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1. Primeiros dizeres
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Mestrando em Mídia e Identidades Contemporâneas, linha de pesquisa do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Comunicação Social -
Jornalismo pela mesma instituição. Foi Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET Comunicação
Social), vinculado à Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC).
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O termo se refere a qualquer mudança no clima ocorrida ao longo do tempo, devido à variabilidade
natural ou decorrente da atividade humana (IPCC, 2007).
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A reflexão apresentada neste trabalho é parte integrante de uma Dissertação de Mestrado em andamento.
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nados como céticos. Ao versar sobre esse ponto, Giddens (2010) situa o ceticismo como
força vital da ciência, sendo importante também para a elaboração de políticas públicas.
O autor explica que os céticos não constituem um grupo homogêneo, com perspectivas
e objetivos idênticos, visto que seus argumentos apresentam variados níveis de ceticis-
mo e relacionam-se a dispares tipos de interesses. Da mesma maneira, os cientistas que
contribuem com os relatórios do IPCC se expressam através de possibilidades e proba-
bilidades e não estão livres de divergências entre si no que diz respeito ao entendimento
sobre a mudança do clima (GIDDENS, 2010).
Os vínculos da mudança climática com as bases da estrutura social demarcam
controvérsias em torno da questão, pois as necessárias medidas de adaptação e, princi-
palmente, mitigação estão atreladas à transformação – e até mesmo rompimento – com
tradicionais estilos de vida. As causas do fenômeno têm fortes ligações com atividades e
organizações econômicas muito poderosas, como a indústria petrolífera (CARVALHO,
2011). Por isso, o seu enfrentamento envolve mudar a forma como vivemos, a maneira
como nossas economias funcionam, e até mesmo as histórias que contamos sobre nosso
lugar na Terra (KLEIN, 2014). Além disso, qualquer discussão sobre o assunto precisa
sublinhar o fato de que apesar de dividirem o mesmo planeta, nem todos os países con-
tribuem para alteração do clima da mesma forma.
Embora a maior parte das emissões de gases que causam o fenômeno seja pro-
veniente das nações altamente industrializadas, o seu impacto se fará sentir com mais
intensidade nas regiões mais pobres do mundo (GIDDENS, 2010). Assim, existem dois
principais eixos assimétricos entre os países: um referente à geração e aceleração de
transformações no sistema climático global; e outro que diz respeito à capacidade adap-
tativa perante o problema. Como ressalta Valencio (2010), os povos vulneráveis sofre-
rão os impactos negativos dos eventos extremos com maior intensidade.
Diante dessa conjuntura, marcada por implicações científicas, geopolíticas, eco-
nômicas, culturais e éticas (CARVALHO, 2011), torna-se relevante e necessário refletir
sobre como o jornalismo vem mobilizando e construindo sentidos em relação às varia-
das dimensões do problema. Devido ao caráter complexo e relacional, o meio ambiente
é objeto constante dos discursos de diferentes esferas sociais. Apesar das finalidades e
interesses que singularizam tais dizeres, “é no jornalismo, todavia, que os sentidos são
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Além do funcionamento parafrástico, há também o processo polissêmico, reconhecido como aquilo que
é da ordem do deslocamento e da ruptura dos processos de significação (ORLANDI, 2005). O sentido se
constitui a partir do tensionamento entre a paráfrase e a polissemia.
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Com base neste autor, entendemos a Formação Discursiva como aquilo que pode e deve ser dito a partir
de uma posição e conjuntura dada. Trata-se de uma região razoavelmente delimitada de sentidos que
correspondem a uma determinada perspectiva ou ideologia (BENETTI, 2016).
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tro núcleos discursivos (ND)6 que circunscrevem a mudança climática como “tipos de
problema” específicos. São eles: (ND1) Problema Concreto; (ND2) Problema Antropo-
gênico; (ND3) Problema Controverso; e (ND4) Problema Desigual.
Subtotal: 55 (16%)
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Compreendemos os núcleos discursivos como conjuntos que reúnem determinadas construções de senti-
dos a partir de reiterações de dizeres (processos parafrásticos). Os núcleos não são assumidos aqui como
sinônimos de formações discursivas, uma vez que cada núcleo pode congregar dizeres que se inscrevem
em FDs diferentes e, por vezes, até mesmo conflitantes.
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ser discutida por congregar efeitos socialmente indesejáveis, tais como destruições, per-
das econômicas, doenças e mortes.
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É possível e preciso agir (RP5): ações de (SD05) As empresas podem plantar flores-
adaptação e mitigação frente à mudança do tas para compensar as chaminés, as pessoas
clima são ressaltadas pela revista como essenci- podem trocar as lâmpadas convencionais
ais. Superinteressante, portanto, elenca medidas por modelos mais econômicos, você pode
que diferentes sujeitos – cidadão, setor privado substituir o carro pela bicicleta... Podemos
e Estado – podem e devem adotar e cita exem- até formar fila para ver o filme do Al Gore.
plos de iniciativas e projetos que visam ameni- Tudo isso é lindo e precisa ser feito. (SU-
zar os impactos do problema. PER, ed. 260, dez. 2008)
Questionando o ceticismo (RP6) abriga reite- (SD06) Testes de laboratório mostram que
rações de sentidos que questionam e, por vezes, uma variação pequena na quantidade de CO2
criticam as perceptivas céticas sobre a mudança da atmosfera seria efetivamente suficiente
climática. Tal RP assume a concretude do fe- para causar um aumento na temperatura, e
nômeno e destaca a relevância das pesquisas modelos cada vez mais apurados indicam
científicas que apresentam a alteração do clima uma relação diretamente proporcional
como uma questão real, urgente e relacionada entre o aumento dos gases do efeito estufa
às ações humanas. e a intensificação do aquecimento. Ponto
para o consenso (SUPER, ed. 239, maio.
2007).
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(RP8) Algumas visões são exageradas: Supe- (SD08) A imprensa sensacionalista gosta
rinteressante constrói sentidos sobre o exagero de exageros: milhões morrendo de sede, os
de algumas visões e representações em torno da gelos da Antártida derretendo e inundando
mudança do clima. A publicação destaca a ma- meio mundo. Cuidado: não é preciso uma
neira exagerada e desproporcional que a im- mudança tão grande para prejudicar, e
prensa, o cinema e outras instâncias conferiram muito, a economia, a agricultura e o coti-
a determinados aspectos do fenômeno. diano. (SUPER, ed. 93. Jun. 1995)
(RP9) Os cientistas divergem: a revista cons- (SD10) Uns sustentam que é uma febrinha
trói sentidos que são concernentes à discordân- de nada, quem sabe um sintoma natural,
cia de opinião entre pesquisadores. Os enuncia- como aquela elevação de alguns graus que
dos evidenciam ambiguidades e controvérsias todo mundo tem no final da tarde. Outros
que dizem respeito a diferentes questões da acham que a temperatura está se esten-
problemática do clima, como a ação antropogê- dendo por muito tempo e pode esconder
nica e as consequências do aquecimento global. uma infeção mortal. (SUPER, ed. 124, jan.
1998)
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ada ao rigor e à objetividade. No entanto, quando reverberada por outros domínios, co-
mo o político e também o jornalístico, tal aspecto pode ser reduzido a dois extremos: a
opção pela inação, quando a falta de certeza é enfatizada ou a ação, no qual a incerteza é
suspensa. No caso de Superinteressante, observamos que estas duas redes parafrásticas
mencionadas amplificam a discussão sobre a concretude do fenômeno, pois congregam
dizeres que expõem os impasses e as objeções entre especialistas no assunto.
Por outro lado, em (RP8) Algumas visões são exageradas, a revista adota um
tom mais cauteloso e ponderado para refletir sobre o que vem sendo dito em relação ao
assunto a partir de outros lugares. No entanto, as abordagens que a revista examina e até
parece reprovar (dizeres alarmistas e catastrofistas) vão ao encontro do que ela mesma
realiza em maior parte de sua discursivização, como foi observado em (ND1) Problema
Concreto. Nos anos 1990, a crítica ao exagero dirige-se, sobretudo, às representações
cinematográficas e à cobertura jornalística de outros veículos da época. Já as ocorrên-
cias mais recentes desta rede de paráfrases dizem respeito, especialmente, aos cenários
apocalípticos ilustrados pela mídia no ano de 2007, período da divulgação do 4º relató-
rio do IPCC.
(RP10) Assimetrias entre nações: os dizeres (SD10) Na África subsaariana, onde mi-
da revista buscam salientar as diferenças entre lhões vivem da agricultura de subsistência,
as nações desenvolvidas e altamente industria- isso seria uma tragédia. Mas não nos paí-
lizadas dos países ainda em desenvolvimento, ses ricos, onde os recursos permitem comprar
destacando questões como capacidade de adap- comida, erguer diques ou abrir frentes agríco-
tação e mitigação. las rapidamente (SUPER, ed. 173, fev. 2002).
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Algumas considerações
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revista, fornece pistas sobre os espaços e valores que a mudança climática adquire em
sua discursivização.
A condição de questão atual e cientificamente relevante favorece a permanência
habitual (não fixa) da alteração do clima nas páginas de Superinteressante. Em escalas
diferenciadas, outros episódios também influenciam, sobretudo, as catástrofes e os
eventos políticos de discussão referentes ao assunto. Contudo, não se trata de uma rela-
ção direta de causa-efeito e sim de elementos que compõem as condições de produção
do discurso da revista sobre a mudança climática. Tal exterioridade constitui o próprio
processo parafrástico sobre o tema, como observamos a partir de nosso gesto interpreta-
tivo. As redes de paráfrases, desse modo, reiteram sentidos sobre diferentes dimensões
do fenômeno, movimentando e atualizando uma série de já-ditos.
Referências
BARROS, Antônio Teixeira de; SOUSA, Jorge Pedro. Jornalismo e ambiente: análise de
investigações realizadas no Brasil e em Portugal. Porto: Edições Universidade Fernando Pes-
soa, 2010.
GIDDENS, Anthony. A política da mudança climática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010
KLEIN, Naomi. This Changes Everything: Capitalism vs. Climate. Canadá: Knopf, 2014.
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PÊCHEUX, Michael. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 2ed. Campi-
nas: Ed. Unicamp, 1995.
SCHWAAB, Regis Toni. Uma ecologia do jornalismo: o valor do verde no saber dizer das
revistas da Abril. Tese de Doutorado em Pós-Graduação em Comunicação e Informação, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011.
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