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Género e Desenvolvimento
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Grupo Moçambicano da Divida
Género e Desenvolvimento:
Uma perspectiva sociológica com
enfoque nos Sectores de Educação e
Saúde
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Género e Desenvolvimento
Ficha Técnica
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Grupo Moçambicano da Divida
Prefácio
Durante muitos anos, a experiência dos diferentes povos do mundo inteiro
relegava a mulher a uma posição de inferioridade em relação ao homem, seu
parceiro.
O Secretariado,
GMD
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Género e Desenvolvimento
Índice
Introdução.........................................................................................................1
Apresentação do Problema..................................................................................2
Género e Saúde..................................................................................................10
Género e Educação.............................................................................................13
O Orçamento do Estado...................................................................................17
Levantamento de dados..................................................................................20
Resultados.......................................................................................................21
Considerações finais......................................................................................29
Recomendações..............................................................................................30
Lista Bibliográfica............................................................................................37
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Grupo Moçambicano da Divida
Introdução
O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) é uma coligação de Organizações
não Governamentais (ONG´s), Sindicatos, Associações, e demais Entidades
da Sociedade Civil, que tem como objectivo principal contribuir nos esforços
para a redução da dívida externa do nosso país e erradicação da pobreza
absoluta em prol de um desenvolvimento sustentável.
O estudo integra duas partes fundamentais, uma teórica, onde são abordados
conceitos básicos que norteiam este trabalho; a outra parte procede uma
análise empírica do fenómeno, apresentam-se os resultados fundamentais,
antecedidos de informações explicativas sobre o processo da recolha e
tratamento de dados. A recolha de dados ocorreu nas instituições do Governo
ligadas à Educação, Saúde e organizações da sociedade civil filiadas ao GMD.
O presente estudo termina com a apresentação de algumas recomendações,
precedidas de anexos, contendo o guião das entrevistas e alistagem das
instituições que responderam à pesquisa, e uma lista da bibliografia que
estabelece o suporte teórico.
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Apresentação do Problema
Para uma melhor percepção da integração da mulher no processo de
desenvolvimento, é importante que se defina o conceito de Género. O Género
é um conceito que permite uma melhor compreensão das relações entre os
homens e mulheres na dinâmica social. Parte-se do pressuposto de que este
conceito descreve as relações sociais que se estabelecem entre homens e
mulheres na estrutura social.
O Género é a forma como a sociedade encara e trata de maneira diferente o
homem e a mulher. Na maioria das sociedades, os homens e as mulheres têm
papéis e responsabilidades diferentes, oportunidades e direitos diferentes. Estas
diferenças de género, variam de uma sociedade para a outra (In Boletim
internacional sobre prevenção e cuidados de Sida no 40,2002).
Esta percepção marca a subalternização da mulher. Assim, os papéis sociais
das mulheres são vistos como relativos a sua natureza, na medida em que o
seu envolvimento na reprodução tende a limitá-las a certas funções sociais
que por sua vez se consideram como as mais naturais (Moore,1992:14 cit.
Machaieie).
A perspectiva de Rago (1982:2), não fugindo da ideia anterior, considera o
género como um conjunto de expectativas relativas ao comportamento,
características e aptidões prováveis dos homens e das mulheres, refere-se aos
significados sociais atribuídos ao ser homem ou mulher numa determinada
sociedade.
Segundo Scott (1991), o uso recente do termo “género”, difundido pelas
feministas americanas, insiste no carácter fundamentalmente social baseado
no sexo. Esta assunção rejeita o determinismo biológico implícito nos termos
como sexo ou “diferença sexual”.
Esta autora defende ainda que a definição de género se baseia na conexão
integral entre duas posições, a saber: género como um elemento constitutivo
de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e género
como uma forma de significar as relações do poder. As mudanças na
organização das relações sociais correspondem sempre às mudanças nas
representações do poder, mas a direcção das mudanças não segue
necessariamente um sentido único (Scott,1991:16).
Neste último, aspecto adoptamos a afirmação de Kirch segundo a qual “a
inferioridade social das mulheres é um fenómeno social e não natural”
(Kirch,1995:18 ).
Definimos então género como sendo as relações sociais entre homens e
mulheres e o modo como elas são socialmente construídas.
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A. Educação;
B. Saúde;
C. Agricultura
D. Emprego
E. Obras públicas
F. Assistência Social
G. Estatuto da Mulher (PARPA 2000:16-17).
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Importa referir que o Plano de Acção peca na medida em que não indica
exactamente o que significa elevado número de dependentes. O Instituto
Nacional de Acção Social (INAS), com vista a operacionalizar este objectivo,
concentra a sua acção nas mulheres chefes de agregados familiares com mais
de cinco crianças, o que de acordo com Quive (2000), incentiva, por um lado,
o aumento de nascimentos por parte de algumas mulheres chefes de agregados
familiares para a obtenção de mais apoio directo do Estado, o que na verdade
nem chega a acontecer.
Por outro lado, se os agregados familiares com somente uma fonte de
rendimento se beneficiassem, grande parte da população moçambicana estaria
a obter o apoio social do Estado, o que não é verdade. O certo é que esta
mulher deve estar associada a vários riscos sociais, como desemprego, situação
de pobreza absoluta, entre outros. Como se pode notar, o PARPA ainda não é
muito objectivo nos seus propósitos. Outra questão que se pode colocar é o
seu carácter vinculativo, particularmente, quando se trata da sua implementação.
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Género e Saúde
De acordo com os dados recolhidos, a abordagem de género no sector da
saúde, é algo recente. A “Abordagem Sectorial Ampla” (SWAP), e o “Plano
Estratégico do Sector da Saúde” (PESS), constituem os instrumentos essenciais
para a integração de uma perspectiva mais ampla e integrada do género nos
programas de saúde.
A conferência Internacional sobre a população e desenvolvimento realizada
no Cairo em 1994, e a conferência Internacional da Mulher realizada em
Beijing, recomendaram aos governos do mundo inteiro a elaboração de
políticas mais abrangentes, acentuando a sua acção, no sector da saúde da
mulher, pois, a ruptura com a concepção de planeamento familiar limitado
somente ao controlo da natalidade já não era suficiente para fazer face aos
desafios da actualidade.
A definição de saúde reprodutiva como “um estado geral de bem estar físico,
mental e social, não apenas mera ausência de doenças, em todos os aspectos
relacionados com o sistema produtivo e suas funções e processos”1, constituiu
um passo decisivo para a adopção dos princípios já definidos pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 1992. A capacidade para reproduzir, a gravidez
segura, a regulação da fecundidade, e a vida sexual livre de coerção, passam a
orientar,principalmente, a partir do final da década de 90,uma nova abordagem
de saúde reprodutiva, contemplada nas políticas de saúde de muitos países,
dentre os quais Moçambique.
Nesta perspectiva, muitos dos programas de saúde reprodutiva passam a
discutir a responsabilidade masculina na saúde reprodutiva, sexual, e na
fertilidade; começam também a dar atenção particular aos jovens e
adolescentes e, incentiva-se a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos
da mulher, divulgando-se a livre escolha da reprodução e das decisões sexuais,
bem como o combate à violência doméstica.
Uma outra questão importante que tem merecido mais atenção especial pelas
autoridades sanitárias, é a questão do aborto, entendido como um problema
de saúde pública, onde podem ser considerados os factores de ordem social
cultural, bem como económica, que pode intervir positiva ou negativamente
na prevenção da gravidez precoce e indesejada, assim como no tratamento
do HIV/SIDA ao nível da mulher.
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Análise e elaboração das estratégias de integração da perspectiva de género no SWAP(Abordagem Sectorial Ampla) e nos
programas seleccionados
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Depois desta breve descrição das políticas do sector da saúde, importa registar
alguns indicadores que constituem instrumentos de mensuração da
implementação das mesmas.Assim, podemos deduzir os seguintes indicadores:
Número de consultas pré-natais, número de partos institucionais, cobertura
dos programas de vacinação, melhoramento das taxas de baixo peso à nascença,
bem como os índices de seroprevalência .
Género e Educação
O acesso à educação formal constitui um dos direitos fundamentais de cada
cidadão moçambicano, de acordo com a Constituição da República, e é um
dos instrumentos principais no combate à pobreza absoluta e redução das
assimetrias de género. Constitui ainda um meio importante para o processo
da integração social e sócio profissional dos diferentes extractos sociais.
Através do acesso a educação, observa-se um processo de acumulação de
capital humano2, que mais tarde poderá ser usado para a aquisição ou acesso
à outros bens e serviços. Isto significa que as pessoas que tenham acumulado
este capital podem servir-se dele como indivíduos mas, a sociedade também
como um todo.
No nosso país o acesso à educação conheceu diversos momentos, se quisermos
considerar o tempo colonial em que os moçambicanos naturais não tinham
acesso à educação, passando pelo período pós-independência caracterizado
por políticas massificadoras de educação, mas sem a rede escolar devida, até
aos actuais momentos em que a rede está se expandindo cada vez mais para
os meios rurais, com o acesso ainda limitado para as crianças, particularmente
para as raparigas provenientes de famílias económica e socialmente
vulneráveis.
Importa referir que, neste período, todo o processo de integração da rapariga
à educação nos diferentes níveis, é ainda muito lento por diversas razões,
entre outras cita-se as de ordem económica, social e cultural.
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J. S. Coleman (1999) Este capital é igual ao capital financeiro que para a sua acumulação leva-se um certo
tempo.
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O Orçamento do Estado
O Orçamento do Estado, em termos de gastos para o sector da Educação e da
Saúde, tem vindo a aumentar.Tal facto reflecte a preocupação do Governo no
investimento em capital humano para o desenvolvimento do país. Os dados
do Orçamento do Estado para os anos de 2002 e 2003 indicam o seguinte:
Fazendo uma breve análise dos gastos do governo nas áreas da saúde e da
educação entre os anos de 2002 e 2003, constata-se que este tem registado
alguma oscilação. Na área da educação houve uma diminuição de orçamento
em todos itens, nomeadamente nos serviços de ensino primário, no programa
de ampliação da rede escolar, no serviço de ensino secundário. Constata-se
ainda que, no ano de 2003 alguns programas deixaram de fazer parte dos
beneficiários do orçamento, é o caso do programa de formação de professores,
do programa do acesso da rapariga ao ensino,e do programa da carteira escolar.
Em contrapartida passou a constar da lista dos beneficiários, o serviço técnico
- profissional . Partindo do princípio que o Estado aloca os recursos financeiros
segundo as suas necessidades prioritárias, e segundo as demandas do contexto
social, chega-se à conclusão de que o ensino da rapariga não figura da lista das
principais prioridades do governo no ano de 2003. Constata-se também que
estes programas (programa da carteira escolar e o acesso da rapariga ao ensino)
têm sido financiados única e exclusivamente pelo Orçamento do Estado.
Contudo esta constatação não tira o mérito de algumas ONG’s que actuam
afincadamente na concepção de programas que priorizam o acesso da rapariga
ao ensino.
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Os valores apresentados são constituídos pela contribuição directa do estado Moçambicano e parceiros externos.
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Fortalecimento do Programa
79.387.10 112.219.42
Nacional de Saúde Reprodutiva
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Os valores apresentados são constituídos pela contribuais directa do estado Moçambicano e parceiros externos
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Levantamento de dados
Conforme foi mencionado nas páginas anteriores, o estudo envolve uma
componente teórica e outra empírica que, consistiu, essencialmente, no
levantamento de dados em diferentes instituições públicas e da sociedade
civil. A pesquisa centrou-se em algumas instituições do Governo responsáveis
pelos sectores de Educação, Saúde e Mulher, nomeadamente, o Ministério do
Ensino Superior Ciência e Tecnologia (MESCT), o Ministério de Educação
(MINED), o Ministério da Saúde (MISAU), o Ministério da Mulher e
Coordenação da Acção Social (MMCAS), o Ministério do Trabalho e o
Ministério do Plano e Finanças.
Para além das instituições do Governo, foram abrangidas diferentes
Organizações Não Governamentais (ONG´s) nacionais e estrangeiras que
operam no país nos domínos de saúde,educação e mulher, tendo sido cobertas
17 instituições, como se ilustra no anexo 2.
O estudo focalizou questões relativas a priorização das relações de Género
ao nível das instituições, o grau de conhecimento das políticas de género ao
nível dos sectores de educação e saúde e, se estas instituições actuam na base
das mesmas políticas.
Para além disso, foi importante explorar se estas instituições interagem entre
si nas suas actividades, atendendo e considerando que têm o mesmo objectivo,
que é reduzir os desequilíbrios de género. Para o efeito, elaborou-se um guião
de entrevista, o qual se encontra no anexo 1. A pesquisa privilegiou entrevistas
com pessoas chaves nas respectivas instituições. Foram contactadas 17
instituições, dentre as quais seis (6) pertencentes às instituições do Governo
e as restantes à sociedade civil. Devido a várias razões, principalmente de
natureza logística, o estudo cingiu-se apenas à Cidade de Maputo.
As páginas que se seguem apresentam os aspectos essenciais do estudo e
fazem a abordagem das considerações finais e algumas recomendações.
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Resultados
Para obtermos um conhecimento mais aprofundado sobre a implementação
das políticas acima referidas começamos por questionar o grau de
conhecimento que as instituições da sociedade civil têm em relação as políticas
e como é que as mesmas são implementadas. Importa referir que a integração
da componente de género nos sectores acima referidos, de acordo com os
dados disponíveis, acentuou-se após a assinatura do programa de acção na
conferência Internacional de População e Desenvolvimento realizada em Cairo
em 1994 e a Declaração de Beijing em 1995, onde uma das recomendações
fundamentais, foi a integração da perspectiva de género em cada sector.
O estudo mostra que os sectores da educação e saúde integram a componente
de género, apesar de ela ser ainda recente e com início nos finais da década
noventa. Isto vem coincidir com o fim da guerra civil em Moçambique, com a
introdução do multipartidarismo,e integração do país no sistema global, através
da introdução dos programas de reajustamento económico e social.
A outra questão foi a análise do nível de coordenação entre os programas
traçados pelo Governo na área de género e a sua implementação ao nível das
ONG’s. Constatou-se que na área da saúde as políticas existentes são de
conhecimento das ONG’s, particularmente as que trabalham nesta área,
trabalhando em estreita coordenação com o MISAU . A participação das ONG’s
é feita de diversas maneiras como, por exemplo, através da realização de
seminários conjuntos, parceria em projectos e reuniões do Conselho Nacional
de Saúde,destacando-se aqui a participação activa da Associação Moçambicana
de Saúde Pública (AMOSAPU).
Para além disso, as ONG’s participam na definição das políticas do sector da
saúde como, por exemplo, na definição da política sobre a medicina tradicional.
A participação das ONG’s tem sido importante para que elas também se
identifiquem com as políticas deste sector. As ONG’s são detentoras de um
manancial de questões específicas deste sector,dado que muitas delas trabalham
ao nível das comunidades, tanto na saúde preventiva, como na medicina
curativa.
O estudo também permitiu apurar que grande parte do orçamento do sector
da saúde tem sido usado para a implementação de diferentes programas do
sector, incluindo a extensão da rede sanitária para o meio rural, onde vivem as
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Entretanto este programa ainda não abrange as zonas rurais. Para além dos
programas acima referidos, o sector da saúde encoraja as organizações da
sociedade civil a implantarem unidades para o aconselhamento e apoio
psicossocial para as mulheres, como exemplo pode-se citar a KULAYA, a
Associação das Mulheres Viúvas, entre outras.
O trabalho com a sociedade civil mostra que em Moçambique estão surgindo
organizações formais de mulheres para mulheres, isto é, organizações ligadas
à integração da mulher na sociedade, para que estas elevem o seu estatuto na
sociedade. De acordo com as ONG’s, isto é realizado através de cursos de
capacitação e sensibilização em género.
No geral, podemos considerar que os sectores da saúde e da educação, com o
apoio das organizações não governamentais, têm vindo a implementar as
políticas do género. Além disso, há alguma participação directa destas
organizações na definição das políticas. Mesmo assim entre a definição das
políticas e a sua implementação existe ainda um fosso enorme.
Neste estudo, também foi importante analisar se as instituições que operam
nestas áreas têm um intercâmbio entre si, onde, no geral, podemos concluir
que existe muito intercâmbio e divulgação de informações ligadas a questões
de género. Grande parte das ONG’s por nós contactadas mostrou
conhecimento profundo na área de género e algumas delas já começaram a
realizar actividades de pesquisa nesta área, é o caso da União Nacional dos
Camponeses (UNAC),que já efectuou um levantamento sobre as necessidades
em matéria de género, em alguns distritos do Norte do pais. Este tipo de
estudos, para além de fazer um levantamento de necessidades da mulher, serve
como meio de influência à entidades estatais que sustentam a formulação de
políticas, ou à definição de programas específicos para a mulher.
Existem ONG’s que trabalham muito com a mulher e sua integração política,
social e económica (MBEU, FÓRUM MULHER, FAWE) mas também existem
outras organizações que abrangem outras áreas , mas sem perder de vista a
componente de género (CONCERN, IBIS,UNAC, GAS, KULIMA,GOAL,
OXFAM,etc.).
Estas redes consubstanciam-se no apoio financeiro por parte de algumas
organizações doadoras, é o caso do Programa Conjunto de Advocacia das
Oxfam (OXFAM-JOAP), e em capacitação técnica, não apenas para formar
activistas da sociedade civil, mas também para os funcionários das organizações,
e troca de experiências, lobbies junto dos grupos parlamentares, etc.
Podemos citar como exemplo deste intercâmbio a participação da sociedade
civil na discussão sobre a nova lei da família que foi recentemente aprovada
pela Assembleia da República de Moçambique. Este intercâmbio,
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Considerações finais
Apesar do esforço das instituições governamentais e das ONG’s em realizarem
actividades que promovem a mulher no processo de desenvolvimento, podemos
considerar que estas ainda estão aquém do ideal. As ONG’s e as instituições
do Governo contactadas mostram que as desigualdades de género ainda
persistem, principalmente nas áreas rurais e peri-urbanas onde prevalecem,
de forma marcante, aspectos tradicionais da nossa cultura que contribuem
para a perpetuação das desigualdades de género e, por conseguinte, culminam
com a desintegração da mulher no processo de desenvolvimento.
As relações de género no nosso país, de acordo com o nosso estudo, tem
raízes profundas que remontam da tradição do povo moçambicano e que,
vem carregadas de valores, símbolos e estereótipos que influenciam
decisivamente a vida dos indivíduos. É por esta razão que estes aspectos de
género encontram grandes dificuldades em transcender do nível teórico ao
prático.
Estamos a falar concretamente, da situação em que as raparigas são impedidas
de ir a escola e passam a ser o reforço da capacidade familiar, são
sobrecarregadas em lides domésticas, o que afecta negativamente o seu
rendimento escolar. Tal facto acaba contribuindo para a discriminação da mulher,
que não tendo acesso ao rendimento, não tem acesso ao ensino e assistência
médica razoável.
Pode-se confirmar que os programas direccionados a alguns grupos alvos no
sector da saúde têm a sua devida implementação pelas organizações da
sociedade civil. É notória a falta de conhecimento generalizada sobre as formas
de implementação das políticas de género previstas nestes dois sectores. Não
são raras as vezes em que o uso do direito por parte dos cidadãos considerados
grupo alvo principal destas políticas confunde-se com favor.
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Recomendações
Face aos problemas subjectivos e objectivos que obstam o normal
enquadramento dos programas de transformação e desenvolvimento do
género, o grupo recomenda a adopção de seguintes medidas:
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1. Perfil da Instituição
1.1 Nome da Instituição
1.2 Área de Actividade
1.3 Há quanto tempo
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3.2 Tem tomado estas políticas em conta nas suas actividades? De que forma?
3.3 Quais são as relações que tem mantido com o Governo no sentido de
reduzir a discriminação do género?
3.6 O que acha que deveria ser feito ao nível do Governo para tornar as
políticas de género mais satisfatórias?
3.7 Quais têm sido os obstáculos que enfrenta a nível social e cultural para a
implementação de actividades que promovem a igualdade de género?
3.8 Está satisfeito com a actual política de género na Educação, saúde e acção
social. Porque?
3.9 Que questões acha que deviam ser preconizadas na promoção de género
em Moçambique?
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4.2 Qual tem sido o apoio de que gozam as instituições que actuam na área
do género?
4.4 Desde 1994 os gastos do Governo nas áreas da saúde e educação tem
vindo a subir. Como se reflecte isso na melhoria da equidade de género?
4.5 Será que as organizações da sociedade civil têm sido envolvidas na definição
de políticas sectoriais da educação, saúde e acção social?
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Lista Bibliográfica
MISAU (2002), Relatório da Primeira Missão Conjunta de Avaliação do desempenho
do Sector Saúde em Moçambique em 2001.
MISAU (2001), Plano Estratégico do Sector de Saúde (PESS) 2001-2005-(2010)
MISAU (2001), Plano Económico e Social para o Sector de Saúde (PES) 2001-
2005-(2010)
MINED (1995), Política Nacional de Educação e Estratégias de Implementação
PARPA(2000), Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta 2000-2004.
PNUD(2001), Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano.
Ministério de Plano e Finanças(2002), Orçamento do Estado para o ano de 2002
VOL II.
Ministério de Plano e Finanças (2003), Orçamento do Estado para o ano de
2003 VOL III.
Kortbeek, Simone et al. (1999), Análise de Género e Elaboração das Estratégias
de Integração da Perspectiva de Género no SWP e nos Programas Seleccionados
Osório, C. (1998), “Escola e Família: Diferenças e complementaridades 65-74”, in:
“Relações de género em Moçambique”,(org.):Loforte,A.&Arthur,M.J.Maputo-
UEM
Kirsch, C. (1995), “Forces Productive Rapports de Production et Orge des Inegalités
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Machaieie, E.(1997), “Mulheres no Sector Informal: Esforço e criatividade na luta
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Rago, M. (1998), “Epistemologia Feminina Género e Historia” in: Masculino
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Valá, S. (1997) “Desenvolvimento Rural e a Perspectiva de Género: Reflexões
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Acção SIDA. Boletim Internacional sobre prevenção e cuidados do SIDA n.º
40 Janeiro- Março/2002.
Alcalá, M. (1995), Compromissos para a saúde e os direitos sexuais e
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Durante muitos anos a mulher foi vista na posição inferior, o que foi contribuindo para o
“subaproveitamento” das suas potencialidades.
O estatuto da mulher resulta da criação da sociedade; por isso, é a própria sociedade que deve
criar condições para o equilíbrio do género.
*************
O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) é um fórum constituído (desde 1996/97) por entidades
colectivas e singulares comprometidas com o desenvolvimento económico e social do país, em
geral, e com a dívida externa, pobreza e boa governação, em particular.
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