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VOLUME 12 – NÚMERO 1

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE MARABÁ E OS REFLEXOS


SOBRE O RIO TOCANTINS E SUAS RELAÇÕES
THE URBANIZATION PROCESS OF MARABÁ AND THE REFLECTIONS ON
TOCANTINS RIVER AND THEIR RELATIONS

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Erika Vivianne Nascimento Araújo- Unifesspa
2
Jordanio Silva Santos- Unifesspa
3
Andréa Hentz de Mello- Unifesspa

Resumo Abstract
O presente trabalho visa à compreensão da relação da This paper aims to comprehend the relation between
cidade de Marabá com o Rio Tocantins em face das the city of Marabá with Tocantins River when it
mudanças e permanências e frente aos diversos comes to changes and continuities, also to diverse
processos de exploração e inserção da Amazônia exploration processes and insertion of Brazilian
brasileira na economia nacional e internacional. Para Amazon in both national and international economy.
isso, será realizada a caracterização dos espaços de In this regard, the description of riparian living spaces
vivência ribeirinha no interior da cidade de Marabá e will be held in the countryside of Marabá and the
das relações geradas a partir das novas dinâmicas de relations created from new production and
produção e apropriação de áreas fluviais. As appropriation dynamics of fluvial areas. The
investigações realizadas objetivam também, a investigations aim also to identify the necessity of
identificação da necessidade de políticas públicas, policies such as public, environmental, and
ambientais e econômicas que possam contribuir com a economical which may contribute to reducing the
redução dos impactos socioambientais resultantes do socio-environmental impacts resulted from the
processo de ocupação exploratória das margens do Rio exploratory occupation process on the riverside of
Tocantins em Marabá. De outro modo, promover Tocantins River in Marabá. In addition, the goal of
diminuição dos danos causados ao ambiente e a saúde this study is to promote the decrease of damages
da população que ocupam as imediações da Orla do caused to the environment and people’s health who
Rio Tocantins, compreendendo a realidade local como occupy the waterfront surroundings of River
carente de reflexões que possam minimizar o avanço Tocantins, considering the local reality as in need of
da degradação. As análises resultantes do processo de reflection which may minimize the degradation
investigação foram reforçadas com dados recentes da advancement. The resultant analyses of the
Fapespa que apontam para indicadores que investigation process were strengthened with recent
corroboram as externalidades negativas observadas na data provided by Fapespa, which point to indicators
relação da cidade Marabá frente aos rios que a cercam. that support the negative externalities observed in the
relation between the city of Marabá and the rivers
surrounding it.
Palavras- chave
Urbanização. Vivências. Desequilíbrios.
Keywords
Urbanization. Experiences. Imbalances.

891Bacharel em Ciências Contábeis (UFPA) e mestranda do Programa de Mestrado em Dinâmicas territoriais e


Sociedade na Amazônia (PDTSA), erikahp06@hotmail.com;
2
Bacharel em Administração. Doutorando em Saúde Pública (Fiocruz), jordanio@unifesspa.edu.br;
3
Professora do Programa de Mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA),
andreahentz@unifesspa.edu.br.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa à compreensão da relação da cidade de Marabá com o Rio


Tocantins, baseado numa perspectiva histórica, em face das mudanças e permanências e
frente aos diversos processos de exploração e inserção da Amazônia brasileira na economia
nacional e internacional (LIMA, 2010). Os espaços de vivência ribeirinha no interior da
cidade de Marabá coexistem com as novas tendências de apropriação de áreas fluviais
(NUNES, JÚNIOR, 2012).
Há décadas prevalecem nas fronteiras amazônicas dinâmicas de ocupação do espaço
baseadas em formas agressivas de exploração do ambiente, as quais se associam vários
problemas. As relações historicamente estabelecidas entre sociedade e natureza nessas áreas
revelam a predominância de uma visão moderna que geralmente reduz os elementos naturais
existentes a uma condição de “recursos” e de uma disputa pela posse e uso dos mesmos,
tendo em vista os diferentes interesses que orientam os diversos atores locais (OLIVEIRA et
al, 2011).
A estruturação econômica do município, cujas bases estavam fortemente atreladas ao
capital mercantil, de origem exógena ao lugar, associada aos interesses da estrutura política
hegemônica local e regional, passou a ditar os rumos das transformações evidenciadas na
cidade de Marabá (RODRIGUES, 2010).
Diante do afluxo intenso de pessoas de fora da Amazônia, a diversidade de atores
sociais e de interesses em relação à apropriação do meio natural e as mudanças na
infraestrutura vão contribuir para imprimir um acelerado processo de exploração do meio
natural e transformação da paisagem nas fronteiras amazônicas, o que significou a entrada da
suposta modernidade (OLIVEIRA, et al, 2011).
A cidade de Marabá encontra-se situada numa área de forte dinamismo ao longo do
tempo. As relações sociais ali encerradas permitem definir o espaço a partir de uma
dualidade: novo x antigo. Por isso, através de um processo histórico, a formação econômica e
social de Marabá construiu sua importância na rede urbana amazônica que a coloca como
uma cidade destacada dentro do contexto da fronteira. (LOBATO, 2012).
Para o alcance dos objetivos do trabalho foi realizado um estudo de caso sistêmico-
qualitativo e visa com vistas a produzir conhecimentos a partir da interpretação e descrição,
onde buscou-se desenvolver a pesquisa, levando em consideração o conjunto das variáveis
envolvidas. A abordagem sistêmica utilizada considera os fenômenos capturados com os seus

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efeitos dinâmicos e um número de variáveis mais amplos, para se ajustar melhor com a
realidade e no trato dos diferentes componentes (PINHEIRO, 2000).
Também foram realizadas pesquisas bibliográficas e análises em banco de dados
referentes a estatísticas municipais de Marabá realizada pela Fundação Amazônia de Amparo
a Estudos e Pesquisas (FAPESPA, 2016), corroborando com outros autores.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 OS PROCESSOS SOCIOECONÔMICOS E O TERRITÓRIO

Marabá assumiu a condição de “cidade da colonização oficial”, cuja função atribuída


consistiu em ocupar a posição de liderança na hierarquia urbana, proposta pelo governo
federal, como núcleo administrativo principal, de maneira a constituir-se centro de integração
micro-regional, o que contribuiu para o fortalecimento da centralidade urbana de Marabá em
âmbito da sub-região sudeste do estado do Pará, posto a importância que esta cidade passou a
exercer como ponto estratégico para a expansão de contingentes demográficos e do grande
capital na sub-região (RODRIGUES, 2010).
As facilidades encontradas para conectar Marabá com o restante do país, aliadas à
abundância de “recursos” naturais e aos incentivos do governo, transformou o sudeste
paraense em um espaço atraente aos olhos de diferentes tipos de atores, com intenções
diferenciadas de uso da natureza (OLIVEIRA, et al, 2012). A partir das novas redes de
circulação implantadas na Amazônia Oriental, a cidade média de Marabá assumiu um papel
fundamental para que o processo de expansão da fronteira econômica tomasse forma no
sudeste Paraense, ratificando sua condição de centro sub-regional (NUNES; JUNIOR, 2012).
Dentro da rede urbana e da hierarquia evidenciada na Amazônia, Marabá assume
papel de destaque, principalmente se for considerado apenas a fronteira, sua importância será
ainda maior, fazendo com que seja canalizado para seu espaço intraurbano ou municipal as
principais consequências das transformações na fronteira (LOBATO, 2012).
Diante do afluxo intenso de pessoas de fora da Amazônia, a diversidade de atores
sociais e de interesses em relação à apropriação do meio natural e as mudanças na
infraestrutura vão contribuir para imprimir um pesado e veloz processo de exploração do
meio natural e transformação da paisagem nas fronteiras amazônicas, o que significou a
entrada da suposta modernidade (OLIVEIRA, et al, 2012).

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Com surgimento de novos mercados e a certeza do retorno financeiro com a produção


das commodities, se apresenta uma nova perspectiva para a fronteira. Essa perspectiva de
lucro faz com que os investidores e produtores passem a não mais depender amplamente da
iniciativa do Estado e comecem a produzir suas próprias infraestruturas. Isso implica dizer
que o atual perfil da fronteira mostra que o Estado não é o principal ou mesmo o único agente
de transformações espaciais. Novos agentes estão entrando e construindo suas próprias
infraestruturas (LOBATO, 2012).
Considerar o papel da cidade de Marabá na nova dinâmica regional pressupõe a
compreensão de conteúdo socioespaciais diversos, relacionados ao processo de urbanização
que caracteriza o espaço amazônico, inseridos que estão em um ritmo de crescimento
econômico intenso e marcados por processos de exclusão e de segregação, associados à
expansão da fronteira urbana (NUNES; JUNIOR, 2012).
Um exercício de reflexão acerca da formação socioespacial da cidade de Marabá
requer a construção de olhares múltiplos acerca da realidade social, de maneira a capturar
alguns elementos essenciais para entender as dinâmicas urbanas atuais de Marabá
(RODRIGUES, 2010).

2.2 A URBANIZAÇÃO DE MARABÁ E OS IMPACTOS AMBIENTAIS

A estruturação urbana e estruturação da cidade constituem-se possibilidades analíticas


que permitem compreender a articulação entre o processo de organização econômica e
espacial da cidade de Marabá e o processo de urbanização do espaço amazônico em sua
diversidade (RODRIGUES, 2010).
Marabá é uma cidade média, com grande importância na rede urbana amazônica, uma
reputação atingida em uma trajetória histórica de menos de cem anos, bastante abaixo de
outras cidades da Amazônia. Mesmo de formação recente, o município viveu um passado de
intensas reviravoltas nas suas relações socioespaciais (LOBATO, 2012). Isso implicou na
formação do perfil dos fluxos migratórios, ou mesmo dos diferentes migrantes que se
instalam e ampliam a diferenciação existente que já é significativa (LOBATO, 2012).
As transformações em Marabá sintetizam diversos tipos urbanos criados por uma
sociedade em processo de urbanização. As formas tradicionais de vida urbana na cidade
mantêm-se paralelamente à construção de várias cidades em uma só. Além da competição do

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capital pelo espaço, em Marabá os agentes sociais organizam-se e reorganizam-se em


rearranjos econômicos e espaciais de fundamental importância para que se entenda o que
significa e para que serve a cidade na Amazônia no início do século (LIMA; CARDOSO,
2009).
A cidade de Marabá sofreu significativas alterações nas últimas décadas, sobretudo
após a entrada mais efetiva de capitais nacionais e internacionais, que foram incentivados
através de políticas do Estado. Tais políticas carregam consigo um ideal de modernidade,
onde o tempo rápido, a racionalidade mercadológica, as relações verticais e de consumo se
impõem, construindo uma nova cidade com novos valores (NUNES; JUNIOR, 2012).
A cidade de Marabá se encontra situada numa área de forte dinamismo ao longo do
tempo. As relações sociais geradas permitem definir o espaço a partir de uma dualidade: novo
x antigo. Por isso, através de um processo histórico, a formação econômica e social de
Marabá construiu sua importância na rede urbana amazônica que a coloca como uma cidade
destacada dentro do contexto da fronteira (LOBATO, 2012).
O grande perímetro urbano denuncia a concentração de riquezas e os investimentos na
cidade, em detrimento da população rural do município. A cidade tornou-se um mosaico de
núcleos que, pela gestão deficiente, sofreram ocupação informal, o que gerou problemas
ambientais e estendeu o problema das enchentes do núcleo original (a Velha Marabá) para os
demais (LIMA; CARDOSO, 2009).
O espaço urbano de Marabá é dotado de múltiplas temporalidades sobrepostas e
dialeticamente articuladas que revelam as especificidades da formação socioespacial. Ao
considerar a cidade enquanto totalidade social possibilita evidenciar a coexistência de um
tempo lento da cidade ribeirinha, convivendo com um tempo da cidade beira de estrada, da
cidade à margem da ferrovia, da cidade conectada à aerovia, relacionada a um ritmo mais
acelerado, decorrente das novas verticalidades e horizontalidades instaladas na região ao
longo dos diversos momentos histórico-geográficos (RODRIGUES, 2010).
O ritmo de transformações da “cidade corporativa” revela-se nas paisagens urbanas de
Marabá, pela expansão dos assentamentos urbanos na cidade, pela intensificação do fluxo de
transportes no seu respectivo espaço intraurbano, pelo aumento do número de ocupações,
pela diversificação das atividades comerciais e de serviços que surgiram em Marabá com vias
a atender as novas demandas do capital (RODRIGUES, 2010).

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A expansão da área urbana pode ser observada nos números oficiais do Censo
Demográfico. Na contagem feita em 1991, os números de domicílios particulares
permanentes ocupados foi de 24.949, onde 20.685 eram urbanos e 4.264 eram rurais. Para
2000, o total foi registrado de 37.919, dividido em 30.704 e 7.215 para urbano e rural,
respectivamente, um crescimento de 32,6 % em nove anos (LOBATO, 2012). Na contagem
feita em 2010, alcançou 60.457 domicílios. E a divisão entre urbano e rural ficou 48.704 e
11.753 para o primeiro e para o segundo, 36,9 % de avanço de 2000 e 57,5 % para 1991.
Marabá enquanto “cidade média de fronteira” se caracteriza como espaço
emblemático a partir do qual se constroem estratégias, projetam-se discursos e ações
governamentais com vias ao ordenamento do território da cidade e ainda, pela centralidade
política exercida no contexto do sudeste paraense (RODRIGUES, 2010).
Em razão de uma condição de “centralidade periférica” a cidade de Marabá, fruto do
processo de indução pela dinâmica de modernização capitalista ao longo de diversos
momentos histórico-geográficos, apresenta como resultado sérias implicações socioespaciais,
que se revelam nas paisagens a partir da coexistência de formas e conteúdos espaciais
paradoxais, como é o caso da pobreza resultante (RODRIGUES, 2010).
Os distritos que compõem o núcleo urbano da cidade de Marabá (Marabá Pioneira,
Nova Marabá, Cidade Nova, São Félix e Morada Nova) constituem-se fragmentos de espaço
cujas especificidades de formação estão diretamente relacionadas às determinações histórico-
geográficas que contribuíram para a estruturação da cidade no contexto de urbanização da
Amazônia (RODRIGUES, 2010).

2.3 A POPULAÇÃO E A RELAÇÃO COM OS RIOS

Gonçalves (2001), afirma que a Amazônia ver sua forma de organização espacial em
diferentes sentidos de valorização dos recursos naturais e dessa forma, estes passaram a ser
motivo de fortes desavenças nesse espaço. Perspectivas que são diferenciadas tanto para o
índio, o caboclo, o madeireiro, o pecuarista, o ribeirinho, como para um empresário moderno.
O modelo de ocupação intensificou-se cada vez mais, pois além dos rios que tiveram
uma grande contribuição na circulação de produtos amazônicos no período da borracha, que
também sofrem modificações em sua trajetória, e em seguida, o processo de estruturação da
rodovia Transamazônica que possibilitou ao governo realizar um projeto de colonização ao

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longo dela por meio dos incentivos federais (MONTEIRO et al., 2000). A despeito disso, no
espaço-tempo atual, estão presentes nas paisagens urbanas as marcas da diversificação das
atividades produtivas, com a atuação de uma série de empreendimentos empresariais dos
mais diversos setores da economia.
O chamado desenvolvimento defendido pelos líderes políticos favoreceu e ainda
favorece as grandes empresas, cada vez mais fortalecidas que vão engolindo e reduzindo o
espaço de produção das atividades tradicionais que ainda restam, proporcionando assim, a
saída do homem do espaço rural para o espaço urbano, sem levar em consideração o modo de
vida desses moradores e assim causando uma exclusão social.
A dinâmica de ocupação impactou diretamente em problemas socioambientais nos
diferentes territórios da Amazônia brasileira, acentuado em grande escala nos últimos anos,
principalmente no que se refere à destruição das florestas e degradação dos recursos hídricos
que tem sido alvo das interferências humanas, e assim, induzir ações que legitime a
importância do equilíbrio dinâmico das bacias hidrográficas (BOTELHO, 2011).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no estudo realizado, observa-se que ao assumir a condição histórica de


entreposto comercial para onde se deslocavam caucheiros, comerciantes, barqueiros,
marreteiros, regatões, vaqueiros, camponeses, atraídos pela possibilidade de obtenção de
trabalho e de lucro contribuiu decisivamente para a ascensão da cidade à condição de centro
comercial importante no contexto do sul e sudeste paraense (RODRIGUES, 2010 apud
PATERNOSTRO, 1945).
A institucionalização das formas de exploração do território de Marabá culminou em
processos socioeconômicos que negligenciam o equilíbrio com a natureza. Em reforço a isso,
mesmo com a atuação dos diversos movimentos em defesa da floresta viva, da preservação
dos rios e da saúde da população, persiste no município forte atuação em segmentos
econômicos geradores de externalidades negativas ao meio ambiente, com forte influência na
dinâmica da vida dos rios.
Segundo dados da Fapespa (2016), em 2004 a cidade possuía um rebanho bovino de
816.738 mil cabeças, em 2012 era de 660.000 mil e em 2015 atingiu 1.070.400 cabeças,
evidenciando a relevância do impacto dessa atividade para ampliação do desmatamento. Em

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outra frente, de 2007 a 2012 Marabá extraiu uma média de 30.600 toneladas madeira para
lenha e uma média de 28.160 toneladas de madeira em tora, de 2013 a 2015 manteve-se ainda
em Marabá uma média de 27.166 toneladas de madeira extraída para lenha e 17.133
toneladas de madeira em tora, uma perspectiva de atuação econômica na contramão da
sustentabilidade.
Os reflexos dos dados sobre o desmatamento em tempos recentes como os
apresentados pela Fapespa (2016) contribuem para o reconhecimento da gravidade das
agressivas práticas econômicas a duas frentes mais impactadas, que são os rios e a população
que depende diretamente dele para sobrevivência saudável como é o caso de grande parte da
população de Marabá.
Na interação da cidade com o rio na orla fluvial de Marabá ao longo do tempo firma-
se cotidianamente uma diversidade de usos, agentes e processos, que se relacionam
dialeticamente. Os rios Tocantins e Itacaiúnas, que banham Marabá, criam processos de
interação e espacialidades urbanas usos relacionados, principalmente, à obtenção de recursos,
como o peixe e a água, sendo que esta última é utilizada também para beber, tomar banho e
lavar a roupa e a louça (NUNES, JUNIOR, 2012).
De outra forma, o lazer e a contemplação da paisagem tendem a serem os principais
usos, que se fazem presentes de forma significativa através de práticas como: os banhos nos
rios, as caminhadas de fim de tarde, a contemplação e o entretenimento proporcionado pelas
casas de show, boates e bares. Na orla fluvial da cidade de Marabá (LIMA, 2010).
Além das fortes ações de desmatamento identificadas no estudo, o processo de
reestruturação do território da cidade de Marabá ao longo do tempo até os dias atuais e os
múltiplos processos socioespaciais fizeram surgir singularidades que impactam diretamente
para condição de saúde e qualidade de vida em torno das práticas de uso do rio Tocantins.
Nesse ponto, merece destaque a dinâmica de urbanização em torno dos núcleos urbanos que
formam a cidade.
Em 2010, do total de domicílios particulares existentes em Marabá, 23.401 utilizavam
a rede geral de abastecimento de água e 31.727 usavam água de poço ou nascente, isso
representa 52,57% das residências desprovidas de sistemas de abastecimento de água
(FAPESPA, 2016). Esses dados reforçam a percepção que mesmo nos dias atuais muitos
ribeirinhos utilizam a água para consumo. Esse fato reforça a importância da preservação da
qualidade da água dos rios da região, corroborando com os dados de Borgo (2007).

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Os dados publicados pela Fapespa (2016) trazem informações sobre a existência dos
banheiros ou sanitários e tipo de esgotamento nas residências, onde 6,01% usavam a rede
geral de esgoto ou pluvial, 26,95% possuíam fossa séptica, 62,76% outros tipos e 4,25% não
tinham. De 2010 a 2015 houve ampliação de apenas 4,43% do número de consumidores
beneficiados com o sistema de abastecimento de água. Essas informações denotam a
necessidade de políticas públicas voltadas para melhorias das condições sanitárias de grande
parte da população de Marabá, em especial, a ribeirinha.
A condição de saúde e qualidade de vida, advinda da relação de Marabá com o Rio é
agravada pela falta de infraestrutura urbana. Segundo dados da FAPESPA, 78,52% das
residências de Marabá possuem algum tipo de coleta de lixo, destas 19,81% é realizada por
caçambas do Serviço de Limpeza e o restante 80,19% é realizado diretamente por prestadores
de serviço de limpeza. Isso denota que grande parte do lixo é coletada de forma irregular
(80,19%) e em 21,47% não possuem qualquer tipo de coleta de lixo. Os dados estatísticos
reforçam a noção de que parte desse lixo é jogada no rio, que pode ser confirmada com base
nos dados de Borgo (2007), Silva e Souza (2015).
As externalidades geradas do processo de ocupação, em muitas análises são
negligenciadas pelo poder público em função da ausência de políticas públicas com vistas à
qualidade de vida dos moradores da cidade, em especial os moradores que dependem
diretamente do rio Tocantins.
As análises aqui apresentadas ganham relevância diante do papel e significância dos
rios para o Munícipio de Marabá-PA, em especial o Rio Tocantins. Os problemas
socioambientais que vem ocorrendo ao longo dos anos, e carecem de diagnósticos melhor
elaborados de forma a identificar as causas de ocupação desordenada e a degradação dos
recursos naturais, a fim de contribuir com algumas reflexões, que possam intervir, sobretudo,
nos problemas que afligem parte da população ribeirinha que fazem uso de suas águas.
Assim, a importância desse estudo se deve à necessidade de um maior entendimento
acerca das dinâmicas socioambientais e territoriais de ocupação as margens do Rio Tocantins
e o estudo da qualidade ambiental das suas águas e entender principalmente, como se deu
esse processo de degradação socioambiental e quais medidas adotadas por meio de políticas
públicas de Estado voltadas para a mitigação da degradação ambiental na região e nos rios.

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REFERÊNCIAS

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