Sei sulla pagina 1di 7

A Justiça Gratuita sob o prisma do Direito Constitucional

Como explanado nos tópicos anteriores, a legislação ordinária, se bem interpretada, não
deixa dúvidas de que os beneficiários da Justiça Gratuita são apenas aqueles que realmente
não disponham de recursos para arcar com os custos do processo, sem prejuízo do sustento
próprio e de sua família. Também são claras no sentido de que o magistrado,
independentemente de provocação, está investido do poder/dever de avaliar, caso a caso,
se o pleiteante faz jus ao benefício.
Mas se ainda assim persistir na mente do intérprete alguma dúvida sobre a correção de tais
conclusões, então é conveniente que recorra ao texto constitucional.
A Constituição Federal de 1988 cuidou do tema em seu art. 5º, inciso LXXIV, estabelecendo
o seguinte preceito fundamental:

“O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;”
A norma, como se denota, reforçou a excepcionalidade da regra de isenção, delimitando
com bastante precisão os favorecidos: os que comprovarem a necessidade.
Se assim o é, então se mostra ainda mais insustentável a tese contrária, sob a qual tantas
vezes se albergam aqueles que se lançam em aventuras jurídicas, estimulados pela
blindagem patrimonial que isenção lhes proporciona.
Releva mencionar que a citado dispositivo constitucional abrange não só a Justiça Gratuita,
mas, de maneira mais ampla, toda a Assistência Jurídica. Barbosa Moreira comentou:

“a grande novidade trazida pela Carta de 1988 consiste em que, para


ambas as ordens de providências, o campo de atuação já não se delimita
em função do atributo ‘judiciário’, mas passa a compreender tudo que seja
‘jurídico’. A mudança do adjetivo qualificador da ‘assistência’,
reforçada pelo acréscimo ‘integral’, importa notável ampliação do
universo que se quer cobrir. Os necessitados fazem jus agora à
dispensa de pagamentos e à prestação de serviços não apenas na
esfera judicial, mas em todo o campo dos atos jurídicos. Incluem-se
também na franquia: a instauração e movimentação de processos
administrativos, perante quaisquer órgãos públicos, em todos os níveis; os
atos notariais e quaisquer outros de natureza jurídica, praticados
extrajudicialmente; a prestação de serviços de consultoria, ou seja, de
informação e aconselhamento em assuntos jurídicos”. (O direito à
assistência jurídica: evolução no ordenamento brasileiro de nosso tempo,
RePro 67/130)
Ante a nova ordem constitucional, o art. 4º da Lei 1.060/50 7
só sobrevive se interpretado em sintonia com
o referido inciso LXXIV da Lei Maior, resultando dessa filtragem a conclusão de que não basta, em todos os casos, a declaração
de pobreza para atestar a condição de necessitado. Compete ao interessado efetivamente provar tal condição, a menos que, a
critério do juiz, no caso concreto bastar a Declaração de Pobreza, e ainda assim, a parte contrária não estará obstada de produzir
prova em sentido contrário.

Esgotou-se o espaço, se é que espaço havia, para uma interpretação dúbia acerca dos
dispositivos da Lei 1.060/50, pois a nova Constituição foi contundente ao estatuir que a
gratuidade é para os que comprovarem insuficiência de recursos.
Nessa senda, a abalizada doutrina constitucionalista exorta:

“Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais


de uma interpretação), deve-se preferir a exegese que mais se aproxime
da Constituição e, portanto, não seja contrária ao texto constitucional (…)”.
Nesse sentido, o texto constitucional apresenta-se como porto seguro para
os necessários limites da interpretação, destacando-se a interpretação
conforme a Constituição como verdadeira técnica de decisão. (Lenza,
Pedro. Direito constitucional esquematizado – 16 ed. rev., atual. e ampl. –
São Paulo: Saraiva, 2012. p. 158 e 160)
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, a interpretação conforme a constituição, como princípio de
exegese, permite ao intérprete: a) realizar a vontade da constituição (rejeição ou não
aplicação de normas inconstitucionais); b) harmonizar as leis ou os atos normativos com a
constituição (conservação das normas); c) excluir exegeses que contrariem a constituição
(exclusão de interpretação contra legem); d) buscar o sentido profundo das normas
constitucionais (prevalência da constituição); e) escolher o melhor significado das leis ou
atos normativos em meio a tantos outros que eles possam apresentar (espaço de
interpretação) (Direito constitucional ao alcance de todos. 3ª ed.. rev., atual. de acordo com
a EC n. 66, de 13-7-2010 – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 165).
A vertente interpretativa que prega a suficiência absoluta, em face do magistrado, da
malsinada Declaração de Pobreza, data vênia, não encontra respaldo no texto
constitucional.
Grife-se que o princípio da inafastabilidade da jurisdição, consagrado no art. 5º, inciso XXXV
da Constituição Federal, é plenamente compatível com supratranscrito inciso LXXIV, que
restringe a assistência jurídica integral aos comprovadamente necessitados. Se ambos são
princípios de matriz constitucional, então o princípio da unidade da constituição impede que
sejam taxados de dissonantes.
Destarte, a inafastabilidade da jurisdição definitivamente não representa argumento de
autoridade para aqueles que pretendem, a todo custo, dar ares de legalidade às suas
pretensões descabidas de usufruírem da Justiça Gratuita. Se referido princípio tivesse
supremacia sobre os demais, o que se admite apenas por hipótese, então seria o caso de
se abolir todos os pressupostos processuais, as condições da ação e tudo mais que
“dificultasse” o acesso à Justiça: algo grotesco.
A gratuidade em comento tem por escopo permitir que o cidadão sem recursos
financeirospossa pleitear a tutela de seus direitos. Aquele que requer a benesse mesmo
tendo condições de arcar com as despesas do processo age de má-fé e, obviamente, sem
respaldo normativo.
Vê-se que tanto no âmbito constitucional quanto no infraconstitucional o espírito da normas
é o mesmo: permitir àqueles sem recursos financeiros para arcar com as custas do
processotenham acesso gratuito à prestação jurisdicional estatal.
5. A Jurisprudência atual sobre o tema
Em setembro de 2009 o STF sedimentou o entendimento de que a questão envolvendo
concessão de gratuidade da justiça, prevista na Lei 1.060/50, é matéria
infraconstitucional, que refoge à sua competência. A ementa do julgado é a seguinte:

RECURSO. Extraordinário. Incognoscibilidade. Gratuidade de justiça.


Declaração de hipossuficiência. Questão infraconstitucional. Precedentes.
Ausência de repercussão geral. Recurso extraordinário não conhecido.
Não apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que, tendo por
objeto questão relativa à declaração de hipossuficiência, para
obtenção de gratuidade de justiça, versa sobre matéria
infraconstitucional. (AI 759421 RG / RJ – RIO DE JANEIRO.
REPERCUSSÃO GERAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a):
Min. CEZAR PELUSO. Julgamento: 10/09/2009. DJe-213. 12-11-2009.
EMENT VOL-02382-10 PP-02119) (sem grifos no original).
Desde então, o STF tem sistematicamente rejeitado a apreciação dessa matéria,
argumentando que os ministros da Corte “ao apreciarem no AI 759.421-RG/RJ, Rel. Min.
Cezar Peluso, manifestaram-se pela inexistência de repercussão geral da controvérsia
acerca da concessão de justiça gratuita com base na Lei 1.060/1950, por entenderem
que a discussão tem natureza infraconstitucional, decisão que vale para todos os
recursos sobre matéria idêntica.” (ARE 682566 AgR / SP – SÃO PAULO. Rel. Min.
Ricardo Lewandowski.
Julgamento: 14/08/2012 Órgão Julgador: Segunda Turma. DJe-170 28-08-2012) (sem grifos
no original)
A razão é muito simples: A Constituição Federal é muito clara ao garantir a assistência
jurídica gratuita apenas aos que “comprovarem insuficiência de recursos” (Art. 5º,
LXXIV). Ou seja, se polêmica há, desenrola-se no âmbito infraconstitucional (Lei 1.060/50),
e nesse caso a competência já não é mais do Pretório Excelso.
Sendo assim, as fontes principais de jurisprudência sobre essa questão são o Superior
Tribunal de Justiça (a quem compete dar a última palavra em matéria de lei federal) e os
Tribunais de Justiça Estaduais e Federais.
Como se exemplificará abaixo, as cortes pátrias, de maneira geral e praticamente uniforme,
têm endossado a interpretação da norma exposta neste estudo.
Segue uma coletânea de ementas, bastante recentes, extraídas dos mais diversos
tribunais brasileiros:
Superior Tribunal de Justiça: Primeira Turma
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. RECURSO INTEGRATIVO RECEBIDO COMO AGRAVO REGIMENTAL.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS QUE LEVARAM AO
INDEFERIMENTO. PRESUNÇÃO LEGAL AFASTADA.
(…)
4. Ademais, conforme entendimento jurisprudencial pacífico do STJ, “a presunção de
pobreza, para fins de concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, ostenta
caráter relativo, podendo o magistrado investigar a situação do requerente caso
entenda que os elementos coligidos aos autos demonstram a capacidade de custeio
das despesas processuais (AgRg no AREsp 136.756/MS, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, DJe 24/04/2012).
5. (…) (EDcl no AREsp 168203 / RJ. Relator Min Benedito Gonçalves. Órgão Julgador: T1.
Data do Julgamento: 06/12/2012. DJe: 11/12/2012)
Superior Tribunal de Justiça: Segunda Turma
PROCESSUAL CIVIL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. EXIGÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. ADMISSIBILIDADE. ANÁLISE DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS
DEMONSTRADAS. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
1. Nos termos da jurisprudência do STJ, embora se admita a mera alegação do interessado
acerca do estado de hipossuficiência, a ensejar presunção relativa, não é defeso ao juízo
indeferir o pedido de gratuidade de justiça após analisar o conjunto fático-probatório
do autos. Ademais, o magistrado pode ordenar a comprovação do estado de
miserabilidade, a fim de subsidiar o deferimento da assistência judiciária gratuita.
2. Hipótese em que o Tribunal de origem, com base nos documentos juntados aos autos
(contracheques do agravante), decidiu que o agravante possui meios de prover as custas
do processo sem prejuízo do próprio sustento ou o de sua família.
3. (…) (AgRg no AREsp 45356 / RS. Relator Ministro Humberto Martins. Órgão Julgador:
T2. Data do Julgamento: 25/10/2011. DJe 04/11/2011)
Superior Tribunal de Justiça: Terceira Turma
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM.
INDEFERIMENTO. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
1.- Por não se tratar de direito absoluto, porquanto a declaração de pobreza implica simples
presunção juris tantum, pode o Magistrado, se tiver fundadas razões para crer que o
requerente não se encontra no estado de miserabilidade declarado, exigir-lhe que faça
prova de sua situação.
2.- (…) 3.- (…)(AgRg no AREsp 206015 / MS. Relator Ministro Sidnei Beneti. Órgão
Julgador: T3. Data do Julgamento: 09/10/2012. DJe 30/10/2012)
Superior Tribunal de Justiça: Quarta Turma
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. PROPÓSITO NITIDAMENTE
INFRINGENTE. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. POSSIBILIDADE.
PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA FÍSICA. INDEFERIMENTO PELA INSTÂNCIA
ORDINÁRIA. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM.
1. A afirmação de impossibilidade de arcar com o ônus financeiro de processo judicial
possui presunção iuris tantum, podendo o magistrado indeferir a assistência
judiciária se não encontrar fundamentos que confirmem o estado de hipossuficiência
do requerente. Precedente. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental,
a que se nega provimento. (EDcl no AREsp 38303 / RJ. Rel. Min. MARIA ISABEL
GALLOTTI. Órgão julgador: T4. Data do Julgamento: 26/06/2012. DJe 01/08/2012)
Superior Tribunal de Justiça: Corte Especial
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE
DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃOS ORIGINÁRIOS DA MESMA TURMA JULGADORA.
PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA FÍSICA. INDEFERIMENTO PELA INSTÂNCIA
ORDINÁRIA, CONSIDERANDO INDEMONSTRADA A ALEGADA HIPOSSUFICIÊNCIA.
PRETENDIDA INVERSÃO DO JULGADO. REVISÃO DE PROVA. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA N.º 07 DO STJ. APLICAÇÃO DA SÚMULA 168/STJ. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
I – (…)
II – Consoante entendimento da Eg. Corte Especial a justiça gratuita pode ser deferida à
pessoa física mediante sua simples declaração de hipossuficiência, cabendo à parte
contrária impugnar tal pedido. Não obstante, o Juiz da causa, em face das provas
existentes nos autos, ou mesmo das que, por sua iniciativa, forem coletadas, pode
indeferir o benefício, situação em que não há como rever sua decisão em recurso
especial, a teor da Súmula n.º 07 desta Corte.
III – (…) IV – (…) (AgRg nos EREsp 1232028 / RO. Relator Ministro Gilson Dipp. Órgão
Julgador: Corte Especial. Data do Julgamento: 29/08/2012. DJe 13/09/2012)
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA.
COMPROVAÇÃO DE RENDA. Existente comprovação consistente e fundamental para
dar azo ao indeferimento do benefício da Justiça Gratuita, pois a estrutura patrimonial
da parte agravante é importante para derruir o argumento de sua incapacidade
econômico-financeira. Inegável a não caracterização de impossibilidade de a parte
recorrente arcar com os custos do processo sem qualquer prejuízo a seu sustento, devendo
ser mantida a decisão atacada por seus próprios fundamentos. AGRAVO DESPROVIDO,
EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº 70053161592, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo João Lima Costa, Julgado
em 08/02/2013, DJe 19/02/2013)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA. INDEFERIMENTO. A presunção legal de necessidade do
benefício da Assistência Judiciária Gratuita fica afastada, diante dos termos do
contrato, que se refere à aquisição de veículo, com prestações mensais de R$
1.874,09, o que é incompatível com a renda declarada de R$ 1.047,62 por mês. Negativa
de seguimento a Agravo de Instrumento manifestamente improcedente. (Agravo de
Instrumento Nº 70053190765, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Lúcia de Castro Boller, Julgado em 18/02/2013. DJe 20/02/2013)
Tribunal de Justiça do Paraná
Se o agravante realmente faz jus à concessão da gratuidade, não terá prejuízo algum
em juntar cópia dos documentos solicitados. Vale recobrar que o objetivo da Lei da
Assistência Judiciária Gratuita é permitir ao real e concreto miserável, na acepção jurídica
do termo, que obtenha acesso à justiça sem sacrifício pessoal. Bem por isso é permitido
que o magistrado, apontado fundadas razões, elida a presunção juris tantum que
repousa sobre a alegação de pobreza para que o benefício alcance tão somente e
primordialmente o real destinatário do benefício, a saber, pessoa que não tenha
condições de arcar com as despesas processuais sem prejuízo a sustento próprio ou
ao de sua família. Neste contexto a decisão hostilizada se revela incensurável e
insuscetível de qualquer retoque, eis que atende, sobretudo, a real intenção da Lei 1.060/50.
Posto isso, por estar o recurso em manifesto confronto com jurisprudência dominante do
Superior Tribunal de Justiça, na forma do art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao
presente agravo de instrumento. (Processo: 1012047-5 (Decisão Monocrática). Relator: Luiz
Osório Moraes Panza. 6ª Câmara Cível. Data do Julgamento: 19/02/2013. DJ: 1045
25/02/2013)
Tribunal de Justiça de Rondônia
Há de se manter a decisão que indefere o pedido de justiça gratuita à parte que,
comprovadamente nos autos, não se enquadra no conceito de pessoa necessitada, e
revela-se em condições financeiras para efetuar o pagamento das custas
processuais.(Agravo em Agravo de Instrumento 0000709-32.2012.8.22.0000 Origem :
00230768120118220001 Porto Velho/RO (3ª Vara Cível) . Relator : Desembargador
Alexandre Miguel. Julgado 26/02/2012)
Tribunal de Justiça de Santa Catarina
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA.
DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. PRESUNÇÃO RELATIVA DE
VERACIDADE. DEMONSTRATIVO DE PAGAMENTO QUE REVELA A PERCEPÇÃO DE
RENDIMENTOS QUE POSSIBILITAM À PARTE ARCAR COM AS DESPESAS
PROCESSUAIS SEM PREJUÍZO DE SEU SUSTENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DE DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS. NECESSIDADE DO BENEFÍCIO NÃO
DEMONSTRADA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n.
2012.068848-5, de São José, rel. Des. Soraya Nunes Lins , j. 14-02-2013)
Tribunal de Justiça da Paraiba
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA.
POSSIBILIDADE. PRESUNÇÃO RELATIVA DA HI-A POSSUFICIENCIA DERRUÍDA.
MÉDICO. NÃO DEMONSTRA-ÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO.
DESCONSTI-TUIÇÃO DA SUPOSTA FRAGILIDADE FINANCEIRA. JURIS-PRUDÊNCIA
PÁTRIA E DESTA CORTE. SEGUIMENTO NEGA-DO. – A declaração de
hipossuficiência da parte que pugna pelo deferimento do pedido de justiça gratuita
goza de presunção relativa, podendo ser desconstituída através de prova em sentido
contrário, cuja demonstração pode ser exigida, inclusive, pelo Magistrado condutor
do feito. – De acordo com entendimento firmado nesta Corte, a declaração de pobreza, com
o intuito de obter os benefícios da assistência judiciária gratuita, goza de presunção relativa,
admitindo, portanto, prova em contrário. Além disso, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu
que o magistrado pode ordenar a comprovação do estado de miserabilidade a fim de
subsidiar o deferimento da assistência judiciária gratuita STJ. AgRg no AREsp 141426 / MG.
Rel. Min. Luis Felipe Salomão. J. em 24/04/2012. – Ausente evidência escorreita da
necessidade do reconvinte, médico, o indeferimento da ajuda do estado é medida que se
impõe. (Processo: 20020110329824001. Relator: DES. JOSÉ RICARDO PORTO. Orgão
Julgador: TRIBUNAL PLENO. Data do Julgamento: 12/07/2012)
6. A Justiça Gratuita nos Juizados Especiais Cíveis
No âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, desde XX Encontro FONAJE realizado em São
Paulo/SP, tem prevalecido idêntica compreensão sobre o tema, tendo sido aprovado
o Enunciado 116, in verbis:

“O Juiz poderá, de ofício, exigir que a parte comprove a insuficiência


de recursos para obter a concessão do benefício da gratuidade da
justiça (art. 5º, LXXIV, da CF), uma vez que a afirmação da pobreza
goza apenas de presunção relativa de veracidade.”
7. Das nefastas consequências da concessão indiscriminada da Justiça Gratuita
A interpretação exposta nos tópicos anteriores está sintonizada com a finalidade da norma,
que é permitir que o cidadão sem recursos financeiros possa pleitear a tutela de seus
direitos. Interpretação diversa, ou seja, no sentido de que a tal “declaração de necessidade”
possui efeito paralisante sobre os poderes instrutórios do juiz serviria de estímulo à má-fé
processual, pelo abuso de um direito.
A indevida concessão da Justiça Gratuita causa lesão não só ao erário, o que já seria motivo
suficiente para o maior rigor do juiz, mas também à outra parte da relação processual. As
despesas com as provas periciais, por exemplo, acabam sendo suportadas pela parte
contrária ou pelo Estado, que na maioria das vezes não tem estrutura organizacional para
atender tamanha demanda, até porque esses casos deveriam ser exceções, e não a regra.8
Fora do alcance das regras de sucumbência, ou seja, sem nenhum risco a sopesar, não raro
os pseudonecessitados ajuízam pretensões temerárias, verdadeiras aventuras jurídicas, e
mesmo diante de sentença de total improcedência, sentem-se estimulados a recorrer
seguidamente, atribulando todas as instâncias recursais.
A concessão indiscriminada também constitui um verdadeiro desestímulo à busca pelos
métodos alternativos de solução de conflitos, nos quais a composição amigável tem como
atrativo evitar justamente as incertezas e os custos de um processo judicial. É regra de
hermenêutica que o Direito não pode servir de fonte de abusos.
Portanto, se o juiz desconfia que a parte possa estar maliciosamente tentando burlar a lei,
é natural que exija a comprovação do alegado direito.
Só mesmo aqueles que têm algo é temer é que se insurgirão contra as exigências do
magistrado.
Se a insuficiência de recursos é verdadeira, então qual o problema em prová-la?
É bom lembrar que o art. 14, I, do CPC estatui que as partes têm o dever de “proceder com
lealdade e boa-fé”. Essa regra não admite exceções. De fato, não existe nenhum dispositivo
legal estatuindo que, em caso de requerimento de Justiça Gratuita, as partes estão
dispensadas do dever de lealdade e boa-fé, devendo o juiz fazer vista-grossa para as
declarações de necessidade desprovidas de credibilidade e mesmo daquelas que desafiam
a lógica.
8. Conclusão
O intérprete de uma lei não pode ignorar, no momento de sua aplicação, a realidade social
que o cerca, e que se encontra em permanente mutação.
Fixada tal premissa, é até compreensível que nos primeiros anos que se seguiram após a
nova ordem constitucional de 1988 tenha sido firmada jurisprudência pregando a
impossibilidade de se impor rigor à apreciação dos pedidos de Justiça Gratuita. Havia, até
então, a preocupação na concretização do Princípio do Acesso à Justiça.
No entanto, o cenário social atual é outro. O Direito à Justiça Gratuita tem sido
frequentemente usurpado por aqueles que não são os destinatários da norma, e que, sob o
falso pretexto de que estão sendo privados do acesso à jurisdição, tentam indevidamente
esquivar-se de suas obrigações tributárias (taxa judiciária) e processuais (ônus da
sucumbência).
Atendo a isso, felizmente a jurisprudência pátria já tem tomado rumo diverso, conforme
exemplos citados.
Não se trata de restringir o alcance da norma, mas sim garantir a sua aplicação na exata
medida, nem pra mais nem pra menos.
Para tanto, é imprescindível permitir que o juiz analise, caso a caso, a suficiência da
Declaração de Hipossuficiência como prova da necessidade.
Os argumentos em sentido contrário são, em geral, vagos e superficiais, passando ao largo
da questão central tratada na lei: gratuidade aos necessitados.
Por isso, a tendência é que em breve esta seja uma discussão superada, pois terá
prevalecido a legalidade e o bom senso.

Potrebbero piacerti anche