela fixa, com vidro de 12 mm de espessura até 30
Janela fixa, com vidro de 24 mm de espessura até 35
Janela dupla (caixa de 15 a 20 cm, tratada, vedação de frinchas,
até 40
qualquer vidro)

Tabela 10.10 - Valores típicos de índice de isolamento sonoro de janelas

10.46
Física das Construções

Normalmente os vidros mais espessos oferecem valores de índice de atenuação sonora


maiores do que o apresentado por vidros mais finos. Vidros laminados, compostos por
camadas de vidro interpostas por camadas de plástico, também podem atenuar mais o ruído
transmitido, pois como o plástico das camadas é um bom amortecedor de ondas sonoras,
colabora para que a redução da transmissão seja maior. As janelas fixas, por sua vez,
apresentam maior isolamento que as janelas móveis.

Também a caixa de estore deve receber especiais cuidados. Em termos acústicos, é preferível
a colocação do estore pelo interior da caixilharia, evitando desta forma um espaço ventilado
interior/exterior. No entanto, em termos térmicos, o estore funciona melhor se colocado pelo
exterior, o que sucede a maior parte das vezes, sendo, por isso, necessário que a caixa de
estore tenha um tratamento acústico, colocando no seu interior um material absorvente, tal
como exemplificado na Figura 10.38.

Também a caixa de estore deve receber especiais cuidados. Em termos acústicos, é preferível
a colocação do estore pelo interior da caixilharia, evitando desta forma um espaço ventilado
interior/exterior. No entanto, em termos térmicos, o estore funciona melhor se colocado pelo
exterior, o que sucede a maior parte das vezes, sendo, por isso, necessário que a caixa de
estore tenha um tratamento acústico, colocando no seu interior um material absorvente, tal
como exemplificado na Figura 10.38.

Figura 10.38 - Exemplo de caixa de estore com tratamento acústico, preenchida por elemento
absorvente acústico, e exemplo de solução de protecção numa abertura de ventilação

Na Figura 10.38, apresenta-se também a forma de tratamento acústico de aberturas de


ventilação, pois este tipo de aberturas pode originar perdas de transmissão significativas. Na
Figura 10.39 apresenta-se um ábaco que permite a determinação da perda de isolamento
sonoro, para estas situações.

Para alguns casos de ruídos aéreos a simples eliminação da incidência do som directo sobre o
receptor pode colaborar para o conforto acústico. Este é o caso corrente em grandes
escritórios em que divisórias parciais podem servir como barreiras acústicas.

10.47
Física das Construções

A título indicativo, apresenta--se na Tabela 10.11 valores de isolamento sonoro para algumas
divisórias,
ias, obtidos em ensaios de laboratório.

Figura 10.39 - Ábaco para cálculo das perdas de transmissão devidas a aberturas

Tabela 10.11 - Valores de isolamento sonoro para algumas divisórias, obtidos em ensaios de
laboratório
Descrição da divisória Esp. Índice de redução sonora (dB) D n,w
(cm) 125 250 500 1000 2000 4000 (dB)
Simples com blocos de betão de argila expandida,
14 23 29 37 42 49 47 40
rebocados
Simples de alvenaria de tijolo 9 33 29 36 39 44 46 40
Simples de alvenaria de tijolo 13 34 34 41 50 56 58 46
Simples de alvenaria com blocos de betão normal 9 36 32 42 50 56 58 45
Simples de alvenaria com blocos de betão normal 17 39 42 50 58 64 67 54
Simples de betão armado 10 36 36 45 51 58 63 48
Simples de betão armado 14 32 42 49 55 61 66 52
Simples de painéis de aglomerado negro de
cortiça de 5 cm revestidos com aglomerado de 6 24 20 24 31 35 39 29
fibra de madeira de 0.5 mm
Simples de painéis de aglomerado negro de
cortiça de 7.4 cm revestidos com aglomerado de 8 24 23 28 27 37 39 30
fibra de madeira de 0.3 mm
Simples de painéis de aparas de madeira
aglomeradas com cimento de 5 cm de espessura 7 26 32 30 34 37 40 34
com reboco de 1 cm em argamassa de cimento
Dupla de alvenaria de tijolo com caixa-de-ar
caixa de 5
17 38 42 45 46 53 59 48
cm contendo uma manta de lã mineral
Dupla de painéis de argamassa de gesso com 6
18 32 40 42 50 58 64 49
cm de caixa-de-ar

10.48
Física das Construções

Na Tabela 10.12 apresentam-se os ruídos perturbadores mais comuns nos edifícios de


habitação, as causas da sua propagação e as medidas para os evitar.

Tabela 10.12 - Ruídos perturbadores mais comuns nos edifícios de habitação

Classe de ruído Causas da sua propagação Medidas para os evitar


Percepção da palavra Transmissões dos sons Melhorar a atenuação do elemento plano de
falada, canto, rádio, em aéreos através de paredes e separação
locais contíguos pavimentos, assim como Eficácia sempre limitada pela existência de
propagação indirecta ao propagações indirectas.
longo de condutas de ar
condicionado, chaminés, etc.
Percepção do som de um Propagação de sons aéreos, Igual à anterior, aumentando a eficiência do
piano associada muitas vezes a pavimento para atenuar o ruído de percussão,
transmissão de ondas sólidas ou colocação de materiais resilientes por baixo
através do revestimento de dos apoios do piano
piso Não se consegue grande eficácia devido às
propagações indirectas
Ruído de passos, objectos Propagação do ruído de Melhorar o grau de protecção contra o ruído de
que caem, arraste de percussão como caso típico percussão, por exemplo mediante uma lajeta
armários ou camas, etc. de ondas de sólidos ou de flutuante na parte superior do pavimento
flexão do piso A eliminação substancial destes ruídos só pode
ser obtida com pavimentos que já apresentam
boas qualidades acústicas antes dos
acabamentos.
Ruídos de ligação de Transmissão por ondas Precauções a ter nos locais em que se
interruptores, e de sólidas que percorrem a produzam os ruídos (por exemplo colocação de
interruptores automáticos estrutura e alcançam as interruptores silenciosos, cintas de borracha
(frigoríficos), elevadores, paredes do local nas portas, etc.)
fechar portas, etc. Os ruídos serão tanto mais intensamente
perceptíveis, quanto menos pesada for a
parede.
Ruídos de descargas de Vibrações produzidas no Conduções silenciosas, prevenção do “golpe
água em casas de banho, centro das tubagens e de ariete”, introdução de mangas
circulação de água em transmitidas através dos amortecedores em tramos críticos Distribuição
condutas de aquecimento, sólidos adequada no projecto
etc.
Lavagens da loiça, tomar Propagações de ondas Melhorar a atenuação do pavimento da cozinha
banho e outros ruídos sólidas ao longo das paredes contra o ruído de percussão. Separar os
próprios da cozinha e das e pavimentos equipamentos da parede mediante um
casas de banho elemento resiliente.
Ruídos procedentes do Propagações de sons aéreos Melhorar atenuação sonora das janelas, ajuste
exterior (tráfego) através das janelas dos seus marcos, etc.

10.49
Física das Construções

Ruído produzido no mesmo Reverberação excessiva no Revestir as superfícies mais adequadas com
local onde se encontra o interior do local (causada por materiais absorventes, tanto em paredes como
observador, recebido com absorção insuficiente) tectos
intensidade excessiva

10.5 Previsão do Isolamento Sonoro

10.5.1 Previsão do isolamento sonoro a sons de condução aérea


Para efeitos da estimativa do valor do Índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea,
normalizado, há alguns métodos que permitem prever o comportamento acústico dos
elementos construtivos. Apresentam-se aqui o Método Gráfico e o Modelo Misto.

10.5.2 Método Gráfico


Este método, baseado na Lei Teórica da Massa, estabelece uma clara distinção entre
divisórias simples e divisórias duplas.

No caso de divisórias simples, podemos recorrer ao gráfico da Figura 10.40 para obter o
valor do índice de redução sonora ponderado, RW, em função da respectiva massa superficial.

Neste gráfico, em função da massa superficial, é possível identificar um intervalo de valores,


para dar conta da dispersão de comportamentos para divisórias com a mesma massa
superficial, devido às diferentes propriedades elásticas, estima-se o isolamento conferido por
divisórias simples.

É importante verificar a contribuição da transmissão marginal. Admite-se que:

RW ≤ 35 dB → é desprezável a transmissão marginal


35 dB < RW < 45 dB → estima-se em 3 dB a redução no Dn, W
RW ≥ 45 dB → deve-se recorrer à verificação no local

10.50
Física das Construções

RW (dB)
RW = 27 ± 3.15 → Se m ≤ 25 kg/m2
RW = 20.4 log m -1.5 ± 3.15 → Se m ≤ 25 kg/m2

m (kg/m2)
Figura 10.40 - Redução da transmissão sonora de elementos de compartimentação
homogéneos, simples, em função da sua massa superficial

No que respeita aos elementos simples pode ser utilizado o gráfico da Figura 10.40, atrás
apresentado, partindo do conhecimento da massa superficial respectiva. No entanto, a
utilização desse gráfico deve ser dirigida a elementos com massa por unidade de superfície
razoavelmente elevada, não sendo pois válido para envidraçados.

Este tipo de elementos dado constituírem um sistema integrado de painel de vidro e caixilharia
apropriada devem ser ensaiados em laboratório, obtendo-se, com utilização do método de
caracterização experimental, o índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea.

No entanto, a título ilustrativo apresenta-se, na Figura 10.41, um gráfico de utilização prática


onde, para um prognóstico aproximado, pode também ser determinado o índice de isolamento
sonoro de um envidraçado, a partir do conhecimento da sua massa superficial.

Figura 10.41 - Ábaco prático para determinação do índice de isolamento sonoro de


envidraçados em função da sua massa superficial

10.51
Física das Construções

De seguida referem-se
se alguns aspectos relativos à estimação do isolamento sonoro de
sistemas simples com acrescento de um novo pano com espessura igual ou diferente.

Para efeitos de cálculo do isolamento sonoro destes sistemas de compartimentação, definidos


como sistemas duplos, pode ser utilizado o ábaco da Figura 10.42, onde, a partir do
conhecimento da massa superficial do pano adicional, se pode estimar o acréscimo de
isolamento sonoro relativamente ao valor calculado para o sistema
si simples.

Nesse ábaco pode denotar--se


se que, quando se duplica a massa da divisória, o acréscimo
teórico em questão é da ordem de 7 dB. Todavia, por questões de ordem pragmática e com
base na experiência prática adquirida é aconselhável considerar, no máximo,
máximo, o valor de 5 dB,
relacionando todos os outros valores a esta relação (5/7).

Figura 10.42 - Ábaco para determinação do acréscimo de isolamento sonoro por acrescento de
novo pano de divisória

De seguida descreve-se
se outra metodologia para a estimativa do isolamento sonoro a sons de
condução aérea, para elementos simples, duplos ou triplos, o Modelo Misto.

10.5.3 Modelo Misto


Da energia sonora absorvida por uma parede, uma parte é dissipada sob a forma de
d calor,
sendo a restante transmitida pela parede para outros locais. A transmissão de energia sonora
pela parede depende de muitos factores, entre os quais se podem destacar:
• frequência do som incidente na parede;
• massa da parede;
• ângulo de incidência das ondas sonoras;
• porosidade da parede; e
• rigidez das paredes.

10.52
Física das Construções

No caso de sons aéreos, os parâmetros com maior influência na transmissão de sons são a
massa da parede e a frequência do som incidente.

Lei da Massa Teórica

Para um hipotético elemento, de rigidez nula, o índice de redução sonora para um som com
uma determinada frequência, está directamente relacionado com a massa desse elemento.
Uma parede pesada tem então, em princípio, um índice de atenuação sonora maior do que
uma parede leve. É possível estabelecer, através dum modelo inercial, uma lei da massa
teórica que se traduz num acréscimo de isolamento sonoro do elemento de separação de 6 dB
por cada duplicação da massa, ou por duplicação da frequência do som e a energia associada
às bandas de baixa frequência é menos acentuada que a associada às frequências altas.
Deste modo, o isolamento sonoro de um elemento de separação, em situação de campo
difuso pode ser dado pela Equação (10.27):

(10.2
R = 20 log (f m) - 47 dB
7)
Onde:
f: frequência do som em Hz;
m: massa por unidade de superfície do elemento.

Lei da Massa Experimental

Da análise experimental efectuada por diversos autores, foi possível verificar que na zona
controlada pela lei da massa o acréscimo médio de isolamento por duplicação de massa é
geralmente inferior aos 6 dB definidos pela lei teórica referida anteriormente.

A partir da análise experimental, Meisser admite um índice de isolamento sonoro a sons


2
aéreos, para uma frequência de 500 Hz e para uma massa de 100 kg/m de 40 dB.
2
R = 40 dB para m = 100 Kg/m e f = 500 Hz

Considera igualmente uma lei experimental traduzida por um acréscimo de 4 dB por


duplicação da massa, como mostra a Tabela 10.13.

Tabela 10.13 - Lei experimental da massa, com valores obtidos segundo Meisser

Para uma frequência de 500 Hz

2
25 kg/m 32 dB
2
- 4 dB ↑ 50 kg/m 36 dB
2
100 kg/m 40 dB
2
+ 4 dB ↓ 200 kg/m 44 dB
2
400 kg/m 48 dB

Segundo Mateus e Tadeu, a lei experimental da massa para um som de 500 Hz pode ser

10.53
Física das Construções

expressa pela Equação (10.28), divergindo apenas ligeiramente dos valores definidos por
2
Meisser, para massas inferiores a 200 kg/m :

(10.2
R (500 Hz)=13.3 Log (m) + 13.4 dB
8)
2
Para elementos de separação pesados, com m ≥ 200 kg/m , da análise experimental verifica-
se que a lei da massa apresenta uma maior inclinação, podendo neste caso utilizar-se a
Equação (10.29):
(10.2
R (500 Hz)=14.3 Log (m) + 11.1 dB
9)

Relativamente ao traçado em frequência, Meisser considera uma lei da frequência


experimental igualmente de 4 dB, mas com um posterior ajustamento da curva traçada ao
modelo analítico, considerando a lei da frequência teórica (6 dB por oitava) e as quebras de
isolamento nas frequências próprias de vibração transversal por flexão e por efeito de
coincidência.

Os valores para marcação inicial da curva por frequências, definida a partir de Meisser,
2
considerando uma massa de 100 kg/m estão resumidos na Tabela 10.14.

2
Tabela 10.14 - Valores a considerar na curva para paredes com massa de 100 Kg/m

Parede simples Parede dupla Parede tripla

125 Hz 32 dB 28 dB 20 dB
250 Hz - 4 dB ↑ 36 dB - 6 dB ↑ 34 dB - 10 dB ↑ 30 dB
500 Hz 40 dB 40 dB 40 dB
1000 Hz + 4 dB ↓ 44 dB + 6 dB ↓ 46 dB + 10 dB ↓ 50 dB
2000 Hz 48 dB 52 dB 60 dB

Em elementos duplos, dado o maior número de frequências próprias em jogo, esta lei
experimental de 6dB/oitava conduz, em geral, a um menor rigor na previsão do índice de
isolamento acústico, quando comparada com a correspondente lei aplicável a elementos
simples. Por outro lado, esta lei geralmente só é válida para frequências de som superiores à
frequência de ressonância do conjunto massas/caixa-de-ar. Caso contrário, os elementos de
separação duplos não se mostram vantajosos, do ponto de vista acústico, quando comparados
com elementos simples com a mesma massa total.

Da análise experimental, verificou-se que um elemento de separação duplo apresenta


geralmente um isolamento acústico superior ao verificado para um elemento simples com a
mesma massa superficial total. Em situações correntes, esta diferença (Dif.), apresentada na
Tabela 10.15, para uma frequência de 500 Hz, é próxima de 4 dB, para caixas-de-ar de 2 a
4 cm para painéis de massa não muito diferentes. Pode atingir diferenças de cerca de 9 dB,
para caixas-de-ar de 5 a 10cm e painéis de massa também não muito diferentes e com
material absorvente a preencher a caixa-de-ar. Deverá assim ser corrigida a lei experimental
da massa com a diferença correspondente (Equação (10.30) e Equação : (10.31)):

10.54
Física das Construções

(10.3
2
R (500 Hz)=13.3 Log (m) + 13.4 dB + Dif → m < 200 Kg/m 0)
(10.3
2
R (500 Hz)=14.3 Log (m) + 11.1 dB + Dif → m ≥ 200 Kg/m 1)

10.55
Física das Construções

Tabela 10.15 - Valores de acréscimo do isolamento pela existência de caixas-de-ar⇒Dif

Panos desligados não muito diferentes


Características da Caixa-de-ar
Caixa-de-ar de ar de 1 cm e panos de massas dif 2 dB
Caixa-de-ar de ar de 2 a 4cm 3 a 4 dB
Caixa-de-ar de ar de 5 a 10cm 5 dB
A - Sub-total (acréscimo devido à existência da caixa-de-ar)

Material absorvente na caixa-de-ar


1 cm de material absorvente 1 dB
2 a 4cm de material absorvente 2 dB
5 a 10cm de material absorvente 3 a 4 dB
B - Sub-total (devido à existência de material absorvente na caixa-de-ar)

Correcção pelo facto dos panos serem muito diferentes


1 a 4 dB
(como paredes mistas, tijolo + placas de gesso cartonado, ou pavimentos com tecto falso)
A+B =1 a 4 2 dB
A+B =5 a 6 3 dB
A+B =7 a 9 4 dB
C - Sub-total (devido ao facto dos panos serem muito diferentes)

Dif (dB)
Dif = (A + B - C)

Depois de marcar a curva inicial, a partir das leis experimentais da massa e da frequência,
terão de ser efectuadas as correcções à mesma, nomeadamente as quebras nas frequências
críticas nos elementos simples e, nos elementos compostos, além destas as eventuais
quebras ocasionadas pelos modos próprios de vibração por flexão transversal do painel, pelas
frequências de ressonância do conjunto painéis/caixa-de-ar e pelas frequências de
ressonância da(s) caixa(s)-de-ar.

Correcções

a) Pelos modos próprios de vibração por flexão transversal do painel

Um aspecto que diz essencialmente respeito ao desempenho acústico dos sistemas de


construção leves (placas e painéis) são as quebras pelos modos próprios de vibração, por
flexão transversal do painel. Estes fenómenos podem contribuir significativamente para a
quebra de isolamento sonoro do elemento, mas sucedem apenas nas placas finas. Em
elementos de espessura não muito pequena, e de área significativa (por exemplo, paredes
divisórias), as primeiras frequências próprias de vibração, relativas ao movimento transversal
do painel por flexão transversal do painel, situam-se numa gama de frequências muito baixas,
fora da zona audível, não afectando significativamente o isolamento acústico desse elemento.

10.56
Física das Construções

Terão de ser em primeiro lugar considerados os modos próprios de vibração por flexão
transversal do painel, através da Equação (10.32):

π  n2 m2  D (10.3
f nm = *  2 + 2 
2 a b  ρh 2)
Onde:
a,b: comprimento e largura da placa;
n, m: número de modos de vibração;
ρ: massa por unidade de volume do material que constitui a placa (kg/m3);
h: espessura da placa;
D: rigidez da placa (N.m), traduzida pela Equação (10.33)

h 3E (10.3
D=
12 * (1 − v 2 ) 3)
Onde:
2
E - módulo de Young (N/m ) ou modelo de elasticidade;
ν - coeficiente de Poisson.

O número de modos de vibração obtidos a partir da fórmula anterior é teoricamente infinito.


Contudo, os modos que influenciam significativamente o isolamento acústico são os primeiros
modos de vibração, conforme se representa na Figura 10.43.

Figura 10.43 - Modos próprios de vibração transversal por flexão com influência no isolamento
acústico

Em paineis sandwich e quando por exemplo as placas de gesso cartonado são duplicadas, as
frequências de vibração pelos modos próprios de vibração transversal por flexão não vão ter
influência no isolamento acústico, sendo desprezáveis.

10.57
Física das Construções

b) Pelo efeito de coincidência:

Um aspecto
to que importa ter em atenção no processo de estimação relaciona-se
relaciona com o
comportamento dos sistemas por efeito do fenómeno de coincidência.

A frequência crítica é a frequência mais baixa a que ocorre o efeito de coincidência. No


entanto, o efeito de coincidência
idência não se resume especificamente a um comportamento
particular na frequência crítica, mas sim a uma zona de influência mais alargada (cerca de 2 a
3 oitavas).

Apesar de já se ter feito referência a este aspecto, importa clarificar melhor a sua importância.
importâ
Assim, este fenómeno ocorre quando a configuração de deformação de um painel devido à
propagação de ondas de flexão em regime livre coincide com a distribuição dos nodos e
ventres estabelecida nesse mesmo painel por incidência de determinada onda sonora.
son

A frequência de coincidência, para determinado ângulo de incidência φ, é aquela para a qual o


número de onda associado à propagação do som no ar iguala o número de onda relativo à
propagação das ondas de flexão no elemento sólido onde se processa a incidência
incidência das ondas
sonoras, correspondendo a este processo a igualdade entre o comprimento da onda de flexão
no meio sólido, λ1, e a projecção do comprimento da onda sonora, λ, no plano que contém esse
meio sólido, conforme permite ilustrar a Figura 10.44.

O número de onda, k, é dado pela seguinte relação: k = 2 π /λ, sendo λ o comprimento de onda
da propagação.

Sendo c a velocidade de propagação do som no ar e φ o ângulo de incidência das ondas


sonoras, a coincidência estabelece-se
estabelece se quando a velocidade de propagação das ondas de
flexão no painel, cf, é obtida através da Equação (10.34):
c (10.3
cf =
Senφ 4)

Como se verifica, para cada ângulo de incidência existe uma frequência para a qual ocorre
coincidência. Do mesmo modo, para cada frequência existe um ângulo de incidência para o
qual se verifica coincidência, a menos que cf seja menor que c.

Figura 10.44 - Ilustração do conceito da frequência de coincidência

10.58
Física das Construções

Este fenómeno vai ocasionar uma perda de isolamento sonoro na frequência em questão (nos
casos correntes na banda de frequências onde ela se encontra incluída), conforme permite
ilustrar a Figura 10.45.

Figura 10.45 - Perda de isolamento sonoro por efeito de coincidência

Quando existe uma distribuição aleatória dos ângulos de incidência possíveis (caso do campo
difuso: distribuição
istribuição uniforme), o isolamento sonoro é influenciado pelos vários fenómenos de
coincidência que entretanto ocorrem, sendo as respectivas influências tanto menos
significativas quanto maior for o valor do ângulo em questão.

Assim, conclui-se que a coincidência


cidência apresenta o seu efeito mais desfavorável, em termos de
redução do isolamento sonoro, para a frequência crítica, a qual pode ser calculada pela
Equação (10.35):

c2 ρ (1 −ν 2 ) (10.3
fc = *
1,8138 * h E 5)
Onde:
c - velocidade do som (m/s)
h - espessura do elemento (m)
ρ - densidade do material (Kg/m3)
2
E - módulo de elasticidade (N/m )
ν - coeficiente de Poisson

A frequência crítica pode também ser calculada a partir da Equação (10.36):


c2 ρ (10.3
fc = *
1,8 * h E 6)
Onde;
c - velocidade do som (m/s)
h - espessura do elemento (m)
ρ - densidade do material (Kg/m3)
2
E - módulo de elasticidade (N/m )

Importa ainda referir que esta expressão é definida para elementos de compartimentação
homogéneos. Se o painel exibir rigidez de flexão diferente nas duas direcções ortogonais, em

10.59
Física das Construções

lugar de existir um único valor de frequência crítica


crítica irá existir uma banda de frequências críticas
limitada superior e inferiormente pelos valores das frequências críticas
críticas correspondentes à
rigidez de flexão em jogo.

Ora, como se pode constatar, o comportamento de um mesmo elemento, por exemplo de um


envidraçado, será naturalmente diferente quando ensaiado em laboratório (existência de
campo difuso) e quando em desempenho in situ (incidência, por norma, localizada num
determinado sector angular).

Este aspecto, que comummente não é tido em conta, contribui, a par de outros, para algumas
disparidades entre desempenhos distintos de um mesmo sistema de compartimentação, em
laboratório e in situ.

De acordo com estudos desenvolvidos


desenvolvidos no CSTB (Centre Scientifique et Technique du
Bâtiment), em França, em sistemas de vidro duplo podem ocorrer diferenças de isolamento
sonoro na ordem de 10 dB, entre as condições de incidência referidas (campo difuso e 45º),
sendo a situação de campo
o difuso a que proporciona melhor isolamento.

Ainda no que respeita aos sistemas envidraçados, volta-se


volta se a realçar o facto de que o seu
comportamento deve ser objectivamente caracterizado com a realização de ensaios
adequados.

No entanto, é aconselhável referir


referir que, no que respeita a minimização da perda de transmissão
devida ao fenómeno de coincidência, se devem utilizar panos de envidraçados de espessuras
diferentes, de forma a não sobrepor a mesma frequência de coincidência de cada um dos
panos, como se pode
ode evidenciar na ilustração esquemática apresentada na Figura 10.46.

Figura 10.46 - Ilustração da importância do posicionamento relativo das frequências de


coincidência em sistemas duplos, na evolução do isolamento sonoro

Note-se
se que a zona linear da curva inferior apenas se encontra deslocada para facilitar a
ilustração. Na realidade esta
sta zona sobrepõe-se
sobrepõe se à zona linear da curva superior.

A Frequência crítica de cada painel pode também ser calculada a partir dos valores da Tabela
10.16 e dividindo pela
a espessura ((Equação (10.37)).
(10.3
7)

10.60
Física das Construções

Frequência Crítica para uma espessura de 1 cm de material


f =
c
Espessura do material em cm

Na Tabela 10.16 são apresentados valores de frequências críticas para paredes de 1 cm de


espessura, bem como a quebra de isolamento por efeito de coincidência para cada um dos
respectivos materiais.
Tabela 10.16 - Frequências críticas e quebra de isolamento por efeito de coincidência de
diversos materiais para paredes de 1cm de espessura
Massa Quebra de Frequência crítica
volúmica isolamento por (Hz) para uma
Material 3
(kg/m ) efeito de espessura de
coincidência (dB) 1 cm
Aço 7 800 10 1 000
Aglomerado fibras de madeira/cimento 1350 8 6 000
Alumínio 2 700 10 1 300
Betão de inertes correntes 2 300 8 1 800
Betão de escórias 1400 8 2 000
Blocos de betão magro 1000 8 2 100
Betão de argila expandida 1500 5-6 1 900
Borracha 1 000 4 85 000
Gesso 1 000 7 4 000
Chumbo 10 600 5 8 000
Cortiça 250 4 18 000
Madeira 600 6 6 000 a 18 000
Poliestireno expandido 14 5 14 000
Tijolo furado 1427 9 2 000
Tijolo maciço 2 000 a 2 500 9 2 500 a 5 000
Vidro 2 500 10 1 200

Normalmente não se contabiliza o revestimento das paredes no cálculo da frequência crítica,


porque representa um valor desprezável.

Se a frequência crítica estiver numa zona da sensibilidade auditiva humana (frequências


médias, por exemplo), a queda de isolamento é muito acentuada. Para ser considerado no
traçado do gráfico serão considerados os valores das frequências centrais das bandas de 1/3
de oitava. A gama referida nas normas CEN é entre 100 e 3150 Hz.

c) Frequência de ressonância do conjunto

No que respeita aos sistemas com justaposição de novo pano importa, em primeiro lugar,
referir duas particularidades de comportamento que devem ser tidas em atenção no processo
de estimação, a saber: a ocorrência de ressonâncias do modelo inercial do sistema em causa e
a ocorrência de ressonâncias de cavidade.

Quando existe excitação do sistema de fachada (necessariamente com caixa-de-ar), com um


tom de frequência igual a um dos panos, é produzida uma grande acumulação de energia
vibratória, aumentando bastante a amplitude de vibração geral. A este fenómeno chama-se
ressonância.

10.61
Física das Construções

A frequência de ressonância é a frequência para a qual a amplitude de vibração, devido à sua


própria natureza estrutural, é máxima. Só deverá ser considerada se estiver dentro do intervalo
das frequências audíveis, ou seja, acima de 100 Hz e abaixo de 3150 Hz (NP 2073 1974).

Estes aspectos são de particular importância na identificação de zonas específicas de


comportamento global do sistema no domínio da frequência, podendo provocar alterações no
seu desempenho acústico.

Um sistema que integre


ntegre dois panos de um determinado material, ou de materiais diferentes,
separados por uma caixa-de
de-ar
ar com certa espessura, pode para efeitos de estimação ser
assemelhado a um conjunto de duas massas ligadas por uma mola,
mola, conforme ilustra a Figura
10.47.

Figura 10.47 - Modelo de um sistema com dois panos e caixa-de


de-ar

A colocação de material absorvente sonoro no interior da cavidade existente entre os dois


panos vai também alterar o posicionamento da frequência fundamental deste sistema.

Por outro lado dever-se-á


á tentar dimensionar o sistema para que as frequências próprias em
causa se situem fora da gama do audível, ou de
de preferência fora da gama 100 Hz - 3000 Hz, o
que muitas vezes não é fácil de se conseguir.

No caso de paredes duplas em alvenaria convencionais, a frequência de ressonância


encontra-se
se geralmente fora da zona audível, pelo que é desprezável. No caso de divisórias
d
leves ou de envidraçados correntes, duplos, devido às baixas massas dos dois painéis e
devido às pequenas caixas-de
de-ar utilizadas, esta frequência situa-se
se no intervalo atrás referido,
não podendo ser desprezada a sua contribuição no isolamento sonoro,
sonoro, ocorrendo quebras da
ordem dos 6 a 8 dB.

• Panos duplos: A ressonância do conjunto de painéis das divisórias duplas/caixa-de-ar


duplas/caixa é
dada pela Equação (10.38
38):
c ρ 1 1  (10.3
f ress =  + 
2π d  m1 m2  8)
Com:
c - velocidade de propagação do som em m/s (340 m/s);
2
mi - massa superficial do painel i (kg/m );
ρ - massa volúmica do ar ao nível do mar em kg/m3 (ρar = 1,22 kg/m3);
d - espessura da lâmina de ar em m (caixa-de-ar).
(caixa

A partir da expressão anterior, tendo em conta um campo sonoro difuso e uma


velocidade de propagação de 1,4 vezes a velocidade do som, a frequência de

10.62
Física das Construções

ressonância do conjunto parede dupla e caixa-de-ar, pode ser calculada a partir da


Equação (10.39):
1 1 1
f ress = 84 ( + ) (10.3
d m1 m 2 9)
Com:
d - espessura da caixa-de-ar (m);
2
m1, m2 - massa dos panos constituintes da parede (kg/m ).

• Panos triplos: Ressonância do conjunto (painéis das divisórias triplas / caixa-de-ar).


O elemento triplo é constituído por três massas m e duas caixas-de-ar com uma
espessura total (d1+d2) igual a d.

A frequência de ressonância do conjunto é dada pela Equação (10.40):


(10.4
(m1m2 m3 )( f ress )2 − [K1m3 (m1 + m2 ) + K 2m1 (m2 + m3 )] f ress + [K1K 2 (m1 + m2 + m3 )] = 0
2 2
0)
Com:

ρ .c 2
K1 =
d1
ρ .c 2
K2 =
d2

À semelhança dos elementos duplos, também neste caso é possível considerar uma
velocidade aparente de propagação, resultante da incidência do som nos painéis com
diferentes ângulos (campo difuso), igual a 1.4 vezes superior à velocidade
correspondente a uma onda sonora perpendicular ao elemento. Nestas condições, as
frequências de ressonância do conjunto obtidas pela equação anterior deverão ser
multiplicadas por 1.4.

d) Quebra nas lâminas de ar das divisórias múltiplas

Um outro aspecto do comportamento dos sistemas duplicados prende-se com a ocorrência de


ressonâncias de cavidade, ou seja no estabelecimento de ondas estacionárias na caixa-de-ar
entre os dois panos definidores do sistema.

Assim, nos elementos duplos e triplos, em adição às quebras de ressonância por movimento
conjunto do sistema, verificam-se outras quebras, devidas às reflexões múltiplas no interior da
caixa ou das caixas-de-ar.

Este fenómeno acontece, criando ressonâncias, a que correspondem as frequências fn,


sempre que a distância entre os dois panos em questão for um múltiplo inteiro de metade do
comprimento de onda (n.λ/2 - onde λ é o comprimento de onda).

A onda é reflectida combinando-se positivamente com as ondas que aí chegam, como se


mostra na Figura 10.48. Nestas condições, para frequências de som incidentes iguais a
n.c/(2.d), criam-se interferências entre as ondas incidentes e as ondas reflectidas no pano 2,
aumentando assim a pressão sonora no interior da caixa-de-ar. A este fenómeno de ampliação

10.63
Física das Construções

do som é geralmente dado o nome de ressonância da caixa-de-ar. Na série de equações


abaixo representada, n é um número natural (que pode tomar valores de 1,2,3,…,n). As
frequências de ressonância da caixa-de-ar são assim dadas pela Equação (10.41):

c c c (10.4
f1 = , f2 = 2 ,..., f n = n
2d 2d 2d 1)
Com:
c – Velocidade de propagação do som no ar ao nível do mar (340 m/s);
d – espessura da caixa-de-ar (em m).

Figura 10.48 - Frequências de ressonância numa caixa-de-ar

A ocorrência destas ressonâncias vai criar perdas de isolamento do sistema em causa,


prejudicando o desempenho requerido.

Estas quebras atingem maiores valores na primeira frequência e tendem a decrescer nas
frequências superiores. A sua amplitude pode variar, dependendo sobretudo da absorção
existente na caixa-de-ar.

A utilização de um material absorvente na caixa-de-ar permite melhorar as deficiências da


caixa-de-ar na zona da frequência de ressonância. O ganho de isolamento obtido com a
colocação de material deste tipo varia em média entre 2 a 4 dB, no caso de paredes de
alvenaria poderá admitir-se um valor de 2 dB.

No caso dos envidraçados correntes, não é possível colocar material absorvente, devido à não
transparência dos materiais absorventes, pelo que nestes as quebras podem chegar aos
valores máximos, próximos de 3 a 4 dB.

No entanto, se a caixa-de-ar for totalmente preenchida com um gel transparente, este efeito é
praticamente anulado. Outra solução possível, apesar de menos eficaz, é a utilização de
materiais absorventes em todo o perímetro da caixa-de-ar, sendo, no entanto, mais eficaz no
caso de vidros duplos não paralelos.

Importa referir que as melhorias de isolamento de envidraçados com dois painéis de vidro é
bastante dependente, por um lado, da massa dos vidros em presença e, por outro, da
profundidade do espaço de ar existente entre eles, ou seja, quanto maiores forem estes dois
valores melhor o isolamento sonoro em questão.

Qualquer uma destas soluções é economicamente pouco viável, pois são de difícil execução e
não estão vulgarmente disponíveis no mercado, não se adaptando por isso a utilizações
comuns na construção de habitação.

10.64
Física das Construções

Dever-se-á, ainda, referir que é importante limitar ao mínimo possível as ligações entre os dois
panos definidores deste tipo de sistemas duplos, a fim de evitar a propagação de energia
sonora através dessas ligações.

Traçado da curva de Estimativa de Isolamento Sonoro

Elementos Simples

(Paredes, Envidraçados e Lajes)

A determinação do índice de redução sonora de um elemento simples é realizada através


do método misto, sendo traçada uma curva (f, R - frequência, atenuação sonora) tendo em
conta a massa da parede, a sua rigidez e as perdas internas.

O traçado da curva é feito do seguinte modo:

1 - Determinar o índice de atenuação sonora dado pela lei experimental da massa a 500 Hz e
marcá-lo no gráfico;

2 - Traçar a recta de declive de 4 dB por oitava correspondente à lei da frequência;

3 - Determinar e representar as perdas internas do material na respectiva frequência crítica;

4 - A partir do ponto correspondente ao isolamento na frequência crítica é traçada uma curva


de isolamento de 10 dB por oitava, do ponto de cruzamento desta com a curva da lei
experimental da frequência é traçado um novo troço, de 6 dB por oitava de inclinação;

5 - A partir dos 100 Hz, ou ligeiramente acima das primeiras frequências de ressonância, caso
estas se localizem próximo ou acima dos 100 Hz, traça-se o primeiro troço com uma
inclinação de 6 dB por oitava;

A marcação das quebras nas Frequências críticas e de ressonância são sempre realizadas a
partir da curva da lei experimental da frequência (com 4 dB/oit.).

O traçado a curva do índice de redução sonora considerando os declives, as frequências


críticas e respectivas quebras de isolamento são representados na Figura 10.49.
R(dB) /oit
4dB
it
B/o
6d

it
it /o
B/o 0 dB
6d 1
20

10

125 250 500 1000 2000 4000


f(Hz)

Figura 10.49 - Marcação do índice de redução sonora dado pela lei experimental da massa

10.65
Física das Construções

A representação gráfica deve ser realizada com a seguinte escala:


- eixo das ordenadas - frequência, em bandas de 1/3 de oitava, em escala logarítmica, em
que a distância entre duas bandas de frequência sucessivas correspondem a 5 mm;
- eixo das abcissas - Índice de redução sonora, R, em escala linear, em que 10 dB
correspondem a 20 mm.

Elementos Duplos

(Paredes, Envidraçados e Lajes)

Nos elementos duplos, devem utilizar-se sempre dois materiais de massa e rigidez diferentes
de modo a que os dois painéis do elemento não tenham a mesma frequência crítica e as
quebras localizadas não coincidam, sendo assim inferiores às dos elementos com massas
iguais.

A estimativa do índice de redução sonora de um elemento construtivo duplo é feita do


seguinte modo:

1. Determinar o índice de atenuação sonora dado pela lei experimental da massa (a 500 Hz);

2. Adicionar o eventual acréscimo de isolamento referente à diferença de isolamento para um


elemento simples com a mesma massa (Dif). Este valor depende da espessura da caixa-
de-ar e da existência, ou não, de material absorvente no seu interior, e do tipo de panos
utilizados;

3. Traçar a recta de declive de 6 dB por oitava correspondente à lei teórica da frequência;

4. Se os elementos componentes das paredes, lajes ou envidraçados, forem de espessura


reduzida, considerar os modos próprios de vibração por flexão transversal do painel, se
este se encontrar simplesmente apoiado nos quatro lados;

5. Determinar a frequência de ressonância do conjunto massa/caixa-de-ar e marcar a


respectiva perda, se esta se encontrar dentro da gama de frequências audíveis.
Em soluções construtivas pesadas esta frequência é normalmente inferior a 100 Hz, pelo
que poderá ser desprezada.
Para envidraçados duplos correntes, que possuem paneis com massas baixas e caixas-
de-ar pequenas, a frequência de ressonância do conjunto massa/caixa-de-ar situa-se
acima dos 100 Hz, provocando uma quebra entre 6 a 8 dB, mas só será de considerar se
2
tiverem uma área superior a 10 m ;

6. Determinar e representar as frequências críticas dos panos de parede, laje ou envidraçado


considerando as respectivas perdas de isolamento características para cada material;

7. Determinar e representar as frequências de ressonância da caixa-de-ar, considerando as


perdas de isolamento respectivas;

8. Traçar a curva do índice de redução sonora. A partir dos pontos correspondentes às


quebras de isolamento na frequência crítica, na frequência de ressonância do conjunto
massa caixa-de-ar e nas frequências de ressonância da caixa-de-ar, é traçada uma
curva de isolamento de 10 dB por oitava até encontrar a curva da lei experimental da

10.66
Física das Construções

frequência. A partir dos pontos de cruzamento é traçado um novo troço de 8 dB de


inclinação, tal como mostra a figura 190;

9. A partir dos 100 Hz, ou ligeiramente acima das primeiras frequências de ressonância,
caso estas se localizem próximo ou acima dos 100 Hz, traça-se o primeiro troço com
uma inclinação de 8 dB por oitava.

A marcação das quebras nas frequências críticas e de ressonância são sempre realizadas a
partir da curva da lei da frequência (com 6 dB/oit.), como mostra a Figura 10.50.
oit
B/ r
8d ias e a
R(dB) ênc ixa d
qu a
fre a c
oit nas cia d
dB/ ras ân
8 eb son
Qu res
de

it
/o
dB
10
oit
B/
t
oi

8d
/
dB
10
t
/ oi
dB
10

f ress
10

0
125 250 500 1000 2000 4000
f(Hz)

Figura 10.50 - Marcação do índice de redução sonora dado pela lei experimental da massa
para elementos duplos

A representação gráfica deve ser realizada com a seguinte escala:


- eixo das ordenadas - frequência, em bandas de 1/3 de oitava, em escala logarítmica, em
que a distância entre duas bandas de frequência sucessivas correspondem a 5 mm;
- eixo das abcissas - índice de redução sonora, R, em escala linear, em que 10 dB
correspondem a 20 mm.

Elementos Triplos

(Paredes, Envidraçados e Lajes)

Nas paredes, envidraçados e lajes triplas, tal como nas paredes, envidraçados e lajes duplas,
devem utilizar-se, de preferência, materiais de massa e rigidez diferentes de modo a que os
diversos painéis não tenham a mesma frequência crítica.

A estimativa do índice de redução sonora de um elemento construtivo triplo é feita do


seguinte modo:

1. Determinar o índice de atenuação sonora dado pela lei experimental da massa (a 500 Hz);

10.67
Física das Construções

2. Adicionar o eventual acréscimo de isolamento referente à diferença de isolamento para um


elemento simples com a mesma massa (Dif.). Este valor depende da espessura da caixa-
de-ar e da existência, ou não, de material absorvente no seu interior e do tipo de painéis
utilizados;

3. Traçar a recta de declive de 10dB por oitava correspondente à lei da frequência


experimental;

4. Se os elementos componentes das paredes, lajes ou envidraçados, forem de espessura


reduzida, considerar os modos próprios de vibração por flexão transversal do painel, se
este se encontrar simplesmente apoiado nos quatro lados;

5. Determinar as frequências de ressonância do conjunto massa/caixa-de-ar e marcar a


respectiva perda se esta se encontrar dentro da gama de frequências audíveis. Em
soluções construtivas pesadas esta frequência é normalmente inferior a 100 Hz, pelo que
poderá ser desprezada. Para envidraçados duplos correntes, que possuem paneis com
massas baixas e caixas-de-ar pequenas, a frequência de ressonância do conjunto
massa/caixa-de-ar situa-se acima dos 100 Hz, provocando uma quebra entre 6 a 8 dB,
2
mas só será de considerar se tiverem uma área superior a 10 m ;

6. Determinar e representar as frequências críticas dos panos de parede, laje ou envidraçado


considerando as respectivas perdas de isolamento características para cada material;

7. Determinar e representar as frequências de ressonância das caixas-de-ar, considerando


as perdas de isolamento respectivas;

8. Traçar a curva do índice de redução sonora. A partir do ponto correspondente ao


isolamento na frequência crítica, na frequência de ressonância do conjunto massa/caixa-
de-ar e nas frequências de ressonância da caixa-de-ar, é traçada uma curva de isolamento
de 10dB/oitava até encontrar a curva da lei experimental da frequência. A partir deste
ponto é traçado um novo troço de 12 dB de inclinação.

9. A partir dos 100 Hz, ou ligeiramente acima das primeiras frequências de ressonância, caso
estas se localizem próximo ou acima dos 100 Hz, traça-se o primeiro troço com uma
inclinação de 12 dB por oitava.

A marcação das quebras nas Frequências críticas e de ressonância são sempre realizadas a
partir da curva da lei da frequência (com 10 dB/oit.).

Idem escala na Figura 10.51 seguinte representa-se a evolução em frequência das curvas de
redução sonora com as respectivas quebras devido às correcções referidas, para elementos
simples, duplos e triplos.

10.68
Física das Construções

Índice de Redução Sonora

Figura 10.51 - Evolução em frequência das curvas de redução sonora para elementos simples,
duplos e triplos

Índice de Isolamento Sonoro a Sons de Condução Aérea, Normalizado ou Padronizado


(Dn,w ou DnT,w)

Em qualquer dos casos referidos anteriormente (elemento simples, duplo ou triplo) os valores
do Índice de redução sonora, ponderado, Rw, deverá ser obtido através da comparação das
curvas estimadas descritas anteriormente (f - R), com uma curva convencional de referência
que se apresenta na Figura 10.52 e na Tabela 10.17.

Na comparação das duas curvas deve ser satisfeita a seguinte condição, segundo a Norma
ISO 717-1: o somatório dos desvios desfavoráveis deve ser inferior a 32 dB e ser o mais
próximo possível de 32 dB, para gama estimada em terços de oitava e inferior a 10 dB e ser o
mais próximo possível de 10 dB para gama estimada em oitavas. Os valores de R devem ser
incrementados em intervalos de 1 dB. O desvio é desfavorável para uma determinada banda
de frequência quando o valor da medição é inferior ao de referência.

Conseguido este ajustamento, o índice de redução sonora, ponderado, RW , é dado pelo valor
da ordenada da curva de referência para a frequência de 500 Hz.

10.69
Física das Construções

R(dB)

125 250 500 1000 2000


f(Hz)

Figura 10.52 - Curva de referência para os valores estimados de isolamento sonoro a sons de
condução aérea, normalizado.

Tabela 10.17 - Descrição paramétrica da curva de referência para isolamento a sons de


condução aérea, em bandas de frequência de 1/1 oitava

Índice de redução sonora


f [Hz]
[dB]
125 R
250 R+9
500 R+13
1000 R+16
2000 R+17

Isolamento acústico em elementos de separação descontínuos

O cálculo do isolamento acústico dum elemento de separação descontínuo, composto de


elementos simples ou múltiplos que apresentem diferentes características de isolamento
sonoro ao longo do seu desenvolvimento em superfície, como é o caso das paredes exteriores
na presença de elementos de menor isolamento, constituído por portas e janelas, pode fazer-
se utilizando a metodologia descrita de seguida.

Se considerarmos uma parede de área A, composta por uma superfície 1, de área A1 com
coeficiente de transmissão τ1, e por uma superfície 2, de área A2 com coeficiente de
transmissão τ2, como mostra a Figura 10.53, a potência sonora transmitida por cada elemento
pode ser calculado pela Equação (10.42) e pela Equação (10.43):
Wi (10.4
W t1 = A1τ 1
A 2)
W (10.4
Wt 2 = i A2τ 2
A 3)
Onde:
Wi - potência sonora incidente

10.70
Física das Construções

A1
τ1
A2
τ2

Figura 10.53 - Esquema ilustrativo dos grupos de elementos constituintes das fachadas

Nestas condições a potência sonora total transmitida pela parede é dada pela soma das duas,
(Equação (10.44)):
A1τ 1 + A2τ 2 (10.4
Wt = Wi
A 4)

Deste modo, pode definir-se um coeficiente global de transmissão sonora, que será dado pela
Equação (10.45):
Wt A τ + A2τ 2 (10.4
τ= = 1 1
Wi A 5)

O índice de redução sonora (R), para uma dada frequência ou banda de frequências, pode
então ser calculado pela Equação (10.46):
1 A (10.4
R = 10 log = 10 log
τ A1τ 1 + A2τ 2 6)

Se a parede for constituída por n elementos de áreas A1, A2, …; Ai,…e An, e por coeficientes
de transmissão, respectivamente, de τ1, τ2, ..,τi, …e τn, a equação de isolamento sonoro, para
uma dada frequência ou banda de frequências, transforma-se na Equação (10.47):
 n 
 ∑ Ai 
1
R = 10 log = 10 log n 1  (10.4
τ   7)
 ∑ Aiτ i 
 1 
ou ainda na Equação (10.48):
 
 ∑ Si 
R = 10 log  i  (10.4
 Si  8)
 ∑ Ri 10 
 i 10 
Onde:
R – índice de redução sonora homogeneizado (dB)
Ri – índice de redução sonora do componente i (-)
2
Si – área do componente i (m )

Da análise da equação é possível verificar a preponderante contribuição que as zonas de


elementos heterogéneos menos isolantes têm no isolamento global do elemento.

10.71
Física das Construções

Uma outra forma de calcular o isolamento de um elemento de separação descontínuo,


composto de elementos simples ou múltiplos, que apresentem diferentes características de
isolamento sonoro ao longo do seu desenvolvimento em superfície é utilizar o ábaco, da Figura
10.54, definido em função da diferença de isolamento entre os elementos e a proporção de
áreas.

Figura 10.54 - Ábaco para determinar as perdas de isolamento pela existência de elementos
com diferentes atenuações

Uma vez definida a curva correspondente ao índice de redução sonora homogeneizado do


elemento construtivo o índice de redução sonora, ponderado é obtido através da comparação
das curvas estimadas descritas anteriormente (f - R), com uma curva convencional de
referência que se apresenta na Figura 10.52 e na Tabela 10.17.

Conseguido este ajustamento, o índice de redução sonora, ponderado, RW é dado pelo valor da
ordenada da curva de referência para a frequência de 500 Hz.

Transmissão marginal

Um outro aspecto a considerar no cálculo do índice de redução sonora, ponderado (Rw), do


índice de isolamento sonoro aos sons de condução aérea, normalizado estimado (Dn, W ) ou do
índice de isolamento sonoro aos sons de condução aérea, padronizado estimado (DnT, W ) são
as transmissões marginais.

A necessidade de contabilizar as transmissões marginais na estimação, prende-se com o facto


destas poderem ser significativas, nomeadamente quando os elementos periféricos poderem
constituir áreas de menor isolamento acústico que o elemento em estudo.

10.72
Física das Construções

Não serão aqui no entanto referidas metodologias para avaliação da transmissão marginal,
podendo estas ser encontradas por exemplo na Norma EN 12354.

Quantificação da transmissão marginal


Se se designar a influência da transmissão marginal pela sigla ∆TM, então a sua influência no
valor do índice de redução sonora ponderado (Rw) será obtido através da Equação (10.13), tal
como referido em §10.2.2:

(10.1
Rw´ = Rw − ∆TM
3)
Onde:
Rw´ – índice de redução sonora ponderado aparente (dB)
Rw – índice de redução sonora ponderado (dB)
∆TM – factor de correcção relativo à influência da transmissão marginal (dB)

Ainda que de forma simplificada, podem-se definir alguns valores para os factores de correcção
relativos à influência da transmissão marginal (Patrício 2003), admitindo que as soluções
construtivas do elemento de separação entre os espaços e dos elementos adjacentes são da
mesma natureza (Figura 10.13), sendo, portanto, possível assumir que o isolamento sonoro
2
será tanto maior quanto mais elevada for a massa por unidade de superfície (kg/m ) dos
elementos, tal como referido em §10.2.2:

- Se a massa superficial do elemento de separação é semelhante às dos elementos


adjacentes, a transmissão que ocorre por via marginal (W i) é equivalente à directa
(W d), podendo-se assumir um valor de ∆TM = 3;

- Se a massa superficial do elemento de separação é muito inferior às dos elementos


adjacentes, a propagação da energia sonora ocorre fundamentalmente pelo elemento
de separação (W d), podendo-se assumir um valor de ∆TM = 0;

- Quando a massa superficial do elemento de separação é muito superior às dos


elementos adjacentes então a propagação da energia sonora dar-se-á sobretudo por
via marginal (W i); neste caso, o valor de ∆TM pode variar de 3 dB a um máximo da
ordem de 10 dB para casos particulares, sendo prudente a consideração de 5 dB para
as situações e soluções construtivas típicas em edifícios correntes.

Relação entre redução sonora aparente e isolamento sonoro normalizado ou padronizado


Para a previsão do desempenho de isolamento sonoro a sons de condução aérea em edifícios
é fundamental relacionar o parâmetro que é obtido em situação de projecto (R´ ou R´w) com o
índice utilizado como exigência regulamentar (no caso Português, o índice DnT,w), (Equação
(10.49)).

log  0,16 V
' +10   (10.4
D nT ,W = RW 

 T0 S  9)
Onde:
DnT, W – índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea padronizado (dB)

10.73
Física das Construções

Rw´ – índice de redução sonora ponderado aparente (dB)


3
V – volume do compartimento receptor (m )
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )

O efeito da transmissão marginal, no caso do isolamento a sons aéreos provenientes do


exterior é, para sistemas construtivos correntes, normalmente inferior ao que se verifica entre
dois espaços interiores, a EN 12354-3 aconselha a que se considere um valor ∆TM = 2 dB para
a quantificação do índice R´w a partir do índice Rw.

No caso de fachadas a Equação (10.49) deve ser afectada de um factor de correcção devido à
forma da mesma, ∆Lfs, (Equação (10.50)). Os valores deste factor para diversas situações de
referência são definidos na EN 12354-3 (Figura 10.15), em função da absorção média da
superfície de reflexão exterior, e da altura da linha visível entre a fonte de ruído e o espaço
interior em estudo.

log  0,16 V
  (10.5
D = RW
'
+10  + ΔLfs
 T S
2m,nT,W 
0  0)
Onde:
D2m,nT – isolamento sonoro a sons de condução aérea entre o exterior e o interior padronizado (dB)
R´ – índice de redução sonora aparente (dB)
3
V – volume do compartimento receptor (m )
T0 – tempo de reverberação de referência (s), tomando um valor igual a 0,5 s no caso de edifícios
residenciais e situações análogas
2
S – área do elemento construtivo (m )
∆Lfs – factor de correcção devido à forma da fachada (dB)

10.5.4 Previsão do isolamento sonoro a sons de percussão

Método do Invariante Ln + Rw

O método do invariante Ln + R w (definido por Cremer em 1973) aplica-se para determinação do


índice de isolamento sonoro a sons de percussão conferido pelos elementos de
compartimentação horizontais (lajes de piso) a partir do conhecimento prévio do valor do índice
de isolamento sonoro a sons de condução aérea, R w, o qual pode ser obtido com recurso à Lei
da Massa aplicada a esse elemento de compartimentação.

A concepção teórica do método assenta no princípio da reciprocidade, o qual considera o


seguinte: se uma determinada força F1, actuante num ponto 1, estabelece uma velocidade V12
num ponto 2, uma força F2 - tal que, F2 = F1 - aplicada em 2 originará no ponto 1 uma
velocidade V21 = V12. Deduz-se, assim, que a relação das forças de excitação para uma
velocidade determinada permanece constante se os pontos de observação e de excitação
forem trocados entre si, de acordo com o ilustrado na Figura 10.55.

10.74
Física das Construções

Figura 10.55 - Princípio da reciprocidade

Aplicando este princípio a um local reverberante, pode mostrar-se que a velocidade de


vibração de um elemento de compartimentação, com constituição homogénea, quando
excitado por um campo difuso estabelecido por uma fonte de ruído aéreo, pode ser
directamente determinada a partir da energia sonora radiada pelo referido elemento, quando
excitado por uma fonte pontual.

Tendo em atenção que, para frequências superiores à frequência crítica do elemento de


compartimentação o factor de radiação, σ ≅ 1, é possível concluir-se que a soma do isolamento
sonoro a sons aéreos e a sons de percussão é independente das características físicas desse
elemento.

Este método tem um carácter empírico em virtude de ter sido estabelecido a partir da
realização de um elevado número de ensaios experimentais efectuados em vários tipos de
pavimentos. Não permite, todavia, a descrição do isolamento sonoro ou, de modo inverso, da
propagação sonora, no domínio da frequência, associada aos elementos de compartimentação,
dado que a caracterização do comportamento acústico se faz à custa do valor dos dois índices
mencionados.

Quando se aplica este método, considera-se que os elementos de compartimentação (lajes de


piso) são devidamente classificados em lajes tipo, como sugerem as designações da Tabela
10.18, para os quais corresponde um valor constante do invariante Ln,w + R w. No caso, não se
entra em linha de conta com a possibilidade de existência, numa mesma tipificação, de lajes
com propriedades elásticas intrínsecas algo diferenciadas.

Este método é muito utilizado na caracterização do isolamento sonoro a sons de percussão. A


tipificação dos elementos de compartimentação dos edifícios em lajes-tipo, com as
designações da Tabela 10.18, a que o método recorre, pressupondo apenas o conhecimento
genérico do tipo de laje e do revestimento de piso utilizado, assim como o conhecimento do
valor do parâmetro que caracteriza o isolamento sonoro a sons aéreos, facilita a sua utilização.

Todavia, afigura-se pouco fidedigno e algo restritivo na medida em que, devido às tipificações
existentes na maior parte da bibliografia da temática, não permite, por um lado, considerar,
como se referiu, objectivamente a existência de propriedades elásticas diferenciadas de
elementos de compartimentação parcialmente idênticos e, por outro, contemplar um número
razoável de tipificações possíveis.

10.75
Física das Construções

Tabela 10.18 - Tipificações de lajes de edifícios


Ln,w + R w
Tipo de Pavimento
(dB)
Laje de betão não revestida (espessuras correntes) 130
Laje de betão revestida com tacos de madeira 115
Laje de betão com lajeta flutuante revestida com tacos de madeira 110
Pavimento de vigotas pré-esforçadas com blocos de cofragem e betão
120
complementar
Laje de betão com piso flutuante de madeira 112

Nota 1:os invariantes originais deste quadro encontram-se adicionados de + 5dB dado o facto
de terem sido determinados com valores de Ln,w expressos em dB/oit.
Nota 2: estudos correntes têm demonstrado que o invariante associado ao pavimento de
vigotas pré-esforçadas, com blocos de cofragem e betão complementar, é da ordem de
145 dB. Por questões de margem de segurança sugere-se a adopção deste valor.

De acordo com o disposto na normalização actual o valor do índice de isolamento sonoro a


sons de percussão deve ser expresso em dB, sendo a sua determinação efectuada com base
em espectros com largura de banda de terços de oitava. Se acaso, como permite a
normalização em causa, para ensaios de verificação de conformidade “in situ”, esses espectros
forem obtidos com o uso de filtros de largura de banda de uma oitava, então, ao índice assim
obtido, deverá ser subtraído o valor de 5 dB.

Quantificação da transmissão marginal


Para a quantificação da componente marginal no processo de transmissão sonora de
percussão entre dois espaços interiores de um edifício deve recorrer-se à metodologia de
cálculo definida na normalização europeia aplicável (EN 12354-2). A aplicação da metodologia
simplificada da referida norma permite escrever a Equação (10.24), tal como referido em
§10.3.2.

L´ n , w = Ln , w − ∆Lw + ∆TM (10.2


4)
Onde:
L´n,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão normalizado (dB)
Ln,w – nível de pressão sonora de percussão ponderado (dB)
∆Lw – redução da transmissão sonora (valor ponderado) a sons de percussão conferida por um
revestimento de piso (dB)
∆TM – influência da transmissão marginal (dB)

Note-se que uma vez que quanto maior for o índice de isolamento sonoro a sons de percussão
pior é o desempenho, a influência da transmissão marginal ∆TM afecta positivamente o valor
relativo à caracterização laboratorial da solução construtiva.

O valor do parâmetro ∆TM em função da massa superficial da laje de pavimento e da massa


superficial média dos vários elementos marginais (paredes) não revestidos, pode ser obtido

10.76
Física das Construções

através da consulta da EN 12354-2, sendo que para soluções construtivas tradicionais um valor
de ∆TM = 3 pode ser considerado conservativo (o seu valor pode variar na prática de 0 a 6 dB).

Uma vez que a metodologia de quantificação da transmissão marginal apresentada apenas diz
respeito ao índice ponderado (L´n,w), importa apresentar a relação entre o valor obtido e o do
índice padronizado (L´nT,w) correspondente (Equação (10.25)).

 30  (10.2
L´nT , w = L´n , w +10 log  
V  5)
Onde:
L´nT,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão padronizado (dB)
L´n,w – índice de isolamento sonoro a sons de percussão normalizado (dB)
3
V – volume do espaço receptor (m )

Por último deve notar-se que a metodologia apresentada apenas é válida para o caso em que a
avaliação do isolamento sonoro a sons de percussão se efectua no espaço subjacente àquele
em que actua a máquina de impactos. Caso não seja esta a situação (o que na prática é um
caso vulgar, atendendo às exigências regulamentares – ver §10.3.3) (Figura 10.23) devem
utilizar-se métodos de previsão mais detalhados.

i) Efeito do Revestimento de Piso

Os revestimentos de piso, entendidos como um sistema de complemento à laje de suporte de


cargas, contribuem significativamente para a atenuação da transmissão de sons de impacto.

Neste enquadramento, podem considerar-se dois sistemas atenuadores principais: os


constituídos pela aplicação de revestimentos de piso resilientes e os de piso flutuante.

No primeiro caso a redução deriva do aumento do tempo de impacto da acção de percussão


introduzida, (o qual é francamente superior ao tempo de impacto de uma percussão exercida
no mesmo elemento rígido, quando este se encontra não revestido).

Este aumento do tempo de impacto encontra-se relacionado com as características elásticas


do revestimento de piso considerado e irá “estreitar” o espectro da excitação introduzida na laje
de suporte de cargas originando, por um lado, a introdução de mais componentes de baixa
frequência e alterando, por outro, a amplitude de força associada a cada componente que
integra o espectro em questão. Este aumento do tempo de impacto está relacionado com as
características elásticas do revestimento de piso considerado.

Existe assim uma redistribuição da força aplicada, aumentando muito a amplitude das
componentes de força nas baixas frequências e diminuindo significativamente a amplitude das
componentes dessa mesma força nas zonas de altas frequências.

No segundo caso a redução da transmissão sonora é proporcionada por um modelo reológico


massa/mola, sendo a massa definida pela lajeta flutuante e a mola pelas características
elásticas da camada de material resiliente colocada subjacentemente.

Para efeitos de quantificação do comportamento acústico de elementos de compartimentação


horizontal que integrem a laje de suporte de cargas e o sistema de revestimento complementar

10.77
Física das Construções

(resiliente ou flutuante), determina-se em primeiro lugar o índice de isolamento sonoro a sons


de percussão dessa laje, subtraindo-se de seguida o valor da atenuação sonora proporcionada
pelo sistema complementar.

O resultado obtido corresponde então ao valor do índice isolamento sonoro, L`n,w, assegurado
pelo elemento de compartimentação em causa.

Revestimentos resilientes

Para o caso dos revestimentos resilientes o valor da atenuação a utilizar obtém-se a partir da
realização de um processo de ensaio (normalizado) de caracterização do seu desempenho
acústico em condições laboratoriais.
A título ilustrativo indica-se na

Tabela 10.19 a redução da transmissão sonora a sons de percussão, ∆Lw, proporcionada por
alguns revestimentos de piso resilientes ensaiados no Laboratório Nacional de Engenharia
Civil, os quais, de uma forma relativamente genérica, permitem com uma certa globalidade
representar algumas possíveis soluções de revestimentos de piso usuais em Portugal.

Tabela 10.19 - Redução sonora de revestimentos de piso resilientes

Natureza do revestimento de piso


Características ∆Lw (dB)
Designação 3
Massa volúmica (kg/m ) Espessura (mm)
400 6 16
490 12 15
Aglomerado composto de
750 3 11
cortiça
530 4 17
430 4 14
Tufada com base de látex 33
Alcatifa Tufada com base de favos de borracha 35
Flocada sobre tecido de juta 23
Aglom. cortiça + MDF + Aglom. cortiça (2 mm) 20
Aglom. cortiça + MDF + Aglom. cortiça (5 mm) 20
Revestimento resiliente Aglom. cortiça + MDF + Rubber Cork (2 mm) 22
composto Folha de madeira + MDF + Aglom. cortiça (2 mm) 20
Folha de madeira + MDF + Aglom. cortiça (5 mm) 21
Folha de madeira + MDF + Rubber Cork (2 mm) 21
Ladrilhos cerâmicos (7 mm) + Rubber Cork (2 mm) 17
Ladrilhos cerâmicos (7 mm) + Aglom. cortiça (6 mm) 14
Revestimento rígido
Ladrilhos cerâmicos (6 mm) + Aglom. cortiça (10 mm) 17
composto
Placas de mámore (20 mm) + Aglom. cortiça (5 mm) 13
Placas de mámore (20 mm) + Aglom.cortiça (15 mm) 16

10.78
Física das Construções

Sistemas flutuantes

No domínio dos sistemas flutuantes podem definir-se dois grandes grupos de soluções de
melhoramento do isolamento sonoro a sons de percussão:

• um primeiro grupo, em grande desenvolvimento actual, onde se enquadram as


soluções constituídas por um revestimento de piso final relativamente rígido (por
exemplo, pranchas de madeira ou ladrilhos cerâmicos) dispostos de forma aderente
(ou não) sobre elementos de elevada resiliência (p. ex. cortiça ou espuma de
polietileno extrudido); e
• um segundo grupo onde se incluem os revestimentos considerados intrinsecamente
flutuantes, constituídos por um sistema de elevada rigidez (normalmente, lajeta de
betão com 4 a 5 cm de espessura, armada com malha electrosoldada), sobre a qual
assenta o revestimento de piso final, lajeta esta sobreposta a um material
suficientemente resiliente que se interpõe entre a lajeta e o elemento de suporte de
cargas, como o exemplo representado na Figura 10.56.

Revestimento de piso final


Cola
Lajeta (e = 0,04m) armada com
rede electrossoldada
Teia impermeabilizante aplicada
com cola asfáltica (e = 2 mm)
Elemento resiliente
Cola de contacto

Laje de Piso

Figura 10.56 - Exemplo de aplicação de um sistema de pavimento flutuante

Do mesmo modo, e também para efeitos de um prognóstico de eficácia, apresentam-se nas


Tabela 10.20 e

Tabela 10.21 alguns valores da redução sonora de sistemas flutuantes, ∆Lw, enquadráveis no
segundo grupo referido, provenientes de ensaios realizados no laboratório do LNEC, e de
Meisser.

10.79
Física das Construções

Tabela 10.20 - Redução sonora de revestimentos de piso flutuantes

Natureza do revestimento de piso


Designação Características do elemento resiliente
∆Lw (dB)
Massa volúmica
3 Espessura (mm)
(kg/m )
95 10 19
100 20 20
Aglomerado negro 100 10 18
de cortiça 102 6 17
Lajeta flutuante de 40 112 10 18
mm de espessura,
com a face aparente 120 40 20
revestida com tacos 140 12 18
de pinho 194 5 15
3
Massa volúmica do regranulado (kg/m ) ∆Lw (dB)

Feltro betuminoso 52 19
com regranulado de 66 20
cortiça
114 21
146 20

Tabela 10.21 - Redução sonora de revestimentos de piso flutuantes, em função do tipo de


elemento resiliente

Designação Características do elemento resiliente Espessura (mm) ∆Lw (dB)


9 26
Lã de Rocha
20 31
13 28
Lã de Vidro
Lajeta flutuante de 40 2.5 23
mm de espessura,
sendo o elemento de 4 19
suporte uma laje Borracha
maciça com 140 mm 12 25
de espessura Poliestireno expandido 10 20
Granulado de poliestireno expandido sobre
5 23
feltro betuminoso
Filtro têxtil 8 21

Estes sistemas flutuantes podem constituir uma boa solução para o isolamento efectivo de
protecção de instrumentos sensíveis relativamente a vibrações estruturais (p. ex. equipamentos
médicos vários; máquinas de radiologia, etc.), ou inversamente reduzir a transmissão de
vibrações para a malha de compartimentação ou estrutural do edifício.

Por último convém referir que, independentemente, do tipo de solução estrutural que se possa
adoptar para definição da compartimentação horizontal de um edifício, as exigências
regulamentares vigentes, no que respeita a conforto acústico, apenas podem ser satisfeitas
com o recurso à consideração de sistemas complementares, sejam estes do tipo resiliente, do
tipo flutuante, ou combinadas.

10.80
Física das Construções

10.81
Física das Construções

Anexos

Valores indicativos do índice de redução sonora Rw para alguns elementos construtivos, de


acordo com a EN 12354-1

Índice de redução sonora (R) em bandas


de frequências de 1/1 oitava
m´ (dB) Rw (C;Ctr)
Elemento Construtivo 2
Kg/m (dB)

63 125 250 500 1k 2k 4k

Betão armado 120 mm 276 35 34 36 46 54 62 69 49 (-2;-6)

Betão armado 260 mm 598 43 42 51 59 67 74 75 61 (-1;-7)

Betão leve 120 mm 156 33 36 34 35 44 53 56 42 (-1;-3)

Betão leve 300 mm 390 37 37 42 51 58 58 58 54 (-2;-6)

Betão autoclavado 100 mm 65 26 30 31 27 32 41 45 32 (0;-1)

Betão autoclavado 200 mm 130 30 30 29 34 43 46 46 39 (-1;-3)

Valores indicativos do nível de pressão sonora de percussão (normalizado e ponderado) Ln,w


para alguns elementos construtivos, de acordo com a EN 12354-2

Nível de pressão sonora de percussão (L)


em bandas de frequências de 1/1 oitava
m´ (dB / oit.) Ln,w (CI)
Elemento Construtivo 2
Kg/m (dB,)

63 125 250 500 1k 2k 4k


Betão armado 100 mm
268 65 73 78 78 78 78 76 80 (-11)
+ 20 mm de revestimento
Betão armado 180 mm
509 64 60 65 66 67 68 66 69 (-11)
+ 50 mm de revestimento
Betão leve 200 mm 260 65 72 78 77 77 76 70 77 (-9)

Betão leve 300 mm 390 64 68 70 70 70 70 64 71 (-9)

Nota: o índice CI corresponde a um termo de correcção que tem em conta o nível de ruído de percussão,
não ponderado, característico de um espectro derivado de um ruído de passos, com objectivo de
identificar potenciais situações de incomodidade sentidas pelos ocupantes dos edifícios (ISO 717-2).

10.82

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