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A força oculta de quem controla os nossos dados.

Artigo de Evgeny Morozov - Instituto Humanitas Unisinos - IHU 01/10/2018 15(37

A força oculta de quem controla


os nossos dados. Artigo de
Evgeny Morozov
Revista ihu on-line
30 Janeiro 2018

Cada vez mais, alguns gigantes mundiais se especializam na coleta de


informações. O fenômeno tem importância no plano comercial, mas
também afeta a esfera política e o funcionamento das democracias.

A opinião é do pesquisador e escritor bielorrusso Evgeny Morozov, em


artigo publicado por La Repubblica, 24-01-2018. A tradução é de
Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Em primeiro lugar, a boa notícia: na aurora da terceira década do século


XXI, a lógica operacional da economia digital finalmente está se tornando
mais fácil de decifrar. As principais atividades dos gigantes digitais, tanto
nos Estados Unidos quanto na China – os únicos dois países que
realmente assumiram o controle desse novo setor – giram em torno
daquilo que eu defino como “mineração de dados”, ou seja, o esforço de
extrair, elaborar, coletar e agir sobre a maior quantidade de dados possível
provenientes de todas as partes do mundo, os nossos dados, porque é disso
que se trata.

A má notícia? Sem um esforço sustentado e liderado pela Europa para


reverter essa lógica baseada na “mineração de dados”, o resto do século
poderia ser bastante desagradável. Infelizmente, não podemos nos dar ao
luxo de um tecnopessimismo ou de um romantismo nostálgico que se

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destrói para viver em uma era mais simples.

Ao contrário, devemos reconquistar aqueles mesmos reservatórios de


dados para desenvolver modelos sociais, econômicos e políticos que sejam
menos propensos a gerar uma desigualdade de renda, que invertam a
tendência que vê os cidadãos comuns cada vez mais distantes da política e
que reduzam a crescente vulnerabilidade da empresa que se encontra cada
vez mais dependente das incessantes atividades dos gigantes digitais, o
único setor, muito mais do que os bancos, que se tornou “too big to fail”,
grande demais para falhar.

Para que essas intervenções podem ser eficazes, devemos entender melhor
o que está na base da mineração de dados do mundo moderno. (...)

O impulso inicial era essencialmente pragmático e ligado aos primeiros


modelos de negócios daquelas empresas: Google e Facebook precisavam de
mais dados sobre seus clientes para melhorar o target dos seus anúncios,
enquanto a Amazon precisava deles para aconselhar melhor os produtos
que podiam ser potencialmente interessantes. (...)

Tudo isso mudou depois, porque esses mesmos dados podiam ser
utilizados para desenvolver e aperfeiçoar uma abordagem de inteligência
artificial particularmente “data-intensive”, ou seja, a do “deep learning”.
Seu princípio fundamental é bastante simples: quanto mais dados –
áudios, vídeos ou imagens – forem inseridos no sistema, melhor será esse
sistema ao classificar tais dados até criar autonomamente, após um certo
período de tempo, tipologias de dados completamente novos e
semelhantes. (...)

E é aqui que os gigantes digitais entenderam que, tendo acumulado todos


aqueles dados, estavam sentados em uma mina de ouro.

A última década – o início da era da mineração de dados – não foi


desprovida de algumas vantagens importantes para os cidadãos, os

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governos e as empresas não tecnológicas. Não foi tudo tão sombrio e hostil.
Muitas coisas se tornaram gratuitas ou muito mais econômicas, já que
foram financiadas pelos gigantes da tecnologia interessados em extrair os
dados gerados por tais atividades ou por venture capitalists desejosos de
derrubar empresas ou setores industriais já consolidados, substituindo-os
por startups mais ágeis. (...)

Mas, junto com essas vantagens, os aspectos negativos da mineração de


dados também ficaram evidentes. Em primeiro lugar, o modelo atual
endossa um acordo implícito relativo a quem está autorizado a inovar nas
grandes questões: tratar o câncer, prolongar a vida, gerenciar carros
autônomos. (...)

Em outras palavras, apesar de todos os belos discursos sobre a


democratização da inovação, o trabalho sério sobre projetos significativos
está nas mãos de poucos, e assim será até que estes últimos controlem o
acesso aos principais recursos da economia digital. (...)

Em segundo lugar, a imensa poupança econômica obtida ao delegar


responsabilidades para as grandes empresas tecnológicas – um processo
que será acelerado pelo desenvolvimento da inteligência artificial – poderia
produzir resultados opostos, já que as vulnerabilidades já existentes nos
sistemas de segurança de informática serão ainda mais exploradas. (...)

No entanto, o ecossistema das startups nascidas em torno de tecnologias


como a Internet das Coisas se baseia mais na ganância do que na
prudência – um fato que ficará evidente quando todos os dispositivos
online se revoltarem contra nós e exigirem um resgate.

Como terceiro ponto, o atual regime da “mineração de dados” abre


tantas tentações que, diante da atual avalanche de problemáticas políticas e
sociais a serem enfrentadas, muitos políticos não seriam capazes de
resistir. Tomemos a questão da segurança informática: em vez de repensar
radicalmente por que persiste o problema e como ele pode estar

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relacionado com as premissas da economia digital, a reação mais provável


seria seguir o convidativo chamado da Microsoft e dos outros gigantes
digitais e aprovar uma espécie de Convenção de Genebra do digital,
segundo o qual a melhor forma de nos proteger das vulnerabilidades das
empresas de tecnologia é... comprar ainda mais serviços das empresas de
tecnologia, mas daquelas que estejam mais bem equipadas em nível de
inteligência artificial e de análise de dados em tempo real, para evitar os
principais ataques cibernéticos. Mas essa é a solução certa, considerando a
lacuna entre os cidadãos e aqueles que os governam? Ao contrário, isso só
fomentará ainda mais a raiva populista.

Além disso, a quantidade de dados coletados sobre o comportamento


individual e a imensa plasticidade deste último, considerando-se o número
infinito de “incentivos” que poderiam ser criados enquanto os nossos
vários assistentes inteligentes aprendem a conhecer e explorar as nossas
vulnerabilidades psicológicas, podem dar um notável impulso à ala
tecnocrática dos governos, ou seja, aqueles que pregam as virtudes do
“nudging” e de outras intervenções baseadas na economia
comportamental.

Independentemente dos méritos científicos, tais programas correm o risco


de confirmar as suspeitas das forças antiestablishment (e dos seus
eleitores) segundo as quais o show é dirigido por tecnocratas ansiosos por
implementar seus programas.

As opções para a Europa não são tão numerosas: ela pode aumentar ainda
mais a sua dependência da “mineração de dados”, beneficiando-se das suas
inúmeras vantagens, pelo menos enquanto durarem. (...)

A outra possibilidade é enfrentar de peito aberto a questão, dar-se conta de


como a “mineração de dados” é importante para o futuro da Europa e sua
economia, e utilizar a democratização do acesso aos dados – que exigiria
fortes intervenções tanto da Comissão Europeia quanto dos governos
nacionais – para enfrentar também outros problemas, das startups
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excluídas da possibilidade de inovar através de projetos verdadeiramente


ambiciosos para os cidadãos que se sentem longe de uma política
dominada por forças que sentem que não podem controlar.

Se a Europa jogar bem suas cartas, sua luta contra a “mineração de


dados” poderia ser uma bênção disfarçada.

Leia mais

Cidadania vigiada. A hipertrofia do medo e os dispositivos de controle.


Revista IHU On-Line, Nº 495
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