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Le 'Sardanapale' entre au Louvre
L' Art Colonial à Marseille
Les disparos
La Saison d'art à Beauvois
L' Art aztêque precolombien
Pour le Salon d' Autumme
Le Courier de la Presse
La Curiosité.
lei. ..
... et d'ailleurs
Paroles. ,,5 5. KOIFMAN, Geotgina
- Ca110Sde MáriodeAn-
drade a Prudente de Mo-
Pois é esta a estratégia de Oswald de Andrade em sua "História raes, neto: 1924-1936.
Rio de Janeiro: Nova
do Brasil": defunção da obra como fIm transcendente e do artista Fronteira, 1985. p. 155-
como missionário; liberação de uma escritura que explora ao infInito 156.
a fragmentação de linguagens no espaço anti-canônico do arquivo. O
texto passa a funcionar como memória contra-discursiva que se do-
bra, desdobra, redobra no sistema vertical e vertiginoso dos espelhos,
linguagem que recusa, indefInidamente, a barreira, ao abrir, sem
Histórias do Brasil - 79
6. Cf. FOUCAULT, Mi- cessar, um espaço onde a linguagem é análoga a si mesma.6 Autêntica
chel Le langage à l'infi-
ni. Tel Que/, Paris, n. IS, irrisão de indicadores, a "História do Brasil" de Oswald afirma um
1963 e "La pensée du de- lugar atópico, que acolhe os textos passados num volume impossível,
hors", Critique, Paris, n.
229.jun. 1966. irrepresentável, abjeto, que vem, por sua vez, acrescentar seu sussur-
ro sotto voce na junção de tantos outros volumes, passados, futuros.
lci et d'ailleurs-paroles. É esse o trabalho de nomear o inominável,
de falar pintura. reverso radical do Itt pictllra poiesis.
Um texto sem voz, como a ""História do Brasil" , implica um
espaço sem dimensões, onde a linguagem, superposta a si própria,
desvenda uma abismalidade secreta:
história são fundamentalmente ambíguas: elas mostram tanto um carroça, o bonde e opoe-
paulatino processo de secularização, quanto a descoberta de uma ta tnodemista. In:-.
Que horas são? São Pau-
imortalidade potencial no homem moderno. É nessas dobras que a lo: Companhia das le-
História do Brasil ganha corpo. "A história, prolongando-se na dupla tras, 1987. p. 11-28.
infinitude do passado e do futuro, pode assegurar imortalidade SQbre
10. Entre o Manifesto da
a terra de maneira muito semelhante àquela em que a polis grega ou poesia pau brasil, publi-
a república romana haviam garantido que a vida e os feitos humanos, cadoetntllllIÇo,eospoe-
de História do Bra-
na medida em que desvelassem algo de essencial e grande, recebiam tnaS sil, de outubro, tetnos,
uma permanência estritamente humana e terrena neste mundo. A em junho de 1924, um
grande vantagem deste conceito foi o estabelecimento, pela dúplice sintomático texto de Ely-
sio de Carvalho, A expe-
infmitude do processo histórico, de um espaço-tempo em que a noção dição de Cabral e o des-
mesma de ftm é virtualmente inconcebível, ao passo que sua grande cobrimento do Brasil,
publicado pela América
desvantagem, em comparação com a teoria política da Antigüidade, Brasileira, onde se re-
parece ser o fato de a permanência ser conftada a um processo fluido, senha o livro de laytne
Cortesão dotnesmo títu-
em oposição a uma estrutura estável. .. 1i lo. Algo semelhante se
Dobra após dobra, o texto de História do Brasil vai construindo pode constatar nutRa ou-
revista vangwudista,
uma abismalização da Linguagem (e, conseqüentemente, dos valo- atia cubana Revista de
res) que não equivale a absenteísmo. É bem verdade que Oswald de Aval/ce. que reproduz
Andrade, como doublê de investigador/narrador histórico aparece urna conferência de José
M'ChacÓlly Calvosobre
diante de nós liberado de preconceitos e vínculos com identidades o documento e a recons-
herdadas (sociais, sexuais, nacionais). No entanto, não é menos certo trução histórica, Ctn seu
mÍtnero 31, de fevereiro
que a estratégia de montagem dos fragmentos não se confunde com de 1929. Nemsenlpteos
essa objetividade de eunuco de que falava Droysen. 12 Os textos própriOStnodemistaspo-
diatn separar a biblioteca
transcritos por Oswald conservam, de fato, momentos aleatórios e do atquivo, o pleonastno
isolados de um processo contínuo, pautado por intercâmbios de pres- da elipse.
tígio e poder muito precisos. Entretanto, esses textos, dobrados pelo
Histórias do Brasil - 83
11. ARENDT, Hannah. mútuo jogo de saber e pensar, não são os fatos eles próprios mas uma
Entre o passado e o futu-
ro. TrIlei. M. Barbosa de versão deles, uma reflexão sobre as possibilidades e impossibilidades
Almeida. São Paulo: da representação, desenvolvida de acordo com a estratégia da apro-
Perspectiva, p. 109.
priação. A lateralidade do procedimento nos mostra até que ponto
12. DROYSEN, Johann podemos conceber a literatura de Oswald de Andrade como uma
Gustav. Histórica: Lec- literatura que elabora a fratura por meio da própria fratura. É uma
ciones sobre la Encicla-
pedia y metodologia de
literatura da falta que se constrói mediante ausências reais ou imagi-
la Historia. Trad. E. Gat- nárias. Sintomático observador que um livro que se "abre" com a
zón Valdés e Gutiéttez História do Brasil se Uencerre" com uma impossível declaração de
Girardot. Barcelona: AL-
fa, 1983,p. 354. bagagem: a de ter contrabandeado "uma saudade feliz/de Paris".
Embora o princípio de não relação entre o que se vê e o que se diz
produza saudade, os textos de pau brasil rompem com a imediatez da
memória (a saudade infeliz, a transposição mecânica, a repetição) e
colocam, em seu lugar, uma confiança fundacional, feliz, na diferen-
ça, na mescla, no corte e na montagem. Na •'história pátria" do aluno
de poesia Oswald de Andrade, Uas barquinhas ficam/jogando prenda
coa raça misturada/no litoral azul de meu Brasil". Poder-se-ia detec-
tar nesta ideologia da mescla um princípio de tolerância e relativismo
radicais que, nesse extremismo, nos revela um viés contraditório: o
de acolher as diferenças como equivalências, com a ressalva de
preferir uma a todas as outras: a própria tolerância. A mescla não
deve, portanto, ser entendida como uniformização, o que seria um
traço alarmante de totalitarismo, mas de realização do geral na con-
13. Tzvetan Todorov as- ciliação das diferenças. 13 Haroldo de Campos reserva para esse pro-
socia o relativismo IBdi-
cal à obra de Montaigne, cesso de restauração edênica o termo apokatástasis. Em épo~as de
um dos mentores da An- crise, ele argumenta, todo homem é filósofo ou tradutor porque lida
tropofagia com seu en-
saio sobre os canibais. com a pluralidade para construir um sentido. Já nas eras de reconci-
Cf. Le croissement eles liação, quando todos os homens pensam e traduzem por si próprios,
cultures, Communica-
tiorrs, Paris, n. 43, 1986,
a apokatástasis permite ler a verdade nas entrelinhas das escrituras.
p. 5-24. É o que Adorno Nesse sentido, teríamos que ver, na História do Brasil, uma profana-
já observara: "los parti-
darios de la tolemncia
ção da unicidade ilusória dos símbolos que nos eleva a uma com-
unit,ltista estarán así preensão da história como upluralidade sufocada e (d)a historiografia
siempre inclinados a vol- como instância de ruptura e possibilidade de tradução transgresso-
verse intolerantes con l0-
do grupo que no se amol-
ra.,,14
de a ellos". Cf. Mínima Um dos poetas admirados por Oswald, Mutilo Mendes, prati-
moralia. Trad.J.Mielkd.
Madrid: Taurus, 1987, p. cou, nos anos 20, freqüentes faiscas de definição que tentaram libertar
102. o plural pela via de uma tradução travessa. Baste o exemplo de um
14. CAMPOS, Haroldo
poema mínimo, "Froide", que só diz "O bebesinho olhou pra bunda
de. Para além do princí- da ama seca" . 15 Podemos ler esse t~xto como uma versão elíptica e
pio da saudade. Folhe- anti-retórica daquilo que, em Gilberto Freyre, se transformaria em
tim, 412, São Paulo, 9
dez. 1984, p. 6-8. Em tra- complacência patriarcal com uma versão do passado. A seu modo,
dução de N. Perlongher Murilo, desautomatizando uma percepção já institucionalizada, alar-
foi incluído em: VVAA
Diseminario. La des- ga e transforma o conceito de subjetividade, tramando seu texto com
construcción. Otro de&- discursos dissímeis, onde alternam o letrado e o iletrado, o vernáculo
cubrimento de América.
84 - Rev. Bras. de Lit. Comparada, n
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