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A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO

DE PESSOAS
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.39.
Imagine a hora do culto vespertino! O coral se apresenta de maneira solene e, de repente,
adentra ao recinto um mendigo; sujo, bêbado, gritando. Qual seria a tua reação? O exemplo
ora citado é extremo. Mas passível de acontecer em qualquer igreja. Todavia, o público o
qual Tiago está se referindo não diz respeito apenas aos mendigos, mas às pessoas
economicamente menos abastadas. Para Tiago, o pobre não é apenas o mendigo, mas
quaisquer pessoas que em um dado momento da vida precisa de algo necessário à sua
subsistência.

Professor, aqui, é necessário fazer uma reflexão. Será que não tem algum aluno na classe
que se sinta discriminado na igreja? Seja pela cor da pele ou aparência física ou classe
social? Prepare esta lição com cuidado e respeito, pois quando ministrada, ela pode revelar
sentimentos diversos de pessoas vítimas de discriminação até mesmo na igreja local.
Mesmo que inconscientemente!
Tendemos a pensar que certas coisas não acontecem na igreja, pois ela é um lugar santo.
Sim, é santa, mas, todavia, composta de santos humanos. E possível perceber certos
comportamentos na igreja que um professor secular, por exemplo, lida todo o instante em
sala de aula. Certas atitudes do mundo secular acontecem em nossos espaços sacros e, por
isso, precisamos estar capacitados para se deparar com estas realidades e agirmos com a
sabedoria do alto.
Portanto, professor, trabalhe o tema central da presente lição abordando a sua tese
principal: a de que é inadmissível a discriminação na igreja. A Palavra diz que "noutros
tempos, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam
circuncisão feita pela mão dos homens; que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados
da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e
sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo
sangue de cristo chegaste perto. Porque ele é a nossa paz, [...] e, pela cruz, [...] matando
com ela as inimizades" (Ef 2.11-16). Não podemos reconstruir a parede que uma vez o
próprio Senhor a derribou! Boa aula!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Um dos pecados mais comuns, até mesmo entre alguns ditos cristãos, tem sido a acepção
de pessoas, isto é, a discriminação de uma pessoa por causa da sua condição financeira, da
sua posição social ou da sua aparência. A acepção de pessoas trata-se de uma atitude
absolutamente anticristã, como veremos com detalhes neste capítulo. Tiago 2.1- 13 enfatiza
que nenhum cristão pode-se dizer verdadeiramente um cristão se vive favorecendo ou
desprezando as pessoas devido à condição social delas.
Há vários textos na Bíblia que ressaltam esse pecado, porém, sem dúvida alguma, a
passagem bíblica mais marcante e enfática sobre esse assunto é a que abre o capítulo 2 da
Epístola de Tiago. Ao ser lida hoje, a referida passagem chama a atenção pela sua
contundência, porém é preciso frisar que, na época em que Tiago a escreveu, ela soou
ainda mais contundente do que hoje. Isso porque, nós, ocidentais, apesar do processo cada
vez mais avançado de descristianização da sociedade ocidental, ainda podemos perceber o
horror de tal atitude. Só que, nos tempos de Tiago, a cultura era totalmente outra, bem
distinta da nossa.
O mundo, na época de Tiago, era caracterizado por profundas divisões sociais que eram
aceitas normalmente pela maioria esmagadora da sociedade. Naquela época, agir com
humildade era manifestação de fraqueza, não de virtude; e fazer distinção de pessoas por
aparência ou por condições físicas ou socioeconômicas era visto como algo absolutamente
natural. Logo, a mensagem cristã, ao ser proclamada, teria um impacto enorme na
sociedade de então, porque ela batia fortemente de frente com toda essa cultura, ao pregar
a humildade, o perdão, a misericórdia, a igualdade entre os seres humanos etc.
O Cristianismo nivela todas as pessoas, e o faz inicialmente com a afirmação de que “todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Além disso, ele também ordena
que amemos o nosso próximo incondicionalmente, independente de sua condição social,
econômica, física etc (Lv 19.18; Mt 22.39). Aliás, se hoje há menos discriminação do que
houve no passado, isso se deve à influência do Cristianismo na história. Se o Ocidente
mantivesse intacta a cultura pagã da Antiguidade, que, por exemplo, discriminava deficientes
e pobres, com certeza a acepção de pessoas ainda seria vista hoje como a ordem do dia em
vez de uma aberração moral, como realmente é. Sim, é verdade que houve falhas morais no
passado nessa área — e hoje eventualmente ainda há — entre aqueles que professam a fé
cristã, mas mesmo os mais críticos do Cristianismo não podem deixar de afirmar que esse
não é o ensino do Cristianismo e que o mundo seria moralmente pior se não se deixasse
impregnar minimamente pelos valores judaico-cristãos. Devemos o conceito de igualdade e
de direitos humanos que temos hoje no mundo a esses valores.
Dito isso, vejamos a seguir, com detalhes, as razões bíblicas, apresentadas pelo apóstolo
Tiago no capítulo 2 de sua epístola, pelas quais a acepção de pessoas é totalmente
rejeitada pelos cristãos.
A comunidade cristã
Imagine, em uma época como a de Tiago, quando o mundo era marcado por divisões
sociais profundas as quais mencionei rapidamente na introdução deste capítulo, surgir uma
comunidade em que não havia acepção de pessoas, onde o pobre convivia com o rico, onde
o servo convivia com o seu senhor e onde tanto judeus quanto gentios adoravam a Deus
juntos e com alegria. Essa era a comunidade cristã, que impactou a Antiguidade durante o
período do Império Romano.
Urge que mantenhamos esse modelo bíblico da Igreja Primitiva em nossos dias, um modelo
que influenciou cristãos na História a lutar contra a discriminação racial ou étnica, contra o
sexismo (seja ele machista ou feminista), contra a discriminação por classes sociais e
econômicas, e contra a discriminação de deficientes. Essa foi uma marca, inclusive, nos
grandes avivamentos da História: foi assim, por exemplo, no Avivamento Wesleyano no
século XVIII, na Inglaterra, e no início do Movimento Pentecostal Moderno, como no caso do
Avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, Estados Unidos, no início do século XX.
Segundo os jornais norte-americanos da época, o Avivamento da Rua Azusa causava
repulsa em alguns e admiração em outros pelo fato de que aquele galpão, onde ocorriam as
reuniões sob a direção do líder negro pentecostal William Joseph Seymour (1870-1922),
reunia tanto negros quanto brancos, e gente de todos os extratos sociais, que se prostravam
juntos em adoração a Deus. Em sua obra The Charismatic Century: The Enduring Impact of
the Azusa Street Revival (Warner Faith, 2006, EUA), Jack Hayford e Davi Moore registram
relatos da época de críticas ao movimento porque “homens e mulheres, brancos e negros,
se ajoelhavam juntos” e “se abraçavam” em momentos de quebrantamento; e o jornalista
John Sherrill, em sua obra They Speak in Other Tongues (“Eles Falam em Outras Línguas”),
conta que “ricos e pobres, igualmente, vinham ver o que ali acontecia”. E ele continua:
“Vinham pessoas das cidades circunvizinhas, mas também do meio-oeste norte-americano,
dos estados de Nova Inglaterra, do Canadá, da Grã-Bretanha. Havia ali brancos e negros,
idosos e jovens, educados e iletrados”.
Em Cristo, não há pobre nem rico, homem nem mulher, negros nem brancos, amarelos ou
pardos, gentio nem judeu. Todos são um em Cristo: “Porque todos sois filhos de Deus pela
fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de
Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, então sois descendência de
Abraão e herdeiros conforme a promessa” (G1 3.26-29). Aleluia!
Confusões pós-modernas sobre o sentido correto da não acepção de pessoas à luz da Bíblia
Antes de concluirmos esse assunto, é importante destacarmos ainda que, infelizmente,
devido ao relativismo moral que está grassando na nossa sociedade nas últimas décadas,
muitos têm distorcido maquiavelicamente o sentido real e original dos direitos humanos, da
igualdade à luz dos valores judaico-cristãos, e passado a combater, como se acepção de
pessoas fosse, aquilo que na verdade não o é. Por exemplo: em nome da não acepção de
pessoas, há quem defenda o homossexualismo como uma prática que deve ser aceita por
todos normalmente, inclusive pelos cristãos, e ainda criam leis para punir quem não
concorde com essa prática, mesmo que os cristãos tratem respeitosamente todos os
homossexuais. Para quem defende isso, não aceitar a prática homossexual significa
acepção de pessoas.
Ora, acepção de pessoas não é isso. Acepção de pessoas é favoritismo com base em
condições sociais, é desamor, é desprezo. E não fazer acepção de pessoas é tratar todas as
pessoas da mesma forma, isto é, com respeito e amor. Não tem nada a ver com
concordância com práticas erradas.
Além disso, não fazer acepção de pessoas também não tem nada a ver com desprezar as
diferenças naturais, como querem fazer crer, por exemplo, as feministas. Justamente porque
não faz acepção de pessoas, o cristão respeita as diferenças naturais, não procurando
confrontar ou forçar a diferença de uma pessoa sobre a outra. Simplesmente, ele apenas
rejeita aquilo que é pecaminoso, não despreza o que é natural e respeita todos, crentes ou
não, tratando-os com respeito.
Há feministas que citam Gálatas 3.28, que diz que em Cristo “não há macho nem fêmea”
para sustentar que não deve haver diferença de funções entre homens e mulheres. Trata-se
de um erro grotesco, pois o referido texto, como o seu próprio contexto denota, não quer
dizer nada disso. Como afirma Donald Stamps a respeito de Gálatas 3.28, Paulo aqui está
removendo “todas as distinções étnicas, raciais, nacionais, sociais e sexuais no que diz
respeito ao nosso relacionamento espiritual com Jesus Cristo”. Ele está dizendo que “todos
os que estão em Cristo são igualmente herdeiros da graça divina (1 Pe 3.7), do Espírito
prometido (G1 3.14; 4.6) e da restauração à imagem de Deus (Cl 3.10,11)”. E, “por outro
lado, dentro do contexto de igualdade espiritual, os homens permanecem homens e as
mulheres, mulheres (Gn 1.27). Os papéis que Deus lhes atribuiu no casamento e na
sociedade permanecem imutáveis (1 Pe 3.1-4; Ef 5.22,23)”.
Em época de significados distorcidos, clarificação de ideias se torna um dever constante.
Logo, como o conceito de tolerância no cristianismo ou mesmo de tolerância em termos
democráticos está sendo cada vez mais distorcido, urge fechar este capítulo explicitando
seu significado.
Antes de tudo, o cristão bíblico, obviamente, defende fervorosamente a tolerância; porém,
não qualquer tipo de tolerância. E que tipo de tolerância ele defende e qual ele não defende?
Ele defende a tolerância legal e a tolerância social, mas não a tolerância acrítica. Como
assim?
O cristão bíblico defende o direito que cada pessoa tem de acreditar em qualquer crença (ou
em nenhuma) que se queira acreditar. Ele defende, por exemplo, que ninguém deve ser
coagido a crer no que ele, cristão, crê. Isto é, o verdadeiro cristão defende e promove a
liberdade religiosa. Isso se chamada tolerância legal.
O cristão bíblico também defende o respeito a todas as pessoas, mesmo que discorde
frontalmente de suas religiões ou ideias. Ele defende a paz entre os indivíduos, entre os
diferentes. Isso é tolerância social.
E com base na tolerância legal e na tolerância social que temos de fato a chamada liberdade
religiosa.
Entretanto, o cristão bíblico não defende a tolerância acrítica. Muito ao contrário: ele defende
que a tolerância em uma democracia, assim como a tolerância cristã à luz da Bíblia, não é
sinônimo de ser acrítico, de não poder expressar, defender e pregar os valores bíblicos.
Agora, em tudo, deve haver sempre o amor e o respeito.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 71-73; 80-83.
A advertência necessária que Cristo aproveitou para fazer aos seus ouvintes. Embora o
Senhor não tenha vindo para ser um repartidor dos bens dos homens, Ele veio para ser um
guia de suas consciências em relação aos bens. O Senhor deseja que todos tomem cuidado
para não abrigarem este princípio corrupto que eles viam que era, nos outros, a raiz de
tantos males.
Aqui está:
1. A advertência em si (v. 15): Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, horate - “observai-
vos a vós mesmos, mantende um olho extremamente cuidadoso sobre os vossos próprios
corações, para que princípios avarentos não entrem neles furtivamente; e phylassesthe -
preservai-vos a vós mesmos, mantende uma atadura severa sobre os vossos próprios
corações, para que os princípios avarentos não os dominem, nem estabeleçam sua lei
neles. A avareza é um pecado contra o qual precisamos vigiar constantemente. Portanto,
precisamos ser frequentemente alertados contra ela.
2. O motivo dela, ou um argumento para reforçar esta advertência: “Porque a vida de
qualquer não consiste na abundância do que possui” ; isto é, “a nossa felicidade e conforto
não dependem de termos uma grande quantidade da riqueza deste mundo”. (1) A vida da
alma, sem dúvida alguma, não depende dela, e a alma é o homem. As coisas do mundo não
se ajustarão à natureza de uma alma, nem suprirão suas necessidades, nem satisfarão seus
desejos, nem durarão tanto quanto ela. (2) A vida do corpo e a felicidade deste não
consistem na abundância destas coisas. Porque muitos que vivem contentes e tranquilos, e
atravessam o mundo muito confortavelmente, possuem apenas um pouco da riqueza dele
(um j antar de ervas com amor santo é melhor do que um banquete de coisas gordurosas).
Por outro lado, muitos que vivem miseravelmente, possuem uma quantidade muito grande
das coisas deste mundo; estes possuem abundância, no entanto não têm nenhum conforto;
eles privam a sua alma do bem, Eclesiastes 4.8. Muitos que possuem abundância estão
descontentes e desassossegados, como Acabe e Hamã. E que bem a sua abundância lhes
proporciona?
3. A ilustração disto através de uma parábola, sendo que sua importância é mostrar a
loucura das coisas carnais deste mundo enquanto vivem, e sua miséria quando morrem.
Também há o propósito não só de censurar aquele homem que veio até Cristo com um
pedido a respeito de seus bens, enquanto não tinha nenhum cuidado com a sua alma e com
o outro mundo, mas de reforçar esta advertência necessária a todos nós, para nos
guardarmos da avareza. A parábola nos mostra a vida e a morte de um homem rico, e deixa
que julguemos se este homem era feliz.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO
Edição completa.Editora CPAD. pag. 622.
Não era incumbência do Senhor nem finalidade de sua vinda ajudar o pedinte a alcançar sua
justa herança, mas curá-lo de sua mazela principal. “E disse-lhes: Tende cuidado e guardai-
vos de toda e qualquer avareza!” Ele advertiu todos os ouvintes, porque quase todas as
pessoas sofrem desse mal fundamental.
Os dois imperativos “vede” e “tende cuidado” no v.15a poderiam ser vistos como
recomendação: “Mantenham bem abertos os olhos contra a avareza!” Contudo a tradução
mais correta talvez seja: “Vede este homem que acaba de dirigir-se a mim com uma
demanda legal, e cuidai-vos!” O termo grego, traduzido por avareza, designa mais
precisamente “a avidez de ter cada vez mais”, e não o desejo de conservar aquilo que já se
possui. Esse último aspecto, porém, faz parte do primeiro. Esse duplo anseio está baseado
numa confiança supersticiosa em bens terrenos, cuja posse é equiparada à felicidade.
A complexa construção do texto básico no v. 15b, não obstante diversas obscuridades do
significado, aponta para a tolice da avareza no seguinte sentido: “Ainda que alguém tenha
em abundância, não conquistará vida por meio de seus bens”. Provavelmente seja esse o
significado dessa frase de difícil formulação.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
Essa é uma advertência muito séria. Que cada ouvinte a leve a sério. Que comece fazendo
um inventário. Que ele tome como uma séria tarefa fazer a si mesmo e reiteradamente a
pergunta: “Sou, porventura, um homem cobiçoso? Experimento a alegria de dar para as
boas causas? Ou porventura sou uma pessoa egoísta? Sinto uma paixão desordenada
pelas possessões materiais? De ter honra e prestígio?
Poder e posição? Em suma, sou cobiçoso?
A palavra grega que é traduzida por cobiça é muito descritiva. Literalmente, significa: A sede
de ter mais, de ter sempre mais e mais e ainda mais. É como se um homem que tem sede
tomasse um copo de água salgada para saciá-la, uma vez que tem à disposição unicamente
essa água. Isso faz com que ele tenha ainda mais sede. De modo que continua tomando
mais e mais até que sua sede o mata. Em relação a isso, pense também em uma das
palavras alemãs que significa cobiça: die Habgier, cf. a palavra holandesa: hebzucht, a
paixão descontrolada de ter ... ter ... ter ... mais ... e mais ... e ainda mais.
Jesus disse a essas pessoas - e diz a nós hoje - que não nos deixemos escravizar por esse
demônio da cobiça, e acrescenta: porque a vida de um homem [a vida que realmente
importa] não consiste na abundância de suas possessões, seus bens terrenos.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas II. Editora Cultura Cristã.
pag. 179-180.
I - A FÉ NÃO PODE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS (Tg 2.1-4)
1. Em Cristo a fé é imparcial.
Tg 2.1 Os irmãos e irmãs eram membros da igreja e a família de Tiago na fé cristã. O
relacionamento familiar que Tiago está descrevendo está limitado àqueles que têm a fé de
nosso Senhor Jesus Cristo. Devido à sua posição no grupo de crentes, os leitores de Tiago
deviam seguir as instruções que ele lhes daria.
Os crentes que iriam receber esta carta já eram culpados por tratar as pessoas de modo
diferente. Aparentemente, os crentes estavam avaliando as pessoas com base somente em
aspectos externos - aparência física, status, riqueza, poder. Como resultado, eles estavam
fazendo concessões a pessoas que representavam estas posições de prestígio e sendo
influenciados por elas.
A recomendação de Tiago continua sendo importante para as igrejas de hoje.
Frequentemente, nós tratamos uma pessoa bem vestida e elegante melhor do que uma
pessoa que parece ser pobre. Nós fazemos isto porque preferimos nos identificar com
pessoas de sucesso do que com fracassos aparentes. A ironia, Tiago nos lembra, é que os
supostos vitoriosos podem ter conseguido o seu estilo de vida impressionante às nossas
custas. As nossas igrejas não devem mostrar nenhuma parcialidade com respeito à
aparência exterior, à riqueza, ou ao poder de uma pessoa. A lei do amor deve governar
todas as nossas atitudes com relação aos outros. E muito frequente que se dê tratamento
preferencial aos ricos ou poderosos quando há posições na igreja que precisara ser
ocupadas. É muito frequente que uma igreja não demonstre interesse pelas sugestões dos
seus membros mais humildes ou pobres, favorecendo as ideias dos ricos. Este tipo de
discriminação não deve ter lugar nas nossas igrejas.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 670-671.
O Mandamento (Tg 2.1)
O versículo 1 deveria ser lido como um mandamento para estar em concordância com a
natureza imperativa da epístola.1 Mas Tiago começa sua palavra de repreensão onde toda
repreensão eficaz deve começar — ele identifica-se com aqueles que repreende. Ele
escreve aos meus irmãos (v. 1) e “meus amados irmãos” (v. 5). Como um sábio líder de
igreja, Tiago pede aos seus leitores que avaliem a conduta deles em relação à sua lealdade
cristã suprema — a fé de nosso Senhor Jesus Cristo. A expressão não tenhais a fé é uma
referência à fé que eles cultivavam e à forma em que deveriam fazê-lo. Tiago estava
escrevendo a homens e mulheres cristãos. Eles estavam bem cientes do significado da fé
cristã — a religião que Cristo tinha trazido ao mundo. Acepção de pessoas significa
parcialidade; a exortação é: “Não mostrem nenhum tipo de preconceito e de parcialidade”
(NT Ampl.). Phillips coloca a exortação de maneira ilustrativa: “Meus irmãos, jamais
procurem misturar esnobismo com fé em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo!”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 165.
“Acepção de pessoas”: os antigos tinham outro entendimento de “pessoa” que nós. Não se
referiam tanto à personalidade individual de cada um, mas antes ao rótulo que alguém tinha.
Um era “escravo”, outro “cidadão”, outro “comerciante”, um “general”, outro “príncipe”.
A expressão “acepção da pessoa” = “ser partidário” ocorre particularmente na tradução
grega do AT, na Septuaginta [LXX]. Já no AT é rigorosamente proibido que o juiz seja parcial
em sua sentença (Lv 19.15; Dt 1.17; Sl 82.2). O juiz não podia pensar: “Essa pessoa é líder
de um clã, por isso tenho de fechar um olho.” Ou: “Esse é um escravo estrangeiro; aqui
posso estabelecer um exemplo de dureza.” Ser juiz significava encontrar e promulgar o
direito por incumbência e em lugar de Deus. E a Bíblia atesta incessantemente que perante
Deus não existe acepção da pessoa. Não considera o rótulo nem a categoria humana, mas
o próprio ser humano, fazendo justiça a cada um (Dt 10.17; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25).
Nenhuma acepção de pessoas: agora Tiago diz que fé e acepção de pessoas não
combinam. Importa que não creiamos em nossos papéis, nos rótulos, mas em Deus. Não
são posses, posições ou “vestimenta gloriosa” que conferem glória, mas unicamente o
“Senhor da glória”.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Dissensões na Ceia do Senhor, 11.17-34
O problema da modéstia feminina, em relação ao culto público, representava um assunto de
pouca importância quando comparado a alguns problemas que haviam surgido na prática da
Ceia do Senhor. A rejeição de uma cobertura para a cabeça das mulheres pode ter se
originado de falta de conhecimento ou de um mal-entendido sobre a natureza da liberdade
cristã. Mas a deliberada perversão do sagrado serviço da Ceia do Senhor revelou uma
indiferença pelos ensinamentos cristãos básicos. Dessa forma, Paulo adotou um tom severo
ao denunciar a gula e as discussões associadas a esse símbolo de fraternidade.
1. Uma Rigorosa Censura (11.17-22)
No versículo 2, Paulo havia elogiado os coríntios por sua lealdade geral aos ensinos e
práticas que o apóstolo lhes havia transmitido. Agora ele escreve: Não vos louvo (17). A
situação era grave. O verbo declarar (parangello) que consta em algumas versões significa
impor uma ordem com autoridade. Ele lhes ordena que resolvam o assunto. A ocasião dessa
rigorosa censura de Paulo representa um dos fatos mais chocantes que podem ocorrer a um
grupo que está realizando um culto de adoração: Porquanto vos ajuntais, não para melhor,
senão para pior. Ao invés de edificar a vida espiritual, a Ceia do Senhor havia se tornado,
para aquela igreja, um momento de declínio espiritual.
a) Dissensões na igreja (11.18-19). Paulo escreve: Ouço que... há entre vós dissensões
(18). A palavra para dissensões (schismata) foi usada anteriormente (1.10) para descrever o
espírito que estava dividindo a igreja. Quando as pessoas se reuniam para adorar a Deus
elas revelavam um espírito de divisão e de exclusividade, até mesmo no ritual cristão mais
sagrado.
A palavra heresias (19) deriva de um termo que reforça a ideia de escolher entre
alternativas. Na linguagem bíblica e da igreja, essa palavra geralmente significa uma escolha
errada, portanto uma falsa doutrina. Ela pode ser uma das “obras da carne” (G1 5.20). Aqui
seu significado parece ser semelhante às dissensões do versículo 18. A versão RSV traduz
a expressão como “divisões entre vós”. O significado da última parte do versículo 19 parece
ter a forma de uma sátira. Em outras palavras: Vocês devem manter as dissensões entre si,
a fim de que aqueles que insistem que estão certos possam prová- lo separando-se do
restante da igreja.
b) Abusos na Ceia do Senhor (11.20-21). As dissensões em Corinto eram tão graves que
quando as pessoas se reuniam para cultuar a Deus não era para comer a Ceia do Senhor
(20). Suas divisões pessoais (e carnais) haviam realmente transformado o culto em uma
espécie de dissipação, que o tornava algo bem diferente de um culto ao Senhor. Em Corinto,
a Ceia do Senhor não era simplesmente um símbolo da ingestão de alimentos e bebidas.
Era uma verdadeira refeição. Aparentemente, cada membro levava alimentos ao culto. Nas
festas religiosas das religiões pagãs, a divisão dos alimentos era muito comum, e recebia o
nome de eranio. Na Igreja Primitiva, seus membros aparentemente também participavam,
em certas ocasiões, de uma refeição comum que recebia o nome de festa (ou banquete) do
amor, ou agape (2 Pe 2.13; Jd 12). Entretanto, em Corinto essa refeição não representava o
amor cristão, e nem mesmo a aparente boa vontade das festas pagãs. A esse respeito,
Paulo escreve: Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e
assim um tem fome, e outro embriaga-se (21).
Na Santa Ceia de Corinto parece que cada pessoa colocava o alimento à sua frente e
começava a comer sua própria ceia. O quadro é de briga e gula para comer as provisões
antes que fosse possível “fazer uma distribuição geral dos alimentos, para não precisar
dividi-lo com os demais irmãos”.13 Como consequência, os pobres que não podiam levar
muito, ou aqueles que nada podiam levar ou chegavam tarde, sairiam com fome. Dessa
forma, um tem fome, e outro embriaga-se. O verbo embriaga-se (methuein) geralmente
significa “ficar intoxicado”. Mas também significa comer e beber até à completa satisfação, e
este pode ser o seu significado aqui. De qualquer maneira, os coríntios haviam deturpado
completamente o significado da Santa Ceia. A Ceia do Senhor é o símbolo do sacrifício, do
amor e da fraternidade. Mas em Corinto representava egoísmo, intemperança e indiferença
às necessidades dos outros.
Pecados no Abuso da Ceia do Senhor (11.22). Paulo descreve três pecados específicos
cometidos pelos coríntios. Em primeiro lugar, eles haviam mudado o preceito espiritual em
uma espécie de cerimônia festiva. A finalidade da Ceia do Senhor era lembrar aos crentes a
morte de Cristo e o resultado redentor do seu sofrimento. Se os membros da igreja queriam
satisfazer sua fome ou celebrar uma refeição festiva, poderiam escolher uma outra ocasião.
Em segundo lugar, os coríntios haviam mostrado falta de respeito e de reverência pela igreja
de Deus. Transformar a igreja em um lugar de celebração festiva “é o mesmo que aviltá-la,
portanto, desprezá-la, rebaixá-la”.14 E, por último, através do egoísmo deles, os membros
mais abonados perturbavam e humilhavam os pobres entre os crentes. Esta combinação de
pecados levou Paulo a fazer a mais simples, porém a mais completa, declaração
condenatória: Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisso não vos louvo.
2. O Significado da Ceia do Senhor (11.23-26)
O entendimento de Paulo a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma revelação direta
de Deus. O apóstolo apresenta a autoridade da sua narrativa “fundamentada em um alicerce
imutável”. Quando Paulo recebeu o evangelho diretamente de Cristo (G11.11-12), e não do
homem, ele também recebeu instruções relativas à Ceia do Senhor. Além disso, ele havia
transmitido estas informações à igreja de forma cuidadosa e fiel. Assim, o apóstolo podia
afirmar com segurança e autoridade: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei
(23).
A Ceia representava a inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser observada
como um memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue derramado” deveriam ser
considerados como símbolos e não como referências literais ao corpo de Cristo. Quando
Jesus disse, isto é o meu corpo que é partido por vós (24), ele não estava fisicamente
sentado à mesa. Qualquer ideia sobre uma transformação milagrosa, tanto no pão quanto no
vinho, é contrária ao relato bíblico. Finalmente, a Ceia do Senhor deveria ser celebrada
como um memorial ou lembrança, e não como meio de salvação. As afirmações: Fazei isto
em memória de mim e Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia
de que a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de Cristo.
3. Celebração da Ceia do Senhor (11.27-34)
A Ceia do Senhor é uma recordação espiritual do ato de redenção de nosso Senhor, e um
testemunho público da nossa fé em Jesus Cristo. Portanto, ela deve ser celebrada como um
agradecimento solene.
Participação indigna (11.27). Paulo afirma que é possível comer o pão ou beber o cálice do
Senhor, indignamente. O advérbio indignamente se refere à diferença de pesos; portanto ele
significa “pesos diferentes” ou “indevidamente equilibrados”. A atitude de uma pessoa pode
não estar equilibrada com a importância da ocasião. Se ela participar da Ceia do Senhor de
forma frívola e descuidada, sem respeito ou gratidão, ou mesmo se estiver em pecado ou
manifestando amargura contra outro irmão crente, estará participando indignamente.
Participar indignamente é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A palavra culpado
(enochos) significa “ser passível do efeito penal de um ato; aqui a palavra... [envolve] a culpa
pela morte de Cristo”. Ao invés de se apresentar à mesa com uma atitude imprópria ou
pecadora, o crente deve comparecer “na fé, e com o devido comportamento em relação a
tudo aquilo que é apropriado a este ritual solene”.
Exame espiritual (11.28). Antes de participar desse serviço sagrado, examine-se o homem
por meio de uma análise rigorosa. Essa palavra significa testar; portanto, o crente deverá
examinar seus motivos e seus atos. Certamente ninguém poderá ganhar, como um
pagamento, a graça e o perdão de Deus. Mas, por outro lado, um sincero exame irá indicar
se a pessoa compareceu à mesa sagrada levada por motivos sinceros e uma obediência
ativa ao Senhor. O ensino de Paulo é totalmente positivo. Ele não diz que alguém deva fazer
um auto-exame, e deixar a mesa do Senhor em uma situação de desespero. Pelo contrário,
ele aconselha o homem a examinar seu coração e, em seguida, cheio de uma fé sincera,
coma deste pão, e beba deste cálice.
Os perigos da irreverência (11.29-30). A versão ARA traduz o versículo 29 da seguinte
forma: “Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. A palavra
krima, que a versão ARA traduz como juízo, significa condenação, como na versão ARC.
Paulo não tem a intenção de afirmar que a pessoa que comparece à mesa sem a
qualificação espiritual adequada será eternamente amaldiçoada. Ele quer dizer que tal ato
irá trazer a condenação e a culpa. Não discernindo o corpo do Senhor significa que o crente
não foi capaz de distinguir entre o memorial sagrado da Ceia de Senhor e outros tipos de
refeição.
O apóstolo indica que como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há entre vós muitos
fracos e doentes e muitos que dormem (30). E muito grave declarar que o abuso da Ceia do
Senhor resulta na maldição eterna, mas Paulo adverte que o castigo de Deus poderia
acontecer, trazendo enfermidades e até a morte física. A palavra fracos Oasthenes) está
relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer dizer enfermidade e
decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada freqüentemente no NT para
indicar a “morte daqueles que pertencem a Cristo”. Godet diz que Paulo está descrevendo
um “julgamento prévio, especificamente infligido por Deus, como aquele que Ele envia para
despertar o homem para a salvação”.
Participação reverente (11.31-34)
A maneira de evitar o castigo de Deus é nos julgarmos a nós mesmos de modo voluntário e
sincero (31). Mas, quando Deus envia seu julgamento para o crente, este é repreendido pelo
Senhor (32). Nesses casos, os castigos de Deus não são severos, mas símbolos do seu
amor. “Eles são enviados para nos livrar dos caminhos do pecado e para não participarmos
da condenação do mundo”.
A maneira adequada de observar o sacramento é esperar uns pelos outros (33). Os
membros devem esperar até que todos estejam reunidos e depois, com afeição fraterna e
respeito, conduzir a festa do amor. A determinação final do versículo 34 é novamente uma
advertência para não considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um homem
estiver com fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos crentes a obra
redentora de Cristo e despertar na igreja um espírito de unidade e amor.
Alguns outros pontos relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção. Sobre eles
Paulo escreve: Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando for ter convosco (34).
Esses problemas estavam afetando seriamente a vida da igreja e podiam ser adiados para
uma outra ocasião. Quais eram as demais preocupações que Paulo tinha em mente? Talvez
ele quisesse separar completamente a ideia da festa do amor da celebração da Ceia do
Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume de fazer uma refeição junto com
a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para os cristãos existe “Força Através das Ordenanças”. 1) Elas foram instituídas pelo
Senhor, 23a; 2) Elas são memoriais do sacrifício de Cristo, 236-26; 3) Elas exigem um auto-
exame, 27-29; 4) Elas produzem a preocupação pelos outros, 33-34.
Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. I Coríntios. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 327-
331.
I Cor 11.17-34 — Esta passagem diz respeito às atividades impróprias que estavam
ocorrendo quando a igreja se reunia para participar da celebração da eucaristia ou ceia do
Senhor.
I Cor 11.17 — Não vos louvo. Em contraste com o elogio de Paulo no versículo 2, de que os
coríntios haviam obedecido a muitos de seus ensinos, aqui ele expressa preocupação pelas
práticas pecaminosas dos coríntios durante a adoração. Ajuntais é um termo técnico que se
refere à reunião da igreja e é usado três vezes nesta passagem (v. 18,20).
I Cor 11.18 — Dissensões. E tentador compararmos as dissensões aqui com os problemas
que aparecem no capítulo 1, mas parece que as dissensões, nesse versículo, estão
relacionadas aos eventos que aconteciam quando a igreja se reunia para a ceia do Senhor.
E possível que as dificuldades estivessem acima de distinções referentes a classes de ricos
e pobres, ou judeus e gentios. Quando a Igreja se reúne, todos devem se ajuntar como
irmãos, mas, ao que parece, não era isso que acontecia em Corinto. Em vez da união
recomendada por Paulo em 1 Coríntios 11.17 e enfatizada novamente nos capítulos 12—14,
havia divisão entre os cristãos.
I Cor 11.19 — Os aprovados (a ra ). Um dos resultados positivos decorrentes da divisão ou
dos partidos (a ra ) na igreja é que se torna óbvio quem são os verdadeiros cristãos na
congregação.
I Cor 11.20-22 — A Ceia do Senhor era a peça central da adoração da igreja do primeiro
século. Reunidos em torno de uma mesa, os irmãos se encontravam com o Senhor e uns
com os outros em unidade. Cristo havia expressado esse tipo de humildade e unidade
quando instituiu a ceia (Mt 26.26-30; Mc 14-22-26; Lc 22.14-23). Os cristãos coríntios
estavam tomando antecipadamente a sua própria ceia, violando o espírito e o propósito da
refeição. Ao agirem assim, eles mostravam desprezo pela Igreja de Deus e envergonhavam
aqueles que nada têm (v. 22).
I Cor 11.21 — Porque, comendo [...] um tem fome, e outro embriaga-se. Na igreja do
primeiro século, a ceia do Senhor normalmente era precedida por uma refeição para
comunhão, mais tarde conhecida como a Festa Àgape. No final, tantos problemas
acompanhavam essas festas, que, no Concílio de Cartago (397 d.C.), elas foram
estritamente proibidas. E foi o que aconteceu em Corinto. Quando se ajuntavam, os coríntios
não comiam juntos; consequentemente, isso não podia ser chamado de comunhão, e o
comportamento deles desonrava tanto o Senhor, que a reunião dificilmente poderia ser
chamada de ceia do Senhor.
Alguns, na verdade, ficavam embriagados.
11.22-25 — Eu recebi do Senhor se refere à revelação que Paulo recebeu de Cristo sobre o
significado da morte e da ressurreição do Senhor representado pelos elementos da santa
ceia; simbolismo que Paulo ensinou aos irmãos, explicando os novamente.
I Cor 11.24,25 — Tomai, comei [...] partido são palavras omitidas nos melhores manuscritos.
Isto é o meu corpo. Sem dúvida, uma expressão não literária, mas figurativa. Ele estava ali,
no meio dos discípulos, participando com eles do elemento do pão, que significa Sua
encarnação.
Que é [...] por vós. Isso significa o caráter sacrifical e vicário da morte de Cristo. Ele é
relembrado nesta mesa, não como um grande exemplo, ou mestre, ou mesmo profeta, mas
como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Contrastando com a reunião
muitas vezes impensada e negligente dos cristãos coríntios em sua chamada festa do amor,
Jesus pediu aos Seus discípulos: “Lembrai-vos de mim”.
I Cor 11.26 — Anunciais a morte do Senhor, até que venha. A ceia do Senhor remonta à
morte de Cristo e aguarda Sua Segunda Vinda (Mt 26.29; Mc 14-25; Lc 22.18).
I Cor 11.27-29 — Indignamente se refere ao modo como uma pessoa participa da ceia do
Senhor. Os coríntios estavam transformando a refeição em um momento para exagerarem
na comida e se embriagarem, em vez de fazerem daquela ocasião um tempo para refletirem
na morte e na ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
I Cor 11.30 — Dormem, neste contexto, refere-se à morte de cristãos (1 Co 15.18; 1 Ts
4.15,16). Esta passagem se refere à morte precoce, um castigo sofrido por alguns cristãos
que não se examinavam à mesa do Senhor (v. 28).
I Cor 11.31,32 — Se nós nos julgássemos a nós mesmos, o Pai não precisaria corrigir-nos.
Mas, quando os cristãos não estiverem dispostos a fazer este autoexame, Deus mesmo irá
corrigi-los.
I Cor 11.33,34 — Esperai uns pelos outros. Paulo conclui sua discussão sobre a ceia do
Senhor com uma exortação prática, para que os cristãos coríntios demonstrassem a devida
preocupação uns pelos outros. Ele insinua, nas palavras coma em casa, que desaprova as
frequentes festas do amor.
E ele mostra novamente uma preocupação pastoral quando expressa a ideia para que vos
não ajunteis para condenação. Paulo não se deleita com a mão disciplinadora do Senhor.
Ordená-las-ei (do grego diatasso) refere-se às providências visivelmente práticas (1 Co 16.1;
G1 3.19). Qualquer outro detalhe relacionado à ceia do Senhor, Paulo esclareceria em sua
visita à cidade.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Novo
Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 431-432.
Problemas com respeito à Ceia do Senhor (11.17-34)
Há quatro grandes verdades que vamos destacar nesta exposição:
Em primeiro lugar, as repreensões do apóstolo Paulo à igreja (11.17-22). O apóstolo Paulo
acabara de fazer um elogio à igreja de Corinto (11.2). Agora, porém, traz uma séria
exortação: “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para
melhor, e sim para pior” (11.17).
O que estava acontecendo? Mais uma vez divisão na igreja de Corinto. As divisões na igreja
haviam chegado a proporções alarmantes. Além do culto à personalidade em torno de
alguns líderes (1.12), agora Paulo mostra que os crentes estavam indo à igreja e voltando
para casa piores (11.17). O culto na igreja estava desembocando em certo esnobismo
perverso e odioso por parte dos ricos. Eles estavam desprezando os pobres.158 Os ricos
estavam desprezando a Igreja de Deus e envergonhando os pobres. “Porque, ao comerdes,
cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que
há também quem se embriague” (11.2). A Ceia era precedida pela Festa do Amor, a festa do
Ágape.
A Bíblia fala dessa festa em Judas 12. No dia em que a Ceia do Senhor era celebrada
servia-se uma refeição completa. Os crentes comiam, bebiam, repartiam, se
confraternizavam e depois, num clima de comunhão, celebravam a Ceia do Senhor. Essa foi
uma prática da igreja apostólica que se perdeu na História.
A Festa do Agape era não apenas um tempo de comunhão, mas, também, e, sobretudo, um
ato de amor aos membros mais pobres da igreja. Era uma oportunidade para os cristãos
ricos repartirem um pouco de seus bens materiais com os pobres. Uma vez que todos
traziam de casa alguma coisa para comer e faziam uma espécie de ajunta-prato, os pobres
poderiam participar de uma boa refeição pelo menos uma vez na semana. Depois desse
banquete, então, eles celebravam a Ceia.
Em segundo lugar, a deturpação da Festa do Amor (11.17-22,33,34). Na igreja de Corinto,
durante a Festa do Amor, os ricos se isolavam e comiam à vontade as finas iguarias dos
próprios banquetes que traziam de casa, e bebiam a ponto de se embriagarem. Do outro
lado, porém, ficavam os pobres, que não tinham condições de trazer alimentos de casa e
passavam fome. Depois de toda essa atitude odiosa de preconceito e desamor, eles se
reuniam e celebravam a Ceia do Senhor. E nesse contexto que Paulo os reprova, dizendo-
lhes que estavam se reunindo para pior. Essa não é a Ceia do Senhor que eles estavam
participando. A atitude deles não era compatível com a celebração da Ceia do Senhor.
Agindo dessa forma eles estavam desprezando a Igreja de Deus.
O que estava acontecendo nessa festa? Vejamos os seis pontos apresentados por Paulo
que apontam a deturpação da Festa do Amor.
a) Eles se ajuntavam para pior. Paulo escreve: “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos
louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior” (11.17). O culto deles não
estava centrado em Deus nem era sensível ao próximo. Tudo girava em torno deles
mesmos, de tal maneira que quando eles iam para a igreja, eles não adoravam a Deus nem
serviam ao próximo. Assim, ao voltarem para casa, voltavam em estado pior. Eles cultuavam
a si mesmos.
Eles buscavam a satisfação do próprio eu. Então Paulo os exorta: Vocês estão se reunindo
para pior. Leon Morris diz que “em vez da comunhão ser um ato eminentemente edificante,
estava tendo um efeito dilacerante”.
b) Eles se reuniam, mas não havia harmonia no meio deles.
Paulo diz: “Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos
reunis na igreja; e eu, em parte, o creio” (11.18). Havia divisões, partidos, e cismas entre
eles.
A palavra grega para “divisões” é schismata, a mesma palavra que Paulo empregou em
(1.10), acerca das dissensões que tinham cindido a igreja em facções. Essas se
intrometeram na mais santa das práticas déT culto. Eles estavam dentro da igreja, mas não
tinham uma só alma. Os ricos estavam de um lado e os pobres do outro. Os crentes de
Corinto valorizavam as pessoas pela grife da roupa que usavam, pelo título que as pessoas
tinham e pela posição que as pessoas ocupavam na sociedade. O status social das pessoas
dividia a igreja. Eles não tinham uma só alma, um só coração, um só sentimento, e um só
propósito. Havia ajuntamento, mas não comunhão.
c) Eles participavam dos elementos da Ceia, mas não era a Ceia que eles celebravam.
Paulo afirma: “Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que
comeis” (11.20). Paulo está combatendo o perigo do ritualismo.
Você pode assentar-se para celebrar a Ceia, comer o pão e beber o vinho e, ainda assim,
não ter usufruído as bênçãos da comunhão da Mesa do Senhor. Por quê? Porque a
motivação pode estar errada.
Os crentes de Corinto seguiam um ritual, mas o coração deles estava afastado do propósito
divino. Eles tinham o ritual, mas não a essência representada pelo ritual. Deus está mais
interessado na sinceridade do coração do que em rituais. Nós devemos celebrar a Páscoa
com os asmos da sinceridade.
Se participarmos do culto, assentando-nos ao redor da mesa do Senhor, não refletirmos
sobre o significado da Ceia e ainda desprezarmos nossos irmãos, então, esse ritual é
desprovido de qualquer valor. Deus não se impressiona com rituais pomposos, Ele quer a
verdade no íntimo. O cerimonialismo é um grande perigo. Deus não se impressiona com os
nossos ritos e cerimônias. Ele vê o coração do adorador.
d) Eles eram esnobes e orgulhosos (11.21). Os ricos, de um lado, comiam os melhores
churrascos e bebiam os melhores vinhos até a embriaguez enquanto os pobres ficavam do
outro lado passando fome. De um lado estavam os pobres com fome e do outro estavam os
ricos bêbados. Depois dessa feira de vaidades, os ricos ainda tinham a petulância de dizer:
“Agora nós vamos celebrar a Ceia do Senhor”. Agindo assim, feriam a comunhão,
humilhavam os irmãos pobres e desonravam a Deus. E importante ressaltar que a atitude
egoísta dessas pessoas estava em flagrante contraste com a oferta altruísta e sacrificial de
Cristo que deu Sua vida para o resgate dos pecadores. A Ceia que eles celebravam
apontava para a oferta sacrificial de Cristo e eles a celebravam com gestos de egoísmo e
não de amor altruísta.
e) Eles se entregavam a excessos dentro da igreja (11.21).
Eles bebiam a ponto de chegar à embriaguez na Festa do Amor, antes da celebração da
Ceia. Os ricos deixavam os pobres passando fome, enquanto comiam, empanturravam-se e
embebedavam-se num claro sinal de excesso e falta de domínio próprio. Paulo diz que a
atitude deles estava errada. Eles estavam se reunindo para pecar. Tanto a glutonaria quanto
a bebedeira são obras da carne e não fruto do Espírito (G1 5.19-21).
f) Eles desprezavam a Igreja de Deus e envergonhavam os pobres (11.22). A deturpação da
Festa do Amor na Igreja primitiva acabou abolindo-a completamente. Eles desprezavam a
santidade de Deus, a santidade da igreja e o amor ao próximo.
Em terceiro lugar, o significado da Ceia do Senhor (11.23-26). A Ceia do Senhor está
centralizada na morte expiatória de Cristo e no Seu sacrifício vicário. A cruz de Cristo e não
o egoísmo humano está no centro dessa celebração. O sangue de Cristo é o selo da nova
aliança. Por meio dele Deus perdoa os nossos pecados e nos salva da ira vindoura.
A Ceia do Senhor é uma proclamação dramatizada de quatro verdades essenciais da fé
cristã. Não podemos nos assentar à mesa sem olhar para o sacrifício de Cristo. Warren
Wiersbe destaca quatro pontos que Paulo ensinou sobre a Ceia e que devemos ainda hoje
observar sempre que nos reunirmos ao redor da mesa do Senhor: devemos olhar para trás,
para a frente, para dentro e ao redor.
a) Devemos olhar para trás. Quando você participa da Ceia, você deve olhar para trás, para
a cruz de Cristo (11.26). Todas as vezes que comemos o pão e bebemos o cálice,
anunciamos a morte do Senhor. Quando Jesus pegou o pão e o partiu, Ele disse: “Este pão
é o meu corpo, que é partido por amor de vós. Tomai e comei, fazei isto em memória de
mim”. Jesus está ordenando que a igreja se lembre não dos Seus milagres, mas da Sua
morte. Devemos olhar para trás e nos lembrar por que Cristo morreu, como Cristo morreu,
por quem Cristo morreu. Cristo é o centro da Ceia. A Ceia é uma pregação dramatizada do
calvário.
b) Devemos olhar para frente. Quando participa da Ceia, você não olha somente para trás,
mas também para a frente. Paulo diz: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (11.26). A Ceia nos
aponta para a segunda vinda de Cristo. A eucaristia aponta para aparousia. Há um clima de
expectativa em toda celebração da Ceia do Senhor (Lc 22.16,18). A segunda vinda de Cristo
é a grande esperança do cristão num mundo onde o mal tem feito tantos estragos. Atrás,
aponta para a sua morte; à frente, aponta para a sua volta.165 William MacDonald, citando
Godett, afirma: “A Ceia do Senhor é o elo entre Suas duas vindas, o monumento de uma, a
garantia de outra”.
c) Devemos olhar para dentro. Quando você celebra a Ceia, náo somente olha para trás e
para a frente, mas também olha para dentro. Paulo exorta: “Examine-se, pois, o homem a si
mesmo” (11.28). Você não olha para o seu irmão. Você não é o juiz do seu irmão. Em vez
de examinar e julgar a vida alheia; volte as baterias para você mesmo, examine-se a si
mesmo e julgue-se a si mesmo. Investigue o seu coração. Analise a sua vida. E digno
observar que Paulo diz: Examine-se o homem a si mesmo e com a. Paulo não diz: Examine-
se o homem e deixe de comer. Você não deve fugir da Ceia por causa do pecado, mas fugir
do pecado por causa da Ceia. A Ceia é um instrumento de restauração. A Ceia é um tempo
de cura, de reconciliação e restauração. A Ceia é o momento em que devemos aguçar os
sentidos da nossa alma para examinar-nos e nos voltarmos para o Senhor. Na Ceia
devemos correr do pecado para Deus e não de Deus para o pecado. A ordem de Paulo é:
Examine-se e coma!
d) Devemos olhar ao redor. Quando você participa da Ceia, você olha para trás, para a cruz;
você olha para frente, para a segunda vinda de Cristo; você olha para dentro, para um auto-
exame e você também olha ao redor (11.33,34). O apóstolo Paulo escreve: “Assim, pois,
irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome,
coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais cousas, eu as
ordenarei quando for ter convosco” (11.33,34). Paulo está orientando os crentes a
esperarem uns pelos outros para uma comunhão verdadeira na Festa do Amor.
Na igreja de Corinto era costume os crentes trazerem suas iguarias de casa e comerem
fartamente sem esperar uns pelos outros. Quando os menos favorecidos chegavam só
encontravam as sobras. Havia até alguns pobres que passavam fome. O que Paulo nos
ensina? Não temos essa prática da Festa do Amor atualmente, mas temos o princípio.
Quando você se reunir para a Ceia, olhe ao seu redor, para seu irmão que está perto de
você. Tem alguém faltando à igreja? Por que este ou aquele irmão ou irmã não está aqui
assentado perto de nós?
A Ceia é um momento de comunhão. Somos um só pão.
E isso o que Paulo deseja que a igreja entenda sobre a Ceia.
Devemos procurar o Senhor e também os nossos irmãos.
Devemos encontrar-nos com o Senhor e também com os nossos irmãos. Na Ceia os céus e
a terra se tocam.
Em quarto lugar, os perigos em relação à Ceia do Senhor (11.27-32). Paulo alista alguns
perigos com respeito à Ceia do Senhor.
a) Participar da Ceia do Senhor indignamente. Paulo escreve: “Por isso, aquele que comer o
pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”
(11.27). O que é participar da Ceia do Senhor dignamente?
João Calvino diz que participar da Ceia de forma digna é ter consciência da nossa própria
indignidade. Quando temos consciência da nossa indignidade, mas ao mesmo tempo
reconhecemos que por meio de Cristo somos habilitados a nos assentarmos à mesa, então
participaremos da Ceia dignamente. A nossa dignidade é a consciência da nossa
indignidade.
Leon Morris afirma que há um sentido em que todos têm de participar indignamente, pois
ninguém jamais pode ser digno da bondade de Cristo para conosco. Mas em outro sentido
podemos vir dignamente, isto é, com fé, e com a devida realização de tudo que é pertinente
a tão solene rito. Negligenciar nisto é vir indignamente no sentido aqui censurado.
Participar da Ceia indignamente é assentar-se à mesa de forma leviana e irrefletida.
Precisamos discernir o que Cristo fez na cruz por nós.
Precisamos compreender o Seu sacrifício vicário. Participar da Ceia irrefletidamente ou
participar da Ceia hospedando pecado no coração, sem a devida disposição de
arrependimento é fazê-lo de forma indigna. E tornar-se réu do corpo e do sangue de Jesus.
Ser réu do corpo e do sangue de Cristo Jesus é um pecado gravíssimo. Você só tem dois
lados para estar em relação ao sangue. Você está debaixo dos benefícios do sangue ou
está do lado daqueles que levaram Jesus para a cruz e o mataram. Você é assassino de
Cristo ou é beneficiário do sangue de Cristo. Participar indignamente da Ceia e ser réu do
corpo e do sangue de Cristo; é estar na mesma posição de Anás, Caifás, Pilatos e os
soldados romanos que pregaram Jesus na cruz. Assim, só existem duas possibilidades:
Você está debaixo dos benefícios do sangue de Cristo ou é réu do corpo e do sangue do
Senhor. O apóstolo Paulo está dizendo que quem participa da Ceia indignamente se torna
culpado de derramar o sangue de Cristo; isto é, coloca-se não do lado dos que estão
participando dos benefícios da Sua paixão, mas do lado dos que foram culpados por Sua
crucificação.
b) Participar da Ceia do Senhor sem discernimento. O apóstolo Paulo escreve: “Examine-se,
pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos
fracos e doentes e não poucos os que dormem” (11.28-30). Discernir o quê?
Discernir o corpo! Que corpo? Paulo está falando de dois corpos aqui. O primeiro corpo é o
corpo físico de Cristo. E o corpo que foi moído e traspassado na cruz. Contudo, há outro
corpo que precisa ser discernido. E o corpo místico de Cristo. Qual é o corpo místico de
Cristo? A Igreja! Quando você vem para a Ceia, mas, despreza o seu irmão, fazendo
acepção de pessoas, ou nutrindo mágoa em seu coração, você está participando da Ceia
sem discernir o corpo. E se você participa da Ceia sem discernir o corpo, você está
participando de forma indigna. O resultado é que um pecado espiritual produz
consequências físicas:
“Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem”
(11.30). Essas são as doenças hamartiagênicas, ou seja, doenças produzidas pelo pecado.
A igreja de Corinto, em virtude de pecados não tratados, tinha pessoas fracas, doentes e
algumas que já haviam morrido. Leon Morris nessa mesma linha de pensamento diz que
males espirituais podem ter resultados físicos. A razão da má saúde e mesmo da morte de
alguns crentes de Corinto tem atrás de si uma atitude errada para com esse ofício
sumamente solene.
A igreja de Corinto não estava cumprindo o mandamento de amar uns aos outros. Portanto,
ela não estava discernindo o corpo. A consequência da falta de discernimento do corpo
levou a igreja a comer e beber juízo para si: fraqueza, doenças e morte (11.30).
c) Participar da Ceia do Senhor sem autojulgamento.
Paulo alerta: “Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seriamos julgados. Mas,
quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo” (11.31,32). Não podemos ser frouxos com nós mesmos. Se nós participarmos da
Ceia do Senhor com pecados nao confessados sobre nós; não teremos, então, discernido o
corpo que foi partido para que esse pecado fosse perdoado.
Não podemos ser condescendentes com os nossos próprios erros. Precisamos enfrentar a
nós mesmos. Quando você vier para a Ceia, não trate a si mesmo com condescendência.
Julgue a si mesmo. Enfrente os seus pecados com rigor. Porque se você não julgar a si
mesmo, vai ser condenado com o mundo.
A celebração da Ceia é um momento de autoconfronto.
O auto-engano é um grande perigo. A igreja de Laodicéia olhou no espelho e disse: Estou
rica e abastada. A igreja de Sardes disse: Eu estou viva! Mas, Jesus disse à primeira igreja
que ela era pobre e miserável e a segunda que ela estava morta. Paulo é enfático: Julgue a
si mesmo, examine a si mesmo para que você não seja julgado e condenado com o mundo.
Matthew Henry diz que as ordenanças de Cristo podem nos fazer melhores, ou nos farão
piores; se elas não nos quebrantarem e nos amolecerem; nos tornarão mais endurecidos.
Quando você julga a si mesmo, é disciplinado por Deus e a disciplina de Deus traz salvação,
cura, e vida. Todavia, quando não julgamos a nós mesmos, nos tornamos autoindulgentes, e
o juízo torna-se inevitável. O juízo de Deus para o crente não é a perda da salvação nem a
condenação eterna, mas a disciplina.
Na vida do crente, fraqueza, doença e morte podem ser disciplina de Deus para nos afastar
de pecados mais terríveis e de consequências mais danosas. A disciplina de Deus visa a
sempre nos fazer voltar para Ele e nos livrar da condenação do mundo.
LOPES, Hernandes Dias. 1 Coríntios Como resolver conflitos na Igreja. Editora Hagnos.
pag. 210-220.
2. O amor de Deus tem de ser manifesto na igreja local.
A cena imoral descrita por Tiago
Nos versículos de 2 a 4, Tiago descreve uma cena que, muito provavelmente, não se trata
de uma mera hipótese ou conjectura, como aparenta ser à primeira vista, mas de algo que o
próprio apóstolo deve ter presenciado em algum ajuntamento de crentes da Igreja Primitiva
em seus dias, para seu imenso desgosto e indignação. Vamos ler atentamente a descrição
que Tiago faz dessa cena e, em seguida, vejamos alguns detalhes elucidativos que
encontramos nela:
“Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com
vestes preciosas, e entrar algum pobre com sórdida vestimenta, e atentardes para o que traz
a veste preciosa e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e disserdes ao
pobre: Tu, fica aí em pé ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes
distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?”
O primeiro detalhe que nos chama a atenção nessa passagem é o vocábulo grego traduzido
aqui por “ajuntamento”. Ele é o mesmo utilizado para referir-se às sinagogas judaicas:
Synagoge. Curiosamente, como lembra o teólogo A. F. Harper, “esse é o único texto do
Novo Testamento em que uma congregação cristã é chamada de sinagoga”’. O uso do
termo “sinagoga” aqui sugere o óbvio: que Tiago está falando a cristãos judeus, isto é, a
judeus convertidos ao Cristianismo, os quais ainda se reuniam por essa época em
ajuntamentos ao estilo judaico2 e, por isso, muito provavelmente, ainda traziam consigo
práticas das sinagogas de seus dias que se chocavam com o espírito do Evangelho. Tais
práticas haviam, inclusive, já sido alvo da repreensão de Jesus, como podemos ver em
Mateus 23.6. Inclusive, os escribas e fariseus, que Jesus censura nessa passagem por
terem, dentre outros muitos comportamentos pecaminosos, o hábito de amarem “os
primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”, eram, segundo o relato
do evangelista Lucas, homens bem aquinhoados financeiramente e — conforme ele mesmo
os define expressamente — “avarentos” (Leia Lucas 16.9- 15). A narrativa dos evangelhos
dá a entender, por exemplo, que os fariseus Nicodemos e Simão, simpáticos a Jesus, eram
ricos (Jo 3.1; Lc 7.36-50). Isso não quer dizer, claro, que todos os fariseus eram ricos. Só
uma parte o era. Acredita-se que a maioria era de classe média. Os saduceus é que,
provavelmente, eram, em sua maioria, ricos.
Na época de Jesus e Tiago, era comum homens de elevada posição social, política ou
religiosa serem bajulados nas sinagogas, enquanto os mais pobres eram geralmente
preteridos, desprezados. Durante o seu ministério terreno, Jesus chamou a atenção para
esse comportamento mais de uma vez, condenando-o, como podemos ver em passagens
como Mateus 12.41-44 e 23.6.
Mas, outro detalhe importante dessa cena descrita por Tiago é que ele não necessariamente
se refere a crentes que costumeiramente frequentavam essas sinagogas cristãs, esses
ajuntamentos de crentes em Cristo. E mais provável que ele esteja aludindo a ricos e pobres
que apenas visitavam essas reuniões e não a membros regulares. Quanto a se eram crentes
em Cristo ou não, como afirma Harper, “há divergência de opinião” entre os comentaristas
bíblicos “se esses eram visitantes cristãos ou não cristãos”;3 mas, seja como for, “a verdade
espiritual do texto não muda”, ela não é alterada pelo fato de os visitantes serem crentes ou
não. A maioria, porém, acredita que Tiago se refira a visitantes ricos crentes, devido ao
contexto da Epístola, que traz também repreensões voltadas exclusivamente para cristãos
ricos que agiam como ímpios, como podemos ver no capítulo 5 desta Epístola e sobre o qual
falaremos com detalhes no capítulo 12 deste livro.
Mais um detalhe a ser considerado é a descrição “com anel de ouro no dedo e com vestes
preciosas” (Tg 2.2). Explica Harper que “o anel de ouro indicava que esse homem era do
Senado ou um nobre romano”, pois “durante os primeiros anos do Império [Romano],
somente homens nessa posição tinham o direito de usar esse tipo de anel”.4 Já “vestes
preciosas” é uma referência a belas togas brancas, que eram uma vestimenta “usada
frequentemente por candidatos a um oficio político”.
A expressão “abaixo do meu estrado” (Tg 2.3) é uma alusão ao fato de que, em uma
sinagoga, “pessoas de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no chão”. Logo,
“abaixo do meu estra do” deve ser compreendido como “aos meus pés”. Isto é, enquanto as
cadeiras das sinagogas e os demais assentos do ajuntamento eram reservados para os
anciãos, escribas, fariseus e saduceus, e a qualquer outra pessoa na congregação que
fosse detentora de privilegiada posição social, os pobres ficavam no pé ou no chão. E o
mesmo estava ocorrendo nos ajuntamentos dos cristãos judeus, denuncia e repreende
Tiago, que declara contundentemente: “Porventura não fizestes distinção dentro de vós
mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?” (Tg 2.4).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 74-77.
Tg 2.2,3 Tiago nos propõe um vivido caso hipotético de estudo. Dois homens estavam
entrando em uma reunião da igreja. Nós podemos supor que estes dois homens fossem
visitantes, uma vez que são descritos somente pela aparência. Um dos homens era rico,
como se observa por suas vestes preciosas e por seu anel de ouro no dedo. O outro era
pobre e com sórdida vestimenta. Neste cenário, o homem rico é tratado com deferência e
recebe um lugar de honra. Os crentes ficaram impressionados com ele. Ele tornou-se objeto
de um serviço e de uma deferência especiais.
O homem pobre, no entanto, pode somente ficar em pé ou se sentar no chão (versão
NTLH). Não lhe dão nem dignidade nem conforto. Tiago manifesta-se contra isto. É o nosso
relacionamento com Cristo que nos dá dignidade, e não a nossa profissão ou as nossas
posses. Quando nos reunimos para adorar, devemos estar conscientes de que, mesmo que
conheçamos a todos os que estão no recinto. Cristo está presente, Se houver dois ou três
de nós reunidos em seu nome, Ele está ali (Mt 18.20). Antes de adorar, devemos reconhecer
a presença de Deus. Não podemos supor que Ele segue o seu próprio conselho? Quando
Jesus se reúne conosco, Ele assume um lugar de honra ou compete pela nossa atenção?
Ou imaginamos que Jesus ocupa o lugar de maior humildade entre nós e espera ser
reconhecido como Senhor? Quando negligenciamos ou ignoramos os pobres ou
desamparados, nós também estamos ignorando a Cristo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 671.
Tg 2.2s “Se entrar em vossa reunião um homem”: Tiago, muito preocupado com a prática,
cita, para a máxima clareza acerca do que quer dizer, um exemplo concreto. Não quer dizer
que tenha acontecido dessa maneira: “Na hipótese de entrar em vossa reunião um
homem…”
“Com anéis de ouro e um traje brilhante (alvo)”: provavelmente devemos imaginar alguém
que não pertence à igreja. Em geral os cristãos eram pessoas humildes. O aparecimento de
um homem assim representava uma raridade. E quando um homem desses se declarava
pertencente à igreja, para ela isto significava uma honra e também ajuda contra as injunções
de pessoas ricas e poderosas. O dirigente da reunião e mais alguns irmãos responsáveis o
saúdam e acompanham até a primeira fila. Lá conseguem um lugar confortável para ele.
“Mas vem também um pobre em trajes sujos”: provavelmente também ele seja alguém que
não faz parte da igreja. Talvez o dirigente fique um pouco irritado porque chegou tão tarde.
Usa um traje sujo. Por sua origem e educação talvez nem mesmo esteja acostumado a
cuidar muito da aparência. Talvez também seja um escravo que apenas naquele instante
teve permissão de sair do trabalho, não tendo mais tempo para se lavar e trocar de roupa.
De forma alguma será conduzido para fora. Anunciam-lhe que no canto, ao lado da porta,
ainda existe espaço para ficar em pé e, se quiser, também poderá vir à frente e se sentar
nos degraus do estrado elevado.
Talvez esses cristãos nem mesmo notassem algo. Tiago não critica a cortesia dos dirigentes
da igreja para com o novo participante, nem as possibilidades modestas oferecidas pela sala
de reuniões. O foco de sua crítica é a diferença que se faz. É sobejamente sabido que isso
acontece no mundo. Afinal, o mundo não conhece outra nobreza do ser humano do que
aquela obtida pela posição na sociedade. Isso porém não pode acontecer de jeito nenhum
na igreja de Jesus. Na verdade o evangelho não nos concede nem o direito nem o dever de
mudar as condições sociais pela revolução. Porém as diferenças sociais se mostram
mínimas diante da dádiva preparada por Deus para o ser humano: “glória”. Tiago ensina a
arcar com as consequências práticas do fato de que a glória concedida pelo “Senhor da
glória” pesa infinitamente mais que a “glória” proporcionada por bens, posição, estudo e
“vestes esplendorosas”.
Tiago praticamente nos obriga a encarar a pergunta sobre as nossas deficiências atuais
nessa questão. É fácil criticar as condições sociais da Antiguidade ou dizer que há cem anos
a igreja fracassou na questão social. Facilmente nos tornamos “cegos funcionais” em vista
dos erros da nossa geração. Talvez façamos irrefletidamente o que mais tarde seremos
forçados a reconhecer como falha grosseira.
a) Não sabemos se a velhinha que se assenta nos fundos sem alarde e ora pelos outros não
realiza mais em prol dos frutos da reunião do que o famoso evangelista no púlpito. Por isso
também nesse aspecto não devemos fazer acepções! b) Sejamos gratos pelo membro
abastado da igreja que com seus auxílios e doações financia boa parte do trabalho. Mas por
isso não devemos lhe dar preferência sobre outros (Mc 12.41-44). A alegria pelo renomado
cientista que colabora na igreja tem toda a razão de ser, porém não deve levar a idolatrar
essa pessoa. Colocaríamos o próprio em risco. c) Nosso objetivo é envolver os jovens nas
responsabilidades das igrejas e congregações, onde existem, mas não de forma que os
idosos passem a sentir-se desvalorizados. d) Operários estrangeiros e pessoas de cor de
forma alguma podem ser tratados como pessoas de segunda categoria entre os cristãos. e)
Não queremos tratar com desprezo pessoas moralmente problemáticas, viciadas etc. Se por
um lado não podemos aprovar tudo isso, por outro não sabemos que circunstâncias e
aflições as levaram a essa dependência e quantas lutas enfrentam. Seja como for: nosso
Senhor está pronto para acolhê-las. Logo também nós queremos fazer o mesmo. f) Um ídolo
de cunho especial é hoje a realização. Uma pessoa é classificada de acordo com o que é
capaz de produzir. Por isso precisa existir um lugar em que essa regra cruel não vigore: a
igreja de Jesus. Nela o ser humano, amado por Deus, tem valor em si. g) Observemos a nós
mesmos: com que diferenciação na atitude interior eventualmente vamos ao encontro de
pessoas, para quem levantamos o olhar, e para quem pensamos poder olhar de cima para
baixo (em geral sem fundamento real)?
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 2.2-3 Esses versículos são um tipo de ética cristã para os “introdutores da igreja”. No
entanto, na Igreja do primeiro século, eles foram provavelmente dirigidos, não aos
introdutores, mas a qualquer membro da congregação que tinha um assento especial no
culto. Talvez Tiago tivesse observado este tipo de tratamento preferencial na igreja de
Jerusalém ou em alguma congregação vizinha que havia visitado. O ajuntamento (v. 2; gr.,
synagogue) seria o lugar onde os cristãos — provavelmente um grupo misto de convertidos
judeus e gentios — se reuniam para adorar. E o mesmo termo usado para as sinagogas
judaicas. Esta era uma palavra e uma forma de adoração que a Igreja Primitiva tomou
emprestadas diretamente dos seus ancestrais hebreus. Deveria ser mencionado, no entanto,
que esse é o único texto no Novo Testamento em que uma congregação cristã é chamada
de “sinagoga”. Presumimos que o homem com anel de ouro e o pobre eram visitantes e não
membros regulares. Há divergência de opinião se esses eram visitantes cristãos ou não
cristãos. Isso, no entanto, não muda a verdade espiritual do texto. A atitude mostrada aos
homens era errada em ambos os casos. E se o homem bem vestido era o tipo de pessoa
descrito nos versículos 6,7, mesmo sendo membro, sua mudança de religião não havia
transformado seu interior. O ato não cristão imediatamente julgaria o valor do homem pela
aparência do seu traje. O anel de ouro indicava que esse homem era do Senado ou um
nobre romano. Durante os primeiros anos do império, somente homens nessa posição
tinham o direito de usar esse tipo de anel. Sórdida vestimenta significa uma toga branca.
Essa vestimenta era usada frequentemente por candidatos a um ofício político. Atentardes
(v. 3) deveria ser entendido como prestar atenção especial ao homem de aparência
próspera. As cadeiras da sinagoga, ou outros assentos, eram geralmente guardados para os
anciãos e escribas. Um lugar de honra nesses assentos seria oferecido a uma pessoa de
posição. Pessoas de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no chão. Abaixo do
meu estrado pode ser entendido “aos meus pés” (RSV).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 165.
3„ Não sejamos perversos (v.4).
O que quer dizer a expressão “juízes de maus pensamentos”? Trata-se de uma referência a
juízes que julgam com base em pensamentos errados, equivocados, ou seja, tendo como
fundamentos, padrões absolutamente equivocados, critérios iníquos.
Harper entende que a melhor tradução aqui seria “juízes com mais pensamentos”, que é a
utilizada em inglês pela Revised Standard Version.7 Ele apresenta ainda um preciso resumo
dos padrões errados desses cristãos que honravam os nobres e preteriam os pobres na
congregação. Vejamos esse resumo:
Que tipo de pensamentos maus esses cristãos mal orientados estavam tendo?
1) Que a vestimenta fina era a marca de homens finos e que roupa comum significava
caráter comum.
2) Que a riqueza é um marco do valor das pessoas.
3) Que a posição financeira fazia diferença na aceitação na igreja.
4) Que “sistemas de castas” sociais e econômicas são aceitáveis para Cristo e apropriadas
para sua Igreja.
Ainda hoje, infelizmente, há pessoas que se deixam guiar por esses critérios iníquos. Isso só
revela o quão distante os seus corações estão ainda do verdadeiro Evangelho. Como afirma
Matthew Henry, “a deformidade do pecado nunca é verdadeira e totalmente discernida até
que o mal dos nossos pensamentos seja revelado; e é isso que agrava extremamente as
faltas do nosso temperamento e da nossa vida, que ‘toda imaginação dos pensamentos de
seu coração era só má continuamente’ (Gn 6.5)”.9 Que Deus nos livre de cairmos nesse
mesmo pecado! Que em nossas igrejas e no nosso dia a dia tratemos a todos com honra,
amor e respeito, independente da condição social de cada um.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 77-78.
Tg 2.4 Este tipo de distinção mostra que os crentes estão sendo dirigidos por motivos
errados. Tiago condenou o seu comportamento, porque Cristo os tinha tornado um só (Gl
3.28). Por que é errado julgar uma pessoa com base na sua situação econômica? A riqueza
pode ser um sinal de inteligência, de decisões sábias, e de trabalho árduo. Por outro lado,
ela pode querer dizer simplesmente que a pessoa teve a boa sorte de nascer em uma
família rica. Ela também pode até ser um sinal de avareza, desonestidade, e egoísmo.
Quando honramos uma pessoa apenas porque ela se veste bem, estamos considerando a
aparência como algo mais importante do que o caráter.
Outra suposição falsa que às vezes influencia o nosso tratamento dos ricos é a interpretação
equivocada do relacionamento de Deus com a riqueza. E fácil, porém enganoso, acreditar
que as riquezas são um sinal da bênção e da aprovação de Deus.
Mas Deus não nos promete recompensas ou riquezas terrenas; na verdade, Cristo nos
convoca para que estejamos dispostos a sofrer por Ele e desistir de tudo para nos
agarrarmos à vida eterna (Mt 6.19-21; 19.28-30; Lc 12.14-34; 1 Tm 6.17-19). Teremos
riquezas incalculáveis na eternidade se formos fiéis na nossa vida atual (Lc 6.35; Jo 12.23-
25; Gl 6.7-10; Tt 3.4-8).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 671.
Tg 2.4 “Porventura não caístes em contradição convosco mesmos?”: “Tendes a nobreza
divina eterna e usais como parâmetro as pequenas coisas transitórias, aplicando-as uns aos
outros! Isso não é inconsequente? Como nosso comportamento muitas vezes corresponde
pouco à nossa percepção cristã correta! Com que facilidade nos metemos nos sulcos
costumeiros de nossa atitude anterior e de nosso entorno!
“Vós vos tornastes juízes com (segundo) pensamentos perversos”: O termo grego ponerós =
“mau” é usado no NT como substantivo que designa o maligno, o inimigo. Ele visa destruir a
obra que Deus realiza em nós e através de nós: a) a “veste gloriosa”, os bens, o nível social
se tornam um ídolo. Ele é levado mais a sério do que aquilo que Deus dá e faz, e até mesmo
do que o próprio Deus. b) Em razão disso a igreja de Jesus sofre divisão. O amor esfria.
Pessoas são magoadas. Eventualmente elas se distanciam da igreja e até mesmo de seu
próprio Senhor. c) Debilita-se a eficácia da igreja em termos missionários, naquilo que ela
diz, faz e é, tanto através daquilo que o ambiente mostra, como também em vista da
autoridade interior perante Deus.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Porventura não fizeste distinção dentro de vós mesmos? (v. 4) tem duas interpretações
possíveis. Alguns entendem que este texto faz distinções entre membros e, dessa forma,
está dividindo a igreja. O NT Amplificado traduz da seguinte forma: “fazendo discriminação
entre vós mesmos”. Outros interpretam a frase como sendo simplesmente um pensamento
paralelo à última parte do versículo. A NEB traduz esse versículo da seguinte maneira:
“Vocês estão percebendo que estão sendo incoerentes e julgam de acordo com padrões
falsos?”. Juízes de maus pensamentos é melhor traduzido por: “juízes com pensamentos
maus” (RSV), i.e., tendo pensamentos com motivações erradas. Esses juízes estavam
usando padrões errados. Que tipo de pensamentos maus esses cristãos mal orientados
estavam tendo? 1) Que a vestimenta fina era a marca de homens finos e que roupa comum
significava caráter comum. 2) Que a riqueza é um marco do valor das pessoas. 3) Que a
posição financeira fazia diferença na aceitação na igreja. 4) Que “sistemas de castas” sociais
e econômicas são aceitáveis para Cristo e apropriadas para sua Igreja.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
II - DEUS ESCOLHEU OS POBRES AOS OLHOS DO MUNDO (Tg 2.5-7)
1. A soberana escolha de Deus.
Tg 2.5 Ouvi (v. 5) é um imperativo que significa: “Espere um minuto; preste atenção”. Esse
termo é comparável ao uso de Jesus de “na verdade, na verdade” (cf. Jo 3.5). Tiago aqui
reprova seus companheiros cristãos, mas é a repreensão amorosa aos meus amados
irmãos. Ele é sensível aos maus tratos dados aos pobres e às ações muitas vezes
insensíveis e desumanas dos ricos (cf. 5.1-6). Mas ele não defende os pobres por causa da
sua pobreza, nem ataca os ricos por causa da sua riqueza. Em vez disso, sua defesa e
ataque são baseados em outros fatos. Admitidamente, ele reconhece esses fatos como
geralmente verdadeiros nas respectivas classes.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
Tg 2:5 Tiago inicia seu ataque lógico contra essa prática (2:5-7) com um apelo: Ouvi, meus
amados irmãos, e chama-lhes a atenção para o fato de estar referindo-se a algo de que já
têm conhecimento: Não escolheu Deus aos que são pobres? Tiago emprega a terminologia
familiar da eleição, com que Israel estava acostumado (Deuteronômio 4:37; 7:7), como
também a igreja (Efésios 1:4; 1 Pedro 2:9), mas aplica-a de modo específico aos pobres. A
maior parte dos membros da igreja primitiva era constituída de pobres (“não são muitos os
sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são
chamados” [1 Coríntios 1:26]); a igreja de Jerusalém era bastante pobre (Tiago 2:1-26) (2
Coríntios 8:9). Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial aos
que são pobres aos olhos do mundo (pois só são pobres segundo os padrões de valor do
mundo) para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam. Por um
lado, isso torna o pobre quase igual àquele que suporta a provação. em 1:2, visto que
ambos recebem aquilo que Deus prometeu aos que o amam. Por outro lado, Tiago está
aplicando o ensinamento de Jesus, visto que foi o Senhor quem disse que havia vindo de
modo particular “para evangelizar aos pobres” (Lucas 4:18) e depois: “Bem-aventurados vós,
os pobres, pois vosso é o reino de Deus” (Lucas 6:20). Jesus selecionara os pobres como os
especialmente contemplados com o seu reino; Tiago apanha essa ideia e acrescenta: aos
que o amam, a fim de limitar a promessa aos pobres que reagem em amor diante da
mensagem do evangelho. Se há favoritos aos olhos de Deus, esses são os pobres, visto que
Deus os vê de modo bem diferente do mundo. O mundo os enxerga como pobretões
desprezíveis, sem importância, mas para Deus eles são ricos na fé e herdeiros do reino — o
contrario da perspectiva mundana.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 81-82.
Tg 2.5 “Ouvi, meus amados irmãos!”: Tiago sabe que aquilo que passa a dizer contraria a
expectativa humana e o preconceito humano. Em geral a pessoa, talvez de forma não muito
consciente, simplesmente não capta esse tipo de pensamento. Por isso pede atenção
especial.
a) O que Deus faz: “Deus escolheu os pobres no mundo”: nós humanos sempre começamos
pelo alto. Tentamos agarrar o melhor. Isso começa com coisas exteriores, p. ex., o jardineiro
que transplanta mudas do viveiro escolhe primeiro as mais fortes. Afinal, depende da
qualidade das plantas. Do mesmo modo também nós, quando escolhemos pessoas para
quaisquer finalidades, sempre selecionamos as melhores, as que se destacam. Também
corriqueiramente as pessoas se interessam em especial por aqueles que possuem categoria
e renome. Deus, porém, com sua misericórdia e por não depender da qualidade do ser
humano, começa em outro lugar, embaixo, junto aos pobres: elegeu um povo de escravos
para selar uma aliança. Do seu lugar escondido atrás do rebanho chamou alguém de quem
ninguém se lembrava para ser o mais importante rei de seu povo. Uma moça insignificante
de Nazaré foi transformada por ele em mãe do Filho unigênito. Ninguém a quem Deus
chamou deve pensar que Deus o escolheu em virtude de seus atributos (Dt 7.7-9; 1Co 1.26-
29). – Também por essa razão o eterno Filho de Deus se tornou pobre, para que os pobres
notem que Deus busca justamente a eles (Mt 8.20; 2Co 8.9). Como Tiago, o próprio Senhor,
de forma especial, tomou partido dos que de diversos modos são pobres e carentes de
ajuda (Lc 4.18; 6.20s,24s; 14.13,21; 16.19ss).
“Os pobres no mundo”: a expressão se refere aos pobres do conjunto da sociedade humana.
Havia pobres sobretudo nas igrejas cristãs dos primeiros séculos (cf. 1Co 1.26). Não raro
isso acontece também hoje, especialmente quando não é oportuno ser cristão, quando a
opinião pública é contrária a isso, quando isso acarreta desvantagens. – No entanto, a
definição mais precisa “os pobres no mundo” permite também depreender que essa pobreza
é apenas passageira e se refere unicamente à vida atual e ao éon presente.
“Ricos pela fé”: ao nos tornarmos crentes, ao crermos no que Deus nos diz, confluem sua
imensurável riqueza e nossa penúria de mendigo. Nosso Senhor praticamente afirma: “O
que é teu é meu” (foi assim que quitou nossa dívida). E declara: “O que é meu é teu” (dando-
nos participação de sua glória divina). Isso vale desde já pela fé e depois manifestamente:
“São herdeiros (co-partícipes) do reino”: o “reino”, em grego basileia, não apenas significa
uma esfera de senhorio, mas também o ato de governar. Ser “co-partícipes do reino”
significa em primeiro lugar que o crente é concidadão da soberania vindoura de Cristo, mas
também co-partícipe de seu governo sobre o mundo (Ap 1.6; 20.4; 1Co 6.2). “A intercessão
dos filhos de Deus é (desde já) sua participação no governo de Deus sobre o mundo” (F.
Oetinger).
b) Como agem, no entanto, os que fazem tais distinções - “Vós, porém”: submeteram-se aos
padrões do mundo, assumindo assim uma posição errada diante do pobre e diante do rico.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Lc 6.20 Muito provavelmente, Jesus transmitiu estes ensinos basicamente aos discípulos,
com a multidão ouvindo. Os discípulos recém escolhidos de Jesus, os doze homens que
seriam os seus cooperadores mais próximos, podem ter sido tentados a se sentir orgulhosos
e importantes. Afinal, a popularidade de Jesus continuava a crescer, como foi visto na
multidão que estava com Ele naquele momento. Os discípulos, surpreendidos pela
popularidade de Jesus, precisavam primeiramente entender as prioridades do reino de
Deus. Além disto, muitos dos discípulos estavam confusos a respeito do que Jesus iria fazer
exatamente. Os Evangelhos apresentam um grupo de homens que, embora tivessem fé,
nunca entenderam bem a morte próxima e a ressurreição até que as testemunharam por si
mesmos. Assim, Jesus lhes disse, de maneira muito clara, que eles não deveriam esperar
fama nem fortuna neste mundo, pois não foi isto que Jesus veio trazer. Eles seriam
verdadeiramente “bem aventurados”, mas segundo os padrões de um reino diferente.
Estes versículos são chamados de “Bem aventuranças”, originando-se na palavra latina que
significa “bênção”. Eles descrevem o que significa ser um seguidor de Cristo. São padrões
de conduta; eles contrastam os valores do reino com os valores do mundo, mostrando o que
os seguidores de Cristo podem esperar do mundo e o que Deus irá lhes dar. Eles
contrastam a falsa religiosidade com a verdadeira humildade; eles mostram como as
expectativas do Antigo Testamento são cumpridas no reino de Deus.
A palavra “bem-aventurado” significa mais do que felicidade; significa favorecido e aprovado
por Deus.
A primeira “bem-aventurança” é reservada para os pobres. Estas são as pessoas que não
têm nada em que confiar, exceto Deus. Elas percebem que não têm nada seu para dar a
Deus e portanto precisam depender da sua misericórdia. Jesus diz: “vosso é o Reino de
Deus”. Observe que Ele não diz “será” mas sim “é”. Aceitar a Jesus no coração traz o
indivíduo para dentro do reino, mesmo que ele viva na terra.
Jesus não estava exaltando a pobreza; antes, Ele estava esclarecendo que estes são os
resultados do discipulado e que os discípulos seriam bem-aventurados porque eles
poderiam confiar em Jesus, o Filho do Homem. Nestas bem-aventuranças, Jesus não estava
amaldiçoando tudo o que faz parte da vida - como o riso, a diversão, a felicidade, o dinheiro,
a comida - mas se estas coisas se tornassem o centro da vida sem considerar a Deus, então
o indivíduo não poderia ser “bem-aventurado” por Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 359.
Lc 6.20 Antes de o Senhor começar a pregar, ambos os evangelistas, Mateus e Lucas,
enfatizam a solenidade desse memorável instante. Mateus relata: “Ele abriu a boca,
ensinou-os e disse” (Mt 5.2). Lucas escreve: “Ele ergueu o olhar até seus discípulos e disse”
(Lc 6.20). Com isso, o evangelista não declara que somente os discípulos do Senhor ouviam
essa pregação, mas também o povo estava presente (cf. Lc 7.1). Aqui apenas se menciona
que Jesus olhou de forma especial para discípulos.
Ao contrário de Mateus, que cita oito bem-aventuranças (Mt 5.3-11), Lucas traz somente
quatro bem-aventuranças no início do sermão. A essas quatro bem-aventuranças são
acrescentadas, em correspondência exata, quatro ais, que fazem parte do material exclusivo
do presente evangelista. Por meio deles assinala-se uma inversão e revalorização de todas
as correspondências terrenas no reino de Deus. A interpelação direta de pobres e ricos nas
bem-aventuranças e nos ais dirige-se a todos os ouvintes, provavelmente porque havia entre
eles representantes de ambas as classes.
Perguntamos: como entender a palavra “Ditosos vós, os pobres”? Na primeira bem-
aventurança do Sermão do Monte Mateus fala clara e inequivocamente dos “pobres no
espírito” e depois dos “que têm fome de justiça” (Mt 5.3,6), de forma que Mateus parece
conferir ao todo um sentido mais profundo do que Lucas, que pensaria apenas na carência
quanto às necessidades exteriores da vida. Contudo não é esse o caso. Lucas não defende
uma ideia diferente de Mateus nas bem-aventuranças.
Tanto em Mateus quanto em Lucas, o Sermão do Monte (sempre o mesmíssimo sermão)
somente pode ser entendido a partir da contraposição com a justiça farisaica da lei (veja
com detalhes no Comentário Esperança, Mateus, sobre Mt 5.17-19 e, ali mesmo, no final do
Sermão do Monte).
Os fariseus defendiam a seguinte concepção: quem cumpre a lei com exatidão é rico junto
de Deus. No entanto, quem além disso ainda cumprir exatamente e observar literalmente
todas as tradições antigas dos pais, por meio das quais a lei de Moisés foi interpretada e
significativamente ampliada, esse é muito rico junto de Deus e pode encaminhar-se serena e
confiantemente para o dia do acerto de contas.
Ao contrário dessa justiça farisaica pela lei, Jesus afirma com toda a clareza: bem-
aventurados sois vós, pobres, que não tendes nada a apresentar perante Deus, que sois
miseráveis e carentes de ajuda perante Deus, que não esperais outra ajuda senão
unicamente de Deus (cf. Sl 25.16-22; 69.30; 70.6; 74.21; 86.1-6; Sf 3.12).
Quando Jesus declara, conforme Lucas: “Ditosos sois vós, os pobres”, isso significa o
mesmo que a palavra de Mateus: “Ditosos os pobres por meio do espírito (ou no espírito)”.
Quando Lucas coloca o ai a respeito dos “ricos” ao lado da exclamação de salvação de
Jesus para os pobres, ele mostra que entendeu corretamente o cerne, considerando os
fariseus como os ricos.
E mais: da mesma maneira como em Mateus o sim em favor dos pobres inclui o não
(apenas implícito) contra os ricos, assim também Lucas inclui nesse “não” (veja ali o
comentário) o forte contraste para com a erudição farisaica das escrituras. Ela, por exemplo,
afirma: “Há somente um caminho para entrar no reino dos céus: o mérito.” Esse é o caminho
orgulhoso, pelo o qual os escribas creem poder entrar. Estão equivocados. Os discípulos,
porém, jamais devem considerar-se ricos e colocar sua esperança em algo que não seja a
graça de Deus. Então vale e valerá para eles a palavra: “Benditos os pobres, porque deles é
o reino de Deus”.
A verdadeira pobreza espiritual recebe muitas promessas na vida. Em Is 29.19 é anunciado:
“Os mansos terão regozijo sobre regozijo no Senhor, e os pobres entre os homens se
alegrarão no Santo de Israel” (cf. Is 41.17; 66.2; Sl 68.10; 72.2,4,12s; 34.19; 38.21; 9.15;
10.14; 37.15). Quem confia na graça de Deus é rico em sua pobreza.
Digno de nota é a justificativa da primeira bem-aventurança: “porque vosso é o reino de
Deus”. Dessa forma são unificados o reino escatológico e o reino atual de Deus. Já no
presente essa soberania de Deus é uma realidade viva e perceptível que pode ser recebida,
conquistada e apropriada pela pessoa. Os pobres já possuem o reino de Deus, porque Deus
achou por bem dá-lo a eles (Lc 12.32).
A palavra: “Felizes vós miseráveis; porque vosso é o reino de Deus” vale também para nós
hoje. Devemos tornar-nos pobres e permanecer pobres. Tornar-se pobre significa
experimentar o desmanche do eu orgulhoso e inflado, ser conduzido das alturas das
mentiras de nossa própria condição de ricos, saciados e grandes, para baixo, para o vale de
nossa verdadeira pobreza e indigência. E mais: “tornar-se pobre” significa desmontar todos
esses fundamentos e escoras falsos a que nos apegamos, por meio dos quais tentamos ser
algo por conta própria. Desmontar até o ponto em que toda a nossa pobreza se torna
explícita. “Permanecer pobre” significa não sair deste “desmanche” e “quebramento”.
Schlatter afirma: “Todo aquele que se exime da pobreza, exime-se da promessa.”
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica
Esperança.
2. A principal razão para não desonrar o pobre (v.6).
Em primeiro lugar, fazer acepção de pessoas é desonrar a fé em “nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor da Glória” (Tg 2.1), Deus encarnado, que nunca fez acepção de pessoas.
Aliás, a Bíblia diz que Deus olha não a aparência, mas o coração da pessoa (1 Sm 16.7).
Em segundo lugar, a Bíblia diz que a nossa motivação em tudo o que fazemos deve ser o
amor (1 Co 13.1-8), razão pela qual Tiago lembra que a “Lei Real” (Tg 2.8), isto é, a Lei do
Reino de Deus, é “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Portanto, a acepção de pessoas
deve ser considerada um absurdo pelo verdadeiro cristão, uma vez que fere o princípio do
Reino de Deus de amarmos o próximo como a nós mesmos, isto é, a Lei do Amor.
Em terceiro lugar, Tiago cita a acepção de pessoas no início do capítulo 2 como um exemplo
de algo oposto à verdadeira religião, que é apresentada de forma sintética no final do
capítulo 1 (Tg 1.27). Os dois assuntos estão umbilicalmente ligados no texto da epístola.
Logo, o que Tiago está dizendo aqui, ao tratar desse assunto, é que quem pratica a acepção
de pessoas não é um verdadeiro cristão, não vive de fato uma vida de piedade, mas uma
farsa religiosa.
Em quarto lugar, especialmente sobre o tratamento dado aos pobres, Tiago lembra que aos
pobres deste mundo também foi dado conhecer o Reino de Deus e o privilégio de serem
filhos do Rei, devendo estes serem tratados da mesma forma, com a mesma dignidade, com
que são tratados os irmãos não pobres (Tg 2.5). O apóstolo também evoca o fato de que há
ricos maus e perversos, inclusive muitos que estavam levando cristãos às barras dos
tribunais injustamente e blasfemavam deles (Tg 2.6,7); logo, era absolutamente incoerente
tratar com dignidade homens perversos e maus só por serem ricos e deixar de honrar e
valorizar homens simples e honestos apenas porque são pobres. Tratava-se de uma
contradição abissal.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 73-74.
Tg 2.6 O argumento de Tiago é que vós desonrastes (v. 6) aqueles que Deus escolheu (v.
5). “Não é que Deus limitou sua escolha aos pobres, mas de acordo com a história, eles
foram a sua primeira escolha (veja Lc 1.52; 1 Co 1.26)”.3 A escolha de Deus também não foi
arbitrária. É simplesmente um fato que o pobre e o oprimido são mais responsivos ao
evangelho do que os ricos que dependem do poder do seu dinheiro. Em todo caso, Tiago
deixa claro que os pobres de quem ele fala são aqueles que são ricos na fé e herdeiros do
Reino que prometeu aos que o amam.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166.
Tg 2.6 Através do Novo Testamento, ficamos sabendo que a igreja primitiva era formada, em
grande parte, por pessoas pobres, especialmente na Judéia e em Jerusalém (At 11.29,30;
ICo 16.1-3). Essas pessoas, pertencentes à classe mais baixa da sociedade, estavam
tratando com deferência o rico e desprezando o pobre. Tiago condena essa prática
desprovida de caridade.
A acusação que Tiago fez aos leitores de sua epístola é séria. Ele declara um fato:
“insultaram o pobre” (ver também ICo 11.22). Desprezar os pobres implica desprezar Jesus
Cristo, o protetor e guardião dos pobres. Eles não defendem mais a causa de Cristo. Ao
mostrar favoritismo para com o rico, eles “tomaram o partido do diabo contra Deus”.15 Qual
é o efeito desse esnobismo? Em seus ensinamentos, Jesus usou as seguintes palavras:
“Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12.30).
Tiago trata da questão do favoritismo de forma assertiva. Sua intenção é arrancar a raiz do
favoritismo do solo da igreja cristã primitiva. Ele exorta o crente a abrir os olhos, enxergar a
realidade e responder a estas três questões:
a. Quem os explorai Tiago responde essa pergunta mais adiante na epístola, quando
repreende o rico que oprime o pobre. Ele menciona exemplos específicos: “Vejam! Os
salários que vocês deixaram de pagar para os trabalhadores que ceifaram os seus campos
estão clamando contra vocês. O clamor dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor Todo-
Poderoso” (5.4). Partindo do contexto geral da situação que Tiago descreve, ficamos
sabendo que os ricos não pertencem à comunidade cristã. Não importa se eram judeus ou
gentios. Eles exploravam o povo que era incapaz de se defender, incluindo as viúvas e
órfãos (comparar com Am 8.4; Mq 2.2; Zc 7.10). Por meio dos escritos da comunidade de
Qumran, na primeira parte do século l e, descobrimos que até mesmo os sacerdotes de
Israel estavam explorando os pobres.
Se os cristãos tratam com deferência aqueles que exploram e oprimem o pobre, vão contra
ensinamentos claros das Escrituras. Os cristãos estão do lado errado, pois deveriam estar
defendendo os pobres. b. Não são eles que estão arrastando vocês para os tribunais? O
Novo Testamento oferece alguns exemplos bastante claros de apóstolos sendo levados para
tribunais por judeus e gentios (At 5.27; 16.19; 18.12). Judeus ricos e influentes tinham o
poder de arrastar judeus cristãos pobres para os tribunais a fim de prejudicá-los. Tiago não é
específico em sua referência aos ricos. Quer fossem judeus ou gentios, essas pessoas ricas
estavam recebendo honra e respeito dos mesmos cristãos que arrastavam para os tribunais.
Se esses cristãos não estivessem corrompidos pelo pecado do favoritismo, permaneceriam
leais aos pobres, suportariam as injustiças e, assim, demonstrariam pensar como Cristo (ver,
por exemplo, lPe 2.20). Ao invés disso, estavam honrando o rico e menosprezando o pobre.
Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Tiago e Epistola de
João. Editora Cultura Cristã. pag. 108-109.
Tg 2.6 1) “Vós desonrastes o pobre”: ele foi humilhado. Não foi dado crédito à promessa de
Deus de que ele recebe honra e glória. Em decorrência dificultou-se ao pobre que conte
pessoalmente com a promessa misericordiosa de Deus.
2) Tiago diz que para os cristãos realmente não existe motivo para cortejar os ricos e
poderosos dessa maneira. De forma alguma pretende instigar os cristãos contra os ricos,
mas devem aprender a enxergar a verdadeira situação: propriedade é poder, e o poder, o
lugar no “controle maior”, representa uma grande tentação: “Não são os ricos que vos tratam
com violência?” Aqueles que nadavam na riqueza, inclusive no judaísmo, não queriam ouvir
muito a respeito da esperança messiânica. Estavam bastante satisfeitos com sua vida. As
pobres igrejas cristãs com sua esperança pelo dia vindouro (Tg 5.7ss) eram objetos de seu
desprezo e representavam para eles uma trave no olho. – “Eles vos arrastam a tribunais”:
agiam contra os cristãos por causa de sua convicção de fé, como lemos repetidamente em
Atos dos Apóstolos (At 4.1ss; 5.17ss; 6.9ss; 8.1ss; 9.23ss; 12.1ss; 13.50; 14.19; 16.19ss;
17.5ss,13ss; 19.23ss; 21.27ss; 23.12ss). Também era possível que membros pobres da
igreja estivessem endividados com eles. O usurário impiedoso rapidamente obtinha um
pretexto para lhes tirar absolutamente tudo. Naquele tempo (e não apenas então) era
possível conseguir muita coisa mediante subornos (cf. At 24.26). Ademais se davam ouvidos
aos abastados e influentes.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Após essas considerações, a acusação é severa de fato: “Mas vós desonrastes o pobre” (v.
6). 4. A acepção de pessoas, no sentido desta passagem, por conta das suas riquezas e da
aparência exterior, é apresentada como um pecado muito grave, em virtude dos prejuízos
devidos à riqueza e grandeza mundanas, e a tolice que há no fato de cristãos prestarem
consideração indevida por aqueles que não têm consideração alguma nem por seu Deus
nem por eles: “Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos arrastam aos tribunais ?
Porventura, não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? (vv. 6,7).
Considerai como é comum que as riquezas sejam incentivos aos vícios e ao dano da
blasfémia e da perseguição. Pensai nas muitas calamidades que vós mesmos tolerais, e nas
grandes afrontas que são lançadas sobre vossa fé e vosso Deus por homens de posses,
poder e grandeza mundanos; e isso vai fazer vossos pecados parecerem extremamente
pecaminosos e tolos, ao construirdes aquilo que tende a vos destruir, e a destruir tudo que
estais edificando, e a desonrar esse nome pelo qual sois chamados.” O nome de Cristo é um
nome digno; ele reflete honra, e dá dignidade aos que o usam.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE
Edição completa.Editora CPAD. pag. 833.
3. Desonraram o Senhor.
A Pobre Escolha dos Ricos (2.6b,7)
Favorecer os ricos e desprezar os pobres simplesmente não faz sentido para os cristãos.
João Calvino comentou que é estranho honrar nossos algozes e ao mesmo tempo ferir
nossos amigos! Provavelmente Tiago estava se referindo a judeus ricos. Na Palestina, ele
havia visto os ricos saduceus oprimirem a Igreja (At 4.1-4). Ele também podia estar
familiarizado com as experiências de Paulo nas cidades gentias.
As três acusações específicas são dirigidas contra os ricos, das quais a igreja procurava
obter favor. Opressão e julgamentos no tribunal são as primeiras duas acusações; blasfêmia
é a terceira. Em todas elas, Tiago apela ao conhecimento e conveniência do leitor. “Não são
os ricos que oprimem vocês e pessoalmente [lit., eles próprios] os arrastam para os
tribunais? Não são eles que blasfemam o bom nome que sobre vocês foi invocado?”
(NASB). A referência aponta para a experiência do batismo no qual o bom nome, i.e., o
nome de Cristo, foi invocado sobre eles. O uso de o [...] nome em vez de Deus ou Cristo por
parte do autor, parece refletir seu treinamento judaico no qual sempre havia uma reverência
muito grande pelo nome de Deus, ao ponto de hesitar-se mencioná-Lo.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 166-167.
Tg 2.7 Considerai como é comum que as riquezas sejam incentivos aos vícios e ao dano da
blasfémia e da perseguição. Pensai nas muitas calamidades que vós mesmos tolerais, e nas
grandes afrontas que são lançadas sobre vossa fé e vosso Deus por homens de posses,
poder e grandeza mundanos; e isso vai fazer vossos pecados parecerem extremamente
pecaminosos e tolos, ao construirdes aquilo que tende a vos destruir, e a destruir tudo que
estais edificando, e a desonrar esse nome pelo qual sois chamados.” O nome de Cristo é um
nome digno; ele reflete honra, e dá dignidade aos que o usam.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE
Edição completa.Editora CPAD. pag. 833.
Tg 2.7 “Não são eles que blasfemam o bom (belo) nome que foi proferido sobre vós?”: por
ocasião do batismo daqueles cristãos foi proferido o nome de Jesus. Afinal, batizava-se em
nome dele (At 2.38; 10.48). Eles foram transportados à comunhão com Jesus e se tornaram
propriedade dele.
“O belo nome”: nota-se nessa formulação todo o amor, a gratidão e alegria daqueles
primeiros cristãos. Quando eles eram denegridos, em última análise poderiam permanecer
indiferentes. Que importa? Mas quando o nome de Deus era desonrado, eles eram atingidos
(em nosso caso não acontece muitas vezes o contrário?).
Em suma, cabe dizer: os cristãos devem estar igualmente abertos para pobres e ricos. Não
pode haver ódio de classe. Mas quem vê como Deus concede sua nobreza de forma
equânime a todos precisa (e pode) excluir este tratamento tão desigual que o mundo pratica
quando dá preferência a ricos e poderosos.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Os ricos são os que blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis. Agora Tiago
acrescenta uma acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos
cristãos, ou (de modo mais literal) em seu nome haviam sido batizados. Agora os cristãos
“pertencem” a Cristo. Seu Senhor é Cristo. Todavia, os ricos falam mal desse nome, quando
escarnecem de Jesus ou quando insultam seus seguidores. Não está esclarecido se faziam
isso no tribunal, como parte do processo opressivo, ou se estavam insultando a Cristo nas
sinagogas e nas praças. Nem uma nem outra ação era justa. Entretanto, a igreja também
tomara a decisão de insultar os pobres (a quem Deus honra), e desse modo, decidiu
favorecer os ricos, identificando-se com a classe opressora. Com frequência acontece que o
grupo oprimido assume as características de seus opressores; quando isso acontece à
igreja, o fato não é apenas patético e irônico, mas constitui uma inversão moral, visto que as
pessoas que tomaram sobre si o nome de Cristo agem, agora, à semelhança das que
blasfemam do nome de Cristo.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 83.
III - A LES REAL, A LEI MOSAICA E A LEI DA LIBERDADE (Tg 2.8-13)
1. A Lei Real.
.A Lei Real (2.8)
Nesse parágrafo (w. 8-13) Tiago nos leva de volta, como sempre deve ocorrer quando
avaliamos o caráter da nossa conduta, à regra básica para o cristão — Amarás o teu
próximo como a ti mesmo (v. 8). Sempre “faremos bem” se fizermos aquilo que gostaríamos
que os Qutros fizessem a nós se as condições fossem desfavoráveis.
Essa lei, que orienta a conduta cristã, está conforme a Escritura. Ela foi extraída do Antigo
Testamento (Lv 19.18) e reafirmada nos ensinamentos de Jesus (Mt 22.39). Ela é a lei real
porque é a palavra do nosso Senhor. Ela é a lei real porque se a guardarmos em ato e em
verdade, não podemos quebrar nenhuma das leis de Deus que regem nossos
relacionamentos com nosso próximo. Guardar essa lei é guardar toda a lei.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 167.
Tg 2.8 Temos esboçada de forma geral a lei que deve dirigir-nos em todas as nossas
relações com os homens. “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás
a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis” (v. 8). Para que ninguém pense que Tiago
defendeu os pobres com o efeito de desprezar os ricos, ele agora lhes diz que não imaginou
encorajar conduta imprópria alguma para com ninguém. Eles não devem odiar os ricos nem
ser rudes para com eles. Mas, como as Escrituras nos ensinam a amar todos e ao nosso
próximo como a nós mesmos, sejam eles ricos ou pobres, fazemos bem em ter uma firme
consideração por essa regra. Daí observe: 1. A regra segundo a qual os cristãos devem
andar está estabelecida nas Escrituras, “...se cumprirdes, conforme a Escritura...”. Não são
os grandes homens, nem as riquezas do mundo, nem as práticas corrompidas entre os
próprios crentes que devem nos guiar, mas as Escrituras da verdade. 2. As Escrituras nos
apresentam isso como lei, que amemos nosso próximo como a nós mesmos; o que ainda
está em vigor para nós, e é antes levado adiante e a um degrau mais alto por Cristo do que
tornado menos importante para nós. 3. Essa lei é uma lei real, procede do Rei dos reis. Seu
próprio valor e dignidade levam-na a merecer que seja assim honrada; e o estado em que
estão todos os cristãos agora, por ser um estado de liberdade, e não de escravidão ou
opressão, faz dessa lei, pela qual eles devem regular todas as ações uns aos outros, uma lei
real. 4. A pretensão de observar essa lei real, quando for interpretada com parcialidade, não
desculpa os homens de qualquer procedimento injusto. Nela está sugerido que alguns
estariam prontos a bajular homens ricos, e a ser parciais para com eles, porque, se
estivessem em circunstâncias semelhantes, deveriam esperar tal consideração por si
mesmos. Ou eles poderiam alegar que mostrar o distinto respeito por aqueles a quem Deus
na sua providência havia distinguido por sua posição e nível não era nada mais do que
certo; por isso, o apóstolo concorda em que, no que concerne a eles cumprirem os deveres
da segunda tábua, fazem bem em dar honra a quem é devida; mas essa justa pretensão não
cobre o pecado deles naquela indevida acepção de pessoas de que estão sendo acusados.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE
Edição completa.Editora CPAD. pag. 833-834.
Tg 2.8 “A lei régia”: em que medida o mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”
é a “lei régia”?
a) Foi promulgada pelo Rei, pelo “Rei sobre todos os reis” (Lv 19.1,18). O Filho, ao qual o
Pai concedeu todo o poder (Mt 11.27; 28.18; Ap 19.16), equiparou-a ao mandamento de
amar a Deus acima de todas as coisas (Mt 22.37ss).
b) A “lei régia” foi e continua sendo cumprida pessoalmente pelo Rei. Temos um Deus amigo
dos humanos (Tt 3.4). Esse amor foi coroado pelo que é dito em Jo 3.16: “Deus amou o
mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito…” (cf. Rm 5.10; 8.32). E o Filho, o amor
de Deus manifesto e ativado em favor de nós, cumpriu esse mandamento. Ele nos amou
mais do que a si mesmo, entregando a última gota de sangue em favor de nós (Mt 20.28). Já
que é preciso punir, ele quis ser punido. Já que é preciso morrer, ele quis morrer.
c) O mandamento do amor é a “lei régia”, porque abarca todos os demais mandamentos que
nos foram dados em vista de Deus e de nosso semelhante. Ela é o ponto principal ao qual
convergem todos os raios (Mt 22.34-40; cf. 1Co 13.13).
d) O amor é também uma “lei régia” pelo fato de presentear com liberdade e liberalidade
régias, não pedindo contrapartidas e não estabelecendo nenhuma pré-condição.
“Observada segundo a Escritura”: isso impede que todas as demais coisas sejam chamadas
de “amor”. – “Fazeis bem”: é assim que agrada a Deus, é assim que se fará bem às
pessoas, e é assim que estaremos bem orientados pessoalmente. Nossa vida se torna
íntegra, rica e livre.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Rm 13.8-10 Se devemos alguma coisa devemos pagar a dívida. Mas é preciso perguntar:
Será que Paulo está contra a hipoteca da casa e as mensalidades da escola? Paulo não
está contra a atitude de pedir emprestado, mas contra pedir coisas ou dinheiro emprestados
que náo temos a intenção de pagar. A dívida descuidada e fraudulenta não traduz um
comportamento aceitável entre os crentes. A esse argumento Jesus acrescenta a
recomendação de que seus seguidores devem ser conhecidos como credores e doadores
de boa fé (Mt 5.42). Devemos ser responsáveis pelos pagamentos, e não pedir empréstimos
que estejam além da nossa capacidade de pagar. Entretanto, sempre deveremos algo a
alguém: a ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor. Podemos perceber através deste
versículo que nunca terminaremos de pagar a dívida de amor que temos para com as outras
pessoas (veja também Jo 13.34,35; Gl 5.22; Ef 5.1,2; 1 Jo 3.11-24; 4.7-21).
Os mandamentos contra o adultério, o assassinato, o furto ou a cobiça, que são
mencionados por Paulo, vêm diretamente dos Dez Mandamentos. Eles se aplicam ao nosso
relacionamento com os outros (veja Ex 20.13-15,17). Paulo pretende, com essa relação,
mostrar que todos estão sob um mandamento mais abrangente: “Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo”, citado de Levítico 19.18. Quando amamos alguém não temos a intenção
de prejudicar ou fazer mal a esta pessoa. Portanto, o amor preenche todos os requisitos de
Deus.
Os cristãos devem obedecer á lei do amor, que está acima das leis civis e religiosas. E fácil
tentar desculpar a nossa indiferença em relação aos outros simplesmente por não termos
nenhuma obrigação legal de ajudá-los, e até tentarmos justificar as nossas injúrias se os
nossos atos forem tecnicamente legais! Mas Jesus não deixa brechas na lei do amor.
Sempre que o amor exigir, devemos ir além dos requisitos legais humanos, e imitar o amor
de Deus.
13.11 Paulo quer que os crentes entendam sua constante necessidade de demonstrar amor,
especialmente em relação ao tempo - a volta de Cristo está próxima. As passagens do
Antigo Testamento que falam da volta de Cristo estão dirigidas à nossa responsabilidade de
estar alertas, preparados morai e espiritualmente, e servindo diligentemente ( 1 Pe 4.11 ; Tg
5.8 ; 1 Jo 2.18). Os crentes devem estar alertas e vigilantes para não serem surpreendidos.
Paulo sabe que a antiga natureza pecadora ainda irá, ocasionalmente, provocar problemas,
por isso o apóstolo pede que os seus leitores se mantenham acordados. Permanecer muito
tempo num estado de letargia espiritual, onde o pecado é tolerado e as boas obras não são
praticadas, pode levar a um coma espiritual que nos transforma em seres irresponsáveis
perante Deus.
A volta de Cristo, e nossa final e total salvação, estão, agora, mais perto de nós do que
quando aceitamos a fé. Cada dia que passa nos leva mais próximos ao instante da volta de
Cristo, quando seremos conduzidos ao céu para ficar ao seu lado para sempre (veja
também Mc 13.13; Lc 21.28; 1 Ts 5.4-11; Hb 9.28).
O tempo está se acabando; portanto, precisamos utilizar cada momento para viver
corretamente.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 83-84.
Nosso relacionamento com a lei (13.8-10)
Paulo faz uma transição de nossa relação com o Estado (13.1-7) para a nossa relação com
os irmãos (13.8-10). Ele já tratou de nossa dívida de compartilhar o evangelho com os
incrédulos (1.14), de nossa dívida para com o Espírito de viver uma vida santa (8.12) e de
nossa dívida de lealdade no pagamento dos impostos ao Estado (13.6,7).
Agora, trata de uma dívida que nunca poderemos quitar completamente, a dívida do amor.
Nunca amamos em grau superlativo. Estamos sempre aquém dessa exigência divina.
Charles Erdman diz: “A razão de o amor ser tão importante reside no fato de que o amor é o
cumprimento de toda a lei e a lei é o próprio fundamento do Estado”.
Destacaremos aqui, três pontos:
Em primeiro lugar, o amor ao próximo é uma divida impagável. “A ninguém fiqueis devendo
coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros...”
(13.8a). Conforme William Hendriksen, este versículo condena a prática de alguns que estão
sempre prontos a tomar empréstimo, porém são muito lentos em reembolsar a soma
emprestada. A Bíblia diz que o ímpio pede emprestado e não paga (SI 37.21), mas o
apanágio do cristão é a honestidade. Vale ressaltar que a expressão “uns aos outros” (13.8)
não significa apenas os irmãos na fé. Na verdade, ninguém está excluído desse amor todo
abrangente. Devemos livrar-nos de todas as dívidas, não negando, ignorando ou fugindo
delas, mas pagando-as: existe apenas uma dívida de que ninguém pode livrar-se, a dívida
do amor. Viver como cristão não significa apenas prontamente quitar compromissos
financeiros, legais e morais, para depois reclinar-se, desligando-se do gigantesco volume
restante de tarefas ao redor. Um cristão permanece no serviço. Jamais dirá ao próximo:
cumpri minha obrigação, estamos quites. Jamais tentará evadir-se com ajudas que já
prestou: desse e daquele me livrei, pois com essa atitude já estaria fora do amor. Não
podemos amar suficientemente uma pessoa. Só Deus pode fazê-lo de forma plena e cabal.
Seremos sempre devedores em relação à dívida do amor.
Em segundo lugar, o amor ao próximo é o cumprimento da lei. “[...] pois quem ama o
próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não
cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (13.8b,9). O amor é essencialmente obediência. Quem ama o
próximo tem cumprido a lei. O amor não é o fim da lei, e sim o seu cumprimento. Ao afirmar
que quem ama o próximo tem cumprido a lei, Paulo cita os mandamentos da segunda tábua
da lei, ou seja, nossa relação horizontal ou nosso dever para com as outras pessoas. Quem
ama não mata, não adultera, não furta nem cobiça o que é do próximo.
E conhecida a expressão usada por Agostinho de Hipona: “Ama a Deus e faze o que
quiseres”. Quando amamos a Deus e ao próximo, cumprimos a lei. Concordo com John Stott
quando ele diz que o amor e a lei necessitam um do outro.
O amor necessita da lei para orientá-lo, e a lei necessita do amor para inspirá-la. Geoffrey
Wilson completa: “A lei dá conteúdo ao amor; o amor dá cumprimento à lei. A lei prescreve a
ação, mas é o amor que constrange ou motiva a realização da ação envolvida”.
Em terceiro lugar, o amor não pratica o mal contra o próximo. “O amor não pratica o mal
contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (13.10). O amor é benigno, e
não maligno. O amor é altruísta, e não egoísta. O amor coloca sempre o outro na frente do
eu. O amor respeita a vida do outro, por isso quem ama não mata. O amor respeita a honra
e a família do outro, por isso quem ama não adultera. O amor respeita os bens e a
propriedade do outro, por isso quem ama não furta. O amor respeita o bom nome do outro,
por isso quem ama não se presta ao falso testemunho. O amor não deseja o que é do outro;
antes, está contente com o que Deus lhe deu, por isso quem ama não cobiça. William
Hendriksen diz que cada mandamento negativo (“Não”) está na base de um mandamento
positivo. Portanto, eis o significado:
Você amará, e por isso não cometerá adultério, mas preservará a sacralidade dos laços
conjugais. Você amará, e por isso não matará, mas ajudará seu próximo a conservar-se vivo
e bem. Você amará, e por isso nada furtará que pertença a seu próximo, mas, antes,
protegerá suas possessões. Você amará, e como resultado não cobiçará o que pertença a
seu próximo, mas se alegrará no fato de que ele possui algo.
LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos.
pag. 433-436.
Rm 13.8 Paulo faz conexão com a exortação de, no contexto da vida civil, pagar a cada um
os débitos que houver: A ninguém fiqueis devendo coisa alguma. Há, porém, outro
compromisso que continua existindo, que é incomparável, e que já foi abordado em Rm
12.9-21: exceto o amor com que vos ameis uns aos outros. O amor se diferencia
decisivamente de uma cidadania auto-suficiente. Viver como cristão não significa apenas
prontamente quitar compromissos financeiros, legais e morais, para depois reclinar-se,
desligando-se do gigantesco volume restante de tarefas ao redor. Um cristão permanece no
serviço. Jamais dirá ao próximo: cumpri minha obrigação, nós estamos quites! Jamais
tentará evadir-se com ajudas que já prestou: desse e daquele me livrei!, pois com essa
atitude já estaria fora do amor.
O NT não demanda o amor “numa alegre falta de motivos” (Karl Barth), mas com ampla
fundamentação. É nossa “dívida” amar (1Jo 4.11), porque recebemos amor por meio de
Deus, o Pai (Mt 5.44,45), o Filho (1Jo 4.1) e o Espírito Santo (Gl 5.22). Mas amor também é
simplesmente obediência. Especialmente em situações impossíveis de compreender – que
são os casos mais frequentes – ou em que a psique (ainda) não está disposta, o amor
cumpre o que foi mandado. É nessa direção que aponta o presente versículo. Pois quem
ama o próximo, cumpriu a lei. Por meio dessas palavras Paulo leva de volta ao ponto de
partida de toda a paráclese de Rm 12,13, formulado em Rm 12.2b: pratica
incondicionalmente a vontade de Deus! Quem cumpre a vontade de Deus, durará
perpetuamente. Se quiseres entrar na vida, cumpre os mandamentos, precisamente os
mandamentos da lei! Em Paulo, assim como em Jesus, não há nenhuma passagem que
abra uma brecha para que se imagine que a vontade de Deus teria de ser achada em outro
lugar que não a lei e os profetas do AT. O “novo mandamento” do amor não torna supérfluo
o “antigo mandamento”. Amor não é o fim da lei, e sim seu cumprimento.
Rm 13.11 Embora a igreja de Roma não tivesse sido fundada por Paulo, ele pode pressupor
um certo conhecimento entre os leitores de lá. Cada comunidade cristã situava-se, naquele
tempo, no contexto de um reconhecimento histórico-salvífico, de modo que a afirmação
seguinte não constituía novidade para nenhuma comunidade. Porém, como em Rm 6.3,
esse conhecimento poderia ter sido deixado de lado. Ele precisa ser reavivado, para que as
exortações apostólicas não caiam no vazio. E digo isto a vós outros que conheceis o tempo.
Sucintamente Paulo delineia a compreensão cristã dos primórdios sobre a situação entre a
primeira e segunda vinda do Senhor, o “dia do Senhor”. Esse dia ainda não chegou (2Ts
2.2), contudo vem chegando (Rm 13.12). Esse “vem chegando” não significa: ele chega
amanhã ou depois de amanhã! Ao contrário, Paulo está tendo a visão do romper do dia que
já começou. Já é hora de vos despertardes do sono. Involuntariamente, a formulação chama
o Getsêmani à nossa memória. Também lá a exortação de não dormir mais se refere a um
dado cronológico marcante. É a hora mundial, hora do perigo mundial, mas também da
chance universal. Por isso ela é por um lado denominada de “hora do poder das trevas”, por
outro lado de “hora do Filho do Homem”, “a sua hora”. Seu conteúdo é a ação redentora de
Deus no sofrimento de Jesus. Ela desembocou na exclamação de triunfo: “Está
consumado!” É nesse fato que está enraizada a percepção de tempo da igreja cristã. No
ponto baixo da Sexta-Feira da Paixão ela visualiza o ponto alto da gloriosa revelação de
Deus, de maneira que agora tudo se transforma. Aconteceu a virada dos tempos, ainda que
o mundo continue girando como se nada tivesse acontecido. Como ilustração serve o lusco-
fusco da primeira hora, quando o novo dia se anuncia. A partir de agora luz e trevas lutam
entre si. Porém isso não acontece como uma tragédia eterna, conforme ensinam algumas
religiões, mas a noite já foi derrotada e está em retirada. É por isso que as sombras que
ainda pesam sobre a existência não conseguem mais impressionar os que creem, não
podem levá-los a dormir “como os demais” (1Ts 5.6). Para eles dissipou-se o
entorpecimento do sono, citado em Rm 11.8. Nada mais ao redor encontra-se em estado
plúmbeo, mas agora tudo está num movimento de pressão irresistível para frente. Porque a
nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. O “perto”
tornou-se “mais perto” e “cada vez mais perto”. Nenhum instante permanece parado no
tempo. O cristão não se vê parado num pátio de estacionamento, mas experimenta um
avanço de fé em fé, de graça em graça, e de glória em glória.
Adolf Pohl. Comentário Esperança Romanos. Editora Evangélica Esperança.
2. A Lei Mosaica.
Tg 2.10-11 Essa lei geral deve ser considerada junto com uma lei particular: “Mas, se fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores (v.
9). Não obstante a lei das leis: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, e para mostrar
aquele respeito por eles que gostaríeis de ver demonstrado por vós se estivésseis nas
circunstâncias deles, contudo isso não vai desculpar o fato de distribuirdes, sejam os
favores, sejam as repreensões da igreja de acordo com as condições exteriores dos
homens; mas aqui deveis olhar para uma lei particular, que Deus deu a vós junto com
aquela, e por esta sereis totalmente condenados pelo pecado de que vos acusei”. Essa lei
está em Levítico 19.15: “Não fareis injustiça no juízo; não aceitarás o pobre, nem respeitarás
o grande; com justiça julgarás o teu próximo”. Aliás, a própria lei real, corretamente exposta,
serviria para condená-los, porque ela ensina que devem se colocar tanto no lugar dos
pobres quanto dos ricos, e assim agirem de forma justa para com um e para com o outro.
Então ele prossegue:
Para mostrar a abrangência da lei, e quanta obediência deve ser prestada a ela. Eles devem
obedecer à lei real, cumprir tanto uma parte quanto a outra, ou então ela não os defenderá
quando quiserem usá-la como razão para justificar alguma ação particular:
“Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de
todos” (v. 10). Isto pode ser entendido: 1. Com referência ao caso que Tiago tem tratado:
Vocês defendem o seu respeito pelos ricos porque devem amar o seu próximo como a si
mesmos?
Então por que não mostrar uma consideração igual e devida pelos pobres, pois vocês
devem amar o seu próximo como a si mesmos? Senão a ofensa de vocês em um ponto vai
arruinar sua pretensão de observar toda a lei. Porque qualquer que guardar toda a lei e
tropeçar em um só ponto, propositadamente, reconhecidamente e com continuidade, e que
pensa que deve ser desculpado em algumas questões por causa da sua obediência em
outras, tornou-se culpado de toda a lei. Isto é, ele incorre no mesmo castigo e está sujeito à
mesma pena, pela sentença da lei, como se a tivesse violado em outros pontos também
além daquele em que é culpável. Não que todos os pecados sejam iguais, mas que todos
carregam o mesmo desprezo pela autoridade do Legislador, e assim obrigam a sofrer o
castigo que é estipulado pela violação daquela lei. Tudo isso nos mostra como é inútil
pensarmos que as nossas boas obras vão compensar nossas más obras, e francamente nos
põe a buscar uma outra forma de expiação. 2. Isso é ilustrado ainda ao se colocar a questão
de forma diferente da que foi mencionada antes (v. 11): “Porque aquele que disse: Não
cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois, não cometeres adultério, mas
matares estás feito transgressor da lei”. Uma pessoa talvez seja muito severa em caso de
adultério, ou das coisas que tendem à perversão da carne, mas esteja menos disposta a
condenar o homicídio, ou o que tende a arruinar a saúde, quebrantar o coração e destruir a
vida dos outros. Outra tem um pavor extraordinário do homicídio, mas tem ideias menos
severas acerca do adultério; enquanto alguém que olha para a autoridade do Legislador
mais do que para a questão do mandamento vai ter a mesma razão para condenar um e
outro. A obediência é então aceitável quando se tem um olho para a vontade de Deus; e a
desobediência deve ser condenada, em qualquer instância, visto que é uma afronta à
autoridade de Deus. E, por essa razão, se transgredimos em um ponto, desdenhamos a
autoridade daquele que deu toda a lei, e assim somos culpados de toda ela. Assim, se você
olha para a lei dos antigos, você está condenado; pois “...maldito todo aquele que não
permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei para fazê-las” (G13.10).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE
Edição completa.Editora CPAD. pag. 834.
Tg 2.9-11 Parcialidade é Pecado
O autor está se aproximando da conclusão do seu argumento: se os cristãos observarem a
lei do amor estarão agradando a Deus, mas quando mostrarem parcialidade estarão
cometendo pecado. Nos versículos 9-11, ele antecipa uma objeção possível. “Por que fazer
um alarde tão grande quanto ao respeito às pessoas? E apenas uma ofensa isolada e
certamente não deve ser levada tão a sério”.6 Tiago refuta essa objeção ao ressaltar que a
quebra de qualquer parte da lei é quebrar toda a lei.
a) Qualquer pecado quebra a lei de Deus (2.10). O que Tiago quer dizer quando afirma que
se o homem tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos (v.10)? Ele certamente
não quer dizer que quebrar um mandamento é tão ruim em suas consequências quanto
quebrar todos os dez. Ele também não quer dizer que as consequências de uma falha
pequena são tão sérias quanto os resultados de um pecado flagrante. Alguns dos estoicos
mais extremos declaravam que o roubo de um centavo era tão sério quanto matar os pais.
Mas Tiago era um cristão e não um estoico. Jesus ensinou que um homem deve amar a
Deus de todo o coração. Qualquer pecado é uma evidência de que o meu amor por Deus é
algo menos do que completo. Um pecado é, portanto, tão mal quanto outro no sentido de
quebrar minha comunhão com Deus. Se este pecado não é perdoado e a comunhão não é
restaurada, a pessoa acaba rompendo sua união vital com Deus. Nesse sentido, um homem
é culpado de todos: guardar todos os outros mandamentos não tem valor alguma em
satisfazer a Deus, se rejeito a sua vontade para a minha vida em algum ponto. Nesse
sentido um homem é “culpado de todos ao violar toda a lei, embora não viole a lei no seu
todo, porque [ele] transgride o amor, que é o cumprimento da lei”.6 Uma pessoa não pode
cometer o pecado de voluntariamente desprezar a personalidade humana e ser agradável a
Deus, da mesma forma que não pode violar um outro mandamento e continuar mantendo o
favor de Deus.
b) A parcialidade é uma questão séria (2.11). No versículo 9, Tiago disse que se mostrarmos
parcialidade somos redarguidos (condenados) pela lei como transgressores. Ele agora
procura mostrar a seriedade dessa transgressão. O mesmo Deus que disse: “Não
adulterarás”, ordenou “Não matarás” — e esse tipo de destruição da individualidade é
assassinato (cf. Mt 5.21-22). Ficar irado contra um homem é algo devastador; quem
despreza uma pessoa, aos olhos de Deus, está cometendo assassinato. Uma pessoa pode
ser destruída por uma atitude errada tanto quanto por um golpe físico.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 167-168.
Tg 2.9 “Se, porém, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado”: em que sentido essa
distinção de pessoas viola o amor (e consequentemente descumpre o mandamento de
Deus, tornando-se pecado)?
a) No que se refere ao pobre, humilde e insignificante: esta atitude o rebaixa e desonra.
Impede-o de crer que Deus tem projetos grandiosos e abençoados para ele, e reforça nele a
tendência para a incredulidade e o desânimo.
b) No que diz respeito ao rico e distinto: por um lado ele é seduzido e encorajado a
transformar seu dinheiro e sua importância em deus. Por outro, as pessoas se curvam
apenas diante das suas posses, de sua influência e dos bons “contatos” que a amizade com
ele representam. Pode imaginar: “Todos me cortejam, mas na realidade não se interessam
por mim, mas pela vantagem que lhes devo proporcionar.” Jesus não fazia diferenças. Tinha
tempo igual para o influente Nicodemos (Jo 3) e para uma mulher mal-afamada, para uma
pessoa paralítica há décadas e para um mendigo cego (Jo 4; 5; 9).
“Cometeis pecado e sois arguidos pela lei como transgressores”: aqui se explicita uma
importante faceta daquilo que a Bíblia chama de “pecado”, em grego harmartia (“passo em
falso”): em sua santidade e bondade Deus nos mostrou, mediante seus mandamentos, o
único caminho salutar por essa vida. Jesus andou o caminho à nossa frente. “Ele nos deixou
um exemplo, para que o sigamos em suas pegadas” (1Pe 2.21). O alpinista que se nega a
andar nas pegadas de seu guia pode cair no precipício. Do mesmo modo cairá quem se
nega a seguir nosso Senhor, a também não fazer acepção de pessoas.
O efeito da violação de um único mandamento (v. 10s).
Tg 2.10 “Porque quem cumpre toda a lei, mas tropeça em um único ponto, torna-se culpado
em tudo”:
a) Também na realidade humana do dia-a-dia este pode ser o caso. Se alguém
corajosamente andou durante duas horas nas pegadas do alpinista, mas então, em um
único ponto, se afasta teimosamente do caminho, esse ato pode lhe custar a vida. Quando
alguém anda corretamente durante seis quilômetros por uma estrada na serra, mas em
seguida passa por cima da proteção lateral, isso basta para que caia na ribanceira. Nada
diferente ocorre nas leis penais humanas: se alguém sonega 50.000 euros, não pode
pleitear isenção alegando que, afinal, não matou ninguém. Quem por negligência causa um
acidente fatal de trânsito não pode requerer inocência por ter antes percorrido 100.000
quilômetros sem causar acidentes.
b) Quanto mais isso vale em vista do santo Deus! Nossa comunhão com ele exige também
de nós santidade e perfeição (Lv 19.2; Mt 5.48). Para passar de ano os alunos podem
compensar uma nota ruim em matemática com uma ou duas notas boas em outra matéria.
Aqui não podemos compensar nada. A comunhão com Deus requer de nós praticamente
nota máxima em todas as matérias. Se não chegarmos ao nível aceitável em um aspecto,
toda a justiça julgadora de Deus se volta contra nós. Nesse momento torna-se
compreensível para nós a palavra de Paulo: “Não há nenhum que faça o bem, nenhum
sequer” (Rm 3.12).
c) A transgressão em um ponto isolado tem importância para toda a nossa vida. O pecado é
o “fator de segregação”. Ele nos conduz para fora da comunhão vital com Deus. É
irrelevante onde se localiza esse ponto, se no quinto, sexto, sétimo ou oitavo mandamento.
Em qualquer um dos casos secam-se as forças de Deus em nossa vida: quando um galho é
quebrado da árvore, ele morre, não importa se foi quebrado mais em cima ou mais embaixo.
É assim que nós também sempre perdemos nosso aconchego em Deus diante do poder
destrutivo do inimigo: em épocas passadas, quando alguém abandonava a cidade murada
enquanto as hostes da guerra roubavam e saqueavam do lado de fora, corria perigo de ser
morto, independentemente do portão pelo qual saísse da cidade.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Mt 5.17 Jesus não veio como um rabino trazendo um ensino recém elaborado, Ele veio
como o prometido Messias com uma mensagem que fora transmitida desde o início dos
séculos. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”.
Jesus completa e transcende a lei. A lei do Antigo Testamento não foi rescindida e deve ser
agora interpretada e reaplicada à luz de Jesus. Deus não mudou de idéia e a vinda de Jesus
fazia parte do plano de Deus para a Criação (veja Gênesis 3.15).
Mt 5.18 Jesus usou muitas vezes a expressão “Em verdade vos digo” em seu discurso,
indicando que as palavras seguintes serão de vital importância. Nessas palavras Jesus
atribuiu a maior autoridade à lei de Deus. Jesus não só cumpriu a lei, mas até que o céu e a
terra passem (significando até o fim do mundo) a lei não será modificada. Nem um jota ou
um til se omitirá da lei, nem o menor traço de uma pena será colocado ao lado da lei de
Deus. A afirmação de Jesus certifica a absoluta autoridade de cada palavra e letra da
Escritura. Tudo o que foi profetizado na lei de Deus será cumprido, e os seus propósitos
serão alcançados. Tudo se cumprirá.
Mt 5.19 Jesus iria cumprir toda a Lei, e realizar tudo que foi predito pelos Profetas (5.17,18).
Portanto, os seus seguidores também devem observar até os menores mandamentos que
estão incluídos na Lei e nos Profetas. Além disso, se algum mestre influenciar os outros para
infringir até o menor dos mandamentos da lei, ele será chamado o menor no Reino dos
céus. Como a Lei e os Profetas apontam na direção de Jesus e dos seus ensinos, aquele
que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Aqueles que tratarem
qualquer parte da Lei como “pequena” e, portanto, passível de ser infringida, serão
chamados de “menores” e, provavelmente excluídos. Jesus explicou aos seus discípulos
que os homens responsáveis pela transmissão da mensagem deveriam viver e ensinar
cuidadosamente, levando em consideração a importância da Palavra de Deus. Os
seguidores de Jesus devem respeitar e obedecer a Palavra de Deus, se quiserem realizar
grandes conquistas para Ele.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 39.
Mt 5 17-20 A lei que Cristo veio estabelecer concordava com exatidão com as Escrituras do
Antigo Testamento, aqui chamada de a lei e os profetas. Os profetas eram os comentaristas
da lei, e, juntos, os profetas e a lei, criaram aquela lei de fé e prática que Cristo encontrou no
trono da sinagoga judaica; e aqui Ele a mantém no trono.
1. Jesus protesta contra a ideia de anular e enfraquecer o Antigo Testamento: “Não cuideis
que vim destruir a lei ou os profetas” . (1) Em outras palavras “Não deixemos que os judeus
religiosos, que têm grande apreço pela lei e pelos profetas, temam que Eu tenha vindo para
destrui-los”. Não deixemos que eles tenham preconceito contra Cristo e a sua doutrina,
devido a uma inveja deste reino que Ele veio estabelecer, o que pode soar como um
menosprezo da honra das Escrituras que eles aceitavam como vindas de Deus e das quais
eles sentiam o poder e a pureza, Não. Deixemos que eles fiquem satisfeitos por verem que
Cristo não tem nenhum mau desígnio em relação à lei ou aos profetas. Em outras palavras:
(2) “Não permitamos que os judeus profanos, que não consideram a lei ou os profetas, e que
estão cansados daquele jugo, achem que Eu vim para destruir a lei ou os profetas”. Não
permitamos que os libertinos carnais imaginem que o Messias veio para libertá-los da
obrigação dos preceitos divinos, e ainda assim assegurar-lhes as promessas divinas, para
fazê-los felizes e dar-lhes permissão para viver como desejarem. Cristo não ordena nada
agora que fosse proibido, fosse pela lei da natureza ou pela lei moral, nem proíbe qualquer
coisa que aquelas leis obrigassem. E um grande engano pensar que Ele faz isto, e aqui Ele
toma cuidado para corrigir este engano. “ Não cuideis que vim destruir” . O Salvador das
almas não destrói nada, a não ser as obras do diabo; Ele não destrói nada que venha de
Deus Pai, muito menos aqueles excelentes preceitos que temos de Moisés e dos profetas.
Não. Ele veio para cumpri-los, Isto é: [1] Ele veio para obedecer aos mandamentos da lei,
pois Ele nasceu sob a lei (G14.4). Em todos os aspectos, Ele mostrava obediência à lei,
honrava os seus pais, observava o sábado judeu, orava, dava esmolas e fazia o que
ninguém mais fazia-obedecendo perfeitamente-, e jamais infringiu qualquer ponto da lei. [2]
Para cumprir as promessas da lei e as predições dos profetas, de que todos deram
testemunho dele. O concerto da graça é, basicamente, o mesmo agora que era naquela
época, e Cristo é o seu Mediador. [3] Para responder aos símbolos da lei; assim (como
expressa o bispo Tillotson), Ele não esvaziou, mas cumpriu a lei cerimonial, e se manifestou
como sendo a Essência de todas aquelas sombras. [4]. Para reparar as suas imperfeições, e
assim completá-la e aperfeiçoá-la. Dessa forma, a palavra plerosai tem um significado
adequado. Se considerarmos a lei como um recipiente que anteriormente continha alguma
água, podemos entender que Ele não veio para jogar a água fora, mas para encher o
recipiente até o topo. Ou ainda, podemos considerar a lei como uma imagem que é um
primeiro esboço, e que exibe alguns traços somente para delinear a peça que se pretende
confeccionar; posteriormente, estes traços são completados. Assim, Cristo aprimorou a lei e
os profetas, através das suas adições e explicações. [5J. Para prosseguir com o mesmo
desígnio. As instituições cristãs estão tão longe de distorcer e contradizer aquilo que era o
principal desígnio da religião judaica, que o promovem ao máximo. O Evangelho é o tempo
da correção (Hb 9.10), não para rejeitar a lei, mas para corrigi-la e, consequentemente,
estabelecê-la.
2. Ele declara a perpetuidade da lei; não apenas que Ele não desejava ab-rogá-la, mas que
ela nunca deveria ser ab-rogada (v. 18). “Era verdade, vos digo” que Eu, o Amém, a
Testemunha fiel, solenemente declaro que “ até que o céu e a terra passem” , quando não
existir mais tempo e o estado imutável das recompensas substituir todas as leis, “nem um
jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” . Pois o que é que Deus está
fazendo em todas as operações, tanto de providência como de graça, a não ser cumprir as
Escrituras? O céu e a ter ra se unirão, e serão completamente envolvidos em ruína e
confusão, antes que qualquer palavra de Deus caia ao chão ou seja em vão. A palavra cio
Senhor permanece para sempre, tanto a da lei como a do Evangelho. Observe que o
cuidado de Deus, a respeito da sua lei, se estende até mesmo àquelas coisas que parecem
ser menos importantes nela, o jota e o til; pois o que quer que pertença a Deus, e leve a sua
marca, por menor que seja, será preservado. As leis dos homens são tão patentemente
imperfeitas (e todos temos consciência dessa imperfeição), que permitem uma máxima:
Apicesjuris non sunt jura - Os pontos extremos da lei não correspondem à lei; porém Deus
estará a postos e manterá cada jota e cada til da sua lei.
3. Ele dá aos seus discípulos a missão de preservar cuidadosamente a lei, e lhes mostra o
perigo de negligenciá-la e menosprezá-la (v. 19). “Qualquer, pois, que violar um destes
menores mandamentos”, da lei de Moisés (quanto mais um dos maiores, como faziam os
fariseus, que negligenciavam os aspectos mais importantes da lei), “e assim ensinai' aos
homens” (como eles faziam, anulando os mandamentos de Deus com suas tradições, cap.
15.3), “será chamado o menor no Reino dos céus”.
Embora os fariseus pudessem se denominai- os melhores professores possíveis, eles não
seriam usados como professores no reino de Cristo. ‘Aquele, porém, que os cumprir e
ensinar” (como fariam os discípulos de Cristo, portanto provando ser melhores amigos do
Antigo Testamento do que os fariseus eram, embora desprezados pelos homens), “será
chamado grande no Reino dos céus".
Observe: (1) Entre os mandamentos de Deus há alguns menores que outros; nenhum deles
é pequeno de maneira absoluta., mas de. forma comparativa. Os judeus reconhecem o
menor dos mandamentos da lei como sendo aquele que fala do ninho de ave (Dt 22,6,7);
mesmo ele, no entanto, tem um significado e unia intenção bastante considerável. (2) É uma
coisa perigosa, na doutrina ou na prática, revogar o menor dos mandamentos de Deus;
infringi-lo, isto é, agir de modo a diminuir a sua abrangência ou enfraquecer a sua
obrigatoriedade; quem fizer isto estará correndo riscos. Assim, invalidar qualquer um dos
dez mandamentos é um golpe ousado demais para que o Deus zeloso possa condescender.
É algo além de transgredir a lei, é quebrantai- a lei (SI 119,126). (3) Quanto mais corrupção
eles espalham, piores eles são. Infringir o mandamento já é atrevimento suficiente, mas é
muito pior ensinar os homens a fazê-lo, Claramente, isto se refere àqueles que, nesta época,
se assentavam na cadeira de Moisés e pelos seus comentários corrompiam e desvirtuavam
o texto. Opiniões que tendem à destruição da religiosidade séria e dos fundamentos da
religião cristã, por meio de observações corruptas às Escrituras, são suficientemente ruins
quando defendidas, mas piores quando propagadas e ensinadas como se fossem a Palavra
de Deus. Aquele que faz isto será chamado o menor no Reino dos céus, o reino da glória;
ele nunca irá para lá, mas será eternamente excluído. Ele não fará parte do reino da igreja
do Evangelho. Ele estará tão longe de merecer a dignidade de um professor no reino, que
nem chegará a ser considerado um membro dele. O profeta que ensina estas falsidades é a
cauda naquele reino (Is 9.15); quando a verdade aparecer em sua própria evidência, estes
professores corruptos, embora valorizados como os fariseus, não serão considerados
juntamente com os sábios e os bons.
Nada torna os ministros mais desprezíveis e indignos do que corromper a lei (Ml 2.8,11).
Aqueles que atenuam e incentivam o pecado, discordando e desprezando a severidade na
religião, assim como a seriedade na devoção, são uma contaminação na igreja. Mas, por
outro lado, são verdadeiramente honrados e de grande responsabilidade na igreja de Cristo
aqueles que dedicam a sua vida e doutrina a promover a pureza e a severidade da religião
prática, que tanto fazem como ensinam o que é bom, pois os que não fazem o que ensinam
derrubam com uma mão o que edificam com a outra, Estes se entregam à mentira, e tentam
os homens a pensar que a religião como um todo é um engano. Mas aqueles que falam com
experiência, que vivem o que pregam, são verdadeiramente grandes; eles honram a Deus, e
Deus os honrará (1 Sm 2.30), e no futuro irão brilhar como astros no reino do nosso Pai.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO
Edição completa.Editora CPAD. pag. 50-51.
Sua Natureza (5.17-20)
Sem dúvida, alguns dos ouvintes de Jesus sentiram que Ele era revolucionário em seu
ensino. Eles podem ter pensado que Ele pretendia destruir a lei ou os profetas (17). Isto Ele
negou enfaticamente - não vim ab-rogar, mas cumprir. Nesta declaração muito significativa
Ele indicou o seu relacionamento com o Antigo Testamento. Ele iria cumprir seus
mandamentos e promessas, seus preceitos e profecias, seus símbolos e tipos. Isto Ele fez
em sua vida e ministério, em sua morte e ressurreição. Jesus cumpriu totalmente os
aspectos do Antigo Testamento. Quando lido à luz de sua pessoa e obra, ele brilha com um
novo significado. Cristo é a Chave, a única Chave que abre as Escrituras.
O que acontecerá à Lei? O Mestre declarou solenemente: Em verdade vos digo que, até que
o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido
(18). O jota representa a menor letra do alfabeto hebraico, o yodh, que se parece muito com
o apóstrofo. Ele também corresponderia à menor letra grega, iota. O til era o “chifre” (ou
“acento”) sobre algumas letras hebraicas que as distinguiam de outras. Estas distinções são
frequentemente tão pequenas, que é necessário olhar bem de perto para se ter certeza de
qual letra se trata. A contraparte moderna é muito bem expressa na tradução de Goodspeed:
“Nem um pingo no i ou a linha que corta o t serão removidos da Lei até que tudo seja
observado”.
De forma coerente com esta visão, Jesus advertiu que qualquer que violar (19; “remover,
separar”) um dos menores mandamentos e assim ensinar aos outros será chamado o menor
no Reino dos céus. Aparentemente, a última parte desta afirmação parece surpreendente.
Como alguém que violou a Lei poderia estar no Reino? A solução reside em traduzir a frase
assim: “em relação ao reino do céus”; isto é, em relação ao Reino ele seria o menor, deixado
de fora. Grande é aquele que cumprir e ensinar os mandamentos. A ação deve preceder o
ensino. O versículo 20 é geralmente considerado o versículo-chave do Sermão do Monte. A
justiça dos discípulos de Cristo deve exceder a dos escribas e fariseus. Jesus estava se
referindo a uma justiça interior, moral e espiritual, em vez da justiça exterior, cerimonial e
legalista dos fariseus. “O problema com os fariseus”, diz Martin Lloyd-Jones, “era que eles
estavam interessados nos detalhes em vez de nos princípios, que eles estavam
interessados nas ações em vez de nos motivos, e que eles estavam interessados em fazer
em vez de ser”.
É correto para o cristão agradecer a Deus por não estar debaixo da Lei, mas debaixo da
graça. Mas se ele pensa que as exigências sobre ele são menores por causa disso, não leu
o Sermão do Monte de forma a compreendê-lo. Jesus declarou enfaticamente que Ele exige
uma justiça mais elevada do que a dos escribas e fariseus. No restante do capítulo, o
Senhor fornece seis exemplos concretos daquilo que Ele quer dizer, exatamente, com isso.
Ele basicamente se refere a uma justiça de atitude interior em vez de meramente uma ação
exterior. Mas isto levanta a exigência. Deve-se não só guardar as suas ações, mas também
as suas atitudes; não só as suas palavras, mas também os seus pensamentos. A lei de
Cristo traz, para aqueles que a guardam, mais exigências do que a lei de Moisés.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 57-58.
3. A Lei da Liberdade.
A consistência entre o falar e o agir
Tiago termina essa primeira parte do capítulo 2 enfatizando a necessidade de haver
consistência entre o falar e o agir na vida do cristão (Tg 2.9,10,12), lembrando que haverá
juízo divino sobre aqueles que não se arrependem, mas vivem um falso Cristianismo (Tg
2.11-13), isto é, vivem uma fé cristã de fachada, onde a fé e as obras estão dissociadas.
Aliás, o exemplo que ele cita de religião falsa no início do capítulo 2 serve de gancho para
que, em seguida, ele trate mais específica e exatamente sobre a relação indissociável entre
a fé genuína e as boas obras (Tg 2.14-26).
O resumo de Tiago sobre o tema acepção de pessoas é: “Assim falai e assim procedei” (v.
12a). Isto é: “Cristão, viva o que você prega! Se você é mesmo um cristão verdadeiro, então
você deve amar o teu próximo como Cristo o fez: independente de condição social, etnia,
idade, sexo, condição financeira e status”. Ou seja, tenha um coração como o de Jesus.
Ame as pessoas como Deus as ama.
Finalmente, do belo texto de Tiago sobre o juízo e a misericórdia no versículo 13, Matthew
Henry ressalta três lições: “(1) A condenação que será pronunciada sobre os pecadores
impenitentes no final vai ser o juízo sem misericórdia; [...] (2) Aqueles que não mostrarem
misericórdia agora não encontrarão misericórdia naquele grande dia; mas [...] (3) Haverá
aqueles que se tornarão exemplos do triunfo da misericórdia, em quem a misericórdia
rejubila contra o juízo”. Amém! Como disse Jesus, “bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 78-79.
Tg 2.12 Tiago direciona os cristãos a se comportarem mais especificamente pela lei de
Cristo. “Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” (v.
12). Isso vai nos ensinar não somente a sermos justos e imparciais, mas muito mais
compassivos e misericordiosos para com os pobres; e isso vai nos libertar de todas as
considerações sórdidas e indevidas para com os ricos. Observe aqui: 1.0 evangelho é
chamado de lei. Ele tem todos os requisitos de uma lei; preceitos com recompensas e
castigos anexos; ele prescreve deveres, e também ministra conforto; e Cristo é o rei para
nos governar como também o profeta para nos ensinar e o sacerdote para sacrificar e
interceder por nós. Estamos sob a lei de Cristo. 2. É uma lei da liberdade, e da qual não
temos razão de nos queixar por ser um fardo ou jugo; pois o serviço a Deus, de acordo com
o evangelho, é liberdade perfeita. Ela nos liberta de todas as relações escravizantes, seja a
pessoas ou a coisas deste mundo. 3. Todos precisamos ser julgados por esta lei da
liberdade. A condição eterna dos homens será estabelecida de acordo com o evangelho;
esse é o livro que será aberto quando estivermos diante do trono do julgamento. Não haverá
alívio para aqueles que o evangelho condena, nem haverá acusação contra aqueles a quem
o evangelho justifica. 4. É do nosso interesse então falar e agir agora como convém àqueles
que em breve serão julgados por essa lei da liberdade; isto é, vivamos à altura do
evangelho, nos conscientizemos dos deveres do evangelho, tenhamos a disposição mental
do evangelho, e que as nossas conversas sejamconversas do evangelho, porque por essa
regra seremos julgados.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE
Edição completa.Editora CPAD. pag. 834-835.
Tg 2.12 “A lei da liberdade”: leis humanas são frequentemente sentidas como certo
cerceamento, como restrição da liberdade. Porém quando compreendemos a sabedoria e o
amor de Deus, o Pai, suas ordens deixam de ser coercivas. Quando estamos sob a
influência do Espírito dele, quando imperam o amor e a gratidão, quando pensamos como o
Pai, então a nossa vontade não atravessa mais o caminho da misericordiosa vontade de
Deus. Então se afirma a nosso respeito o mesmo que é dito a respeito do Filho que por meio
do Espírito habita em nossos corações: “Agrada-me, Senhor, fazer a tua vontade” (Sl 40.8;
Ef 3.17; 2 Co 3.17). Verdadeira liberdade não é liberdade em si (ela imediatamente se
tornaria outra vez uma amarra degradante), mas liberdade para Deus, dos filhos para com o
Pai, e, consequentemente, liberdade diante dos humanos e em prol dos humanos (cf.
também o comentário a Tg 1.25). Unicamente desse modo somos verdadeiramente seres
humanos.
“Julgados pela lei da liberdade”: ao se findarem nossos caminhos, serão colocados do lado
de nossa vida o mandamento de Deus e a vida de Jesus, que é a vontade vivida de Deus. A
vida de Jesus será o critério para nós. Paulo escreve: “Viestes a obedecer à forma de
doutrina…” (Rm 6.17 – na tecnologia se entende por “forma de doutrina” uma espécie de
medida ou instrumento de medição). “Falai de tal maneira e procedei de tal maneira como
aqueles que estão prestes a ser julgados pela lei da liberdade”: “Senhor, constantemente
imprimes em minha mente essa revelação, para que, andando ou ficando parado, cuide
unicamente de como sou aos teus olhos” (P. F. Hiller). Hoje mesmo queremos nos deixar
medir e perpassar pela vida e pelo Espírito de Jesus. “É nesse ponto que desejo ser
perpassado, passando liberto para a vida” (Michael Hahn).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A liberdade da fé (Gl 5.1). Há diferença de opinião em relação ao relevante contexto de 5.1.
O versículo resume o que vem antes, quer a alegoria imediata, quer todo o argumento dos
capítulos 3 e 4, ou serve de transição essencial às exortações finais da epístola? Trataremos
como resumo final do argumento que Paulo provou, ou seja, que a lei traz escravidão e a fé
traz liberdade. Não há que duvidar que seja “um epítome da argumentação de toda a carta”.
Paulo adverte os gálatas: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou (1).
Usando o modo imperativo (ver Introdução), o apóstolo ordena: “Permanecei firmes” (BJ; cf.
NVT). Esta ordem podia ser dada como uma continuação natural do seu argumento. Eles
deveriam permanecer firmes na liberdade com que Cristo os libertou. Não há dúvida de que
se refere à liberdade da escravidão da lei (cf. 4.5,26,31). Esta liberdade era uma liberação
do poder e domínio do pecado que os escravizara pela lei (cf. 3.19—4.11; Rm 7.7-25). A
frase seguinte torna isso inconfundivelmente claro: E não torneis a meter-vos debaixo do
jugo da servidão (1). Se os gálatas voltassem para a lei, como os judaizantes os exortavam
a fazer, eles estariam a meter-se (lit., “carregar-se” ou “oprimir-se”), de novo,83 debaixo do
jugo da servidão. Este jugo da servidão significaria o fim da liberdade que desfrutavam em
Cristo.
A Natureza da Liberdade Cristã (5.13)
Agora Paulo se dedica a uma nova tarefa. Ele mostra as implicações morais da fé cristã.
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade (13). Este fato diz respeito à liberdade da
lei e à consequente liberdade do pecado. Foi para essa liberdade que eles foram chamados
por Deus. Paulo apresentara com esmero argumentos para mostrar que esta era parte
indispensável da crença que encontraram em Cristo. E mais que natural que a insistência
paulina nesta liberdade tenha levado seus oponentes a temer que ele destruísse o único
bastião contra a maré da imoralidade pagã (cf. Introdução). Eles temiam que os gentios não
tivessem uma restrição essencial, mas que entendessem erroneamente esta liberdade. O
termo “somente” (KJV) não é usado para limitar o que fora declarado (“somente” não useis,
então, da liberdade para dar ocasião à carne), mas para chamar atenção a algo importante.
Para acalmar os temores desnecessários de seus inimigos e orientar seus convertidos
adequadamente, Paulo os exorta a não usar da liberdade para dar ocasião à carne (13).
Este comportamento, obviamente, seria um abuso da liberdade que têm na fé — mas o que
significa exatamente? Como comentado acima (ver comentários em 5.1), a liberdade dos
crentes resultou na libertação do domínio e poder compulsivo do pecado. Eles não são mais
controlados pela carne pecadora — forçados a viver por ela! Contudo, o abuso dessa
liberdade forneceria ocasião (“oportunidade”, CH) para o pecado recuperar o controle sobre
eles (ver comentários em 5.16-25).
De modo típico, Paulo via a proteção contra tal abuso da liberdade, não negando a
escravidão compulsiva do legalismo, mas aceitando uma nova escravidão voluntária de
amor: Servi-vos uns aos outros pela caridade (13; “pelo amor”, ACF, AEC, BAB, RA). O
verbo está no modo imperativo (cf. Introdução) e declarado em termos claros e positivos.
Eles foram admoestados a escravizarem-se uns aos outros voluntariamente. Este é um
paradoxo vital e esclarecedor! Eles eram livres, contudo, para permanecer livres, tinham de
se escravizar novamente (cf. Rm 6.15-22; 1 Co 9.19). Esta é a preocupação constante de
Paulo. Como você usa sua liberdade? Como você vive sua nova vida? (ver comentários em
2.20).
Esta nova escravidão era possível através do5 amor (agape). O contexto revela que a
significação de agape é “claramente benevolência, desejo da felicidade dos outros, levando
a esforços para o bem deles”. O homem •em Cristo é “libertado para o amor”. Este conceito
se harmoniza com o ensinamento consistente de Paulo. Quando acoplado com o versículo
15, fica claro que o abuso ameaçador da liberdade dos gálatas estava na área das relações
pessoais.
Paulo negou veementemente que a rejeição das obras eliminasse a dinâmica para a
conduta moral e ética; pelo contrário, promovia tal dinâmica. A verdadeira fé se expressa em
amor. Vemos também esta verdade no fato importante de que agape não é mero sentimento
humano; é o amor de Deus que foi derramado no coração do crente (cf. Rm 5.5). O agape é
o fruto do Espírito. A verdadeira alternativa para a arregimentação do legalismo é a disciplina
do espírito humano pela submissão à orientação do Espírito Santo.
Esta escravidão de amor quando relacionada aos seres humanos é o aspecto permanente
da nova vida sob a direção do Espírito, que começou na “capitulação [do crente] a Cristo”.
Em 1 Tessalonicenses 3.12,13, Paulo identifica claramente esse andar de amor com a
santidade. A medida que o Senhor “faz” os crentes aumentar e abundar neste amor uns
pelos outros e para com todas as pessoas, o resultado é o que o coração dos crentes se
estabelece inocente em santidade (hagiosune).
A preocupação de Paulo pelo uso certo da liberdade reflete uma das necessidades mais
críticas da igreja de hoje. Como é frequente as pessoas terem a nova vida em Cristo e a
liberdade que dá, mas não viverem sob a direção do Espírito (ver comentários em 5.16-26)!
Pelo contrário, permanecem na terra de ninguém, vivendo sob a direção do eu. Elas estão
em constante perigo de abusar da liberdade e perder a nova vida. Como Paulo bem sabia,
só há uma solução para este problema do pecado: Entrar voluntariamente em nova
escravidão de amor pela crise da capitulação. Esta ação é o verdadeiro início da vida sob a
direção do Espírito.
R. E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Galatas Editora CPAD. Vol. 9. pag. 60; 65-66.
Gl 5.1 Nós temos a liberdade da escravidão aos nossos desejos pecaminosos e à lei
judaica. Mas a liberdade veio através de um preço elevado. Para que nós pudéssemos
aproveitar a liberdade, alguém teve que nos libertar, e esse alguém foi Cristo Jesus (Jo
8.32,36).
Como Cristo nos libertou, nós devemos estar firmes na liberdade. Cristo nos libertou das
fórmulas legalistas, do julgamento de Deus sobre o pecado, de todas as regras feitas pelo
homem, e das experiências subjetivas do medo e da culpa. Nós devemos viver esta
liberdade, praticá-la, e nos alegrarmos com ela! Voltar à lei e tentar obter o que Cristo já nos
deu é zombar do seu sacrifício.
5.13 Quando Paulo ministrou entre os gálatas, ele não deu aos seus convertidos um novo
conjunto de regras que deviam ser obedecidas (como os judaizantes tinham feito), pois isto
os teria feito escravos da lei. Ao contrário, os gálatas foram chamados à liberdade. Paulo era
o mensageiro, mas eles “foram chamados” pelo próprio Deus, o autor do Evangelho. Alguns
dos críticos de Paulo podem ter condenado esta pregação da liberdade cristã, dizendo que
ela levaria as pessoas a uma vida sem restrições ou diretrizes. Paulo tinha uma resposta
imediata e vigorosa, explicando que a liberdade não deveria ser usada para dar ocasião à
carne (veja também 5.16,17,19,24). Satanás e a carne usam a nossa liberdade da lei como
uma oportunidade para inflamar os nossos desejos. Os desejos pecaminosos humanos
levam aos problemas mencionados em 5.26 (cobiçar, provocar uns aos outros, e invejar) e à
falta de ajuda mútua, descrita em 6.1-10. Quando toleramos a natureza pecadora, nós
abrimos a porta a este tipo de comportamento e atitudes (veja 1 Pe2.16; 2 Pe 2.8-10; Jd 4).
As exigências da nossa natureza humana representam uma constante ameaça à nossa
verdadeira liberdade em Cristo. Nós precisamos desta ajuda constante para que possamos
manter a nossa “carne” sob controle.
A liberdade cristã é a liberdade de servir uns aos outros pela caridade (ou pelo amor). O
amor pelos outros crentes flui do que Deus fez no coração de cada crente. A palavra grega
para amor (agapè) refere-se ao amor sem egoísmo, o amor que se doa. A liberdade cristã
não deixa os crentes vagando pela vida sem leis, regras, restrições, ou orientações. Na
verdade, eles vivem livres de acordo com os padrões de Deus e glorificam a Deus servindo
aos outros pelo amor.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 290-291;
293.
Gl 5.1; 13. Escravidão - vivendo fora da esfera da liberdade (5.1)
O apóstolo acabara de argumentar com os crentes da Galácia que eles eram filhos de
Abraão, não da mulher escrava, mas sim da livre. Eram filhos de Sara, e não de Hagar.
Eram filhos da promessa, e não escravos da lei. Destacamos quatro pontos na análise do
versículo 1.
Em primeiro lugar, éramos escravos antes de Cristo. “Para a liberdade foi que Cristo nos
libertou...” (5.1). Antes de Cristo nos libertar, éramos escravos do diabo, da carne e do
mundo. Vivíamos escravizados na coleira do pecado. Estávamos na potestade de Satanás,
na casa do valente, no reino das trevas, andando segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. Éramos
filhos da ira (Ef 2.2,3).
Em segundo lugar, fomos libertados por Cristo. “Para a liberdade foi que Cristo nos
libertou...” (5.1). Não alcançamos nossa liberdade por nós mesmos. Não fomos libertados
por causa de nossa obediência à lei. Nossa liberdade foi uma obra de resgate realizada por
Cristo. Foi ele quem nos arrancou do império das trevas. Foi ele quem Uberdade ameaçada
quebrou nossos grilhões e despedaçou nossas cadeias. Foi ele quem nos libertou do
pecado, da morte e do inferno.
Em Cristo somos livres, verdadeiramente livres; livres não para pecar, mas para cumprir a
vontade de Deus.
Adolf Pohl evoca a transação de escravos na antiguidade para elucidar esse magno
assunto. Um escravo podia ser comprado no mercado de escravos unicamente para
continuar seu serviço sob o novo proprietário, ou seja, não era resgatado para a verdadeira
liberdade. Assim também pensavam alguns escribas: que Deus havia resgatado os israelitas
do Egito não para serem seus filhos, mas seus escravos. Não era essa a interpretação do
apóstolo Paulo.
Deus nos libertou para a verdadeira liberdade. De fato somos livres em Cristo Jesus.
John Stott tem razão quando vê Jesus Cristo como o libertador, a conversão como o ato de
emancipação, e a vida cristã como a vida de liberdade. Essa liberdade cristã é a liberdade
de consciência, liberdade da tirania da lei, da luta terrível para guardar a lei com a intenção
de ganhar o favor de Deus. E a liberdade da aceitação divina e do acesso a Deus por
intermédio de Cristo. Calvino argumenta acertadamente que somos livres porque “Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (3.13); porque
Cristo anulou o poder da lei, até onde ela nos mantinha sujeitos ao juízo de Deus, sob pena
de morte eterna; e também porque Cristo nos resgatou da tirania do pecado, de Satanás e
da morte.
Em terceiro lugar, precisamos manter nossa Uberdade em Cristo. “Permanecei, pois,
firmes...” (5.1). Nossa liberdade é sempre espreitada. Muitos inimigos tentam convencer-nos
de que ainda somos escravos. Os crentes da Galácia haviam Gálatas — A carta da
liberdade cristã sido libertados da escravidão do paganismo (4.8) e dos rudimentos do
mundo (4.3), mas agora estavam tornando-se novamente escravos do legalismo (4.9-11).
Precisamos vigiar para que nossa liberdade não seja arrancada de nós. Não podemos
colocar nosso pescoço na coleira do legalismo religioso como queriam os judaizantes. Não
podemos viver como escravos na casa do pai, como propôs o filho pródigo. Somos livres!
Calvino observa que, se permitirmos que os homens escravizem nossa consciência,
seremos despojados de uma bênção inestimável e, ao mesmo tempo, insultaremos a Cristo,
o autor da liberdade.
Concordo com Adolf Pohl quando diz que o carvalho não se prende com as raízes ao chão
somente para resistir contra a tempestade, mas também para extrair alimento do solo. Para
se defender contra tentativas de subjugação, é necessária a incessante prática da liberdade
a partir de Deus. William Hendriksen exemplifica que a melhor ideia dessa ordenança,
“permanecei firmes”, é a de um soldado no meio do campo de batalha, que, em vez de fugir,
oferece forte resistência ao inimigo e o vence. E triste constatar, porém, que alguns cristãos
se assustam com a liberdade que possuem na graça de Deus; por isso, procuram uma
comunhão legalista e ditatorial, na qual deixam outros tomar as decisões por eles. São como
adultos voltando ao berço.
Em quarto lugar, não podemos sujeitar-nos outra vez à escravidão. “... e não vos submetais,
de novo, a jugo de escravidão” (5.1). Cristo não nos libertou a fim de que no tornássemos
novamente escravos.438 Os crentes da Galácia estavam sendo persuadidos pelos falsos
mestres a voltar da graça para a lei; do evangelho para o legalismo; da liberdade para a
escravidão; da cruz de Cristo para os ritos judaicos.
Uberdade ameaçada Eles, que já haviam saído da escravidão da idolatria, estavam agora
voltando à escravidão do legalismo. O apóstolo Pedro disse no Concílio de Jerusalém que
esse jugo era insuportável (At 15.10). Donald Guthrie entende que a figura do jugo é uma
metáfora apropriada para a servidão, porque um animal com o jugo não tem alternativa
senão se submeter à vontade de seu dono.
Gl 5.13-14 Paulo transmitiu a base doutrinária para as igrejas da Galácia; agora, está
aplicando a doutrina. A teologia desemboca na ética; o conhecimento produz vida. A
influência perniciosa dos falsos mestres entre as igrejas gentílicas trouxe grande confusão
acerca dos limites da liberdade cristã. Mais tarde Paulo tratou desse mesmo tema em sua
Primeira Carta aos Coríntios (6.12; 8.9,13; 9.12,19,22; 10.23,24; 11.1). Paulo, no texto em
tela, esclarece a igreja sobre esse momentoso tema. Compreendendo a liberdade cristã
(5.13-15)
Há dois extremos perigosos com Gálatas — A carta da liberdade cristã respeito à liberdade
crista: o legalismo de um lado e a licenciosidade de outro. Há aqueles que querem regular a
liberdade apenas por regras exteriores. Esses caem na armadilha do legalismo e privam as
pessoas da verdadeira liberdade em Cristo. Porém, há aqueles que, em nome da liberdade,
sacodem de si todo o jugo da lei e querem viver sem nenhum preceito ou limite. Esses
confundem liberdade com licenciosidade e caem na prática de pecados escandalosos.
William Hendriksen ilustra esse fato dizendo que a vida crista é semelhante a atravessar
uma pinguela que cruza sobre um lugar onde se encontram dois rios contaminados: um é o
legalismo e o outro é a libertinagem. O crente não deve perder o equilíbrio para não cair
dentro das faltas refinadas do judaísmo nem nos grosseiros vícios do paganismo.469
Concordo com John Stott quando diz que o cristianismo não é escravidão, mas um
chamamento da graça para a liberdade.470 A liberdade cristã, porém, não é liberdade para
pecar, mas liberdade de consciência, liberdade para obedecer. O cristão salvo pelo sangue
de Cristo é livre para viver em santidade.
Destacamos aqui quatro verdades importantes.
Em primeiro lugar, a liberdade cristã não é uma licença para pecar. “Porque vós, irmãos,
fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne...”
(5.13a). No versículo 13 temos um chamado, uma advertência e um mandamento. Veremos
neste ponto o chamado e a advertência e, no próximo ponto, analisaremos o mandamento.
Fomos chamados para a liberdade, e não para a escravidão do pecado. Calvino destaca
que, após exortar os gálatas a não permitirem nenhum impedimento de sua liberdade (5.1),
Paulo agora lhes recomenda que sejam moderados em usá-la (5.13).
A capacitação do Espírito para uma vida santa. Fomos chamados para uma vida nova e não
para viver com o pescoço na coleira do pecado. A liberdade cristã não é uma licença para
pecar, mas o poder para viver em novidade de vida. A liberdade cristã não é licenciosidade,
mas deleite na santidade. A liberdade cristã é a liberdade do pecado, não a liberdade para
pecar. E uma liberdade irrestrita para aproximar-se de Deus como seus filhos, não uma
liberdade irrestrita para chafurdar em nosso egoísmo. A licenciosidade desenfreada não é
liberdade alguma; é outra forma mais terrível de servidão, uma escravidão aos desejos de
nossa natureza caída.
Jesus disse que aquele que pratica o pecado é escravo do pecado (Jo 8.34). Paulo disse
que o homem antes da sua conversão é escravo de toda a sorte de paixões e prazeres (Tt
3.3). A palavra “liberdade” está profundamente desgastada. Muitos defendem a liberdade do
amor livre, a prática irrestrita do aborto, o uso indiscriminado das drogas e o
homossexualismo. Isso, porém, não é liberdade; é escravidão.
A palavra grega aphorme, traduzida por “ocasião à carne”, era usada no contexto militar em
referência a um lugar do qual se faz um ataque, se lança uma ofensiva. Portanto, significa
um lugar vantajoso e também uma oportunidade ou pretexto. Assim, a nossa liberdade em
Cristo não deve ser usada como um pretexto para a autoindulgência.
Nessa mesma linha, Donald Guthrie explica que a palavra aphorme é um vocábulo militar
para “base de operações”. Dessa forma, a carne é representada como um oportunista,
sempre pronto a aproveitar-se de qualquer oportunidade. Em segundo lugar, a liberdade
cristã não é uma permissão para explorar o próximo. “... sede, antes, servos uns dos outros,
pelo amor” (5.13b). Calvino declara que o método para impedir a liberdade de irromper em
abuso imoderado e licencioso é regulá-la pelo amor. Quem ama não explora, mas serve o
próximo. Somos livres para amar e servir, e não para explorar nosso próximo. O amor não
pratica o mal contra o próximo. Como na parábola do bom samaritano, o cristão não agride o
próximo nem passa de largo para não se envolver com os feridos, caídos à margem da
estrada; mas vê, aproxima-se e cuida do próximo, ainda que seja seu inimigo. Concordo
com John Stott quando diz: “Somos livres em nosso relacionamento com Deus, mas
escravos em nosso relacionamento com os outros”.
Não podemos usar o próximo como se fosse uma coisa para nos servir; temos de respeitá-lo
como pessoa e nos dedicar a servi-lo. Pelo amor temos de nos tornar douleuete, “escravos”
uns dos outros, não um senhor com uma porção de escravos, mas um pobre escravo com
uma porção de senhores, sacrificando o nosso bem pelo bem dos outros, e não o bem deles
pelo nosso. A liberdade cristã é serviço, não egoísmo.
Em terceiro lugar, a liberdade cristã não é uma autorização para ignorar a lei. “Porque toda a
lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5.14).
Somos libertos da condenação da lei, mas não dos seus preceitos. Não nos aproximamos
mais da lei com o propósito de sermos aceitos por Deus; mas porque já fomos aceitos em
Cristo, aproximamo-nos da lei para obedecer a Deus.
John Stott destaca com razão que, embora não possamos ser aceitos por Deus por
guardarmos a lei, depois que somos aceitos continuamos guardando a lei por causa do amor
que temos a Deus, que nos aceitou e nos deu o seu Espírito para nos capacitar a guardá-la.
William capacitação do Espírito para uma vida santa Hendriksen complementa a ideia
dizendo que a motivação do crente para obedecer a esse mandamento é a gratidão pela
redenção consumada por Cristo; o poder para realizá-la é proporcionado pelo Espírito de
Cristo (5.1,13,25).
A síntese da lei é o amor, o amor a Deus e ao próximo.
Aqui Paulo usa uma figura de linguagem, na qual ele toma uma parte como o todo. E que
podemos ver a face de Deus no próximo e, quando amamos o próximo, estamos amando a
Deus quem o criou. Calvino diz que Deus resolve provar o nosso amor para com ele por
meio do amor ao nosso irmão. E por isso que o amor é chamado de “...o cumprimento da lei”
(Rm 13.8,10). Não porque o amor ao próximo seja superior à adoração a Deus, mas porque
é a prova dessa adoração. Deus é invisível, mas se representa nos irmãos. O amor para
com os homens flui do amor a Deus.
Em quarto lugar, a liberdade cristã não é uma chancela para destruir o próximo. “Se vós,
porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos”
(5.15). Somos livres para amar e servir uns aos outros, e não para devorar e destruir uns
aos outros. Nas igrejas da Galácia, os dois extremos — os legalistas e os libertinos -
destruíram a comunhão. Os dois verbos gregos dakno, “morder”, e katesthio, “devorar”,
sugerem animais selvagens engajados em uma luta mortal. Desse modo, a força da alma e
a saúde do corpo, o caráter e os recursos, são consumidos por lutas e intrigas.
Devemos agir como irmãos, e não como feras ou como cães e gatos sempre envolvidos em
conflitos. E o Espírito da vida que habita em nós, e não o instinto da morte. Morder e devorar
são atos destrutivos, uma conduta mais apropriada a animais selvagens do que a irmãos em
Cristo. Donald Guthrie diz que o apóstolo pensa numa alcateia de animais selvagens
precipitando-se cada um contra a garganta do outro. E uma representação viva não só da
desordem total, como também da mútua destruição.
LOPES, Hernandes Dias. GALATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag.
216-219; 233-238.

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