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C APÍTULO 1

O Currículo Escolar: Conceituação e


Caracterização Histórica do Campo

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33Mapear a polissemia do termo currículo escolar, visando identificar


as principais tendências teóricas do campo de estudo.

33Caracterizar o surgimento do currículo escolar, por meio de seus diferentes


movimentos históricos, com a finalidade de compreender o campo e suas
práticas locais e globais.
Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

Contextualização
Falar em currículo escolar suscita um percurso pela história da constituição
do currículo no campo educacional. Além disso, faz-se imprescindível
compreender o sentido e o significado do currículo presentes na literatura
educacional e, sobretudo, construir, a partir do referencial curricular existente,
um conceito próprio de currículo, para compreender os efeitos que ele produz
sobre a formação dos seres humanos por meio da educação formal.

Partindo desse pressuposto, daremos início ao movimento dialógico,


princípio que norteará nossos estudos e discussões acerca da temática
desse caderno. Esse movimento é próprio de quem assume uma atitude
interdisciplinar em suas ações. Por isso, o conhecimento que cada um(a) de
vocês possui sobre currículo será o ponto de partida.

Para você, o que é currículo? Ao ouvir a palavra currículo, que relações


você estabelece? Como você conceituaria currículo? Utilize o espaço a seguir
para registrar seu conceito inicial de currículo.

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Agora que você registrou seu conhecimento sobre currículo, vamos


adiante. Nesse capítulo trataremos da polissemia do termo currículo e do seu
surgimento como campo de estudo, na área da educação.

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Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

Conceituação
Currículo é uma palavra de origem latina, derivada do verbo currere, que
significa caminho ou percurso a seguir, jornada, trajetória. Nas palavras de
Pacheco (1996, p.15), o vocábulo encerra duas ideias principais: “[...] uma
de seqüência ordenada, outra de noção de totalidade de estudos”. Esta
concepção se mantém, ainda, nos dias atuais, quando se atribui ao currículo
a sequência linear e ordenada de estudos ou o conjunto de disciplinas que
compõe um determinado curso.

Conforme José A. Pacheco (1996, p. 16), nos países anglo-


saxônicos, no século XVII, o termo curriculum designava uma
pista circular de atletismo ou uma pista de percurso para carros de
corrida de cavalos.


O termo currículo, desde sua concepção como campo de trabalho
específico na área educacional, tem apresentado diversas definições, muitas
vezes polissêmicas e controversas. Veja como o currículo tem sido definido ao
longo da história:

- rol de disciplinas ou grade curricular a ser seguida;

- determinação de objetivos, conteúdos e sequência de atividades a ser


implementada pela escola;

- conjunto de conhecimentos ou matérias a serem superadas pelo aluno;

- programa de atividades planejadas sequencialmente e metodologicamente


ordenadas conforme orientação obtida no manual do professor;

- resultados pretendidos de aprendizagem pela escola ou pelo professor;

- implementação do plano reprodutivo para a escola de uma determinada


sociedade;

- experiências recriadas pelos alunos por meio das quais se desenvolverão;

- habilidades a serem dominadas, visando o desenvolvimento profissional


dos alunos;

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

- programa com conteúdos e valores social, política e economicamente


contextualizados, para que os alunos possam contribuir e interferir na
reconstrução da sociedade.

Currículo é...

[...] todas as experiências que os estudantes


desenvolvem sob a tutela da escola.
[...] uma série estruturada de (KEARNEY; COOK, 1969 apud
resultados buscados na STENHOUSE, 1995, p.5).
aprendizagem . (JOHNSON,
1967 apud STENHOUSE,
1995, p.5).

A totalidade das
experiências da criança
na escola, dirigidas para
os fins da Educação .
(COUTO, 1966, p.1).
[...] currículo é o
ambiente em ação .
(SPERB, 1966, p.
244).

?
[...]. O currículo é lugar , espaço,
território. O currículo é relação de
poder. O currículo é autobiografia, "O conjunto de atividades nas quais as
nossa vida [...] (SILVA, 1999, crianças se engajarão na sua vida
p.150). escolar. [...] O currículo deve centrar-
se em atividades, projetos e problemas
e, antes de tudo ser extraído das
atividades naturais da humanidade".
(TEIXEIRA apud MOREIRA, 1990,
p. 93).

O currículo é um intento de
comunicar os princípios essenciais
de uma proposta educativa, de tal
forma que fique aberta ao exame
crítico e possa ser traduzida
efetivamente para a prática . [...] um terreno de produção e de
(STENHOUSE, 1995, p.5). política cultural, no qual os materiais
existentes funcionam como matéria-
prima de criação, recriação e,
sobretudo, de contestação e
transgressão . (MOREIRA; SIL VA,
1994, p. 28).

Construir o conceito de currículo e conhecer sua história é imprescindível


para perceber as ideologias e a questão do poder nele imbricado. Como você
pode perceber, o termo técnico de ‘currículo’ deriva do verbo latino currere,
que significa caminho ou percurso, jornada, trajetória.

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Atividade de Estudos:

Dando continuidade ao estudo e para que seja possível a


construção do conceito próprio de currículo, preencha a tabela a
seguir, pesquisando o termo currículo, conforme a solicitação.

PESQUISA EM DIFERENTES FONTES


CONCEITOOOS

Reelaboração
CONHECIMEN- DO CONCEITO
Dicionário ou Literatura Literatura
TOS PRÉVIOS PRÓPRIO
Enciclopédia Específica 1 Específica 2
Currículo

Literatura específica: refere-se às obras que discutem


sobre o conceito que se está pesquisando. Neste caso específico,
referências de currículo.

O que você achou da experiência vivenciada nesta atividade? Ela já é uma


prática em suas ações? As pesquisas realizadas auxiliaram na reconstrução
do conceito inicial?

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

Currículo: A primeira fonte, na qual o termo curriculum pode


ser localizado, conforme o Oxford English Dictionary, está nos
registros da Universidade de Glasgow, de1633. O termo aparece
num certificado de graduação outorgado a um professor, escrito num
formulário que teria sido publicado após a reforma da Universidade,
realizada pelos protestantes, em 1577. (MORGADO, 2000).

Pinar (1975) foi buscar em Heidegger os elementos para uma análise


fenomenológica para a relação pedagógica e estabelece

[...] uma distinção entre curriculum e currere, que, de certo


modo, ilustra a diferença entre o conjunto de conhecimentos
presentes em um currículo e as experiências que tais
conhecimentos evocam em seus destinatários. O currere
diz respeito à experiência educacional e o curriculum ao que
será experienciado. (PEDRA, 2003, p. 106).

Como você pode observar, não há consenso em torno da palavra currículo. Não há consenso
Contudo, não podemos negar que ele é fruto do seu tempo. Veja o que Apple em torno da palavra
argumenta a esse respeito (1994, p. 59), currículo. Contudo,
não podemos negar
O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de que ele é fruto do seu
conhecimentos [...] Ele é sempre parte de uma tradição tempo.
seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum
grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. É produto
de tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e
econômicas que organizam e desorganizam um povo.

Atividade de Estudos:

Você percebeu que o currículo revela, pela afirmação de Apple,


relações de poder no contexto educacional? No contexto onde
está inserido, você percebe estas relações de poder? Caso sim,
apresente algumas das situações que evidenciam essas relações
de poder, no espaço que segue.
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Desta forma, o currículo revela aspectos vinculados a relações de poder,


o que configura o contexto educacional como um espaço fundamentalmente
político (FREIRE, 1993). Nessa perspectiva, para Moreira (1994, p. 28)

O currículo não é um veículo de algo a ser transmitido e


passivamente absorvido, mas o terreno em que ativamente
se criará e produzirá cultura. O currículo é, assim, um terreno
de produção e de política cultural, no qual os materiais
existentes funcionam como matéria-prima de criação,
recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão.

Diante disso, acreditamos que o currículo não representa propósitos ou


O currículo não
representa propósitos atividades que sejam neutras em termos de formação e informação, já que
ou atividades que isso se origina de diferentes segmentos sociais e é veiculado por vários meios
sejam neutras em curriculares dentro de um dado contexto. Neste sentido, para Grundy (apud
termos de formação e PACHECO, 2001, p. 18), currículo “[...] é um modo de organizar um conjunto
informação. de práticas educacionais humanas”.

Numa perspectiva pós-moderna ou pós-crítica, o currículo é compreendido


como um artefato cultural, social e histórico. Currículo é texto, é linguagem.
Concebê-lo dessa forma significa compreendê-lo como uma rede de “[...]
significantes, significados, sons, imagens, conceitos, falas, língua, posições
discursivas, representações, metáforas, metonímias, ironias, invenções,
fluxos, cortes [...]” (CORAZZA, 2001, p. 9). Isso implica dizer que o currículo
é carregado de intencionalidades, de escolhas. Tais intencionalidades ou
escolhas se fazem presentes, também na matriz curricular de uma modalidade
de ensino, de um curso ou de um programa.

Matriz - palavra derivada do latim matrice, com significado de


fonte, origem. Aquilo que se gera ou cria, útero.Portanto, a matriz
curricular deve ser compreendida como locus de desenvolvimento
de uma determinada formação, o que transcende as disciplinas,
carga horária e créditos que compõem a grade curricular de um
curso. O currículo, nesta perspectiva, é compreendido como o
“tecido” que dá sustentação às (re)ações, aos encaminhamentos e
posicionamentos e às intenções dessa formação, na sua totalidade.

O currículo é
produtor de sentido
e significado, tem Até agora, você pôde perceber que o currículo é produtor de sentido
intencionalidades, e e significado, tem intencionalidades, e esses elementos se materializam
esses elementos se na prática pedagógica. Por isso, adotar a concepção de currículo numa
materializam na prática
perspectiva crítica e pós-crítica, é concebê-lo como resultado de um processo
pedagógica.
social, cultural e histórico. E, sendo assim, o currículo nos constrói como

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

sujeitos particulares, específicos; ele se tece, como também tece identidades


e subjetividades dos que com ele compartilham o mesmo espaço educativo.

As teorias críticas e pós-críticas são teorias curriculares que


concebem o real, a partir de análises que ultrapassam a dimensão
pedagógica de ensino e de aprendizagem, preocupando-se com
as conexões entre saber, poder e identidade, via análise e reflexão
das dimensões ideológicas e de discurso. Sobre isso, conferir
Tomaz Tadeu da SILVA, Documentos de identidade, 1999.

Assim visto, o currículo deixa de ser uma área meramente técnica,


preocupada apenas com as questões metodológicas, e passa a incorporar,
também, as questões sociológicas, epistemológicas e políticas.

Nessa perspectiva, questionamos: Por que persistir num processo


educativo que delimita, aprisiona, (en)forma, fragmenta, se, ao ampliarmos
o olhar para além da janela da escola, de seus muros, esse mesmo olhar
percorre um universo que se mostra inteiro, contendo a beleza que a natureza
da própria constituição lhe oferece? Por que distanciar o mundo real do
mundo das letras (ciência), o mundo dos sujeitos que vivem num tempo real
do mundo dos sujeitos que viveram num determinado tempo na história?
Afinal, o que este termo guarda de ‘sagrado’, se muitos educadores nem
sequer compreendem que são eles e os alunos, em situação de tempo espaço
educativo, que lhe dão vida?

Burnham (1993) discute a questão do currículo como “complexidade,


multirreferencialidade e subjetividade”, por compreender que o tecido que
o compõe se constitui de uma diversidade de elementos, que precisam ser
analisados e interpretados a partir de si mesmos, ou seja, é preciso traçar um
percurso pela interioridade, desvelando as amarras, os fios que o formam. E
isto supõe:

Abertura de si-para-si mesmo, quer como aluno, como


professor ou como sujeito participante da coletividade, na
escola; de si-para com-o outro, qualquer que seja o lugar
que esse outro ocupe nas relações escolares; de si-e-
com-o-outro-para-o-mundo múltiplo em que convivemos.
(BURNHAM, 1993, p.6).

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“A interminável busca do homem pela compreensão do


mundo, tanto do seu próprio mundo interior, quanto daquele
exterior, [...] a construção do conhecimento sobre o mundo exterior
não se separa da construção do próprio complexo sujeito-objeto-
processo-instrumento-produto do conhecimento, que é o próprio
homem”. (BURNHAM, 1993, p. 3).

Conceber um currículo, nesta perspectiva, é analisar, conhecer e apropriar-


se da natureza que cada fio carrega dentro de si, para compreender como ele
afeta e é afetado pelos sujeitos que com ele compartilham o mesmo ‘espaço-
tear’. O currículo é o tecido que impulsiona os sujeitos a construírem suas
processualidades, abrindo possibilidades para transcenderem a si mesmos.

Conclui-se, pois, que o currículo possibilita a cada sujeito produzir a


própria existência. Para tanto, sua ênfase deve recair mais no processo vivido
e não em “o que” e “por que” se aprende, haja visto que é a qualidade, a
profundidade e a relevância do que se oferta para ser experienciado que dão
vida, com sentido de existência, ao currículo.

Em síntese, como você pôde observar, não há consenso em torno do


termo currículo escolar. Ficou evidente que o currículo é fruto do seu tempo
histórico, econômico, político e social, revelando aspectos vinculados a
relações de poder, o que configura o contexto educacional como um espaço
fundamentalmente político, uma arena altamente contestada. A organização
de um currículo, por sua vez, se caracteriza pelo modelo teórico (tradicional,
crítico, pós-crítico) e os elementos que fundamentam a proposta, que
pode apresentar uma organização: disciplinar, interdisciplinar, conceitual
ou temática, dependendo da caracterização teórica de cada uma destas
abordagens teóricas. Sendo assim, você pode perceber que o currículo é
produtor de sentido e significado, tem intencionalidades, e esses elementos se
materializam na prática pedagógica.

Atividade de Estudos:

Após a compreensão do que foi exposto anteriormente, chegou o


momento de refletir sobre você como gestor(a) do currículo. Faça
uso das questões sugeridas para orientar sua reflexão, deixando
registrado no espaço que segue:

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

- Como você, professor(a), participa e se vê inserido(a) nas


decisões em relação ao que é ofertado, em sua ação docente,
para seus alunos?

- Você tem alguma participação nas decisões sobre o que você


ensina, ou você segue as diretrizes propostas pela secretaria de
educação municipal ou estadual?

- Ou toma como base o currículo oficial, encaminhado pelo


Ministério da Educação?

- Ou você utiliza o livro didático, adotado como único guia, para o


desenvolvimento de suas aulas?
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Pode-se conceituar currículo escolar como sendo todas as afecções


pelas quais passamos durante o convívio de nossa educação formal, o que
compreende as relações que se estabelecem nesse ato educativo. Portanto, a
interação com o outro, com o conhecimento, com os espaços e tempos e com
as atitudes manifestas e ocultas, presentes nas relações, forma e nos forma.

Nessa perspectiva, pensar numa concepção de currículo que atenda as


expectativas do mundo atual, exigindo que se pense na dimensão de totalidade,
interdisciplinar e transdisciplinarmente, requer que o mesmo seja compreendido a
partir dos problemas reais que a sociedade global e local apresenta.

Leia o livro organizado por Nilda Alves: Criar currículo no


cotidiano. Editora Cortez.

Como você pôde observar até então, o currículo escolar se constitui a


partir de vários contextos e subjetividades, que podem ser representadas por
diferentes esferas e dimensões, definidas por alguns pesquisadores de campo,
conforme as denominações a seguir:

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Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

As definições de currículo, presentes no texto a seguir, foram extraídas de


Santos e Paraíso (1996).

• Currículo oficial é o que foi planejado oficialmente para ser trabalhado


nas diferentes disciplinas e séries de um curso. É o que consta na Proposta
Curricular do Estado, nas Propostas Curriculares das Secretarias de
Educação ou nos livros didáticos elaborados a partir destas.

• Currículo formal abrange todas as atividades e conteúdos planejados


para serem trabalhados na sala de aula. O currículo formal inclui também o
currículo oficial.

• Currículo em ação ou real são todos os tipos de aprendizagem que os


estudantes realizam como consequência de estarem escolarizados. É a
consequência de viver uma experiência num ambiente que propõe-impõe
todo um sistema de comportamento e valores e não só de conteúdos de
conhecimentos a assimilar.

• Currículo oculto, também tem sido utilizado, significando o conjunto de


normas e valores implícitos nas atividades escolares, porém não-mencionados
pelos professores ou não-intencionalmente buscados por eles. São, portanto,
aprendizagens ou efeitos de aprendizagens não-intencionais, que se dão como
resultado de certos elementos presentes no ambiente escolar. É constituído
tanto de práticas como de mensagens não-explicitadas.

• Currículo explícito - representa a dimensão visível do currículo


e se constitui nas aprendizagens intencionalmente buscadas ou
deliberadamente promovidas através do ensino.

• Currículo vazio ou nulo - Constitui-se dos conhecimentos ausente, Tanto


das propostas curriculares (currículo formal), como das práticas da sala
de aula (currículo em ação), que, muitas vezes, abrangem conhecimentos
significativos e fundamentais para a compreensão da realidade e para a
atuação nela. Também chamado de “campos de silêncio” ou de “omissões”.
Seu significado é fundamental para entender o currículo como espaço de
afirmação e negação de elementos das diferentes culturas, produzindo efeitos
sobre o estudante, tanto em função do que diz, como daquilo que silencia.

Caracterização Histórica do Campo


Os estudos sobre currículo surgiram, nos Estados Unidos e no final do
século XIX e início do século XX, como área específica da educação. Vários
movimentos caracterizaram seu surgimento entre a década de 1900 e 1930,

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

na tentativa de justificar a necessidade de fundamentar os conhecimentos que


deveriam ser incluídos ou não na proposta de escolarização em massa.

Atividade de Estudos:

Para ampliarmos nosso diálogo, convidamos você a enumerar alguns


aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais, que faziam
parte daquele contexto. Tente fazer uma retrospectiva histórica e liste
alguns fatos que marcaram aquele período, mundialmente falando. O
que estava acontecendo naquele momento?
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Gesser (2002) explica que, para Herbert Spencer, a revolução da ciência


se constituiu como mola propulsora na definição do conhecimento ou conteúdo,
que poderia ser considerado o mais valioso. Os movimentos desse período
foram o ponto de partida para os estudos do campo.

Atividade de Estudos:

Mas, afinal, por que conhecer historicamente o processo de


constituição do campo curricular? Qual a sua importância para um
profissional da Educação Básica? Pense conosco: por que isso é
necessário para a prática educativa ou para sua prática profissional?

Escreva a seguir as suas conclusões


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Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

Há várias razões para um profissional da educação estudar e


compreender como se deu o processo histórico de construção do currículo
escolar. Possivelmente, a mais relevante está relacionada ao processo de
autoconhecimento. Compreender este itinerário nos possibilita compreender
o nosso processo de formação escolar; ou seja, nos permite entender como
este dispositivo escolar teve impacto na formação (ou deformação) de nossas
subjetividades, de nossas personalidades. Compreender este processo nos
permite acima de tudo, entender que o currículo escolar se constitui e sempre
se constituiu como um processo carregado de intencionalidades. Como define
Silva (1999), o currículo escolar constitui-se como um território contestado,
como uma arena de lutas, carregada de significantes e de significados.

Diante de tudo isso, nós lhe perguntamos: Que tal uma viagem no tempo?
você está pronto (a) para esta aventura? Serão mais de cem anos, em poucas
laudas.

Partindo do primeiro exercício que lhe propusemos nesta seção, o início


do campo curricular foi marcado pelo franco desenvolvimento da indústria,
especialmente nos Estados Unidos, e pela ampla onda de imigrantes europeus,
que vinham em busca de realizar o grande sonho americano no novo mundo,
em busca de emprego ou de um pedaço de terra.

Para melhor compreensão deste contexto, assista ao filme:


Philadelphia.

E afinal, quais foram os principais movimentos que demarcaram este


primeiro momento do currículo como área? De acordo com Schubert (1986) e
Pinar et al. (1995), três foram os primeiros movimentos que caracterizaram o
campo: o movimento da Eficiência Social, o movimento da Escola Progressiva
e o movimento Reconstrucionista Social. Veja a síntese de cada um deles no
quadro abaixo:

Quadro 1 – Movimentos que marcaram o início do campo do currículo


Movimento da Movimento Re-
Movimento da
Características Escola Progres- construcionista
Eficiência Social
siva Social
Harold Rugg e
Bobbit – 1918 Dewey – 1900-
Proponente/ Data George Counts -
Chartes - 1923 1930
1932
Interesses/Ne-
Habilidades Problemas So-
Foco cessidades dos
Profissionais ciais
alunos
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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

Preparar os
Preparar indivídu- Vivenciar expe-
indivíduos para
os eficientes para riências para a
Objetivo a construção de
atuar na indús- autorrealização
uma nova ordem
tria. dos alunos.
social.
Taylorista/For-
Inspiração Pragmatista Marxista
dista
Racionalidade Técnica Prática Emancipatória
Fonte: As autoras.

Para dar maior consistência ao nosso diálogo, nesta viagem histórica,


vamos refletir sobre o quadro anterior: Lembra que, quando discutimos
sobre a polissemia do termo currículo escolar, apontávamos para o fato de
que o currículo escolar não é neutro, mas, sim, carregado de valores? Isto
significa que cada um destes movimentos anteriores, que “batizaram” o
campo, expressam interesses e intencionalidades distintas, embora motivadas
pelo mesmo contexto. A partir disso, voltamos ao nosso itinerário rumo à
constituição histórica do currículo escolar.

Em 1949, a publicação de Ralph Tyler dá início à teorização sobre o


currículo escolar, constituindo-se no modelo considerado o clássico das
teorias tradicionais de currículo, influenciando o mundo até a atualidade. Esta
publicação, intitulada “Princípios Básicos de Currículo e Ensino”, organizada
em apenas quatro capítulos, é comumente conhecida como o modelo de
currículo por objetivos, resultante de uma disciplina lecionada pelo autor na
Universidade de Chicago, cuja síntese fica assim esquematizada:
Fontes: Sociedade
Quadro 2 – Modelo Aluno Matéria
de Currículo Tyler

Fontes: Sociedade Aluno Matéria


Listagem de Objetivos Educacionais

Listagem de Objetivos Educacionais


Filtros:
Filosofia Psicologia

Filtros:
Filosofia Psicologia
Objetivos Educacionais Precisos

Seleção dos conteúdos e experiências de


Objetivosaprendizagem
Educacionais Precisos

Seleção
Seleção dosdos conteúdos
conteúdos e experiências
e experiências de de
aprendizagem

Avaliação
Seleção da aprendizagem
dos conteúdos e experiências de
aprendizagem

Avaliação
Fonte: Tyler,da1974.
aprendizagem

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Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

Em síntese, esses movimentos históricos até aqui retratados registram, de


maneira marcante, a estruturação e o surgimento do currículo escolar como
Devido à Guerra Fria
área do conhecimento e, agora cientificamente reconhecida.
e ao lançamento do
satélite Sputnik (1957)
pelos soviéticos, nos Na sucessão de Tyler, o campo do currículo escolar foi novamente afetado
Estados Unidos, o por fenômenos mundiais. No final da década de 1950, devido à Guerra Fria e
governo exigiu que ao lançamento do satélite Sputnik (1957) pelos soviéticos, nos Estados Unidos,
as escolas voltassem o governo exigiu que as escolas voltassem maior atenção aos conteúdos
maior atenção aos curriculares, para formar líderes e cientistas. Gesser (2002, p. 77) explica que,
conteúdos curriculares, nesse período, o currículo se tornou uma questão de preocupação nacional nos
para formar líderes e Estados Unidos. A reforma curricular proposta pelo governo direcionou o currículo
cientistas. para a as disciplinas voltadas à ciência, como a Biologia, a Química, a Física e
a Matemática. Com base nesta reforma, o currículo tecnicista foi fortemente
reavivado e a Ciência se tornou palavra de ordem nos currículos escolares.

O constante confronto entre Estados Unidos e União Soviética


foi denominado de Guerra Fria. O conflito durou cerca de quarenta
anos! Leia mais sobre este confronto em: HOBSBAWM, Eric. Era
dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Bom, até agora, parece que as coisas, neste campo, não têm mudado
muito. Você deve estar pensando: será que o mundo do currículo vai girar
sempre desta maneira? A resposta não é muito simples: não será sempre
desta maneira, mas, neste terreno de lutas, como afirma Silva (1999), o jogo
não é fácil! A partir dos anos 1960 até o final da década de 1970, porém, como
reação à última reforma curricular e, no contexto do movimento pelos direitos
civis: a liberação da mulher, os movimentos contra as lutas raciais, entre
outros, nos Estados Unidos, um contexto para mudanças começa a se instalar.

Foi neste território contestado que nasceu a pedagogia crítica (outro


movimento do campo), propondo um currículo voltado aos problemas sociais,
econômicos e políticos da realidade. Gesser (2002) afirma que a obra Pedagogia do
Oprimido, de Paulo Freire, foi tomada como marco inicial da pedagogia crítica.
Segundo este movimento, o currículo escolar deveria partir de problemas sociais
(e aí a relação com o movimento Reconstrucionista Social), visando a crítica
desta realidade e, como consequência, a conscientização e libertação do
indivíduo e da sociedade. Portanto, justiça social era palavra de ordem.

Segundo Freire (1974), uma ação escolar, com base nesta perspectiva,
proporcionaria a humanização do ser e da sociedade. Ainda na década

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O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

de1970, o que também contribuiu para este movimento, para esta ruptura, foi
o surgimento da Nova Sociologia da Educação, na Inglaterra. Estudiosos
que demarcaram esta tendência inicial foram Michael Young (com a obra
Knowledge and control: new direction for the Sociology of Education) e
Basil Bernstein (com a obra Class, code and control). Para estes autores,
estas ideias deviam influenciar “[...] a forma de organização do currículo
e do processo de transmissão do conhecimento escolar, bem como suas
relações com as formas dominantes de poder e de controle social presentes
na sociedade”(SANTOS; MOREIRA, 1995, p. 49). Já, nos Estados Unidos,
autores que legitimam este movimento são Michel Apple e Henry Giroux.

Você certamente deve ter notado que, a partir deste movimento, o


currículo passou a ser concebido como uma construção histórica e cultural,
que precisava ser criticamente analisada, para não se limitar a reproduzir as
desigualdades sociais. Seus proponentes acreditam que o currículo escolar,
nesta perspectiva, se constitui como instrumento emancipador da realidade,
do ser e, portanto, da coletividade.

E, por fim, embora não dissociados dos contextos anteriores e atuais,


os anos de 1990 são marcados por uma continuidade de intensas reformas,
que se instala em todo o mundo; ou seja, reformas ou novos modelos que
tomaram, como referência para mudanças, o contexto da pós-modernidade.
Nestes últimos anos, o campo do currículo (pelos menos no plano teórico, não
necessariamente de práticas) tem sido fortemente marcado pelo pensamento
pós-moderno. No Brasil, este cenário também é assinalado por políticas Desde os anos 1990
públicas de currículo que demarcam este terreno. até a atualidade,
têm se debruçado
Gesser (2002) explica que os estudos sobre currículo, desde os anos na discussão de
1990 até a atualidade, têm se debruçado na discussão de temas emergentes, temas emergentes,
desencadeados pelos debates promovidos pela pedagogia crítica, desencadeados pelos
debates promovidos
caracterizando-se, de modo geral, como estudos na perspectiva multicultural.
pela pedagogia crítica,
Segundo a autora, um currículo multicultural “[...] deveria ser organizado
caracterizando-se,
em torno de aspectos multiculturais que incluem raça, gênero, diferenças
de modo geral, como
individuais, classe social, problemas sociais e justiça social ou equidade”. estudos na perspectiva
(GESSER, 2002, p. 78). Esta autora afirma que, no contexto brasileiro (e multicultural.
até mundial) o que ainda prevalecem são práticas curriculares de caráter
tecnicista, tradicional.

Atualmente continuamos realizando estudos com relação ao currículo,


na tentativa de encontrar caminhos adequados para uma reforma, que
possa responder às necessidades reais dos indivíduos, que representam
a sociedade na sua totalidade. Acreditamos que a compreensão histórica
em torno dos estudos e movimentos curriculares seja indispensável para
entender os diferentes processos de reforma da educação brasileira. Freire

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Estruturas Curriculares - Inter e Transdisciplinaridade

(1987) argumenta que um processo educacional autêntico deve ser cultural e


historicamente fundamentado. A história nos permite adquirir experiências a
partir de reformas passadas, sugerindo novas re-elaborações.

Para ampla compreensão do histórico sobre o currículo escolar:


leia o artigo escrito por Verônica Gesser – A evolução histórica
do currículo: dos primórdios à atualidade. Revista Contrapontos,
2002, vol. 4, p. 64-81.

Algumas Considerações
Tendo em vista que nossos objetivos, para este capítulo, eram o de mapear
a polissemia do termo currículo escolar, visando identificar as principais
tendências teóricas do campo de estudo e de caracterizar o surgimento do
currículo escolar por meio de seus diferentes movimentos históricos, com a
finalidade de compreender o campo e suas práticas locais e globais, é possível,
sinteticamente, constatar que:

• Não há consenso em relação ao conceito de currículo escolar. Ficou


patente que o currículo é fruto de seu tempo. Desta forma, o currículo
revela aspectos vinculados a relações de poder, o que configura o contexto
educacional como uma arena altamente política, contestada. Sendo assim,
você pode perceber que o currículo é produtor de sentido e significado,
tem intencionalidades, e esses elementos se materializam na prática
pedagógica. Você tem clareza disso agora?

• Em relação ao histórico do currículo como campo de conhecimento,


constatamos que este tem sua gênese no início do século XX. Vários foram
os movimentos que caracterizaram seu percurso histórico, desde sua
origem até a atualidade, como por exemplo: a eficiência social, o movimento
progressivista, o reconstrucionista social, o modelo Tyler, a pedagogia
crítica e o contexto da pós-modernidade com o currículo multicultural.

• Em síntese, este é o itinerário histórico e conceitual do currículo que


estudamos até o momento e de que, a seguir, você fará sua própria síntese.

Mas, fique atento! No próximo capítulo iremos aprofundar muito mais


essas três vertentes teóricas em relação às suas práticas. Por exemplo, vamos
desenvolver três grandes objetivos: 1. Identificar as diferentes abordagens
teóricas do currículo, caracterizando seus impactos na materialização dos
26 currículos escolares; 2. Caracterizar os principais paradigmas curriculares,
O Currículo Escolar: Conceituação e
Capítulo 1 Caracterização Histórica do Campo

relacionando-os as diferentes teorias do currículo escolar; 3. Identificar a


influência das teorias e paradigmas curriculares no atual desenvolvimento
curricular da educação básica.

E então, prontos para continuar nossa jornada? Aguardamos você lá!

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