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Relatório de Inflação
Volume 21 | Número 1 | Março 2019
Relatório de Inflação
Volume 21 | Número 1 | Março 2019 ISSN 1517-6576
CNPJ 00.038.166/0001-05
Os textos, os quadros estatísticos e os gráficos são de responsabilidade dos componentes nomeados a seguir:
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Inflação, volume 21, nº 1.
Convenções estatísticas
O hífen (-) entre anos (1970-1975) indica o total de anos, incluindo-se o primeiro e o último.
A barra (/) entre anos (1970/1975) indica a média anual dos anos assinalados, incluindo-se o primeiro e o último, ou, se especificado no texto, o
ano-safra ou o ano-convênio.
Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamento.
Não é citada a fonte dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.
Atendimento ao Cidadão
Sumário executivo 7
Conjuntura econômica 11
1.1 Cenário externo________________________________________________________________________ 11
1.2 Conjuntura interna______________________________________________________________________ 14
Atividade econômica e mercado de trabalho ______________________________________________ 14
Crédito________________________________________________________________________________ 19
Fiscal __________________________________________________________________________________ 22
Demanda externa e Balanço de Pagamentos_______________________________________________ 23
1.3 Inflação e expectativas de mercado_______________________________________________________ 25
Índices de preços _______________________________________________________________________ 25
Índice de difusão e núcleos_______________________________________________________________ 27
Expectativas de mercado ________________________________________________________________ 28
Boxes
Revisão da projeção do PIB para 2019________________________________________________________ 29
Desempenho da indústria em 2018___________________________________________________________ 31
Penetração de importados e coeficiente de exportação da indústria de transformação____________ 35
Evolução dos preços relativos no IPCA________________________________________________________ 40
Projeção de crédito para 2019_______________________________________________________________ 43
Crédito e dinâmica recente do setor automobilístico___________________________________________ 45
Projeção para o Balanço de Pagamentos de 2019______________________________________________ 48
Evolução da pauta exportadora brasileira e seus determinantes_________________________________ 50
Decomposição da inflação de 2018 __________________________________________________________ 63
Revisão do modelo estrutural de médio porte – Samba_________________________________________ 66
Apêndice 75
Sumário executivo
-0,1 2,8
incluindo a possibilidade de desaceleração global
-0,2 2,7
mais pronunciada do que a esperada (particularmente
-0,3 2,6 na China e na Europa), o arrefecimento de impactos
-0,4 2,5 dos estímulos fiscais e as eventuais repercussões de
-0,5 2,4 algum aperto adicional nas condições financeiras.
-0,6 2,3
Gráfico 1.4 – Volatilidade (VIX) Nos Estados Unidos da América (EUA), o PIB cresceu
38 2,6% no quarto trimestre (ante trimestre anterior,
taxa anualizada), com expressiva contribuição
33
do consumo privado. O recuo nos indicadores de
28 confiança do consumidor e a paralisação (shutdown)
23
do governo no final de 2018 e início de 2019 sugerem
impactos relevantes para a atividade no primeiro
18
trimestre de 2019. O mercado de trabalho permanece
13 com ritmo robusto de geração de postos de trabalho
e elevação lenta da taxa de crescimento dos salários.
8
19.1 2.3 13.4 25.5 6.7 17.8 28.9 9.11 21.12 1.2 15.3 A dinâmica dos preços ao consumidor mantém-se
2018 2019
Fonte: Bloomberg
controlada, embora seja possível identificar pressões
sobre alguns bens, advindas do aumento de tarifas
em 2018.
98,0
De acordo com dados das Contas Nacionais divulgado
pelo IBGE, o PIB cresceu 0,1% no último trimestre de
96,0 2018 em relação ao trimestre anterior (dados com
ajuste sazonal). Embora em magnitude inferior ao
94,0
crescimento registrado no terceiro trimestre (0,5%),
92,0
trata-se da oitava alta consecutiva nessa base de
IV II IV II IV II IV II IV II IV II IV comparação. Sob a ótica da oferta, esse resultado
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: IBGE refletiu, principalmente, o desempenho do setor de
1/ Série com ajuste sazonal.
serviços (+0,2%), cujos efeitos se sobrepuseram ao
Tabela 1.1 – Produto Interno Bruto recuo registrado na atividade industrial (-0,3%). Do
Anual e trimestre ante trimestre imediatamente anterior lado da demanda, o consumo das famílias cresceu
Dados dessazonalizados para variações trimestrais 0,4%, acumulando alta de 4,6% ao longo de oito
Variação % trimestres ininterruptos de expansão. O consumo
Discriminação 2017 2018 do governo apresentou recuo (-0,3%), em cenário
Ano I Tri II Tri III Tri IV Tri Ano de restrição fiscal, enquanto a FBCF contraiu 2,5%,
desempenho que refletiu, parcialmente, a menor
PIB a preços de mercado 1,1 0,4 0,0 0,5 0,1 1,1
Agropecuária 12,5 1,6 0,2 0,8 0,2 0,1
importação de equipamentos de petróleo e gás1,
Indústria -0,5 -0,3 -0,3 0,3 -0,3 0,6
relativamente ao trimestre anterior.
Serviços 0,5 0,2 0,3 0,5 0,2 1,3
Com o resultado do quarto trimestre, o PIB acumulou
Consumo das famílias 1,4 0,5 0,0 0,5 0,4 1,9 alta de 1,1% em 2018, mesma variação registrada
Consumo do governo -0,9 -0,3 -0,4 0,3 -0,3 0,0 em 2017. Destacou-se, no ano, o crescimento
Formação Bruta de
da atividade no setor de serviços, 1,3%, maior
Capital Fixo -2,5 0,8 -0,9 5,5 -2,5 4,1
contribuição para a expansão do produto no
Exportação 5,2 2,9 -4,1 6,3 3,6 4,1
período. O produto da agropecuária manteve-se
Importação 5,0 2,2 -1,8 9,4 -6,6 8,5
relativamente estável, partindo da elevada base
Fonte: IBGE de 2017, ano em que se observou safra de grãos
recorde. O produto do setor industrial cresceu
Gráfico 1.8 – Contribuições para o crescimento anual
do PIB 0,6%, refletindo, principalmente, o aumento da
p.p. atividade na indústria de transformação. No âmbito
10
8
da demanda, o consumo das famílias exerceu a
6 principal contribuição para a continuidade da
4 recuperação da atividade econômica, impulsionado,
2 entre outros fatores, pelo aumento da massa salarial
real – elevações do rendimento real, em contexto
0
-2
-4 de baixa inflação, e da população ocupada – e pela
-6 expansão do crédito às pessoas físicas, sobretudo
-8 no segmento de crédito livre, em cenário de redução
2008 2010 2012 2014 2016 2018
Famílias FBCF Governo do custo do crédito.
Estoques Externo PIB
Fonte: IBGE
1/ A nacionalização, no âmbito do Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa
e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural (Repetro), de equipamentos para a indústria de petróleo e gás que já operam
em território nacional (importações fictas) e a importação de novos equipamentos desse tipo afetam a FBCF e a importação nas
Contas Nacionais.
Gráfico 1.10 – Produção industrial1/ O desempenho recente da indústria ainda não indica
MM3M
2012 = 100 retomada do ritmo de crescimento da atividade
100 fabril. A produção física da indústria recuou 0,8%
95
90
no trimestre finalizado em janeiro, relativamente
85 aos três meses encerrados em outubro, quando
aumentara 1,7%, nessa mesma base de comparação,
80
75
70 de acordo com dados dessazonalizados da Pesquisa
65
60
Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) do
Jan Abr
2016
Jul Out Jan Abr
2017
Jul Out Jan Abr Jul Out Jan
2018 2019
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Indústria geral Bens de capital A produção da indústria extrativa cresceu 1,7%
Intermediários
Semi e não duráveis
Consumo duráveis
enquanto a da indústria de transformação diminuiu
Fonte: IBGE 1,3% no período, essa última refletindo contração em
1/ Séries com ajuste sazonal.
18 das 25 atividades desse segmento. Na abertura
por categorias de uso, houve recuo trimestral em
bens de capital (7,6%), em bens de consumo duráveis
(4,8%); e em bens de consumo semi e não duráveis
(1,4%). A categoria de bens intermediários, que
responde pela maior parte da produção da indústria,
expandiu 0,3% no período analisado.
Gráfico 1.12 – Índice de volume de serviços1/ Em relação à atividade no setor terciário, a Pesquisa
Média 2014 = 100
95
Mensal de Serviços (PMS) do IBGE mostrou
crescimento de 0,5% no trimestre encerrado
93 em janeiro de 2019 em relação ao finalizado em
outubro de 2018, quando havia crescido 1,9%,
91
dados dessazonalizados. Três dos cinco segmentos
89
pesquisados apontaram crescimento no período,
com destaque para as altas de 4,6% em outros
87 serviços e de 1,8% em serviços de informação
e comunicação. Em sentido oposto, serviços
85
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan
profissionais, administrativos e complementares;
2016 2017 2018 2019 e transporte, serviços auxiliares ao transporte e
Fonte: IBGE
1/ Série com ajuste sazonal. correios registraram recuos, na mesma base de
comparação, de -2,0% e -0,9%, respectivamente.
Gráfico 1.13 – Índice de volume de vendas1/ O consumo das famílias, principal indutor de
Média 2014 = 100
98 crescimento da economia em 2018, segue em
expansão, embora estatísticas recentes de vendas
95
sugiram algum arrefecimento na margem. De
92
fato, o volume de vendas do comércio ampliado
89 recuou 0,3% no trimestre encerrado em janeiro
86 em relação ao encerrado em outubro (dados
83 com ajuste sazonal), quando havia crescido 3,7%
nesse tipo de comparação. As vendas do comércio
80
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan varejista, no conceito restrito, cresceram 1,0% no
2016 2017 2018 2019
Comércio restrito Comércio ampliado
trimestre, com destaque para o crescimento do setor
Fonte: IBGE supermercadista (+1,6%).
1/ Séries com ajuste sazonal.
4/ Complemento de 200 pontos do índice original divulgado pela FGV. Valores acima de 100 pontos indicam estoques acima do planejado.
5/ O boxe “Desempenho da indústria em 2018” deste Relatório apresenta alguns fatores não recorrentes que contribuíram para a
trajetória declinante da produção industrial (PIM-PF do IBGE) em 2018.
Crédito
Gráfico 1.21 – Saldo das operações de crédito O mercado de crédito continua em trajetória de
R$ bilhões
3 600 1 900
expansão, com destaque para o avanço nas operações
de empréstimos no segmento de recursos livres
3 400 1 800 destinadas, principalmente, ao crédito pessoal. A
tendência positiva do comportamento dos saldos
de crédito contribui para sustentar o aumento do
3 200 1 700
12/ Corrigindo-se os dados para fato atípico (outlier) referente a indivíduo com domicílio em bairro de baixa renda e rendimento mensal
informado de R$1 milhão, que permaneceu na amostra da PNAD Contínua entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, afetando
a evolução da série de rendimento médio.
13/ Ajuste sazonal realizado pelo Banco Central.
14/ Boxe “Evolução da produtividade e do rendimento do trabalho” do Relatório de Inflação de dezembro de 2018.
15/ Em função da data de corte deste Relatório os dados de crédito referentes ao mês de fevereiro são preliminares.
16/ Há evidências de que parte do estoque de crédito às pessoas jurídicas com recursos direcionados tem sido substituída por dívidas
nos mercados externo e de capitais doméstico. Para mais detalhes, ver boxe “Liquidações antecipadas de operações de crédito no
Sistema Financeiro Nacional” do Relatório de Inflação de dezembro de 2018, respectivamente.
17/ Boxes “Financiamento amplo das empresas” e “ Custo de financiamento das pessoas jurídicas” das edições de junho e setembro
de 2018 do Relatório de Inflação.
18/ Para maiores detalhes das estimativas de crescimento do crédito , ver boxe “Projeção de crédito para 2019” neste Relatório.
19/ Os dados apresentados neste Relatório referem-se a avaliação das instituições sobre a porcentagem de aprovação de novos
empréstimos, considerando quatro segmentos (grandes empresas; micro, pequenas e médias empresas; crédito habitacional pessoas
físicas; e crédito voltado ao consumo) tanto no que se refere aos últimos três meses, como para os próximos três meses. Os indicadores
apresentados correspondem a uma média das respostas de cada entrevistado, variando entre -2 (aprovação consideravelmente
inferior) a +2 (aprovação consideravelmente superior). Para mais detalhes da metodologia da PTC, ver Annibal, Clodoaldo e Koyama,
Sérgio (2011), “Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil”, BCB, Trabalho para Discussão nº 245.
Fiscal
Tabela 1.2 – Necessidades de Financiamento do Setor O setor público consolidado, excluindo estatais
Público – Resultado primário financeiras e empresas dos grupos Petrobras e
Acumulado em 12 meses Eletrobras, registrou deficit primário de R$108,3
R$ bilhões bilhões em 2018, ante deficit de R$110,6 bilhões em
Segmento 2017 2018 Jan/2019 2017. O desempenho em 2018 mostrou-se melhor do
Governo Central 118,4 116,2 117,1 que o estabelecido pela meta oficial, deficit R$161,3
d/q Governo Federal -64,8 -79,7 -77,7 bilhões.20 O governo central apresentou resultado
d/q INSS 182,4 195,2 194,3 negativo de R$116,2 bilhões, enquanto os governos
Governos regionais -7,5 -3,5 -3,7 regionais e as empresas estatais contribuíram
Empresas estatais -0,4 -4,4 -5,1 com superavits de R$3,5 bilhões e R$4,4 bilhões,
Total 110,6 108,3 108,3 respectivamente. Registre-se que o resultado do
governo federal foi superavitário em R$79,7 bilhões,
valor inferior ao deficit previdenciário (INSS) de
R$195,2 bilhões.
Gráfico 1.28 – Necessidades de Financiamento do O resultado nominal do setor público, que inclui a
Setor Público
Acumulado em 12 meses (% PIB)
apropriação de juros por competência, registrou
12 � � � � � deficit de R$487,4 bilhões em 2018, ante deficit
� 9,6
11
10
� � � �
� 9,0 � � �9,5 � � � � de R$511,4 bilhões em 2017. Contribuiu para essa
� � �
9 7,8 �
� � � �7,3 � � � �7,1
�
redução, a queda na taxa de juros implícita da dívida
8 �
7 líquida acumulada em doze meses – de 13,7% em
6
5
� � �
� � � dezembro de 2017 para 11,5% em dezembro de
7,1 � � � � �6,5 6,9 � � � �
� � � � �
4 �6,1
� � � � �6,0 � � � � �5,5 � 2018 –, em linha com o processo de flexibilização
3 � � �
2 �
� �
� � �
�
� � � � � � � � � �
� � � �
monetária no período e de redução dos subsídios
1 � � � � � � 2,5� � � � � � � � � � � � 2,6 � � � �� ��
� � � � � 1,7 � � � �� ��
0
2,5 � � � � � � 1,6
�1,3 � implícitos em ativos da Dívida Líquida do Setor
Dez
2015
Jun
2016
Dez Jun
2017
Dez Jun
2018
Dez
Público (DLSP). Os juros incorporados à dívida em
Juros nominais Nominal Primário
2018 alcançaram R$379,2 bilhões (5,5% do PIB), ante
R$400,8 bilhões (6,1% do PIB) em 2017.
20/ Lei nº 13.473, de 8 de agosto de 2017, com nova redação dada pela Lei nº 13.480, de 13 de setembro de 2017.
21/ Em função da data de corte deste Relatório os dados do setor externo referentes ao mês de fevereiro são preliminares.
22/ Para detalhamento da projeção do balanço de pagamentos, ver boxe “Projeção para o Balanço de Pagamentos de 2019”.
Índices de preços
Núcleos de inflação (3 meses anualizado dessaz.)
Fontes: IBGE e BCB
Gráfico 1.30 – Preços ao produtor – IPA-DI O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI) variou
Variação % em 3 meses
0,76% nos três meses encerrados em fevereiro, ante
8
0,97% no trimestre anterior, acumulando alta de
4
9,68% em doze meses (ante 10,82% em novembro).
A variação trimestral refletiu, principalmente, o
0 avanço em preços agropecuários (2,70% após recuo
de 1,43% nos três meses anteriores), destacando-
-4 se as elevações nos preços da batata-inglesa e do
feijão, itens relevantes para a dinâmica da inflação ao
-8 consumidor. O segmento industrial registrou variação
Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2016 2017 2018 2019 de 0,13% (ante 1,78% no trimestre anterior), com
IPA-DI Agrícola Industrial
destaque para a alta no preço do minério de ferro,
Fonte: FGV
compensada pela retração nos preços de derivados
de petróleo e soja.
6
Os preços de bens industriais oscilaram de 0,22% no
4
trimestre encerrado em novembro para 0,33% no
2 finalizado em fevereiro. O retorno parcial dos preços
de itens que registraram descontos promocionais
0
em novembro, tais como perfumes e produtos para
-2
Ago NovFev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev pele, foi compensado pela redução significativa
2016 2017
Bens industriais
2018 2019
Industriais subjacente
nos preços do etanol, que reagiram aos estoques
Demais bens industriais elevados e à queda nos preços da gasolina, a despeito
Fontes: IBGE e BCB
23/ Padrão sazonal obtido a partir das médias aparadas mensais, com exclusão de 20% de cada cauda, para o período de 2012 a 2017,
ajustadas para que o acumulado no ano se situe em 4,25%. A faixa sazonal do Gráfico 1.31 foi igualmente calculada, considerando
padrão sazonal do período ajustado para que o acumulado no ano se situe no intervalo entre 2,75% e 5,75%.
Gráfico 1.35 – IPCA – Administrados Os preços administrados recuaram 0,55% nos três
Variação % em 12 meses
meses encerrados em fevereiro, após alta de 0,49%
35
no trimestre anterior. O comportamento benigno
25
dos preços dessa categoria, no trimestre, foi
15
particularmente influenciado pela queda no preço
5 da gasolina, refletindo as cotações do petróleo no
-5 mercado internacional e a apreciação cambial. O
-15 arrefecimento dos efeitos de mudanças de bandeira
Ago
2016
Nov Fev
2017
Mai Ago Nov Fev
2018
Mai Ago Nov Fev
2019
tarifária nos preços de energia elétrica e o aumento
Administrados Energia elétrica
sazonal nas tarifas de ônibus urbano compensaram
apenas parcialmente o recuo do preço da gasolina no
Combustíveis administrados Ex-energia
trimestre. A variação acumulada em doze meses dos
Fontes: IBGE e BCB
preços administrados passou de 7,36% em novembro
para 5,75% em fevereiro, com altas de 6,60% no
componente energético (ante 10,70%) e de 5,25%
no "ex-energia" (ante 5,33%).
60
5 O índice de difusão, que mensura a proporção dos
4 componentes do IPCA com variação de preços
55
3 positiva, registrou média de 60,66% no trimestre
50 2
encerrado em fevereiro, ante 59,01% no finalizado
45 1
em novembro e 54,43% em igual período do ano
Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev anterior. Na série livre de efeitos sazonais, a média
2016 2017 2018 2019
6
De modo geral, as medidas de núcleo de inflação
4
acompanhadas pelo Banco Central mostraram
aceleração no trimestre encerrado em fevereiro.
2 Sob a métrica anualizada da média móvel trimestral
dessazonalizada, a média dos sete núcleos usualmente
0 observados26 avançou de 2,67% em novembro para
Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2016 2017 2018 2019 2,96% em fevereiro. No acumulado em doze meses,
DP MS EX2 a média dos núcleos avançou de 2,83% para 3,00%
Fontes: IBGE e BCB
em fevereiro.
24/ A segmentação da inflação de bens industriais foi apresentada no boxe “Novas medidas de núcleo de inflação”, publicado na edição
de junho de 2018 do Relatório de Inflação.
25/ Entre janeiro e maio de 2018, o índice de difusão dessazonalizado registrou média de 51,18%. A média da série de janeiro de
2001 a dezembro de 2018 situa-se em 62,85%.
26/ Média dos núcleos Ex-0, Ex-1, Ex-2, Ex-3, médias aparadas (MA), médias aparadas com suavização (MS) e dupla ponderação (DP).
(continua)
Em %
IPCA 3,92 3,75 3,75 3,75 3,75 3,75
IGP-M 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00
IPA-DI 4,50 4,25 4,50 4,38 3,75 3,75
Preços administrados 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 3,75
Selic (fim de período) 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00
Selic (média do período) 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00
PIB 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50
Em R$/US$
Câmbio (fim de período) 3,80 3,90 3,86 3,94 3,80 3,85
Câmbio (média do período) 3,75 3,85 3,81 3,86 3,76 3,84
Este boxe atualiza as projeções do Banco Central do Brasil para o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2019, incorporando os resultados das Contas Nacionais para 2018 e o conjunto de indicadores
disponíveis para o trimestre em curso.
A projeção central para o crescimento do PIB em 2019 é de 2,0%, inferior à previsão apresentada no Relatório
de Inflação de dezembro de 2018 (2,4%). Essa revisão está associada à redução de carregamento estatístico
de 2018 para 2019, resultante do crescimento no quarto trimestre de 2018 em magnitude menor do que
esperada; aos desdobramentos da tragédia em Brumadinho sobre a produção da indústria extrativa mineral;
às reduções em prognósticos para a safra agrícola; e, residualmente, à moderação no ritmo de recuperação
baseada em indicadores divulgados até a data de corte deste Relatório.
No âmbito da oferta, a produção da agropecuária deverá crescer 1,0% no ano, ante estimativa de elevação de
2,0% em dezembro, após crescimento de 0,1% em 2018. O recuo na projeção reflete reduções em estimativas
para a safra agrícola de 2019, com destaque para a menor produção esperada para soja, item com o maior
peso da agricultura, devido à estiagem ocorrida em importantes regiões produtoras.
A projeção para o desempenho da indústria foi reduzida de 2,9% para 1,8%, resultado de recuos nas
expectativas de crescimento para a indústria de transformação e extrativa. A estimativa de crescimento
da indústria de transformação passou de 3,2% para 1,8%, motivada pelo desempenho abaixo do esperado
ao final de 2018 e pelos resultados de indicadores referentes à atividade fabril no início deste ano.
A previsão para a indústria extrativa recuou de 7,6% para 3,2% em razão das expectativas de redução da
produção após o rompimento da barragem de mineração em Brumadinho1. As estimativas de crescimento
para construção civil e para produção e distribuição de eletricidade, gás e água foram mantidas em 0,6%
e 2,3%, respectivamente.
Estima-se crescimento de 2,0% para o setor terciário em 2019. A redução da projeção ante a estimativa
apresentada em dezembro (2,1%) reflete impactos em atividades que apresentam significativa correlação
com o comportamento da indústria de transformação. Adicionalmente, houve redução na projeção de
crescimento dos serviços de intermediação financeira e serviços relacionados, de 2,6% para 2,0%, explicada
principalmente pela frustração no resultado do quarto trimestre de 2018. Em sentido oposto, a estimativa
para atividades imobiliárias e aluguel passou de 2,0% para 2,9%, em linha com o crescimento observado
ao longo de 2018.
Com relação aos componentes domésticos da demanda agregada, houve recuo na projeção para o consumo
das famílias, de 2,5% para 2,2%, em linha com o relativo arrefecimento no ritmo de recuperação do mercado
de trabalho no final de 2018 e início deste ano. A estimativa para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)
apresentou ligeiro declínio (de 4,4% para 4,3%), enquanto a projeção para o consumo do governo permaneceu
inalterada em 0,6%.
1/ Embora ainda com elevado grau de incerteza, a projeção levou em conta a paralisação na produção de outras unidades de mineração
no estado de Minas Gerias.
Fonte: IBGE
1/ Estimativa.
2/ Prognósticos para exportação, importação e FBCF estão sujeitos a níveis de incertezas mais elevados que o usual devido a
indefinições quanto ao volume de exportação e importação de equipamentos para a indústria de petróleo e gás, no âmbito do
Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de
Petróleo e de Gás Natural (Repetro).
A produção da indústria geral – agregação das indústrias extrativa e de transformação – cresceu 1,2% em
2018, após aumento de 2,5% em 2017, quando encerrara sequência de três anos de retração, segundo dados
da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Comportamento semelhante foi registrado nas Contas Nacionais Trimestrais (CNT): variações de
1,9% e 1,3% em 2017 e 2018, respectivamente.
Gráfico 1 – Mediana das projeções da Pesquisa Focus
para a produção industrial (PIM-IG)
Variação anual – %
O desempenho da atividade industrial em 2018
4,5 frustrou as perspectivas para o setor registradas no
4,0 início do ano, quando a mediana das projeções do
3,5 Focus para a variação anual da produção industrial
3,0 chegou a indicar crescimento de 4,3% (Gráfico 1).
2,5
Até abril, o desempenho da indústria, medido pela
2,0
PIM-PF, corroborava esse cenário, com expansão de
1,5
4,5% no primeiro quadrimestre de 2018 em relação
1,0
Jan Jul Jan Jul Jan ao mesmo período do ano anterior. Contudo, após a
2017 2017 2018 2018 2019
paralisação do setor de transporte de cargas ocorrida
2018 2019
Fonte: BCB
em maio (quando a produção industrial caiu 11,0%
relativamente a abril, na série com ajuste sazonal)
Gráfico 2 – Produção industrial1/
2012 = 100 e a recuperação registrada em junho (variação de
12,6% sobre maio), a atividade fabril apresentou
108
tendência de contração (Gráfico 2), com a produção
106
no quarto trimestre 1,8% abaixo do nível registrado
104
102
no primeiro1.
100
98 Além da paralisação, cujo impacto, grosso modo,
96 subtraiu 1 p.p. no resultado anual da indústria, a
94
trajetória do índice de quantum da PIM-PF em 2018
92
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan foi afetada por outros fatores, dois dos quais são
2017
Fonte: IBGE
2018 2019
analisados neste boxe. O primeiro fator, de natureza
1/ Série com ajuste sazonal. econômica, foi a queda das exportações para a
Gráfico 3 – Exportações para a Argentina Argentina. O segundo fator, de natureza puramente
Bilhões de US$ estatística, foi a redução da proporção de matéria-
2,0
prima direcionada à produção de açúcar em oposição
Bilhões
à produção de álcool.
1,5
1,0
Fator de natureza econômica:
Exportações para a Argentina
0,5
Jan Jan Jan Jan Jan Em 2017, a Argentina foi destino de 12,2% das
2015 2016 2017 2018 2019
Fonte: Secex/ME exportações da indústria de transformação brasileira
1/ Os setores com quedas, nessa base de comparação, representam aproximadamente 65% da PIM-PF, com destaque para as variações
de alimentos (-7,1%), informática, eletrônicos e ópticos (-16,4%), máquinas e equipamentos (-3,6%) e veículos automotores (-2,6%).
As vendas externas para a Argentina, que vinham crescendo notadamente nos últimos anos, recuaram de
maneira significativa desde o pico atingido em março de 2018 (Gráfico 3), com implicações para a atividade
econômica brasileira que vão além da produção que deixou de ser exportada. O impacto total deve, também,
contabilizar a queda na produção dos insumos que deixaram de ser demandados na produção destinada
à exportação, assim como na produção dos insumos destinados àqueles insumos, e assim por diante. Para
estimar esse efeito, utilizaram-se os multiplicadores de Leontief3, obtidos a partir da estrutura de consumo
intermediário de cada atividade4. Como proxy da variação exógena da demanda, adotou-se a variação em
dólar5, por produto, das exportações para a Argentina em 2018 sobre 20176.
O exercício indica que a queda de 15,1% nas exportações para a Argentina tenha reduzido o valor adicionado
(VA) da indústria de transformação em 0,38 p.p. (Tabela 1). Entre as atividades, destaque-se o impacto
sobre a produção de veículos (-4,7 p.p.), seguida da produção de autopeças (-2,0 p.p.). A primeira foi a mais
afetada diretamente pela queda nas exportações, equivalente a 4,5% do seu valor de produção, enquanto
a última, apesar de não ter suas exportações afetadas na mesma magnitude, foi impactada pela redução na
produção da primeira: impacto direto de -0,3 p.p. e indireto de -1,7 p.p. Completando a lista das atividades
mais afetadas estão máquinas e equipamentos mecânicos (-1,4 p.p.), metalurgia de ferrosos (-1,3 p.p.) e
borracha e plástico (-0,7 p.p.).
Gráfico 4 – Mix implícito pela produção industrial Preços relativos favoráveis incentivaram destinação
Proporção Açúcar / (Açúcar + Álcool) em açúcar total recuperável (%)
48
recorde da cana-de-açúcar à produção de álcool, em
detrimento à de açúcar, na safra de 2018 (Gráfico 4).
46
Além da resposta natural da quantidade produzida
44 ao preço do produto, a flexibilidade do setor foi
42 importante para o aumento na produção de etanol,
40
uma vez que grande parte das unidades de produção
podem produzir qualquer dos dois produtos.7
38
36
O mix de produção açúcar/álcool tem efeitos não só
34 sobre a composição setorial da PIM-PF, mas também
2010 2011 2012
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fontes: IBGE e BCB sobre o índice agregado. O valor adicionado da
transformação industrial de cada atividade é medido,
na PIM_PF, pela evolução de sua produção bruta, assumindo-se que a produção e o consumo intermediário
apresentem a mesma variação. Os agregados são construídos como índices de Laspeyres que tomam como
peso o valor da transformação industrial de 2010 (IBGE, 2015). Implícita está a hipótese de que as tecnologias
(razão nominal entre o valor adicionado e o valor de produção de cada atividade) e preços observados se
mantiveram inalterados.8 Assim, fixado um total de moagem de cana-de-açúcar, é possível que mudanças
de preços e de tecnologia justifiquem economicamente alteração do mix pela indústria sucroalcooleira, mas
que o impacto medido pela PIM-PF seja negativo.
Para quantificar esse efeito utilizou-se a taxa de substituição entre a produção dos dois produtos9 para definir
a produção industrial do setor sucroalcooleiro em função da moagem total de cana e do mix açúcar/álcool em
cada ano10. Constrói-se um contrafactual no qual o
Gráfico 5 – Índice de quantum do setor sucroalcooleiro
2012 = peso do setor sucroalcooleiro na PIM IG Diferença (%) mix é mantido constante no valor observado em 2017
6,5 0
e, da sua diferença em relação à série observada,
6,0
-5
estima-se o efeito que a mudança do mix teve sobre
5,5
a produção industrial agregada em 2018.
5,0 -10
4,5
-15
O exercício indica que a menor proporção de açúcar
4,0
contribuiu com redução de 11,54 p.p. sobre o índice
3,5
-20 de quantum do setor sucroalcooleiro em 2018 e,
3,0
consequentemente, 0,58 p.p. sobre a indústria
2,5 -25
Dez Dez Dez Dez geral (PIM-PF). O Gráfico 5, que compara a evolução
2015 2016 2017 2018
Diferença Sucroalcooleiro Contrafactual
Fontes: IBGE e BCB
7/ Em 2017, 71,8% das 352 unidades eram mistas, 25,3% eram destilarias e 2,9% usinas de açúcar (estimativas da Companhia Nacional
de Abastecimento – Conab, divulgadas em julho de 2017).
8/ Para minimizar esse problema as ponderações são atualizadas pelo IBGE de tempos em tempos.
9/ Para produzir 1 quilo de açúcar é necessário 1,0495 quilo de açúcar total recuperável (ATR), enquanto a produção de 1 litro de álcool
anidro demanda 1,7651 quilo de ATR (Conab, 2013). O ATR representa a quantidade útil de sacarose no caldo de cana-de-açúcar e
depende da safra e do local; já a relação entre a produção final e a quantidade de insumos, medidas em ATR, é constante, função
do padrão tecnológico utilizado.
10/ Seja a quantidade, em ATR, destinada à produção do bem , onde representa a
quantidade necessária de ATR para cada unidade produzida, é a quantidade produzida de em 2010 segundo a
Pesquisa Industrial Anual – Produto (PIA-Produto, IBGE) e é o respectivo índice de base fixa da PIM-PF referente
ao ano , sendo que o ano representa o ano base, 2010 ( é igual ao peso do bem no ano base). Utilizou-se a
evolução da quantidade em ATR pela PIM ao invés de dados diretos de outras fontes para concentrar a atenção no mix;
contudo, os resultados são próximos. Assim, deriva-se o índice de quantum do setor em função do mix, :
, onde é o total de cana-
de-açúcar em ATR destinado ao setor sucroalcooleiro e é um fator de escala que depende da produção do ano base.
Conclusão
Em síntese, este boxe analisou os efeitos de dois importantes fatores que incidiram sobre a produção industrial
em 2018. Estima-se que a redução nas exportações para a Argentina tenha contribuído negativamente com
0,38 p.p. sobre o valor adicionado da indústria de transformação. Adicionalmente, a proporção recorde da
cana-de-açúcar destinada à produção de álcool diminuiu em 0,58 p.p. o crescimento da indústria geral em
2018 (PIM-PF).
Gráfico 6 – PIM-IG e PIM-IG sintética Ressalta-se, porém, que esses dois efeitos não
2012 = 100 são diretamente comparáveis devido à natureza
93 metodológica do último. Diferentemente da
91 PIM-PF, a CNT (IBGE) é calculada em base móvel,
89 dada pelos valores correntes do valor adicionado
87 do ano anterior, tendo assim, em tese, pesos mais
85 atualizados no período mais recente da série. Estima-
83 se que o efeito da alteração do mix da destinação da
81 cana-de-açúcar sobre o PIB tenha sido praticamente
79
Jan Jan Jan Jan
nulo12.
2016 2017 2018 2019
PIM-IG PIM-IG Sintética
Fontes: IBGE e BCB Embora relevantes, os fatores analisados não
explicam toda a desaceleração da indústria em
2018. O Gráfico 6 apresenta a comparação do índice de quantum da indústria geral da PIM-PF com a sua
versão sintética, construída por meio da exclusão da produção de veículos automotores, setor mais afetado
pela queda das exportações para a Argentina, e substituindo a produção do setor sucroalcooleiro por seu
contrafactual apresentado anteriormente. Observa-se que, mesmo controlando para esses dois efeitos, a
indústria geral apresentou desempenho modesto no ano, com a produção no quarto trimestre situando-
se 0,7% abaixo da que teria sido registrada no primeiro trimestre. Portanto, fatores adicionais também
contribuíram para a desaceleração da indústria, incluindo o aumento da volatilidade das condições financeiras
que refletiram tanto o cenário internacional quanto incertezas domésticas. Os choques que incidiram sobre
a economia brasileira ao longo de 2018 ainda devem ter seus efeitos sentidos no início do ano corrente.
Referências
11/ O contrafactual mensal foi construído partindo-se do mix médio de cada mês no período compreendido entre 2013 e 2017. Então,
foi aplicado um fator multiplicativo comum a todos os meses de forma que o mix agregado do ano de 2018 coincidisse com o
observado em 2017. As séries obtidas foram ajustadas sazonalmente com especificação genérica baseada na utilizada pelo IBGE
na dessazonalização da PIM-PF.
12/ Efeito estimado de -0,02 p.p. sobre o valor adicionado do setor sucroalcooleiro, implicando em efeito menor do que 0,001 p.p. sobre
o valor adicionado da indústria geral e da economia como um todo. Para calcular o efeito, partiu-se da TRU de 2016, evoluindo a
produção pelos dados da PIM-PF e os preços por dados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ).
Oscilações na taxa de câmbio, ao alterarem preços relativos, exercem influência sobre decisões de alocação
de gastos de famílias e empresas entre bens nacionais e importados, com eventuais repercussões sobre
a produção da indústria nacional. Além disso, afetam a competitividade dos bens nacionais no exterior,
com impactos potenciais sobre o destino da produção doméstica. O presente boxe busca analisar o
comportamento da penetração de produtos importados e da exportação de produtos da indústria de
transformação, no período de 2002 a 2018.
Para este fim, construíram-se séries a valores constantes da penetração de importados (PI) e do coeficiente
de exportação (CE), utilizando como base o ano de 2015, período da última Matriz de insumo-produto (MIP)
disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise foi feita de maneira
desagregada, considerando quatro categorias de uso – bens intermediários (BI), bens de capital (BK), bens
de consumo duráveis (CD) e bens de consumo não-duráveis (CND) – e 47 produtos típicos da indústria de
transformação.1
Para cada par produto x categoria de uso, a penetração de importados a preços constantes é calculada como
onde , é a penetração de importados do produto com categoria de uso no mês a preços constantes
e ajustada sazonalmente; , e são os índices de volume, com ajuste sazonal2, da produção,
importação e exportação, respectivamente, do par ;e , e são os seus respectivos valores
em 2015, conforme a MIP 2015. A fonte dos índices de volume é a Pesquisa Industrial Mensal – Produção
3
Física (PIM-PF) do IBGE, enquanto os índices de importação e exportação foram calculados a partir de dados
divulgados pelo Ministério da Economia4.
1/ Adotou-se a maior desagregação que ainda permitisse a compatibilização dos dados disponíveis na MIP e na PIM. Excluiu-se dos
cálculos o produto “aeronaves, embarcações e outros equipamentos de petróleo”, objetivando evitar a contaminação das séries
causadas pela mudança no regime fiscal aduaneiro Repetro, relativo a produtos destinados à indústria de petróleo.
2/ O ajuste das séries de produção, importação e exportação foi calculado, para cada par, através do método X13, controlando para
dias úteis, Páscoa, Carnaval e Corpus Christi. Assim, as séries calculadas de penetração de importados e coeficiente de exportação
resultantes são ajustadas sazonalmente de maneira indireta. Os totais por indústria, produto e categoria de uso também foram
ajustados de maneira indireta, uma vez que o resultado ficou próximo ao encontrado ao ajustar-se as séries de maneira direta,
além de possuir a vantagem de preservar a aditividade das séries básicas.
3/ Como a MIP não disponibiliza o valor produzido e exportado de cada produto desagregado por categoria de uso, mas apenas a
importação e a demanda, calculou-se a parcela da exportação correspondente a cada categoria de uso conforme os dados dos
valores exportados por Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) divulgados pelo Ministério da Economia, com o valor produzido
calculado pelo resíduo, ignorando-se variações de estoque.
4/ Os índices de volume da importação e exportação foram calculados, para cada par produto x categoria de uso, de forma implícita
dada a variação do preço unitário de cada par. Ainda, dentro de cada par, permitiu-se classificar observações como outliers relativos
à distribuição empírica conjunta, observada no par, dos logaritmos dos índices de variação de preço e peso. Tais outliers foram
desconsiderados do cálculo do índice de preços, mas não do índice de valor.
5
10 60 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
PI Câmbio PIB Total BK BI CD CND
3 4
2
2
1
0
0
-1 -2
-2 -4
2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
Variação na composição da demanda interna Refino Eletronic Máquinas Auto
Variação da penetração de produtos individuais
Variação total Quim Outros + Outros - Total
Fontes: Secex/ME, IBGE e BCB Fontes: Secex/ME, IBGE e BCB
5/ Como a penetração de importados agregada, , não é uma função linear das penetrações
e demandas individuais, não há uma maneira direta de decompô-la nesses dois componentes. Adotou-se, então, como contribuição de
cada um sua parcela no diferencial da penetração agregada em relação ao tempo. Supondo que as observações se deem continuamente
ao longo do tempo, tem-se .
6/ Isto é, decorrente de alterações na preferência dos agentes por cesta de produtos com algum grau de penetração em detrimento
de oferta basicamente doméstica.
7/ Neste caso, para cada produto, somam-se suas contribuições através da variação do seu coeficiente de penetração de importados
e da sua demanda interna.
Os resultados apresentados no Gráfico 5 indicam que uma depreciação efetiva real de 1% gera redução de
0,6% na penetração de importados no agregado, após um ano – magnitude semelhante à das respostas dos
bens intermediários e de consumo não duráveis.8 A maior resposta ao câmbio é encontrada na penetração
de importados na demanda por bens duráveis, cuja elasticidade é unitária. Por outro lado, a penetração
de importados de bens de capital não apresentou resposta ao câmbio no modelo proposto.9 No Gráfico 6
são apresentadas as respostas ao PIB doméstico, mostrando que o crescimento da economia favorece o
aumento da penetração de importados – um choque de 1% no PIB implica aumento de 1,6% na penetração
de importados no agregado. Novamente, a exceção encontra-se nos bens de capital. A decomposição
histórica10 da variação acumulada da penetração de importados é apresentada no Gráfico 7, evidenciando
que o crescimento acima da tendência observado de 2007 a 2011 foi influenciado tanto pelo câmbio mais
apreciado quanto pelo PIB nacional.
Gráfico 5 – Funções de impulso resposta da PI ao Gráfico 6 – Funções de impulso resposta da PI ao PIB
câmbio Resposta a um choque de 1 p.p.
Resposta a um choque de 1 p.p. (%)
.(%) 4,00
0,50
3,00
0,00 2,00
1,00
-0,50
0,00
-1,00
-1,00
-1,50 -2,00
0T 2T 4T 6T 8T 10 T 12 T 0T 2T 4T 6T 8T 10 T 12 T
-2
-4
2002T3
2003T3
2004T3
2005T3
2006T3
2007T3
2008T3
2009T3
2010T3
2011T3
2012T3
2013T3
2014T3
2015T3
2016T3
2017T3
2018T3
8/ Para a análise das funções de impulso-resposta foi utilizada a decomposição de Cholesky assumindo que a ordem das variáveis,
da mais exógena para a mais endógena, seja taxa de câmbio, PIB nacional e penetração de importados.
9/ Possivelmente, a penetração de importações de bens de capital apresenta não linearidades, não capturadas pelo modelo utilizado
em grau maior do que os outros componentes devido ao caráter prospectivo de suas decisões.
10/ A decomposição histórica utilizou a mesma hipótese de identificação utilizada nas funções de impulso-resposta.
12
10 100
8 9
80
6 6
4 60 3
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
4
1
2
0
0
-1 -2
-4
-2 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 Açúcar Veículos
Variação na composição da produção Máq. equip Óleos e gord. veg e anim
Variação no coeficiente de produtos individuais Refino Outros +
Variação total Outros - Total
Fontes: Secex/ME, IBGE e BCB Fontes: Secex/ME, IBGE e BCB
Análoga à análise feita para a penetração de importados, a resposta do coeficiente de exportação foi
estimada com modelo VAR relacionando-a às variações na taxa de câmbio efetiva real, ao PIB nacional e
também uma medida de atividade global – o PIB ponderado dos quinze principais destinos das exportações
brasileiras –, além de dummy para o 4º trimestre de 2008 e um termo constante.11 Os resultados mostram que
o coeficiente de exportação não apresenta resposta significativa ao câmbio (Gráfico 12).12 Por outro lado, o
crescimento da economia mundial alavanca as exportações, enquanto o coeficiente de exportação responde
negativamente ao nível de atividade local. A importância da demanda mundial é ilustrada pela decomposição
histórica do coeficiente de exportações (Gráfico 13), tendo importante contribuição para o crescimento do
11/ As funções de impulso resposta consideraram a seguinte hipótese sobre o ordenamento das variáveis endógenas (da mais exógena
para a mais endógena): câmbio, PIB mundial, PIB nacional, coeficiente de exportação.
12/ A ausência de resposta persiste mesmo ao se utilizar ordenamentos alternativos no VAR. Mesmo repetindo a análise desagregada
por produto, em apenas 3 dos 47 uma depreciação cambial aumentou o coeficiente de exportação de maneira estatisticamente
significativa. Uma possível explicação para esse fato contra intuitivo da insensibilidade do coeficiente de exportação ao câmbio
são efeitos não lineares, como a presença de histerese nas exportações, que modelos lineares como o VAR não são capazes de
identificar.
2002T3
2003T3
2004T3
2005T3
2006T3
2007T3
2008T3
2009T3
2010T3
2011T3
2012T3
2013T3
2014T3
2015T3
2016T3
2017T3
2018T3
-2,00
Câmbio efetivo real PIB mundial
0T 2T 4T 6T 8T 10 T 12 T
PIB doméstico Outros
Câmbio PIB doméstico PIB mundial Desvio da tendência
Fontes: Secex/ME, IBGE, BCB e OCDE Fontes: Secex/ME, IBGE, BCB e OCDE
Em suma, este boxe mostrou que a participação das importações na demanda nacional por produtos
da indústria de transformação cresceu significativamente na década passada, de maneira difundida,
aparentemente em função da apreciação cambial e do crescimento da economia local, mas tem-se mantido
relativamente estável nos últimos anos. Por outro lado, a participação do mercado externo no destino
da produção da indústria de transformação local não mostrou resposta significativa aos movimentos da
taxa de câmbio. Oscilações da participação das exportações foram provocadas, principalmente, pelo ciclo
econômico externo.
A análise da evolução dos preços relativos é importante para o entendimento da dinâmica inflacionária,
ao colocar sob perspectiva tendências de longo prazo e oscilações decorrentes de choques temporários.
Considerando o comportamento heterogêneo dos diversos segmentos de preços na economia brasileira nas
últimas duas décadas, este boxe avalia a evolução dos preços relativos a partir da desagregação da inflação
de preços ao consumidor nos seguintes componentes: alimentos no domicílio; bens industriais; serviços e
monitorados.
1/ Neste e nos demais gráficos do boxe, as séries dos índices de preços dos diversos componentes da inflação foram deflacionadas
pelo IPCA.
2/ Outras análises enfocando os segmentos de preços livres podem ser encontradas nos boxes do Relatório de Inflação: “O que
determina o comportamento da inflação de bens industriais?”, de dezembro de 2016; “Evolução recente da inflação de alimentos”,
de junho de 2016; e “Inflação no setor de serviços”, de setembro de 2016.
100
90 90
Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
Alimentação no domicílio IC-Br Agro Brasil Chile México Colômbia
Fontes: IBGE e BCB Fonte: OCDE
Os preços relativos no segmento de serviços aumentaram do início de 2003 até o final de 2014 e apresentaram
certa estabilidade nos últimos quatro anos. Esse movimento refletiu, além do menor ganho de produtividade
e competição com o exterior, o efeito mais pronunciado do ciclo econômico sobre os preços de serviços. O
Gráfico 5 evidencia como os períodos de elevação dos preços relativos de serviços coincidem com a aceleração
dos salários reais de admissão5, sugerindo que a maior relevância do fator trabalho na estrutura de custos
do setor potencializa os efeitos do ciclo econômico sobre a inflação de serviços.
115
105
95
85
75
Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
Serviços Sal. Adm.
Fontes: IBGE e Secretaria de Trabalho/ME
Para a trajetória dos preços monitorados (Gráfico 6), contribuíram, principalmente, os itens energéticos
(combustíveis e eletricidade), que possuem participação de aproximadamente 38% do segmento. No caso
de derivados de petróleo, destacam-se os impactos cambiais, de preços internacionais e da política de
preços praticada pela Petrobras. No período entre 2005 e 2010, com exceção do segundo semestre de
2008, a apreciação cambial atuou no sentido de mitigar o impacto da alta dos preços internacionais dos
3/ Naturalmente, tal tendência sofreu maior variabilidade cíclica, devido aos choques de oferta e variações cambiais.
4/ O Gráfico 3 compara a evolução dos preços de alimentação no domicílio com o Índice de Commodities – Brasil (IC-Br) Agropecuário
em reais, ambos deflacionados pelo IPCA.
5/ A série de salários médios de admissão no mercado de trabalho formal foi dessazonalizada e deflacionada pelo IPCA.
140
130
120
110
100
90
Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
Monitorados – Energéticas
Monitorados – Ex-energéticas e plano de saúde
Fonte: IBGE
Fora do segmento de energia, mas também com participação expressiva no segmento de monitorados,
destaca-se o item plano de saúde, que registrou aumento de preços significativamente acima da inflação
e, também, dos demais serviços de saúde (Gráfico 7). Em particular, a aceleração dos preços de plano de
saúde desde 2016 está, em parte, relacionada à redução do número de beneficiários, sobretudo dos mais
jovens, em decorrência da recessão e posterior período de retomada gradual da atividade econômica e à
continuidade do crescimento das despesas assistenciais.
155
135
115
95
75
Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul Jul
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
Plano de saúde Demais serviços de saúde
Fonte: IBGE
Em resumo, a análise do comportamento dos preços relativos dos principais segmentos do IPCA evidencia que
o segmento de monitorados foi importante fonte de oscilação dos preços relativos na comparação histórica,
em função de mudanças estruturais que impactaram o item energia elétrica residencial e de flutuações em
preços de combustíveis. Os preços de planos de saúde exerceram acentuada pressão para o aumento dos
preços de monitorados, em especial, a partir de 2016. Os preços livres apresentaram dinâmicas distintas
entre os componentes, destacando-se a trajetória majoritariamente ascendente dos preços relativos de
alimentos e serviços no período avaliado, e tendência clara de redução dos preços de bens industriais,
particularmente, dos duráveis.
6/ Houve redução média de 19% nas tarifas de energia elétrica em janeiro e fevereiro de 2013, no contexto da Medida Provisória
nº 579/2012, convertida na Lei nº 12.783/2013. Já em março de 2015 uma alta de 22% foi provocada pela revisão extraordinária que
visava a garantir o equilíbrio econômico-financeiro das concessionárias, afetadas, dentre outros fatores, pelo cenário hidrológico
adverso do ano anterior. Adicionalmente, a exposição das distribuidoras ao mercado de curto prazo em 2014, decorrente do elevado
grau de descontratação, levou à realização de operações de créditos e criação da Conta no Ambiente de Contratação Regulada
(Conta-ACR), ainda presente na composição das tarifas de energia elétrica.
O saldo de crédito cresceu 5,1% em 2018, após contração de 0,5% registrada em 2017. Esse processo
refletiu, principalmente, o recuo das taxas de juros, a redução dos indicadores de risco e a inadimplência
em patamares baixos. Nesse contexto, este boxe apresenta as estimativas do estoque de crédito para 2019,
bem como, o comportamento esperado para os principais condicionantes dessa expansão. 1
A estimativa para 2019 é de aceleração do crescimento do saldo de crédito junto ao Sistema Financeiro
Nacional (SFN), com elevação de 7,2%, decorrente de aumentos de 9,7% e 4,1% para os saldos de crédito a
pessoas físicas e jurídicas, respectivamente (Gráfico 1).
18
12 9,7
7,2
6
4,1
0
-6
-12
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Essa projeção fundamenta-se, sobretudo, na perspectiva de maior crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) em ambiente com inflação baixa e estável; na manutenção das taxas de juros em patamares baixos; na
continuidade da evolução benigna da inadimplência; e no nível historicamente reduzido do comprometimento
de renda das famílias com dívidas contraídas no SFN. Essa conjuntura favorável à expansão do crédito é
retratada, em parte, pelas informações apresentadas nos Gráficos 2 e 3.
5 22 6
4 12
4 21
2
0 8
3 20
-2
2 19 -4 4
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Inadimplência Comp. renda familias (eixo d.) PIB Selic (eixo d.)
1/ As projeções apresentadas neste boxe são subsidiadas por diferentes modelos econométricos. As projeções feitas por esses
modelos baseiam-se em um conjunto amplo de variáveis macroeconômicas que sintetizam o atual estado da economia.
Gráfico 4 – Evolução do crédito livre e projeção Gráfico 5 – Evolução do crédito direc. e projeção
Var. (%) interanual Var. (%) interanual
24 36
30
18
13,0 24
12 12,5
18
12,0
6 12
6,0
6
0 0,8
0
-6 -6,0
-6
-12 -12
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Pessoas físicas Pessoas jurídicas Total Pessoas físicas Pessoas jurídicas Total
A expectativa para a evolução do crédito direcionado é de continuidade de dinâmicas distintas para pessoas
físicas e jurídicas. Projeta-se crescimento de 0,8% em 2019 para o estoque total de crédito direcionado, com
variações de 6,0% e -6,0% para pessoas físicas e jurídicas, respectivamente. No primeiro caso, destaca-se
a aceleração projetada do financiamento imobiliário. No que concerne ao crédito às empresas, espera-se
um arrefecimento no ritmo de redução do estoque de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES.)
1/ Dados preliminares.
O mercado de veículos automotores foi um dos setores mais afetados pela recente crise econômica
doméstica. Entre 2013 e 2016, a produção de veículos registrou retração de 46%, enquanto a produção da
indústria de transformação como um todo recuou 19%. A partir de 2017, as vendas e a produção reagiram
com a recuperação gradual da atividade econômica, acompanhada de significativa flexibilização da política
monetária (Gráfico 1 e 2). O crescimento das vendas de veículos no biênio 2017-2018 atingiu 24,4%,
comparativamente ao aumento de 11,8% das vendas do comércio varejista ampliado, enquanto a produção
de veículos aumentou 32,0%, bem acima do desempenho da indústria de transformação no período (3,1%).
Gráfico 1 – Emplacamentos de veículos novos Gráfico 2 – Produção e importação de automóveis
Milhões de unidades Variação % Milhões de unidades
4,0 32 4,0 3,0
3,5 24
3,5 2,5
3,0 16
3,0 2,0
2,5 8
2,5 1,5
2,0 0
2,0 1,0
1,5 -8
Parte relevante da reação observada no setor decorreu do aumento das vendas diretas2 das montadoras no
total de veículos novos comercializados no país. Em 2018, as vendas diretas atingiram 1.061 mil veículos, com
crescimento de 57,2% em relação às observadas em 2016, enquanto as vendas no varejo alcançaram 1.410 mil
unidades e variação de 7,5% nesse período (Gráfico 3). Com isso, a participação das vendas diretas alcançou
43,0% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves em 2018 (ante 34,0% em 2016). A retomada
nas vendas, a partir de 2017, bem mais acentuada entre as vendas diretas, foi impulsionada pelo aumento
na demanda das empresas, após dois anos de moderação no investimento em veículos, especialmente no
segmento de locadoras de veículos3.
1/ Estimativa feita a partir das relações intersetoriais (coeficientes) obtidas da matriz de insumo-produto de 2015. Do crescimento
de 3,1% da indústria de transformação no biênio, 0,4 p.p. foi devido diretamente à expansão da produção de veículos e 0,6 p.p. de
efeitos indiretos. No crescimento de 2,2% do PIB no período, o impacto direto corresponde a 0,2 p.p. considerando a produção e
as vendas, e o impacto indireto a 0,3 p.p.
2/ As vendas diretas referem-se aos veículos emplacados cujas notas fiscais foram emitidas pelos fabricantes de automóveis, enquanto
as vendas no varejo referem-se aos demais veículos (com notas fiscais emitidas pelas concessionárias). As vendas diretas podem
ser originadas a partir de vendas corporativas, nas quais a montadora negocia diretamente com grandes clientes, como frotistas
e/ou locadoras, assim como também em operações realizadas nas concessionárias, como as vendas feitas para taxistas, produtores
rurais, Pessoas com Deficiência (PCD), entre outros.
3/ Dados da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA) mostram que as locadoras adquiriram 360 mil automóveis e
comerciais leves em 2017, correspondente a 16,6% dos emplacamentos no país, ante 218 mil veículos adquiridos em 2016.
200 26 6
175
24 5
150
125 22 4
100
20 3
75
Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set
2013 2014 2015 2016 2017 2018 18 2
Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set Mar Set
Vendas diretas Vendas nas concessionárias 2013 2014 2015 2016 2017 2018
No que se refere ao crédito para financiamento de veículos, o volume de novos empréstimos4 (crédito para
aquisição de veículos e leasing) contratados por pessoas físicas atingiu o montante de R$102,9 bilhões em
2018, registrando expansão de 42,9% em relação a 2016. O crescimento dos empréstimos às famílias para
aquisição de veículos no período ocorreu em cenário de redução de taxas de juros e comportamento benigno da
inadimplência (Gráfico 4). Apenas para se ter grandes números em perspectiva, os financiamentos de veículos
novos representam aproximadamente 40% das concessões de crédito na modalidade financiamento de veículos.
250 8
200 6
150
4
100
2
50
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV 0
2015 2016 2017 2018 I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
Financiamentos Vendas diretas 2015 2016 2017 2018
Fontes: BCB e Fenabrave Financ. Veículos Leasing Recebíveis
1/ Financiamentos de veículos, leasing e recebíveis adquiridos de
montadoras. 1/ Recebíveis com origem em vendas de montadoras.
4/ Inclui financiamentos de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e implementos rodoviários, novos e usados.
5/ Essas operações se caracterizam por uma menor cunha fiscal, tendo em vista a não incidência de Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) sobre aquisição de fluxo financeiro, e por não possuírem garantia real vinculada aos veículos, o que diminui despesas de
registro de alienação fiduciária e de liberação do bem para negociação.
10
0
2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017 2018
Pequenas e médias Grandes
Outras mod. SFN Leasing Financ. veic.
Recebiveis Merc. capitais Merc. externo
Em síntese, o desempenho das vendas e da produção de veículos exerceu papel relevante para o crescimento
da atividade econômica doméstica nos últimos dois anos. Esse movimento foi substancialmente favorecido
pela expansão do crédito a pessoas físicas e jurídicas, em cenário de redução das taxas de juros, de inflação
baixa e comportamento benigno da inadimplência. Destacou-se, no aumento da demanda por veículos
verificada no período, a expansão das aquisições por empresas, em particular no formato de vendas diretas,
sobretudo a comercialização de fabricantes de veículos com grandes clientes, como as locadoras. Os dados do
mercado de crédito evidenciaram expansão de modalidades de empréstimos (além das linhas tradicionais de
financiamento a veículos) associadas ao dinamismo das vendas a pessoas jurídicas, ressaltando a expansão dos
créditos vinculados aos recebíveis. Finalmente, assim como destacado em boxes anteriores do Relatório de
Inflação8, considerando o financiamento amplo das empresas, nota-se expressivo crescimento da relevância
do mercado de capitais doméstico como fonte de financiamento para empresas do setor.
6/ Foram consideradas as captações de recursos no mercado de capitais doméstico através da emissão de debêntures e notas
promissórias (as emissões de debêntures representaram cerca de 90% desses recursos em 2018).
7/ Considerou-se para esse estudo como grandes empresas aquelas com endividamento no SFN superior a R$100 milhões em algum
balanço de dezembro do período de 2015 a 2018.
8/ Para mais detalhes, ver os boxes "Financiamento amplo das empresas", do Relatório de Inflação de junho de 2018, e "Custo de
financiamento às pessoas jurídicas", do Relatório de Inflação de setembro de 2018.
Tabela 1 – Projeções do balanço de pagamentos Este boxe apresenta a revisão das projeções para
US$ bilhões o balanço de pagamentos de 2019. As novas
Período 2018 2019 estimativas consideram as estatísticas de balanço
Fev Jan- Ano Fev* Jan- Ano
1/
de pagamentos publicadas desde o Relatório de
fev fev* Inflação de dezembro de 2018, a evolução econômica
doméstica e internacional, e os dados mais recentes
Transações correntes -2,0 -8,3 -14,5 -1,1 -7,7 -30,8
relativos ao estoque e ao serviço do endividamento
Balança comercial 2,7 5,1 53,6 3,2 4,8 40,0
externo do país.
Exportações 17,3 34,2 239,0 16,2 34,7 247,0
Importações 14,6 29,1 185,4 13,1 29,9 207,0
Serviços -2,6 -5,4 -34,0 -2,1 -4,6 -36,4 As perspectivas de desaceleração do crescimento
dos quais: viagens -0,8 -2,0 -12,3 -0,8 -1,7 -15,0 global e a redução na projeção do Produto Interno
dos quais: transportes -0,6 -1,1 -6,2 -0,4 -1,0 -7,5 Bruto (PIB) doméstico em 2019, condicionaram a
dos quais: aluguel de equip. -1,1 -2,4 -15,0 -0,9 -1,7 -13,5 revisão, de US$35,6 bilhões para US$30,8 bilhões
Renda primária -2,3 -8,4 -36,7 -2,4 -8,2 -37,2 (1,6% do PIB), do deficit em transações correntes
dos quais: juros -0,9 -5,5 -20,0 -0,8 -5,1 -17,0 em 2019. A alteração incorpora modificações
dos quais: lucros e dividendos -1,4 -2,9 -16,9 -1,7 -3,2 -20,5 pontuais na composição do deficit, com expectativa
Renda secundária 0,2 0,4 2,5 0,2 0,3 2,7 de discreto aumento do superavit comercial, e de
reduções nas despesas líquidas de renda primária
Conta capital 0,0 0,1 0,4 0,0 0,0 0,4
e serviços.
Conta financeira -2,1 -6,7 -7,7 -0,7 -6,3 -30,4
Investim. ativos
2/
2,8 13,6 73,2 9,7 16,9 72,5 Projeta-se superavit comercial de US$40,0 bilhões
Inv. direto no ext. -0,1 2,4 14,1 1,9 4,0 10,0 para o ano, com expansão de 3,3% nas exportações
Inv. Carteira 1,1 2,9 0,5 0,3 0,7 10,0 e de 11,6% nas importações, que deverão situar-se,
Outros Investimentos 1,9 8,3 58,7 7,5 12,2 52,5 na ordem, em US$247,0 bilhões e US$207,0 bilhões,
dos quais: ativos de bancos -2,5 0,5 0,4 2,9 3,8 -4,8 reduções de US$3,0 bilhões e US$5,0 bilhões,
Investim. passivos 8,6 24,9 86,6 12,5 25,8 123,2 respectivamente, em relação à projeção anterior.
IDP 4,7 13,1 88,3 8,4 14,3 90,0
A revisão da balança comercial de bens reflete a
3/
0,1 4,2 -5,6 -1,5 2,0 5,0
Ações totais
redução na projeção de crescimento econômico
Títulos no país 0,5 6,4 -4,3 6,0 9,1 10,0
4/
doméstico, bem como os efeitos da tragédia de
Emprést. e tít. LP -1,3 -1,5 -7,4 -1,1 -3,9 -0,8
Brumadinho sobre as exportações de minério
Emprést. e tít. CP 3,4 -0,4 5,9 0,5 1,8 -
de ferro e da expectativa de safra de soja menor
Crédito Comercial e outros 1,3 3,2 9,7 0,2 2,5 19,0
neste ano. Cabe destacar que, excluídos os efeitos
Derivativos 0,4 0,6 2,8 0,2 -0,3 -
Ativos de reserva 3,3 4,0 2,9 2,0 2,8 20,3
estimados às aquisições e vendas de plataformas
Erros e omissões -0,0 1,5 6,3 0,5 1,3 -
de petróleo no âmbito do Repetro, as exportações
e as importações cresceriam, na ordem, 5,3% e
Memo:
8,9% – observe-se que há, ainda, elevada incerteza
Transações corr./PIB (%) -1,4 -0,8 -1,6
envolvendo as estimativas desses valores.
IDP / PIB (%) 3,2 4,7 4,8
Taxa de rolagem (%) 67,7 78,1 92,9 49,1 65,4 100,0
O deficit da conta de serviços está projetado em
1/ Projeção. US$36,4 bilhões – US$2,0 bilhões abaixo do previsto
2/ Inclui investimentos diretos, investimentos em carteira e outros investimentos.
no Relatório de Inflação anterior –, equivalendo a
3/ Inclui ações negociadas em bolsas brasileiras e no exterior.
4/ Inclui créditos de organismos, agências e compradores. crescimento de 7,1% relativamente a 2018. A revisão
* Dados preliminares. deveu-se ao ajuste na conta de viagens, influenciada
pela evolução da taxa de câmbio e atualização das
Os pagamentos líquidos de juros estão projetados em US$17,0 bilhões, ligeiramente abaixo da projeção
anterior (US$17,7 bilhões), considerando o cronograma mais recente de endividamento externo. As projeções
para as remessas líquidas de lucros e ingressos líquidos de rendas secundárias foram mantidas em US$20,5
bilhões e US$2,7 bilhões, respectivamente.
A projeção para os ingressos líquidos de Investimentos Diretos no País (IDP) segue em US$90,0 bilhões
(4,8% do PIB), ante US$88,3 bilhões registrados em 2018. Descontando-se os efeitos com as operações de
plataformas de petróleo no âmbito do Repetro, o indicador atingiria 4,1% do PIB ao final de 2019, superando
confortavelmente a necessidade de financiamento previsto para transações correntes. A projeção para os
Investimentos Diretos no Exterior (IDE) foi ampliada, de US$7,0 bilhões para US$10,0 bilhões, considerando
a evolução dos fluxos recentes.
A projeção de ativos de investimentos em carteira não sofreu revisão, situando-se em US$10,0 bilhões. No
âmbito dos passivos de investimentos em carteira, os ingressos líquidos em ações e fundos de investimento
até fevereiro têm se comportado em linha com a recuperação gradual das expectativas em relação à economia
brasileira, sendo mantida a projeção em US$5,0 bilhões. A projeção para os fluxos líquidos de títulos no país
passou para US$10,0 bilhões, em linha com os significativos ingressos observados no início do ano.
As taxas de rolagem, calculadas sobre as operações de longo prazo em empréstimos e títulos negociados
no mercado internacional, foram mantidas em 100%.
Ao longo das últimas duas décadas, houve aumento da participação dos países emergentes na economia
global, com impactos significativos nas relações comerciais entre os países. Em especial, observou-se queda
na participação dos produtos manufaturados no comércio internacional ao longo da primeira década dos
anos 2000. O Brasil seguiu a tendência mundial, registrando recuo de participação de manufaturados
nas exportações, porém de forma mais intensa do que a verificada em termos globais. Este boxe tem
como objetivo avaliar a evolução da pauta exportadora brasileira nos últimos 10 anos e seus possíveis
determinantes.
A queda da participação dos manufaturados nas exportações, depois de 2008, não foi um fenômeno restrito
ao Brasil. Segundo dados do Banco Mundial3, a participação dos manufaturados no total das exportações
mundiais atingiu o pico de 78% em 1998 e depois apresentou trajetória descendente até 2011, ano em que
registrou valor mínimo da série, 66%. Os dados brasileiros indicam comportamento semelhante ao observado
no resto do mundo, apresentando, contudo, movimentos mais pronunciados. Entre 1998 e 2011, a queda
na participação dos manufaturados brasileiros no total das vendas externas atingiu 22 p.p. (ante 12 p.p.
no caso mundial). Entretanto, a reversão da trajetória de perda de participação desses bens no fluxo das
exportações mundiais, observada a partir de 2012, ainda não se materializou no caso brasileiro (Gráfico 2).
1/ As desagregações dos produtos que compõem a pauta exportadora do Brasil seguiram o padrão de Fator Agregado, elaborado
pelo Setor de Nomenclatura da área de estatística da antiga Carteira de Comércio Exterior (Cacex), do Banco do Brasil, órgão
responsável à época pela administração do comércio exterior brasileiro.
2/ Todos os dados utilizados neste boxe excluem os valores referentes às exportações de plataformas de petróleo e às operações
especiais.
3/ Dados do Banco Mundial obtidos no World Integrated Trade Solution, disponível em: https://wits.worldbank.org/.
Alguns fatores podem explicar esse descolamento do Brasil em relação ao resto do mundo. Entre eles,
merecem destaque: i) o forte crescimento da China e sua crescente demanda por produtos básicos brasileiros4;
ii) o baixo crescimento econômico de importantes mercados consumidores de produtos manufaturados
brasileiros; e iii) a redução da fatia de mercado dos manufaturados brasileiros.
No intuito de inferir sobre os impactos de cada um desses fatores, criaram-se quatro possíveis cenários
contrafactuais. Para cada um deles, simula-se a correspondente trajetória da participação de manufaturados
na pauta de exportação brasileira, buscando ilustrar o que poderia ter ocorrido caso os fatores em questão
não tivessem em operação. A Tabela 1 resume as características e a metodologia de cada cenário.
Tabela 1 – Descrição dos cenários
Cenário 3 – Perda Avaliação do efeito da redução da 1. A partir de 2008, manteve-se fixa a participação de 2007 do Brasil no total das
de participação de fatia de mercado dos produtos exportações mundiais de manufaturados;
mercado manufaturados a nível mundial 2. Calculou-se a nova composição da pauta exportadora brasileira.
4/ Em 2018, os produtos básicos representaram 88% do valor total exportado ao país asiático.
No sentido de identificar quais países teriam substituído os produtos manufaturados brasileiros, analisaram-
se dados disponibilizados pelo Banco Mundial (Tabela 2), para verificar países que tiveram movimento inverso
ao Brasil, ou seja, que elevaram sua participação nas exportações mundiais de manufaturados.
A China foi o país que mais ganhou participação no mercado global de produtos manufaturados no período,
passando de 11% em 2008 para 16% em 2017. Destaque-se que países com maiores similaridades com o
Brasil, como México e Índia, também ganharam espaço nas exportações mundiais desses produtos. Uma
possível explicação para essa discrepância seria o maior nível de inserção desses países nas correntes de
comércio internacionais. Segundo dados da Organização Mundial de Comércio (OMC)6, enquanto México
e Índia possuem, respectivamente, 13 e 9 tratados de livre comércio, o Brasil possui apenas 1. Também é
possível que a perda de espaço dos manufaturados na pauta de exportação reflita diferenças na evolução
de sua competitividade em relação aos demais produtos exportados.
5/ Quase metade do impacto da perda de participação de mercado se concentra em Estados Unidos, União Europeia e Argentina.
6/ Disponíveis em https://www.wto.org/english/tratop_e/region_e/rta_participation_map_e.htm
Cenário do Copom
1/
0,15 0,37 0,42 0,94 3,93 A apreciação do câmbio e a cotação mais baixa do
IPCA observado 0,15 0,32 0,43 0,90 3,89 petróleo no trimestre concorreram para o recuo dos
Surpresa 0,00 -0,05 0,01 -0,04 -0,04 preços dos combustíveis com maior intensidade do
Fontes: IBGE e BCB
que a prevista. No mesmo sentido, a alta sazonal do
1/ Cenário na data de corte do Relatório de Inflação de dezembro de 2018. grupo educação foi aquém da esperada, assim como
o retorno dos preços de produtos de higiene pessoal,
após a forte queda em novembro, então associada
a descontos promocionais. Esses fatores foram
parcialmente compensados pela maior pressão nos
preços de alimentação no domicílio, destacando-se
a expressiva alta no preço do feijão, repercutindo
adversidades climáticas, e pela menor queda na tarifa
de energia elétrica, refletindo componente irregular
de Programa de Integração Social (PIS)/ Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
Tabela 2.2 – IPCA – Projeções de curto prazo As projeções de curto prazo no cenário básico do
Variação % Copom consideram variações de 0,55%, 0,48% e
2019 0,41% para o IPCA nos meses de março, abril e maio,
Mar Abr Mai No trim.
12 meses respectivamente (Tabela 2.2). Caso se concretize, a
até mai
alta de 1,45% no trimestre ficará acima da variação
1/
Cenário do Copom 0,55 0,48 0,41 1,45 4,65 atipicamente baixa observada no mesmo período
Fontes: IBGE e BCB de 2018 (0,71%), implicando elevação da inflação
1/ Cenário na data de corte. acumulada em doze meses, de 3,89% em fevereiro
de 2019 para 4,65% em maio.
27/ O cenário de bandeiras incorpora alterações propostas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na audiência pública
008/2019: aumento nos valores adicionais e mudança nos critérios de acionamento.
28/ Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis
encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.
29/ Como descrito no boxe “Modelo agregado de pequeno porte – 2017” (Relatório de Inflação de junho de 2017), a trajetória da taxa
do swap pré-DI de 360 dias depende da trajetória da taxa Selic usada como condicionante para o mesmo período e da trajetória do
prêmio (diferença entre a taxa do swap e a taxa esperada para a Selic). Portanto, a taxa do swap ao longo de 2021 depende também
da trajetória da Selic ao longo de 2022.
0
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
A projeção central associada ao cenário que
2018 2019 2020 2021 combina taxas Selic e de câmbio constantes por
Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%). todo o horizonte de projeção indica que a inflação
acumulada em quatro trimestres, após fechar 2018
Tabela 2.4 – Projeção de inflação no cenário com Selic em 3,75%, eleva-se para cerca de 4,4% no primeiro
e câmbio constantes
trimestre de 2019, cai nos dois trimestres seguintes
Projeção central e intervalos de probabilidade
e termina o ano ao redor de 4,1% (Tabela 2.3, Gráfico
2.3 e Tabela 2.4). Nessa trajetória, a inflação cai para
50%
4,0% em 2020 e sobe para 4,1% em 2021. Nesse
30%
Ano Trim.
10%
cenário, as projeções para a inflação de preços
Central
administrados são de cerca de 5,4% para 2019, de
4,8% para 2020 e de 4,5% para 2021.
2019 I 4,3 4,3 4,4 4,4 4,4 4,5 4,5
2019 II 3,4 3,6 3,7 3,8 3,9 4,0 4,2
Nesse cenário, as probabilidades estimadas de a
2019 III 3,1 3,4 3,6 3,7 3,8 4,0 4,3
inflação ultrapassar os limites superior e inferior do
2019 IV 3,3 3,7 4,0 4,1 4,2 4,5 4,9
intervalo de tolerância da meta em 2019 situam-se ao
2020 I 3,1 3,5 3,8 4,0 4,2 4,5 4,9
redor de 8% e 12%, respectivamente. Para 2020, as
2020 II 3,0 3,4 3,7 3,9 4,1 4,4 4,8
2020 III 3,1 3,5 3,8 4,0 4,2 4,5 4,9
probabilidades são iguais para ambos os limites, em
2020 IV 3,1 3,5 3,8 4,0 4,2 4,5 4,9
torno de 14%. Para 2021, as probabilidades são de
2021 I 3,2 3,6 3,9 4,1 4,3 4,6 5,0 21% para o limite superior e 9% para o limite inferior.
2021 II 3,2 3,6 3,9 4,1 4,3 4,6 5,0
2021 III 3,2 3,6 3,9 4,1 4,3 4,6 5,0 Na comparação com o Relatório de Inflação de
2021 IV 3,2 3,6 3,9 4,1 4,3 4,6 5,0 dezembro de 2018 (Tabela 2.5), as projeções para
Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).
2019 no cenário com Selic e câmbio constantes se
Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%). No cenário com taxas Selic e de câmbio da pesquisa
Focus, a projeção central indica que a inflação
Tabela 2.6 – Projeção de inflação no cenário com Selic e acumulada em quatro trimestres, depois de subir
câmbio da pesquisa Focus
para 4,4% no primeiro trimestre de 2019, finaliza o
Projeção central e intervalos de probabilidade
ano em torno de 3,9%, terminando 2020 e 2021 em
3,8% e 3,9%, respectivamente (Gráfico 2.4 e Tabela
50%
2.6). Nesse cenário, as projeções para a inflação de
30%
Ano Trim. preços administrados são de cerca de 5,1% para 2019,
10%
Central
de 4,7% para 2020 e de 4,6% para 2021.
2019 I 4,3 4,3 4,4 4,4 4,4 4,5 4,5 As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021
2019 II 3,3 3,5 3,6 3,7 3,8 3,9 4,1 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno
2019 III 2,9 3,2 3,4 3,5 3,6 3,8 4,1 de 3,9%, 4,0% e 3,75%, respectivamente.
2019 IV 3,1 3,5 3,8 3,9 4,0 4,3 4,7
2020 I 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6
O Comitê avalia que as diversas medidas de inflação
2020 II 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7
subjacente se encontram em níveis apropriados
2020 III 3,0 3,4 3,7 3,9 4,1 4,4 4,8
ou confortáveis, inclusive os componentes
2020 IV 3,1 3,5 3,8 4,0 4,2 4,5 4,9
mais sensíveis ao ciclo econômico e à política
2021 I 3,2 3,6 3,9 4,1 4,3 4,6 5,0
monetária.
2021 II 3,3 3,7 4,0 4,2 4,4 4,7 5,1
2021 III 3,3 3,7 4,0 4,2 4,4 4,7 5,1
2021 IV 3,4 3,8 4,1 4,3 4,5 4,8 5,2
Em sua reunião mais recente (221ª reunião), o Copom
decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa
Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).
básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que
essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de
riscos para a inflação prospectiva e é compatível com
a convergência da inflação para a meta no horizonte
relevante para a condução da política monetária,
que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso
gradualmente crescente, de 2020.
Este boxe apresenta estimativa de decomposição do desvio da taxa de inflação de 2018, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em relação à meta estabelecida pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN).1 O objetivo é mapear os principais fatores determinantes da inflação a partir de modelos
semiestruturais do Banco Central do Brasil (BCB).
Para a estimativa dos componentes, parte-se de um cenário no qual todos os condicionantes são neutros, isto
é, não apresentam impactos que levem a inflação a desviar-se da meta. À medida que esses condicionantes
neutros são substituídos pelos valores efetivamente observados, obtém-se a contribuição de cada fator
para o desvio da taxa de inflação em relação à meta.
O desvio da inflação em relação à meta é decomposto em cinco componentes: (i) inércia do ano anterior
(desvio da inflação do ano anterior em relação à meta); (ii) expectativas (diferença entre expectativas de
inflação dos agentes e a meta para a inflação); (iii) inflação importada (diferença em relação à meta)3; (iv)
choques de oferta; e (v) demais fatores (obtidos por resíduo). Vale ressaltar que essas estimativas são
Gráfico 1 – Inflação do IPCA: total, administrados e aproximações construídas com base em modelos e,
livres portanto, estão sujeitas às incertezas inerentes ao
(acumulada em doze meses)
% processo de modelagem e estimação.
14,0
12,0
A inflação em 2018 foi de 3,75%, 0,80 ponto
10,0
percentual (p.p.) superior à verificada em 2017,
8,0
de 2,95% (Gráfico 1 e Tabela 1). A inflação de
6,0
4,0
preços livres se elevou de 1,35% em 2017 para
2,0
2,91% em 2018, ao passo que a inflação de preços
0,0
administrados diminuiu de 7,99% para 6,18%. A
Jan Mar Mai
2017
Jul Set Nov Jan Mar Mai
2018
Jul Set Nov Jan
2019
inflação de 2018 situou-se 0,75 p.p. abaixo da meta
IPCA Administrados Livres para a inflação de 4,5%, estabelecida pelo CMN.
1/ A decomposição da inflação baseada em modelos de projeção tem sido apresentada anualmente nos Relatórios de Inflação. Ver, por
exemplo, boxe “Decomposição da Inflação de 2017”, do Relatório de Inflação de março de 2018. Para detalhes sobre procedimentos
metodológicos, ver boxe “Decomposição da Inflação de 2017”, do Relatório de Inflação de março de 2018 e Cusinato et. al (2016).
2/ Ver, por exemplo, o boxe “Modelo agregado de pequeno porte – 2017”, do Relatório de Inflação de junho de 2017.
3/ As contribuições dos preços externos foram construídas assumindo-se desvios em relação a 2,0% a.a. para a variação do preço
de commodities em US$, coerente com a inflação externa de longo prazo no mesmo patamar, e 2,5% a.a. para a taxa de câmbio,
consistente com condições de longo prazo de modelagem da curva de Phillips para os preços livres.
0,0
-0,32 -0,06
-0,46
-0,75 -0,84
-1,5
Inflação Inércia Expectativas Inflação Choque Demais
IPCA ano anterior (desvio da Importada Oferta Fatores*
(desvio da (desvio da meta) (desvio da
meta) meta) meta)
* Contribuição da inflação do IPCA como desvio da meta depois de excluídos os
seguintes fatores: inércia associada à parcela da inflação do ano anterior que se
desviou da meta; expectativas como desvio da meta; inflação importada como
desvio da meta; e choque de oferta.
i. A inércia advinda do ano anterior (como desvio da meta) contribuiu para a inflação ficar abaixo da meta
(contribuição de -0,46 p.p.) em função dos baixos níveis de inflação observados ao longo de 2017;
ii. As expectativas de inflação (como desvio da meta) também contribuíram para a inflação ficar abaixo
da meta (contribuição de -0,32 p.p). Ao longo de 2018, as expectativas para a inflação doze meses à frente
(suavizada) da pesquisa Focus (Gráfico 3), apesar de apresentarem flutuação, situaram-se abaixo da meta em
todo o período considerado. No mesmo sentido, as expectativas de inflação para 2018 também apresentaram
flutuação, mas oscilaram no intervalo entre 3,4% e 4,4%;
4,75
4,50
4,25
4,00
3,75
3,50
Jan Mai Set Jan Mai Set Jan
2017 2018 2019
iii. Em sentido contrário, a inflação importada (como desvio da meta) apresentou contribuição positiva para o
desvio da inflação em relação à meta (contribuição de 0,94 p.p.). O fator responsável foi a depreciação cambial
observada nos segundo e terceiro trimestres de 2018 (Gráfico 4), refletindo principalmente o processo de
normalização da política monetária nos Estados Unidos e incertezas domésticas. Considerando o ano por
completo, a variação cambial (como desvio para o valor de 2,5%) contribuiu com 1,01 p.p. para o desvio da
inflação em relação à meta. Por outro lado, a variação dos preços das commodities (como desvio para o valor
R$/US$
4,20
4,00
3,80
3,60
3,40
3,20
3,00
Jan Mai Set Jan Mai Set Jan
2017 2018 2019
iv. Os choques de oferta oscilaram ao longo do ano e apresentaram uma contribuição ligeiramente negativa
para o desvio da inflação em relação à meta no acumulado do ano (contribuição de -0,06 p.p.), não exercendo
assim papel relevante na decomposição de 2018. Esse resultado é consistente com inflação de preços de
alimentos em linha com a meta. Após registrar em 2017 a maior deflação da série histórica (-4,86%), a inflação
dos preços de alimentação no domicílio encerrou 2018 em 4,52% (Gráfico 5).5 Em termos de dinâmica ao
longo do ano, ressalta-se o choque no segundo trimestre, decorrente da paralisação do setor de transportes.
Gráfico 5 – Inflação de alimentação no domicílio e
IPCA
(acumulada em doze meses)
%
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
-2,0
-4,0
-6,0
Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov
2017 2018
IPCA Alimentação no domicílio
Em suma, este boxe apresentou estimativas da decomposição do desvio da taxa de inflação em 2018 em
relação à meta. De acordo com essa decomposição, dentre os fatores que explicaram o desvio negativo da
inflação para a meta, destacam-se a inércia da inflação do ano anterior e as expectativas de inflação. Em
sentido contrário, atuou a inflação importada. Por fim, choques de oferta tiveram impacto negligenciável,
diferentemente de 2017, quando haviam sido o principal fator desinflacionário.
Referência
CUSINATO, R. T., FIGUEIREDO, F. M. R., MACHADO, V. G., MELLO, E. P. G. e PEREZ, L. P. (2016). “Decomposição
de Inflação: revisão da metodologia e resultados para 2012 a 2014”, Banco Central do Brasil, Trabalhos para
Discussão nº 440.
4/ Embora a cotação do petróleo não entre diretamente na curva de Phillips de preços livres, essa é uma variável importante nos
modelos de preços administrados.
5/ Cabe observar que, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apesar da produção agrícola de grãos
da safra de 2017/2018 (227,8 milhões de toneladas) ter sido menor do que a do período anterior (variando -4,1%), ela representou
a segunda maior safra da série histórica.
Este boxe apresenta as modificações pelas quais passou o modelo estrutural de médio porte, Samba1, desde
a publicação de sua última revisão.2 O Samba faz parte do conjunto de modelos utilizados na construção
de cenários e projeções que subsidiam o processo decisório do Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central do Brasil (BCB).
O boxe aborda, primeiramente, as mudanças na estrutura do modelo, nos tratamentos das variáveis
observadas e na estimação. Ao longo do boxe, serão apresentados alguns exercícios com essa nova versão
do modelo, buscando, em grande medida, motivar as alterações realizadas. São mostradas as funções de
resposta ao impulso do Samba, comparando os resultados com a versão de 2015, e a decomposição histórica
da inflação e do produto com base nos choques estruturais simulados pelo modelo. Além disso, o boxe
motiva as alterações realizadas nas equações de mensuração de observáveis com dois exercícios: primeiro,
com uma análise da volatilidade de projeções de inflação e produto; segundo, por meio de um exemplo
específico observado na publicação de informações oficiais, calculam-se os efeitos sobre as projeções da
mudança nas equações de observação.
Alterações no modelo
O modelo sofreu alterações significativas, tanto no tratamento das variáveis observadas e parâmetros
estimados, como em suas equações. Em termos de tratamento das variáveis observadas e de estimação, as
modificações foram as seguintes:
1) Os componentes da demanda doméstica – consumo das famílias, investimento e consumo do governo – são
observados ainda em termos de taxa de crescimento. Entretanto, em vez de se subtrair a média amostral
do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) das observações para construção do hiato, subtrai-se uma
tendência linear comum, estimada a partir da série do PIB;
2) O tratamento dado à série de preços de importados foi alterado. Anteriormente, sua tendência era obtida
a partir de uma regressão linear. Atualmente, utiliza-se a extraída pelo filtro Hodrick-Prescott (HP). O hiato
é formado a partir da diferença entre a série observada e a tendência;
3) Os parâmetros do modelo foram reestimados com dados atualizados até o terceiro trimestre de 2018.
Destaca-se que o parâmetro que descreve o inverso da elasticidade de Frisch passou a ser estimado com
uma distribuição a priori normal, com média e variância mais elevadas.3 O resultado é um parâmetro final
de magnitude mais elevada em relação ao valor calibrado inicialmente em Castro et al. (2011).
1) A equação da lei de movimento da meta de inflação foi alterada para permitir um choque antecipado em
seis trimestres, conforme a equação abaixo, onde é a meta de inflação para o período “t” e são
choques exógenos ocorridos em “t” que desviam a meta do estado estacionário. Anteriormente o choque
utilizado seguia um processo autorregressivo AR(1) tradicional. Esta nova formulação é consistente com o
anúncio da meta um ano e meio antes de sua vigência, o que está em linha com o período de antecedência
observado na maior parte do período do regime de metas.
3) O setor referente ao resto do mundo do Samba foi reestruturado, passando de processos AR(1) individuais
para um vetor autorregressivo (VAR) com cinco variáveis e duas defasagens. Sua estimação foi feita utilizando-
se métodos bayesianos com choques identificados pela imposição de restrição de sinais sobre as funções
de respostas ao impulso. As variáveis observadas na estimação foram: Fed funds rate, hiato do PIB mundial
(mesma série utilizada nos modelos semiestruturais5), inflação de preços ao consumidor dos Estados Unidos
(Consumer Price Index – CPI), índice de volatilidade da Cboe (Chicago Board Options Exchange Volatility Index
– VIX) e o Índice de Commodities – Brasil (IC-Br) em dólares. Identificam-se quatro choques no sistema: de
política monetária, de oferta, de demanda e choque financeiro (neste último caso, a restrição consiste em
associar aumentos do VIX a quedas no hiato do produto mundial).
5) A indexação da inflação de administrados era baseada na inflação acumulada nos quatro trimestres
anteriores e agora baseia-se apenas no trimestre imediatamente anterior.
6) A indexação da variação de salários nominais era baseada na variação do trimestre imediatamente anterior
e agora baseia-se na variação média dos quatro trimestres anteriores.
4/ Minella e Souza Sobrinho (2013) estimam elasticidade-renda de curto prazo de 1,98 em um modelo semiestrutural. Morais e
Portugal (2005) e Gouvêa e Schettini (2015), ambos com modelos de Markov-Switching, encontram elasticidade-renda de curto
prazo significativamente maior do que um.
5/ Ver, por exemplo, o boxe “Modelo de preços desagregados de pequeno porte – 2018”, publicado no Relatório de Inflação de Junho
de 2018.
8) O processo que caracteriza o choque de política monetária, que anteriormente era definido como um
ruído branco, é descrito agora como um MA(1).
Propriedades do modelo
Nesta seção são explorados dois tópicos: (i) as funções de resposta ao impulso do Samba, em comparação
com a versão do m odelo de 2015, e (ii) a decomposição histórica da inflação e do produto, de acordo com
os choques estruturais do modelo.
O primeiro exercício considera um choque de política monetária equivalente a 1 ponto percentual (p.p.)
em termos anualizados, com a trajetória de juros seguindo uma regra de Taylor nos períodos seguintes. Os
Gráficos 1 e 2 exibem as trajetórias da inflação acumulada em quatro trimestres e do produto simuladas a
partir da mediana dos parâmetros estimados (linha contínua), bem como intervalos de confiança para os
mesmos baseados na incerteza a respeito dos valores estimados para os parâmetros do modelo.6 A nova
estimação do Samba sugere maior impacto da política monetária sobre atividade e preços. Especialmente
sobre preços, destaca-se também que o efeito máximo da política monetária é atingido quatro trimestres
após o choque, contra um efeito de cinco a seis trimestres estimado na versão anterior do modelo.
O segundo exercício considera um choque de 1 ponto percentual (p.p.) no câmbio real no primeiro
período, com as demais variáveis seguindo as respostas endógenas do modelo. Os Gráficos 3 e 4 exibem,
respectivamente, as trajetórias da inflação acumulada em quatro trimestres e do produto nesse cenário. As
novas estimativas sugerem aumento no repasse do câmbio para os preços, além de caracterizar uma leve
expansão na economia no horizonte de um ano. Tanto na estimação antiga quanto na versão atual, em um
horizonte de longo prazo, depreciações não esperadas no câmbio real geram redução do nível de atividade,
em função do aumento dos custos marginais de produção das empresas, onde o bem intermediário importado
é componente importante de sua estrutura.
6/ Os intervalos de confiança de 68% foram calculados usando simulações a partir da distribuição a posteriori dos parâmetros estimados.
decomposições históricas para o período compreendido entre o primeiro trimestre de 2014 e o quarto
trimestre de 2021 (até onde atualmente existe meta para a inflação definida pelo Conselho Monetário
Nacional – CMN), iniciando o horizonte de projeções em 2019. As expectativas da pesquisa Focus para IPCA,
meta da taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), taxa de câmbio e crescimento do PIB7
foram utilizadas como condicionamentos no modelo até o final de 2021, com o objetivo de se extrair choques
consistentes com o cenário esperado pelos analistas de mercado. A decomposição da inflação, mostrada no
Gráfico 5, ressalta os efeitos negativos recentes de choques de demanda, contribuindo para que a variável
se encontre abaixo de seu valor de equilíbrio de longo prazo. Isso ocorre a despeito de surpresas negativas
vindas do lado da oferta, observadas principalmente ao redor da metade de 2018.
Também merece destaque o papel das definições dos últimos dois anos sobre a meta para a inflação. Por
hipótese, a decomposição histórica da inflação é realizada ao redor de um valor de 4,5%, correspondente
à meta para a inflação mais frequente desde a implementação do regime. A presença de expectativas de
inflação ancoradas nas metas estabelecidas para o período entre 2019 e 2021 – portanto, abaixo de 4,5% –
permite a construção de uma estimativa dos impactos dos anúncios das novas metas. A nova estrutura do
modelo, com choques antecipados sobre a mudança da meta para a inflação, caracteriza, inclusive, os efeitos
contemporâneos de eventos que ainda ocorrerão no futuro. Assim, o estabelecimento, no ano de 2017,
de metas menores para 2019 e 2020, em relação aos níveis estabelecidos para 2018, apresentou efeitos
desinflacionários sobre a inflação e redução dos juros nominais já em 2018. Esse efeito foi potencializado
para horizontes mais longos, com o anúncio, em 2018, da meta para 2021 em nível ainda mais baixo.
Especificamente sobre os juros nominais, entre 2019 e 2021, estima-se que o efeito médio das surpresas
com as reduções na meta de inflação anunciadas em 2818 e 2019 seja de uma queda de 0,4 p.p. em termos
anualizados.
Gráfico 5 – Decomposição histórica do IPCA
Variação em 4 trimestres (%)
7
6 Expectativas Focus
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
I III I III I III I III I III I III I III I III
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Meta de inflação Choques de demanda Choques de oferta
A introdução de choques exógenos ao modelo nas equações de observação tem por objetivo capturar
possíveis flutuações de alta frequência na construção das séries que não reflitam exatamente o momento
do ciclo econômico.9 Essas flutuações, ao não serem devidamente tratadas no modelo, poderiam provocar
dois efeitos indesejáveis: i) flutuações econômicas implausíveis decorrentes de possível interpretação pelo
modelo de que são choques estruturais; e, ii) amplificação desnecessária da volatilidade das projeções do
modelo. No primeiro caso, a literatura já reconhece a necessidade da inclusão de choques exógenos nas
equações de observação dos salários nominais, já que sua ausência resulta em flutuações significativas dos
mark-ups de salários e de um impacto no ciclo econômico muito acima do razoável.10 Esta seção do boxe traz
dois exercícios para caracterizar melhor o segundo efeito.
No primeiro exercício, são feitas projeções com o conjunto de informação de reuniões recentes do Copom,
utilizando-se o modelo reestimado. A comparação da volatilidade das projeções para inflação e produto
em relação à volatilidade das projeções efetivamente apresentadas nas reuniões do Copom mostra-se uma
medida aproximada da redução do grau de variabilidade das projeções obtida com a nova especificação.11
Os cálculos sugerem que a volatilidade das projeções é reduzida praticamente pela metade no horizonte
de três anos. A mesma redução é observada nas projeções de inflação dois anos à frente; os ganhos para
as projeções de PIB ficam na ordem de 30%. Nas projeções de curto prazo, a redução da volatilidade nas
projeções de PIB chega a 20%, enquanto a volatilidade das projeções de inflação apresenta pequeno aumento,
derivado, principalmente, de outras alterações no modelo de maior importância nessa dimensão, como a
menor indexação dos preços administrados.
Em um segundo exercício, faz-se uso de um caso real de distorção nas projeções do modelo resultantes de
um efeito meramente contábil e temporário nas estatísticas das Contas Nacionais. Em nota oficial de 30
de novembro de 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destaca que a contabilização
8/ Cabe ressaltar que os choques de produtividade citados já apareciam na decomposição histórica do PIB apresentada no boxe do
Relatório de Inflação de setembro de 2015, com a última atualização do modelo Samba.
9/ Tecnicamente, estes choques são conhecidos na literatura por “erros de mensuração” ou “erros de observação”. Note-se que esses
são termos técnicos, que não refletem nenhuma avaliação da qualidade das estatísticas em questão.
10/ Ver, por exemplo, Justiniano, Primiceri e Tambalotti (2011) e Galí, Smets e Wouters (2012).
11/ Como deve ser ressaltado, essa medida é apenas aproximada, já que as replicações das reuniões anteriores consideram todas as
alterações de estrutura listadas no início deste boxe, e não apenas a inclusão dos choques exógenos nas equações de observação.
Com a modificação da estrutura das equações de observação do modelo, pode-se simular14 a trajetória da
formação bruta de capital físico consistente com as demais informações incluídas, filtrando dos dados o
efeito exógeno do “choque” associado ao Repetro. O Gráfico 7 mostra a trajetória da formação bruta até o
final de 2018 de acordo com os dados do IBGE (linha sólida), a contribuição dos efeitos dos choques exógenos
(barras mais escuras) e a parte “explicada” pelo modelo (barras azuis). Como se pode observar, no terceiro
trimestre de 2018, houve um aumento significativo da contribuição dos erros de observação no modelo.
Gráfico 7 – Investimento
Variação trimestral contra trimestre anterior (%)
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
-8
-10
I III I III I III I III I III I III
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Investimento filtrado Erro de observação Investimento
Este exercício considera um cenário contrafactual, onde o efeito dos choques exógenos é tratado pelo
modelo Samba como acréscimo efetivo na formação bruta de capital fixo. Para isso, assume-se que toda a
variação do investimento decorrente do choque exógeno seria transformada, no modelo, em um choque
de tecnologia específico do investimento15, caso não fosse alterada a equação de observação. Com isso,
são simuladas as possíveis consequências sobre as projeções de investimento, produto e preços. Esse
procedimento é equivalente a calcular funções de resposta ao impulso do choque de investimento, para
uma variação inicial igual ao valor simulado do choque exógeno.
Como os Gráficos 8 e 9 mostram, os efeitos sobre as projeções de investimento e produto são quantitativamente
relevantes, com efeitos significativos até 12 trimestres após a ocorrência do choque. Os efeitos sobre os
preços são de pequena magnitude, como pode-se observar no Gráfico 10, mas estatisticamente significativos
em um horizonte de até dois anos.
Em resumo, buscando manter o nível de transparência que caracteriza as ações de política monetária,
esse boxe atualiza as informações sobre o modelo Samba do BCB. As mudanças implementadas buscam
aprimorar a capacidade preditiva e de análise do modelo em todas as suas dimensões, não se restringindo
12/ https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23251-pib-cresce-0-8-e-chega-
a-r-1-716-trilhao-no-3-tri-de-2018
13/ http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-11/indicador-de-investimentos-tem-crescimento-de-96-no-3o-trimestre
14/ De acordo com o IBGE, na comparação com o mesmo período de 2017, a formação bruta de capital fixo cresceu 7,8%, incluindo
informações sobre o Repetro. Excluindo-se este fator, o crescimento, na mesma base de comparação, seria de 2,7%. Estas estimativas
poderiam ser incorporadas no exercício mostrado aqui. Entretanto, preferiu-se mostrar aqui a capacidade do modelo em detectar
este tipo de variação de alta frequência nos dados.
15/ Na terminologia do modelo em Castro et al. (2011), o choque exógeno é simulado como uma variação no choque .
0,2 0,05
0,0 0,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mediana Banda inferior Banda superior Mediana Banda inferior Banda superior
* Na magnitude do erro de observação do terceiro trimestre de 2018. * Na magnitude do erro de observação do terceiro trimestre de 2018.
a um instrumento de projeção da inflação. Esse modelo faz parte do conjunto utilizado pelo Copom no seu
processo de decisão, e está em constante processo de revisão e aperfeiçoamento.
Referências
Castro, Marcos R. de, Gouvea, Solange N., Minella, André, Santos, Rafael, e Souza Sobrinho, Nelson F., 2011.
“SAMBA: Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach,” Trabalhos para discussão número 239,
Banco Central do Brasil.
Chetty, Raj, 2012. “Bounds on Elasticities with Optimization Frictions: A Synthesis of Micro and Macro
Evidence of the Labor Supply,” Econometrica, 80(3): 969-1018.
Galí, Jordi, Smets, Frank, e Wouters, Rafael, 2012. “Unemployment in an Estimated New Keynesian Model,”
NBER Macroeconomics Annual, University of Chicago Press, 26(1): 329-360.
Gouvêa, Raphael R., e Schettini, Bernardo P., 2015 “Empirical estimates for the Brazilian total imports
equation using quarterly national accounts data (1996–2010),” EconomiA, 16(2): 250-271.
Justiniano, Alejandro, Primiceri, Giorgio E. e Tambalotti, Andrea, 2013. “Is There a Trade-Off between
Inflation and Output Stabilization?,” American Economic Journal: Macroeconomics, American Economic
Association, 5(2):1-31.
Morais, Igor Alexandre C. de, e Portugal, Marcelo S., 2005. “A Markov Switching Model for the Brazilian
Demand for Imports: Analyzing the Import Substitution Process in Brazil,” Brazilian Review of Econometrics,
Sociedade Brasileira de Econometria - SBE, 25(2):173-219.
Smets, Frank e Wouters, Rafael, 2007. “Shocks and Frictions in US Business Cycles: A Bayesian DSGE Approach,”
American Economic Review, American Economic Association, 97(3): 586-606.
Diretoria Colegiada
Diretor
Tiago Couto Berriel
a.a. ao ano
ABLA Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis
ACR Conta Ambiente de Contratação
ACSP Associação Comercial de São Paulo
Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
Anfavea Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
ARMA Autorregressivo e de Médias Móveis
ATR Açúcar total recuperável
BCB Banco Central do Brasil
BCE Banco Central Europeu
BI Bens intermediários
BK Bens de capital
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Cacex Carteira de Comércio Exterior
Caged Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
CD Bens de consumo duráveis
CE Coeficiente de exportação
CMN Conselho Monetário Nacional
CND Bens de consumo não-duráveis
CNT Contas Nacionais Trimestrais
Cofins Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
Conab Companhia Nacional de Abastecimento
Conta-ACR Conta no Ambiente de Contratação Regulada
Copom Comitê de Política Monetária
DBGG Dívida Bruta do Governo Geral
Depec Departamento Econômico
Depep Departamento de Estudos e Pesquisas
Derin Departamento de Assuntos Internacionais
DLSP Dívida Líquida do Setor Público
DP Dupla ponderação
Dstat Departamento de Estatísticas
ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
EUA Estados Unidos da América
FBCF Formação Bruta de Capital Fixo
Fenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
FGV Fundação Getulio Vargas
Funcex Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
HICP Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado
HP Hodrick-Prescott
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC-Br Índice de Commodities – Brasil