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VI Relag&io da psicologia analitica com a obra de arte poética * ALAR sobre a relacio entre @ psicologia analitica e a obra de arte poética é para mim, apesar da dificuldade, uma oportunidade bem-vinda, pois assim tenho a oportunidade de expor meus pontos de vista na controvertida questio da rela: do entre @ psicologia analitica ¢ a arte. Apesar de sua inco- mensurabilidade existe uma estreita conexio entre esses dois campos que pede uma andlise direta. Essa relagio baseiase no fato de a arte, em sua manifestagio, ser uma atividade psicoldgica e, como tal, pode ¢ deve ser Submetida a conside. ragdes de cunho psicolégico; pois, sob este aspecto, ela, como toda atividade humana oriunda de causas psicolégicas, 6 objeto da psicologia. Com esta afirmativa, também ocorre uma limi tagio bem definida quanto & aplicacio do ponto de vista psi- coldgico: Apenas aquele aspecto da arte que existe no pro cesso de criacao artistica pode ser objeto da psicologia, nao aguele que constitui o proprio ser da arte, Nesta segunda par- te, ow sea, a pergunta sobre o que é a arte em si, ndo pode Ser objeto de consideracdes psicolégicas, mas apenas estético artisticas, Disting&o semelhante deverd ser felta também no terreno Ga religiéo: também ai a consideracéo psicolégica s6 se aplica 0s jendmenos simbélicos e emocionais sem tocar @ ess da religiéo. Se fosse possivel analisar a esséncia, entéo a gio e a arte poderiam ser tratadas como simples subdivisio Qa psicologia. Com isso néo queremos negar que tais abusos realmente acontecam. Mas, aqueles que os cometem se esque- cem obviamente de que isto poderia também acontecer facil- mente psicologia. Considerada simples atividade cerebral, ao lado de outras atividades glandulares, seria tratada como sub. Giviséo da fisiologia, perdendo seu valor intrinseco e qualidade especifica. Como todos sabem, isto também jd acontecen, ste yeas Por sua prépria natureza, a arte nfo ¢ ciéncia e ciéncia tampouco é arte; por isso esses dois campos espirituais pos- suem dreas reservadas que Ihe sfo peculiares e s6 podem ser explicadas por elas mesmas, Portanto, quando falamos da rela- gio entre psicologia e arte, estaremos tratando apenas daquele aspecto da arte que pode ser submetido @ pesquisa psicoldgica sem violar a sua natureza, Seja o que for que a psicologia ossa fazer com a arte, terd que se limiter ao processo psi- quico da criagdo artistica e nunca atingir a essériela profunda da arte em si. # 0 mesmo caso do intelecto que nfo consegue explicar nem muito menos entender a esséncia do sentimento. E essas duas coisas nao existiriam como entidades separadas, se sua diversidade, em principio, nfo se tivesse imposto, hd muito tempo, a inteligéncia. O fato de o “antagonismo entre as faculdades’ mentais”, na crianga pequena, ainda nao se terem manifestado e suas tendéncias artisticas, clentificas e religiosas ainda se encontrarem pacificamente adormecidas, ou 0 fato de © comeco da arte, ciénela e religiio entre os primitivos ainda se encontrar lado’a lado no caos no diferenciado da menta- lidade magica, ou ainda, em terceiro lugar, 0 fato de nenhum 0” poder ser encontrado no animal, mas so- ‘to natural”, nada disso evidencia que exista uma unidade original na esséncia da arte e da ciéncia que jus- tifique sozinha uma subsuncio Tecfproca, ou seja, uma reducao de uma & outra. Mas se retrocedermos aos primérdios da evo- lugio_ do jto, a ponto de as diferenciacGes entre cada campo espiritual ficarem, em principio, invisiveis, ainda assim no teremos alcangado o conhecimento de um principio mais profundo de sua unidade, mas apenas um estado anterior de no diferenciagio no qual néo existia nem um nem outro. Este estado elementar, no entanto, no é nenhum principio que nos permita tirar’alguma conclusio sobre a natureza de estados posteriores e mais evoluidos, mesmo que estes sejam, como sempre acontece, derivados diretamente dai. Uma atitude cientifica estar sempre inclinada a nao considerar a esséncia de uma diferenciacio, dando preferéncia a uma derivacdo cau- sal, e tentar subordinar aquela a um conceito bem genérico, mas também elementar. Estas consideragées parecemme, hoje, bem oportunas, pois nestes wltimos tempos vimos vérias vezes obras de arte poé- ticas serem interpretadas de um modo que correspondia jus: tamente a esta reducao a estdgios mais clementares. Poderia- mos talvez atribuir as condiedes da criacéo artistica, 0 assunto e seu tratamento individual, as relagbes pessoais do’ poeta com seus pais, mas isto nfo contribuiria em nada para 2 com- preenséo de sua arte. Podese fazer a mesma redugdo em todos 55 os outros possiveis casos, também nos casos de disttirbios patolégicos. Neuroses e psicoses também séo reduziveis a0 rela- cionamento entre a crianea e os pais, bem como bons e maus habits, convicgSes, particularidades, paixdes e interesses espe- ciais, ete. Nido podemos no entanto admitir que todos estes casos téo diferentes tenham uma explicagdo tinica e idéntica; caso contrario chegariamos & concluséo que eles também uma coisa tinica e idéntica. Quando uma obra de arte é pretada da mesma forma como uma neurose, de duas ow a obra de arte 6 uma neurose ou a neurose 6 uma obra de arte. Como um jogo de palavras paradoxal poderiamos até admitir este modo de falar, porém o bom senso se Tecusa a colocar a obra de arte e a neurose no mesmo nivel. Somente fico analista, olhando pelas lentes de um preconceito mal, poderia’ ver na neurose uma obra de arte; jamais ‘a um leigo criterioso confundir um fendmeno pato- i6gico com arte, mesmo no podendo negar o fato de que a realizacéo de uma obra de arte depende das mesmas condi- ‘e6es psicoldgicas de uma neurose. # natural, porque certas condicdes psiquicas estio presentes em toda parte e, na ver dade, — por causa da relativa semelhanca das condigdes da vida ‘humana — sao sempre as mesmas, quer se trate de um intelectual nervoso, um poeta ou um ser humano normal. Naturalmente, todos tiveram pais e todos tém um protenso ‘eomplexo de pai e mfe; todos possuem sexualidade e, por isso também, certas dificuldades tipicas e outras, comuns a0 ser humano. Um poeta pode ter sido influenciado mais pela rela- Go com © pai, outro, pela ligacto com a mie e finalmente uum terceiro pode demonstrar, através de suas obras, tracos inconfundiveis de represso sexual; tudo isso pode ser atri ‘buido tanto a neurdticos como a todas as pessoas normais. E assim, nada de especifico se apurou para o julgamento de uma obra de arte, Na melhor das hipdteses, ampliamos aprofundamos 0 conhecimento dos pressupostos historicos. Realmente a nova linha da psicologia médica, inaugurada por FREUD, deu 20 historiador literdrio um novo estimulo para relacionar certas peculiaridades da obra de arte indivi- dual com vivénclas intimas e pessoais do poeta. Com isto, nio queremos dizer que o tratamento cientifico dado a obra de arte poética nfo tenha, de ha muito, revelado certos tracos inerentes & vivencia intima e pessoal do poeta que — proposi- tadamente ou nfo — se tivessem introduzido em sua obra. No entanto, 0s trabalhos de FREUD possibilitam, sob determi nadas condigées, uma visio radical e mais completa das viven- cias que remontam até a primeira infancia e que influiram nna criagdo artistica. Usando-se bom gosto e parciménia, pode 56 37 resultar uma interessante visio geral de como 2 criagdo artis. tica esta entrelacada com a vida pessoal do artista, por um lado, e, por outro, como ela se projeta para fora desse entre: lagamento. Neste ‘sentido, a pretensa psicandlise da obra de arte nio difere, em principio, de uma anélise literdrio-psicol6- gica profunda e de nuancas sutis. A diferenea 6, quando muito, gradual, ainda que &s vezes nos surpreendam certas provas ¢ conelusées indiscretas que um modo de agir mais delicado deizaria passar despercebidas por simples questo de tato. Esta falta de surpresa diante do “humano, demasiado huma- no” é a caracteristica profissional de uma psicologia médica que Jd_Mofistofeles com toda razio e espontaneamente reconhe: cera: “@ue logo ao primeiro encontro sai as apalpadelas atras das coisas que 0 outro leva anos para encontrar”, mas infeliz- mente nem sempre para seu prdprio proveito. A ‘possibilidade de tirar conclus6es audaciosas leva facilmente a atos de vio- Iéncia. Um pouco de crénica escandalosa representa _muitas vezes a pitada de sal de uma biografia, mas, em demasia, transforma-se numa indiscricéo pouco limpa, uma catdstrofe do bom gosto sob 0 manto da ciéneia. Deste modo, inopina- damente, o interesse € desviado da obra de arte e se perde numa embrulhada labirintica e enredada de pressupostos psi quicos, tornandose entio 0 poeta um caso clinico — eventual- mente mais um dos tantos exemplos da psychopathia sexualis Com isto, a psicandlise da obra de arte se afastou de seu pro- prio objetivo e desviou a discussio para um campo humano genérico, nada especifico para o artista e, sobretudo para sua arte, de muito pouca importancia, Esse tipo de andlise leva adiante a obra de arte, dentro da esfera da psicologia humana em geral, da qual, além da obra de arte, muitas outras coisas podem originarse. Explicar obra de arte neste contexto seria, pois, uma superficialidade, como, por exemplo, a frase: “Todo artista é um narcisista” Todo aquele que leva avante, até onde for possivel, sua propria maneira de ser, é um “narcisista”, desde que seja licito em- Pregar um termo tao especifico da patologia da neurose num sentido tf0 amplo; e por isso, uma frase dessas nfo diz nada, apenas nos surpreende como uma expresso espirituosa, Como esta espécie de andlise ndo trata da obra de arte em si, mas visa enterrarse, qual topeira, e 0 mais répido possivel, nos Zecondltos profundidades, atinge sempre a mesma terra uni versal que carrega toda a humanidade, e suas explicacdes so terrivelmente monétonas — ac mente mondt iguais aquelas que se ouvem num © método redutivo de FREUD ¢ um método de tratamento médico que tem uma ligacéo doentia e imprdpria com o obje- to. Esta ligagto doentia est no lugar de um servigo normal; deve ser destruid @ fim de liberar o caminho para uma ade- ‘quacdo sadia. Neste caso seria oportuna a reducao a uma base humana comum. Este método aplicado a uma obra de arte Teva aos resultados acima descritos: ele extrai da roupagem Drilhante da obra de arte o nu quotidiano do homo sapiens elementar, espécie esta da qual faz parte também o poeta. © brilho dourado da mais nobre criacdo, objeto de nossa Giscussiio, extinguese porque foi exposto ao mesmo método corrosivo como o foi fantasia flusdria de uma histeria. Esta Gissecacdo é realmente muito interessante e talvez tenha 0 mesmo valor cientifico que a autdpsia feita no cérebro de NIETZSCHE, pois s6 ela.podia mostrar qual a forma atipica de paralisia ‘que provocara sua morte. Teria isso algo a ver com Zaratustra? Nio importam suas motivages ocultes e mais profundas; ndo é ele um mundo todo e inico em si, que estd além da insuficiéncia humana —- demasiadamente humana — além das enxaquecas e das atrofias das células cerebrais? Falel até agora do método redutivo de FREUD sem dizer, em pormenores, em quo ele consiste, Tratase de uma técnica médico-psicoldgica de exame psiquico do doente que se ocupa unicamente dos caminhos e meios para contornar o primeiro plano conseiente a fim de atingir 0 fundo psiquico, ou seja, © préprio inconsciente. Esta técnica baseia-se na suposicao de aque 0 doente neurdtico reprime certos contetidos psiquicos da consciéncia devido A sua incompatibilidade com o consciente. Esta incompatibilidade é considerada moral; e por isso os con- tetidos reprimidos tém que ter um carter negativo correspon. dente, qual seja, sexual infantil, obsceno ou até criminoso, que o faz parecer inaceitivel & consciéncia. Jé que nenhum hhomem é perfeito, cada um possui este pano de fundo, quer ele 0 admila ou néo. E para descobrilo em toda parte, basta aplicar a técnica de interpretaco desenvolvida por FREUD. Em virtude da exigtlidade do tempo desta palestra, tomase impossivel para mim entrar em detalhes sobre esta técnica de interpretacio, Portanto devo contentarme em dar algumas in- dicagées apenas. Os panos de fundo inconscientes no perma- necem inativos; so revelados pelas influéneias caracteristicas sobre os contetidos da consciéncia. Por ext Gutos fantasiosos de natureza singular que &s vezes podem ser facilmente atribuidos a certas representades de fundo sexual. Ou entéo causam certos distirbios caracteristicos dos proces: sos conscientes que também podem ser reduzidos a contetidos reprimidos. Uma fonte de muita importincia para o conhec mento do contetido do inconsciente sio os sonhos, produtos 58 diretos da atividade do inconsciente. O essencial do método redutivo de FREUD consiste em juntar todos os indicios dos panos de fundo e profundo do inconsciente e, através da and- lise e interpretacio dos mesmos, reconstruir os processos ins- tintivos, elementares e inconscientes. Os contetidos da cons- ciéncia ‘que nos revelam algo a respeito do pano de fundo inconsciente so erroneamente denominados por FREUD de simbolos. Em sua teoria eles apenas fazem o papel de sinais ou sintomas de processos subliminares e néo 0 do verdadeiro simbolo que deve ser compreendido como expresso de uma concepedo para a qual ainda ndo se encontrou outra ou me- thor. Quando, por exemplo, PLATAO coloca todo o problema da teoria do conhecimento em sua alegoria da caverna, ou quando Cristo explica 0 conceito do Reino do Céu em pard- bolas, podemos considerélas como verdadeiros e auténticos simbolos, isto ¢, tentativas de expressar alguma coisa para a gual ainda nio’ existe conceito verbal. Se quiséssemos inter- pretar a alegoria de PLATAO de acordo com FREUD, chegaria- mos evidentemente ao utero e teriamos provado que mesmo © espirito de PLATAO estava ainda profundamente preso a0 primitivo, até mesmo a uma sexualidade infantil. Com isto, porém, teriamos deixado passar completamente despercebido aguilo que PLATAO criou a partir das condigdes primitivas da sua concepcao filoséfica; teriamos deixado escapar o mais essencial dele e descoberto apenas que ele tinha fantasias se- xuais infantis como qualquer outro ser mortal, Esta constata- G0 86 teria valor para alguém que visse em PLATAO um ser com caracteristicas de super-homem e pudesse constatar, com satisfagdo, que até mesmo PLATAO era um ser humano. Mas quem poderla considerar PLATAO um Deus? Somente alguém que estivesse dominado por fantasias infantis, possuindo por. tanto uma mentalidade neurdtica. Para este, uma reducio as verdades humanas em geral 6 propicia do ponto de vista médi- co. Mas nada teria a ver com o sentido da alegoria de PLATAO. Demorei falando da relaSo entre a psicanslise médica e a obra de arte, mas foi proposital porque esta espécie de psi- candlise é também a doutrina freudiena. O proprio FREUD contribuiu por causa do seu dogmatismo rigido para que, tanto @ ténica como a doutrina (no fundo ambos completamente diferentes entre si), fossem consideradas pelo publico como idénticas. Esta téonica pode ser aplicada com bons resultados em certos casos médicos sem transforméla, porém, em dou trina. E contra essa doutrina devemos opor-nos energicamente. Bla se fundamenta em hipéteses bastante arbitrérias: por exemplo, as neuroses nio se baselam exclusivamente em re- Press6es sexuais, nem tampouco as psicoses. Os sonhos n&o 59

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