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Projecto de Investigação
Orientado por: Marcos Palácios
Covilhã, 2018
“Existem dias em que o jornalismo registra fatos que, no futuro serão contados nos
livros - e serão guardados por gerações. Nesses dias, o que o jornalismo faz é escrever a
história.”
(No Jornal Nacional, Brasil, Fátima Bernardes, 05 novembro de 2008)
“The newspapers are making morning after morning the rough draft of history.”
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Introdução ao Tema
Realizar uma reportagem televisiva não é uma tarefa fácil, muito menos uma tarefa
que seja de produção rápida. É um processo detalhado. Entender os passos para a
realização de uma reportagem televisiva é essencial para que se consiga produzir um
conteúdo significativo. Através do chamado interesse jornalístico é possível considerar-
se determinado tema relevante para investigação, mas é preciso mais do que isso para
cativar a atenção do público. É essencial que se trabalhe o argumento da reportagem e
que a realização da mesma siga sempre a mesma linha condutora, sem que se perca.
Mas como é que essa narrativa se define? É exatamente aqui que nasce a questão deste
projecto investigativo.
Estado da Arte
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Num mundo tão tecnológico como este em que vivemos hoje existem possibilidades
que vão além daquilo que os nossos antepassados poderiam imaginar. Parte disso é
exposto, todos os dias, nos diversos estudos feitos sobre o Jornalismo que actualmente
abrange muito mais do que apenas o jornalismo impresso, como nos primórdios da
profissão. Nesse sentido, faz-se imprescindível, antes de proceder ao levantamento
bibliográfico da questão central deste projecto, identificar os trabalhos realizados no
âmbito da temática seleccionada.
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fundamental para a compreensão dessa linguagem.” (Thomaz,
2006)
Esta análise semiótica é fundamental, uma vez que a selecção dos planos (o
enquadramento de uma Grande Reportagem) é feito no sentido de guiar o leitor por
determinado argumento. Editar um conjunto de vivos e uni-los a uma voz-off é pensar
num determinado ângulo para uma temática específica e delinear uma estratégia que vá
fazer os leitores influenciarem-se para a entenderem dessa determinada forma. Os
autores Canelas, Godinho e Abreu (2016) produziram um artigo “Um contributo para o
Ensino da Edição de Imagens de Conteúdos Noticiosos Televisivos”, onde abordam
exatamente essa questão da necessidade do jornalista televisivo de entender a mecânica
de trabalhar em televisão.
Assim, a questão que este projecto pretende analisar surge aqui com a pertinência de
mostrar a influência da relação discurso-imagem tem no entendimento da mesma pelo
leitor. Esta questão vai levar a que se percebam os mecanismos usados pelos jornalistas
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televisivos, assim como os enfoques pretendidos e as técnicas utilizadas na hora de
captar as imagens, assim como na edição da peça.
Revisão Teórica
Esta ligação triádica do som, da imagem e do texto, resulta num processo ao qual se
chamada: relação discurso-imagem. Na verdade, a relação entre discurso-imagem é
complexa. Passa por processos de seleção que são escolhidos a dedo e que visam, de
alguma forma, causar impactos no telespectador. O início de toda a reportagem tem
origem na agenda. Há uma equipa que selecciona o tema e, já partindo desse
pressuposto, a grande reportagem avança com um objectivo, de acordo com a temática
seleccionada. Este trabalho de produção de uma Grande Reportagem é oriundo de
diversos processos e, consequentemente, de vários indivíduos envolvidos nesse mesmo
trabalho. São eles jornalistas e editores de imagem – os primeiros vão tratar do trabalho
de campo, os segundos de montar a reportagem. Para percebermos como funciona a
produção de um Grande Reportagem é preciso entender-se de que forma funciona a
relação do discurso-imagem.
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«O jornalista e o editor vão selecionar as melhores imagens de
acordo com o trabalho que queiram fazer, e fazer a sequência
que mais lhes agrade. Desta forma eles vão fazer com que as
pessoas acreditem no que (eles) “querem”, pois é a sequência
por eles montada que as pessoas vão ver e assimilar como
verdadeira e concreta.” (Sena, 2013)
É o desejo de querer ver mais, por não existir satisfação momentânea. Uma imagem
pede outra imagem que, por sua vez, vai voltar a pedir outra imagem. Apesar desta força
da imagem que surge essencialmente como uma componente de verificação –afinal, não
se pode gravar algo que não aconteceu, a voz representa no género da grande
reportagem um factor essencial ao seu entendimento.
De acordo com Godinho (2011, p.64 a p.70), a voz que narra uma reportagem pode
surgir em três formas: 1) o repórter a aparecer no enquadramento e a falar (o vivo); 2) o
repórter narra a reportagem, mas raramente ou nunca aparece na reportagem, embora se
conheça quem a narre; 3) reportagem narrada de forma neutra, sem aparecimento do
repórter na imagem. A estes três tipos de narrativa associa-se o “re-portar” que, nas
palavras de Godinho compõe-se “sobretudo, por um conjunto de princípios
fundamentais que visam proporcionar uma experiência do acontecimento através do
dispositivo da montagem possibilitado pelas “novas imagens” e, acrescento, pelos
“novos sons”. O “re-portar” activa uma ligação à realidade diferente do “noticiar”
(telejornal), do “interpretar” (comentário), do “opinar” (critica) e do “testemunhar”
(entrevista).”
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Estas formas de narrar uma história vão pesar naquela que é a percepção final de uma
Grande Reportagem. A influência que a presença (ou falta dela) do repórter nutre no
entendimento da narrativa final pode afectar a experiência que se quer “reproduzir”.
De acordo com o autor, no primeiro caso a voz que narra a reportagem é entendida
como “mestre-significante”. Esta “presença constante do narrador pode fazer com que a
energia narrativa se transfira das palavras e suas “imagens” para a imagem do narrador,
anulando o poder de transferência que estas activam”. Essa presença marcante do
narrador (do repórter, no caso) pode desviar as atenções do assunto que está tratado e
liga-lo inerentemente à voz (e pessoa) que narra, tirando a importância das imagens e
daquilo que se quer ter percepcionado. Com isto, não se quer dizer que não se deva
utilizar esta técnica, mas sim que é necessário ter em conta a forma como essa voz é
utilizada. Faz-se pertinente avaliar a força da presença daquele repórter, para que não
seja em excesso e não anule o “argumento” daquela reportagem.
No que diz respeito ao segundo caso, estamos perante aquilo que Godinho (2011)
chama de “discurso da universidade”. Quando o repórter dá voz a um discurso, mas
abstém-se de aparecer nas imagens cria uma espécie de “invisibilidade”. Aqui, corre-se
o risco de uma ambivalência de significados – uma vez que o espectador vai depender
do perfil do repórter que narra para avaliar a credibilidade da reportagem. Com isto
quer-se dizer que ao ocultar-se o repórter, vai estar-se a criar dúvida no telespectador, o
que pode comprometer o seu interesse na notícia. De acordo com Quevedo (2009, p.13),
“o Jornalismo deve ser pensado constantemente como uma atividade que envolve
responsabilidades que se atribui enquanto prática e que lhe atribuem (público, leitor,
telespectador) como produtor de notícias, informações verídicas”.
Por último, mas não menos importante, está a terceira forma de narrar uma
reportagem. A esta associa-se o conceito de “voz acusmática”, onde existe um locutor,
que não é o repórter, responsável pela voz que narra a história. Esta desassociação do
repórter à voz que narra vai influenciar a forma como o público vai encarar aquela
história. Afinal, quem narra? Godinho (2011) analisa esta questão, considerando que
esta “voz, à partida mascarada nas imagens, obtém no espectador o mesmo efeito que o
“enquadramento”, abre um fora de campo que o põe em movimento, buscando nas
imagens o “ausente” que parece escapar. A voz alia-se tão bem às imagens porque lhes
amplia o efeito de pulsão, ou seja é algo que mobiliza fortemente o espectador, pondo-o
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a procurar a “descustomização” numa figura visível que subjectivize a voz”. A
neutralidade da voz que dá nome aquela reportagem vai trazer ao público uma sensação
semelhante à que as imagens causam, como anteriormente foi referido. O público não
conhece, de todo, o estilo daquela voz, o que vai criar um factor surpresa na forma
como a reportagem será levada. Não será possível prever intervenções, nem entoações
de vozes, o que vai suscitar mais interesse.
Neste sentido, torna-se essencial que se entenda que o papel da voz –off na relação
entre o espectador e o tema exposto na grande reportagem tudo tem a ver com a
produção de sentido adquirida pelo leitor em si. Tudo aquilo que é exposto na grande
reportagem, desde as imagens aos sons, à ambientação e ao enquadramento
seleccionado, vão transmitir uma sensação ao leitor que o estimula a produzir uma
determinada emoção ou opinião sobre o assunto retratado. Em casos de reportagens
sobre Guerra, por exemplo, muitas vezes o ângulo repassado retrata a violência que se
vivem em determinados países, o que vai passar ao leitor a sensação de empatia e de
solidariedade, fazendo-o experienciar sensações de compaixão que não existiriam caso
essa realidade não estivesse a ser tratada daquela determinada forma.
Entendido o papel da voz e da imagem neste que é o género da reportagem urge agora
a necessidade de se entender a ligação da imagem, da voz e do texto escrito, da relação
entre discurso-imagem.
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Mais do que o trabalho feito em campo é necessário que esse conteúdo recolhido
passe novamente por outro processo de selecção. Esta selecção de conteúdos, tanto
textuais como imagéticos, vai surgir de acordo com um argumento/mensagem que se
quer ver passada e percepcionada pelo leitor. A escolha não é aleatória. À semelhança
dos outros géneros, a Grande Reportagem Televisiva também nutre, na sua essência,
valores-notícia que a guiam, numa primeira instância, na sua realização. A verdade, a
objectividade e a neutralidade (Souza, 2008). Estes conceitos têm de ser garantidos no
produto da reportagem, onde serão posteriormente verificados.
A reportagem é composta por imagens, pela voz off e pela sonorização. Estes são os
três pilares que sustentam esta forma de informação. Entender a forma como se
relaciona a imagem com o discurso da voz off é fundamental, sendo a partir deste ponto
que toda a questão ao redor deste projecto surge. A relação do discurso-imagem dá-se a
partir de dois pontos fundamentais: o enquadramento das imagens e da relação de
semiótica que existe entre o significante e o significado.
O framing visual tem de ser seleccionado de acordo com os intuitos daquela Grande
Reportagem – a partir daquela selecção da realidade, do frame, vai visar a construção de
uma realidade.
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Através daquele enquadramento o leitor vai percepcionar determinado acontecimento,
nomeadamente com o sentido que o jornalista assim entender.
De acordo com Lopez e Dittrich (s.d.), é neste sentido que nasce “a importância da
interpretação na construção e na reconstrução do discurso jornalístico: sem a
interpretação não se cria e não se identifica sentido no discurso.” (p.3). Assim sendo,
através do enquadramento seleccionado irá, pois então, procurar-se atribuir a um
conjunto de signos o seu significado.
A semiótica está, inerentemente, ligada ao sentido. Afinal, é ela que trata de analisar a
relação que o conteúdo e o significado têm, sendo deste abraço que surge, por sua vez, o
sentido. O discurso da Grande Reportagem tem de ser tratado de forma cautelosa,
porque tratamos ao mesmo tempo de um discurso jornalístico e do enquadramento das
imagens que o acompanham. “A semiótica é uma fisiologia das formas constitutivas de
todo o pensamento que procura sobretudo elaborar enquanto gramática especulativa
uma teoria fenomenológica dos signos” (Fidalgo, 1998, p.14). Neste processo de
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semiose, pode entender-se que algo funciona como um signo e, consequentemente, vai
produzir um significado.
Esta ciência pode ser entendida em três campos distintos: semântica, pragmática e
sintáctica. No campo da Grande Reportagem televisiva, a relação que deve ser tida em
conta é a pragmática, pois estuda a relação que os signos e os intérpretes têm (no caso:
relação discurso-imagem com o leitor). “Os signos, incluindo os codificados, mas
sempre circunstanciais, adquirem um valor semiótico concreto em cada uso, um sentido
(...) para além do que possam precisar nos limites convencionais do mesmo texto.”
(Fidalfo, 1998, p.102).
A espetacularização da reportagem
Desta forma, não se está aqui a por em causa a neutralidade, nem a imparcialidade, do
conteúdo da notícia. Está-se, pois, a entender a reportagem como modelo de sequências
a serem trabalhadas, tendo em vista atingir determinado sentido na Grande Reportagem.
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seja, um «universo» principalmente construído pela televisão,
onde se chocam e se misturam as imagens com maior carga
emotiva, dramática e espetacular. (Brandão, 2010, p. 132, apud
Sena, 2013, p.51)
Objectivos e Hipóteses
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
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9) Enfim, conseguir perceber a influência que a relação discurso-imagem tem na
forma como a Grande Reportagem é percepcionada.
Tendo por base estes objetivos parte-se, pois então, para o estabelecimento das
hipóteses que vão acompanhar a problemática que neste projecto será avaliada. Afinal,
se queremos desvendar a influência da relação do discurso-imagem na forma como é
percepcionada a narrativa na Grande Reportagem, o que achamos que dessa
investigação irá surgir?
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reportagem é imparcial, mas a forma como é feita dá rédeas ao leitor para a
interpretar de acordo com os dados passados.
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credibilidade que esta relação discurso-imagem traz ao leitor. Através da
imagem o jornalista/editor de imagem consegue dar credibilidade ao que é
pronunciado no discurso da voz-off, dado que a imagem comprova, de certa
forma, o que é dito. No entanto, não terá esse enquadramento, essa produção de
sentido escolhida pelo jornalista, um factor que pode distorcer essa
credibilidade?
Metodologias:
Para a realização deste projecto, o objectivo é traçar um caminho que leve ao encontro
dos resultados que se querem ver obtidos. Para isso, numa primeira fase irei proceder a
uma recolha de dados teórica, com recurso a livros, documentos e artigos que tenham
pertinência em relação ao tema em questão. Esta técnica metodológico vai tornar
possível que através de uma pesquisa teórica consiga ter acesso a dados verificados,
com fundamentação e argumentação adequados ao tema que pertendo analisar.
Numa outra fase, vou também recorrer à técnica das Entrevistas para conseguir
recolher mais dados.
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próprio que se perceberá a influência que a relação discurso-imagem tem no produto
final deste tipo de conteúdo jornalístico. Na mesma linha, também vou entrevistar o
responsável pelo programa “Linha da Frente”, onde se inserem estas grandes
reportagens, de modo a perceber quais os princípios e valores que regem este programa.
Além disso, esta entrevista vai também fazer com que eu consiga perceber qual é o
objectivo desta estação com a elaboração das grandes-reportagens e de que forma se
produz conteúdo já com uma ideia final em mente.
Por fim, mas não menos importante, é ainda através da análise de conteúdos que
pretendo fazer análise de duas grandes-reportagens, sobre uma mesma temática de
assuntos, para entender o enquadramento que foi dado aquele assunto e de que forma a
relação discurso-imagem foi produzida no sentido de influenciar uma perspectiva em
detrimento de outra.
Estrutura do projecto:
1. Introdução
2. Parte I - Enquadramento teórico
Capítulo 1 – Da reportagem à grande reportagem televisiva
Capítulo 2 – Aspectos essenciais da Grande Reportagem televisiva
Capítulo 3 – A importância do discurso-imagem no género jornalístico
3.1) O papel da voz que narra a história
3.2) O papel da imagem que mostra a história
Capítulo 4 – A espetacularização do conteúdo televisivo
Capítulo 5 – O papel da ética na construção de uma grande reportagem
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3. Parte II – Estudo Empírico
Capítulo 6 – Metodologia utilizada
Capítulo 7 – Análise de resultados
4. Parte III – A minha estadia na redacção da RTP
Capítulo 8 – Levantamento de reportagens analise
Capítulo 9 – A minha experiência
5. Parte IV – Conclusões
6. Parte V – Referencias bibliográficas
7. Parte VI – Anexos
Cronograma
Atvds. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.
Procura de
conteúdo X X X X
Leitura de
artigos e
livros X X X
Estágio na
RTP e X X X
elaboração
de
entrevistas
Análise de
conteúdos X X X
Redação
final do
relatório de X X X
estágio
Revisão X X
Entrega e
apresentação X
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Referências Bibliográficas:
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