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PUBLICADO EM SESSÃO

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 109-09.2012.6.26.0148 - CLASSE 32 -


ELDORADO - SÃO PAULO

Relator originário: Ministro Dias Toifoli


Redatora para o acórdão: Ministra Nancy Andrighi
Recorrente: Valmir Beber
Advogados: Waldir Sinigaglia e outros
Recorridos: Coligação Unidos Faremos Mais (PTB/DEM/PP/PDT/PRJPSB/PV)
e outro
Advogados: Edward José Mariano Pereira Mancio e outro
Recorrida: Coligação Estamos Juntos: Mudança com Responsabilidade
Advogada: Leila Adriana Caliari
Recorrido: Ministério Público Eleitoral

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES


2012. PREFEITO. REGISTRO DE CANDIDATURA.
DOMICÍLIO ELEITORAL E FILIAÇÃO PARTIDÁRIA.
CIRCUNSCRIÇÃO DO PLEITO. EXIGÊNCIA MÍNIMA DE
UM ANO ANTES DA ELEIÇÃO. NÃO ATENDIMENTO.
DESPROVIMENTO.
1. Consoante o entendimento desta Corte e o disposto
nos arts. 12, caput, e 27, § 1 1 , da Res.-TSE 23.37312011
- que regulamentam o art. 9 0 da Lei 9.504197 - o
candidato deverá possuir domicílio eleitoral e estar com a
filiação deferida pelo partido político, na respectiva
circunscrição, no prazo mínimo de um ano antes do
pleito, sendo esses requisitos aferidos a partir dos dados
constantes do cadastro eleitoral.
2. Na espécie, o recorrente transferiu sua inscrição
eleitoral do Município de Apiúna/SC para o Município de
Eldorado/SP - localidade na qual requereu seu registro
de candidatura - somente em 14.10.2011, isto é, faltando
menos de um ano para as Eleições 2012. Ademais, a su
filiação ao Diretório MuniciDal do PMDB de Eldorado/SP
também ocorreu apenas na referida data.

REspe n° 109-09.2012.6.26.01481SP 2

3. Recurso especial eleitoral a que se nega provimento.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por


maioria, em desprover o recurso, nos termos das notas de julgamento.
Brasília, 17 de dezembro de 2012.

MINIST., t N:ANCY AND GH1 RED TORA PARA 0 ACÓRDÃO


REspe no 109-09.2012.6.26.0148/SP 3

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: Senhora Presidente,


trata-se de recurso especial interposto por Valmir Beber (fis. 355-368) contra
acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE/SP) que, em sede
recursal, reformou a decisão de primeiro grau e indeferiu o seu registro de
candidatura devido à ausência de comprovação de domicílio eleitoral e de
filiação partidária na circunscrição do pleito com antecedência de um ano.

O acórdão possui a seguinte ementa (fis. 347-348):

RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.


ELEIÇÕES 2012. CARGO DE PREFEITO. SENTENÇA QUE
JULGOU IMPROCEDENTE AS IMPUGNAÇÕES OFERTADAS
CONTRA O PRETENDENTE AO CARGO DE PREFEITO E
DEFERIU O REGISTRO DE CANDIDATURA DA CHAPA
MAJORITÁRIA. AUSÊNCIA DE DOMICÍLIO ELEITORAL E DE
FILIAÇÃO PARTIDÁRIA NO MUNICÍPIO COM ANTERIORIDADE
DE UM ANO DO PLEITO. REJEITA-SE A PRELIMINAR DE
CERCEAMENTO DE DEFESA E DÁ-SE PROVIMENTO AOS
RECURSOS.
1. Não vinga a preliminar de ofensa ao contraditório. Nada
obstante os impugnantes não tenham se manifestado sobre os
documentos que instruíram a contestação, não houve prejuízo a
ensejar a nulidade da sentença, porquanto as teses serão
examinadas por esta Corte no julgamento deste recurso.
2. Para o deferimento do pedido é indispensável que o
pré-candidato comprove a inscrição eleitoral na circunscrição há, no
mínimo, um ano antes do pleito. E incontroverso nos autos que o
recorrido somente requereu transferência em 14/10/11, ou seja, após
07110/11, prazo limite para a prática do ato.
3. O recorrido era filiado ao PMDB de Apiúna/SC desde 3016111,
porém, somente se filiou ao PMDB de Eldorado/SP na data em que
requereu a transferência de sua inscrição eleitoral para esse
Município, ou seja, em 14/10/11. Logo, não cumpriu a exigência de
filiação na circunscrição anterior a um ano.
4. Ausente [sic] as condições de elegibilidade, de rigor o
indeferimento do registro.
5. Parecer da douta Procuradoria Regional Eleitoral pela reforma
da sentença que deferiu o registro de candidatura.
6. Rejeita-se a preliminar e dá-se provimento aos recursos para
reconhecer o não cumprimento das condições de elegibilidade por
Valmir Beber, pretendente ao cargo de prefeito do Município de
Eldorado, e, por conseguinte, indeferir o registro da chapa majoritária
integrada por ele e por Sidney Santana e Silva, pré-candidat&q
cargo de vice-prefeito.
REspe n° 109-09.2012.6.26.01481SP 4

O recorrente formula as seguintes alegações:

a) "Valmir Beber notificado, apresentou contestação, juntou


documentos idôneos, em síntese, alegou e provou possuir residência e
domicílio na comarca de Eldorado, ter vínculos com a comarca de Eldorado, há
mais de 5 (cinco) anos, notadamente, por se tratar de empresário que se ativa
como produtor na comercialização de frutas, possuidor de várias propriedades
em áreas rurais, proprietário de imóvel residencial na zona urbana da comarca,
mantendo conta bancária em agência situada na comarca, de molde a
comprovar vínculos, negócios e propriedades na comarca de Eldorado/SP"
(fl. 357);

b) foi comprovada sua filiação partidária ao Partido do


Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) junto ao Diretório de Apiúna/SC
desde 30 de junho de 2011, há mais de um ano do pleito, nos termos do art. 90
da Lei n° 9.504197;

c) em nosso sistema jurídico não existe uma hierarquização


acerca das provas produzidas em juízo, sendo dever do julgador analisá-las e
levar em consideração aquelas que demonstrem com maior clareza a realidade
dos fatos;

d) "[ ... ] restou comprovado que nos autos que o candidato


realizou a transferência do seu domicílio eleitoral em 14.10.2011, portanto, 100
(cem) dias anteriores às eleições conforme estabelece o art. 55, § l O, inciso 1
do Código Eleitoral [sic]" (fI. 361);

e) "[ ... ] se a transferência do domicílio eleitoral do recorrente


tivesse sido realizado e processado de forma irregular, ou seja, ao arrepio das
normas estabelecidas pelo art. 67, do Código Eleitoral e art. 91, da Lei
no 9.504/97, certamente a Justiça Eleitoral não teria sequer, admitido e
procedido a transferência de seu domicílio eleitoral [sic]" (fl. 361);

f) a transferência foi deferida em 14.10.2011 e imediatamente


publicada na Imprensa Oficial da capital e em cartório nas demais localidades,
nos termos do art. 57, do Código Eleitoral, e tal decisão não foi impugnada;

g) não se trata de matéria fática, mas, sim, jurídica, relativa


definição do domicílio eleitoral, a partir dos fatos consignados no acrdg'
)
REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 5

regional, ressaltando-se que sua caracterização não se confunde com a do


domicílio civil;

h) "[ ... ] as ações dos partidos políticos possuem caráter


nacional, nos termos do art. 50 [sic], da Lei n° 9.096195, de modo que o
recorrente encontra-se filiado ao PMDB desde 30.11.2011, pelo qual pretende
concorrer nestas eleições" (fl. 365); e

i) [...] o v. acórdão, ao relegar ao mais completo desprezo os


fundamentos jurídicos alegados pelo recorrido ora recorrente, abstraindo-se
completamente ao conteúdo da prova documental essencial em favor do ora
recorrente, alheando-se completamente às relevantes razões e fundamentos
da contestação oferecida pelo então impugnado e da própria r. sentença de
fls. 1801184 [ ... ] negou vigência aos arts. 90 , da Lei n° 9.504197; art. 55, § 1 0 ,
inciso 1 e art. 57, ambos da Lei n° 4.737165 [sic]" (fl. 367).

Apresenta dissídio jurisprudencial.

Foram apresentadas contrarrazões pela Coligação Unidos


Faremos Mais (fis. 371-383), pela Coligação Estamos Juntos (fls. 387-391) e
pelo órgão ministerial (fis. 394-396).

A Procuradoria-Geral Eleitoral manifestou-se pelo


desprovimento do recurso especial (fls. 403-405).

Em 28 de setembro de 2012, neguei seguimento ao recurso


especial (fls. 412-413), mas, tendo em vista as peculiaridades do caso
ressaltadas no agravo regimental de fis. 420-436, reconsiderei a decisão
monocrática, com base no art. 36, § 9°, do Regimento Interno do TSE, para,
que o recurso viesse a julgamento em Plenário (fis. 439-443).

É o relatório.
REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP

VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (relator): Senhora


Presidente, conforme relatado, a Corte Regional indeferiu o pedido de registro
do recorrente por entender não comprovada a anterioridade de um ano relativa
ao domicílio eleitoral e à filiação partidária na circunscrição do pleito.

Em relação ao domicílio eleitoral, o acórdão recorrido adotou a


seguinte fundamentação (fis. 350-351):

Quanto ao mérito, a matéria tratada nestes autos está disciplinada


no art. 11 da Lei 9.504197. Como é cediço, é obrigatória a
comprovação de domicílio eleitoral e de filiação partidária para o
deferimento do registro de candidatura Além disso, ambos os
requisitos exigem anterioridade mínima de um ano do pleito, nos
termos do art. 90 da supracitada norma.
Segundo a norma do art. 27, § 1 1, da Resolução TSE n°23.373/li o
domicílio eleitoral será aferido com base nas informações constantes
dos bancos de dados da Justiça Eleitoral. Portanto, o fundamento da
sentença recorrida, não atende aos ditames legais, pois
desconsiderou que somente a partir de 14/10/2011 o recorrido teve
sua inscrição eleitoral transferida para o Município de Eldorado no
Cadastro Nacional de Eleitores, desrespeitando o prazo limite, até
07/10111, conforme estabelecido no Calendário Eleitoral (Resolução
TSE n° 23.341).
Com efeito, a prova indireta do domicílio não deve ser admitida em
casos em que não há dúvida sobre a data correta da transferência,
sendo incontroverso, neste feito, que o recorrido somente requereu
transferência eleitoral em 14/10/11.
Não se pode confundir a amplitude do conceito de domicílio eleitoral
com a condição de elegibilidade ora em exame. Nada obstante o
recorrido tenha comprovado possuir vínculos com o Município há
mais de um ano, o que é admitido como prova de residência para o
fim de deferimento do pedido de alistamento ou transferência de
inscrição eleitoral, o que possibilitou a transferência de sua inscrição
eleitoral, releva notar que essa prerrogativa não o exime do
exigência legal de ser formalmente inscrito eleitor na circunscrição
onde pretende concorrer a mandato eletivo. De fato, o exercício da
capacidade eleitoral passiva requer o cumprimento de formalidades
extras, não exigidas para o pleno gozo da capacidade eleitoral ativa
[sic].

É incontroverso que o recorrente comprovou a existência d


vínculos com o Município de Eldorado há mais de um ano do pleito de 2012,

REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 7

tanto é que teve a sua transferência deferida em 14.10.2011, conforme


delineado no acórdão regional.

O instituto do domicílio eleitoral tem por finalidade a fixação do


local onde o eleitor exercerá seus direitos políticos ativos e passivos - votando
e sendo votado -, sendo uma das condições de elegibilidade previstas no
art. 14, § 3°, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 14. [...]


§ 3 1 São condições de elegibilidade, na forma da lei:
E ... ]

IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;

No julgamento do REspe n° 18.8031SP, o eminente Ministro


Sepúlveda Pertence traçou um histórico acerca do tema, salientando as várias
formas aceitas pela jurisprudência para se demonstrar os vínculos do cidadão
com a circunscrição onde pretende concretizar suas aspirações políticas.

Por oportuno, reproduzo os seguintes excertos do emblemático


voto:

[ ... J o prazo mínimo de domicílio na circunscrição só foi erigido em


condição de elegibilidade nas eleições estaduais e municipais - já
nos estertores da vigência formal da Constituição de 1946, depois de
atropelada pelo movimento militar de abril de 1964 -, por força da
E.C. 14, de 03.06.65, às vésperas das eleições daquele ano, ainda
diretas, apara o governo de diversos estados.
Segundo o maior cronista político do Brasil contemporâneo, a
exigência não nasceu de imposições da "linha dura" militar - que
viriam pouco depois a comandar a elaboração da Lei de
lnelegibilidades daquele mesmo ano -, mas, curiosamente, de
preocupações civilistas - ou de cautela política - do Marechal
Castello Branco, então presidente da República.
Uma década e meia passada, contou o fato o saudoso Carlos
Casteilo Branco (Coluna do Castello, Jornal do Brasil, 17.07.90):
"A exigência de domicílio eleitoral de candidatos a cargos
eletivos não é comum nos países democráticos. Na Inglaterra,
onde o voto é distrital, o candidato de fora pode disputar um
lugar na Câmara dos Comuns desde que os eleitores do
distrito, previamente consultados, concordem em que ele se
inscreva. [ ... ] No Brasil, a exigência nasceu em 1965 e não
visava aos políticos, que raramente recorriam a isso. Desde
1945, no entanto, Getúlio Vargas e Luís Carlos Prestes, P0
exemplo, candidataram-se numa mesma eleição a senador e a
deputado por mais de um estado. Getúlio foi eleito senador

REspe no 109-09.2012.6.26.0148/SP E]

pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo e deputado por seis
ou sete estados. Ainda no ocaso do regime de 1946, o
governador Cid Sampaio, de Pernambuco, disputou sem êxito
uma cadeira de deputado por Alagoas, e o governador Jânio
Quadros uma de deputado pelo Paraná. A exigência do
domicílio eleitoral foi introduzida no Brasil com o objetivo de
impedir que chefes das guarnições militares se fizessem eleger
governadores.
E ... ]

Seja como for, o que marcou a inovação da exigência do domicílio


eleitoral - de início, nas eleições estaduais, pelo longo prazo de
quatro anos anteriores ao pleito (CF, 46, art. 139, II, e; IV, b e V, b,
cf. EC 14165) - não foram as candidaturas do radicalismo militar da
época, eventualmente abortadas, mas a sua traumática aplicação
para impedir a candidatura oposicionista ao governo do Estado da
Guanabara de um chefe militar e homem público vinculado por
muitas décadas à cidade do Rio de Janeiro, porque, havia pouco,
transferira sua inscrição para Teresópolis, onde mantinha um sítio.
E...]
Esse estigma de casuísmo da sua aplicação originária, quiçá, esteja
à base da progressiva liberalização, na jurisprudência do TSE, da
caracterização do domicílio eleitoral, a fim de propiciar aos
candidatos a sua transferência para onde os conduzissem as suas
aspirações eleitorais do momento.

Certo é que o progressivo abrandamento da exigência é uma


marco inequívoco da orientação do Tribunal. (Grifei)
Torquato Jardim, em seu precioso Direito Eleitoral Positivo
( 2 a Ed., Brasília Jurídica, 1998, p. 58), retrata com precisão essa
linha pretoriana de concessões progressivas:
"23. Para o direito eleitoral, enquanto direito, público, no
entanto, é suficiente a moradia que revele um liame de
interesse político na circunscrição, tanto assim que poderá o
candidato, tendo mais de uma moradia, escolher qualquer
delas. O que faz a lei, para conferir maior nota de legitimidade
à representação, é exigir tempo mínimo de moradia na
circunscrição, de modo que, ao domicílio eleitoral do eleitor,
válido a qualquer tempo após o alistamento ou a transferência,
se acrescente um pius de cidadania que o faça adquirir,
também, o direito de ser votado. [ ... ]"

O viés liberalizante da jurisprudência foi a tônica do voto de


Sua Excelência, ficando claro que o objetivo da norma é legitimar a
participação política do cidadão em determinada comunidade.

No plano infraconstitucional, a exigência de domicílio eleitoral e


de filiação partidária com um ano de antecedência em relação ao ito
prevista no art. 9 0 da Lei n° 9.504197, que possui o seguinte teor:
)

REspe n o 109-09.2012.6.26.0148/SP [!]

Art. 90 Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir


domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo
menos, um ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo
partido no mesmo prazo.

Ao disciplinar a comprovação do domicílio eleitoral para o pleito


de 2012, o TSE editou a Resolução n° 23.37312011, estabelecendo, em seu
art. 12, que "[...] o candidato deverá possuir domicílio eleitoral no respectivo
município, desde 7 de outubro de 2011 [ ... ]".

O art. 27 da norma regulamentar, por sua vez, determina que o


domicílio eleitoral será aferido com base nas informações constantes dos
bancos de dados da Justiça Eleitoral.

Ainda sobre a prova acerca do domicílio eleitoral, preceitua a


Lei n° 9.504/97, em seu art. 11, V, que o pedido de registro será instruído com
a "cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o
candidato é eleitor na circunscrição ou requereu sua inscrição ou transferência
de domicílio no prazo previsto no art. go',•

No caso vertente, a Corte de origem consignou que o


recorrente possui vínculos com o município e que foi comprovada a residência
para o fim de deferimento da transferência do domicílio eleitoral.

O ponto mais sensível da discussão diz respeito à data em que


foi formalizada a transferência no cadastro eleitoral, e tal questão, por ser
meramente jurídica, é passível de análise no âmbito do recurso especial,
conforme já decidido por este Tribunal:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL.


RECURSO ESPECIAL. [ ... ]
1. O conceito de domicílio eleitoral, quando incontroversos os fatos,
é matéria de direito, não de fato.
2. Embargos rejeitados, ante a ausência de omissão ou contradição.
(ED-AgR-REspe n° 32940/AL, PSESS de 11.12.2008, Rei.
Mm. Marcelo Ribeiro).

O fundamento preponderante do decisum a quo foi o de que o


recorrente deveria estar formalmente inscrito na circunscrição onde pretende
concorrer até o dia 7.10.2011, sendo extemporâneo o pedido formalizado em
14.10.2011 e deferido na mesma data.
REspe n 1 109-09.2012.6.26.01481SP 10

Não se desconhece a existência de precedentes desta Corte


no sentido de que "o prazo mínimo de um ano de domicílio eleitoral na
circunscrição conta-se do requerimento da transferência, mesmo que o
deferimento ocorra posteriormente" (AgR-Respe n° 34800/AM, PSESS de
27.11.2008, Rei. Mm. Arnaldo Versiani e, no mesmo sentido, o REspe
n° 14606/MA, DJde 13.6.1997, Rei. Mm. limar Galvão).

Seria a data do pedido de transferência, contudo, o único


elemento a ser considerado para fins do cumprimento do prazo estabelecido
no art. 90 da Lei n° 9.504197? A meu ver, a resposta é negativa, pelas razões a
seguir expostas.

A par das considerações feitas sobre a elasticidade do


conceito de domicílio eleitoral, não se pode ignorar que, segundo o disposto no
art. 55, § 1 0 , III, do Código Eleitoral, um dos requisitos para o deferimento da
transferência é a "residência mínima de 3 (três) meses no novo domicílio,
atestada pela autoridade policial ou provada por outros meios convincentes".

Assim, em 14.10.2011, data em que foi deferida a


transferência do domicílio, houve o reconhecimento, pela Justiça Eleitoral, de
que o recorrente possuía vínculos com o Município de Eldorado/SP há pelo
menos três meses, ou seja, desde 14.7.2011.

Tais premissas, extraídas do acórdão regional, revelam,


segundo penso, o cumprimento da exigência prevista no art. 90 da Lei
no 9.504197, pois a finalidade da norma é assegurar que os postulantes a
cargos eletivos possuam laços significativos com a comunidade que irão
representar, bem como legitimar o exercício dos direitos políticos em
determinada circunscrição.

Nesse sentido, trago à baila a regra insculpida no art. 5 0 da Lei


de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - Decreto-Lei n° 4.657142 -
segundo a qual "na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum".

Quando se trata de viabilizar o exercício das prerrogativas


inerentes à cidadania, sobretudo quando não haja qualquer indício de fraude
ou comprometimento da legitimidade das instituições democráticas

REspe n o 109-09.2012.6.26.01481SP 11

interpretação literal ou restritiva não é a que mais se ajusta à natureza da


matéria, devendo-se buscar os elementos que integram o contexto social e
político que a norma visa disciplinar, bem como as suas finalidades.

E para ilustrar a abrangência do conceito de domicílio eleitoral,


colaciono, ainda, os seguintes precedentes deste Tribunal:

DOMICÍLIO ELEITORAL - TRANSFERÊNCIA - RESIDÊNCIA -


ANTECEDÊNCIA (CE, ART. 55) - VÍNCULOS PATRIMONIAIS E
EMPRESARIAIS.
- Para o Código Eleitoral, domicílio é o lugar em que a pessoa
mantém vínculos políticos, sociais e afetivos. A residência é a
materialização desses atributos. Em tal circunstância, constatada a
antiguidade desses vínculos, quebra-se a rigidez da exigência
contida no art. 55, III.
(REspe n° 23721/RJ, DJ de 18.3.2005, Rei. Min. Humberto Gomes
de Barros); e

[ ... ] A legislação eleitoral, admite que o domicílio eleitoral, bem como,


a condição de eleitor da zona, preexiste a expedição do título,
devendo ser consideradas a partir do requerimento e deferimento
das transferências e não do seu processamento (Art. 55, CE E 34
DA Resolução TSE N. 17.845192).
Recurso conhecido e não provido.
(REspe n° 10216, Acórdão n° 12659/CE PSESS de 20.9.1992,
Rel. Mm. Hugo Gueiros).

Com essas considerações e atento às peculiaridades do caso,


que me levaram a uma maior reflexão, penso que não subsiste o óbice
declinado no acórdão recorrido, razão pela qual acolho as alegações recursais
na espécie.

No que diz respeito à filiação partidária, assim se posicionou a


instância regional (fls. 351-352):

Demais, embora fosse filiado ao Partido do Movimento Democrático


Brasileiro - PMDB de Apiúna/SC desde 30.06.2011 (fis. 146) o
recorrido não logrou êxito em comprovar estar filiado a partido
político no Município de Eldorado/SP há, no mínimo, um ano das
eleições. Com efeito, o pré candidato confirma que, ao transferir sua
inscrição eleitoral para o Município de Eldorado em 14/10/11 ratificou
sua intenção de permanecer filiado ao PMDB, preenchendo nova
ficha de filiação do órgão local na mesma data em que requereu sua
transferência (fls. 147).
Sobre o tema, o colendo Tribunal Superior Eleitoral manifestou-se no
sentido de que "Não se deve confundir validade territorial de filia

REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 12

partidária com caráter nacional dos partidos políticos e condição de


elegibilidade ( ... ) Portanto, caráter nacional refere-se à ação do
partido, fruto de sua representatividade em, no mínimo, um terço dos
Estados-Membros. A filiação partidária, por sua vez, está adstrita ao
vínculo entre o filiado, seu domicílio e a circunscrição eleitoral do
pleito. Diante do exposto, respondo à consulta 'é necessária a
observância do domicílio eleitoral e da filiação partidária, com vistas
à candidatura, um ano antes do pleito na localidade da realização
das eleições, com as ponderações efetivadas acerca da
circunscrição eleitora["' (Resolução TSE O 22.229106, Consulta
n° 1.231/DF, rei. Mm. José Delgado, v.u., DJe de 04107106, pág. 4).
Desta forma, a falta de domicílio eleitoral e de filiação partidária na
localidade anterior a um ano da eleição implicam em ausência de
condições de elegibilidade.

Na espécie, consta do acórdão regional que o recorrente está


filiado ao PMDB desde 30.6.2011, ou seja, há mais de um ano do pleito de
2012, mas apenas em 14.10.2011 filiou-se perante o Diretório Municipal de
Eldorado/SP, local em que pretende disputar o cargo de prefeito.

Ao entender que o prazo mínimo de filiação deve ser


observado no órgão de direção partidária da circunscrição do pleito, a Corte
Regional espelhou-se no julgamento da Consulta n o 1231/DF, que possui a
seguinte ementa:

CONSULTA. PARTIDO POLITICO. COMISSÃO EXECUTIVA


NACIONAL. SECRETÁRIO-GERAL. LEGITIMIDADE DO
CONSULENTE. INSCRIÇÃO ELEITORAL. TRANSFERÊNCIA.
DOMICÍLIO. PRAZO. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA. TERRITÓRIO
NACIONAL. VALIDADE.
E ... 1
2. Como bem sintetizado pela AESP, "se a candidatura é de cunho
municipal, o domicílio e filiação devem ser aí comprovados. Se a
candidatura é a cargo eletivo estadual, a circunscrição é o Estado
( ... ), se a candidatura é a mandato presidencial, por óbvio, válido
será o domicílio e a filiação em qualquer município do território
nacional" (fi. 40).
3. Resposta no sentido de que é necessária a observância do
domicílio eleitoral e da filiação partidária um ano antes do pleito
na localidade da realização das eleições, observadas as regras
acerca de circunscrição eleitoral acima postas [Grifei].
(CTA n° 1231/DF - Res. n° 22.229 - DJ de 4.7.2006, Rei. M
Delgado).

Tal solução, data venha, não merece subsistir.


REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 13

Na dicção do art. 90 da Lei n° 9.504197, os critérios são


distintos para o domicílio eleitoral e a filiação partidária, pois a norma
estabelece que "para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir
domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um
ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo
prazo".

O texto legal é claro, pois traz o complemento "na


circunscrição" apenas quando trata do domicílio eleitoral e nada acrescenta à
filiação partidária.

Considere-se, ainda, que a filiação estabelece o vínculo entre o


cidadão e o partido político, podendo ser efetivada perante os órgãos de
direção municipal, estadual ou nacional.

Observe-se que o art. 19 da Lei dos Partidos Políticos faculta a


qualquer um desses órgãos remeter aos juizes eleitorais a relação de seus
filiados, a saber:

Art. 19. Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada


ano, o partido, por seus órgãos de direção municipais, regionais
ou nacional, deverá remeter, aos juízes eleitorais, para
arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação
partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação
dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará a data de
filiação, o número dos títulos eleitorais e das seções em que estão
inscritos [Grifei].

Ao responder a Consulta n° 952/DF sobre a matéria, esta Corte


proferiu o seguinte entendimento:

CONSULTA. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA EFETUADA EM DIRETÓRIO


NACIONAL. NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO AO JUIZ
ELEITORAL. ART. 19 DA LEI N°9.096/95.
Prevê a lei que o partido encaminhe a relação dos filiados à Justiça
Eleitoral no prazo legal, seja por meio de seu órgão de direção
nacional - em que foi feita a filiação -, seja pelo municipal.
Exegese do art. 19 da Lei n° 9.096195.
(CONSULTA n° 952/DE, DJ de 7.11.2003, Rei. Mm. ElIen Gracie).

Em seu voto, a eminente Ministra ElIen Gracie teceu as


seguintes considerações: "[...] a prior!, observe-se que tanto a Lei dos Pa ido

REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 14

Políticos - a Lei n° 9.096195, em seu art. 17, caput -' como a jurisprudência
desta Corte, permitem que as regras de filiação partidária sejam definidas
pelas próprias agremiações. De modo que é possível que a filiação partidária
seja feita diretamente perante o órgão de direção nacional do partido, desde
que tal possibilidade esteja devidamente regulamentada pelo estatuto
partidário."

Nem mesmo o art. 18 da Lei n° 9.096195, que também estipula


prazo mínimo de filiação partidária com vistas à disputa eleitoral, prevê o
critério territorial. Confira-se:

Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado
ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para
as eleições, majoritárias ou proporcionais.

A norma não exige, como se vê, que o vínculo se estabeleça


na circunscrição onde o filiado disputará cargo eletivo, mas, tão somente, que
haja filiação partidária há pelo menos um ano da data fixada para as eleições.

Qual seria, então, a antecedência mínima para que a filiação


esteja formalizada na circunscrição do pleito?

Creio que a solução se encontra no art. 40 da Lei n° 9.504/97,


segundo o qual, para participar das eleições, o partido deverá ter o estatuto
registrado no TSE até um ano antes do pleito e órgão de direção constituído na
circunscrição até a data da convenção. Vejamos:

Art. 40 Poderá participar das eleições o partido que, até um ano


antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior
Eleitoral, conforme o disposto em lei, e tenha, até a data da
convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de
acordo com o respectivo estatuto [Grifei].

Cito, ainda, o disposto no art. 20 da Res.-TSE n° 23.37312011:

Art. 20 Poderá participar das eleições o partido político que, até 7 de


outubro de 2011, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior
Eleitoral e tenha, até a data da convenção, órgão de c -
constituído no Município, devidamente anotado no 1
Regional Eleitoral competente (Lei n° 9.504197, art. 40,
n° 9.096195, art. 10, parágrafo único, II).

REspe n° 109-09.2012.6.26.01481SP 15

Considerando-se que o partido pode constituir órgão de


direção na circunscrição do pleito até a data da convenção, tal prazo deve
aplicar-se, por analogia, à existência de filiações válidas na mesma
circunscrição, haja vista que a participação do partido na eleição envolve,
necessariamente, o lançamento de candidaturas, seja de forma isolada, seja
por meio de coligações partidárias.

De nada adiantaria, portanto, facultar ao partido organizar-se


em determinada circunscrição até a data da convenção, se não fosse possível
reconhecer as filiações partidárias ali estabelecidas.

Com esses fundamentos, dou provimento ao recurso especial


para deferir o registro de candidatura do recorrente ao cargo de prefeito do
Município de Eldorado/SP.

É o voto.

VOTO

A SENHORA MINISTRA NANCY ANDRIGHI: Senhora


Presidente, peço respeitosas vênias ao e. Ministro Dias Toifoli (Relator) para
desprover o recurso especial, mantendo o indeferimento do pedido de registro
de candidatura do recorrente Valmir Beber ao cargo de prefeito do Município
de Eldorado/SP nas Eleições 2012.

Consoante o entendimento desta Corte e o disposto nos


arts. 12, capui', e 27, § 102, da Res.-TSE 23.37312011 - que regulamentam o
art. 9 0 da Lei 9.504197 3 - o candidato deverá possuir domicílio eleitoral e estar

1 Art. 12. Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral no respectivo município, desde
7 de outubro de 2011 e estar com a filiação deferida pelo partido político na mesma data (Lei n° 9.504197, art. 9 0 e Lei
n°9.096/95, arts. 18 e 20).
2 Art 27. [omissis]

§ 1 0 Os requisitos legais referentes à filiação partidária, domicílio e quitação eleitoral, e à inexistência de crimes
eleitorais serão aferidos com base nas informações constantes dos bancos de dados da Justiça Eleitoral, send
dispensada a apresentação dos documentos comprobatórios pelos requerentes (Lei n 9.504197, art. 11, § 1°, lii, V, Vl\
e VII).
Art. 90 Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo \
prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo.

REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP íI

com a filiação deferida pelo partido político, na respectiva circunscrição, no


prazo mínimo de um ano antes do pleito, sendo esses requisitos aferidos a
partir dos dados constantes do cadastro eleitoral. Confira-se:

CONSULTA. PARTIDO POLITICO. COMISSÃO EXECUTIVA


NACIONAL. SECRETÁRIO-GERAL. LEGITIMIDADE DO
CONSULENTE. INSCRIÇÃO ELEITORAL. TRANSFERÊNCIA.
DOMICÍLIO. PRAZO. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA. TERRITÓRIO
NACIONAL. VALIDADE.

2. Como bem sintetizado pela AESP, "se a candidatura é de cunho


municipal, o domicílio e filiação devem ser aí comprovados. Se a
candidatura é a cargo eletivo estadual, a circunscrição é o Estado
( ... ), se a candidatura é a mandato presidencial, por óbvio, válido
será o domicílio e a filiação em qualquer município do território
nacional" (fl. 40).
3. Resposta no sentido de que é necessária a observância do
domicílio eleitoral e da filiação partidária um ano antes do pleito
na localidade da realização das eleições, observadas as regras
acerca de circunscrição eleitoral acima postas.
(CTA 1.2311DF, Rei. Min. José Delgado, DJ de 4.7.2006) (sem
destaque no original)

Na espécie, extrai-se do acórdão regional que o recorrente


transferiu sua inscrição eleitoral do Município de Apiúna/SC para o Município
de Eldorado/SP - localidade na qual requereu seu registro de candidatura -
somente em 14.10.2011, isto é, faltando menos de um ano para as Eleições
2012 (7.10.2012).

Ademais, a sua filiação ao Diretório Municipal do PMDB de


Eldorado/SP também ocorreu apenas na referida data.
Assim, considerando que o recorrente não atendeu o requisito
de domicílio eleitoral e de filiação partidária, na circunscrição do pleito, no
prazo mínimo de um ano antes da eleição, impõe-se a manutenção do
indeferimento do seu pedido de registro de candidatura.
Forte nessas razões, nego provimento ao recurso especial
eleitoral.

É o voto. çi
REspe n 1 109-09.2012.6.26.0148/SP 17

VOTO

A SENHORA MINISTRA LAURITA VAZ: Senhora Presidente,


também da mesma forma reconheço o esforço do Ministro Dias Toifoli...

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI: O que mais me


impressionou é que o candidato concorreu sem registro - veja, eu indeferi o
registro dele antes - e, mesmo assim, mais da metade dos votos direcionados
foi para ele.

Uma semana de diferença é que me levou a essa ponderação.


Digo isso apenas para justificar a mudança de entendimento, se bem que, de
fato, o entendimento anterior que comunguei, a princípio, é totalmente válido e
fundamentado, não há dúvida.

A SENHORA MINISTRA LAURITA VAZ . ... mas, como eu


estava dizendo, é um voto substancioso, motivado com suas razões. Penso,
contudo, que não podemos nos afastar do que dispõe taxativamente o artigo 90
da Lei 9.504197.

Acompanho, então, o voto divergente, mantendo a decisão do


Tribunal a quo.

VOTO

O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA:


Senhora Presidente, louvo o voto do eminente Ministro Dias Toifoli, reconheço
que o caso é emblemático porque não se trata, como disse Sua Excelência, de
uma pessoa que esteja acusada de inelegibilidade por conta do que a
população chamou de Lei da Ficha Limpa. Mas é um requisito que entendo
essencial para a comprovação do domicílio eleitoral, a inscrição ou
transferência da inscrição.

Nesse sentido, o próprio artigo 11 da Lei n° 9.504197, alémdo


prazo previsto no artigo 9 0 , estabelece no § 1 1 que:

REspe no 109-09.2012.6.26.0148/SP 18

Art. 11.[ ... ]


§ 1 0 O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes
documentos:
V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório
eleitoral, de que o candidato é eleitor na circunscrição ou requereu
sua inscrição ou transferência de domicílio no prazo previsto no
art. 90

Entendo que o prazo estabelecido na Lei deve ser aplicado


para todos igualmente, e é um prazo fatal. A inscrição deve acontecer um ano
antes da eleição, e, no caso, seja por três, quatro dias ou seja por uma
semana, como foi o caso presente, isso ocorreu posteriormente.

Rogo vênia ao Ministro Dias Toifoli para acompanhar a Ministra


Nancy Andrighi.

VOTO (vencido)

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhora


Presidente, realmente o caso tem várias particularidades e eu gostaria de pedir
vênia à divergência, inaugurada pela Ministra Nancy Andrighi e acompanhada
pela Ministra Laurita Vaz e pelo Ministro Henrique Neves, para acompanhar o
Ministro Dias Toifoli, sabendo que essa não é a regra posta na legislação de
regência, tampouco na jurisprudência predominante na Corte.

O caso traz, contudo, muitas particularidades. Entendo que a


razão de ser da norma é justamente para evitar que um forasteiro fique se
candidatando de município em município. A resposta popular, a resposta das
urnas demonstra, mais que qualquer outra coisa, que esse cidadão estava
absolutamente integrado àquele município. Assim, entendo que a razão de ser,
de se exigir o domicílio eleitoral de um ano, foi atendida.

Por essa razão, acompanho o Ministro Dias Toifoli.



REspe n° 109-09.2012.6.26.01481SP 19

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO: Senhora


Presidente, tenho ressaltado que o fato consumado, no Brasil, ganha diapasão
maior, e, no caso concreto, devo elogiar a honestidade intelectual do Relator.
Sua Excelência admitiu que veio a evoluir ou involuir, presente a circunstância
de o candidato ter logrado êxito na disputa.

Vinga, considerado o certame, o tratamento igualitário,


principalmente tendo em vista o arcabouço normativo. É possível o cidadão ter
várias residências. Não me refiro à residência com ânimo definitivo, a qual não
é exigida pelo Código Eleitoral. Poderá inscrever-se em qualquer circunscrição
eleitoral, presentes essas residências.

É indispensável, porém, para disputar em igualdade de


condições com os demais candidatos, que a inscrição anteceda em um ano a
eleição a se verificar.

Precisamos, sim, avançar culturalmente; mas isso ocorre


quando observadas as regras estabelecidas, e o artigo 9 0 da Lei regedora das
eleições é categórico ao exigir a antecedência de um ano para a participação
do cidadão no pleito, considerada a inscrição eleitoral.

Peço vênia ao Relator e à Ministra Luciana Lóssio, para


acompanhar a divergência.

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁMEN LÚCIA (presidente): Também


peço vênia ao Ministro relator, já com a maioria formada, para acompanhar a
divergência. Quero agradecer ao advogado que citou, inclusive, uma fala
minha, mas se protagoniza na democracia atendendo-se a Lei.

Neste caso, fico com a primeira decisão do Ministro Dias


Toifoli, quer dizer, divirjo só de sua segunda decisão. Mas, como assei

REspe n1 109-09.2012.6.26.01481SP 20

honra-se a democracia - e quero que o cidadão seja protagonista no estado de


direito - atendendo-se a lei, como acaba de realçar o Ministro Marco Aurélio.

Ademais, a citação feita, Ministro Dias Toifoli, do precedente


do Ministro Sepúlveda Pertence referia-se a requerimento de transferência e
não a de registro. Para o registro, o artigo 90 é taxativo, a meu ver. E, como
afirmou a Vice-Procuradora, hoje são sete dias; amanhã, 14; depois de
amanhã, um mês.

Não se flexibiliza, a meu ver, norma que taxa regra que fixa de
forma definitiva uma data, porque, inclusive, nesse caso, quebra-se outro
princípio constitucional, o da igualdade.

Houve quem eventualmente não tivesse as condições e, por


isso, sem atendê-las, não se arriscou na eleição. Também lamento muito,
porque, se a comunidade o escolheu com mais de 50% dos votos, com certeza
haverá de ser alguém muito benquisto, mas como assentei, em um estado de
direito, o primeiro dado de cada cidadão é cumprir a lei, até para exigir que o
poder público também a cumpra, o. que nós, juízes, fazemos a cada minuto,
principalmente nós no Supremo Tribunal.

Então, peço vênia a Vossa Excelência, quanto à


decisão, e acompanho a divergência.
REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP 21

EXTRATO DA ATA

REspe n° 109-09.2012.6.26.0148/SP. Relator originário:


Ministro Dias Toifoli. Redatora para o acórdão: Ministra Nancy Andrighi.
Recorrente: Valmir Beber (Advogados: Waldir Sinigaglia e outros). Recorridos:
Coligação Unidos Faremos Mais (PTB/DEM/PP/PDT/PR/PSB/PV) e outro
(Advogados: Edward José Mariano Pereira Mancio e outro). Recorrida:
Coligação Estamos Juntos: Mudança com Responsabilidade (Advogada: Leila
Adriana Caliari). Recorrido: Ministério Público Eleitoral.

Usaram da palavra, pelo recorrente Valmir Beber, o Dr. José


Ricardo Baitello e, pelo recorrido Ministério Público Eleitoral, a Dra. Sandra
C urea u.

Decisão: O Tribunal, por maioria, desproveu o recurso, nos


termos do voto da Ministra Nancy Andrighi, que redigirá o acórdão. Vencidos
os Ministros Dias Toifoli e Luciana Lóssio. Acórdão publicado em sessão.

Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Presentes as Ministras


Nancy Andrighi, Laurita Vaz e Luciana Lóssio, os Ministros Marco Aurélio, Dias
Toifoli e Henrique Neves da Silva, e a Vice-Procuradora-Geral Eleitoral, Sandra
Cureau.

SESSÃO DE 17.12.2012*.

* Sem revisão das notas de julgamento da Ministra Cármen Lúcia e Luciana Lóssio.

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