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Rui Castro recebeu em 1985, 1989 e 1994 no Instituto Superior Técnico da Uni-
versidade Técnica de Lisboa os graus de Licenciado, Mestre e Doutor em Enge-
nharia Electrotécnica e de Computadores, respectivamente.
Rui Castro
rcastro@ist.utl.pt
http://energia.ist.utl.pt/ruicastro
Foto da capa: Central fotovoltaica de Serpa (11 MWp) inaugurada em Março de 2007.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 4
1.1. Aplicações de Média Potência 5
1.3. Custos 11
2. CÉLULA FOTOVOLTAICA 15
2.1. Estrutura Microscópica 15
3. MÓDULOS E PAINÉIS 38
5. REFERÊNCIAS 59
Introdução 4
1. INTRODUÇÃO
As células fotovoltaicas são constituídas por um material semicondutor – o silício
– ao qual são adicionadas substâncias, ditas dopantes, de modo a criar um meio
adequado ao estabelecimento do efeito fotovoltaico, isto é, conversão directa da
potência associada à radiação solar em potência eléctrica DC.
Hoje em dia, os sistemas fotovoltaicos são usados num conjunto vasto de aplica-
ções, de que se destacam:
- Relógios e calculadoras
1Wp significa Watt-pico – unidade que mede a potência de pico, potência máxima nas condições
de referência, isto é, radiação incidente igual a 1.000 W/m2 e temperatura da célula de 25 ºC (ver
Capítulo 2).
Introdução 5
Problema FV 1.
Admita que: 1) os painéis fotovoltaicos têm um rendimento médio de 10% e são colocados em Lis-
boa; 2) a radiação global média anual recebida em Lisboa é de 1.750 kWh/m2; 3) a energia anual-
mente recebida do sol nunca é menor do que 90% da que é recebida em ano médio; 4) o terreno
ocupado pelo conjunto das instalações é o dobro da área útil dos painéis.
Calcule: a) a área de terreno necessária para, usando painéis fotovoltaicos, fornecer toda a energia
eléctrica consumida em Portugal em 2006; b) a potência total a instalar em painéis fotovoltaicos.
Solução:
a) A = 634,92 km2
b) Pp = 31,75 GWp
Introdução 7
Problema FV 2.
Para fornecer água a uma aldeia é necessário elevar, diariamente, 20 m3 de água a 15 m. Pretende-
se estudar a solução fotovoltaica em dois locais: Évora e Sul do Egipto.
Sabe-se que: 1) o rendimento médio do sistema de elevação é 60%; 2) o rendimento médio da con-
versão fotovoltaica é 10%; 3) não há regularização com baterias; 4) as energias incidentes (máxima e
mínima) são:
Para cada um destes dois casos, calcule: a) a superfície dos painéis a instalar; b) a potência de pico
dos painéis.
Solução:
A AIE organiza os dados que publica de acordo com a seguinte classificação para
os sistemas fotovoltaicos:
Pode observar-se no Quadro 1 que nos países do IEA-PVPS a potência total insta-
lada em sistemas fotovoltaicos ascendia no final de 2007 a mais de 7.800 MWp.
As aplicações ligadas à rede têm vindo a ganhar cada vez mais importância, como
se pode verificar na Figura 1: no final de 2007 este tipo de aplicações representa-
va mais de 90% do total das instalações fotovoltaicas.
Figura 2 – Central fotovoltaica da Amareleja – vista geral (cortesia do Eng.º José Silva).
1.3. CUSTOS
O custo de investimento de sistemas fotovoltaicos é normalmente referido em cus-
to por watt de pico (€/Wp, por exemplo). O custo inclui tanto os módulos propria-
mente ditos, como os dispositivos de interface e regulação entre os colectores e a
carga ou a rede. Estes dispositivos2 são tipicamente a bateria, regulador de carga
e, eventualmente, inversor, no caso de sistemas isolados e apenas o inversor para
os sistemas ligados à rede. As estruturas de suporte dos módulos também se in-
cluem nos dispositivos de interface e regulação.
Figura 4 – Índice kWh/Wp (ha expresso em kh) em sistemas fotovoltaicos ligados à rede [Aguiar]
700
500
300
1200 1400 1600 1800
Utilização anual da potência instalada (h)
Figura 5 – Custo médio anual actualizado do MWh; a = 7%, n = 15 anos, dom = 1%It
2. CÉLULA FOTOVOLTAICA
2.1. ESTRUTURA MICROSCÓPICA
Um átomo de silício é formado por catorze protões e catorze electrões. Na camada
mais exterior, conhecida como banda de valência, existem quatro electrões.
Para que os electrões se possam deslocar têm de adquirir energia suficiente para
passarem da banda de valência para a banda de condução. Esta energia é desi-
gnada por hiato3 e no caso do cristal de silício vale 1,12 eV.
buraco4 o seu lugar, o qual se comporta como uma carga positiva. Neste caso, diz-
se que o fotão criou um par electrão-buraco.
Uma célula fotovoltaica constituída por cristais de silício puro não produziria
energia eléctrica. Os electrões passariam para a banda de condução mas acabari-
am por se recombinar com os buracos, não dando origem a qualquer corrente eléc-
trica.
Para haver corrente eléctrica é necessário que exista um campo eléctrico, isto é,
uma diferença de potencial entre duas zonas da célula. Através do processo co-
nhecido como dopagem do silício, que consiste na introdução de elementos estra-
nhos com o objectivo de alterar as suas propriedades eléctricas, é possível criar
duas camadas na célula: a camada tipo p e a camada tipo n, que possuem, respec-
tivamente, um excesso de cargas positivas e um excesso de cargas negativas, re-
lativamente ao silício puro.
O fósforo é o material usado para criar a região n. Um átomo de fósforo tem cinco
electrões na sua banda de valência, pelo que cria quatro ligações covalentes com
os átomos de silício e deixa um electrão livre, que viaja através do material. A ra-
zão entre átomos de fósforo e de silício é próxima de 1 para 1000.
4 Hole.
Célula Fotovoltaica 17
a) b)
a)
b)
IS
V Z
ID
⎛ mVV ⎞
ID = I0 ⎜ e T − 1⎟ equação 1
⎜ ⎟
⎝ ⎠
em que:
KT 5
• VT – designado por potencial térmico VT =
q
⎛ mVV ⎞
I = Is − ID = Is − I0 ⎜ e T − 1⎟ equação 2
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Curto-circuito exterior
Neste caso é:
V=0
ID = 0 equação 3
I = IS = Icc
Circuito aberto
Neste caso é:
I=0
⎛ I ⎞ equação 4
Vca = mVT ln⎜⎜1 + s ⎟⎟
⎝ I0 ⎠
A tensão em vazio Vca é o valor máximo da tensão aos terminais da célula, que
ocorre quando esta está em vazio. O seu valor é uma característica da célula,
sendo um dado fornecido pelo fabricante para determinadas condições de radia-
ção incidente e temperatura.
Célula Fotovoltaica 21
I
I0 = cc
Vca
equação 5
e mVT
−1
Pode verificar-se na Figura 10 que o modelo que considera o díodo ideal conduz a
uma aproximação dos resultados experimentais que se caracteriza por desvios re-
lativamente acentuados. Os resultados comparativos melhoram substancialmen-
te quando se considera o díodo real.
Célula Fotovoltaica 22
1,4
1,2
1,0
Corrente I (A)
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Tensão V (V)
• Temperatura, θr = 25 º C ⇔ T r = 298,16 K
⎡ ⎛ V
⎞⎤
⎜
P = VI = V ⎢Icc − I0 (e mVT
− 1) ⎟⎥ equação 6
⎢⎣ ⎜ ⎟⎥
⎝ ⎠⎦
⎛ V
V mVT
V
⎞
Icc + I0 ⎜1 − e mVT − e ⎟=0
⎜ mVT ⎟
⎝ ⎠
Icc equação 7
V +1
I0
e mVT
=
V
+1
mVT
I = Irmax e P = Pmax
r
.
A equação não-linear pode ser resolvida por um método iterativo simples, por
exemplo, o método de Gauss, cuja expressão de cálculo é:
⎛ Icc ⎞
⎜ +1 ⎟
( k +1) ⎜ I ⎟
Vmax = mVT ln⎜ 0 (k ) ⎟ equação 8
⎜ Vmax + 1⎟
⎜ mV ⎟
⎝ T ⎠
⎛ ⎞
(k ) (k )
Vmax (k ) Vmax
⎜ Vmax ⎟
Icc + I0 1 − e mVT
− e mVT
⎜ mVT ⎟
Vmax
( k +1) (k )
= Vmax − ⎝ ⎠ equação 9
(k )
Vmax
I0 ⎛ Vmax ⎞⎟
(k )
− ⎜
⎜ 2 + mV ⎟
mVT
e
mVT ⎝ T ⎠
A correspondente corrente é:
⎛ Vmax
⎞
Imax = Icc − I0 (e mVT − 1) ⎟
⎜ equação 10
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Célula Fotovoltaica 24
Os valores de Vca
r
, Ircc e Pmax
r
são característicos da célula, sendo dados fornecidos
r
Pmax
ηr = equação 11
AGr
Pmax
η= equação 12
AG
r
Pmax
FF = r r equação 13
VcaIcc
Na Figura 11 mostram-se as curvas I-V para duas células com factores de forma
diferentes. Pode observar-se a sensível redução na potência máxima verificada na
célula 2.
Figura 11 – Curvas I-V de duas células com factores de forma diferentes [CREST].
⎛ ⎞
r
V − Vca
r ⎜ r
⎟
I = Icc ⎜1 − e mVT ⎟⎟ equação 14
⎜
⎝ ⎠
⎛ Vca ⎞
r
r ⎜ mVTr ⎟
0 = Is − I0 ⎜ e
r
− 1⎟ equação 15
⎜ ⎟
⎝ ⎠
r
Vca V
9 mVTr mVTr
Considerando que e >> 1 e que e >> 1 .
Célula Fotovoltaica 26
⎛ Vmax ⎞
r
r ⎜ mVTr ⎟
Irmax = Is − I0 ⎜ e
r
− 1⎟ equação 17
⎜ ⎟
⎝ ⎠
r
Vmax − Vcar
m= equação 18
⎛ Ir ⎞
VTr ln⎜⎜1 − max ⎟⎟
⎝ Ircc ⎠
Ircc
Ir0 = r
Vca
equação 19
mVTr
e −1
O modelo de um díodo e três parâmetros (m, I0, IS) é completado com a equação
16.
10 Resolvendo a equação 12 em ordem a Ir0 , substituindo depois na equação 14, e tendo em conta a
r r
Vca Vmax
mVTr mVTr
equação 13 e que e >> 1 e que e >> 1 .
Célula Fotovoltaica 27
Figura 12 – Curva I-V de uma célula típica de silício cristalino; resultados experimentais;
condições de referência: θr = 25 ºC, Gr = 1000 W/m2; A = 0,01 m2 [CREST].
Exemplo FV1
Considere a célula fotovoltaica representada na Figura 12 que tem uma área de 100 cm2 e uma po-
tência de pico de 1,4 Wp. Através de ensaios experimentais, registaram-se os seguintes valores me-
didos nas condições de referência STC (os valores são típicos para o mesmo tipo de células):
• Corrente de curto circuito (Isc) Ircc = 3,15 A
Resolução:
a)
O rendimento máximo nas condições de referência e o factor de forma calculam-se então, respecti-
vamente, por:
1,4 1,4
ηr = = 14% ; FF = = 0 ,753
0 ,01 × 1000 0 ,59 × 3 ,15
b)
Os parâmetros característicos da célula fotovoltaica são constantes (m) ou calculados para as condi-
ções de referência (I0 e Icc).
Célula Fotovoltaica 28
m = 1,66 ; I 0r = 3 ,17 × 10 −6 A ; I S = I cc
r
= 3 ,15 A
c)
⎛ V
⎞
I = 3 ,15 − 3 ,17 × 10 −6 ⎜
× e 1,66 ×25 ,7 ×10 − 3
− 1⎟
⎜ ⎟
⎝ ⎠
P=VI
d)
3,15 ⎛ 3,15 ⎞
r
Vmax 1+ ⎜ 1+ ⎟
1,66 ×25,7 ×10 − 3 3,17 × 10 −6 −3 ⎜ 3,17 × 10 −6 ⎟
e = ⇔ Vmax = 1,66 × 25,7 × 10 × ln
r
r
Vmax ⎜ r
Vmax ⎟
1+ −3 ⎜1 + −3 ⎟
1,66 × 25,7 ×10 ⎝ 1,66 × 25,7 × 10 ⎠
r
A solução é Vmax = 0 ,48 V , a qual foi obtida usando o método de Gauss.
⎛ 0 ,48
⎞
I r
= 3 ,15 − 3 ,17 × 10 −6 ⎜
× e 1 ,66 ×25 ,7 ×10 − 3
− 1 ⎟ = 2 ,89 A
max
⎜ ⎟
⎝ ⎠
r
Pmax = Vmax
r
× I max
r
= 1,4 W
Estes resultados constituem uma boa aproximação dos valores obtidos por via experimental.
Célula Fotovoltaica 29
3,5
Icc Corrente I
3,0
Pmax
Imax
2,5
1,5
Potência P
1,0
0,5
Vmax Vca
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Tensão V (V)
Figura 13 – Curvas I-V e P-V da célula típica de silício cristalino; condições STC.
Figura 15 – Variação da curva I-V com a radiação incidente; resultados experimentais [CREST].
Para o efeito, nota-se que a corrente inversa de saturação pode ser escrita em
termos das características do material e da temperatura, através de:
ε
−
m ' VT
I0 = DT e
3
equação 20
11 Facilmente se pode verificar que o gráfico da Figura 15 tem um erro: onde está 750 W/m2 deve-
ria estar 700 W/m2.
Célula Fotovoltaica 31
em que:
• D – constante
m
• m’ – factor de idealidade equivalente m' = em que NSM é o número
NSM
• T – temperatura da célula em K
• VT – potencial térmico em V
3 ε ⎛⎜ 1 1 ⎞⎟
−
⎛ T ⎞ m' ⎜ V r VT ⎟⎠
I0 = I ⎜ r ⎟ e ⎝ T
r
0 equação 21
⎝T ⎠
G
Icc = Ircc equação 22
Gr
Exemplo FV2
Considere de novo a célula fotovoltaica do Exemplo FV1 com uma área de 100 cm2 e uma potência
de pico de 1,4 Wp.
Trace as curvas I-V parametrizadas em função de: a) temperatura da célula (25, 50 e 75 ºC), conside-
rando a radiação constante e igual à radiação de referência Gr = 1000 W/m2; b) radiação incidente
(1000, 700, 450, 300 e 100 W/m2), considerando a temperatura constante e igual à temperatura de
referência θr = 25 ºC.
Resolução:
a)
O potencial térmico varia com a temperatura e, nas hipóteses admitidas no desenvolvimento do mo-
delo de um díodo e três parâmetros, a corrente de saturação inversa varia com a temperatura e com
o potencial térmico. Admite-se que a corrente de curto-circuito é invariante com a temperatura.
VTr = 25 ,7 × 10 −3 V
KT
VT (T ) =
q
3 1,12 ⎛⎜ 1 1 ⎞
⎟
−
−6 ⎛ T ⎞ 1,66 ⎜ −3 V (T ) ⎟
I 0 (T ) = 3 ,17 × 10 ×⎜ ⎟ × e ⎝ 25 ,7 ×10 T ⎠
⎝ 298 ,16 ⎠
Para radiação constante e temperatura variável, a característica I-V traça-se pela curva:
⎛ V
⎞
I = 3 ,15 − I 0 (T ) × ⎜ e 1,66×VT ( T ) − 1 ⎟
⎜ ⎟
⎝ ⎠
b)
O potencial térmico e a corrente de saturação inversa são invariantes com a radiação, permanecendo
nos seus valores de referência.
G
I cc ( G ) = × 3 ,15
1000
⎛ V
⎞
I = I cc ( G ) − 3 ,17 × 10 −6 × ⎜ e 1,66 ×25 ,7 ×10 − 1 ⎟
−3
⎜ ⎟
⎝ ⎠
3,5
3,0
2,5
T = 25ºC
Corrente I (A)
2,0 T = 50ºC
1,5 T = 75ºC
1,0
0,5
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Tensão V (V)
Figura 16 – Curva I-V de uma célula típica de silício cristalino; variação com a temperatura; G = Gr .
3,5
G = 1000W/m2
3,0
2,5
G = 700W/m2
Corrente I (A)
2,0
1,5 G = 450W/m2
1,0 G = 300W/m2
0,5
G = 100W/m2
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Tensão V (V)
Figura 17 – Curva I-V de uma célula típica de silício cristalino; variação com a radiação incidente; T = T r .
Exemplo FV3
Retome o Exemplo FV2 e para cada uma das condições de temperatura e radiação estudadas, obte-
nha o respectivo valor da potência máxima.
Resolução:
A solução da equação:
⎛ 3,15 ⎞
⎜ 1+ ⎟
3,07 × 10 −5
V(k +1)
= 1,66x27,9 ×10 xln⎜
−3 ⎟
max
⎜ (k)
Vmax ⎟
⎜1 + −3 ⎟
⎝ 1,66 × 27,9 × 10 ⎠
é Vmax = 0,43 V, obtida com recurso ao método iterativo de Gauss (convergência obtida ao fim de 3
iterações com erro inferior a 0,0005 V e Vmax(0) = 0,48 V)
I cc ( 450 ) = 1,42 A
Os resultados obtidos para as condições pretendidas são apresentados na Figura 18 e na Figura 19,
respectivamente.
120%
100%
100%
87%
80%
74%
P/Pmax
61%
60%
40%
20%
0%
25 50 75 100
Temperatura T (ºC)
120%
100%
100%
80%
68%
P/Pmax
60%
42%
40%
27%
20%
8%
0%
1000 700 450 300 100
Radiação incidente G (W/m2)
O modelo simplificado não é, como o próprio nome indica, uma representação ri-
gorosa da célula fotovoltaica. Nas células “reais” observa-se uma queda de tensão
no circuito até aos contactos exteriores, a qual pode ser representada por uma re-
sistência série Rs. Do mesmo modo, também existem correntes de fuga, que po-
dem ser descritas por uma resistência paralelo, Rp. O circuito eléctrico equivalen-
te é o que se representa na Figura 20.
⎛ VmV
+ R sI
⎞ V +R I
I = Is − ID − Ip = Is − I0 e T − 1⎟ −
⎜ s
equação 23
⎜ ⎟ Rp
⎝ ⎠
Rs I
IS
Rp V Z
ID Ip
12 Thin films.
Módulos e Painéis 38
3. MÓDULOS E PAINÉIS
A potência máxima de uma única célula fotovoltaica não excede 2 W, o que é ma-
nifestamente insuficiente para a maioria das aplicações. Por este motivo, as célu-
las são agrupadas em série e em paralelo formando módulos.
M
1 2 NPM I
1 C11 C1N PM
M
V
Parâmetros constantes:
r
Vmax − Vcar
m= equação 24
⎛ Ir ⎞
VTr ln⎜⎜1 − max ⎟
⎝ Ircc ⎟⎠
Módulos e Painéis 39
G
Icc = Ircc equação 25
Gr
3 ε ⎛⎜ 1 1 ⎞
⎟
−
⎛T⎞ m ' ⎜ VTr V ⎟
I0 = Ir0 ⎜ r ⎟ e ⎝ T ⎠
equação 26
⎝T ⎠
⎛ mVV ⎞
I = Icc − I0 ⎜ e .T − 1⎟ equação 27
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Tensão máxima:
⎛ Icc ⎞
⎜ +1 ⎟
⎜ I0 ⎟
Vmax = mVT ln⎜ ⎟ equação 28
V
⎜⎜ 1 + max ⎟⎟
⎝ mVT ⎠
Corrente máxima:
⎛ VmV
max
⎞
Imax ⎜
= Icc − I0 e T − 1⎟ equação 29
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Potência máxima:
Os módulos podem também ser associados em série e paralelo para obter mais
potência, formando painéis13 (Figura 23).
13 Arrays.
Módulos e Painéis 41
Exemplo FV4
Considere um módulo fotovoltaico Shell SM100-12 de 100 Wp, cujo catálogo reporta as característi-
cas indicadas no Quadro 4.
Silício monocristalino
Potência de pico Pmax 100,3 W
Corrente máxima Imax 5,9 A
Tensão máxima Vmax 17,0 V
Corrente de curto-circuito Icc 6,5 A
Tensão de circuito aberto Vca 21,0 V
Temperatura normal de funcionamento NOCT 45 ºC
Coeficiente de temperatura de Icc µIcc 2,8E-03 A/ºK
Coeficiente de temperatura de Vca µVca -7,6E-02 V/ºK
Número de células em série NSM 36
Comprimento C 1,316 m
Largura L 0,660 m
Resolução:
a) e b)
O método de cálculo é em tudo idêntico ao seguido no Exemplo FV1, com a diferença de que agora
se trata de um módulo fotovoltaico de 100 Wp com área de 0,869 m2, em vez de uma única célula.
Exemplo FV5
Considere de novo o módulo fotovoltaico Shell SM100-12 de 100 Wp do Exemplo FV4. O catálogo do
fabricante indica a potência máxima, Pmax = 72,3 W, para “condições típicas de funcionamento”:
G = 800 W/m2; θc = 45 ºC.
Recorrendo ao modelo de um díodo e três parâmetros, calcule a potência máxima e o respectivo erro,
nas condições de radiação e temperatura referidas.
Módulos e Painéis 42
Resolução:
I cc ( 800 ) = 5 ,20 A
VT ( 318 ,16 ) = 27 ,4 × 10 −3 V
A solução da equação:
⎛ 5,20 ⎞
⎜ 1+ ⎟
1,32 ×10 −4
V(k +1)
= 65,28x27,4 x10 xln⎜
−3 ⎟
max
⎜ (k)
Vmax ⎟
⎜1 + ⎟
⎝ 65,28 × 27,4 × 10 −3 ⎠
é Vmax = 14,95 V, obtida com recurso ao método iterativo de Gauss (convergência ao fim de 3 itera-
ções com erro inferior a 0,025 V e Vmax(0) = 17 V)
O erro cometido é (69,43 – 72,3) / 72,3 = –4%, o que constitui uma boa indicação acerca da validade
do modelo.
Exemplo FV6
Para o módulo fotovoltaico Shell SM100-12 de 100 Wp do Exemplo FV4, trace a variação de Pmax
com: a) a radiação incidente (entre G = 0 W/m2 e G = 1000 W/m2), considerando a temperatura cons-
tante e igual à temperatura de referência θr = 25 ºC; b) a temperatura do módulo (entre θ = 0 ºC e
θ = 75 ºC), considerando a radiação constante e igual à radiação de referência Gr = 1000 W/m2.
Resolução:
O processo de cálculo é idêntico ao do Exemplo FV5, mas considerando variações separadas para a
radiação incidente e para a temperatura.
a)
Neste caso é VT = VTr = 25,7x10-3 V e I0 = I0r = 2,40x10-5 A; a corrente de curto-circuito varia linear-
mente com a radiação incidente.
A Figura 24 mostra os resultados obtidos por simulação para a variação da potência máxima com a
radiação incidente, usando o modelo de um díodo e três parâmetros.
Módulos e Painéis 43
b)
Neste caso é Icc = Iccr = 6,5 A e tanto o potencial térmico como a corrente saturação inversa variam
com a temperatura do módulo.
Usando o modelo de um díodo e três parâmetros obtiveram-se, para a variação da potência máxima
com a temperatura, os resultados da Figura 25.
100,30
100
78,47
80
Potência máxima (W)
57,15
60
40 36,50
16,89
20
0,00
0
0 200 400 600 800 1000
Radiação G (W/m2)
Figura 24 – Variação da potência máxima com a radiação incidente; θ = 25ºC; módulo Shell SM100-12.
125
114,48
100,30
100
86,34
Potência máxima (W)
72,68
75
50
25
0
0 25 50 75
Temperatura T (ºC)
Figura 25 – Variação da potência máxima com a temperatura; G = 1.000 W/m2; módulo Shell SM100-12.
Pode comprovar-se a acentuada diminuição da potência máxima quando a radiação solar incidente
baixa; a diminuição da potência máxima com o aumento da temperatura é menos acentuada.
Problema FV 3.
Silício monocristalino
Potência de pico Pmax 170 W
Corrente máxima Imax 4,72 A
Tensão máxima Vmax 36,0 V
Corrente de curto-circuito Icc 5,0 A
Tensão de circuito aberto Vca 44,2 V
Temperatura normal de funcionamento NOCT 47 ºC
Coeficiente de temperatura de Icc µIcc 3,3E-03 A/ºK
Coeficiente de temperatura de Vca µVca -1,6E-01 V/ºK
Número de células em série NSM 72
Comprimento C 1,580 m
Largura L 0,783 m
Das curvas I-V fornecidas pelo fabricante para diversas temperaturas, retiram-se os seguintes valores
para a variação da tensão de circuito aberto com a temperatura, com G = Gr = 1000 W/m2:
Usando o modelo de um díodo e três parâmetros, determine para o painel fotovoltaico: a) o rendimen-
to nas condições de referência e o factor de forma; b) o rendimento para a radiação incidente,
G = 250 W/m2, à temperatura de referência, θr = 25 ºC; c) o erro cometido no cálculo da tensão de
circuito aberto para a temperatura θ = 75 ºC, à radiação de referência Gr = 1000 W/m2 e a potência
de saída do módulo nestas condições.
Solução:
b) η = 12,30%
G T
não-lineares.
Aplicações Ligadas à Rede 46
Para o caso do modelo que tem vindo a ser apresentado, o cálculo da potência má-
xima pode ser efectuado a partir de uma expressão analítica relativamente sim-
ples, dispensando a resolução da equação não linear. Deve ter-se presente que as
grandezas referenciadas dizem respeito ao módulo.
G r
Imax = Imax equação 31
Gr
A tensão máxima, Vmax, pode ser determinada a partir da equação 17, tendo em
conta a dependência das correntes de curto-circuito e máxima com a radiação
(equação 22 e equação 31, respectivamente) e a variação da corrente inversa de
saturação com a temperatura (equação 21). A expressão obtida é:
⎡ ⎤
⎢ G Ir − Ir
⎢ Gr cc max
( ) ⎥
⎥
Vmax = mVT ln⎢ equação 32
3 ε ⎛⎜ 1 1 ⎞⎟ ⎥
⎢ r ⎛ T ⎞ m' ⎜⎝ VTr − VT ⎟⎠ ⎥
⎢I0 ⎜ T r ⎟ e ⎥
⎣ ⎝ ⎠ ⎦
⎡ ⎤
⎢ G Ir − Ir
⎢ Gr cc max
( ) ⎥
⎥⎛ G ⎞ r
Pmax = VmaxImax = mVT ln⎢ ⎛ ⎞ ⎥⎜ r ⎟Imax equação 33
3 ε ⎜ 1 1 ⎟ ⎝G ⎠
⎢ r ⎛ T ⎞ m' ⎝ VT VT ⎠ ⎥
⎜ r
−
⎟
⎢ I0 ⎜ T r ⎟ e ⎥
⎣ ⎝ ⎠ ⎦
O rendimento do inversor é:
PAC
ηinv = equação 34
VmaxImax
4.3.1. Radiação
0º 30º 60º
0º - 1800 kWh/m2/ano
246 30º - 1958 kWh/m2/ano
228 228 60º - 1749 kWh/m2/ano
220 222
213
207
202
Igm (kWh/m2/mês)
184 183
178 180
171
163 166
155 156 157
153 152 155
146
135
124 121
119 118
110 112
108
98 98
90
77
68
64
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
400
307,0
300,2
300
Radiação solar incidente G (W/m2)
273,9
262,9
217,2
209,6
200
177,2
135,5
111,9
100 87,8
77,0
63,6
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Lisboa
5000
4170
4000
Frequência de ocorrência (h)
3000
2000
1093
1000
598 568
484 523
322 332 275 235
159
0
0 0-100 100-200 200-300 300-400 400-500 500-600 600-700 700-800 800-900 900-1000
Radiação (W/m2)
4.3.2. Temperatura
G(NOCT − 20)
θc = θ a + equação 35
800
em que:
30
25,1 24,9
21,6 21,6
Temperatura ambiente (ºC)
20
16,3
15,1
12,5
11,7
10,3
10
8,2
7,6
6,7
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Exemplo FV7
A partir dos dados da radiação incidente (Figura 28) e da temperatura ambiente (Figura 30) em Lis-
boa, obtenha a temperatura média mensal atingida pelo módulo fotovoltaico Shell SM100-12 de
100 Wp, referido no Exemplo FV4.
Resolução:
A temperatura média atingida pelo módulo em Lisboa no mês de Janeiro, por exemplo, é:
77 ( 45 − 20 )
θ c = 6 ,7 + = 9 ,2 º C
800
Os valores obtidos para a temperatura média mensal do módulo estão representados na Figura 31.
40
34,7
33,4
31,0
30
28,2
19,2 19,4
20
17,2
13,0
11,7
9,2 9,6
10
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
n
E = ηinv ∑ Pmax (G, T )i ∆t i equação 36
i=1
em que:
Exemplo FV8
Considere de novo o módulo Shell SM100-12 do Exemplo FV4, instalado em Lisboa. Este módulo é
ligado à rede através de um conjunto MPPT+inversor com rendimento global de 90%.
Aplicações Ligadas à Rede 54
Calcule: a) a potência máxima média mensal e respectiva energia produzida; b) a energia produzida
anualmente e a respectiva utilização da potência de pico.
Resolução:
a)
177 ,2
I cc (177 ,2 ) = × 6 ,50 = 1,15 A
1000
3 1 ,12 ⎛⎜ 1 1 ⎞
⎟
⎛ 290 ,36 ⎞ 1,81 ⎜⎝ 25 ,7 ×10 − 3 − 25 ,0×10 −3 ⎟⎠
−5
I 0 ( 290 ,36 ) = 2 ,40 × 10 ⎜ ⎟ e = 1,16 × 10 −5 A
⎝ 298 ,16 ⎠
177 ,2
I max (177 ,2 ) = × 5 ,90 = 1,05 A
1000
⎡1,15 − 1,05 ⎤
Vmax = 65 ,28 × 25 ,0 × 10 − 3 × ln ⎢ −5 ⎥
= 14 ,91 V
⎣1,16 × 10 ⎦
e a energia produzida é:
Na Figura 32 reportam-se os valores obtidos para a potência média mensal à saída do módulo foto-
voltaico e para a correspondente energia entregue à rede (após inversão) pelo módulo fotovoltaico
em análise, colocado em Lisboa.
Aplicações Ligadas à Rede 55
30 18
25 15
15 9
10 6
5 3
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Pmax (W) 6,55 9,74 15,59 19,26 22,97 25,45 25,40 22,56 17,37 11,38 7,36 5,28
E (kWh) 4,387 5,890 10,438 12,483 15,383 16,495 17,009 15,108 11,258 7,623 4,768 3,536
Figura 32 – Potência média mensal e correspondente energia do módulo Shell SM100-12, colocado em Lisboa.
b)
Os resultados médios anuais obtidos estão sistematizados no Quadro 5. Naturalmente que a energia
produzida anualmente se obtém somando os dozes valores correspondentes à energia produzida
mensalmente e a utilização anual da potência de pico é o quociente entre a energia produzida anual-
mente e a potência de pico do módulo.
Em face da radiação incidente em Lisboa, verifica-se que a potência máxima média anual à saída do
módulo é igual a 16% da potência máxima nas condições de referência. O valor obtido para a utiliza-
ção anual da potência de pico (1.240 horas = 14%) é inferior aos resultados obtidos noutros estudos,
que reportam valores da ordem de 1.500 horas [Aguiar], mesmo considerando que o valor calculado
inclui o rendimento do inversor.
Gmed r
Pmax = Pmax equação 37
Gr
Ea = ηinv 8760Pmax
equação 38
Ea = ηinv 8760Gmed ηr A
Exemplo FV9
Determine uma estimativa rápida da energia produzida anualmente pelo módulo Shell SM100-12 do
Exemplo FV4, considerando que o mesmo se encontra instalado em Lisboa. Este módulo é ligado à
rede através de um conjunto MPPT+inversor com rendimento global de 90%.
Resolução:
ηr = 11,55 %
A = 0,869 m2
Uma estimativa rápida da energia produzida anualmente pode ser obtida através de:
O erro associado é 17,8% o que é particularmente inconveniente uma vez que é por excesso.
Problema FV 4.
O catálogo do painel fotovoltaico Shell SP150-P indica as seguintes características, paras as condi-
ções de referência:
Aplicações Ligadas à Rede 57
Silício monocristalino
Potência de pico Pmax 150 W
Corrente máxima Imax 4,41 A
Tensão máxima Vmax 34,0 V
Corrente de curto-circuito Icc 4,8 A
Tensão de circuito aberto Vca 43,4 V
Temperatura normal de funcionamento NOCT 45 ºC
Coeficiente de temperatura de Icc µIcc 2,0E-03 A/ºK
Coeficiente de temperatura de Vca µVca -1,5E-01 V/ºK
Número de células em série NSM 72
Comprimento C 1,622 m
Largura L 0,814 m
Considere que nos meses de Verão a temperatura do módulo é igual à sua temperatura normal de
operação e nos meses de Inverno é igual à temperatura das condições de referência. Use o modelo
de um díodo e três parâmetros, e tome para rendimento do conjunto MPPT+inversor o valor de 90%.
Solução:
a) E_Jul = 25,42 kWh; E_Dez = 7,10 kWh; h_Jul = 22,78%; h_Dez = 6,36%
O mesmo catálogo refere que: “The relative reduction of module efficiency at an irradiance of
200 W/m2 in relation to 1000 W/m2 both at 25°C cell temperature is 7%”.
O catálogo do fabricante indica ainda que o coeficiente de temperatura da tensão de circuito aberto é
µVca = –0,152V/ºC.
Aplicações Ligadas à Rede 58
Solução:
a) ηr = 12,30%
O mesmo catálogo indica também os seguintes valores para as condições normais de operação do
módulo (NOCT):
Use o modelo de um díodo e três parâmetros para calcular: a) os três parâmetros do modelo; b) para
as condições NOCT, o erro cometido no cálculo da potência e da tensão de circuito aberto; c) a rela-
ção entre o factor de forma nas condições NOCT e o factor de forma nas condições STC.
Solução:
c) relFF = 95,01%
Referências 59
5. REFERÊNCIAS
[Aguiar] Ricardo Aguiar, Susana Castro Viana, António Joyce, “Estimativas Instan-
tâneas do Desempenho de Sistemas Solares Fotovoltaicos para Portugal Con-
tinental”, XI Congresso Ibérico / VI Congresso IberoAmericano de Energia
Solar, Albufeira, Setembro 2002.
[BPSolar] BP Solar
http://www.bpsolar.com/
[CREST] United States Department of Energy, Center for Renewable Energy and Sus-
tainable Technology, Aurora educational web site
http://aurora.crest.org/
[ILSE] ILSE – The Interactive Learning System for Renewable Energy, Institute of
Electrical Power Engineering, Renewable Energy Section, Technical Univer-
sity of Berlin (TU-Berlin)
http://emsolar.ee.tu-berlin.de/~ilse/
[Risø] Anca D. Hansen, Poul Sorensen, Lars Hansen, Henrik Bindner, “Models for
Stand-Alone PV System”, Risø National Laboratory, December 2002.
[Stone] Jack L. Stone, “Photovoltaics: Unlimited Electrical Energy From the Sun”,
US Department of Energy
http://www.eren.doe.gov/pv/onlinelrn.html