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Pode um cristão brasileiro ser advogado?

Uma resposta para Charles Fernando Gomes


(por Héber Paz de Lima)

“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há


de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e
ser pisado pelos homens.” (Jesus Cristo, por Mateus – 5:13)

Para os domésticos da féi é fato notório as críticas (justas) do Charles contra a fami-
gerada Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Tão notório quanto é a sua indisposição (vá lá,
teimosia) em prestar o exame de admissão aos quadros da Ordem.

Suas objeções passam desde o nível prático, econômico, mas é no nível ético-religi-
oso que encontra a oposição mais ferrenha: um cristão não pode se associar a um grupo injusto
e atuar profissionalmente em um sistema – público, político e institucional – injusto.

Antes que eu passe a tentar mostrar os erros nos argumentos do meu amigo Charles,
preciso me curvar e, sim, concordar com ele. O grande problema do seu argumento é que ele é
um argumento justo e verdadeiro. Contudo, tão justo e verdadeiro quanto é o questionamento
mais antigo do cristianismo: como pode um Deus justo perdoar pecadores injustos que violaram
a sua justa lei e ainda assim se manter justo?

Foi necessário desenvolver a ideia, primeiramente com o apóstolo Paulo na epístola


aos Romanos, aos Gálatas e a segunda epístola aos Coríntios, além do autor desconhecido da
epístola Universal aos Hebreus, bem como posteriormente o assunto foi aprofundado entre os
pais, até ser quase esgotado na Idade Média com Anselmo da Cantuária. Essa justiça é satisfeita
em Cristo em sua morte vicária, que além de morrer pelos pecadores imputa a sua própria jus-
tiça aos que Nele creem.

De igual forma, o questionamento do Charles é justo e verdadeiro, porém ele tem


uma resposta digna (e bíblica) que satisfaz e afasta qualquer objeção. Contudo, não sou Paulo,
Agostinho ou Anselmo, para discorrer com maestria e aquietar meu amigo objetor; careço de
maior profundidade teológica, linguística ou filosófica para tal tarefa, mas aceito o desafio.

Para facilitar a minha articulação das ideias, bem como a compreensão do leitor, vou
dividir o questionamento em cada ponto de objeção e tentar responde-los um a um.

1. A objeção quanto à associação injusta

Segundo o Charles, um cristão não pode fazer associação injusta e, portanto, está
vedada a sua filiação junto à OAB.

Contudo, analisando calmamente e detalhadamente, tal argumento não pode se sus-


ter vez que 1) não se trata de uma associação ao nível íntimo, o que é vedado pela bíblia e 2) não
se trata de uma associação que molda e obriga a conduta do membro, como uma igreja.

Quanto à questão da associação ao nível íntimo, a passagem bíblica que pode ser
usada para sustentar essa posição foi escrita por Paulo, na segunda carta aos Coríntios, na parte
final do capítulo 6 (versos 15 ao 18). O apóstolo não se preocupou em aprofundar a sua explica-
ção, deixando algumas perguntas retóricas e uma citação veterotestamentária como razões su-
ficientes.
Contudo, no primeiro verso da passagem, na segunda pergunta, o substantivo femi-
nino “comunhão” se destaca. A sociedade vedada é aquela que implica em um pensamento de
comum entre os associados; uma adoção de forma de pensar e agir em total sintonia e identi-
ficação.

Pensemos em um casamento, por exemplo, onde aos cristãos significa a união de


dois seres que se tornam em uma só carne, uma união de almas, onde ambos vão buscar nos
sagrados laços do matrimônio a santificação do cônjuge e o bem deste acima do próprio (Ma-
teus 19:4-6, Marcos 10:6-9, Efésios 5:22-31, 1 Coríntios 7, 1 Pedro 3:1-7).

Mais obvio ainda, podemos pensar em prestação de serviços para grupos notoria-
mente criminosos ou terroristas, como o Estado Islâmico, FARC ou PCC, onde a associação com
os tais pode te dar uma passagem só de ida para a prisão... ou ao cemitério.

Contudo, o mesmo argumento não pode ser aplicado à OAB, vez que ela não pode
impor e obrigar a conduta de seus membros, não possui atribuições legais, nem procuração
para falar em seus nomes, sobrando apenas a questão da reserva de mercado, o que os próprios
membros – e isso incluída a alta cúpula da Ordem – não têm nenhuma condição de modificar,
já que tal situação é definida em lei, ou seja, sob os cuidados do legislativo.

Ademais, o mesmo argumento pode ser usado contra o próprio objetor, já que a as-
sociação aos injustos se dá no registro de nascimento (ao Estado), quando é matriculado no
ensino regular (ao Ministério da Educação e Secretarias Estaduais), quando faz a inscrição do
CPF (Fazenda Pública Nacional), no momento em que faz o título de eleitor (à Justiça Eleitoral),
quando faz a CNH (aos Departamentos de Trânsito), quando presta o serviço militar ou faz o
juramento à bandeira (Forças Armadas), no momento em que tira o passaporte (Ministério da
Justiça e Ministério das Relações Exterioras) quando faz a inscrição em uma universidade (MEC
e a própria Universidade), sendo muitos desses grupos inúmeras (centenas) de vezes mais in-
justos que a OAB.

Ou seja, objetar a filiação à OAB pelo argumento da associação injusta tendo uma
certidão de nascimento, RG, CPF, título de eleitor, CNH, carteira de reservista, passaporte, his-
tórico escolar e diploma universitário soa um tanto quanto hipócrita.

Esse argumento só deveria ser usado por Amish ou ermitões como o Urtigão.

Ainda, nem mesmo entre os apóstolos vimos tanta radicalização. Paulo não teve tais
surtos de escrúpulos quando passou dois anos ensinando em uma escola grega, de um mestre
por nome Tirano (Atos 19:9). Pela forma como Lucas escreveu o versículo (...disputando todos
os dias na escola de um certo Tirano) podemos concluir que o tal Tirano não era judeu (nome
grego), não era judeu helênico, já que os autores neotestamentários tinham a preocupação em
sempre identifica-los como tais e sequer era cristão, por razão idêntica. Logo, o apóstolo não
achou nenhum problema em se associar com um filósofo grego e aproveitar para ensinar o
evangelho em sua escola, mesmo que o local ensinasse doutrinas pagãs.

Portanto, o argumento da não-associação injusta não se aplica ao caso, vez que foge
ao contexto bíblico da comunhão e intimidade.

2. A objeção quanto à lei injusta

Se a associação à OAB não pode ser injusta, o mesmo não dá para se dizer da Lei.
Sendo a OAB uma organização que regula a atividade de membros (privados) do judiciário, logo
a lei é o foco e instrumento de trabalho.

Contudo, desde a lei que regula a atividade da advocacia e cria a OAB, até as leis
nacionais, estaduais e municipais, 90% delas (em uma visão otimista) são de ruins para injustas,
o que torna a objeção não apenas razoável, mas, sobretudo, auspiciosa.

Todavia, a ruindade ou injustiça da lei não pode ser levada para objetar apenas a
atividade da advocacia. Desconheço alguma atividade que, direta ou indiretamente, não tenha
regulação legal (e péssimas regulações, diga-se).

Por este argumento um cristão não pode ser médico, já que a lei lhe permite “matar”
sob certas circunstâncias, ou mesmo violar o direito de consciência do paciente. O mesmo pode
ser dito de um engenheiro, um contador (especialmente!), um administrador, um motorista, um
agricultor, etc.

Contudo, ao advogado é dado o direito de lutar contra as injustiças da lei. Quantas


jurisprudências, súmulas, arguições de inconstitucionalidade ou recursos repetitivos existem
corrigindo (ou até mesmo destruindo, vá lá) dispositivos, artigos e até leis inteiras? Conside-
rando que o judiciário não age de ofício, tais mudanças somente ocorreram porque foram mo-
tivadas por alguém e esse alguém se usou de um? Isso mesmo! UM ADVOGADO.

O argumento da lei injusta é, talvez, o mais fraco dos argumentos contra a OAB, já
que o advogado, diferente de outras profissões, pode lutar contra a injustiça da lei, sendo o
instrumento originário ao combate das aberrações legislativas, posto o princípio da inércia do
juiz.

Ainda, contra o argumento da injustiça da lei temos o Senhor Jesus mandando dar a
César o que é de César, ou instando seu discípulo à pescar um peixe e dar o estáter como tri-
buto. A injusta lei romana também foi cumprida por Cristo, não apenas a justa Lei Divina.

3. A objeção quanto ao estado injusto

Por último, consequência dos dois argumentos anteriores, a objeção à atividade de


advocacia regida pela OAB é por ser esta inserida em um Estado injusto.

Sem muitos prolongamentos, a mesma contraobjeção pode ser levantada: quem tem
certidão de nascimento, RG, CPF, título de eleitor, CNH, carteira de reservista, passaporte, his-
tórico escolar e diploma universitário não pode objetar uma carteira de uma entidade privada,
como a Ordem dos Advogados.

Além disso, partindo mais uma vez para exemplos bíblicos, lembremos que Paulo
tinha por profissão ser armador de tenda (Atos 18:3). Ocorre que no império romano ninguém
vivia em tendas. Tendas eram necessários para quem desenvolvia atividades nômades, como o
pastoreio. Já o império romano era uma civilização estável, com cidades vibrantes e uma popu-
lação estabilizada. As casas eram feitas de barro ou, para os mais ricos, com materiais mais
firmes como pedras ou madeiras.

As tendas, portanto, eram necessárias para outra atividade, já que a atividade agro-
pastoril não era muito utilizada nas regiões helênicas. A atividade em questão era a militar.
As tropas romanas, por circularem entre as províncias para garantir a Pax Romana,
além de estar sempre em conflitos nas fronteiras, precisavam de tendas para os seus soldados.

Era com o estado romano que Paulo negociava e ganhava o seu pão de cada dia,
armando tendas paras as legiões. Uma profissão digna e provavelmente bem remunerada... para
um estado injusto, cruel, pagão e que veio, posteriormente, a tirar a vida do próprio apóstolo e
de milhares de outros cristãos que padeceram sob as perseguições no império.

Ainda, o próprio Paulo por várias vezes se usou da nacionalidade romana para a sua
defesa. O maior dos apóstolos, um dos homens mais santos à pisar sobre a terra, não tinha medo
de estar associado com um estado injusto. Por que? Porque ele fazia a distinção apontada no
tópico 1, da associação íntima por comunhão e sabia que ser um romano de nacionalidade não
afetava a sua verdadeira nacionalidade: Cidadão do Céu.

4. Conclusão

Concluo, portanto, por responder ao meu amigo Charles que você tem todo o direito
do mundo de fazer ou se negar a fazer o exame da OAB para exercer a atividade de advogado
no Brasil, porém não pode objetar a tal afirmando ser essa uma questão ética, pois não passa
pelo crivo lógico, intelectual e, principalmente, bíblico.

Por último, você não vai encontrar no mundo inteiro um Estado justo, leis humanas
justas ou associações/convenções/conselhos humanos justos. Nós estamos no mundo, mas
não somos desse mundo. Fomos chamados à ser sal da terra e luz do mundo, à redimir toda a
criação. Porque não podemos redimir a profissão celestial de nosso Senhor Jesus, tão aviltada
entre os homens?

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