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As reflexões de Hannah Arendt em relação à política têm início por uma perplexidade
em relação aos regimes totalitários. Esta preocupação, compartilhada com muitos de
seus contemporâneos, é expressa pela autora primeiramente em Origens do
Totalitarismo. Nesta obra, o totalitarismo é tratado como uma “resposta destrutiva”
(Arendt, 1989, p.12) para os impasses do mundo moderno. Para compreender quais
são exatamente esses impasses, é importante refletir sobre o fato de que o
totalitarismo é um evento moderno, possível apenas por uma série de aspectos e
condições políticas e históricas contemporâneas. Assim, a autora não tem apenas um
interesse pessoal em relação ao totalitarismo, senão por este desvelar movimentos da
conteporaneidade, que permitem refletir sobre a total ausência política em nosso
tempo.
O totalitarismo foi uma forma de gerenciar essa solidão ou alienação, de modo a tornar
a vida humana um mero movimento na implacável natureza, e de que dependemos uns
dos outros tão somente para garantir a sobrevivência pelas tarefas necessárias à
manutenção da vida. A política teria como atribuição apenas a gestão destas tarefas,
limitando-se a aspectos administrativos e burocráticos (Alves Neto, 2013).
LIBERALISMO
Liberalismo é uma noção complexa que pode ser entendida como movimento político
ou metapolítico, solidificado com a formação da sociedade liberal do século XIX e a
expansão da Revolução Industrial nos Estados Unidos e Europa, ou também como
uma ideia filosófica na política que prioriza as liberdades individuais e a mínima
intervenção do Estado. Esta corrente é, muitas vezes, avessa à existência de uma
sociedade entre o indivíduo e o Estado, representando profundo individualismo político.
É pétrea a noção de liberdade individual, entendida como ausência de impedimentos.
O Estado é minimamente interveniente, garantindo as liberdades da esfera privada.
(Gauss e Courtland, 2010)
CRÍTICAS ARENDTINAS
O termo público denota dois fenômenos distintos para Arendt. Primeiramente, uma
noção de acessibilidade, de que tudo possa ser visto e ouvido por todos. A presença
dos outros que partilham nossos sentimentos e eventos de intimidade, confere
realidade a eles e a nós mesmos. (Arendt, 2007, p. 59-60). O segundo aspecto se
refere ao próprio mundo comum que seres humanos habitam e mantém suas relações.
Não se trata do planeta em sua extensão e condições para a vida orgânica, mas sim do
mundo feito pelos homens, produto das ações e dos negócios realizados pelos homens
em conjunto. (Arendt, 2007, p. 62).
Dado este entendimento sobre o espaço público privado, faz necessário discutir a
complexa noção de liberdade de Arendt. A pensadora retoma origens da liberdade na
antiguidade grega e romana, pois para eles esta seria uma noção fortemente política,
dos homens de ação, e não filosófica. Mas ao contrário do que se possa facilmente
assumir, a filósofa não tem uma noção retrógrada de liberdade, porém uma versão
moderna, que leva em conta a possibilidade de um novo início, calcada na condição da
natalidade como algo essencial. A relação entre liberdade e novidade é feita com a
moderna noção de revolução. (Arendt, 1988, p. 23).
Há uma distinção entre a liberdade e libertação que permite perceber com clareza seus
âmbitos políticos. Libertação é uma condição necessária, mas não leva
automaticamente à liberdade. Trata-se de uma noção negativa, uma ideia de garantia
de ser a certas ações não políticas. Já liberdade é um fenômeno relacionado à vivência
conjunta dos cidadãos em condição de isonomia na polis grega. A noção de não
mando, e de certa forma igualdade, é quase idêntica à de liberdade nesse sentido. A
igualdade dos cidadãos é um atributo da polis, e portanto de âmbito político, como
garantia da participação no espaço público, já que por natureza os homens são
desiguais e precisam criar esta instituição artificial de convívio. A liberdade necessita,
dessa maneira, do artifício dos homens, e da convivência entre os pares por meio da
manutenção de um espaço público (Arendt, 1988, p. 24).
Se consideramos que uma democracia formal de âmbito liberal tomou espaço como
uma resposta ao totalitarismo, esta não foi capaz de reconstruir o âmbito público. Como
o poder está vinculado à liberdade que se efetiva entre os homens, o domínio do
espaço público por poucos no sistema representativo é uma forma de obstruir o poder.
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