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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo


Palhoça – Unisul – Novembro de 2016
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Sentidos construídos e movimentados na discursivização de


Superinteressante sobre a mudança climática
Rafael Rangel Winch1
Universidade Federal de Santa Maria

Resumo: O objetivo do trabalho é compreender como a Superinteressante, revista da Editora


Abril, constrói e movimenta sentidos sobre a mudança climática em sua discursivização entre os
anos 1995 e 2015. O estudo se ancora em contributos da Análise de Discurso de matriz france-
sa (AD) para mapear e problematizar os dizeres da publicação acerca do fenômeno do clima. A
partir de nossa empreitada analítica, verificamos a presença de quatro núcleos discursivos:
(ND1) Problema Concreto; (ND2) Problema Antropogênico; (ND3) Problema Controverso; e
(ND4) Problema Desigual. Estes, por sua vez, abarcam dez redes de paráfrases que congregam
sentidos relacionados a variadas dimensões da alteração climática.

Palavras-chave: mudança climática; discurso jornalístico; revista Superinteressante; redes de


paráfrases; construção de sentidos.

1. Primeiros dizeres

Apesar de sua onipresença e urgência dentre os principais temas da agenda glo-


bal contemporânea, a mudança climática2 já se tornou um clichê antes mesmo de ser
entendida (FLANNERY, 2007). A posição de destaque no âmbito da ciência e da políti-
ca não garante uma compreensão clara e indubitável do fenômeno, visto que suas causas

1
Mestrando em Mídia e Identidades Contemporâneas, linha de pesquisa do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Comunicação Social -
Jornalismo pela mesma instituição. Foi Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET Comunicação
Social), vinculado à Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC).
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O termo se refere a qualquer mudança no clima ocorrida ao longo do tempo, devido à variabilidade
natural ou decorrente da atividade humana (IPCC, 2007).

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e consequências são contornadas por diversas dúvidas e incertezas. Ao ser reverberado


no (pelo) discurso jornalístico, o problema tem atestada sua importância como pauta
atual e necessária, mas não se desprende de seus aspectos difusos e conflitantes.
Diante deste cenário, buscamos refletir3 sobre como a mudança do clima vem
repercutindo discursivamente nos relatos de Superinteressante, publicação mensal da
Editora Abril. Neste estudo, circunscrevemos nosso objetivo central num recorte tempo-
ral-histórico específico. Assim, intencionamos compreender como a revista constrói e
movimenta sentidos acerca da alteração climática em sua discursivização entre os anos
1995 e 2015.
Partimos do pressuposto de que Superinteressante incorpora diferentes elemen-
tos para significar a mudança do clima, operando não somente a partir de conformações
internas à profissão e ao veículo (lógicas institucionais, editoriais e mercadológicas),
mas também através de acontecimentos externos – mas constituintes – à sua prática jor-
nalística e discursiva como, por exemplo, a divulgação de relatórios científicos, encon-
tros políticos e eventos catastróficos. Delimitamos a já referida temporalidade por reco-
nhecermos que a discussão sobre o tema se transfigura ao longo dos anos em diversas
esferas da sociedade, o que acaba incidindo nos modos como o jornalismo aborda a
questão.
Em nossa pesquisa, selecionamos 1995 como ano inicial da reflexão devido a al-
guns fatores, a saber: primeira capa da revista sobre a mudança do clima; realização da
primeira Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, a COP 1 (Berlim,
Alemanha) e divulgação do 2º relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança
do Clima (IPCC). Por sua vez, o ano de 2015 se explica por este coincidir com o mo-
mento inicial de construção do estudo e, além disso, abrigar a COP 21 (Paris, França),
que resultou em um acordo histórico sobre a questão climática. Além desta introdução,
o artigo possui outras três partes: 1) Refletimos sobre algumas perspectivas que discu-
tem a mudança do clima em suas variadas dimensões; 2) Expomos nossos procedimen-
tos metodológicos, explicamos como se dá nossa aderência à Análise de Discurso (AD)
e apresentamos nosso gesto analítico; e 3) Por fim, na última parte, finalizamos o traba-
lho com algumas considerações acerca da investigação.

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A reflexão apresentada neste trabalho é parte integrante de uma Dissertação de Mestrado em andamento.

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2. Uma questão multifacetada

Os efeitos da mudança do clima são reais, concretos e afetam sujeitos em níveis


e circunstâncias distintas. Mas, além de suas manifestações físicas, o fenômeno também
é discursivo (CARVALHO, 2011), uma vez que há uma intensa e constante disputa de
sentidos em torno da questão. Isso significa que a percepção do problema depende ne-
cessariamente da interpretação dos discursos que circulam socialmente.
Conforme Barros e Souza (2010), os temas ambientais ganharam força na socie-
dade nos anos 1980, mesmo que o “ecológico” tenha mobilizado ações políticas pontu-
ais em décadas anteriores. Foi durante o período apontado pelos autores que alguns
acontecimentos alavancaram o meio ambiente como assunto prioritário, conferindo-lhe
um status de preocupação global. A fundação do Painel Intergovernamental sobre Mu-
dança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), em 1988, bem como a convocação da Con-
ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1989, repre-
sentam esforços transnacionais contra o avanço da crise ambiental.
O espaço proeminente que a alteração climática passou a ocupar na instância ci-
entífica e política não foi conquistado subitamente. Como explica Carvalho (2011, p.
23), seu estatuto “desenvolveu-se de modo gradual como resultado de uma multiplici-
dade de reivindicações e debates envolvendo diferentes tipos de actores sociais”. Em
1990, o primeiro relatório do IPCC destacou os possíveis efeitos provocados pelo aque-
cimento global e, desse modo, impulsionou a politização do assunto em encontros inter-
nacionais entre nações e, consequentemente, sua visibilidade nos meios de comunica-
ção, em especial no jornalismo da época.
A ciência, enquanto campo basilar no que se refere à construção social e política
da alteração climática (CARVALHO, 2011), se destaca como uma zona conflitante de
disputas de poder e de sentidos sobre o tema. Nas últimas décadas, o saber científico
concernente ao clima vem buscando se inscrever em um consenso. Atualmente, a maio-
ria dos cientistas reconhece a ocorrência e gravidade do problema. Contudo, ainda exis-
tem pesquisadores que rejeitam a tese hegemônica e, por isso, comumente são denomi-
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nados como céticos. Ao versar sobre esse ponto, Giddens (2010) situa o ceticismo como
força vital da ciência, sendo importante também para a elaboração de políticas públicas.
O autor explica que os céticos não constituem um grupo homogêneo, com perspectivas
e objetivos idênticos, visto que seus argumentos apresentam variados níveis de ceticis-
mo e relacionam-se a dispares tipos de interesses. Da mesma maneira, os cientistas que
contribuem com os relatórios do IPCC se expressam através de possibilidades e proba-
bilidades e não estão livres de divergências entre si no que diz respeito ao entendimento
sobre a mudança do clima (GIDDENS, 2010).
Os vínculos da mudança climática com as bases da estrutura social demarcam
controvérsias em torno da questão, pois as necessárias medidas de adaptação e, princi-
palmente, mitigação estão atreladas à transformação – e até mesmo rompimento – com
tradicionais estilos de vida. As causas do fenômeno têm fortes ligações com atividades e
organizações econômicas muito poderosas, como a indústria petrolífera (CARVALHO,
2011). Por isso, o seu enfrentamento envolve mudar a forma como vivemos, a maneira
como nossas economias funcionam, e até mesmo as histórias que contamos sobre nosso
lugar na Terra (KLEIN, 2014). Além disso, qualquer discussão sobre o assunto precisa
sublinhar o fato de que apesar de dividirem o mesmo planeta, nem todos os países con-
tribuem para alteração do clima da mesma forma.
Embora a maior parte das emissões de gases que causam o fenômeno seja pro-
veniente das nações altamente industrializadas, o seu impacto se fará sentir com mais
intensidade nas regiões mais pobres do mundo (GIDDENS, 2010). Assim, existem dois
principais eixos assimétricos entre os países: um referente à geração e aceleração de
transformações no sistema climático global; e outro que diz respeito à capacidade adap-
tativa perante o problema. Como ressalta Valencio (2010), os povos vulneráveis sofre-
rão os impactos negativos dos eventos extremos com maior intensidade.
Diante dessa conjuntura, marcada por implicações científicas, geopolíticas, eco-
nômicas, culturais e éticas (CARVALHO, 2011), torna-se relevante e necessário refletir
sobre como o jornalismo vem mobilizando e construindo sentidos em relação às varia-
das dimensões do problema. Devido ao caráter complexo e relacional, o meio ambiente
é objeto constante dos discursos de diferentes esferas sociais. Apesar das finalidades e
interesses que singularizam tais dizeres, “é no jornalismo, todavia, que os sentidos são

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atualizados de forma amplificada (SCHWAAB, 2011)”. Nas notícias, reportagens, en-


trevistas e outros formatos, há uma constante atribuição de sentidos à mudança climáti-
ca, onde se reitera a sua urgência e, também, se oferta modos de pensá-la. Dessa manei-
ra, o discurso jornalístico contribui para a manutenção do tema na sociedade, mas não
faz isso sem ser necessariamente atravessado por ideologias, imaginários e vozes cir-
cunscritas em lugares diversos. Ademais, como defende Carvalho (2011), o jornalismo
sempre funciona com base em lógicas e dinâmicas próprias que condicionam a forma
como a mudança climática será construída discursivamente. Há, portanto, uma série de
elementos que afetam a produção dos dizeres, bem como a direção que estes dizeres
acabam tomando no tempo.

3. Caminho metodológico e análise

Neste estudo, nosso olhar se volta especialmente para a discursivização de Supe-


rinteressante sobre a mudança climática entre os anos 1995 e 2015. No primeiro mo-
mento da pesquisa, observamos 259 edições de Superinteressante veiculadas entre janei-
ro de 1995 e dezembro de 2015. Incluímos nesse total as sete edições especiais (verdes)
publicadas no mês de dezembro entre 2007 e 2013. A partir deste primeiro movimento
metodológico, localizamos conteúdos noticiosos (notas, notícias, reportagens) correlatos
ao tema da pesquisa e que se inseriam dentro do período temporal já mencionado. Após
várias releituras, descartamos os relatos jornalísticos que apenas tangenciaram o assun-
to.
Na sequência, elegemos o conteúdo mais representativo de cada ano a partir de
dois critérios: espaço e relevância. Primeiramente, observamos o lugar e a extensão dos
conteúdos na revista, separando os textos curtos das grandes matérias. Privilegiamos as
reportagens de capa ou especiais que versaram sobre a mudança climática de forma
mais central. Em seguida, destacamos os conteúdos que abordaram o fenômeno através
da discussão de suas causas, consequências, riscos e responsabilidades (reconhecendo
que nem todos trataram de todas essas dimensões). Chegamos, assim, ao total de 21
conteúdos relacionados à alteração do clima.

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Com base no material empírico selecionado, buscamos evidenciar os movimen-


tos parafrásticos pertinentes ao objetivo da pesquisa, ou seja, mapeamos regularidades
enunciativas concernentes a variados aspectos da mudança climática. Para tanto, nos
ancoramos na noção de paráfrase, isto é, aquilo que se repete ao longo dos enunciados.
Na perspectiva da Análise de Discurso (AD), o processo parafrástico permite a produ-
ção do sentido através de diferentes formas (ORLANDI, 1993). Por meio da repetição, a
paráfrase busca estabilizar os sentidos, construindo variações do já-dito a partir dos di-
versos posicionamentos dos sujeitos4. Mariani (1998, p.61) sublinha que a interdiscursi-
vidade inerente a qualquer dizer pode “ser reconstruída através da análise dos processos
parafrásticos presentes na cadeia intertextual que vai se construindo ao longo do tem-
po”. Segundo a autora, a paráfrase está diretamente relacionada aos efeitos de homoge-
neização, uma vez que opera na oclusão e demarcação dos sentidos.
Os trechos (recortes) que extraíamos destes 21 conteúdos selecionados constitu-
em nosso corpus e foram agrupados em Redes de Paráfrases (RP), conjuntos de dizeres
que abrigam sentidos que se repetem por meio de diferentes formulações. Toda RP
compõe uma trama discursiva maior, se relacionando com discursos-outros através dos
efeitos da interdiscursividade. As paráfrases, portanto, se atravessam e, muitas vezes, se
complementam. No entanto, cada RP também mantém algo de particular, constituindo-
se como uma visada específica acerca de um objeto do discurso (a mudança climática,
no caso da nossa pesquisa). O funcionamento das redes inclui a repetição de palavras,
expressões e proposições que ofertam sentidos sempre a partir das formações discursi-
vas nas quais são produzidas (PÊCHEUX, 1995)5.
Nosso mapeamento das paráfrases resultou em 343 sequências discursivas
(SDs), que foram agrupadas em dez redes de paráfrases. Posteriormente, observamos
relações entre tais redes de paráfrases através de funcionamentos, expressões, ordens e
pressupostos. Com o auxílio de nossa revisão bibliográfica, reunimos tais redes em qua-

4
Além do funcionamento parafrástico, há também o processo polissêmico, reconhecido como aquilo que
é da ordem do deslocamento e da ruptura dos processos de significação (ORLANDI, 2005). O sentido se
constitui a partir do tensionamento entre a paráfrase e a polissemia.
5
Com base neste autor, entendemos a Formação Discursiva como aquilo que pode e deve ser dito a partir
de uma posição e conjuntura dada. Trata-se de uma região razoavelmente delimitada de sentidos que
correspondem a uma determinada perspectiva ou ideologia (BENETTI, 2016).

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tro núcleos discursivos (ND)6 que circunscrevem a mudança climática como “tipos de
problema” específicos. São eles: (ND1) Problema Concreto; (ND2) Problema Antropo-
gênico; (ND3) Problema Controverso; e (ND4) Problema Desigual.

Tabela (1) – Discursivização de Superinteressante sobre a mudança climática

Núcleo Discursivo Rede de Paráfrases (RP) Sequências Discursivas


(ND) (SD)

(RP1) O futuro pode ser pior 71

(ND1) (RP2) Fatos comprovam o perigo 69


Problema Concreto
(RP3) Há custos econômicos 21

Subtotal: 161 (47%)

(RP4) A culpa também é nossa 48


(ND2)
Problema Antropogêni- (RP5) É possível e preciso agir 33
co

(RP6) Questionando o ceticismo 28

Subtotal: 109 (32%)

(RP7) Ainda não há certeza 31

(ND3) (RP8) Algumas visões são exageradas 14


Problema Controverso
(RP9) Os cientistas divergem 10

Subtotal: 55 (16%)

(ND4) (RP10) Assimetrias entre nações 18


Problema Desigual
Subtotal: 18 (5%)

Fonte: autoria própria

6
Compreendemos os núcleos discursivos como conjuntos que reúnem determinadas construções de senti-
dos a partir de reiterações de dizeres (processos parafrásticos). Os núcleos não são assumidos aqui como
sinônimos de formações discursivas, uma vez que cada núcleo pode congregar dizeres que se inscrevem
em FDs diferentes e, por vezes, até mesmo conflitantes.

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A tabela supracitada resume nosso mapeamento das redes de paráfrases sobre a


mudança climática em Superinteressante, assim como ilustra de que modo agrupamos
tais redes em núcleos discursivos. É importante ressaltar que, em nossa análise, alguns
enunciados aparecem como pertencentes a diferentes sequências discursivas de redes e
núcleos distintos. Isso evidencia o entrecruzamento de sentidos entre as paráfrases, visto
que seus dizeres podem se atravessar por meio de alianças ou conflitos a partir de um
mesmo enunciado. Nossa contabilização das ocorrências, portanto, não considera a so-
ma final de enunciados extraídos dos 21 conteúdos e sim o total de sequências discursi-
vas identificadas.
A seguir, refletimos sobre os núcleos discursivos e suas respectivas redes de pa-
ráfrases, reconhecendo as formações próprias de cada discurso e acompanhando de mo-
do problematizado e historicizado sua evolução no tempo (BENETTI, 2016). Explica-
mos como cada rede se constitui e apresentamos uma sequência discursiva ilustrativa
para exemplificar nossa demarcação dos processos parafrásticos. Destacamos em negri-
to os trechos das sequências onde há marcas discursivas que reforçam determinada
construção de sentido de maneira mais significativa.

(ND1) Problema Concreto

Este núcleo discursivo é o predominante na discursivização de Superinteressante


e corresponde a 47% do total das ocorrências. Engloba três redes de paráfrases que se
referem à concretude, gravidade e urgência da mudança climática. As paráfrases evi-
denciam o potencial do problema no que se refere ao engendramento e articulação de
riscos em diferentes âmbitos da sociedade. Neste núcleo, as consequências da alteração
no clima são reiteradas, tanto as antevistas pela ciência, quanto às já ocorridas social-
mente. As evidências do fenômeno são apresentadas como um contraponto às perspecti-
vas céticas ou indiferentes. O predomínio destas paráfrases na discursivização da revista
dá a ver, até certo ponto, o alarmismo e o catastrofismo como elementos recorrentes nos
dizeres de Superinteressante sobre a mudança climática. Nas construções discursivas,
observamos que a problemática do clima é posicionada como questão imprescindível a

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ser discutida por congregar efeitos socialmente indesejáveis, tais como destruições, per-
das econômicas, doenças e mortes.

Tabela (2) – (ND1) Problema Concreto

Rede de paráfrases SD exemplar


(RP1) O Futuro pode ser pior: Superinteres- (SD01) O aumento de emissão de gases na
sante enfatiza previsões científicas que trazem atmosfera coincide com um aumento médio
impactos drásticos para a humanidade. A partir na temperatura global de 0,6 graus Celsius
de prognósticos de especialistas, a revista cons- nos últimos seis anos. Entre outras conse-
trói sentidos sobre múltiplos efeitos da altera- quências, teme-se que a alta temperatura
ção do clima, incluindo desde o aumento da marinha aumente o poder destrutivo de
temperatura média do planeta Terra e o derre- furacões como os que costumam passar
timento de geleiras, até conflitos pela escassez pelos EUA. (SUPER, ed. 103. Abr. 1996).
de água, fome e epidemias.
(RP2) Fatos comprovam o perigo trabalha (SD02) A temperatura média do planeta su-
com a memorização de impactos já percebidos biu 0,7C no último século. Nas últimas dé-
socialmente, isto é, consequências já concreti- cadas, geleiras tidas como eternas começa-
zadas em diversos ambientes. Tal rede parafrás- ram a derreter, enchentes e secas se torna-
tica ressalta, entre outros efeitos, os eventos ram mais violentas, ondas de calor mata-
catastróficos que vem acontecendo em diferen- ram milhares e um furacão fez sua estréia
tes regiões do mundo, citando, algumas vezes, no Brasil. (SUPER, ed. 218, out. 2005).
fatos ocorridos no Brasil.
Em (RP3) O problema gera custos econômi- (SD03) Em 2005, quando varreu a costa dos
cos, notamos a construção de dizeres que se EUA, o Katrina causou prejuízos de mais
referem aos fatores de ordem econômica liga- de US$ 100 bilhões. De onde ele saiu, virão
dos à adaptação e mitigação da alteração climá- outros mais poderosos. Os furacões (nome
tica. A publicação destaca os custos financeiros usado no Atlântico) e tufões (nome usado
para o enfrentamento do fenômeno e vincula principalmente no Pacífico) estão se fortale-
desastres e catástrofes a grandes prejuízos cendo. (SUPER, ed. 290, abr. 2011).
econômicos.
Fonte: autoria própria

Os sentidos mobilizados pelas três redes de paráfrases mantêm relações com


inúmeros acontecimentos sociais ocorridos nas últimas décadas. O derretimento das
geleiras, recordes nas temperaturas em diversas regiões do mundo e eventos climáticos
como o furacão Katrina, que atingiu o litoral sul dos Estados Unidos, em 2005, são ape-
nas alguns exemplos. Também é importante pensar os enunciados do (ND1) em suas
relações históricas com outros fatores, incluindo a divulgação dos relatórios do IPCC e

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os encontros internacionais de discussão sobre o tema. Em várias ocorrências tais episó-


dios foram mencionados pela revista.
Ao refletir sobre a compreensão pública em relação ao fenômeno do clima,
Giddens (2010, p.31) sustenta que “o medo e a angústia não são necessariamente bons
motivadores, especialmente quando os riscos percebidos são abstratos ou constituem
perigos vistos como distantes”. Ainda conforme o autor, os efeitos negativos atrelados à
mudança climática compõem apenas um conjunto de tantas outras preocupações na vida
das pessoas. Além disso, os discursos alarmistas, marcados pelo exagero na exposição
de aspectos impactantes, podem conduzir atitudes de descrença ou apatia diante do pro-
blema (CARVALHO, 2011).
A partir da rede de paráfrases correspondentes a este núcleo, os sentidos constru-
ídos não reforçam somente a “fúria da natureza” através da referência aos desastres e de
suas respectivas perdas humanas e econômicas. Algumas SDs inclusas neste núcleo de
sentidos se dirigem a eventos de ocorrência mais lenta, mas também danosos e preocu-
pantes, como a modificação no ciclo de plantações e na época de acasalamento de ani-
mais. Ou seja, no decorrer de sua discursivização sobre a mudança do clima, Superinte-
ressante (re) produz uma variedade de enunciados concentrados nas consequências di-
versas do problema, reafirmando, assim, sua concretude.

(ND2) Problema Antropogênico

Tal núcleo discursivo é o segundo mais recorrente (32%) na discursivização de


Superinteressante e constitui-se por dizeres relacionados ao reconhecimento do caráter
antropogênico do problema, bem como das maneiras para enfrentá-lo através de medi-
das mitigação e adaptação. A partir do (ND2), a revista assume a mudança climática
como um problema vinculado as ações do ser humano, especialmente no que concerne
aos modos de produção e consumo predominantes no mundo contemporâneo. Assim, as
redes de paráfrases dão a ver as relações diretas – e muitas vezes silenciadas em outros
discursos – entre o comportamento do homem e os efeitos na saúde planetária. O fator

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antropogênico é apresentado pela revista como um motivo para o reconhecimento social


do problema, assim como para tomadas de decisões e iniciativas para enfrentá-lo.

Tabela (3) – (ND2) Problema Antropogênico

Rede de paráfrases SD exemplar


Em (RP4) A culpa também é nossa, a publi- (SD04) Outra pesquisa, feita dois anos de-
cação evidencia que o desequilíbrio climático pois, mostrou que todas as causas naturais
não se deve apenas a causas naturais, destacan- somadas não teriam a força suficiente para
do tanto os hábitos de consumo no cotidiano, levar às alterações que estamos observan-
como também os próprios sistemas econômicos do no clima. Ou seja, cabe mesmo à huma-
que se baseiam na exploração insustentável de nidade tomar uma providência. (SUPER, ed.
recursos naturais. 218, out. 2005).

É possível e preciso agir (RP5): ações de (SD05) As empresas podem plantar flores-
adaptação e mitigação frente à mudança do tas para compensar as chaminés, as pessoas
clima são ressaltadas pela revista como essenci- podem trocar as lâmpadas convencionais
ais. Superinteressante, portanto, elenca medidas por modelos mais econômicos, você pode
que diferentes sujeitos – cidadão, setor privado substituir o carro pela bicicleta... Podemos
e Estado – podem e devem adotar e cita exem- até formar fila para ver o filme do Al Gore.
plos de iniciativas e projetos que visam ameni- Tudo isso é lindo e precisa ser feito. (SU-
zar os impactos do problema. PER, ed. 260, dez. 2008)
Questionando o ceticismo (RP6) abriga reite- (SD06) Testes de laboratório mostram que
rações de sentidos que questionam e, por vezes, uma variação pequena na quantidade de CO2
criticam as perceptivas céticas sobre a mudança da atmosfera seria efetivamente suficiente
climática. Tal RP assume a concretude do fe- para causar um aumento na temperatura, e
nômeno e destaca a relevância das pesquisas modelos cada vez mais apurados indicam
científicas que apresentam a alteração do clima uma relação diretamente proporcional
como uma questão real, urgente e relacionada entre o aumento dos gases do efeito estufa
às ações humanas. e a intensificação do aquecimento. Ponto
para o consenso (SUPER, ed. 239, maio.
2007).

Fonte: autoria própria

Fatores antropogênicos ligados à alteração do clima foram percebidos de modo


mais explícito, sobretudo, a partir dos enunciados inscritos em (RP4) A culpa também
é nossa. Observamos que a sua ocorrência localiza-se em quase todos os anos abarcados
pelo nosso estudo, tendo seu auge entre 2002 e 2007. É importante pontuarmos que,
neste conjunto de paráfrases, os sentidos da ação humana como causa são formulados de

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modos variados. Em alguns momentos, a revista explicitamente atribui a culpa do pro-


blema ao comportamento e estilo de vida do ser humano. Nesses casos, ganham força
dizeres como “queimamos petróleo e carvão” e “estamos lançando CO2 demais na at-
mosfera”.
Superinteressante aponta a poluição de gases do efeito estufa das grandes empre-
sas, mas também situa a questão em um plano mais individual, trazendo a responsabili-
dade para o cidadão, sobretudo, a partir de enunciados de (RP5) É possível e preciso
agir. Logo, determinados estilos de vida são reiterados pela revista como ideais, dentre
eles: trocar as lâmpadas convencionais por modelos mais econômicos e preferir o uso da
bicicleta em detrimento do carro. Apesar de estes pequenos atos serem importantes, é
preciso ressaltar que nenhuma abordagem essencialmente baseada na privação dará re-
sultado (GIDDENS, 2010).
A argumentação em torno da autenticidade do fenômeno a partir de (RP6) Cri-
ticando o ceticismo, foi observada somente a partir dos anos 2000, tendo seu pico de
incidências na metade desta década. Nesta rede de paráfrases, Superinteressante destaca
as falhas e os equívocos presentes em algumas pesquisas e nos argumentos de agentes
públicos céticos. As perspectivas de negação do problema não se restringem aos discur-
sos de cientistas, já que vários empresários do setor privado e autoridades públicas tam-
bém adotam esse ponto de vista. Como explica Klein (2014), ações que poderiam evitar
catástrofes estacionam nas ameaças que elas trazem a uma elite minoritária que domina
a nossa economia, nosso processo político e até nossos grandes meios de comunicação.

(ND2) Problema Controverso

Neste terceiro núcleo discursivo (16%), observamos Superinteressante construir


dizeres que situam a mudança climática como uma questão permeada por interrogações
e, por vezes, enganos. A revista sublinha especialmente a falta de consenso, os questio-
namentos ainda sem respostas, as recorrentes controvérsias e as interpretações alarmis-
tas e confusas acerca do problema. Dessa forma, sua discursivização sobre o tema as-
sume uma direção diferente dos núcleos observados anteriormente, uma vez que se vol-

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ta especialmente para a discussão sobre a veracidade e seriedade de inúmeros aspectos


correlatos ao problema.

Tabela (4) – (ND3) Problema Controverso

Rede de paráfrases SD exemplar


(RP7) Ainda não há certeza: os dizeres são (SD07) Se os modelos climáticos estiverem
formulados em torno das imprecisões e incerte- certos, a tendência é que fenômenos como
zas científicas referentes a vários aspectos da esse voltem a se repetir mais e mais vezes.
mudança do clima, como por exemplo, a subida Mesmo assim, não há como traçar a cadeia
dos mares e a relação entre as transformações exata de eventos que liga o aquecimento
no ciclo da atividade solar com o aumento da global a esse episódio em particular. (SU-
temperatura global. PER, ed. 330, mar, 2014)

(RP8) Algumas visões são exageradas: Supe- (SD08) A imprensa sensacionalista gosta
rinteressante constrói sentidos sobre o exagero de exageros: milhões morrendo de sede, os
de algumas visões e representações em torno da gelos da Antártida derretendo e inundando
mudança do clima. A publicação destaca a ma- meio mundo. Cuidado: não é preciso uma
neira exagerada e desproporcional que a im- mudança tão grande para prejudicar, e
prensa, o cinema e outras instâncias conferiram muito, a economia, a agricultura e o coti-
a determinados aspectos do fenômeno. diano. (SUPER, ed. 93. Jun. 1995)

(RP9) Os cientistas divergem: a revista cons- (SD10) Uns sustentam que é uma febrinha
trói sentidos que são concernentes à discordân- de nada, quem sabe um sintoma natural,
cia de opinião entre pesquisadores. Os enuncia- como aquela elevação de alguns graus que
dos evidenciam ambiguidades e controvérsias todo mundo tem no final da tarde. Outros
que dizem respeito a diferentes questões da acham que a temperatura está se esten-
problemática do clima, como a ação antropogê- dendo por muito tempo e pode esconder
nica e as consequências do aquecimento global. uma infeção mortal. (SUPER, ed. 124, jan.
1998)

Fonte: Autoria própria

Apesar de resguardarem especificidades, (RP7) Ainda não há certeza e (RP9)


Os cientistas divergem possuem características bem similares. Enquanto uma rede de
paráfrases trata das interrogações do conhecimento científico em relação à mudança
climática, a outra sinaliza as discordâncias existentes entre os cientistas que estudam o
fenômeno. Ambas, porém, situam a ciência como uma esfera do saber em permanente
construção, com dilemas e questionamentos de várias ordens.
Ao discutir as ambiguidades do conhecimento científico, Carvalho (2011) lem-
bra que a incerteza é um componente normal do processo de investigação, sendo associ-

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ada ao rigor e à objetividade. No entanto, quando reverberada por outros domínios, co-
mo o político e também o jornalístico, tal aspecto pode ser reduzido a dois extremos: a
opção pela inação, quando a falta de certeza é enfatizada ou a ação, no qual a incerteza é
suspensa. No caso de Superinteressante, observamos que estas duas redes parafrásticas
mencionadas amplificam a discussão sobre a concretude do fenômeno, pois congregam
dizeres que expõem os impasses e as objeções entre especialistas no assunto.
Por outro lado, em (RP8) Algumas visões são exageradas, a revista adota um
tom mais cauteloso e ponderado para refletir sobre o que vem sendo dito em relação ao
assunto a partir de outros lugares. No entanto, as abordagens que a revista examina e até
parece reprovar (dizeres alarmistas e catastrofistas) vão ao encontro do que ela mesma
realiza em maior parte de sua discursivização, como foi observado em (ND1) Problema
Concreto. Nos anos 1990, a crítica ao exagero dirige-se, sobretudo, às representações
cinematográficas e à cobertura jornalística de outros veículos da época. Já as ocorrên-
cias mais recentes desta rede de paráfrases dizem respeito, especialmente, aos cenários
apocalípticos ilustrados pela mídia no ano de 2007, período da divulgação do 4º relató-
rio do IPCC.

(ND4) Problema Desigual

Nosso quarto núcleo discursivo é constituído apenas pela (RP10) Assimetrias


entre nações. A partir dela, Superinteressante sublinha a maior responsabilidade das
nações desenvolvidas no que diz respeito às medidas de adaptação e mitigação e tam-
bém torna visíveis as vulnerabilidades dos países mais pobres.

Tabela (5) – (ND4) Problema Desigual

(RP10) Assimetrias entre nações: os dizeres (SD10) Na África subsaariana, onde mi-
da revista buscam salientar as diferenças entre lhões vivem da agricultura de subsistência,
as nações desenvolvidas e altamente industria- isso seria uma tragédia. Mas não nos paí-
lizadas dos países ainda em desenvolvimento, ses ricos, onde os recursos permitem comprar
destacando questões como capacidade de adap- comida, erguer diques ou abrir frentes agríco-
tação e mitigação. las rapidamente (SUPER, ed. 173, fev. 2002).

Fonte: autoria própria

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As sequências discursivas da (RP10) trabalham a questão a partir de uma di-


mensão macro, na qual discutem fatores como culpa e responsabilidade através das dife-
renças políticas, econômicas e sociais entre países. Nesse contexto, alguns aspectos es-
truturais da sociedade emergem na discursivização de Superinteressante. A mudança
climática passa a ser apresentada como um fenômeno de caráter contraditório e injusto,
já que quanto mais as nações crescem economicamente, mais consequências negativas
acompanham esse “desenvolvimento”. Ao trazer essa perspectiva para seus enunciados,
notamos que a publicação reforça também as “distinções significativas entre os que pro-
duzem os riscos e os que estão mais expostos aos mesmos” (VALENCIO, 2010, p.4).
Neste núcleo, portanto, Superinteressante reitera que a mudança do clima afeta a todos,
mas em circunstancias e níveis diferentes.

Algumas considerações

Compreender como o discurso jornalístico constrói e movimenta sentidos sobre


a mudança climática ao longo de determinado período temporal requer algumas premis-
sas e ações. Primeiramente, é necessário olhar para outros lugares, ou seja, para além
das marcas visíveis nos produtos jornalísticos. Assim, passamos a ter acesso a um vasto
quadro de perspectivas concernentes ao fenômeno e assimilamos com mais clareza co-
mo o problema surge, se mantém e evolui através dos discursos de diferentes sujeitos da
sociedade.
O discurso jornalístico é essencialmente dirigido por vontades outras, da ordem
da enunciação, anteriores ao dizer do aqui e agora (SCHWAAB, 2011). Por isso, o con-
texto social da questão precisa ser considerado, já que ele não é um mero adjetivo, mas
sim parte constitutiva e inseparável do discurso (ORLANDI, 2005). No caso da mudan-
ça do clima, vários sentidos mobilizados pelas notícias e reportagens são originários das
arenas científicas, políticas, econômicas, entre outras. Devido à sua identidade e linha
editorial, na maior parte das vezes, Superinteressante recorre ao conhecimento construí-
do pela ciência. Tal característica, além de conformar os conteúdos produzidos pela

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revista, fornece pistas sobre os espaços e valores que a mudança climática adquire em
sua discursivização.
A condição de questão atual e cientificamente relevante favorece a permanência
habitual (não fixa) da alteração do clima nas páginas de Superinteressante. Em escalas
diferenciadas, outros episódios também influenciam, sobretudo, as catástrofes e os
eventos políticos de discussão referentes ao assunto. Contudo, não se trata de uma rela-
ção direta de causa-efeito e sim de elementos que compõem as condições de produção
do discurso da revista sobre a mudança climática. Tal exterioridade constitui o próprio
processo parafrástico sobre o tema, como observamos a partir de nosso gesto interpreta-
tivo. As redes de paráfrases, desse modo, reiteram sentidos sobre diferentes dimensões
do fenômeno, movimentando e atualizando uma série de já-ditos.

Referências

BARROS, Antônio Teixeira de; SOUSA, Jorge Pedro. Jornalismo e ambiente: análise de
investigações realizadas no Brasil e em Portugal. Porto: Edições Universidade Fernando Pes-
soa, 2010.

BENETTI, Márcia. Análise de discurso como método de pesquisa em comunicação. In:


MOURA, Cláudia Peixoto de Moura; LOPES, Maria Immacolata Vassalo de (Org.) Pesquisa
em comunicação – métodos e práticas acadêmicas. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2016.

CARVALHO, Anabela. (org). As alterações climáticas, os media e os cidadãos. Coimbra:


Gracio Editor, 2011.

FLANNERY, Tim. Os Senhores do Clima. Rio de Janeiro: Record, 2007.

GIDDENS, Anthony. A política da mudança climática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010

KLEIN, Naomi. This Changes Everything: Capitalism vs. Climate. Canadá: Knopf, 2014.

IPCC - PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCA CLIMATICA, versão em


português. Mudança do Clima 2007: A Base das Ciências Físicas Contribuição do Grupo de
Trabalho I ao Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do
Clima. Ecolatina: 2007.

MARIANI, Bethania. O PCB e a imprensa: os comunistas no imaginário dos jornais (1922-


1989). Rio de Janeiro: Revan; Campinas: Editora da Unicamp, 1998.

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ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. Campinas,


SP: Pontes, 2005.

PÊCHEUX, Michael. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 2ed. Campi-
nas: Ed. Unicamp, 1995.

SCHWAAB, Regis Toni. Uma ecologia do jornalismo: o valor do verde no saber dizer das
revistas da Abril. Tese de Doutorado em Pós-Graduação em Comunicação e Informação, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011.

VALENCIO, Norma. Da morte da Quimera à procura de Pégaso: A importância da interpreta-


ção sociológica na análise do fenômeno denominado desastre. IN: VALENCIO, Norma; SIE-
NA, Mariana; MARCHEZINI, Victor; GONÇALVES, Juliano Costa (orgs.). Sociologia dos
desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil. São Carlos: RiMa Editora, 2010.

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